Lula vê Dilma "abatida", mas a TV vai mostrar "favoritismo"

Publicado em 08/10/2010 05:29
Presidente confidencia a aliado preocupação com desânimo de candidata

Frederico Haikal/"Hoje em Dia"
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Dilma Rousseff participa de encontro com religiosos em capela do Mercado Central de BH 


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva externa, em privado, preocupação com o "abatimento" de sua candidata à sucessão, Dilma Rousseff (PT), nos últimos dias.
Para mudar esse quadro, a reestreia do programa eleitoral na TV, hoje, irá classificar como "vitória" com "votação expressiva" o resultado de Dilma no primeiro turno.
Para o presidente, a "prioridade zero" da campanha é reavivar o semblante de "favorita" que sua candidata exibia até domingo.
Em conversa com um governador aliado, Lula recorreu a uma analogia futebolística para explicar sua apreensão. Ele disse que no sábado, véspera da eleição, postou-se diante da TV em São Bernardo para assistir ao jogo Corinthians x Ceará.
Corintiano fanático, Lula disse que imaginou que seu time venceria "de lavada".
No intervalo, a equipe do Ceará vencia por dois a zero. Só aos 24 minutos do segundo tempo o Corinthians reagiu. Placar final: dois a dois.
Lula resumiu ao interlocutor: "Eu, que esperava do Corinthians uma vitória de lavada, recebi o empate com o Ceará como uma vitória".
Lula compara o rival José Serra (PSDB) ao Corinthians. E Dilma ao Ceará. Acha que o segundo turno deu ao tucano ares de "falso vitorioso".

"FAVORITA"
O presidente avalia que é essencial repor "a verdade dos fatos". Ele realça que Dilma amealhou 47,6 milhões de votos, 14,5 milhões a mais que os 33,1 milhões de Serra.
O fato de não ter prevalecido no primeiro turno, diz, não lhe tirou a condição de "favorita". Lula recordou que, em 2002 e 2006, também disputou segundo turno, mas venceu.
Lula disse que o Corinthians estava desfalcado, sem Ronaldo e Dentinho. "O time da Dilma está completo. O Fenômeno está em campo", disse, num autoelogio.
Para acentuar o suposto favoritismo de Dilma, a propaganda mostrará lideranças políticas aliadas na TV.
Governadores e senadores eleitos irão aparecer em depoimentos em que defendem a importância da vitória.
A intenção é mostrar Dilma como grande favorita. Ao citar os 47,7 milhões de votos recebidos nas urnas, a campanha quer mostrar a petista como "uma das mulheres mais votadas da história da humanidade", conforme disse ontem o presidente da sigla, José Eduardo Dutra.
Ficarão de fora temas que levaram a disputa para o segundo turno, como a denúncia de tráfico de influência na Casa Civil e a mudança de posição de Dilma sobre aborto.
Gravaram os governadores reeleitos Eduardo Campos (PE), Cid Gomes (CE) e Jaques Wagner (BA) e os recém-eleitos Tarso Genro (RS) e Renato Casagrande (ES).
Gravados na segunda, em Brasília, os depoimentos foram livres, sem que os políticos seguissem um roteiro.

Dilma nega aprovar aborto e ataca PSDB por privatização

EDUARDO KATTAH - Agência Estado

A candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, disse hoje que a defesa feita por seu adversário, José Serra (PSDB), das privatizações no governo Fernando Henrique Cardoso é uma "tentativa de se vacinar" contra a estratégia petista de comparar as gestões Lula e FHC. Em sua primeira visita a Minas Gerais no segundo turno, Dilma também manifestou de forma enfática sobre o aborto, ao afirmar que pessoalmente é contra, mas na Presidência da República não deixará de encarar o assunto como uma questão de saúde pública.

Durante uma passagem tumultuada pelo Mercado Central da capital mineira, a petista aproveitou para reagir no mesmo tom às declarações de Serra em encontro com aliados em Brasília, ontem. O tucano confrontou a estratégia petista, à qual chamou de "factóide" e "trololó". "Eles poderiam refazer as privatizações, mas não refizeram."

Dilma, por sua vez, indicou que a tática é mesmo colar no tucano a pecha de privatista, a exemplo da campanha que atingiu Geraldo Alckmin no segundo turno da eleição presidencial de 2006.

"Acho que (a defesa de Serra das privatizações) é uma tentativa de se vacinar contra o fato de quando a gente começar a comparar o governo FHC com o do presidente Lula vai ficar claro que enquanto eles vendiam ações da Petrobras e arrecadavam US$ 5 bilhões - e vendiam ações - nós aumentamos as ações e obtivemos US$ 70 bilhões", disse ela, se referindo ao recente processo de capitalização da petrolífera.

"Eles querem evitar essa comparação. Nós somos contra a forma, o conteúdo e o sentido das privatizações. Por quê? Eles venderam R$ 100 bilhões do patrimônio público desse País e elevaram a dívida de 30% para 60% do Produto Interno Bruto (PIB)", afirmou a candidata.

Aborto

A campanha petista, providencialmente, escolheu a pequena capela Nossa Senhora de Fátima, no estacionamento do tradicional mercado de Belo Horizonte, para que Dilma falasse à imprensa. Ela foi recepcionada por jovens de congregações católicas e por representantes de igrejas evangélicas, entre eles o deputado federal reeleito Mário de Oliveira (PSC), presidente da Igreja do Evangelho Quadrangular, considerada uma das cinco maiores neopentecostais do País.

Os religiosos presentes confiavam que a petista deixaria clara sua posição contra o aborto. "É uma questão que tem de ser esclarecida", disse Oliveira, antes da chegada de Dilma.

Representantes das congregações católicas - Agostinianos, Maristas e Sacramentinos de Nossa Senhora - preparam um manifesto que seria entregue à candidata do PT. Mas como o texto chegou na última hora, não houve tempo para uma redação de consenso. "Nosso posicionamento é em defesa da vida, indiscriminadamente. Acreditamos que a Dilma é a favor da vida", afirmou João Campestre, dos Freis Agostinianos.

A petista recebeu a manifestação de apoio na capela, onde se espremiam políticos seguranças e jornalistas diante da tentativa da militância de chegar perto da candidata. Ao falar da polêmica, Dilma deu ênfase à sua posição pessoal. "A minha posição pessoal é contra o aborto. (Mas) Como presidente da República eu não posso deixar de encarar. Eu não posso tratar essa questão como uma questão pessoal, só", destacou, alegando que tem sido vítima de uma campanha "clandestina", que "faz parte do submundo da política".

A candidata recorreu ao nascimento do neto para reforçar sua oposição ao aborto. "Seria muito estranho quando há uma manifestação de vida no seio da minha família, porque meu neto acabou de nascer, eu defender uma posição a favor do aborto. Sou contra o aborto, porque o aborto é uma violência contra a mulher."

Segundo Dilma, não há nenhuma referência ao aborto no seu programa de governo, por isso não há o que ser alterado. Ela afirmou, no entanto, que sua gestão irá tratar a questão como saúde pública. "Como presidente da República eu tenho de encarar o fato de que há milhares de jovens, adolescentes, que diante do aborto, fazem e adotam práticas porque elas estão abandonadas. Por exemplo, utilizam agulhas de tricô para interromper uma gravidez, que elas, sem apoio, não conseguem suportar", disse.

"O Estado brasileiro não considerará essas mulheres como uma questão de polícia, mas uma questão de saúde pública e social. Nós temos é de prevenir que jovens desse País recorram a esse método." Na rápida passagem por Belo Horizonte, Dilma reforçou e o fato de ter nascido na capital mineira para dizer que sua eleição será "como se Minas chegasse novamente à Presidência da República".

Marina

Questionada sobre um eventual apoio de Marina Silva no segundo turno, ela lembrou já conversou por telefone com a candidata do PV e disse que é preciso esperar "as coisas serenarem". "Não concordo com esse tipo de relação de pressão", afirmou. "Eu respeito a Marina independentemente do apoio ou não."

A presidenciável do PV obteve no Estado 21,25% dos votos válidos, o que corresponde a 2,29 milhões de votos. Venceu em Belo Horizonte e outras grandes cidades do Estado. A estratégia da campanha lulista em Minas é justamente atacar a capital e região metropolitana, o sul e o sudeste do Estado, onde Dilma foi menos votada. 

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Fonte:
Folha de S. Paulo e Estadão

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