Vitória de Dilma no Rio quebrou a tradição de ‘lavada’ do PT

Publicado em 01/11/2010 20:13

O resultado da eleição presidencial no Rio de Janeiro foi amplamente favorável a Dilma Rousseff. Com o apoio da poderosa máquina do governo Sérgio Cabral, a candidata do PT abriu 21 pontos de vantagem sobre José Serra, e obteve 1,7 milhão de votos a mais que o tucano. Foram 4,93 milhões de votos (60,4% do total), contra 3,22 milhões obtidos por Serra. Uma análise retrospectiva do desempenho do PT no estado mostra, no entanto, um resultado bem mais modesto do que nas eleições anteriores.

Em 2006, Lula teve 5,53 milhões de votos, contra 2,40 milhões de Geraldo Alckmin – mais de três milhões de votos de diferença. E, em 2002, o PT impôs uma derrota acachapante a Serra, que teve apenas 21,03% dos votos fluminenses, contra 78,97% de Lula. Em números absolutos, o petista recebeu 6,3 milhões de votos e Serra, 1,68 milhão. No âmbito nacional o desempenho de Dilma nesta eleição (56% dos votos) também foi inferior ao que Lula conseguiu em 2002 (61,2%). Mas a diferença é bem menor.

O que torna o caso do Rio de Janeiro curioso é que, nas duas ocasiões, a candidatura petista foi escancaradamente apoiada pela máquina do governo estadual. Em 2002, o então governador Anthony Garotinho desincompatibilizou-se do cargo para concorrer à presidência e foi sucedido pela vice-governadora, a petista Benedita da Silva. No segundo turno, Garotinho apoiou Lula, assim como, claro, fez a governadora. Nesta eleição, Sérgio Cabral venceu no primeiro turno, com apoio do presidente Lula e da quase totalidade dos prefeitos fluminenses. Pouco antes da votação, Cabral reuniu 79 prefeitos e dez representantes de municípios fluminenses em um ato de apoio à sua candidatura e à de Dilma. Apenas três cidades não estiveram representadas no evento.

Um estado dividido – No entanto, o que se viu foi um estado dividido – o que é surpreendente diante da pouca penetração que o PSDB tradicionalmente demonstrou no Rio de Janeiro. José Serra ganhou em 40 dos 92 municípios, num resultado que foi ironizado pelo ex-governador Anthony Garotinho em seu blog. “Os votos dados a Dilma no Rio não têm nada a ver com Sérgio Cabral. A transferência que ele poderia ter feito através da máquina e de seus aliados não aconteceu”, escreveu Garotinho, que maldosamente atribuiu parte desse resultado ao fato de Cabral ter viajado para Paris logo depois da reeleição, só retornando duas semanas antes da votação.

Efeito Gabeira – O cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio, pondera que não é bem assim. “Ainda faltam dois anos para eleição de prefeito. Eles não têm motivos para brigar com Cabral principalmente porque precisam de verbas. O apoio à reeleição do governador não significa necessariamente que eles arregaçariam as mangas para ir à luta por Dilma”, pondera Ismael, acrescentando que a grande surpresa da eleição do Rio foi o desempenho de Serra. Os nomes tucanos mais relevantes do partido no Rio são o prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito, o deputado federal Otávio Leite e o estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha. O único aliado que foi capaz de agregar votos a Serra é do PV: Fernando Gabeira. Ele ajudou o tucano a levar sete das dez cidades onde Marina teve boa votação. Quando o verde não estava presente, as caminhadas – sem qualquer infraestrututura que pudesse ser comparada à de Dilma no Rio – concentravam, no máximo, um grupo de deputados que passeava quase sem ser notado.

A frustração Indio – O próprio Indio da Costa, ex-candidato a vice, que é do Rio de Janeiro, não empolgava. As agendas eram centradas somente em Serra. “Indio agregou muito pouco. É muito jovem, sem experiência em campanha nacional. As questões que ele colou na campanha, como as Farc, não acrescentaram em nada. A juventude dele, que foi explorada na campanha, para um vice da república, é complicada”, afirmou Ismael. Ainda assim, Serra saiu-se bem nos municípios do norte, noroeste e sul fluminense, além da região serrana. Dilma conseguiu maior votação na região metropolitana onde, justamente, há grande quantidade de beneficiários do bolsa-família e concentração de obras do Programa de Aceleração do Crescimento. Diante desse quadro, Ismael classificou como “extraordinária” a votação de Serra.

Dilma Rousseff (PT) venceu em 3.878 municípios brasileiros no segundo turno. José Serra (PSDB) venceu em 1.686. Em porcentagem: 70% a 30% para a petista. Como ela teve 56% dos votos válidos, a desproporção se explica pela maciça vitória de Dilma nas pequenas cidades (de todo o país, menos de São Paulo), e pelo equilíbrio dos dois nas cidades grandes e médias.


Bicadas fluminenses

por Jose Roberto de Toledo


Por que Serra não cobra Índio da Costa e o DEM como, implicitamente, fez com Aécio Neves (PSDB)? Diferença por diferença, foi praticamente igual no Rio de Janeiro e em Minas Gerais sua distância em relação a Dilma: 1,797 milhão de votos entre os mineiros contra 1,710 milhão entre os fluminenses. Proporcionalmente, a derrota no Rio foi maior.

A resposta tem a ver com o futuro e não com o passado.

Será curioso ver quem o PSDB preferirá seguir: um senador eleito de 50 anos que fez o governador do segundo maior colégio eleitoral do país, ou um candidato derrotado duas vezes a presidente, de 68 anos, que ficou sem cargo e terá que negociar espaço com uma liderança emergente (Geraldo Alckmin) em seu Estado natal.


Bicadas mineiras

por Jose Roberto de Toledo


Se é para cobrar resultados de seus aliados mineiros, José Serra (PSDB) deveria dar um puxão de orelha também no senador eleito Itamar Franco (PPS). O tucano perdeu feio em Juiz de Fora, terra do ex-presidente: teve só 31% dos votos válidos, contra 69% de Dilma Rousseff (PT).

Aécio Neves (PSDB) pode ao menos argumentar que Serra venceu na terra de sua família, São João del Rei. Embora tenha sido por pouco: 52% a 48%.


Em branco por desistência

por Jose Roberto de Toledo


Comparados aos do primeiro turno, os percentuais de votos em branco no segundo turno foram menores em todas as regiões. Seria natural que o percentual aumentasse, já que havia menos opções de candidatos para os eleitores.

É mais um indicativo de que as seis votações seguidas na urna eletrônica atrapalham o eleitor e levam não poucos a anular ou votar em branco em vez de no candidato a presidente de sua preferência.


Voto errado é diferente de voto nulo

por Jose Roberto de Toledo


No Nordeste, o percentual de votos nulos no segundo turno foi quase metade do que no primeiro turno (4,67% a 8,02%). A diminuição da taxa indica que pelo menos 1 milhão de eleitores nordestinos erraram o voto para presidente no primeiro turno, provavelmente por terem que votar seis vezes e numa ordem que deixa o voto presidencial por último. Congresso e Justiça eleitoral deveriam mudar a ordem esdrúxula de votação.


De quem são os votos?

por Jose Roberto de Toledo


Dilma perdeu nas duas cidades onde iniciou sua trajetória política: em Belo Horizonte (49,6% a 50,4% de Serra) e Porto Alegre (44,2% a 55,8%). Pode ser apenas coincidência. Mas ela ganhou nas três cidades por onde Lula passou antes de chegar a Brasília: Garanhuns (85%), Guarujá (57%) e São Bernardo do Campo (56%).



Fatura a apresentar

por Jose Roberto de Toledo


Aliados de primeira hora de Dilma, os governadores reeleitos Eduardo Campos (PSB-PE), Roseana Sarney (PMDB-MA), Omar Aziz (PMN-AM) e Cid Gomes (PSB-CE) poderão relembrar em suas próximas conversas com a presidente eleita que ela obtevede 76% a 81% dos votos válidos no segundo turno em seus Estados.

É mais do que qualquer governador petista pode dizer.



Em quatro Estados, Dilma Rousseff (PT) venceu em todos os municípios no segundo turno: Pernambuco, Maranhão, Amapá e Amazonas.



Diferentemente do publicado anteriormente aqui, o percentual de acerto do Ibope no 2º turno foi de 90% e não de 100%. A margem de erro da pesquisa no Distrito Federal foi de 2 pontos percentuais, e não de 3 pontos, como na tabela abaixo. Assim, o resultado no DF ficou um ponto fora da margem de erro prevista. O vencedor teve 66% dos votos válidos, contra os 63% apontados pela pesquisa de véspera.

Foi um ponto só de diferença, mas, tecnicamente, está errado. Isso é suficiente para desacreditar a metodologia das pesquisas que acertaram todas as outras eleições dentro da margem?

O principal mérito das pesquisas é contar a história da eleição, os altos e baixos, as quedas e ascensões, a segmentação do eleitorado, suas preferências, suas mudanças de opinião. Nisso, tanto no primeiro turno quanto no segundo, a maioria das pesquisas contribuiu muito mais do que atrapalhou.

Sem as pesquisas do Ibope não teríamos ficado sabendo, por exemplo, que parte do eleitorado evangélico e depois católico saiu da canoa de Dilma Rousseff no fim do primeiro turno. Nem que retornaram na reta final do segundo turno. Teríamos assistido o PT correr atrás de bispos de todas as igrejas sem entender o motivo. A carta de Dilma descartando mudar a legislação que proíbe o aborto seria inexplicável.

As pesquisas de intenção de voto foram fundamentais para ajudar a contar a história desta eleição. Como uma margem de erro muito menor do que se dependêssemos exclusivamente das declarações dos políticos e candidatos.

Tags: 2010eleiçãoiboperesultado

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Fonte:
Veja.com.br/Estadão

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