CE quer retomar plantio do algodão
Ao longo do século XX, o algodão consolidou o seu plantio em pelo menos 120 municípios dos 184 existentes no Ceará, como principal cultura agrícola, detentora de excepcional qualidade. Embora a produtividade apresentasse índices abaixo dos alcançados em outras áreas de plantio e o padrão da fibra não fosse homogêneo no tamanho, com perdas de 15%, havia a qualidade para superar essas falhas e conseguir preços compensadores no mercado internacional.
O bicudo, elemento estranho às pragas comuns no Nordeste, invadiu a região, possivelmente transplantado de mercados concorrentes, provocando estrago incomensurável na cadeia produtiva algodoeira. Cidades altamente produtoras do "ouro branco" como Acopiara, Iguatu, Missão Velha, Brejo Santo, Barro, Nova Russas, Juazeiro do Norte, Caucaia, Quixadá e Quixeramobim, de repente, presenciaram o esvaziamento de suas indústrias beneficiadoras do algodão, pela falta de matéria prima. O bicudo destruiu sucessivas safras.
O parque têxtil do Estado, montado em virtude da oferta de algodão abundante, também sentiu seus efeitos e, até hoje, não conseguiu se restabelecer. A produção nacional algodoeira está estimada em 1,2 milhão de toneladas, sem contudo atender à demanda da indústria, de 1 milhão de toneladas, e aos contratos de exportação fechados na ordem de 400 mil toneladas. A crise irá se agravar mais ainda na entressafra.
No vácuo provocado pelo desestímulo à produção algodoeira do Nordeste, regiões do Centro-Oeste, da Bahia e da Paraíba, recorreram a novos métodos de plantio e demonstraram ser possível cultivar o algodão livre dos efeitos do bicudo. A produtividade evoluiu e os preços se tornaram atrativos. A Paraíba vem consolidando o plantio do algodão colorido com mercado cativo no exterior.
Na Bahia, no município de Luiz Eduardo Magalhães, a produtividade vem alcançando entre 260 e 265 arrobas por hectare, conseguindo expandir o plantio em 35%. Enquanto a rentabilidade da soja pode chegar a R$ 400,00 por hectare, a do algodão alcança R$ 2.000,00. No Centro-Oeste, Mato Grosso e Goiás lideram a produção em bases mecanizadas.
Enquanto isso, o Ceará - a área mais vocacionada para o cultivo do algodão - assiste à crise em sua indústria têxtil, sendo forçado a importar 150 mil toneladas de pluma para atender a seu consumo. Daí o pleito da indústria algodoeira para desonerar a entrada da produção externa. O governo impõe taxação de 10% sobre o valor do algodão importado, quando deveria estimular, sobre os mais variados aspectos, a retomada do plantio responsável por um insumo básico, gerador de emprego e renda nos sertões sem fontes de ganho.