Algodão em falta paralisa teares em São Paulo
A crise gerada pela falta de algodão no mercado brasileiro paralisou 120 teares no polo têxtil paulista, o maior centro de produção de tecidos sintéticos da América Latina. O número representa 2% dos teares instalados na região. Algumas indústrias chegaram a suspender turnos de produção.
O setor emprega 35 mil trabalhadores no polo e há risco da paralisação de outros teares caso o governo não obtenha sucesso com o plano que autoriza a importação de 250 mil toneladas de fibras de algodão. A importação com alíquota zero está autorizada até maio de 2011. A crise pode provocar prejuízos de R$ 80 milhões com a redução da produção de 10 milhões de metros de tecidos.
Segundo Fábio Beretta Rossi, presidente do Sinditec (Sindicato das Indústrias de Tecelagem de Americana e Região), se o plano não funcionar, há risco de demissão."As tecelagens estão antecipando férias. O mercado precisa voltar ao normal até o início do ano. A partir de janeiro, o risco de demissão existe", diz Rossi.
Embora seja o maior polo de tecidos sintéticos da América Latina, as 450 tecelagens utilizam cerca de 8.000 toneladas de fios de algodão por mês. Sem oferta suficiente, as empresas começaram a reduzir o uso da fibra natural.
"Produzo tecido para estofados e cortinas. Utilizo metade de fibras naturais e metade de fios sintéticos. A solução agora foi aumentar para 60% os fios sintéticos e reduzir para 40% o volume de fios de algodão", disse Rossi.
Sem matéria-prima, o preço dos fios de algodão disparou nesta semana. As fiações (produtoras do fio) tentaram repassar o aumento do custo do algodão, mas as tecelagens optaram por cortar a produção. Elas consideram inviável repassar o custo.
"O problema se agravou no início deste mês, quando as fiações apresentaram as novas tabelas. Em uma semana, o preço do fio subiu 40%. Isso é inviável. Ninguém quis comprar", disse Rossi.
O preço do quilo do fio de algodão subiu de entre R$ 5 e R$ 10 para entre R$ 7 e R$ 14.
MAIS IMPORTAÇÕES
Rafael Cevone Netto, diretor da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções), avalia que a importação de 250 mil toneladas de fibras de algodão não será suficiente para abastecer o mercado brasileiro.
O setor negocia com o governo medidas capazes de segurar as exportações de algodão. O país exporta cerca de 300 mil toneladas por ano. Não haveria problema se o setor não tivesse reduzido em 15% a produção nacional ao mesmo tempo em que fornecedores mundiais -como Paquistão e Turquia- tiveram quebra de safra.
A produção no Brasil foi de 1,1 milhão de toneladas. Com consumo de 900 mil toneladas, o país ficou desabastecido. A produção local deve voltar a crescer e atingir 1,6 milhão de toneladas. A questão é que essa oferta só estará disponível em maio de 2011.