Esta é mesmo do balacobaco. Leiam o que vai na VEJA Online. Volto em seguida:
Dassault poderá interromper produção do Rafale
Como todos vocês viram, William Oliveira, o preferido das estrelas e dos políticos, foi preso porque flagrado vendendo um fuzil de fabricação russa, avaliado em R$ 50 mil, ao traficante Nem. Desde que o blog existe, acuso a escandalosa convivência de algumas ONGs com o crime. As pessoas não gostam, ficam irritadas. No Rio, isso é mais freqüente porque vem de longe certo esforço de “poetização” do morro, que considero uma das formas mais refinadas — e canalhas — de crueldade dos ricos. Em 2005, o tal William foi preso, acusado de colaboração com o narcotráfico. No dia 25 de fevereiro daquele ano, na página da ONG “Viva Rio”, comandada pelo buliçoso antropólogo Rubem Cesar Fernandes, encontrava-se esta nota de protesto (fotografei a página para que não suma), com um miniabaixo-assinado. Reparem no tom.
Fórum Dois Irmãos faz pronunciamento sobre a prisão do líder comunitário da Rocinha
- 25/02/2005
Nós, que participamos do Fórum Dois Irmãos e do Conselho do Viva Rio, vimos nos pronunciar sobre a prisão de William Oliveira, Presidente da União Pró Melhoramentos dos Moradores da Rocinha. Acompanhamos de perto a crise vivida pela comunidade no último ano e podemos dizer que William tem sido uma liderança importante na busca de soluções positivas. Com coragem e discernimento incomuns, defende publicamente não apenas investimentos sociais, como também medidas de segurança que possam estabilizar a situação de forma duradoura. Acreditamos na Justiça e confiamos na lisura da investigação policial neste caso. Apelamos às autoridades responsáveis e à imprensa que considerem os danos causados por esta prisão não apenas a William e sua família (com filho recém nascido), mas também ao povo da Rocinha, que o elegeu em processo eleitoral exemplar e que, com ele à frente, manifestou-se contra a violência de modo que raramente se vê. A prisão preventiva de pessoa com endereço e trabalho certos e as conclusões precipitadas na opinião pública fazem mal a ele, às lideranças comunitárias em geral, à Rocinha e ao Rio de Janeiro.
Amaro Domingues - Líder Comunitário do Complexo da Maré
André Midani - Empresário
André Urani - Diretor Executivo do IETS - Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade
Alfredo Luiz Porto Britto - Arquiteto
Antônio Carlos Mendes Gomes - Diretor Executivo do Sindicato da Indústria e Construção Civil do Rio de Janeiro - SINDUSCON
Antônio Felix - Lider Comunitário na Região de Santa Cruz
Andres Cristian Nacht - Presidente do Conselho de Administração da MILLS do Brasil Estruturas e Serviços Ltda.
Carlos Manoel Costa Lima - Vice-Presidente da Federação Nacional dos Metalúrgicos
Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Filho - Empresário
Elysio Pires - Consultor de Comunicação e Marketing
Fernanda Carísio - Diretora do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro
Isabel Barroso Salgado - Técnica de Vôlei
Jorge Hilário Gouvêa Vieira - Advogado - Escritório de Advocacia Gouvêa Vieira
Luiza Parente - Professora de Educação Física / Ginástica Artística
Luis Roberto Pires -TV Globo - Gerente de Projetos Sociais
Milton Tavares - Associação Comercial do Rio de Janeiro
Rubem César Fernandes - Antropólogo - Diretor Executivo do Viva Rio
Pois é…
A nota é de 25 de fevereiro. No dia 12 de março, a edição nº 1896 de VEJA começava a chegar às bancas com uma reportagem sobre o rapaz! Ô revista encardida, essa, né?, como se diria lá em Dois Córregos. Sempre estragando a poesia da turma que aplaude o pôr do sol…
Lia-se, então, na reportagem:
Com a força das armas, o tráfico de drogas conquistou, nos últimos anos, o domínio sobre regiões inteiras das grandes cidades. No Rio de Janeiro, 1 milhão de pessoas que vivem em 700 favelas são submetidas a um regime tirânico. Esse avanço territorial tem várias causas, entre elas o arsenal de guerra dos bandidos, a falta de uma política de segurança eficaz e a corrupção policial. Mas, no dia 23 de fevereiro, a prisão do líder comunitário William de Oliveira jogou luz sobre uma face mais complexa e chocante desse fenômeno. Presidente da União Pró-Melhoramentos, a mais importante associação de moradores da Rocinha, a maior favela do Rio, William foi flagrado em escutas telefônicas com os chefes do tráfico local. Em uma das gravações, autorizadas judicialmente, o líder comunitário pede ao traficante Erismar Rodrigues, o “Bem-Te-Vi”, patrocínio para uma festa em comemoração ao aniversário da associação de moradores.
Pesa ainda contra William a suspeita de ter usado a entidade que preside para comprar aparelhos de radiocomunicação e repassá-los aos traficantes. Outra líder comunitária, Maria Luiza Carlos, também presa na operação policial, foi mais longe. Ex-presidente da mesma União Pró-Melhoramentos, “Madrinha”, como é conhecida, atuava como elo entre bandidos e policiais corruptos. Era de sua responsabilidade a entrega, de três em três dias, de uma propina de cerca de 2.500 reais. A prisão de William e Maria Luiza revela a deformação de uma estrutura que deveria agir em favor dos interesses comunitários, e não prestar vassalagem a bandidos. Estudos apontam que, no Rio de Janeiro, quase metade das associações de moradores sucumbiu à proximidade com o tráfico e hoje oscila entre a calada submissão e o apoio ostensivo ao crime organizado.
(…)
A revista também trazia um trecho da conversa em que William pede patrocínio para uma festa ao traficante Erismar Rodrigues Moreira, o Bem-Te-Vi.
William - Vou fazer, dia 22, o aniversário da associação, 43 anos, lá na Curva do S.
Bem-Te-Vi - Vai fechar um show lá?
William - Vou, vou, vai ser no domingo. De 3 da tarde até meia-noite, a entrada é 1 quilo de alimento. Tô fechando a programação e quando tiver pronta eu vou falar contigo, pra ver o teu patrocínio aí, o que você pode me patrocinar.
Bem-Te-Vi - Que patrocínio? Pô, tá maluco? Minha “firma” tá quebrada. Tá ligado que tá quebrada a firma? Mas a gente fala alguma coisa, a gente pede alguma coisa a alguém, tá ligado?
VEJA teve acesso também à transcrição de conversas telefônicas entre Maria Luiza Carlos, antecessora de William na presidência da União Pró-Melhoramentos da Rocinha, e Bem-Te-Vi. Fica claro que ela servia de ligação entre traficantes de drogas e policiais corruptos.
Bem-Te-Vi - Manda eles ficarem no Largo da Macumba, e, se passar, não precisa dar tiro, não, que nós tá (sic) vendo tudo.
Maria Luiza - Eu vou passar para ele. Olha, eles estão mandando te perguntar se você não quer comprar um colete à prova de balas novinho.
Bem-Te-Vi - Tem aquele porta-pistola na frente do peito?
Maria Luiza - É esse mesmo.
Bem-Te-Vi Quanto é?
Maria Luiza - Mil e quinhentos.
Bem-Te-Vi - Que é isso? Os amigos deles outro dia venderam um por 600, aí comprei mais vinte
(….)
Como reagiu Ruben César Fernandes, da Viva Rio, diante dessas evidências? Assim:
“Eu, pessoalmente, mantenho a minha opinião sobre o William mesmo depois da divulgação das conversas, que podem ser interpretadas de diferentes maneiras. Hoje, não há liderança comunitária dentro de favela que não fale com o tráfico”.
Pois é… Essas convicções de Rubem César acabaram metendo terceiros em roubadas, como foi o caso de um diretor da ONG “Sou da Paz” (leia aqui). Outro que saiu em defesa de William foi o jornalista Zuenir Ventura. Os dois chegaram a participar de um debate sobre… meio ambiente!!! Na sua página na Internet, o “líder comunitário” cita o jornalista: “A cidade partida definida por Zuenir Ventura pode começar a ser unida a partir das nossas práticas.”
Nem diga!
Inversão total de valores
Dias depois da prisão de William, em 2005, o que mobilizou os descolados do Rio, sabem quem estava na defensiva, tendo de se explicar? O então secretário de Segurança, Marcelo Itagiba. As acusações contra William acabaram dando em nada, apesar das evidências. No ano passado, o site que anunciava que ele debateria meio ambiente com Zuenir apresentava o seu currículo:
“É presidente nacional do Movimento Popular de Favelas, vice-presidente do Fórum de Turismo da Rocinha e vice-presidente da Federação das Associações de Jacarepaguá, Barra, Recreio e Adjacências. É diretor jurídico e relações públicas da Federação das Associações de Favelas do Rio de Janeiro. Morador da Rocinha, participa dos conselhos comunitários de segurança pública e do PAC.”
O evento se chamava “Rio de Encontros”. Várias páginas se produziram na Internet da mais pura e comovente poesia social!!!
Entre a conivência e a tolice dos abobados metidos a iluministas, quem, historicamente, paga o pato é o homem comum, o povo de verdade, aquele sem pedigree, que não aprendeu a falar as palavras-chave que encantam os bem-nascidos.
O crime organizado deve rir desses, como chamarei?, clowns!
Ah, sim: não adianta me chamar de reacionário, não, viu? Em primeiro lugar, não dou a mínima. Em segundo lugar, reacionário é ficar alimentando mitos e fortalecendo posições de “lideranças” que mantêm refém a população invisível, aquela que não debate com o Zuenir…
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