Código Florestal: Querem reinventar o sentido da palavra “anistia” no país

Publicado em 04/03/2012 17:33 e atualizado em 08/08/2013 16:55
por Reinaldo Azevedo (e Augusto Nunes), em veja.com.br

O Brasil ainda vai mudar o sentido da palavra “anistia”. Inventaremos um conteúdo novo para esse vocábulo, só válido por aqui. Diz o dicionário:

1 - esquecimento, perdão em sentido amplo
2 - Rubrica: termo jurídico.
ato do poder público que declara impuníveis delitos praticados até determinada data por motivos políticos ou penais, ao mesmo tempo que anula condenações e suspende diligências persecutórias.

Não no Brasil!
Por aqui, a Lei da Anistia, por exemplo está sendo contestada por grupos de pressão e por setores do próprio governo. Por quê? Porque entendem que anistia é “absolvição”, e não “perdão”.

Mas também a imprensa, especialmente quando debate o Código Florestal, resolve reescrever o dicionário.  Leiam trecho do que informa a Folha de hoje. Volto em seguida:

Código Florestal deve anistiar 75% das multas milionárias

Por Lúcio Vaz e João Carlos Magalhães:
A aprovação do novo Código Florestal, prevista para esta semana, deve levar à suspensão de três em cada quatro multas acima de R$ 1 milhão impostas pelo Ibama por desmatamento ilegal. A Folha obteve a lista sigilosa e atualizada das 150 maiores multas do tipo expedidas pelo órgão ambiental e separou as 139 que superam R$ 1 milhão. Dessas, 103 (ou pouco menos que 75%) serão suspensas se mantido na Câmara o texto do código aprovado no Senado. Depois, ele segue para a sanção da presidente Dilma Rousseff.

Pelo texto, serão perdoadas todas as multas aplicadas até 22 de julho de 2008, desde que seus responsáveis se cadastrem num programa de regularização ambiental. As punições aplicadas depois disso continuarão a valer. Para conseguir o perdão, o produtor terá três alternativas: recompor a reserva legal (metade da área pode ser com espécies exóticas), permitir a regeneração natural ou comprar área de vegetação nativa de mesmo tamanho e bioma do terreno desmatado.

As multas milionárias que devem ser anistiadas somam R$ 492 milhões (60% do total das multas acima de R$ 1 milhão) e se referem à destruição de 333 mil hectares de vegetação -equivalente a duas cidades de São Paulo.
(…)
Comento
Se a anistia é “perdão”, se a anistia declara “inimputáveis” crimes cometidos num determinado período; se os tais produtores rurais só deixarem de pagar a multa caso cumpram uma destas três obrigações — recompor a reserva legal, permitir a regeneração natural ou comprar área de vegetação nativa de mesmo tamanho e bioma do terreno desmatado — , pergunto: ONDE ESTÁ A ANISTIA? Não houve o perdão nem se garante a inimputabilidade. Se o produtor não fizer uma dessas três coisas, paga a multa.

Entenderam? Não existe uma anistia condicionada; não existe uma anistia com punição; não existe uma anistia com condição.

Logo, isso de que se fala acima não é anistia coisa nenhuma! Os únicos, pelo novo código, que ficam livres de obrigações são os proprietários de até quatro módulos fiscais. Desde que começou o debate sobre o novo Código Florestal, chamou a atenção para esse particular. Não é assim porque eu quero. É assim porque as palavras têm sentido. Ademais, “anitia” não é metáfora; trata-se de um conceito jurídico. E nós temos um compromisso com o sentido das palavras e com as regras do direito. Ou não?

Por Reinaldo Azevedo

 

Com base em crise e um dia depois de tomar lições de Lula, Dilma pede união, chora e diz que ela é quem forma equipe

Por Vera Rosa, Rânia Monteiro e Rafael Moraes Moura, no Estadão:
Menos de 24 horas após se encontrar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Bernardo do Campo, a presidente Dilma Rousseff fez um apelo à união dos partidos que compõem a base aliada, falou sobre o “fardo” de governar, chorou e destacou a importância de uma “coalizão forte” para dividir essa tarefa. Instruída por Lula a cuidar mais da política para evitar novas rebeliões, Dilma usou ontem a cerimônia de posse do ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), para tentar pôr um freio de arrumação na crise.

“Nós precisamos de uma coalizão forte para promover as mudanças que julgamos necessárias ao País. E para que, de resto, possamos fazer aquilo que nós somos eleitos para fazer, aquilo que o povo brasileiro espera de nós e, sobretudo, aquilo que é imprescindível que nós façamos”, discursou a presidente, no Palácio do Planalto. Ela citou 11 vezes o termo “coalizão”e disse que “graças a Deus” tem uma base que a apoia.

No encontro de quinta-feira com Lula, porém, Dilma expôs ao padrinho político o seu incômodo com a insubordinação do PMDB, que divulgou manifesto subscrito por deputados, e avalizado pelo vice-presidente Michel Temer, contendo críticas ao PT e ao governo. Não foi só: ela reclamou da infidelidade de aliados como o PR, o PDT e o PSB, que se destacaram por expressivas votações contra o Fundo de Previdência Complementar dos Servidores Públicos Federais (Funpresp).

Lula aconselhou a sucessora a conversar mais com os partidos que compõem a coalizão, ouvir suas queixas e afagá-los sempre que possível, para evitar que o pote de mágoas transborde. “Não deixe que isso prospere”, comentou o ex-presidente, de acordo com relatos da conversa.

Insatisfeitos por não participarem das decisões governamentais e com a distribuição dos cargos, os peemedebistas viram na nomeação de Crivella para o Ministério da Pesca a gota d’água para a rebelião. Ao divulgarem o manifesto no qual dizem viver numa “encruzilhada” em que o PT quer tirar o “protagonismo” do PMDB, deputados observaram que nem Temer foi consultado sobre a escolha de Crivella.

Decidida na última hora, a ida do senador do PRB para o primeiro escalão teve o objetivo de acalmar os evangélicos, descontentes com o Planalto, e atraí-los para a campanha do candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad. Crivella é bispo da Igreja Universal e, para emplacá-lo na Pesca, Dilma tirou da cadeira o petista Luiz Sérgio.
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Por Reinaldo Azevedo

 

Ex-presidente Lula é internado em SP com infecção pulmonar leve

Por Isadora Peron, no Estadão Online:
SÃO PAULO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi internado neste domingo, 3, no Hospital Sírio-Libanês com início de pneumonia. Lula deu entrada no hospital após ter febre baixa. O ex-presidente está sendo tratado com antibióticos administrados por via endovenosa. O infectologista David Uip fez questão de deixar claro aos jornalistas que não há nenhum processo infeccioso na região da laringe, onde foi diagnosticado um câncer em outubro de 2011. “Ele foi internado mais por precaução, por vir de um diagnóstico de tumor e por ter passado por quimioterapia e radioterapia”.

Segundo Uip, o ex-presidente não tem previsão de alta, mas não há motivos para maiores preocupações. “O que importa é que nos primeiros sinais de que algo não ia bem, Lula veio ao hospital, exames foram feitos e chegou-se a um diagnóstico inicial”, ressaltou. Os resultados desses exames devem ser divulgados nesta segunda-feira. No último dia 17, o ex-presidente encerrou o tratamento radioterápico contra o câncer. Lula chegou ao hospital acompanhado de sua mulher, a ex-primeira-dama Marisa Letícia, no início da tarde. Ela deixou o Sírio-Libanês e retornou por volta das 18h com roupas do ex-presidente, com quem passaria a noite. Lula não recebeu nenhuma visita.

Desde o início de seu tratamento, o ex-presidente já emagreceu cerca de 12 quilos. Pelo fato de ter dificuldades para se alimentar, submete-se a uma dieta baseada em comidas pastosas. O ex-presidente deve permanecer internado no Hospital Sírio-Libanês pelos próximos dias, de acordo com boletim assinado pelos médicos Antonio Carlos Onofre de Lira, diretor técnico hospitalar, e Paulo Cesar Ayroza Galvão, diretor clínico. A equipe que assiste Lula desde o ano passado é coordenada pelos médicos Roberto Kalil Filho, Paulo Hoff, Artur Katz e David Uip.
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Por Reinaldo Azevedo 

 

Quando Dilma e Amorim decidiram punir militares da reserva, havia 98 assinaturas em documento; agora, já são 361 de militares e 124 de civis; havia 13 oficiais-generais; agora, há 44, dois ex-ministros do STM

Então… Da próxima, em vez de a presidente Dilma Rousseff dar ouvidos a Celso Amorim, o Megalonanico, escuta o Tio Rei, que não é nanico… Eu bem que chamei a atenção da Soberana para o direito que têm os militares da reserva de se manifestar. Há uma lei a respeito, conforme deixei claro aqui. Mais: reservistas não têm armas, não podem ameaçar ninguém. No caso em questão, os dois textos que deixaram a presidente brava não traziam e não trazem incitamento à indisciplina ou algo parecido. Expliquei tudo direitinho aqui e aqui.

Quando Amorim e Dilma decidiram dar um chilique, contrariando o conteúdo da lei 7524/86, o segundo manifesto contava com 98 assinaturas — 13 generais. No começo da manhã deste sábado, havia 361 adesões confirmadas, 44 oficiais-generais, dois deles ex-ministros do Superior Tribunal Militar. Quem está incitando o confronto é Amorim, que é dado a demonstrações ociosas de autoridade. Há ainda o apoio de 124 civis.

Que se reitere: ninguém aqui ou fora daqui está incitando indisciplina militar. Ao contrário: entendo que os militares da ativa, os da reserva, o ministro da Defesa e a presidente da República estão obrigados a cumprir a lei. Ponto final. Caso Dilma e Amorim insistam, as advertências serão aplicadas, e os punidos podem recorrer à Justiça. Havendo o triunfo da lei — que é explícita a mais não poder —, terão todos a devida reparação. No Estado de direito é assim.

Eis, em suma, uma crise inútil. Lula é quem é, mas se diga uma coisa em seu benefício. Jamais teria caído nessa roubada. Quando menos, Nelson Jobim lhe teria dito que o confronto era uma desnecessidade e que os efeitos do primeiro documento seriam mínimos. Tudo teria sido resolvido na conversa. Amorim, o megalonanico belicoso, resolveu agir de modo diferente: “Pega eles, Soberana; pega eles! Estamos sendo desrespeitados!” Eis aí o resultado.

Leiam texto de Tania Monteiro no Estadão online. Volto para encerrar.
Não será fácil para os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica resolverem o imbróglio criado pela presidente Dilma Rousseff por ter decidido punir com advertência todos os militares que assinaram o manifesto “Alerta à nação - Eles que venham, por aqui não passarão”, que endossa as críticas a ela por não ter censurado suas ministras que pediram a revogação da lei de anistia.

A presidente já havia se irritado com o manifesto dos Clubes Militares, lançado às vésperas do Carnaval, e depois retirado do site, e ficou mais irritada ainda com o novo documento, no qual eles reiteram as críticas e ainda dizem não reconhecer a autoridade do ministro da Defesa, Celso Amorim, para intervir no Clube Militar.

Inicialmente, o manifesto tinha 98 assinaturas. Na manhã da quinta-feira, após terem tomado conhecimento da decisão de puni-los, o número de seguidores subiu para 235 e no fim de sexta-feira chegou a 361 adesões, entre eles 44 oficiais-generais, sendo dois deles ex-ministros do Superior Tribunal Militar. A presença de ex-ministros do STM adiciona um ingrediente político à lista, não só pelo posto que ocuparam, mas também porque, como ex-integrantes da Corte Militar, eles têm pleno conhecimento de como seus pares julgam neste caso.

O Ministério da Defesa e os comandos militares ainda estão discutindo internamente com que base legal os militares podem ser punidos. Várias reuniões foram convocadas pelo ministro da Defesa, Celso Amorim, e os comandantes militares nos últimos dias para discutir o assunto. Mas há divergências de como aplicar as punições. A Defesa entende que houve “ofensa à autoridade da cadeia de comando”, incluindo aí a presidente Dilma e o ministro da Defesa. Amorim tem endossado esta tese e alimentado a presidente com estas informações. O ministro entende que os militares não estão emitindo opiniões na nota, mas sim atacando e criticando seus superiores hierárquicos, em um claro desrespeito ao Estatuto do Militar.

Só que, nos comandos, há diferentes pontos de vista sobre a lei 7.524, de 17 de julho de 1986, assinada pelo ex-presidente José Sarney, que diz que os militares da reserva podem se manifestar politicamente e não estão sujeitos a reprimendas. No artigo primeiro da lei está escrito que “respeitados os limites estabelecidos na lei civil, é facultado ao militar inativo, independentemente das disposições constantes dos Regulamentos Disciplinares das Forças Armadas, opinar livremente sobre assunto político, e externar pensamento e conceito ideológico, filosófico ou relativo à matéria pertinente ao interesse público”. Esta legislação acabou dando origem a Súmula 56 do Supremo Tribunal Federal.

Esta zona cinzenta entre as legislações, de acordo com informações obtidas junto a militares, poderá levar os comandantes a serem processados por danos morais e abuso de autoridade, quando aplicarem a punição de repreensão, determinada por Dilma. Nos comandos, há a preocupação, ainda, com o fato de que a lista de adeptos do manifesto só cresce, o que faria com que este tema virasse uma bola da neve, já que as adesões são cada vez mais consistentes.

Há quem ache que o assunto precisasse ser resolvido de uma outra forma, a partir de uma conversa da presidente com os comandante militares, diretamente, para que fosse costurada uma saída política para este imbróglio que parece não ter fim já que a determinação do Planalto é de que todos que já assinaram e que venham ainda a aderir ao manifesto sejam punidos. O Planalto, no entanto, descarta esta possibilidade.

Até agora nenhum militar da ativa assinou o documento. Se isso ocorrer, a punição será imediata e não será com advertência, mas poderá chegar a detenção do “insubordinado”. Quanto ao general Rocha Paiva, que deu entrevista para o programa da Miriam Leitão, lançando suspeita sobre participação de Dilma em atentado e duvidando que ela tenha sido torturada, a princípio, nada será feito contra ele porque a entrevista já teria sido concedida muito antes da atual crise e o contexto é considerado outro.

Encerro
E pensar que tudo isso nasceu porque uma ministra do Estado, Maria do Rosário, resolveu fazer uma exortação contra a letra da lei e contra decisão do Supremo e porque outra, Eleonora Menicucci, resolveu contar, no discurso de posse, uma história falsa como nota de R$ 3. Proibidos de se manifestar, os militares da ativa se calaram. E fizeram bem. Autorizados por lei a falar, os reservistas falaram.

Dilma tem de se conformar com as regras do estado democrático e de direito. Os militares, da ativa e da reserva, felizmente, já se convenceram de que este é o melhor caminho para o Brasil: o triunfo da lei. Que os civis agora façam o mesmo.

Texto publicado originalmente às 22h42 desta sexta

Por Reinaldo Azevedo 

 

Manifesto já conta com 455 militares, 62 deles oficiais-generais. Não mudei de idéia: que se cumpra a lei! Os com farda e os sem-farda!

Chega a ser vergonhosa a cobertura que boa parte da imprensa dispensa à desnecessária truculência com que a presidente Dilma Rousseff e o ministro Celso Amorim (Defesa) decidiram avançar contra os militares da reserva que assinaram um documento de protesto contra a censura a um manifesto que havia sido redigido pelos clubes militares. Chamo a cobertura de “vergonhosa” por uma razão muito simples: há gente achando que o que está em julgamento é o direito de os militares darem um golpe! Isso é estúpido!

Há, reitero, uma lei que permite aos militares da reserva se manifestar nos termos em que se manifestaram. É mentira que tenham contestado a autoridade de Amorim. Eles afirmaram, e com razão, que o ministro não tinha autoridade no caso específico — isto é, para obrigar os clubes a retirar do ar o manifesto. No mais, fizeram o que Lei 7.524 permite, a saber:
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA,
faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:
Art 1º Respeitados os limites estabelecidos na lei civil, é facultado ao militar inativo, independentemente das disposições constantes dos Regulamentos Disciplinares das Forças Armadas, opinar livremente sobre assunto político e externar pensamento e conceito ideológico, filosófico ou relativo à matéria pertinente ao interesse público.

O que vai aí é incontroverso. Qualquer punição aplicada pelos respectivos comandos será ilegal, como é ilegal a exigência de Dilma e Amorim. Falta de aviso não foi. Um episódio que poderia passar quase despercebido está virando uma bola de neve. Por quê? Porque Celso Amorim é aquele tipo de doutor que, ao perceber que um remédio piorou as condições do doente, manda dobrar a dose porque acredita que, com a convicção e o radicalismo, corrigirá um erro de diagnóstico.

Bem, meus caros, quando a dupla do barulho mandou punir os signatários do manifesto, havia apenas 98 militares, 13 deles generais. Às 18h30 de ontem, o protesto já reunia 647 adesões. Ao todo, são 455 militares — 61 deles oficiais-generais —, 1 desembargador do TJ-RJ e 191 civis.

Atenção!
Não se trata de concordar com os dois textos ou de discordar de ambos. Não é isso o que está em debate. A questão é saber se a lei será ou não respeitada. Dilma e Amorim estão antecipando um clima ruim para a tal “Comissão da Verdade”. Ora, se um protesto de militares, feito no mais rigoroso cumprimento da legalidade, merece esse tratamento, quero ver o que virá depois, quando o proselitismo revanchista decidir que a Lei da Anistia e o STF não são de nada…

Aqui e ali, referem-se aos militares da reserva como “milicos de pijama”, “saudosos da ditadura”, “reacionários”… Bem, apreço pela ditadura demonstra quem quer atropelar a lei para fazer valer a sua vontade; isso, sim, é reacionário; antes um “pijama” amparado na legalidade do que um terno ou um tailleur vestindo o arbítrio.

Chega de papo-furado! Cumpra-se a lei! Ponto! Se decidirem não cumprir, que os punidos recorram à Justiça!

PS - Gostaria de ver alguns coleguinhas a defender a tese de que, nesse caso em particular, a lei deve ser ignorada. Será um momento lindo do estado de direito! Coragem, valentes! Já há gente cantando as glórias até do infanticídio como a mais bela face do humanismo. Advogar que se jogue a lei no lixo é fichinha.

Por Reinaldo Azevedo 

 

Gol de placa de Amorim: em 4 dias, decisão destrambelhada e ilegal de punir militares da reserva gera 500 novas adesões. Como sempre, é o Megalonanico dizendo a que veio!

Pois é… Na manhã de ontem, eram 455 os militares da reserva que haviam assinado o texto de protesto contra a censura praticada pela presidente Dilma Rousseff e pelo ministro da Defesa, Celso Amorim, a um manifesto dos clubes militares. Achando que não bastava a censura já ilegal ao texto — a lei garante aos clubes o direito de se pronunciar —-, a dupla do barulho também decidiu punir os signatários do segundo documento, o que é igualmente ilegal. Eram, então, 98.

Pois é. Ontem de manhã, a lista já trazia 455 militares — 61 generais. No último balanço, feito às 23h, os números haviam mudado bastante: 66 generais,  338  coronéis, 67 tenentes-coronéis, 13  majores, 29 capitães, 36 tenentes, 23 subtenentes, 21 sargentos e 5 cabos e soldados. Ao todo, são 598 militares, um desembargador do TJ-RJ e 272 civis.

Relembro:
1 - A lei garante aos militares da reserva o direito de se manifestar;
2 - o segundo texto, que motivou a decisão de punir os militares, não contesta a autoridade de Amorim coisa nenhuma; diz que ele não tem autoridade específica, isto é, para tirar um manifesto do ar, como fez.

Foi mesmo um gol de placa do Megalonanico, que é quem está botando fogo na governanta. Em quatro dias, ele conseguiu aumentar em 500 as adesões ao protesto. Exibe, assim, a mesma eficiência já demonstrada no Itamaraty. Quem não se lembra daquela brilhante operação para reconduzir Manuel Zelaya, o maluco do Chapelão, no poder em Honduras? Ou a estupefaciente negociação sobre o programa nuclear iraniano?

O Colosso de Rhodes da diplomacia dá agora suas luzes na Defesa!

PS: Qualquer um que debata este assunto sem discutir o conteúdo da Lei 7.524 é vigarista. De novo:
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA,
faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:
Art 1º Respeitados os limites estabelecidos na lei civil, é facultado ao militar inativo, independentemente das disposições constantes dos Regulamentos Disciplinares das Forças Armadas, opinar livremente sobre assunto político e externar pensamento e conceito ideológico, filosófico ou relativo à matéria pertinente ao interesse público.

Por Reinaldo Azevedo

 

O senador Demóstenes Torres, os “Dirceu’s boys” da Internet e a turma do JEG

Vejam vocês como são as coisas. Carlinhos Cachoeira se tornou célebre quando apareceu num vídeo, em 2004, passando uma grana para Waldomiro Diniz, presidente da Loteria Estadual do Rio, amigão de José Dirceu e da petezada. O amigo daquele que a Procuradoria Geral da República chama “chefe de quadrilha” foi condenado a 15 anos de cadeia. Na semana passada, Cachoeira foi preso por comandar um esquema de jogos de azar. Escutas telefônicas revelaram que ele mantinha conversas freqüentes com políticos do estado dos mais diversos partidos. Entre eles, está o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Muito bem!

Não é que a turma de José Dirceu na Internet resolveu provocar: “E agora, Reinaldo Azevedo?” E agora o quê? Ora vejam: Demóstenes é articulista do Blog do Noblat, não do meu, mas parece que não dirigiram ao titular daquela página nenhuma indagação. E que fique claro: não escrevo isso em tom crítico. Como Ricardo Noblat publica também textos de terceiros, o que não é o meu caso, acho que faz muito bem em ter Demóstenes entre os articulistas. Só chamo a atenção para este particular para evidenciar o ridículo da coisa.

De resto, vejam com são as coisas. Um: quem pôs a informação em papel impresso sobre as escutas foi a VEJA. Dois: mantenho todos os elogios que fiz ao desempenho do senador Demóstenes Torres até agora. Só não chamo, DO MEU PONTO DE VISTA, a sua atuação de impecável no Senado porque ele apoiou a Lei da Ficha Limpa, e eu a considero inconstitucional. No mais, ele sempre esteve a favor das causas que considerei corretas. Três: se ele fez alguma coisa errada, tem de pagar, como deveria acontecer com qualquer um. Eu não gosto é da impunidade, que tanto bem faz aos “companheiros”.

E como não há vagabundos que me intimidem ou constranjam, segue abaixo uma entrevista que fiz ontem à noite com o senador Demóstenes — entrevista mesmo, não aqueles boletins oficiais que a turma do JEG faz quando um dos seus financiadores é pego com a boca na botija. Demóstenes lembra, entre outras coisas, que a investigação que resultou na prisão de Carlinhos Cachoeira estava no Ministério Público de Goiás, chefiado por seu irmão — e foi esse irmão que a encaminhou à Justiça Federal. Segue a entrevista.
*
BLOG - O senhor é um dos mais severos críticos dos desmandos do petismo. Não pega mal para alguém com esse perfil ser flagrado conversando com Carlinhos Cachoeira?
DEMÓSTENES TORRES - 
A sua pergunta demonstra que estão querendo politizar essa história pra me atingir. Fui, sou e serei crítico enquanto a linha deles for a que está aí. Se alguém está achando que vai me intimidar com isso, pode tirar o cavalo da chuva. Em segundo lugar, Reinaldo, eu não fui flagrado coisa nenhuma! Flagrado é aquele que é pego fazendo coisa errada. O que é que eles têm? Telefonemas entre mim e Cachoeira? Eles provam o quê?

Eles provam o quê, senador?
Provam que eu, como a esmagadora maioria dos políticos de cinco Estados, conforme a imprensa divulgou, conversava com ele. Pouca gente sabe fora de Goiás, mas ele é um empresário de sucesso na região, com trânsito na sociedade local, e numa atividade que nada tem a ver com caça-níqueis. Ele é dono de um laboratório de remédios bem-sucedido. Circula na sociedade. Todo mundo — de todos os partidos — fala com ele e com os demais empresários.

O senhor já foi secretário de Segurança de Goiás, entre 1999 e 2002. Não é impróprio alguém nessa posição ter amizade com um contraventor?
Uma lei votada na década de 1990 em Goiás legalizou esse tipo de atividade no estado. E foi legal até 2007, quando o Supremo Tribunal Federal decretou a inconstitucionalidade das leis estaduais que cuidavam do assunto, por entender que essa atribuição é de competência da União. Então, no tempo em que fui secretário de Segurança, também as Leis Zico e Pelé autorizavam a exploração de alguns jogos no Brasil, inclusive de caça-níqueis e bingos. Portanto, a lei estadual goiana, feita com base nas Leis Zico e Pelé, foi aprovada bem antes de eu assumir a secretaria e declarada inconstitucional depois do escândalo Waldomiro, quando eu já era senador, como todos sabem.

O senhor acha que a imprensa erra ao noticiar?
Eu não! Quem quer censurar são setores da esquerda, não eu. A imprensa que faça o seu trabalho. Se vazaram pra ela, tem de noticiar. Vai fazer com a informação o quê? Estou falando outra coisa. Estou falando sobre vazamento seletivo. É um estranho vazamento. Cadê o conteúdo das conversas?

O senhor recebeu de Cachoeira uma cozinha de presente de casamento, não?
A mulher dele, que é amiga da minha esposa, nos deu uma geladeira e um fogão como presentes de casamento. Essa é a grande acusação? Acho bom lembrar o que já fizeram com Alceni Guerra, que foi esmagado por causa das tais bicicletas, e era tudo uma grande farsa.

Mas que tanto o senhor tinha para falar com Cachoeira?
Nós nos conhecemos, sim. Nossas respectivas mulheres, como eu já disse, são amigas. É normal amigos conversarem, sobre assuntos pessoais, e não há problema algum em conversar ao telefone. E quem me grampeou sabe que converso ao telefone o dia inteiro e atendo a todos que me ligam, das mais altas autoridades às pessoas mais simples. Há muita coisa da vida pessoal de um círculo de pessoas, intimidades, conversa do dia-a-dia. Nada escabroso, não! Mas também não são coisas que digam respeito nem à vida pública nem ao dinheiro público.

Mas existe uma acusação?
É claro que não! E, se existisse, eu seria o primeiro a exigir a completa apuração. Minha biografia não permite a ninguém levantar qualquer dúvida sobre a minha conduta.  Agora fiquei sabendo que essa investigação esteve no Ministério Público de Goiás, chefiado pelo meu irmão, que a encaminhou à Justiça Federal em meados do ano passado, pois havia indício de envolvimento de servidor público federal.

Seu irmão então poderia, se quisesse, ter limpado a sua barra?
Primeiro que não havia, nem há, nenhuma barra para se limpar. Mas, ainda que tivesse barra para limpar, ele não teria feito qualquer coisa que não estivesse de acordo com o seu cargo. Não havia nada! Foi meu irmão que levou isso adiante. Preferem esquecer esse dado da questão.

E agora, senador? O que o senhor vai fazer?
Vou enfrentar com a mesma coragem demonstrada em todos os momentos da minha vida. Nunca fugi de luta. Continuarei levando a minha vida pessoal e o meu mandato do mesmo modo, mesmo dada certa realidade surrealista que existe no Brasil. Eu mesmo já tomei as providências. Exijo saber exatamente o que o Ministério Público Federal está dizendo contra mim, se é que está dizendo, porque, até agora, o que sei foi dito pela imprensa. Pedi ao Ministério Público Federal que me permita o acesso ao conteúdo dessa investigação que, repito, não feita contra mim. Vão tentar colar uma pecha em mim para me intimidar, mas não vão, não! Não vão porque não há nada contra mim, e nada fiz de que possa me envergonhar. Em primeiro lugar, fazem celeuma sobre um presente de casamento porque não houve troca de favor. Em segundo lugar, pelo que foi noticiado, eu e vários políticos, de diferentes partidos, falamos com Cachoeira, mas isso não vazou.

O senhor acha que há uma conspiração contra o senhor?
Não lido com teorias conspiratórias. O que sei objetivamente é que o vazamento das conversas, ainda sem conteúdo, buscou me atingir. E eu sou um político inequivocamente oposicionista. De acordo com a imprensa, não é a primeira vez que tenho conversa grampeada. Podem grampear à vontade, não vão encontrar nada. Isso não vai me intimidar, não! Eu continuarei a dizer o que acho que tem de ser dito. Não fiz nada, entro no Senado de cabeça erguida e continuarei a fazer o meu trabalho.

Por Reinaldo Azevedo

 

Datafolha: Serra cresce nove pontos, e há cenário em que venceria até no 1º turno se eleição fosse hoje. Podem esperar: os petralhas e o JEG vão entrar em surto psicótico

datafolha-pref-2012-cenario-um

Xiii… A petralhada e o JEG vão entrar em surto. É agora que eles virão pra cima de José Serra, pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, com a fúria dos aloprados. Pesquisa Datafolha indica que Serra cresceu nove pontos percentuais depois de ter admitido que é pré-candidato à Prefeitura de São Paulo. Há cenário, não de todo improvável, em que venceria no primeiro turno.

É claro que isso é, como dizem, uma “fotografia do momento”. Mas os números explicam por que os petistas começaram um intenso trabalho para pautar a imprensa contra Serra. Alguns nem precisam ser pautados — fazem o que quer o PT por iniciativa própria mesmo… A partir de amanhã, podem esperar:
- os demais pré-candidatos deixam de dizer por que querem ser prefeitos e tentarão explicar por que Serra não poderia sê-lo;
- o Jornalismo da Esgotosfera Governista (JEG), financiado por estatais, intensifica suas canalhices oficialistas;
- a rede petralha na Internet vai entrar em regime de plantão 24 horas; como se sabe, há pessoas contratadas apenas para monitorar a Internet.

Seguem trechos da reportagem da Folha Online. Na madrugada, volto ao assunto:
Por Vaguinaldo Marinheiro:
O ex-governador José Serra subiu nove pontos percentuais na pesquisa de intenção de votos para a Prefeitura de São Paulo após assumir que quer ser o candidato do PSDB na eleição de outubro. Levantamento feito pelo Datafolha entre quinta e sexta-feira mostra Serra com 30% dos votos num cenário em que estão os principais postulantes ao cargo. No fim do mês de janeiro, ele tinha 21%. Em segundo fica Celso Russomanno (PRB), com 19%. O petista Fernando Haddad obtém apenas 3%.

Serra lidera em todos os cenários em que participa.
No mais enxuto, em que concorreriam apenas ele, Gabriel Chalita (PMDB) e Haddad, alcança 49% do total de votos, o que liquidaria a eleição no primeiro turno, já que esse percentual representa mais que a soma de votos dos demais pré-candidatos. O Datafolha ouviu 1.087 eleitores. A pesquisa, que tem margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos, foi feita na semana em que Serra teve muita exposição devido ao anúncio de que queria concorrer.
(…)
Dois dos quatro pré-candidatos tucanos desistiram. Só José Aníbal e Ricardo Tripoli continuam no páreo. A pesquisa, porém, deve funcionar como novo banho de água fria em suas postulações. Aníbal obtém 4% das intenções de voto no cenário em que aparece como o candidato tucano. Tripoli alcança 3%.
(…)

datafolha-pref-2012-cenario-dois

Por Reinaldo Azevedo 

 

PSDB pode comemorar resultado de pesquisa, claro!, mas a corrida mal começou. Ou: A pergunta que o Datafolha não fez. Ou: Leituras estranhas

Bem, vocês viram os dados do Datafolha. Dois números são muito expressivos: Serra ganhou nove pontos percentuais de um mês para outro e poderia até vencer no primeiro turno a depender do cenário - oscilando de 30% a 49%. O petista Fernando Haddad, no melhor cenário, obtém 8%. Naquele que é chamado o “Cenário Um”, com todos os partidos grandes e médios lançando candidatos, obtém apenas 3% — só ganha de Levy Aeorotrem Fidelix (PRTB) e Flávio Durso (PTB) e empata com “não sabe”. É cenário definitivo? É claro que não!

Eu sou partidário, com sabem, da tese dos três terços do eleitorado: um terço vota contra o PT (em São Paulo, entenda-se “PSDB”), um terço vota contra o PSDB (é o PT), e é preciso disputar o terceiro terço. Alguém poderia indagar: “Pô, Reinaldo, por que você não escreve de modo diferente: ‘um terço vota a favor do PSDB, um terço a favor do PT…’?” Porque não é assim que as coisas se dão nesta cidade e neste estado. Fala-se muito de “conciliação” disso e daquilo e coisa e tal… Por aqui, é diferente! Atenção! Há até quem aprove o governo Dilma, mas jamais votaria no PT; o mesmo se diga do governo Alckmin e do não-voto no PSDB. Bem, alguns bobalhões acham que isso faz mal ao Brasil… Eu acho que isso faz bem! Democracia que não tem oposição é ditadura — ainda que ditadura do consenso! Os fanáticos do consenso vão passar a vida comendo grama. Se olharem bem, nas disputas eleitorais ao menos, Lula sempre apostou no confronto. Depois ele se junta até com o capeta — desde que não tenha bico (rabo, pêlo e chifre, isso pode!) — para governar. Mas não vou me perder nesse aspecto agora. Adiante.

Serra tem a vantagem de ser muito conhecido — 99% sabem quem ele é; apenas 49% conhecem Fernando Haddad, que Lula tirou da cartola. De todo modo, é um índice de conhecimento relativamente alto para tão baixa performance eleitoral. Mas é claro que chegará fácil, segundo a teoria dos três terços, aos 30%, 30 e poucos, tão logo fique  claro que é ele o candidato antitucano. Como Serra é conhecido, já se sabe que é ele o nome antipetista — assim, cresceu nove pontos de um mês para outro. Não por acaso,  sua rejeição é de 30% — era de 33% no fim de janeiro. Haddad alcançando o patamar dos 30% — o que significa que terá ficado claro ser ele o candidato do PT —, é quase certo que a rejeição subirá para patamar semelhante.

Fator Lula
O Datafolha quis saber o peso dos padrinhos no voto dos candidatos. Poderiam, segundo o instituto, votar em alguém indicado por Lula 44% dos entrevistados — 31% no caso de Alckmin. Não votariam em alguém com apoio de Lula, 21% (19% no caso do governador). E o apoio seria indiferente para 33% no caso do líder petista e 48% no do líder tucano.  Atenção! Entre o “poderia” e o “votaria com certeza” vai uma grande diferença. De fato, as influências, respectivamente, de Alckmin e Lula não são muito diferentes.

Essa “influência” tende a ser superestimada pelos analistas por dois motivos: a) porque Dilma saiu do quase nada e se elegeu (e se imagina que o mesmo pode acontecer com Haddad) e b) porque o candidato do PT é o nome preferido de boa parte da imprensa. Ora, contraponho a esse dado dois fatos: Lula conseguiu, sim, transferir seus votos para Dilma em 2010, mas, nas eleições minicipais de 2008, tinha sido um fiasco. Quando o cargo disputado não é o mesmo exercido pelo potencial transferidor, essa passagem é mais difícil — Lula nem está com mandato agora. Pode acontecer? Pode! O fato é que o PT tem sido malsucedido em São Paulo — Lula e Dilma perderam as eleições presidenciais na capital e no Estado.

Vem pauleira por aí
Bem, queridos, vou aqui fazer uma crítica severa ao Datafolha. E convoco especialistas em pesquisa para avaliar se a minha observação é pertinente ou se apenas estou puxando brasa para a sardinha do candidato em que vou votar — atenção! Eu digo em quem vou votar! O leitor pode desconfiar de mim se quiser. MAS TALVEZ DEVA DESCONFIAR MAIS DE QUEM NÃO DIZ!

Lá no título, deixo claro que vou escrever sobre o que defini como “a pergunta que o Datafolha não fez”. Bem, se a fez, ao menos não publicou. O instituto indaga:
“Você sabia que Serra deixou a prefeitura em 2006, menos de dois anos após ser eleito, para de candidatar ao governo de SP?”

Este “menos de dois anos depois” não acrescenta informação nova nenhuma; serve apenas para convocar o entrevistado para se escandalizar. Resposta: 76% disseram que sabiam; 19%, que não sabiam; e 5% não souberam responder. Bem, não deixa de haver um dado positivo para Serra aí: a esmagadora maioria do eleitorado tem consciência do fato. Muito bem, em seguida, pergunta o Datafolha: “Você acha que ele agiu mal, bem ou não sabe?” Para 66%, agiu mal; para 26%, bem; 7% não souberam responder. O Datafolha achou que era pouco e se mostrou ainda mais curioso: “Caso Serra seja eleito prefeito, você acha que ele vai se afastar em 2014 para concorrer à Presidência? Resultado: sim; 66%; não: 24%; não sabe: 10%.

Mauro Paulino, o diretor-geral do Datafolha, que me perdoe, mas ele está produzindo números para os adversários de Serra. Que tal, Paulino, esta pergunta:
“Você sabia que Serra deixou a Prefeitura em 2004, menos de dois anos após ser eleito, para impedir a vitória de um candidato do PT ao governo de São Paulo? Você acha que agiu bem, mal ou não sabe responder?”
Alguém dirá: “Mas essa é uma pergunta muito serrista!” Sei… E a feita pelo Datafolha? Não é muito anti-serrista?

A pergunta que não foi feita
Ora, então que se produzam dados contra todos, por uma questão de isonomia. Eu sugiro uma questão:
“Você sabia que Haddad é o ministro em cuja gestão se fizeram os kits gays para as escolas? Você acha que ele fez bem, mal ou não sabe responder?”
Já até ouço alguém gritando: “Mas essa não é uma questão relevante!” Não??? A presidente Dilma Rousseff acaba de acomodar um nome no Ministério da Pesca só para tentar desfazer certo mal-estar com evangélicos. Poderia trocar essa pergunta por outra:
“Você sabia que Fernando Haddad era ministro da Educação nas três vezes em que o Enem deu problema?”

Ora, essa história de Serra ter deixado a Prefeitura é, obviamente, uma pauta dos seus adversários. Fica até parecendo que deixou o cargo para ir até a esquina. Não! Candidatou-se ao governo de São Paulo e venceu no primeiro turno — inclusive na cidade. É claro que os jornalistas de Mercadante e alguns de seus parentes queriam que Serra tivesse ficado na Prefeitura em 2006… Sim, é evidente que esse é um flanco que vai ser atacado pelos adversários. Mas cadê o flanco dos demais?

O Datafolha poderia ter perguntando sobre Gabriel Chalita, o mais novo enfant gâté da imprensa paulistana e garoto de ouro de Michel Temer, algo assim:
“Você sabia que Gabriel Chalita se elegeu vereador pelo PSDB e foi o PSB; eleito deputado, mudou para o PMDB?”

Terá o Datafolha feito essas perguntas? O resultado ainda será divulgado nos próximos dias? Ou o instituto resolveu aderir à pauta dos adversários de Serra para demonstrar que é isento?

Record e UOL
Neste momento, quase seis da manhã de domingo, a manchete do UOL é esta: “66% não crêem em Serra e acham que ele deixará a Prefeitura”. De novo, convoco Mauro Paulino e indago: FOI ESSA A PERGUNTA FEITA PELO DATAFOLHA??? Não foi!

Para que essa manchete fosse possível, seria preciso ter feito esta pergunta:“Você acredita em Serra quando diz que vai ficar na Prefeitura se eleito?” Mas se perguntou outra coisa, como fica evidente acima.  “Ah, mas a gente deduz…” EPA!!! Nesse caso, dedução é proibido! O QUE SE PERGUNTOU É OUTRA COISA. A manchete, como fica óbvio, transforma uma pesquisa positiva para o tucano em algo negativo.

Não é mesmo curioso? Fernando Haddad, o candidato da Presidente da República, do maior partido do país e de Lula, tem 3% das intenções de voto; Serra tem 30%. O que fazer? Ora! Dar uma notícia negativa para… o tucano!!! Faz ou não faz sentido? “66% não crêem em Serra…” Ora… O Datafolha não apurou nada disso, e Mauro Paulino e a Folha sabem muito bem!

A Rede Record não agiu de modo diferente. Também achou que essa abordagem era a melhor. Faz sentido e nem se esperava outra coisa. Afinal, ao tomar posse no Ministério da Pesca, Marcelo Crivella houve por bem agradecer o tio, Edir Macedo, dono da emissora.

Caminhando para o encerramento
Todos sabem o que penso, e espero que o leitor jamais perca isso de vista. A questão é saber se trato ou não de coisas pertinentes. Desafio qualquer um a justificar tecnicamente a manchete do UOL — já que ancorada numa pesquisa. E pergunto por que a pauta dos adversários dos demais candidatos não virou perguntas do Datafolha, como virou a dos adversários de Serra.

Os resultados são, sim, auspiciosos para os tucanos e aliados, mas a corrida mal começou. Pesquisas servem para delinear estratégias, determinar mudança de rumos etc. Uma coisa é certa: podem se preparar para o baguncismo sindical, protestos, provocações à polícia, tentativas de confronto, manifestações disso e daquilo… Querem ver como são as coisas? Leiam o que informa Daniela Lima, na Folha Online:
“O ex-governador José Serra passou por um constrangimento em seu primeiro dia de campanha como pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo. Ao visitar o Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso, na Vila Nova Cachoeirinha (bairro da zona norte da capital paulista), ele foi vaiado por um grupo de jovens que aguardava show no local, do rapper Criolo. Apoiadores e eleitores simpatizantes do tucano tentaram abafar as vaias com aplausos, mas foi preciso que Serra fosse para outro ambiente no local para que o barulho acabasse. O ex-governador, que inaugurou o local quando prefeito (2005 a 2006), minimizou o episódio. “É normal. Você tem outros partidários. O importante é ver isso aqui funcionando. Esse centro foi uma questão pessoal. [...] Isso aqui era um mercado em ruínas, cheio de ratos. Hoje recebe 50 mil jovens. Inclusive esses que estão aí e não sabem que fui eu que fiz”, afirmou.
(…)

Como todo mundo sabe, onde quer que esteja um candidato tucano, há petistas organizados para vaiar. A cada vez que o jornalismo dá destaque a isso, acaba se comportando como parte do grupo militante. É questão de lógica elementar. Leiam o texto acima: os que vaiaram Serra são definidos como “um grupo de jovens”; já os que o aplaudiram eram “eleitores e apoiadores simpatizantes”… Militante tucano é tratado como militante tucano. Militante petista vira povo!

É, a campanha começou!

Por Reinaldo Azevedo 

 

Dilma nomeia o novo ministro do Duplo Sentido, e ele promete aprender a pôr a minhoca no anzol. Ou: Ministro cita dono de rede de televisão na posse

Ressuscitem Aristófanes. Depois de “As Vespas” e de “As Rãs”, ele precisa escrever “As Minhocas”, em homenagem ao que viu nesta sexta no Palácio do Planalto. Chamem Esopo. Há uma nova fábula em curso, de sentido moral ainda impreciso: “As Minhocas e a Soberana”. Que coisa!

Leiam o que informam Nathalia Passarinho e Priscilla Mendes, no Portal G1. Volto em seguida:
Alvo de críticas por não conhecer o setor que vai comandar, o novo ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB-RJ), afirmou nesta sexta-feira (2) que pretende aprender mais sobre a área. “Não quero que a presidente fique triste em ter um ministro da pesca que não é um especialista e que não sabe colocar minhoca num anzol. Mas colocar minhoca no anzol a gente aprende rápido. Pensar nos outros é que é difícil”, afirmou Crivella do discurso de posse nesta sexta-feira (2) no Palácio do Planalto.

Ao discursar depois, a presidente Dilma Rousseff disse que Crivella “é um grande especialista em colocar minhoca no anzol”. “Um grande especialista. Ele é um bom engenheiro, ele é um bom gestor. Tenho certeza que o Crivella vai acrescentar muito às nossas minhocas colocadas no anzol”, afirmou a presidente. Dilma chorou ao lamentar a saída de Luiz Sérgio de sua equipe de ministros. Ela defendeu, porém, a existência de alianças e coalizões políticas como “essência para que o Brasil seja administrado” e disse que, “infelizmente”, às vezes é preciso “prescindir” de algumas pessoas no governo.

Evangélicos
Apontado como uma indicação estratégica para aproximar o governo do setor evangélico, Crivella, que integrava a bancada evangélica no Congresso, citou a religiosidade em seu discurso. O novo ministro também citou o tio, o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal.

“Quero citar uma lição que sintetiza com simplicidade um bom conceito. Quem pensa nos outros pensa como Deus”, disse. “Peço a Deus que dê sabedoria e discernimento [...] para que continue não ocorrendo no nosso ministério qualquer deslize que desanime o povo e faça um cidadão de bem não sentir orgulho de ser brasileiro”, disse o novo ministro ao concluir o discurso. Sobre as ações necessárias ao setor da pesca e aquicultura, Crivella afirmou que é preciso formar engenheiros ligados ao setor e aumentar o volume de financiamentos.
(…)

Voltei
E aí? Dá para levar isso a sério? Marcelo Crivella foi nomeado para a Pesca. Como não há o que fazer por lá — ou seus antecessores não seriam Ideli Salvatti e  Luiz Sérgio —, vai cuidar, então, da linguagem de duplo sentido.

Sabem como é… Um governo começa metaforizando com a minhoca no anzol e depois vai percorrendo toda a variedade da alegoria zoológica: afoga o ganso; dá tapa na pantera; engole sapo; põe bode na sala; manda a vaca pro brejo; dá uma de macaco e mete a mão em cumbuca; nada de costas em rio que tem piranha…

Nada disso pode ser muito sério. Quando Crivella foi nomeado, escrevi aquium longo texto, lembrando quem ele era e enfatizando a sua ligação com Edir Macedo, seu tio, dono do PRB, da Igreja Universal e da Rede Record. Um ou outro indagaram: o que tem uma coisa a ver com outra? Ora, perguntem a ele, que citou o tio no discurso de posse. Crivella foi escolhido porque, dizem, é um interlocutor da bancada evangélica, e há contenciosos nessa área — o aborto entre eles. Macedo é, no Brasil, o mais entusiasmado defensor do aborto de que se tem notícia.

Pensemos
Jamais aconteceria, eu sei, e eu não estou igualando as personalidades.Imaginem o que estaria fazendo agora o JEG (Jornalismo da Esgotosfera Governista) se Dilma tivesse nomeado um parente dos Marinho, da Globo, para ao Ministério e se, na posse, ele citasse Roberto, o patriarca, ou alguém da família. Edir Macedo, a gente vê, virou referência dos “blogueiros progressistas”.

Ressuscitem Aristófanes! Chegou a hora de escrever também “Os Jegues”.

Por Reinaldo Azevedo 

 

Ao defender Haddad e o kit gay, agora é Dirceu que ataca “setores evangélicos”, acusando-os de “violência e chantagem”. Ou: É uma honra saber que Dirceu não gosta de mim! Espalhem!

No dia 29 de fevereiro, a Presidência da república informou que Luiz Sérgio deixaria o Ministério da Piaba, também conhecido como da Pesca, e que a pasta seria assumida por Marcelo Crivella (PRB), sobrinho de Edir Macedo, dono da Record, a quem se mostrou grato no dia da posse. Nunca antes da história destepaiz o dono de uma emissora de televisão mereceu tamanha deferência. A ninguém escapou que Dilma Rousseff tenta, com a nomeação, aplacar as críticas dos evangélicos. A maioria dos que se manifestaram, neste blog ao menos, diz que Crivella pode até representar o PRB e Macedo, mas não os evangélicos. A conferir.

Gilberto Carvalho, em palestra no Fórum Social Mundial, estabeleceu que a próxima meta do PT é disputar influência com as igrejas evangélicas, que ele considera conservadoras — deu a entender que não são exatamente uma boa influência. Daí porque, emendou, seria preciso investir muito em mídia estatal para disputar com as igrejas os fiéis. Carvalho já começa a tratar o PT como confissão religiosa!!! Um dia ainda reivindica que o partido eleja o papa. O ministro se reuniu depois com a bancada evangélica para afirmar que não tinham entendido direito o que ele falou, que era tudo coisa da imprensa e tal…

Muito bem! Crivella era anunciando no dia 29. Agora vejam o que escreveu em seu blog o “consultor de empresas” José Dirceu — aquele que é acusado de “chefe de quadrilha” pela Procuradoria-Geral da República e que perdeu o mandato de deputado por corrupção. Prestem bem atenção. Volto depois:
“(…)
Haddad ressaltou que o kit anti-homofobia surgiu de uma demanda de emenda parlamentar. Ainda assim, devido às críticas da bancada evangélica contra a distribuição do material nas escolas, a iniciativa foi suspensa. Segundo o ex-ministro, no entanto, o kit foi usado em cursos de formação de professores.
Não podemos ficar na defensiva e no recuo frente à violência e à chantagem de certos setores evangélicos que querem interditar o debate sobre esses temas no país e patrulhar todas as políticas públicas com relação às questões do aborto e da homossexualidade. Esses grupos buscam impor ao Estado brasileiro uma visão preconceituosa e repressiva. Os que dão guarida a esse comportamento violento que introduz em nossa sociedade o ovo da serpente do preconceito e do racismo prestam um desserviço à democracia e à convivência social.”

Voltei
Como o racismo entrou nesse bolo, ninguém entendeu! Que se saiba, quem andou escrevendo palavras racistas foi a turma do JEG (Jornalismo da Esgotosfera Governista). E com patrocínio de estatais!!!

É isso aí: para Dirceu, certos setores evangélicos praticam “violência e chantagem”. Está lá no blog dele. Isso significa que o PT não mudou de idéia, não! Parece ter nomeado Crivella só para dar um truque nos evangélicos.

Ah, sim, “consultor”: é inútil mandar seus amiguinhos — ou são funcionários? — da Internet me atacar. Não dou a mínima! Saber que José Dirceu não gosta da gente é dessas coisas que honram o currículo. Ver a qualidade de quem é mobilizado para o trabalho sujo, então, é uma distinção moral.

É isso aí! A turma de Dirceu ataca Reinaldo Azevedo e os evangélicos. Nada como ter inimigos com essa qualidade.

Por Reinaldo Azevedo 

 

O vale-tudo comandado por Lula para tomar São Paulo

Leiam o editorial “Dilma entra na campanha eleitoral”, no Estadão de hoje. Impecável!

Para que serve o Ministério da Pesca e Aquicultura? Serve para garantir a bênção dos evangélicos da Igreja Universal à candidatura do petista Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo. Simples assim, a presidente Dilma Rousseff entregou ao bispo Marcelo Crivella (PRB-RJ) a pasta até agora ocupada por um petista. Mas o sacrifício deve valer a pena: além de o PT se livrar da incômoda gritaria dos evangélicos da Universal em torno de delicados temas religiosos, o candidato imposto por Lula ganha a possibilidade de vir a contar com o apoio do PRB - que, por enquanto, permanece no páreo, com o deputado Celso Russomanno num surpreendente primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto. Mas isso é mero detalhe. O que importa é que se escancara o ingresso, de sola, do Palácio do Planalto na campanha eleitoral paulistana. E trata-se apenas do começo.

A cada dia que passa - e estamos a sete meses do pleito - as impressões digitais de Lula se tornam mais nítidas na estratégia eleitoral que tem como objetivo consagrar a hegemonia do lulopetismo em todo o País. Para isso é imprescindível derrotar seus adversários nos redutos mais importantes que ainda lhes fazem alguma resistência: a cidade e o Estado de São Paulo. Este fica para daqui a dois anos.

Essa estratégia não vai custar barato para o PT - a senadora Marta Suplicy e o defenestrado ministro Luiz Sergio que o digam -, mas Lula já deixou claro que está disposto a pagar o preço que for necessário. Cacife não lhe falta e Dilma Rousseff acaba de comprová-lo, com a presteza com que se dispôs a entrar no jogo e procurar o chefão em São Bernardo para, num encontro de quase três horas, pedir conselhos e receber novas instruções. Mas teve que ouvir calada o novo membro do Gabinete dizer, com inegável senso de humor, que, embora ministro da Pesca, não sabe nem “colocar minhoca no anzol”. O que não tem a menor importância, já que essa pescaria nada tem a ver com peixes.

Toda a encenação que fez o pano de fundo da triunfante entrada do bispo Crivella em cena criou em Brasília uma situação política tão desfrutável que propiciou manifestações que foram do deboche ao puro cinismo. Deste se encarregou a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti: “É a incorporação efetiva (ao primeiro escalão do governo) de um aliado. Mas não traremos disputas locais para o âmbito federal”. Já o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), ex-petista e ex-ministro de Lula, optou pela zombaria: “O governo resolveu pôr na Pesca um pescador de almas, que ainda vai andar sobre as águas”. Como levar a sério o que se passa em tal ambiente político?

O eleitor paulistano pode se preparar, portanto, para uma das campanhas eleitorais mais disputadas e extravagantes da história da cidade, na qual, pelo andar da carruagem, a ética e os bons modos certamente acabarão sendo deixados de lado. As evidências disso se acumulam.

Em manobra rasteira claramente destinada a cacifar poder de barganha com o governo, o mensaleiro Waldemar da Costa Neto, dono do PR, explora a ingenuidade do folclórico e muito bem votado deputado Tiririca, lançando-o candidato a prefeito de São Paulo. O homem já se sente “prefeito do povão”.

E o jovem e ambicioso deputado Gabriel Chalita não faz feio nessa galharda companhia: depois de transitar por três partidos em menos de dois anos, finalmente encontrou um que se dispôs a lançá-lo a um cargo executivo e anuncia orgulhoso: “Eu tenho uma cara só”.

O saldo desse circo de horrores é que a cidade de São Paulo, com todos os graves problemas sociais e urbanos que aqui se agravam, corre o risco de se tornar a vítima de uma longa campanha eleitoral que tende a passar ao largo do debate das questões que realmente interessam aos seus mais de 10 milhões de habitantes.

A federalização do pleito de outubro é inevitável, e em certa medida até desejável, porque aqui estará sendo decidido o futuro político do País a curto e médio prazos. Mas é preciso que os candidatos não se esqueçam de que, apurados os votos, o vencedor terá de enfrentar a enorme responsabilidade de governar a cidade.

Por Reinaldo Azevedo

 

E o PAC empacou no trocadilho da governanta… Na creche inacabada da Rocinha, vagas só para carros…

Por Rogério Daflon, no Globo:
Financiadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal e gerenciadas pela Empresa estadual de Obras Públicas (Emop), duas obras na Rocinha apresentam problemas que expõem falta de zelo do poder público. Localizada na Estrada da Gávea, a creche do PAC teve seu pátio transformado num grande estacionamento. Neste domingo, uma equipe do GLOBO contou 13 carros e 17 motos no local. A creche estava em fase de acabamento há cerca de um ano, quando os operários da Emop abandonaram a obra, e o lugar onde crianças deveriam brincar durante o recreio virou garagem. Numa das paredes da creche, está pintado o preço da mensalidade de uma vaga para moto (R$ 50). “Daqui a pouco sairemos daqui. A obra do PAC deve recomeçar - disse, sem se identificar, um homem responsável pela cobrança no estacionamento, que não quis informar quem teve a ideia de instalar ali o negócio”.

Na mesma Estrada da Gávea, um prédio construído com recursos do PAC para abrigar uma biblioteca também tem problemas. Um imóvel vizinho, que foi desapropriado para ser demolido por estar sobre uma vala negra, acabou permanecendo de pé, adiando a obra de esgotamento sanitário que livraria os frequentadores da biblioteca de doenças e mau cheiro. As pessoas que moravam no prédio, de três andares, foram levadas para outras casas, mas, como a obra foi protelada, outras famílias chegaram. Os moradores reabriram janelas e portas que haviam sido fechadas com tijolos justamente para evitar ocupações ilegais. “Vivemos aqui há oito meses com mais duas famílias - disse a diarista Janileide Bezerra, que mora com a mãe, o marido, a filha e uma neta. - Nós estávamos pagando aluguel e, agora, economizamos essa despesa. Mas isso é temporário”.

Do outro lado da cidade, as obras do PAC do Complexo do Alemão, na Zona Norte, apresentam problemas semelhantes, segundo a assessoria da Emop. Mas naquela comunidade já existe um trabalho, coordenado pelo Escritório de Gerenciamento de Projetos (EGP) da Secretaria estadual da Casa Civil, no qual atuam assistentes sociais e engenheiros, para resolver essas questões e abrir caminho para a continuidade do PAC. “O governo estadual monitora essas situações na Rocinha e vai atuar efetivamente a partir da retomada das obras que vão complementar a primeira fase do PAC”, disse Ruth Julberg, coordenadora do trabalho social do EGP.

A assessoria da Emop informou que a licitação para a complementação da primeira fase do PAC na Rocinha será anunciada em um mês. O governo federal já assegurou recursos (R$ 49 milhões) para a conclusão das obras. Com isso, além da creche e do esgotamento sanitário ao lado da biblioteca, serão finalizados o plano inclinado - que fará a ligação do acesso principal (paralelo à autoestrada Lagoa-Barra) à Rua 1 - e a reurbanização do Largo do Boiadeiro e da Rua do Valão. As obras do PAC da Rocinha começaram há três anos e sete meses.
(…)

Por Reinaldo Azevedo 

 

PT X PT - Mercadante tem “opinião furada”, diz Tarso Genro

Bem, meus caros, há coisas nesta vida que são mesmo interessantes. Sempre que Tarso Genro e Aloizio Mercadante estiverem se desentendendo, qualquer das duas opções está correta: ou ambos estão certos, ou ambos estão errados. Não sei se entendem a sutileza do que digo. Leiam o que informa Felipe Bächtold, na Folha:
*
Uma declaração do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), a respeito do ministro da Educação, Aloizio Mercadante (PT), pode abrir uma crise entre dois expoentes do partido. Tarso disse ontem que o ministro tem uma opinião “totalmente furada” sobre o pagamento do piso nacional para os professores da rede pública. O ministério havia anunciado na segunda-feira o reajuste do piso para R$ 1.451, com correção atrelada ao aumento no valor gasto por aluno no Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica). A medida dificultou ainda mais o cumprimento da lei pelo governo Tarso. Hoje, o Estado paga R$ 791 por jornada de 40 horas ao professor sem graduação universitária.

“A opinião do Mercadante é uma opinião, do ponto de vista jurídico, totalmente furada e que não tem respaldo na realidade jurídica do país e nem nas relações federativas”, declarou Tarso em entrevista à rádio Gaúcha. O governador acrescentou: “Piso é um valor constante, atualizável pela inflação. Sou totalmente favorável ao piso do Fundeb, mas quem o instituiu deve repassar recursos a Estados e municípios para complementá-lo”, declarou.
(…)
Na mesma entrevista, ontem, o hoje governador foi questionado sobre a obrigatoriedade desse pagamento pelos Estados. “Eu responderia ao Mercadante: então me dá o dinheiro”, disse.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Num dia é o POC, no outro, é Edir Macedo

Se querem saber o que é o petismo, basta lembrar que Eleonora Menicucci, em seu discurso de posse, citou, ainda que não tenha falado na sigla, os seus colegas da organização terrorista POC (Partido Operário Comunista). Já Marcelo Crivella preferiu lembrar outro revolucionário, o próprio tio, Edir Macedo. Há aqueles que poderiam ser, e são, gratos a Sarney… E tudo isso está subordinado ao PT. Nessa toada, o partido ainda se converte num peronismo verde-amarelo. Os peronistas abrigavam de tudo: de paramilitares de extrema direita a terroristas de extrema esquerda.

Se não ainda sobre o PT, é possível afirmar sobre o lulo-petismo, sem medo de errar, que já tem apoiadores em todo o espectro ideológico. É bem verdade que muitos governistas de agora só estão nessa condição porque é o lado que paga mais. De todo modo, no dia em que não houver mais Lula, veremos as mais diversas correntes se engalfinhando para disputar a sua herança e o posto de continuadora de sua obra. De um extremo ao outro.

Por Reinaldo Azevedo

 

Rui Falcão, presidente do PT, parte para a baixaria antes mesmo de a campanha começar

Ai, aí… Rui Falcão não surpreende. Não é presidente do PT por acaso. Não sabendo ainda como reagir à decisão do tucano José Serra de disputar a eleição em São Paulo, o que estava fora do desenho petista, resolveu optar pela baixaria, por que não? Leiam o que informa Fernando Rodrigues, na Folha. Volto em seguida.
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Numa das diversas conversas mantidas entre Gilberto Kassab (PSD) e dirigentes petistas nos últimos meses, o prefeito de São Paulo fez uma confidência para o presidente nacional do PT, Rui Falcão. “Eu tive um contato com ele [Kassab] no ano passado”, diz Falcão. Na ocasião, segundo o relato do petista, Kassab declarou: “Eu acho que o Serra não vai mais ser candidato a presidente da República (…). Para a [presidente] Dilma, a melhor coisa que poderia acontecer é o Serra prefeito de São Paulo. Porque, se tiver Dilma e Aécio [Neves, do PSDB], Serra é Dilma [na disputa presidencial de 2014]“.

Falcão fez esse relato ontem, em entrevista à Folha e ao UOL. Em 2011, quando ouviu a análise de Kassab, o presidente do PT afirma ter recebido a previsão com ceticismo. “Eu brinquei. Falei: ‘Conta a do português agora’”. Ao revelar o conteúdo de sua conversa com Kassab, o presidente do PT faz uma intriga pública que já é há tempos ouvida nos bastidores da sucessão paulistana. Demonstra também que a cúpula petista tentará desqualificar politicamente o prefeito.
(…)
Falcão acha que a eleição paulistana será em parte nacionalizada, como sempre tem sido. Nesse caso, afirma que o PT gostará de debater o tema das privatizações. O petista diz haver diferenças entre a venda de empresas estatais e o modelo adotado pelo governo Dilma, de apenas fazer concessão para a iniciativa privada atuar em alguns setores. Sobre assuntos polêmicos, Falcão reafirmou que o PT tem em suas diretrizes a descriminalização do aborto, mas que esse não é um tema central para o partido defender no Congresso Nacional.
(…)

Voltei
Como a lógica é artigo raro, é claro que a fofoca vai prosperar sem que boa parte das pessoas se dê conta de que a evidência de que nada disso se sustenta é a própria existência da reportagem. Antes que demonstre isso, algumas outras considerações.

Ainda que Kassab tivesse mesmo dito aquilo a Falcão, ele o teria feito num momento em que, como ele mesmo disse, dois presidentes de partido discutiam uma eventual aliança. Teria sido uma conversa privada. Se a aliança com o PT tivesse sido bem-sucedida, é evidente que Falcão não teria dado essa declaração. Como não foi, então tenta jogar o outro na boca do sapo. Eis o PT. Faz isso até com aliados. O PMDB não está se rebelando por acaso. Mas Kassab disse? Sei lá eu! Quem conhece Serra só um pouquinho duvida que ele vocalizasse uma coisa assim à própria sombra, ainda que fosse essa a sua disposição.

Atenção para o surrealismo da coisa
O desespero para eleger Haddad é de tal sorte que qualquer arma se mostra aceitável. Ora, pensemos um pouco: se essa história fizesse sentido, caberia a Falcão, presidente do PT, guardá-la, até no melhor interesse da reeleição de Dilma, certo? Se uma das principais lideranças da oposição de São Paulo chega mesmo a cogitar a hipótese de votar em Dilma contra Aécio, por que botar a boca no trombone agora?

É assim, então, que Falcão trata um suposto “futuro aliado”? Tenham paciência! Falcão está apenas atuando para gerar confusão no PSDB, apelando à revelação de uma suposta conversa com Kassab. Ainda que o outro negue que tenha dito aquilo e que Serra negue que tenha feito a confidência, sempre sobra a suspeita.

Essa indignidade de Falcão demonstra que o PT fará qualquer coisa para tentar eleger Haddad. Se a conversa realmente aconteceu, revelá-la agora, quando a aliança entre PT e PSD se frustrou, é uma canalhice; se não aconteceu, também.

Aliás, a lhaneza com que o PT, historicamente, trata Serra é um bom indicador da possibilidade dessa aproximação. Essa entrevista de Falcão, aliás, é uma evidência disso. O que ele pretende é, isto sim, caracterizar Serra como um futuro traidor para lhe criar dificuldades nas prévias. E o pior é que vai ter tucano se comportando como pato. Querem apostar?

Por Reinaldo Azevedo

 

Ex-assessor de Dirceu é condenado a 12 anos de prisão

Por Alfredo Junqueira, no Estadão:
Pivô do primeiro escândalo de corrupção do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-suchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência da República e ex-presidente da Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj), Waldomiro Diniz, foi condenado a doze anos de prisão por corrupção passiva e crimes contra a Lei de Licitação. A sentença da juíza Maria Tereza Donatti, da 29ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, foi proferida na última segunda-feira. Ele também foi condenado a pagar multa de R$ 170 mil.

Homem de confiança do então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, Waldomiro foi demitido em 2004, depois que foi divulgado um vídeo em que ele aparece cobrando propina do empresário de jogo e contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. As imagens foram gravadas em 2002. O então presidente da Loterj pedia dinheiro a Cachoeira para campanhas eleitorais do PT e do PSB naquele ano. O contraventor, que foi preso ontem pela Polícia Federal em operação de combate à exploração de máquinas caça-níqueis, também foi condenado na 29ª Vara Criminal. Vai pegar oito anos por corrupção ativa e fraude em licitação.

Na conversa filmada, Waldomiro e Cachoeira negociavam uma fraude numa licitação para a contratação de serviços de implantação, gerenciamento e operação do sistema de loterias do Estado do Rio - segundo o Ministério Público do Rio. De acordo com a acusação, em troca de uma propina de R$ 1,7 milhão - que representava 1% do valor do contrato entre a Loterj e a empresa de Cachoeira -, Waldomiro aceitou elaborar edital para favorecer os interesses do contraventor.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Da coluna Direto ao Ponto, de Augusto Nunes:

Num post antológico, Celso Arnaldo lembra as origens do dilmês e desmonta o pior discurso de todos os tempos

MINHA CASA, MINHA DILMA: NAS MORADIAS DE PAPEL CONSTRUÍDAS PELA SUPERGERENTE, NENHUMA IDEIA FICA DE PÉ

Celso Arnaldo Araújo

Trazida à superexposição de uma improvável candidatura a presidente, sem escalas, direto dos subterrâneos da Casa Civil, onde a supergerente de lendária eficiência comunicava-se apenas por interjeições, imprecações e pitos sumários, ela acusou o choque quando pisou o primeiro palanque e enfrentou o primeiro microfone.

Convidada a revelar aos brasileiros sua visão dos problemas nacionais, o espanto que se ouviu, na fala de Dilma Roussef, está fartamente documentado nos arquivos desta coluna. Fosse num palanque improvisado no sertão do Piauí ou no estúdio high-tech do Jornal Nacional no Jardim Botânico, a candidata de Lula se expressava em língua estranha, espécie de patois brasileiro, incomum em pessoa de formação universitária, investida de funções dessa importância e apresentada ao país como a primeira possibilidade de uma presidente mulher.

Começando pela dificuldade extrema em fazer uma mera saudação aos presentes ou aos ouvintes (“Oi, internautas), qualquer manifestação sua, sobre qualquer assunto, dos estritamente pessoais aos temas técnicos de apregoado domínio, esbarrava em raciocínios embotados por graves problemas de concatenação de ideias, redundância e desinformação, conseguindo reunir na mesma oração um tratado de vícios de linguagem: barbarismos, ambiguidades, cacofonias, vulgarismos, solecismos, obscuridades, apedeutismos. O dilmês causou um susto nos brasileiros que ouvem e pensam – só nesses, é claro.

Não pela oratória em si. Há pessoas preparadíssimas que não se expressam bem – preferíveis, por sinal, às que dão um show de palavreado para camuflar a falta de conteúdo. Mas o problema de Dilma parecia mais complexo. A forma primitiva da fala da candidata traía – o que era evidente, pela repetição sistemática – o primarismo do pensamento e um despreparo generalizado. Dilma não apenas falava mal – mas parecia não saber do que falava.

Eleita presidente assim mesmo, e no cargo há mais de um ano, já deveria a esta altura ter se beneficiado de um dos apanágios do cérebro humano: o aprimoramento pela repetição. Dilma, no entanto, piora a cada dia – e a desarticulação de seu governo talvez seja produto de sua incapacidade de pensar e verbalizar o Brasil. Quando fala, Dilma invariavelmente é um triste espetáculo de pensamentos rudimentares, expressos por uma combinação de palavras que desafiaria estudiosos da neurolinguística em aborígenes australianos.

Mas o discurso que fez semana passada, por ocasião da entrega de 480 unidades do Minha Casa Minha Vida em Recife, é de longe o “state of the art” do dilmês, talvez o pior discurso de todos os tempos – dela e em escala mundial, em nível presidencial.  Saísse de Obama, Santorum já poderia preparar seu altarzinho na Sala Oval da Casa Branca. De Sarkozy, e Dominique Strauss-Khan estaria autorizado a ir ao Palácio do Eliseu e ali montar uma suíte pare receber a camareira guineana como sua primeira-dama.

‘EU QUERIA CUMEÇÁ COMPRIMENTANDO’
O assunto do dia: a casa própria. Ou própia, segundo Dilma. O Minha Casa Minha vida é uma das meninas dos olhos vesgos de seu governo e, desde a campanha, um terreno minado para os limites do dilmês. Ela não vai sossegar enquanto não conseguir convencer todo brasileiro de que é melhor morar numa casa própria do que debaixo da ponte e que uma casa é mais do que uma casa. De discursos de campanha, guardei este trecho:

– Porque não é a casa. É o que tem dentro da casa, são as pessoas, né, o significado pra você duquequié tê uma casa e eu acho que é isso que faz com que a gente tem força prá continuá brigano, prá continuá, é, fazendo acontecê aquilo que a gente qué, que é que esse país cresça. É isso que eu acho que a gente qué.

Desde então, ela vem trabalhando o conceito. Em Recife, chegou perto da perfeição, já a partir do introito em legítimo dilmês:

“Eu queria cumeçá (sic) comprimentando (sic) as mulheres aqui presentes”.

Como se nota, promessa de um discurso UÓ.

Mas a média troncha feita com as mulheres merece complemento:

“Eu comprimento também nossos companheiros, queridos, nossos companheiros homens”.

Sente necessidade de explicar porque a mulher foi “comprimentada” primeiro:

“Estou cumeçando pela mulher porque aqui hoje nós tamos falando de casa. Quando a gente fala de casa, a gente fala de mulher e de criança, de família. Por isso, o meu abraço a cada uma das mães e também dos nossos pais aqui presentes”.

A imprensa comeu mosca: Peter Roussev estava na plateia e não foi notado.

Em seguida, bela puxada no governador Eduardo Campos e no prefeito de Recife e uma definição estapafúrdia sobre a palavra oportunidade – mas releve. Nosso assunto é a casa própria e agora ela se refere a uma das moradoras que haviam há pouco recebido a chave.

“A Márcia fala aquilo que toda a mulher fala quando se trata de defendê sua família”.

Eleitoras de Dilma são assim: quem fala é toda a mulher, a mulher inteira, corpo e alma integrados.

Mas fala o quê? Vejamos:

“O quequié que uma mulher qué? A mulher qué uma casa para morar e criar seus filhos, criá com sigurança seus filhos”,

Não é à toa que o lulismo descobriu o Brasil. Só neste governo “além do emprego, que é fundamental pra se mantê as famílias (…), a outra coisa fundamental é a casa própia (sic)”. Não ficou claro? Dilma explica:

“É onde morar”.

Mas isso parece tão óbvio. Porque ninguém pensou em casa própria antes, presidente? O Brasil era um país de aluguel?

“Naquela época, falar no Brasil que a gente ia fazer um programa da casa própia (sic) para a população brasileira era um verdadeiro escândalo. Primeiro, uma parte dizia que era impossível, que a gente não ia fazer. A outra parte dizia que não ia dar certo”.

‘O GOVERNO TEM DE PARTICIPA’
Ou seja: as duas partes diziam a mesma coisa. Por isso, os 22 anos de atuação do Banco Nacional da Habitação e os 25 anos seguintes em que a Caixa Econômica Federal financiou imóveis populares foram despejados da história pelos senhorios do Minha Casa Minha Vida. Um escândalo.

O que mudou com o MCMV? Dilma explica, tão clara como cristal:

“O quequié que a nossa sensibilidade política determinou? Que era para que o povo pudesse ter casa, o governo tinha de ajudá. Um simples raciocínio: é impossível, com o preço das casas, o pessoal comprá casa sozinho. Então, o governo tem de participá”.

Como ninguém pensou nisso antes? E mudou também a mecânica de financiamento, presidente? Bidu.

“É o governo passando dinheiro não para quem constrói a casa, mas para quem compra a casa. O dinheiro sai da Caixa Econômica e vai direto pra aquele que compra a casa”.

Quer dizer que os felizardos do Minha Casa Minha Vida ficam com a casa e levam também um bônus equivalente em dinheiro? É isso? Não é à toa que , como disse Dilma no histórico discurso do Recife, “iniciamos com um milhão de moradias, passamos pra dois milhões de moradias e necessariamente passaremos pra mais moradias”.

Nunca se gastou tanto papel ofício em Brasília.

PIORES MOMENTOS DO ÚLTIMO CAPÍTULO
Mas não é só. Não perca, a seguir, em “Minha Casa, Minha Dilma II, a missão”:

*A política do “se virem”, segundo Dilma: “Aquela política que entrega pro povo o problema que ele não pode resolvê”

*A cidade é uma coisa fundamental: ”Nós não podemos abandonar, não podemos deixá as nossas cidades degringolarem, que aonde a gente more não tenha aquele cuidado que a gente coloca na casa da gente”

*Dúvida cruel da presidente: “Cumé que sai de casa e vai trabalhá, cumé que sai de casa e vai passeá?”

*A frase do século: “O Brasil não pode pará”.

 

02/03/2012 às 17:22 \ Direto ao Ponto

Com a nomeação de um ministro que não sabe colocar minhoca em anzol, pode até faltar pescado na Semana Santa

A apuração dos votos nem havia terminado quando a presidente eleita prometeu amparar-se em critérios técnicos para a montagem do primeiro escalão. Esqueceu a promessa no minuto seguinte e, monitorada por Lula, escalou o time de olho em conveniências políticas. Para fazer a vontade do padrinho, Dilma Rousseff manteve nos cargos perfeitas cavalgaduras e delinquentes irrecuperáveis. Para cumprir o estabelecido nos  contratos com a base alugada, nomeou ineptos de carteirinha indicados por partidos que não passam de quadrilhas com imunidade parlamentar. Conseguiu formar o mais bisonho primeiro escalão de todos os tempos.

E não perde nenhuma chance de piorá-lo, informa a chegada de Marcelo Crivella ao Ministério da Pesca, tema do comentário de 1 minuto para o site de VEJA. “Não sei nem colocar uma minhoca no anzol”, confessou nesta quinta-feira o senador fluminense. Nem precisa aprender. Ele foi convocado por Dilma para fisgar votos de evangélicos desavisados, não para cuidar de pesca e aquicultura. Para isso existe a equipe recrutada pelos antecessores Ideli Salvatti e Luiz Sérgio, que também ignoram a diferença entre um robalo e um caranguejo.

A geração de jornalistas a que pertenço demorou algumas décadas para banir das primeiras páginas a informação reprisada uma vez por ano: NÃO FALTARÁ PESCADO NA SEMANA SANTA, avisava o título óbvio. Graças à mais recente escolha de Dilma, o que era um fato tão previsível quanto a mudança das estações pode acabar ressuscitado nas próximas semanas santas com o status de ótima notícia. Depois da escolha do novo ministro, a existência de equilíbrio entre a demanda e a oferta de pescado talvez mereça ser anunciada em manchete.

Nesse caso, o ministro da Educação, Aloízio Mercadante, terá de alterar com a introdução de um advérbio a frase mais famosa do livro didático que ensina que falar errado está certo. Com Crivella reinando sobre a fauna que habita os rios e os mares do Brasil, nós não pega os peixe.

 

01/03/2012 às 21:44 \ Direto ao Ponto

O Ministério da Pesca e Aquicultura representa, em proporções bíblicas, o milagre da subtração do lulismo

 CELSO ARNALDO ARAÚJO

Criada em 2003 como secretaria especial para “formulação de políticas e diretrizes para o desenvolvimento e fomento da produção pesqueira e aquícola”, nos sete primeiros anos a pasta esteve posta em marasmo ao nível dos lambaris, sob os cuidados de dois burocratas semi-invisíveis, José Freitsch e Altemir Gregolin, até receber de Lula, em 2009, o caniço, o samburá e a rede de arrastão dos ministérios “aparelhados” ─ instituídos exclusivamente para conchavos partidários, negociatas diversas e acomodação da vagabundagem companheira.

Ideli Salvatti, a primeira “ministra” dessa nova fase, tinha a seu dispor uma equipe de 67 funcionários ─ cuja importância, no conjunto da obra, pode ser medida por um exercício de hipótese: será que o extermínio sumário desse ministério de águas turvas afetaria o destino de uma única tilápia ou do mais carente dos caiçaras? Examine-se o quadro da pesca do Brasil antes e depois da farsa.

O sucessor de Ideli no falso ministério foi um sabujo chamado Luiz Sérgio Nóbrega de Oliveira, cuja mediocridade adaptou-se bem à insignificância funcional da pasta ─ leitor diário e inveterado dos principais jornais e portais do país, incluindo os obituários, não me recordo de ter lido qualquer menção a ele ou à “Aquicultura” brasileira nos oito meses em que essa sumidade teve status de ministro. Dizem ter sido demitido em férias, como é próprio dos sabujos, sem quê nem porquê.

O Ministério da Pesca e da Aquicultura agora pertence ao “bispo” senador ou senador “bispo” Marcelo Crivella ─ não importa a ordem, um termo desmerece o outro. Ingenuamente, analistas de bom calibre questionaram que a pasta tenha sido entregue a quem provavelmente só conhece peixe da travessa de bacalhau do Antiquarius. Menos mal, não apelaram para a passagem bíblica da multiplicação dos peixes a justificar a unção de Crivella como ministro ─ os “bispos” da Universal só conhecem e citam as passagens do Livro Sagrado que embasam ou estimulam, mesmo alegoricamente, o assalto pecuniário à fé dos fiéis.

Digo ingenuamente, para não dizer cinicamente, porque a última coisa que Dilma espera de seu novo ministro da Pesca é que entenda de pesca ─ como não entendiam Ideli e Luiz Sérgio. Este ficou no cargo durante o breve interregno em que caía um ministro ladrão atrás do outro ─ o material de manobra então era melhor e mais nobre para a gatunagem. Agora que a reforma que nunca começou foi encerrada, o Ministério da Pesca voltou a ser a única reserva técnica para os conchavos. A pasta foi criada não para entendidos em piscicultura, mas para experts na pior e mais indecente forma de fazer política que caracteriza até aqui os nove anos de lulismo.

No caso específico de Crivella, o Ministério serve de isca podre para as eleições municipais paulistanas, coisa de peixe graúdo, e para tapear os ferozes e insaciáveis barracudas da bancada evangélica ─ que reúne as figuras mais diabólicas do jogo político contemporâneo.

Mesmo sendo uma excrescência, o uso permanente do Ministério da Pesca e Aquicultura pela presidente Dilma como peão de sacrifício no xadrez imundo do tabuleiro da base aliada é uma ofensa às criaturas marinhas ─ e a todos que não respiram bem nesse mar de lama.

 

01/03/2012 às 19:16 \ Direto ao Ponto

Waldomiro Diniz e José Dirceu merecem voltar a conviver num pátio de presídio

Depois de Marcos Valério, condenado em 14 de fevereiro a 9 anos de prisão, chegou a vez de Waldomiro Diniz. Nesta quinta-feira, a juíza Maria Tereza Donatti, da 20ª Vara Criminal do Rio de Janeiro,sentenciou a 12 anos de cadeia o protagonista do escândalo que abriu o festival de horrores da Era Lula. É esse o título do post publicado na seção O País quer Saber em 30 de abril de 2009, exatamente sete dias depois do nascimento da coluna. Reproduzido agora na seção Vale Reprise, o texto é um retrato 3×4 do crápula que José Dirceu presenteou com um empregão na Casa Civil.

Waldomiro e Dirceu nasceram um para o outro, atesta a convivência mais que fraternal dos amigos que dividiram um apartamento em Brasília antes de se tornarem vizinhos de sala no 4° andar do Palácio do Planalto. Se a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal mirar-se no exemplo dos juízes que castigaram Marcos Valério e Waldomiro Diniz, e cumprir seu dever no julgamento dos mensaleiros, Dirceu poderá reencontrar o amigo num mesmo presídio. Nos banhos de sol no pátio, a dupla terá tempo de sobra para recordar os bons tempos em que o Brasil foi reduzido a um viveiro de criminosos impunes.

(por Augusto Nunes).

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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