Lula confirma que portadores da síndrome de Deus são muito parecidos com um Napoleão de hospício

Publicado em 11/06/2012 08:22 e atualizado em 30/08/2013 10:15
da coluna Direto ao Ponto, no blog de Augusto Nunes, (em veja.com.br)

Direto ao Ponto

A arrogância do chefe da seita e a docilidade do rebanho reafirmam que a mais notável diferença entre um Napoleão de hospício e um líder político portador da síndrome de Deus está na reação das testemunhas confrontadas com surtos de grosso calibre: enquanto os enfermeiros providenciam a camisa-de-força e um sossega-leão, os devotos batem palmas e berram amém. A história informa que foi sempre assim. Assim tem sido com Lula e seus seguidores.

Depois da vitória de Dilma Rousseff em 2010, o maior dos governantes desde Tomé de Souza botou na cabeça que é mesmo onipresente, onisciente e onipotente. Quem transforma um neurônio solitário em presidente do Brasil pode fazer o que quiser, deduziu o mestre e concordaram os discípulos. Poderia, por exemplo, tornar-se o primeiro secretário-geral da ONU que não sabe falar sequer a língua do país onde nasceu. Ou ganhar o Prêmio Nobel da Paz com o apoio militante dos aiatolás atômicos e dos genocidas africanos.

Mas primeiro deveria livrar São Paulo do jugo dos tucanos, decidiu o intuitivo incomparável ao deixar a Presidência. Para pavimentar o caminho que levaria Antonio Palocci ao Palácio dos Bandeirantes, ordenou à sucessora que garantisse ao estuprador de sigilo bancário uma escala na Casa Civil. O plano infalível não durou seis meses. A descoberta do milagre da multiplicação do patrimônio escancarou as patifarias do consultor de araque, o reincidente acabou despejado do Planalto e hoje usa o direito de ir e vir para driblar camburões na planície.

O fiasco aconselhou o articulador genial a esquecer por uns tempos o governo paulista, mas não lhe reduziu a autoconfiança, nem a ansiedade pela anexação do território paulista aos seus domínios. Convencido de que quem elegeu um poste de terninho nem precisa suar em palanques para eleger um poste com topete, comunicou ao PT que o prefeito de São Paulo seria Fernando Haddad. Ele cuidaria pessoalmente de domar os recalcitrantes, silenciar os descontentes, alegrar os amuados, renovar o contrato com a base alugada e, de quebra, consolidar uma surpreendente parceria com o PSDB de Gilberto Kassab.

Deu tudo errado. Prematuramente aposentada pelo dono do partido, Marta Suplicy continua fora da campanha de Haddad. O PMDB lançou a candidatura de Gabriel Chalita. O PR e o PP avisaram que o acerto nacional não se estende aos municípios e se juntaram à coligação liderada pelo PSDB de José Serra. Kassab fechou exemplarmente a procissão de adversidades. Antes de reatar o noivado com Serra, apareceu numa festa do PT como convidado de honra e caprichou na piscadela para Dilma Rousseff. O SuperMacunaíma que passa a perna em todo mundo foi ostensivamente tapeado por Gilberto Kassab.

Lula achou que decidiria a disputa em São Paulo com meia dúzia de comícios. Neste junho, enquanto tenta submeter os interesses do PT à vontade do governador pernambucano Eduardo Campos, para celebrar um acordo com o PSB que amplie o espaço de Haddad no horário eleitoral, o campeão das urnas anda pedindo votos para o afilhado até em festa de batizado. Mergulhados na mudez dos nascidos para obedecer, os devotos contabilizam sem queixas os estragos causados por outros dois surtos do homem que mesmo depois do câncer insiste em confundir-se com Deus.

Um deles resultou na primeira CPI da história parida pelo próprio governo. Concebida para decretar a morte política de inimigos goianos, a CPI da Vingança também atrairia atenções até então monopolizadas pelo julgamento dos mensaleiros. Mais um fiasco. Sem a CPI do Cachoeira, Demóstenes Torres e Marconi Perillo dificilmente sobreviveriam às bandalheiras reveladas pela Polícia Federal. Graças ao que se transformou na CPI da Delta, ambos deverão afundar abraçados a Sérgio Cabral, Agnelo Queiroz, Fernando Cavendish e ao resto do bando enlaçado pelo polvo administrado por Fernando Cavendish. O segundo surto fez Lula acreditar que quem nomeia oito ministros vira presidente de honra do Supremo Tribunal Federal, com direito a antecipar ou adiar julgamentos e, em casos de alta periculosidade, fixar o resultado da votação.

Para não atrapalhar a campanha do PT, entendeu que o julgamento do mensalão deveria ocorrer só em 2013. Ordenou ao revisor Ricardo Lewandowski que retardasse a conclusão do relatório. Ordenou a Dias Toffoli que ignorasse os muitos motivos para declarar-se sob suspeição e votasse a favor dos culpados. Já começava a comemorar o sucesso da sequência de achaques quando o país ficou sabendo do que houve no desastroso encontro com Gilmar Mendes. Graças ao lobista trapalhão, o STF recuperou a agilidade. Lewandowski foi informado de que precisa terminar o serviço ainda neste mês. O julgamento vai começar em 1° de agosto. Até o fim de setembro, uma cadeia nacional de rádio e TV transmitirá ao vivo esse Big Brother Brasil da Bandidagem. Lula merecia ser convidado para apresentá-lo.

Em 2010, colérico com as críticas formuladas por Fernando Henrique Cardoso, o cacique incapaz de aceitar o convívio dos contrários avisou que, assim que deixasse o cargo, ensinaria ao antecessor como deve comportar-se um ex-presidente da República. De lá para cá, FHC manteve a postura digna de sempre. Lula está cada vez mais parecido com José Sarney e Fernando Collor.

 

08/06/2012 às 23:03 \ Direto ao Ponto

Diário da Dilma: anotações de maio

O “Diário da Dilma”, publicado na edição de junho da revista Piauí e reproduzido pela seção Feira Livre, revela o que andou pela cabeça da presidente entre os dias 1° e 26 de maio. Divirta-se.

 

08/06/2012 às 16:25 \ Direto ao Ponto

Flavio Morgenstern: ‘O novo furo (furado) da Carta Capital’

Em outro texto brilhante, Flavio Morgenstern implode mais uma farsa da imprensa dependente. Confira na seção Feira Livre.

 

07/06/2012 às 0:17 \ Direto ao Ponto

Inquieta com a crise, Dilma culpa essa gente que transforma marolinha em tsunami e antecipa o julgamento dos mensaleiros

“Quem aposta na crise, como alguns apostaram há quatro anos atrás (sic), vai perder de novo”, esbravejou Dilma Rousseff na segunda-feira, ressuscitando o misterioso inimigo interno denunciado por Lula do primeiro ao último dia de governo. Como o tsunami teima em ignorar a ordem do governo para virar marolinha, a afilhada resolveu botar a culpa na mesma assombração que atazanava o padrinho em dezembro de 2008. “Tem gente que vai deitar rezando: ‘Tomara que essa crise pegue o Brasil pra esse Lula se lascar’”, indignou-se no comício de todo santo dia o maior dos governantes desde Tomé de Souza.

Em outro post irretocável, meu amigo e vizinho Reinaldo Azevedo fez a recomendação avalizada por qualquer brasileiro sensato: “A presidente poderia renunciar a esta péssima herança deixada por Lula: atribuir dificuldades objetivas enfrentadas pelo governo a uma espécie de urucubaca ou de macumba feita pelos ‘inimigos’”, escreveu Reinaldo. “Quem são ‘eles’, soberana? Quem, afinal, ‘aposta na crise’ ou, sei lá, torce contra o Brasil?’” Quem faz parte do que Lula continua chamando de “essa gente”?, acrescento.

Fora Lula e Dilma, ninguém sabe. O que se pode inferir da discurseira da dupla é que se trata de uma gente muito rancorosa. Desde o dia da posse, repetiu Lula durante oito anos, essa gente sonhou com o fracasso do migrante nordestino que ocultava o estadista incomparável (e o futuro doutor honoris causa). Essa gente ficou especialmente assanhada a partir de 2007, quando passou a torcer para que a crise nascida e criada em território ianque engolisse o torneiro-mecânico enviado pela Divina Providência para inventar o Brasil Maravilha.

Tudo bem que essa gente exibisse olheiras de galã de cabaré por sonhar acordada com o fiasco daquele que se mostrou mais esperto que Getúlio Vargas, mais sedutor que JK, melhor que todos os antecessores desde a chegada das caravelas, incluídos três governadores-gerais, um príncipe regente e dois imperadores. O intolerável é descobrir que essa gente transferiu para a criatura o ódio ao criador e agora torce para que a crise afogue Dilma Rousseff. Isso é coisa de traidor da pátria, inimigo da nação, quinta-coluna de quinta categoria.

Quem topa até morrer afogado desde que o timoneiro também afunde com o barco não merece o anonimato concedido por Lula e endossado por Dilma. Quem é essa gente?, querem saber milhões de brasileiros. Só os detentores do segredo sabem o nome completo, a data e o local do nascimento, além do estado civil de cada um dos sócios desse abominável clube do contra.

Essa gente certamente não inclui os banqueiros, todos felizes com os lucros obtidos ou por obter. Tampouco os industriais, principalmente os que lucram no setor automobilístico, cada vez mais animados com o pronto-socorro financeiro que o Planalto mantém aberto 365 dias por ano. Muito menos os comerciantes, eufóricos com os sucessivos pedidos do governo para que a freguesia gaste o que não tem. Também estão fora de suspeita os agricultores, que logo estarão exportando alimentos para o planeta inteiro.

Os miseráveis ainda à espera de vaga nas divisões superiores só precisam ter paciência. Os pobres promovidos a integrantes da nova classe média acham que, se melhorar, estraga. A velha classe média nem quer ouvir falar em crise: morre de medo do desemprego, da inflação, da erosão do poder de compra, sobretudo da suspensão das viagens anuais a Buenos Aires. Os reacionários golpistas e os grã-finos paulistas estão muito preocupados em salvar o que têm para perder tempo em conspirações.

Sobram os eternos pessimistas que ainda dão as caras nas pesquisas de opinião. É preciso saber quem são esses 3% ou 45% de maus brasileiros. Parece pouca gente, mas seu poder é muito. Com a indispensável contribuição de governantes ineptos, falastrões, atarantados e tão arrogantes quanto medíocres, essa gente consegue até transformar marolinha em tsunami. E acaba de conseguir a antecipação do pesadelo que Lula tentou empurrar para 2013: o julgamento do mensalão vai começar em 1° de agosto.

Os donos do poder farão a travessia da temporada eleitoral lidando simultaneamente com a crise econômica, o BBB dos mensaleiros e a CPI do Cachoeira e da Delta. O cenário inquietante atesta que Lula e Dilma têm razão: essa gente é um perigo.

 

06/06/2012 às 20:53 \ Direto ao Ponto

JUIZ DOS JUÍZES: está pronta a fantasia que Lula vai usar no Carnaval de 2013

Criação de Luiz Roberto, em parceria com o timaço de comentaristas.

Ilustração: Luiz Roberto

 

06/06/2012 às 15:24 \ Direto ao Ponto

Haja cinismo

Aflito com o naufrágio da negociata que repassaria o controle da Delta ao grupo J&F, Fernando Cavendish divulgou uma nota para comunicar ao país que a empresa tem sido vítima de bullying.

Em qualquer país sério, como registrei no comentário de 1 minuto para o site de VEJA, o empreiteiro favorito da turma do PAC e do bando suprapartidário de governadores espertos já estaria há muito tempo se queixando da qualidade da comida da cadeia.

No viveiro de corruptos impunes, o marmanjo cinquentão que coleciona negociatas desde o início da Era Lula resolveu comparar-se àquele menino gordinho atormentado por colegas perversos à saída das aulas.

Haja cinismo.

 

05/06/2012 às 18:25 \ Direto ao Ponto

O vídeo de 6 minutos mostra como vive o taxista que saiu da pobreza para entrar na classe média sem deixar de ser pobre

Gravada em 2009, a entrevista com o motorista de táxi Rogério Alvesvoltou à seção História em Imagens para desmontar a velha farsa agora reprisada por Wellington Moreira Franco. Como tem ocorrido desde 2007, o ministro do Nada recorreu a uma vigarice estatística para operar o milagre da multiplicação da classe média. Em seis minutos, Rogério desmoraliza a invencionice contando como vive um brasileiro que deixou a pobreza sem deixar de ser pobre. Confira.

 

05/06/2012 às 16:43 \ Direto ao Ponto

O acordo com o PR mostra que, para o PSDB paulista, a honra agora vale menos que 1 minuto e meio no horário eleitoral

O jornalista Carlos Brickmann escreveu em sua coluna a nota que se segue. Volto no fim.

COMPANHEIRO É COMPANHEIRO
Daqui a pouco vai fazer um ano: o PSDB e o DEM pediram à Procuradoria-Geral da República que investigasse denúncias de corrupção no Ministério dos Transportes, controlado pelo PR. Há a citação de alguns nomes, entre eles o deputado federal Valdemar Costa Neto e o então ministro Alfredo Nascimento.

Exatamente onze meses depois, o ex-ministro Alfredo Nascimento, em nome do PR, levou o apoio do partido a José Serra, candidato do PSDB e DEM (e vários outros partidos) à Prefeitura de São Paulo. O acordo foi articulado pelo comandante supremo e incontestável do PR em São Paulo, Valdemar Costa Neto.

O caro leitor não entendeu nada? Ainda bem.

Parafraseando Bismarck, o unificador da Alemanha, “quanto menos soubermos como são feitas a política e as salsichas, melhor dormiremos à noite”.

A coisa é um pouco pior. O PR é mais que uma quadrilha expulsa do Ministério dos Transportes graças às denúncias da imprensa independente. É o atual codinome do bando que, disfarçado de PL, ajudou a fundar o mensalão em meados de 2002, num encontro no apartamento do deputado petista Paulo Rocha em Brasília. A sigla já sob o controle de Waldemar Costa Neto foi representada pelo senador José Alencar. Em nome do PT, compareceram Lula, José Dirceu e Delúbio Soares. O contratato de aluguel estabeleceu que o PL receberia R$4,8 milhões para apoiar a dobradinha Lula-Alencar no duelo com o tucano José Serra.

Agora candidato à prefeitura paulistana, Serra entendeu que, por 1 minuto e meio a mais no horário eleitoral gratuito, valeria a pena considerar prescrito o acordo criminoso celebrado há dez anos ─ e fazer de conta que o PR não foi varrido do primeiro escalão por assalto aos cofres públicos. “Estou fazendo uma aliança com o partido, não com pessoas”, desconversou. Como se fosse possível juntar-se ao PT e manter distância de Lula. Como se fosse possível uma aliança com o Comando Vermelho sem o aval de Fernandinho Beira-Mar.

Em troca de 1 minuto e meio na TV, o PSDB vai andar de mãos dadas com o senador Alfredo Nascimento, despejado do Ministério dos Transportes por corrupção, fingir que o deputado Tiririca é intelectual desde bebê e, pior, amancebar-se com Valdemar Costa Neto, vulgo Boy. Hoje deputado federal e secretário-geral do PR, Boy é um prontuário ambulante de alta periculosidade.

Foi ele quem teve a ideia de chamar a modelo Lilian Ramos para fazer companhia ao então presidente Itamar Franco no camarote na Sapucaí. A bela jovem sem calcinha virou primeira-dama por uma noite. Um dos fundadores do mensalão, Boy tornou-se em 2005 o primeiro parlamentar a renunciar ao mandato para escapar da cassação inevitável. Recuperou o gabinete na Câmara na eleição seguinte e nunca perdeu o acesso direto aos cofres do Ministério dos Transportes.

Em julho de 2011, quando foi descoberta a mais recente safra de escândalos, achou prudente afastar-se das cenas do crime espalhadas por Brasília. Terá tempo e espaço de sobra para agir em São Paulo. Os 90 segundos na TV vão garantir-lhe o direito de infiltrar comparsas na prefeitura da capital e e no governo estadual. Geraldo Alckmin também prometeu apoio aos candidatos do PR na região de Mogi das Cruzes, berço e bunker do notório vigarista.

“Se for proibido fazer coligações com partidos que têm pessoas que estão no processo, o PT não poderia nem disputar a eleição, porque foi ele quem coordenou e comandou a organização desse chamado mensalão”, tentou sair da areia movediça José Serra. Afundou mais um centímetro ao ressaltar as semelhanças entre o PSDB e o PT num momento que recomenda aos berros que aprofunde as diferenças entre um partido e uma organização fora-da-lei.

Afundou mais dois centímetros ao referir-se à maior roubalheira da história republicano como “esse chamado mensalão”. Como o julgamento da quadrilha chefiada por José Dirceu deverá começar em agosto, a dois meses da eleição, é possível que Serra esteja ensaiando a retificação do discurso de campanha. Costa estará no banco dos réus, e não convém melindrar um parceiro de palanque. Por 1 minuto e meio no horário eleitoral,  os tucanos paulistas se proibiram de transformar em trunfo político o mais vistoso desfile de larápios já transmitido ao vivo pela TV.

O acordo com o PR escancara, mais uma vez, o abismo que separa a oposição oficial da oposição real, formada por brasileiros que respeitam a lei, os valores morais e as normas éticas, não cedem à tentação de justificar o injustificável, não fazem concessões ao farisaísmo, à hipocrisia e à pouca vergonha, não aceitam a tese de que, em política, só é feio perder a eleição. A oposição oficial teima em ignorar que a oposição real não tem bandidos de estimação. O eleitorado  honesto está farto de votar ´por exclusão e escolher o mal menor.

O país que presta insiste em ver as coisas como as coisas são. E o que vê informa que, para o PSDB paulista, a honra agora vale menos que 90 segundos na TV.

 

05/06/2012 às 10:09 \ Direto ao Ponto

Os milagreiros que prometeram ao sertão as águas do São Francisco só apressaram a transposição da seca para as cidades

Em março de 2004, no comício de lançamento da campanha Cresce, Nordeste, o presidente Lula prometeu inaugurar em meados de 2006 a transposição das águas do Rio São Francisco. “Muitas vezes a coisa pública foi tratada no Brasil como se fosse uma coisa de amigos, um clube de amigos, e não uma coisa pública de verdade”, desandou na discurseira o enviado pela Divina Providência para materializar o sonho de D. Pedro II e acabar com a seca nos sertões.

Em dezembro de 2010, depois de incontáveis adiamentos, o maior dos governantes desde Tomé de Souza jurou que as obras só não ficariam prontas em 2012 se ocorresse uma reedição do dilúvio. A chuvarada bíblica que não veio decerto teria produzido menos estragos que a ação conjunta de governantes ineptos, empreiteiros insaciáveis e intermediários corruptos. Na imagem de Nelson Rodrigues, a imensa constelação de canteiros abandonados tem a aridez de três desertos.

Em fevereiro de 2012, a presidente Dilma Rousseff informou que a inauguração prometida para este ano terá de esperar mais dois. Em 2014, pedirá mais paciência aos brasileiros e empurrará para o fim da década, ou do século, o colossal embuste que vem devorando bilhões de reais desde 2003. Mas o comício não pode parar. “Essa obra vai garantir água para todo o Nordeste”, recitou durante oito anos o candidato a D. Pedro III. “A seca vai acabar”, declama Dilma há 18 meses.

O cinismo dos pais-da-pátria só não é maior que a estupidez das plateias que continuam aplaudindo promessas que não descerão do palanque, registrou a coluna em fevereiro. Nesta segunda-feira, a grande tapeação foi escancarada pela manchete na primeira página da Folha de S. Paulo:NORDESTE SOFRE COM FALTA DE ÁGUA EM ÁREA URBANA.

Como comprova a reportagem de Júlia Rodrigues na seção O País quer Saber, quase todas as prefeituras da região da seca já se renderam ao racionamento. A chuva ainda vai demorar. A sobrevivência de milhões de brasileiros depende de uma frota de caminhões-pipa.

“O sertão vai virar mar”, garantiu Lula em 2005. Passados sete anos, as cidades vão virando sertão.

(reportagem de JÚLIA RODRIGUES:

 

A seca chegou às cidades. As águas do São Francisco continuam distantes do sertão
 
No ano em que deveriam estar festejando a conclusão das obras de transposição do Rio São Francisco, os brasileiros constataram que o flagelo da seca, historicamente restrito aos sertões, já não poupa sequer as cidades. Nesta segunda-feira, a manchete da Folha de S. Paulo resumiu em nove palavras a extensão do drama: “Nordeste sofre com falta de água em área urbana”.
 
Segundo a reportagem, entre janeiro e maio o governo desembolsou R$103 milhões com a frota de caminhões-pipa mobilizada para abastecer cerca de 2,8 milhões vítimas da estiagem. Nos primeiros cinco meses de 2012, o Ministério da Integração Nacional já gastou mais da metade dos R$ 180 milhões investidos em 2011. Se não chover até outubro, as despesas com a distribuição de água passarão de R$ 130 milhões.
 
O racionamento de água castiga moradores de 158 cidades nordestinas. Em Pernambuco, 20% dos reservatórios entraram em colapso. Em Lajedo, a 196km do Recife, a população suporta 20 dias sem água antes do período de abastecimento limitado a 48 horas. Na Bahia, o estado mais afetado pela seca, mais de 50% dos municípios decretaram estado de emergência.
 
Se depender da transposição das águas do Rio São Francisco, esse quadro não mudará tão cedo. As obras estão paralisadas em três trechos, caminham lentamente nos outros e a gastança não para de crescer. Calcula-se que o maior empreendimento do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, acabe engolindo 71% acima do orçado inicialmente. Segundo o Ministério da Integração Nacional, o custo da transposição, agora prometida para 2015, vai saltar de R$ 4,8 bilhões para R$ 8,2 bilhões.
 
O ministro Fernando Bezerra, responsável pela execução das obras, atribuiu a elevação estratosférica a “adaptações e detalhamentos” requeridos pelos projetos. Bezerra também culpa o aquecimento do setor da construção civil pelo rombo nos cofres públicos. Só inocenta o ministério que comanda e, naturalmente, seus superiores.
 
Oficialmente incumbida de supervisionar todas as obras do PAC, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, recorreu a uma nota redigida em dilmês arcaico para driblar o tema indigesto. “Os aditivos são explicados pelo avanço dos projetos executivos, que têm identificado, com maior grau de precisão, as intervenções necessárias para a completude (sic) do projeto de interligação (sic) do São Francisco”, desconversa um trecho do palavrório.
 
O uso de “completude” em vez de “conclusão” mostra que a ministra está longe da nota 10 em português. O uso de “interligação” em vez de “transposição” sugere que Miriam tem pouca intimidade com o projeto. Resta à população nordestina fazer o que faz desde o começo do século 19: rezar.

 

04/06/2012 às 16:58 \Direto ao Ponto

Os vincos no rosto e as rugas na alma

Para balear José Serra, Fernando Haddad sacou da maleta a certidão de nascimento. “Um homem novo para um tempo novo”, diz o slogan do candidato à prefeitura de São Paulo que o PT engoliu por ordem de Lula. Haddad tem 49 anos. Serra, 70. Em outubro de 2008, quando partidários de Eduardo Paes incluíram a diferença de idade no repulsivo balaio de espertezas forjadas para convencer o eleitorado carioca a aposentar Fernando Gabeira, publiquei no Jornal do Brasil um artigo com o mesmo título deste post. A reprise ensaiada pelo filhote de Lula exige a republicação do texto. Volto em seguida.

“Um é novo, outro é velho, decreta a primeira linha de uma reportagem que confronta os perfis dos candidatos Eduardo Paes, 38 anos, e Fernando Gabeira, 67. Se a frase abrisse o editorial que formaliza a escolha feita por um jornal, nada a objetar. Se abrisse algum texto assinado por colunistas ou colaboradores, tudo bem. Como abre uma reportagem que deve tratar as coisas como as coisas são, a isenção é assassinada no prólogo ─ e os capítulos seguintes estão condenados à morte por parcialidade. Não há esperança de salvação para matérias jornalísticas que, amparadas em duas certidões de nascimento, decretam em seis palavras quem é o novo e quem é o velho.

Se a diferença de idade é o quesito mais relevante no desfile de comparações, a sensatez e a ética recomendam palavras que rimem com neutralidade. Por exemplo: um tem 26 anos menos que outro. Ou, então, um tem 26 anos mais que outro. Ou, ainda, um é mais novo que o outro. A escolha de uma quarta opção transformou Paes na encarnação da novidade, da inovação, da mudança ─ e comunicou aos cariocas que o candidato do PV é apenas velho.

Quase 34 anos distante de Oscar Niemeyer, 10 atrás de Fernando Henrique Cardoso, quatro à frente de Lula, apenas um à frente de José Serra, Gabeira só se encaixaria nessa simplificação se fosse portador de senilidade precoce (e aguda). Como o candidato sessentão chegou ao ponto final da reportagem com boa saúde, deduz-se que o decreto se apoiou exclusivamente no calendário gregoriano.

Juventude é uma expressão associada a entusiasmo, energia, dinamismo, vitalidade. No Brasil, pode ser o outro nome do perigo. Os mais velhos sabem disso desde o começo da década de 60. Os ainda novos ficaram sabendo na década de 90. Jânio Quadros tinha 44 anos ao tornar-se presidente em 1961. Renunciou depois de sete meses, sem explicar direito por quê. O vice João Goulart tinha 43 quando herdou a vaga. Perdeu-a 36 meses mais tarde, deposto pelo golpe militar de 1964.

Como a era dos generais revogou a eleição direta, o último presidente escolhido nas urnas seria também o mais jovem da história republicana entre 1960 e 1989. Foi superado por Fernando Collor, eleito com 40 anos. O recordista em idade se tornaria também o único a escapar do impeachment pelo atalho da renúncia. Os presidentes quarentões não deixaram saudade.

No começo da campanha, Eduardo Paes parecia moço demais para cuidar do Rio. A 10 dias da decisão, está claro que o corpo de menor de 40 tem uma cabeça perturbadoramente envelhecida por excesso de pressa e carência de princípios. Gabeira foi desde sempre um contemporâneo do mundo ao redor. Paes é a versão remoçada dos políticos do século passado. Um se orienta por idéias. Outro é conduzido por interesses, circunstâncias e conveniências.

Eduardo Paes sempre embarca no trem que lhe parece mais veloz e abandona o vagão quando a velocidade diminui. Começou no PV, fez uma demorada escala no cordão dos agregados de Cesar Maia, elegeu-se deputado federal pelo PFL, filiou-se ao PSDB, caprichou no papel de inquisidor enquanto durou a CPI dos Correios, foi promovido a secretário nacional do partido, candidatou-se a governador para garantir a tribuna que lhe permitiu desancar o padrinho Cesar Maia e o adversário Sérgio Cabral, rendeu-se ao PMDB de olho em alguma vaga no secretariado estadual. Para quem viveu tão pouco, não é pouca coisa.

Decidido a alojar-se no gabinete do prefeito, Paes topa qualquer negócio, faz tudo o que for preciso. Insulta o tutor Cesar Maia, rasteja diante de Lula, presta vassalagem à primeira-dama, ordena agressões a cabos eleitorais adversários, mobiliza entidades fantasmas em passeatas instruídas para gritar que Gabeira odeia suburbanos, renega os companheiros de combate na CPI, acaricia mensaleiros juramentados, absolve de todos os pecados a bandidagem dos partidos que o apóiam. Cesar Maia? Só esse não pode. Babu, o vereador de estimação dos moradores dos presídios, esse pode. Delúbio Soares? Pode.

Os vincos no rosto de Fernando Gabeira reafirmam a idade que tem. As rugas na alma de Eduardo Paes informam que a idade mental é muito maior que a oficial. Um é antigo. Outro é moderno.

Em 1984, Paulo Maluf amparou-se na mesma fraude para enfrentar Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. “O Brasil não deve eleger um presidente com mais de 70 anos de idade”, começou a recitar o candidato do regime militar agonizante. A ladainha foi silenciada pela curta réplica de Tancredo: “A Inglaterra, no auge da Segunda Guerra, foi conduzida com sabedoria pelo ancião Churchill. Roma antiga, no entanto, foi incendiada pela estupidez do jovem Nero”.

Juventude costuma ser sinônimo de inquietação, rebeldia, independência. Fernando Haddad faz tudo o que lhe ordena o padrinho sessentão. Prisioneiro de teses empoeiradas, com a cabeça estacionada em outros séculos, a invenção de Lula é um Eduardo Paes que ainda não soube da queda do Muro de Berlim.

De novo, o maior adversário de José Serra é o próprio José Serra. Ele terá de mostrar ao eleitorado, com a veemência e a clareza que lhe faltaram em 2010, que a velhice política não é determinada pelo calendário gregoriano, mas pela idade das ideias.

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Blog Augusto Nunes (veja.com.br)

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