Ainda as crianças e os anúncios na televisão… Meus leitores continuam pesquisando

Publicado em 24/01/2013 18:51 e atualizado em 03/03/2020 19:55
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

Ainda as crianças e os anúncios na televisão… Meus leitores continuam pesquisando

Esses meus leitores… Sempre atentos. Quando tratei do Instituto Alana, que quer proibir a propaganda de refrigerante, listei os nomes dos comandantes da entidade: Ana Lucia de Mattos Barretto Villela e Alfredo Egydio Arruda Villela Filho. Como sou ignorante nesse mundo, pensei: “Seriam casados?”. Não, não! Mais ignorante ainda, imaginei a Alana a proibir as criancinhas de participar de propaganda de bancos, por exemplo, porque, afinal, pertencem a um setor que explora a usura, né?

Eu tenho cada uma…

Os dois são irmãos. A família é a maior acionista individual do grupo Itaú, o segundo maior do país entre os bancos privados. Assim, só acertei mesmo nos “mordomos invisíveis que administram a casa”. O Brasil também será único no mundo na produção de bilionários que têm horror ao capitalismo.

Agora entendo por que o Itaú usa tanto as crianças em seus comerciais. É para mostrar ao mundo como se faz. Certamente passa antes pelo controle de qualidade da Alana.

Quem não achou isso engraçadinho e não se encantou?

E isto? É para edificar a infância? Que sorte que banco vende dinheiro, não biscoito.

Também há esta:

Se os irmãos conseguirem emplacar as suas teses, as crianças, devidamente estatizadas, poderão depois ser privatizadas pelo Itaú. Fico mais tranquilo ao saber que a Alana quer proibir a associação de crianças a produtos não saudáveis, mas que considera muito sensato que sejam associadas a bancos. Ah, sim: isso é uma ironia.

Um dos maiores aliados da Alana na Internet é um troço chamado Infância Livre do Consumismo. Eles usam esta imagem em sua propaganda.

Essa turma divulga ainda uma tradução porca de uma lista das 10 estratégias da “mídia” para enganar os trouxas, segundo uma compilação de algumas, digamos, sacadas de Noam Chomsky, o socialista socialite do MIT. O texto em inglês está aqui. Numa língua que lembra o português, os valentes mandam brasa:

“Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar ideias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…”

Ui!!! Que medo dessa mídia manipuladora!!!

Quando vi aquele bebezinho rindo com o papel rasgado, fiquei feliz de escolher o meu banco pautado por critérios puramente racionais: se um bebê ri quando ouve o som de um papel rasgado, é evidente que estamos diante da melhor opção! É o triunfo da razão pura!

Por Reinaldo Azevedo


Ministério apura uso político do Minha Casa, Minha Vida por Renan Calheiros e eventual benefício a irmão de homem apontado como seu “laranja”. Tudo indica que não dará em nada

Leiam o que informa a VEJa.com. Volto em seguida.

O Ministério das Cidades solicitou informações à Caixa Econômica Federal (CEF) e a prefeituras de Alagoas sobre denúncias de uso político do programa Minha Casa, Minha Vida no estado. Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) “turbinou” a execução do programa em seu reduto político de olho nas eleições de 2014. Ele também teria usado sua influência na CEF e nos municípios para favorecer a Construtora Uchôa, que faturou 70 milhões de reais com a execução de obras do programa nos últimos dois anos. A empresa é de propriedade do irmão de Tito Uchôa, apontado como laranja de Calheiros – favorito a ocupar a presidência do Senado.

Segundo declarou o ministério à ONG Contas Abertas, o recebimento das informações é fundamental para o encaminhamento mais adequado do caso. A pasta já havia afirmado, no fim da semana passada, que qualquer denúncia de uso político do Minha Casa, Minha Vida seria “encaminhada aos órgãos de controle e, a depender da sua natureza, à Polícia Federal”.

As articulações do senador fizeram Alagoas figurar, proporcionalmente, entre os maiores contratantes do programa, superando outros estados do Nordeste e até a meta do próprio governo, que era construir 13.000 unidades habitacionais no estado. Atualmente, mais de 26.800 unidades habitacionais já foram contratadas, e o volume de recursos públicos investido ultrapassa a marca de um bilhão de reais. Das 26 prefeituras de Alagoas incluídas no programa, apenas duas não são comandadas por aliados de Renan ou partidos coligados com o PMDB. 

Contratações
As contratações do programa Minha Casa, Minha Vida ocorrem sem processo de licitação, sendo feitas diretamente pela Caixa a partir de propostas apresentadas por prefeitos e empreiteiras ao banco, onde Renan Calheiros e o PMDB em Alagoas têm grande influência.

A Uchôa está entre uma das principais beneficiárias do Minha Casa, Minha Vida. Segundo o jornal, o primeiro contrato da empresa no programa foi assinado em dezembro de 2010 para a construção de 1.261 casas populares em Santana do Mundaú, município a 30 quilômetros de Murici, terra de Renan Calheiros. As obras tinham valor de 51,7 milhões de reais. A construtora, no entanto, ainda não entregou as casas previstas no contrato. Neste ano, a Uchôa fechou seu segundo contrato, no valor de 20 milhões de reais para a construção de 400 unidades habitacionais em Campo Alegre.  O programa de moradias populares é o carro-chefe da gestão da presidente Dilma Rousseff e bateu recorde de recursos em 2012, no ano das eleições municipais.

Voltei
Sejamos realistas: ou essa apuração fica a cargo do Ministério Público Federal e, a depender das evidências, da Polícia Federal, ou isso tudo é conversa pra imprensa dormir: “Já estão investigando…”

Por Reinaldo Azevedo


Ainda a tal entidade que quer estatizar as crianças… Sabem quem está no Conselho da dita-cuja? Frei Betto, o que faz propaganda de uma droga pesada

Pois é… As coisas também têm cheiro, e eu me distraí um tanto. Mas não os leitores deste blog,  que foram ver quem cuida da Alana, a tal ONG que quer impedir um setor importante da economia de anunciar na TV e no rádio. De saída, noto que o comando da dita-cuja parece ser um empreendimento familiar: a presidente é a dona Ana Lucia de Mattos Barretto Villela, e um dos vices, o seu Alfredo Egydio Arruda Villela Filho. Seriam casados? Pode ser! Nesse caso, eu os imagino lavando pratos — na hipótese de não haver, como disse Fernando Pessoa sobre o Rousseau, os “mordomos invisíveis que administram a casa” — e discutindo aquilo que podemos e não podemos ver na TV.

— Amor, você assistiu àquela propaganda sobre fralda descartável?
— Assisti, sim! Horrível!
— Percebeu o ar de satisfação do bebê e a cara de felicidade da mãe?
— Hã, hã…
— Alguém mexendo com cocô ou xixi faz aquela cara?
— Acho que não!
— Estão querendo enganar o consumidor.
— É. Estive pensando…
— Esteve?
— Sim…
— Veja bem, chegamos à luz elétrica, ao átomo e à Teoria da Relatividade sem fralda descartável. Cagar-se toda é parte da constituição da humanidade, né? Chegamos à caracterização das leis fundamentais da física com os bebês de traseiro sujo…
— É verdade! Não pode ter sido por acaso.
— Sócrates teve fralda descartável?
— Qual Sócrates? O do Corinthians?
— Não! Aquele que tinha uma mulher chata…
— Não, né?
— Não podemos tergiversar nessas coisas. Não se trata de pedir uma publicidade mais realista de fraldas. Esse produto precisa sair do mercado porque é um atentado à inteligência humana, à ciência e à filosofia.
— Adoro o seu jeito de pensar…
— Bobinho!

Frei Betto
Mas os leitores descobriram mais entrando na página da Alana. Três pessoas integram o Conselho Consultivo da ONG. Um deles é Carlos Alberto Libânio Christo, o tal Frei Betto. Agora já sei: Frei Betto endossa a censura à publicidade de biscoito de aveia, mas é favorável à propaganda de drogas pesadas e mortíferas, como Fidel Castro e Raúl Castro, por exemplo. O notório amigo de dois assassinos em massa quer ajudar a regular o que nossas criancinhas podem ou não comer e o que pode e não pode ser veiculado na TV.

Quem financia?
Não consegui saber quem financia a Alana. O grupo Votorantim patrocina uma tal “Banda Alana” (muito prazer, Banda Alana!). A turma tem benefício da Lei Rouanet, exibe o logotipo do governo federal e do grupo Votorantim, que atua na área de cimentos, metais, energia, siderurgia, celulose, agroindústria e finanças. Certamente não produz nada mais potencialmente perigoso à saúde da humanidade do que biscoito de chocolate e Big Mac.

Por Reinaldo Azevedo

 

Campanha eleitoral na tomada: O discurso infeliz de Dilma e a política em tempos de surrealismo explícito

Não adianta! Eles têm lá as suas dissensões, mas também têm a sua natureza, como nesses filmes B de vampiros. Uns não gostam dos outros, mas todos se alimentam da mesma coisa. Assim, Lula tenta surrupiar — e vai surrupiar — uma fatia do governo, Dilma fica brava, os dois trocam palavras ríspidas, mas são quem são, e isso os une. Foi o que me ocorreu ao ver a presidente na TV a anunciar a redução da tarifa de energia. Não estava lá a governante preocupada; não estava lá uma aspirante a estadista. Nada disso!

Quem falava era a candidata à reeleição em 2014. Até aí, vá lá. É a sina dos políticos nas democracias; disputar eleições é parte do jogo. O que incomodou foi outra coisa: por que o tom de desafio e, às vezes, de certo rancor? Porque, no petismo — seja o lulista ou o dilmista —, mais importante do que vencer é a sensação de que o adversário perdeu. No dia em que poderia anunciar, como costumam fazer governantes, a vitória de todos (ainda que não seja verdade), Dilma preferiu chamar a atenção para a suposta derrota de alguns. Em democracias mais corriqueiras do que a nossa, esse tipo de abordagem costuma ter o devido troco da oposição — além de ser mal recebido pela imprensa. Em Banânia, nem uma coisa nem outra. Não faltará quem diga que ela foi enérgica e sagaz.

Dilma anunciou uma redução da tarifa para o consumo doméstico e das empresas um pouco superior àquilo que se esperava (ver post de ontem). E partiu para o confronto. Atacou os “alarmistas” — referia-se àqueles que chamaram a atenção do país para o risco de faltar energia; fez pouco caso dos que são “sempre do contra” e “estão ficando para trás” — qualquer um que, exercendo o sagrado direito de crítica garantido pelas democracias, ousa discordar do governo; e anunciou o seu triunfo: “Surpreende que, desde o mês passado, algumas pessoas, por precipitação, desinformação ou algum outro motivo, tenham feito previsões sem fundamento, quando os níveis dos reservatórios baixaram, e as térmicas foram normalmente acionadas. Como era de se esperar, essas previsões fracassaram.”

Vamos colocar as coisas no seu devido lugar. Já chamei a atenção aqui para o fato e volto a fazê-lo: ninguém anunciou que haveria apagão no país depois de amanhã. O que os especialistas do setor fizeram — e cumpriram, assim, até um dever cívico — foi chamar a atenção para o baixo nível dos reservatórios e para o fato de que o Brasil é hoje excessivamente dependente das chuvas para garantir o fornecimento de energia. Mesmo com o crescimento mixuruca do país — 1% em 2012 (hoje um pouco mais, mas não muito) —, todas as térmicas tiveram de ser acionadas. A elevação do risco de crise fez com que as atenções de voltassem para o setor. E o Brasil se deparou com usinas velhas, linhas de transmissão capengas, falta de investimento e planejamento tortuoso.

Nada disso é mera invenção dos adversários de Dilma Rousseff. Tudo foi absolutamente comprovado. Esse discurso do desafio, do queixo levantado, do “cospe aqui se for macho” é pura manifestação de arrogância e, no limite, tolice. Também é falsa a afirmação de que se previu que o governo não baixaria as tarifas conforme o prometido. Dilma está imputando aos adversários o que estes não disseram para que possa proclamar a derrota destes. É discurso puramente eleitoral — e da pior categoria.

Não faltou também uma referência aos governos de São Paulo, Minas e Paraná — todos eles tucanos. Cesp, Cemig e Copel não aceitaram o pacote imposto pelo governo, que implicaria perdas monstruosas para essas empresas. Só na Cesp, o espeto poderia chegar a R$ 7 bilhões. Não por acaso, as ações das empresas do setor elétrico despencaram. A presidente deu um pé no traseiro dos fatos e mandou brasa: “Aproveito para esclarecer que os cidadãos atendidos pelas concessionárias que não aderiram ao nosso esforço terão ainda assim sua conta de luz reduzida como todos os brasileiros (….) Espero que, em breve, até mesmo aqueles que foram contrários à redução da tarifa venham a concordar com o que estou dizendo”.

Bem, um discurso feito para provocar acaba mergulhando na mentira, ainda que a intenção fosse outra. Diga aí, presidente: quem era “contrário à redução da tarifa”? É escarnecer dos fatos e investir na ignorância alheia fazer uma afirmação como essa. A decisão de São Paulo, Minas e Paraná de impedir que suas empresas quebrasssem não significa ser “contra” a redução. Trata-se de uma mistificação grosseira, daquelas que não deveriam ser ditas nem mesmo em palanque porque mentirosas. O propósito estava bem claro: “Estamos vendo como erraram os que diziam meses atrás que não iríamos conseguir baixar os juros nem o custo da energia e que tentavam amedrontar o nosso povo, entre outras coisas, com a queda do emprego e a perda do poder de compra do salário”.

Indago de novo: onde é que estão essas previsões pessimistas todas? Por mais que eu procure, não as encontro. O petismo vive um estágio curioso: como não tem de enfrentar oposição e como só sabe jogar no ataque, fantasia as críticas que não recebe para poder manter elevada o moral da tropa, que precisa estar em guerra.

De resto, não custa observar: ainda que a energia elétrica seja um custo importante da economia, supor que a redução da tarifa será uma alavanca efetiva do crescimento econômico, especialmente da indústria, é, com a devida vênia, mera conversa mole de lobistas do setor. Energia cara pode, sim, ser um constrangimento e coisa e tal, mas não há um só estudo relevante — tentei encontrar nesta quarta-feira e fiz algumas consultas — indicando que a medida terá um impacto efetivo no crescimento. As dificuldades que o setor produtivo enfrenta hoje são de outra natureza. Também já se achou que a dinheirama do BNDES a juros subsidiados seria o toque de Midas da economia… O país cresceu 1% em 2012 com Luciano Coutinho tentando financiar até carrinho de pipoca…

Eis, leitor, uma daquelas conjunções ruins, mas que se mostram inexoráveis — as gerações futuras se perguntarão: “Como é que eles conseguiram fazer tanta besteira?” A que me refiro? O que se viu ontem na TV foi uma presidente orgulhosa dos seus insucessos, com um discurso duro e triunfante do alto daquele 1% de crescimento, a anunciar que todos os seus críticos são uns bananas, que eles não sabem de nada e que os feitos do governo estão aos olhos de todos.

Como não há, no cenário político, uma voz de peso que se levante e diga que a meia da rainha está desfiada (esse negócio de “nu” é para rei…), vive-se uma situação realmente singular: Dilma se jacta daquilo que não fez e desafia os adversários a provar o contrário. E os adversários… não provam. Entenderam?

Por Reinaldo Azevedo


Cuidado, leitores! Uma ONG pretende estatizar seus filhos porque acha que você é idiota demais para educá-los

Já escrevi alguns textos tratando dos delírios totalitários de uma ONG chamada Instituto Alana, que se propõe a defender os direitos da criança. Se há coisa que não falta no país, como se sabe, é infante maltratado. A Alana, no entanto, não parece especialmente preocupada com a criança de rua, com a precariedade das escolas, com o trabalho infantil e tal. Nada disso! Sua obsessão é impedir que o capitalismo perverta a mente dos inocentes, incitando-os ao consumo irresponsável, o que poderia ser prejudicial à sua saúde. Huuummm…

A entidade está há muito tempo numa cruzada que busca, vejam que mimo!, proibir a veiculação de publicidade de alimentos “pobres em nutrientes e com alto teor de açúcar, gorduras saturadas ou sódio no rádio e na TV” entre as 6h e as 21h. Só isso! Assim, nesse intervalo, só poderiam ser veiculados anúncios de espinafre, abobrinha, ricota e, creio, óleo de fígado de bacalhau, que me rendeu, na infância, golfadas épicas. Eu tinha bronquite, e alguém assegurou que a Emulsão Scott “fortalecia os pulmões”… O rótulo continua o mesmo. É o único bacalhau com cabeça que se conhece no mundo…

Mas atenção! Nada de dar um brinquedinho para estimular a criança a tomar aquele troço. A Alana também é contra porque seria antiético associar o regalo ao alimento. Essa história da colher de mingau com “olha o aviãozinho”, leitor amigo, é uma forma de perverter as crianças.

A Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou dois projetos de lei que fazem justamente isto: um restringe a propaganda nos alimentos pobres em nutrientes, e outro proíbe os brindes — suspeito que, se aprovados, o Kinder Ovo terá de sumir das prateleiras do estado, e os ovos de Páscoa serão recheados com trechos dos diários de Che Guevara…

Ontem, representantes da Alana estiveram no Palácio dos Bandeirantes para pedir que o governador Geraldo Alckmin sancione as duas leis — o que, obviamente, ele não pode fazer porque se trata de duas flagrantes inconstitucionalidades. A regulação da propaganda é de competência federal. Foram recebidos pelo secretário estadual da Casa Civil, Edson Aparecido. Leio na Folha o que diz o secretário:
“A equipe técnica ouve todo mundo, e tem que ter uma análise constitucional, jurídica. Colocamos toda a equipe para analisar, ver o que aconteceu em outros Estados e países. O mais importante é que o governo se abriu pra debater a matéria”.

Entendo a fala de Aparecido, especialmente nestes tempos em que há tantas pessoas querendo ajudar a velhinha a atravessar a rua, ainda que ela não queira… Mas noto que nem toda matéria é passível de debate, especialmente aquelas que afrontam de maneira tão flagrante a Constituição. O Artigo 220 da Carta é claro como a luz do dia — reproduzo em azul:
A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.
(…)
§ 3º – Compete à lei federal:
I – regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada;
II – estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.
§ 4º – A propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias estará sujeita a restrições legais, nos termos do inciso II do parágrafo anterior, e conterá, sempre que necessário, advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso.

Retomo
As leis aprovadas pela Assembleia Legislativa são inconstitucionais, e chega a ser ridículo que o Alana vá ao Palácio dos Bandeirantes reivindicar que o governador jogue a Constituição no lixo.

E há, obviamente, a questão de mérito. Entregue o país para ser governado por engenheiros segundo os fundamentos da engenharia, e teremos uma ditadura. Entregue o país para ser governado por médicos segundo os fundamentos da medicina, e teremos uma ditadura. Entregue o país para ser governado por jornalistas segundo os fundamentos do jornalismo, e teremos uma ditadura… Felizmente, o gênio humano criou — vejam que coisa! — a política e os políticos, que representam, nas democracias, uma média e um equilíbrio das vontades.

As duas leis aprovadas na Assembleia e o Alana estão querendo estatizar as nossas crianças, tirando dos pais o poder e o direito de decidir o que seus filhos veem ou não na televisão. Mais ainda: cabe a eles decidir o que compram ou não para suas crianças. Não precisamos de um estado babá para cuidar desses assuntos. Uma coisa é reivindicar, e eu apoio, que os produtos tragam de forma visível, em letra legível, a sua composição, teor de gordura, de açúcar, de sódio etc. Outra, distinta, é o poder público atuar como censor.

Fiquem atentos: os mesmos “progressistas” que tratam com simpatia a censura à propaganda de biscoito costumam defender a descriminação das drogas.  Ainda vamos liberar a venda de maconha e proibir a de chocolate…

Encerrando
Se a proposta do Alana um dia virasse uma lei federal — e todo cuidado é pouco —, a própria liberdade de expressão estaria em risco. Por que não proibir a propaganda de produtos poluidores como os carros, por exemplo? Ou dos que exploram a “usura”, como os bancos? Ou dos que investem no medo do futuro — os planos de previdência e seguro-saúde? Depois de algum tempo, restaria só a propaganda oficial. Seria a morte da liberdade de opinião e de expressão. É a publicidade que financia a pluralidade da imprensa. Não por acaso, veículos que dependem de estatais para sobreviver rastejam por aí a sua subserviência.

Isso tudo é tara autoritária. É saudável que se discuta, sim, a ética na publicidade — para crianças ou adultos. Mas não precisamos do Alana ou do estado como babás. As famílias cuidam de seus respectivos filhos, e a sociedade cobra do setor publicitário a autorregulação.

Agradeço o esforço do Alana, tão preocupado com a gente e com nossos filhos. Mas que vá vender sua cantilena autoritária em outra freguesia. Quem lhe conferiu licença para ser polícia da publicidade, de nossa consciência e de nossos lares? Por que não troca sua obsessão autoritária por uma criança pobre?

Por Reinaldo Azevedo


Dois dias bastaram para provar que os poetas do crack estavam obviamente errados

Escrevi aqui alguns textos sobre a reação estúpida de setores da imprensa e dos politicamente corretos à decisão do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), de dar eficácia à lei que permite a internação involuntária ou forçada de viciados. Pois é… Leio na Folha as informações que seguem. Volto depois.

A procura por internações de dependentes químicos surpreendeu o governo Geraldo Alckmin (PSDB), que foi obrigado a ampliar a estrutura de atendimento dois dias após o início do programa de internação compulsória. Até a próxima semana, novos funcionários serão deslocados para o Cratod (Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas), no Bom Retiro, e uma central telefônica que recebe ligações gratuitas será criada para esclarecer dúvidas de parentes de viciados. Além disso, serão contratados 66 novos leitos específicos para esse público. O anúncio foi feito ontem pelo governador e pelo secretário da Saúde, Giovanni Guido Cerri, após visitar o local. O Cratod reúne médicos, juízes, promotores e defensores públicos, que analisam a situação do dependente e decidem pela internação.

Embora o objetivo fosse facilitar as internações compulsórias, quando o viciado vai para tratamento sem consentimento próprio ou da família, o Cratod atraiu inúmeros parentes e até mesmo usuários em busca de ajuda. “Houve uma corrida pela internação”, disse Alckmin. Nos três primeiros dias do plantão judicial que avalia a necessidade de fazer internações compulsórias, os funcionários do Cratod atenderam ao todo 127 pessoas -entre dependentes e parentes. Antes, eram atendidos em média quatro pacientes ao dia.

Do total de atendimentos, 18 pessoas foram internadas. Apenas uma dessas internações foi compulsória, três foram involuntárias e 14, voluntárias. Ao menos dois desses casos entraram no sistema à força, levados por parentes, mas acabaram convencidos pelos médicos que precisavam de tratamento.
(…)

Voltei
Quem sofre busca consolo e resposta para as suas angústias. A demanda por internação está na sociedade, ainda que alguns líricos do crack — e, a rigor, de todas as drogas — tenham tentado tratar um programa correto, cercado de todos os cuidados, como evidência de autoritarismo. Já abordei essa vigarice aqui.

Ao contrário: estamos é diante de um estado generoso como jamais. Se o viciado que requer internação perdeu o controle da vontade, é certo que, inicialmente, fez uma escolha tragicamente errada, pela qual, a rigor, deveria ser o responsável. Em vez disso, será sustentado e tratado pelos “caretas” que trabalham e recolhem impostos.

Corrijo-me então: generoso não é o estado; generosos são os brasileiros que o sustentam. Mas também não parece haver  alternativa. Os viciados em crack não são, hoje em dia, apenas um problema para si mesmos e para suas respectivas famílias. Tornaram-se uma chaga social.

Assim, quando os poetas das drogas começam com a sua cantilena em favor da descriminação, alegando que se trata de uma escolha individual, cumpre lembrar que o custo é obviamente social.

Por Reinaldo Azevedo


Congresso eleva teto da dívida e dá três meses de folga a Obama

Na VEJA.com:
O presidente Barack Obama conseguiu uma vitória importante dois dias após a posse de seu segundo mandato: a Câmara dos Representantes aprovou a elevação do limite de endividamento federal até 19 de maio. A vitória é parcial, mas deve ser vista como um caminho para o entendimento entre republicanos e democratas. A aprovação da extensão é um indicativo de que os líderes dos dois partidos no Senado devem apoiar a decisão. O projeto foi aprovado por 285 votos a favor e 144 votos contra, distribuídos de maneira geral com a composição partidária da casa. Muitos democratas opuseram-se à natureza de curto prazo da extensão.

A medida não incluiu os cortes orçamentários de 2,2 trilhões de dólares em um período de 10 anos que os republicanos insistiam em inserir no mesmo pacote de votações, como uma espécie de condição para a aprovação do aumento do teto da dívida.  O documento aprovado pela Câmara prevê, no entanto, que o pagamento do salário dos deputados seja vetado se alguma das comissões do Congresso não conseguir aprovar o projeto de Orçamento até o dia 15 de abril – este sim, envolvendo a votação dos cortes de gastos. “É simples: sem Orçamento, sem pagamento”, disse o presidente da Câmara, o republicano John Boehner. 

Segundo o jornal The New York Times, a legislação que prevê o aumento do teto da dívida simplesmente bloqueará os salários dos deputados até que o projeto de Orçamento passe, independentemente de haver um acordo entre republicanos e democratas, ou não.

Por Reinaldo Azevedo


Rumo a 2014, com o populismo elétrico: Dilma reduz tarifa além do previsto e antecipa benefício

A presidente Dilma Rousseff foi à TV de novo na noite desta quarta-feira.  E, de novo, para falar sobre energia elétrica. Antecipou a entrada em vigor da diminuição da tarifa e a reduziu além do que estava inicialmente previsto para consumidores industriais e residenciais. Não ficou só isso, não! Também deitou proselitismo.  Dilma já está em ritmo de 2014. Leiam trechos do que informam Fernanda Odilla e Natuza Nery na Folha. Ainda voltarei a esse assunto.

*
Em pronunciamento em rede nacional, no rádio e na televisão, a presidente Dilma Rousseff anunciou na noite desta quarta-feira (23) que decidiu ampliar a redução das contas de luz e também antecipar o início do desconto. Segundo afirmou a presidente, a partir desta quinta as contas residenciais ficarão 18% mais baratas, ao contrário dos 16,2% anunciados inicialmente. No caso da indústria, agricultura, comércio e serviços, a redução será de até 32%. A promessa inicial era reduzir as tarifas a partir do dia 5 de fevereiro.

“Acabo de assinar o ato que coloca em vigor a partir de amanhã uma forte redução na conta de luz de todos os brasileiros. Além de estarmos antecipando a entrada em vigor das novas tarifas, estamos dando um índice de redução maior que o previsto e já anunciado”, afirmou Dilma no pronunciamento. O anúncio serviu também para a presidente responder a críticas feitas à política econômica de seu governo e assegurar que não haverá racionamento de energia no Brasil.

A presidente não explicou, contudo, quanto será necessário desembolsar dos cofres públicos para bancar a redução. Nem a Aneel nem o Tesouro Nacional explicaram qual será o impacto dessa bondade adicional. A previsão inicial, para os percentuais antigos, era de que fossem aplicados R$ 3,3 bilhões do caixa federal.
(…)

Por Reinaldo Azevedo


Um leitor deixa este blogueiro comovido com uma tese de doutorado

Acabo de receber uma informação que me deixou realmente feliz — alguns talvez achem piegas, mas fiquei comovido também. André Fernão Martins de Andrade defendeu sua tese de doutorado no Instituto de Agronomia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Título: “Avaliação de estratégias para remediação do solo contaminado por chumbo e bário provenientes de resíduos de perfuração de poço de prospecção de petróleo”.

Muito bem! E por que isso me diz respeito? Em primeiríssimo lugar, porque ele usa uma epígrafe de Karl Kraus — “Quando o sol da cultura está baixo, mesmo os anões lançam sombras” —, e isso quer dizer que André sabe distinguir o que presta do que não presta.

Na mesma página, leio: “A Reinaldo Azevedo, por sua luta incansável contra o obscurantismo”.

A íntegra de seu trabalho está aqui. Não sei se mereço a distinção. Mas sei que fiquei feliz. Muito obrigado, André! Ainda não li seu trabalho. Eu o farei, é claro, mesmo não sendo, como você sabe, um especialista na área. Sucesso! E vamos, como diria Camões, “alevantar” o sol da cultura!

Por Reinaldo Azevedo


O PSDB, Renan, Pedro Taques e o imperativo ético. Ou: Cadê Aécio?

Já concordei muitas vezes com o senador Pedro Taques (PDT-MT) e já discordei dele algumas outras. No geral, tem uma atuação correta e faz a defesa de boas causas. Decidiu lançar sua candidatura à Presidência do Senado, enfrentando o poderoso Renan Calheiros (PMDB-AL), que conta com o apoio do PT.

O que deve fazer a oposição, especialmente o PSDB?

A única coisa decente nesse caso: apoiar Taques.  Ele vai perder? Claro que vai! Ainda que o custo seja a oposição ficar fora da Mesa, vale a pena correr esse risco? Acho que sim! Vamos ser claros: não há nada de substancial que se possa fazer tendo um carguinho ou outro na Mesa.

“Reinaldo agora decidiu ser poeta, renunciar ao realismo.” Não! É que há, já escrevi aqui, limites que não devem ser ultrapassados. Se a oposição quer começar a existir no Brasil, tem de emitir alguns sinais. Quais são eles?

Noto, mais uma vez, que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) não se apresenta para o debate. Fica fora dessa também. “Esse Reinaldo é um bobalhão! Não sabe que um político precisa é de aliados para ser eleito presidente, não de adversários.” Pois é… Com efeito, Reinaldo acha que, sem estabelecer o terreno do inaceitável, não dá para saber o que é aceitável. O PT buscou, sim, aliar-se até com o capeta na construção da sua hegemonia, mas sempre deixou muito claro aos eleitores: “Com tucanos, não queremos conversa”.

Se o PSDB não quer definhar na irrelevância, tem de ter a coragem de assumir algumas posições. Dizer “não” a Renan não é uma questão de escolha; é um imperativo ético. Sim, estou convicto de que o PSDB fará a coisa errada. Isso ajuda a contar a história dos últimos 10 anos.

Por Reinaldo Azevedo


Acredite em Michel Temer, leitor! Ele aposta suas fichas em Renan Calheiros…

Você está desconfiado de Renan Calheiros (PMDB-AL), leitor? Acha que ele não tem, assim, uma biografia que o autorize a ser presidente do Senado, especialmente por ter sido obrigado a renunciar à função em 2007, quando se descobriu que uma empreiteira pagava a pensão de uma ex-amante e de um filho tido fora do casamento? Ora, faça como Michel Temer, vice-presidente da República e um dos chefões do partido: acredite. Leiam o que informa Ricardo Brito, na Agência Estado:

O vice-presidente da República, Michel Temer, afirmou na manhã desta quarta-feira, 23, que não acredita que o retorno do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), ao comando do Senado afetará a credibilidade da Casa. Renan Calheiros é favorito para voltar a presidir o Senado, cargo ao qual renunciou no final de 2007 para evitar ser cassado por quebra de decoro parlamentar após uma série de acusações de irregularidades. Nesta quarta, o Estado revelou que uma empreiteira de uma pessoa próxima a Renan Calheiros faturou nos últimos dois anos R$ 70 milhões em recursos do programa Minha Casa Minha Vida em Alagoas.

“Não creio (que afete a credibilidade do Senado). Vai depender muito da gestão que ele queira fazer, se ele fizer uma gestão correta, adequada, ao invés de prejudicá-lo, vai enaltecer. Mas é o futuro que vai dizer”, disse Temer, presidente de honra do PMDB. O vice-presidente fez uma “visita de cortesia” ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), com quem conversou durante 40 minutos “sobre o futuro”.

Questionado por jornalistas se Renan Calheiros é um “bom nome” para comandar o Senado, Michel Temer disse que é “um nome escolhido pelo Senado, pelo partido, que tem tradição e pode fazer uma belíssima gestão”. “É isso que nós esperamos”, disse. O vice-presidente ressalvou que o líder do PMDB ainda não é candidato, e deverá oficializar sua candidatura “a partir talvez da semana que vem”.
(…)

Por Reinaldo Azevedo


Homem de Lula diz que instituto não vai interferir em favor de assentados porque é assunto de governo. Sei… E aquele golpezinho dado pelo Apedeuta?

É realmente fabuloso! Luiz Dulci, ex-ministro de Lula e um dos chefões do instituto que leva o nome do Apedeuta, afirmou que a entidade não vai interferir em favor dos assentados que invadiram a entidade. Leio na Folha Online suas declarações:

“Esperamos que o movimento entenda que, se queria dar visibilidade à causa, talvez já tenha conseguido. Mas o instituto não interfere em decisões de governo. Não só nesta área como em nenhuma outra”.

“Não faz sentido ocupar o Instituto Lula porque não é uma decisão que possa ser tomada. O instituto não vai interferir, já que a negociação está aberta e os órgãos competentes estão atuando e empenhados em resolver a questão.”

Didi Mocó perguntaria: “Cuma, inselença?”. O instituto “não interfere em decisões de governo?” Há dois dias, Luiz Dulci foi um dos homens de Lula que anunciaram que o poderoso chefão assumiria a coordenação política do governo. E o fizeram à revelia do Planalto, que não disse nada até agora. Assim, não só o instituto “interfere” como, na prática, decidiu SER o governo.

Ora, ora… Se a solução do conflito dependesse de alguma ação que pudesse ser tomada pelo governo do estado, alguém dúvida de que esses valentes se apresentariam como intermediários da causa? Hipocrisia pouca é bobagem.

Os ocupantes do Instituto Lula divulgaram a seguinte carta:
Chegamos a uma situação limite.

Somos 68 famílias que, depois de anos e anos de luta, fomos assentadas num terreno de 104 hectares localizado entre os municípios de Americana e Cosmópolis. Este terreno pertenceu à família Abdalla, ricos empresários que perderam o a área durante a ditadura militar por dívidas trabalhistas.

Em 2006, o presidente Lula e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) nos instalaram no Sítio Boa Vista. Desde então, para a consolidação deste assentamento, depositamos tudo o que tínhamos: nosso trabalho e nossa vida na produção de alimentos saudáveis, sem o uso de agrotóxicos. Passamos por inúmeras dificuldades para produzir. Mesmo assim, passo a passo, conseguimos estabelecer parcerias com mais de 40 entidades e escolas através do Programa Doação Simultânea. E, hoje, temos orgulho de dizer que somos uma comunidade que fornece mais de 300 toneladas de alimentos para a região metropolitana de Campinas.

Após consolidarmos nossas vidas nesta terra com o suor de anos de trabalho e dedicação, recebemos em maio de 2012 a notícia de que a família Abdalla, aliando-se à Usina Ester, havia recuperado as terras na justiça e ganho o seu direito de posse. A justiça federal, então, emitiu um aviso ao INCRA de que deveríamos ser retirados em prazo determinado, caso contrário, haveria a reintegração de posse do terreno.

O INCRA moveu vários recursos em vão. Realizamos audiências com os representantes do órgão, que afirmavam que não sairíamos do assentamento e que, se fosse preciso, seria assinado o decreto de desapropriação por interesse social. Fizemos reunião com representantes do governo federal; e estes também garantiram que o problema seria resolvido, sem que precisássemos deixar nossas casas. No entanto, o tempo passou e nada mudou. Ao contrário, para a nossa aflição, aproxima-se a data em que assistiremos à destruição do esforço de toda uma vida: nossas casas, nossas plantações, nossos sonhos.

Sabemos que todas as possibilidades jurídicas já foram esgotadas e que o destino de nossas famílias depende, isto sim, da vontade política de quem pode decidir. Também sabemos que não nos resta outra alternativa senão um grito de apelo.

Lembramos que há exatamente um ano, em um quadro bastante semelhante, 1600 famílias foram brutalmente despejadas da área do Pinheirinho. Um representante político como Lula, que agora tem a honra de batizar uma instituição que zela pelo “exercício pleno da democracia e a inclusão social”, não pode permitir que uma situação dessas se repita.

Lula foi o Presidente da República que, em 2006, assinou a concessão do terreno do Assentamento Milton Santos para fins de reforma agrária. Todo processo ocorreu com o seu conhecimento e do órgão do governo federal responsável pelo assunto, o Incra.

Confiamos que o peso de sua figura política seja capaz de interceder em favor de nós, assentados, e estabelecer um diálogo mais direto com a presidente Dilma Rousseff, para que esta se disponha a nos receber pessoalmente em uma audiência e assine o decreto de desapropriação por interesse social.

Por Reinaldo Azevedo


Ideli se finge de morta para se fingir de viva

Ai, ai… A ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, está se fingindo de morta no caso do repasse das verbas do Fundo de Participação dos Estados para se fingir de viva.

Como vocês sabem, o STF decidiu há 36 meses — sim, leitor, há três anos — que o FPE, como vinha sendo distribuído, era inconstitucional. E deu esse prazo para que o Congresso corrigisse as distorções com uma nova lei. E nada aconteceu.

Lula e Dilma mantiveram e mantêm um apoio no Congresso só comparável ao de ditaduras. Até Chávez enfrenta mais oposição numérica na Assembleia venezuelana. Bastaria decisão política para votar o novo texto. Mas o Palácio não se mexeu. Este escriba alertou aqui antes de expirar o prazo: “Daqui a pouco, o governo federal estará praticando ilegalidades caso mantenha o repasse…”. Pois bem. Leiam o que informa Marcela Matos, na Veja.com. Volto em seguida.
*
Ideli diz que governo espera acordo sobre FPE

A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, afirmou na manhã desta quarta-feira, durante um café com jornalistas, esperar que Legislativo e Judiciário cheguem a um acordo sobre os critérios de distribuição do Fundo de Participação dos Estados (FPE). Nesta terça feira, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), reagiu à manifestação do Supremo Tribunal Federal (STF), que cobrava uma resposta do Congresso Nacional sobre uma  Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) de autoria de quatro governadores do país: Antonio Anastasia (MG), Eduardo Campos (PE), Jaques Wagner (BA) e Roseana Sarney (MA). Em ofício, o Congresso afirma que “não há omissão inconstitucional como apontam os requerentes” e que “não havendo inércia do Poder Legislativo”, não se justifica “qualquer intervenção do Poder Judiciário em suas atividades típicas, em atenção ao princípio da separação dos poderes”.

De acordo com Ideli, o impasse entre os poderes tem consequências imediatas na vida de milhões de brasileiros, já que em alguns estados o repasse representa até 60% da arrecadação. “A suspensão dos repasses cria uma situação insustentável em boa parte dos estados brasileiros”, disse a ministra. “Estamos bastante ansiosos para que haja um acordo entre o Legislativo e o Judiciário sobre esse assunto, até porque a presidente manteve, fez o primeiro pagamento que era ainda referente a 2012, no dia 10 de janeiro, e agora no dia 20 de janeiro era a primeira parcela de 2013″, reforçou. 
(…)
Voltei
Viram? Ela pretende ser apenas uma cronista da crise, como se não tivesse nada com isso. É falso! Tem, sim! Sabem quem é a ministra que cuida da articulação com o Congresso? Ideli Salvatti! Mais: o Planalto dispõe de um líder na Câmara, um líder do Senado e outro no Congresso. E se deixou a situação chegar aonde chegou.

“Ah, mas era assunto do Congresso…” O novo Código Florestal também era. A nova Lei dos Royalties também era. E por que o governo resolveu fazer valer a sua vontade? Ora… A verdade é que se apostou no impasse. E, por óbvio, o assunto passou a ser do Palácio quando, de modo deliberado, o governo decidiu descumprir decisão judicial.

Agora Ideli fica fazendo cara de paisagem. Volto àquele tema duzamericânu… Imaginem nos EUA um secretário de estado explicando à imprensa, de maneira calma e pausada, por que decidiu mandar a Suprema Corte plantar batatas…

E há quem jure, claro!, que sistema bom mesmo é o brasileiro, não aquele “estadunidense” (como dizem os bocós), cheio de republicanos que fazem valer suas prerrogativas. Que coisa deselegante!

Por Reinaldo Azevedo


O MST, pelego que é, não apoia “ocupação” do golpista Instituto Lula por assentados. Ou: Finalmente, uma área realmente improdutiva é ocupada

Moradores do assentamento Milton Santos, que fica entre Americana e Cosmópolis, no interior de São Paulo, resolveram invadir… Ooops! Eles resolveram “ocupar” — é o verbo politicamente correto — a sede do Instituto Lula, no centro de São Paulo. Tão logo fiquei sabendo da notícia, pensei o óbvio: “Finalmente o MST invade uma área realmente improdutiva”. Como, que se saiba, não existem pés de jabuticaba no Instituto Lula, a única coisa realmente nativa que se produz por ali é besteira. Mas eu estava enganado, e não se está noticiando por aí um fato realmente encantador: O MST NÃO ESTÁ APOIANDO ESSA OCUPAÇÃO. Ao contrário! Os pelegos emitiram uma nota em seu site oficial deixando claro que estão fora dessa. Lê-se lá: “Os protestos organizado pelo MST têm como orientação geral denunciar os verdadeiros inimigos da reforma agrária, como o agronegócio, o latifúndio, o Poder Judiciário e a imprensa burguesa e pressionar os órgãos de Estado para que façam a Reforma Agrária.”

Entenderam?  Sigamos.

Decisão judicial determinou que os assentados — sim, eles já foram assentados pelo Incra — deixem a área. A terra pertencia ao grupo Abdalla e foi tomada pela União em razão de dívidas com o INSS. A decisão foi revertida na Justiça, e daí se criou a confusão. Muito bem! Ações judiciais têm de ser cumpridas. Se um juiz determina que a Polícia Militar realize a desocupação e se esta se nega a fazê-lo — ou o governador de Estado —, os responsáveis pela negativa podem ir em cana. Qual é a saída?

Os moradores do assentamento Milton Santos reivindicam que o governo federal faça o óbvio: que desaproprie a área, o que está a seu alcance. A rigor, é o que ele poderia ter feito no caso do Pinheirinho, por exemplo — lembram-se dele? Em vez de aquele amigo esquisitão de Gilberto Carvalho ir lá fazer proselitismo e incitar à violência, Lula poderia, então, como presidente, ter desapropriado o terreno. Mas não se fez isso.

Por que os assentados invadem o Instituto Lula? Ora, fomos informados há três dias que é ali que se decidem realmente os destinos da nação — segundo os petistas ao menos. Foi no instituto que amigos do Apedeuta anunciaram um golpe de estado: Lula vai surrupiar de Dilma a condução da política e as negociações com o Congresso. Se o Babalorixá de Banânia pode ser o intermediário nas negociações com o Parlamento, também pode sê-lo em casos assim. Depois do golpe dado, o instituto deve ser uma espécie de centro de peregrinação — e, claro!, ocupação — de todos os descontentes do país. Se a APUE (Associação dos Portadores de Unha Encravada) tem algo a reivindicar do Poder Público, já sabe o endereço.

Os moradores do Milton Santos prometem sair do local só quando houver o decreto de desapropriação. Sem o apoio de ninguém e discretamente hostilizados pelo MST, duvido que resistam tanto. Mas puseram o dedo na ferida: o governo federal tem como resolver essa história com um simples decreto. Mas é bem possível que alguns espertalhões prefiram que a PM seja obrigada a agir — não pode resistir a uma decisão judicial — para que se possa jogar a culpa nas costas do tucano. Aí os inefáveis Gilberto Carvalho, Maria do Rosário e José Eduardo Cardozo podem vir a público para verter suas lágrimas caridosas.

Quanto ao MST, dizer o quê? O peleguismo inflamado consegue ser ainda mais asqueroso do que o outro, que se permite ser cavalgado sem disfarces.

Por Reinaldo Azevedo

 

Calígula dava ordens à Lua e lhe fazia ameaças; Lula redesenha a Terra. Ou: O Apedeuta, como Saturno, decidiu engolir a própria cria

Publiquei este texto às 21h28 desta terça. Decidi mantê-lo aqui no alto. Abaixo dele, posts escritos na madrugada.

Vejam esta imagem.

É Saturno engolindo uma de suas crias, na versão terrificante de Goya. Por que está aqui? Vamos lá.

Lula é um logólatra. Mas não é fissurado num “logos” qualquer. Ele também é um “lulólatra”. É apaixonado pelo som da própria voz. Às vezes, a gente nota, ele se deixa encantar pela complexidade do próprio pensamento, que alcança sempre altitudes ignotas. Foi assim, por exemplo, quando refletiu sobre a conveniência de a Terra ser quadrada, não redonda. Vale a pena rever.

Num programa da VEJA.com, lembrei essa diatribe astrometafísica de Lula e uma outra frase sua não menos sensacional, quando demonstrou certa invejinha de Dilma porque ela teria tido a sorte de suceder a alguém como ele…

Já identifiquei a doença de Lula, que o citado Freud não teve tempo de diagnosticar. É a SIPP (Síndrome da Inveja do Próprio Pênis). Lula se ama de tal sorte que adoraria ser… Lula, como Narciso que mergulha em busca da própria imagem. Certos governantes têm dessas coisas.

Lembrei aqui certa feita como Suetônio caracterizou o imperador Calígula em “Os Doze Césares”. Leiam um trechinho que traduzi (em azul). Vale a pena:
(…)
Mas lhe disseram que era superior a todos os príncipes e reis da Terra, e então começou a atribuir a si mesmo a divina majestade. Fez trazer da Grécia as estátuas dos deuses mais famosos (…) entre elas a de Júpiter Olímpico, da qual cortou a cabeça para substituir pela sua própria. Estendeu até o Fórum uma ala de seu palácio e transformou o templo de Castor e Pólux num pátio, sentando entre os dois irmãos, oferecendo-se à adoração da multidão. Alguns o saudavam como Júpiter Latino. Teve, para a sua divinização, o seu próprio templo, sacerdotes e as oferendas mais raras. Nesse templo, podia-se contemplar sua estátua de ouro (…). As vítimas sacrificadas a este deus eram flamingos, pavões, codornas, galinhas da Numídia, galinhas d’angola, faisões — a cada dia uma espécie diferente.
À noite, quando a Lua estava cheia, ele a convidava a vir receber o seu abraço e a compartilhar seu leito. Durante o dia, mantinha conversações secretas com Júpiter Capitolino, falando-lhe algumas vezes ao ouvido (…). Em outras, falava ao deus com arrogância e em voz alta. Certa vez, ouviram-no dizer a Júpiter em tom de ameaça: “Prove o seu poder ou tema o meu!”
(…)

Como não ver, assim, o ímpeto de Calígula no homem que resolve meter os pés na porta do governo e roubar da presidente a coordenação política? Cortou a cabeça dela; pôs a dele no lugar. Ele é assim.

60 dias calado
Pois é… O ególatra, logólatra e lulólatra, desta feita, está mudo — mas não parado. Há 60 dias, observa Jean-Philip Struck na  VEJA.com não diz uma palavra sobre o Rosegate, por exemplo, aquele rumoroso caso que pôs Rosemary Nóvoa Noronha, a sua “amiga íntima”, no centro de um azeitado esquema de corrupção instalado na… Presidência da República. Não fala a respeito, mas tem ouvido muito, especialmente no ambiente doméstico, o que é compreensível.

O homem que já fez digressões sobre as vantagens de a Terra ser um quadrilátero se dedica agora a criar um novo regime político no Brasil: o “Lulismo Mitigado”. Ele até topa dividir o poder com Dilma: ela fica com a parte chata — ver se o governo desempaca —, e ele, com a coordenação política. Lula não gosta mais da criatura que gerou e decidiu, como Saturno, engoli-la. Como no mito, teme que que surja alguém mais forte que ele. Haverá alguém de peito para fazê-lo engolir uma pedra? Não sei.

Uma coisa é evidente e certa: Lula decidiu tomar à força o governo de Dilma Rousseff. Deixa claro, assim, que nem mesmo a legitimidade popular que ela tem — eleita que foi — e que pode ser referendada pelo povo, se reeleita, supera a autoridade natural daquele que, a exemplo de Calígula, se sente com força para interferir nas esferas celestes.

Lula deixa claro, assim, o apreço que tem pelo mandato popular. Convenham: isso não é estranho à sua trajetória. Passou 16 anos — oito como oposição e oito como governo — tentando destruir a reputação de FHC, que tinha sido, afinal, eleito pelo povo.

Saturno, como carcará, pega, mata e come.

Por Reinaldo Azevedo


A internação involuntária e o jornalismo no manicômio ideológico. Ou: Mais jornalismo e “menas” militância, por favor!

O lobby moral — acabo de inventar essa designação — dos que se consideram só consumidores recreativos de drogas (eu também sou consumidor recreativo de Hollywood) é, acredito, o mais forte do país, especialmente na imprensa. É impressionante o esforço que se vem fazendo, em quase todos os veículos, para atacar o programa de internação forçada ou involuntária de dependentes químicos em São Paulo. A abordagem perdeu qualquer senso de responsabilidade e noção de objetividade.

Hora dessas publico algumas pérolas que andei colecionando dos coleguinhas solidários com a desgraça, mas não com os desgraçados. É asqueroso! Ontem, em vários sites noticiosos e até na TV, reclamava-se, ora vejam!, da demora para a internação. Em alguns casos, “quase 24 horas…” Imaginem se fosse esse o tempo do SUS, Brasil afora, para internar pacientes em estado grave em leitos especializados. Talvez o Brasil fosse a Suécia! Mas quem liga para os miseráveis que definham nas filas do Sistema Único de Saúde? Os cancerosos, os tuberculosos, os diabéticos, os cardíacos, essa gente toda é doente de segunda categoria. Com um drogado, é diferente! Ele é visto como alguém numa área cinzenta entre a vítima, o mártir e o herói.

Alertava-se ainda para o risco da eventual falta de vagas, uma vez que, informava-se, a procura foi maior do que se esperava. Embora o programa se destine à internação involuntária, também os que desejam se tratar buscaram o serviço. Familiares foram buscar ajuda para encontrar parentes desaparecidos. Ao longo dos dias, dos meses, dos anos, é evidente que o benefício terá de ir se ajustando. Até pelo pioneirismo, não se conhece exatamente o tamanho do problema. É patético perceber jornalistas que visivelmente se opõem à internação a acusar a suposta demora no atendimento…

A origem do mal-estar
Por que esse mal-estar contido — às vezes, explícito mesmo — e a má-vontade com o programa? Fatores diversos se somam. Em primeiro lugar, há a questão que se poderia chamar ideológica, ainda que essa palavra precise ser rebaixada para se encaixar ao caso em espécie. Estivessem no comando da ação os “petistas progressistas”, os não menos petistas e não menos progressistas do jornalismo dispensariam ao caso outro tratamento. Como vem de um governo tucano e como parece que as chefias de redação decidiram deixar a moçada à vontade para a militância, as delinquências intelectuais vão se acumulando.

Em segundo lugar, mas não menos importante, note-se: há uma discordância de fundo com o programa. Defender a legalização das drogas é parte do “kit do bom progressista”, assim como ser favorável à legalização do aborto, pregar a proibição da venda legal de armas, apoiar a invasão de propriedades rurais e urbanas pelos sem-isso e sem-aquilo, exigir ciclovias até nos morros de Perdizes e da Vila Madalena etc. Se o sujeito não adere a essa pauta, acaba sendo tratado como um reacionário “jeca de Oklahoma” (cá estou eu provocando o meu amigo Caio Blinder).

Ora, é evidente que a internação involuntária de viciados vai na contramão, no que concerne ao debate de valores, do lobby em favor da legalização ou descriminação das drogas, a exemplo daquela absurda campanha É Preciso Mudar, orientada por Pedro Abromovay, ex-secretário de Justiça do governo petista, que já defendeu que “pequenos traficantes” não sejam presos. Também está claro que a internação involuntária reforça o repúdio que a esmagadora maioria dos brasileiros têm das drogas, chamando a atenção para seu caráter deletério, para seu potencial destrutivo. E parcela expressiva dos “coleguinhas” não pode aceitar isso. Basta ver como foram tratados os maconheiros marchadores: parecia que Schopenhauer, Kant e Bertrand Russel gritavam em coro: “Ei, polícia, maconha é uma delícia”.

Como essa gente não perdeu inteiramente o senso de ridículo e como há leitores do outro lado, muitos deles capazes de pensar de modo lógico, fica difícil agredir na essência um programa que, se bem aplicado, salva vidas e tem o concurso de médicos, juízes, promotores e advogados. Assim, para manter a veia crítica, ignora-se o principal para tentar desmoralizar o programa em razão de aspectos periféricos: “a internação está demorado, é possível que faltem leitos, a filha dopou o pai para interná-lo…”. Um programa de redução de danos que ministrasse doses controladas de droga a viciados seria certamente mais bem recebido pelos “progressistas”.

Chegou a hora de alguns diretores de redação cobrarem mais jornalismo e “menas” (para ficar no espírito da era…) militância.

Texto publicado originalmente às 4h02

Por Reinaldo Azevedo


A mistura do Movimento Antimanicomial com a Teologia da Crueldade. Quem se ferra é o miserável!

Entidades as mais diversas, sob o guarda-chuva de um conceito, o “Movimento Antimanicomial”, conseguiram acabar com os hospitais psiquiátricos para pobres no Brasil. Essa é mais uma razão por que os desgraçados ficam vagando por aí. Mas os discípulos de Foucault estão com a consciência tranquila. Julgam ter aplicado tudo o que aprenderam ao ler “O Nascimento da Clínica” e “Vigiar e Punir”. Foucault, ele mesmo, coitado!, não conseguia controlar nem seus impulsos mais primitivos… Sim, meus caros, os ricos continuaram a ter direito a atendimento e internação em clínicas privadas. Note-se: é claro que os hospitais psiquiátricos eram verdadeiras casas de horror, como são muitos dos presídios. Fazer o quê? Extingui-los também? Em vez de se exigir que os hospitais psiquiátricos tratassem adequadamente os pacientes, pregou-se pura e simplesmente a sua extinção em nome da “cidadania” e dos “direitos” do doente mental.

Reitero: essa gente obteve uma vitória política e não perguntou, em seguida, o que a dona Maria do Capão Redondo ou de Guaianazes faria com o seu doente. Essa mesma turma se mobiliza agora contra a internação involuntária de viciados e é a inspiração de uma carta absurda enviada ao governador Geraldo Alckmin no dia 11 deste mês. São seus signatários, atenção!, as seguintes entidades:

1. Núcleo do Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores de Materiais Recicláveis do Estado de São Paulo;
2. Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores de Materiais Recicláveis – CNDDH;
3. Pastoral Nacional do Povo da Rua da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB;
4. Movimento Nacional da População em Situação de Rua – MNPSR;
5. Pastoral do Menor Nacional – Organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB.

Vejam ali a gloriosa Igreja Católica sendo aparelhada por aloprados por intermédio de duas pastorais. Escrevi num post de ontem que, no Brasil, moradores de rua — ou “em situação de rua”, para empregar a língua estranha que essa gente fala — haviam se transformado, no Brasil, numa “categoria social”. Noto, dada a carta enviada a Alckmin, que se transformaram também numa categoria de pensamento e numa espécie de corporação sindical. É o fim da picada!

Percebam que existe um Centro Nacional de Defesa e um Movimento Nacional, ambos de “população em situação de rua”. O que pergunta o meu coração, como naquele poema de Drummond, é por que gente assim teve a expertise necessária para fundar movimentos nacionais, mas não para, afinal, sair da rua! É claro que o verdadeiro pobre, o verdadeiro desgraçado que não tem teto, este não está organizado em movimento nenhum.

A carta
Pois bem. Essa gente mandou uma carta ao governador, opondo-se à internação involuntária, afirmando preciosidades como as que se leem abaixo em vermelho. Comento em azul:

4.- Nós, enquanto entidades e  movimentos que atuam na defesa dos Direitos Humanos desta População, trazemos ao Exmo. Governador nosso total desacordo com tal operação, tendo em vista que as pessoas a serem “…encarceradas…” serão em sua grande maioria População em Situação de Rua, que não precisam de internação, mas sim de implementação de políticas eficazes garantidoras de direitos como saúde, moradia, trabalho, apoio familiar, dentre outras.

Como garantir saúde, moradia e trabalho a quem já rompeu todos os vínculos com a realidade, inclusive os familiares, e não vive senão para alimentar o próprio vício?

6.- Destacamos ainda o Princípio da legalidade da lei maior: O art. 5°, inciso II da CF/88 garante: “ninguém poderá ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei”. Deste modo, a privação de liberdade sem motivo justificável e sem autorização judicial, sem a anuência ou vontade própria afronta o princípio da legalidade e configura violação ao direito a liberdade de ir e vir.

A internação, como é público e notório, se dá com autorização judicial e acompanhamento do Ministério Público e da OAB. Mais: a internação involuntária e a compulsória já estão previstas na Lei 10.216, de 2001, no Artigo 6º, Incisos I e II. A saber:
Art. 6º A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos. Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica:
I – internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário;
II -internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e
III – internação compulsória: aquela determinada pela Justiça.

Logo, o Artigo V da Constituição está sendo seguido à risca por São Paulo, e a gritaria dos sedizentes representantes da “população em situação de rua” não se justifica. Agora veja o que pede a tal carta:

b) Que seja criado um grupo multidisciplinar, com a presença de profissionais de áreas afins ao uso de entorpecentes, e principalmente com a presença das entidades e movimentos que esta subscreve, sobretudo, o núcleo do Centro Nacional de Defesa de Direitos Humanos da População em Situação de Rua de São Paulo que, conjuntamente com o Centro Nacional, atuam como legítimos defensores dos direitos da população em situação de rua, principais atingidos por tais operações.

Até parece que a “população em situação de rua” elegeu esses valentes em pleito livre e direto. Com que autoridade ou legitimidade estes senhores se dizem “representantes” de todas as pessoas que moram na rua e reivindicam participar da definição de uma política pública? São, quando muito, porta-vozes dos próprios preconceitos e da própria ignorância.

Um movimento ligado a moradores de rua só faz sentido se for para… tirar as pessoas da rua. Nos tempos em que a UNE ao menos não era pelega e não usava dinheiro público para comprar cachaça, o CPC levava ao palco peças de teatro que cantavam coisas como “feio não é bonito/ o morro existe,/ mas pede para se acabar”.

Hoje em dia, o feio virou bonito. Alguns padrecos e os sindicalistas dos “moradores em situação de rua” transformaram os miseráveis numa clientela.

É a soma do Movimento Antimanicomial com a Teologia da Crueldade.

Texto publicado originalmente às 5h22

Por Reinaldo Azevedo

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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