Índios, os nossos bons selvagens, loteiam e alugam áreas de reserva para madeireiros

Publicado em 26/01/2013 06:36 e atualizado em 17/05/2013 15:43
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

Índios, os nossos bons selvagens, loteiam e alugam áreas de reserva para madeireiros

É… Ninguém produz bons selvagens como nós. E ninguém também lhe reserva tanta terra — “Era tudo deles, seu fascista!” Sim, claro!, eu sei… Somos invasores. O nosso lugar é a Europa, a África e até a Ásia. As reservas indígenas ocupam quase 14% do território brasileiro. Há ongueiros que querem elevar para perto de 20%. No mais das vezes, os índios não produzem uma mandioca pra chamar de sua.

Pois bem. Leiam o que informam Aguirre Talento e Felipe Luchete, na Folha. Volto depois.
Índios da Amazônia têm loteado e “alugado” terras para madeireiros desmatarem e retirarem madeira de forma ilegal -e a preços módicos. A Folha identificou casos em ao menos 15 áreas indígenas (no Amazonas, Pará, Maranhão, Mato Grosso e Rondônia), com base em investigações da Polícia Federal, Ministério Público e relatos de servidores da Funai (Fundação Nacional do Índio).  Nas transações, madeireiros pagam R$ 15 pelo m³ da madeira, depois revendida por preços na casa dos R$ 1.000, de acordo com a PF.

Além de pagamento em dinheiro, os índios também aceitam aparelhos eletrônicos, bebidas ou até mesmo prostitutas, conforme relatos de funcionários da Funai. A madeira ganha aspecto de legalidade pelo uso de planos de manejo aprovados legalmente para outras áreas. Chega assim ao mercado. Fora da Amazônia, a prática é menos comum, por haver menos madeira disponível com interesse comercial.

As terras indígenas representam 21,2% da Amazônia Legal. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais apontam que o desmatamento ainda não chegou a grandes proporções nessas áreas — atingiu até agora 1,29%. Além da madeira, também existem investigações sobre o envolvimento de índios na extração de minério.

Sem controle
Na terra indígena Anambé, em Moju, no Pará (a 266 km de Belém), relatório da Funai diz que os índios, após alugarem parte do território a madeireiros, acabaram perdendo o controle sobre a área. O posto da fundação que ficava no local foi abandonado após um funcionário ter sido ameaçado por madeireiros. 
(…)

Voltei
Escrevi ontem sobre as causas “nobres” que estão em curso, que seriam “boas em si” (segundo certa militância), mas que produzem o contrário do que pretendem. É o caso das reservas indígenas. A cada nova demarcação, dadas a forma como se fazem as coisas e a falta de estrutura de vigilância, um pedaço do país se aparta do estado de direito.

A maioria dos índios é pobre e vive da caridade da Funai. Recebe, inclusive, cesta básica.  Na quase totalidade desses 14% do território brasileiro, inexiste atividade econômica formal e organizada. A reserva indígena é o paraíso dos madeireiros clandestinos e do garimpo ilegal. Os ongueiros que querem “salvar” o Brasil e seus nativos entregam, literalmente, o ouro para os bandidos.

Por Reinaldo Azevedo


Os amores e os ódios de dom Balduino, este estranho “homem de Deus”

Há dois dias escrevi aqui sobre as maluquices de dois padres — Júlio Lancelotti e um outro aí — que decidiram se opor à internação involuntária de viciados em São Paulo, embora o programa, que cumpre previsão legal, esteja cercado de todos os cuidados técnicos e garantias democráticas. Por que os dois fazem isso? Porque têm, vamos dizer assim, ideias na cabeça que passam muito longe dos fundamentos do catolicismo e da outra Constituição que deveriam seguir: os fundamentos no Novo Testamento.

No dia 23, a Folha publicou um artigo assinado por Dom Tomás Balduino, 90 anos (se escrito por ele, isso já não sei), que é nada menos do que um libelo contra a senadora Kátia Abreu (PSD-TO). Vamos ver. Divergir desse ou daquele é parte do jogo democrático. O ataque gratuito, saído do nada, apelando a calúnias já desmoralizada pelos fatos e pela Justiça, bem, isso é outra coisa. A senadora, presidente da Confederação Nacional da Agricultura do Brasil (CNA), não foi atacada por dom Balduino por ter feito isso ou aquilo, mas por ser quem é: líder de um setor da economia — o único da área produtiva que exibe números realmente virtuosos. E sem ter o BNDES como babá.

Dom Tomás é bispo emérito de Goiás e “conselheiro permanente da Comissão Pastoral da Terra”, de que já foi presidente. As “pastorais” são o que já chamei aqui de “herança maldita da Escatologia da Libertação”. Na sua militância, substituem os fundamentos do cristianismo — e, particularmente, do catolicismo — pela velha e boa (para os militantes) luta de classes. Poucos setores demonizam tanto o a produção rural, por exemplo, como essa ala da Igreja. Padres e bispos católicos deveriam ter como mandamento “dar pão a quem tem fome”. Fazem, nesse caso, o contrário: preferem a fome desde que ela esteja de acordo com o que acham ser “justiça”.

Dom Balduino, com o seu entendimento muito particular do que seja justiça, já foi tema deste blog muitas vezes. Em 2009, confesso, ele consegue deixar chocadoaté este blogueiro, que espera as piores coisas desse setor da Igreja. O noticiário internacional dava conta da penca de filhos que o então presidente do Paraguai, Fernando Lugo, havia tido na clandestinidade, quando era nada menos do que bispo — filhos que, evidentemente, não haviam sido reconhecidos. Dom Balduino não hesitou: trocou a Teologia da Libertação pela Teologia da Inseminação e emprestou seu total apoio ao “amigo”. Mais: acusou uma conspiração contra o Lugo e ainda acusou a mídia, claro!!! Deu a impressão de que os inimigos de Lugo o forçaram a se deitar com parcela significativa da população feminina do Paraguai. No trecho mais impressionante da carta, Dom Balduino exaltou a quebra dos votos de castidade do outro e sua prolífica militância. Assim: “Continue assim, caro Irmão, coerente com a inspiração evangélica, ao testemunhar, com clarividência e humanidade, o inestimável valor do relacionamento entre o homem e a mulher”.

Ainda que padre transando com mulher não seja a pior notícia que pode ter a Igreja, é evidente que a carta de dom Tomás é pura delinquência teológica e política.

O que isso tem a ver?
Aí alguns mais inocentes poderiam perguntar: “O que isso tem a ver com o caso de agora, Reinaldo?”. Tudo! Dom Balduino é do tipo que santifica os seus amigos, pouco importando as transgressões que tenham praticado (ele as transforma, como se vê, em virtudes), e que demoniza aqueles que considera adversários, pouco importando se têm ou não virtudes. E isso está demonstrado por sua trajetória e militância.

As acusações
O artigo de Balduino está ancorado num texto publicado pela notória Carta Capital, com o apreço e o amor à verdade que há por lá. Acusa Kátia Abreu de ter expulsado um agricultor de sua terra e de ter se apropriado de área pública. Os documentos que existem a respeito do caso desmentem uma coisa e também outra — tudo submetido ao crivo da Justiça.

Balduino afirma ainda outras barbaridades sobre assunto que conhecemos bem, os que somos deste blog. Quando o Supremo tomou a decisão sobre Raposa Serra do Sol — decisão lastimável no mérito (e nós estávamos certos; só cresceu miséria por lá ) —, estabeleceu 20 condicionantes para aquela área e para a demarcação de futuras terras indígenas. O bispo, com um desapreço pela verdade só superado pelas ignomínias que disse no elogio a Lugo, atribui tal decisão a Kátia Abreu. É mesmo um troço espantoso!

Estudiosos tentam entender as razões do declínio da Igreja Católica no Brasil — e está em declínio, é inútil negar. Deriva, não tenho dúvida, entre outras causas, do fato de que muitos religiosos passaram a ignorar o dogma da Cruz em favor do da luta de classes. O pior é que acabam com um entendimento prejudicado das duas coisas. Os marxistas originais, vá lá, achavam que era preciso superar o capitalismo para chegar ao socialismo — e àquilo que entendiam ser o bem-estar coletivo. O comunismo dos padres é coisa mais primitiva mesmo. Eles parecem ter uma atração fatal pela socialização da miséria. A exemplo daquela turma da Alana, eles também não gostam do… consumismo… É o caso de Lancelotti. Esse homem não pode ver um miserável que logo cai de joelhos.

Leiam a resposta que Kátia Abreu deu a dom Balduino, também na Folha:

Li, com surpresa, nesta Folha, um texto rancoroso e eivado de fúria acusatória e caluniosa (“Apreensão no campo” ), assinado pelo bispo emérito de Goiás Velho, dom Tomás Balduino, atribuindo-me pecados que não cometi.

Como católica praticante, jamais imaginei um dia polemizar com um representante da mais alta hierarquia da fé que professo. Mas a fé que professo não parece ser a mesma que a dele. As palavras que me dirigiu não foram de um cristão.

Minha fé não é a do ódio revolucionário, que incita o conflito e trata como pecadores os que dele divergem ideologicamente. É a fé que o papa Bento 16, em seu livro “Jesus de Nazaré, da Entrada em Jerusalém à Ressurreição”, proclama como sendo a da paz.

“A violência”, diz o papa, “não instaura o Reino de Deus, o Reino da Humanidade. É, ao contrário, instrumento preferido do Anticristo. Mesmo com motivação religiosa idealista, ela não serve à humanidade, mas à inumanidade”.

Não há mistura mais letal que a da política com a religião. O fundamentalismo é, em si, antirreligioso. Os católicos da Irlanda, em nome de sua fé –que seguramente não é a de Cristo–, usaram o terrorismo e o sangue de inocentes como arma política, em nome de Alguém que resumiu sua doutrina numa frase: “Amai-vos uns aos outros”.

Minha mais remota lembrança de dom Tomás é diametralmente oposta ao espírito de seu artigo. Remonta a um tempo anterior à criação do meu Tocantins, então integrado a Goiás.

Ele, ainda padre, ensinava, num Sermão das Sete Palavras, na Sexta-Feira da Paixão, que Jesus, ao pedir ao Pai que perdoasse seus algozes, “pois não sabiam o que faziam”, mostrava a importância de interceder não só pelos amigos, mas sobretudo pelos inimigos.

Ao que parece, algo mudou na transição de padre Tomás para o bispo dom Balduino. Invoco, pois, o espírito cristão do padre para responder ao bispo, com absoluta serenidade, as imputações que me faz –a mim e a meus irmãos Luiz Alfredo e André Luiz. Mesmo perdoando-o desde já, cumpro o dever de desmenti-lo.

Não é verdade, dom Balduino, que tenha perseguido, despejado e feito perseguir “por 15 policiais armados” um pequeno agricultor em Campos Lindos, Tocantins. Tratava-se do grileiro Juarez Vieira, cuja crônica de violências e maldades qualquer morador da região atestará. Obtive na Justiça reintegração de posse de terra de minha propriedade legítima.

Não é verdade também que a tenha recebido de “mão beijada”. Adquiri-a em moeda corrente e a preço justo, como os demais fazendeiros. Era área inóspita e desabitada; hoje, é a internacionalmente conhecida região do Mapito, referência de produtividade em soja, milho e algodão, com infraestrutura bancada pelos produtores pioneiros.

Outra injúria atinge meus dois irmãos. O bispo acusa Luiz Alfredo de grilagem e André Luiz, de promover trabalho escravo. Mas Alfredo adquiriu com recursos próprios as terras que possui, devidamente documentadas. E André jamais foi proprietário da fazenda citada pelo bispo.

Apenas alugou dois tratores, sem os tratoristas, para o proprietário, nada tendo a ver com as denúncias, que não o envolveram. É, inclusive, funcionário do Ministério Público do Trabalho, onde jamais foi questionado.

Esclareço também que não sou responsável pela decisão da Advocacia-Geral da União de estender as condicionantes da demarcação de Raposa Serra do Sol às demais terras indígenas. Foi o Supremo Tribunal Federal que assim o determinou.

Sem seu grau de santidade e sabedoria, não lhe devolvo as insolências. E se for o caso de terminar com uma citação, tomo, com respeito, a palavra do Senhor, no Antigo Testamento: “Não darás falso testemunho contra o teu próximo” (Êxodo, 20, 16).

Por Reinaldo Azevedo

 

Tragédia.

O país parou para acompanhar detalhes de uma das maiores tragédias de sua história. Duzentos e trinta e um moços e moças saíram de casa para se divertir na noite de sábado e jamais voltarão. Morreram queimados ou asfixiados — a grande maioria — na boate Kiss, na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Ficamos, especialmente os pais de adolescentes e jovens, paralisados de medo, de apreensão, de terror. Qualquer morte nos diminui. A de um ente querido nos destroça. A de um filho, então, subverte aquele que é o nosso mais duro aprendizado: morrer um pouco por dia para que sobreviva a nossa descendência. Em “Cântico do Calvário”, escrito justamente em memória de um filho morto, Fagundes Varela pôs nos justos termos:

“Eras na vida a pomba predileta 
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. — Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.”

Penso na dor dessas mães e desses pais e rezo para que encontrem algum conforto. Lembro-me de ter me irritado certa feita com a minha mãe por causa de seu excesso de preocupação, ainda que estivéssemos a centenas de quilômetros de distância: “Pô, eu sei o que faço; já tenho mais de trinta anos”. E ouvi do outro lado: “E continua meu filho; filho não tem idade para mãe e para pai”. Hoje sou eu que ouço: “Pai, eu já tenho 18, já tenho 16…”. Filhos não têm idade. As nossas crianças têm de voltar para que possamos fechar a porta, deixando do lado de fora as tormentas.

Mas a nossa dor também tem de saber exercitar a devida ira. Com a conivência de muitos, a Kiss não era uma boate, mas uma armadilha. Parece evidente que muitos milhares se arriscaram antes a morrer nas suas dependências. Faltava apenas o casamento do fortuito com o inexorável. As imprudências meticulosa e metodicamente praticadas careciam do elemento incidental, da estupidez que serve de estopim, do gesto tolo, irrelevante, que provoca a reação em cadeia e resulta na tragédia.

Na madrugada de sábado para domingo, ele veio na forma de um sinalizador, uma espécie de fogos de artifício, usado pela banda. Uma fagulha atingiu o teto de papelão e material de proteção acústica, altamente inflamáveis. Em segundos, o fogo se espalhou pelo teto. Estima-se que 90% das vítimas fatais tenham morrido asfixiadas pela fumaça, não queimadas. Talvez duas portas de emergência, destravadas, tivessem bastado para evitar a tragédia.

O Plano de Prevenção de Combate a Incêndio tinha vencido em agosto do ano passado e não havia sido renovado, informa o comandante-geral do Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul, coronel Guido Pedroso de Melo. É, sim, uma informação relevante, que parece indicar que a casa não primava exatamente pelo respeito às regras. Mas essa informação pode contribuir para omitir outra, que me parece ainda mais importante: quer dizer que, até agosto de 2012, o Corpo de Bombeiros julgava que tudo ia bem num imóvel que abriga duas mil pessoas e tem uma única porta. Ela não só servia à entrada e à saída dos frequentadores como era obstruída por uma espécie de biombo, que impedia os seguranças de ver o que se passava lá dentro, razão por que, por alguns poucos minutos, eles tentaram impedir a fuga dos jovens, supondo que queriam sair sem pagar a conta.

O incêndio causou um curto-circuito e deixou a moçada no escuro, em meio à fumaça. Não havia luzes de emergência, acionadas automaticamente quando há o corte do fornecimento de energia elétrica. Um extintor também não teria funcionado. A boate Kiss não poderia, naquelas condições, estar funcionando. E não era um empreendimento pequeno, que tivesse existência clandestina. Talvez fosse a maior casa do gênero em Santa Maria, uma cidade de porte médio, com 230 mil habitantes, mas com vida noturna agitada em razão da universidade federal, que atrai jovens do Brasil inteiro. A festa de sábado tinha sido organizada por alunos do primeiro ano dos cursos de de Tecnologia de Alimentos, Agronomia, Medicina Veterinária, Zootecnia, Tecnologia em Agronegócio e Pedagogia.

Estupidez
Não, senhores! Essa não é uma tragédia fabricada pelo acaso. Ela é obra de uma cadeia de descasos. Uma casa dessas dimensões tem de ter, por exemplo, uma brigada civil de combate a incêndios. A ela caberia dizer à tal banda “Gurizada Fandangueira” que o ambiente era impróprio para o uso de fogos de artifício.

Que se apurem as responsabilidades. Não sou polícia técnica nem perito. Mas há elementos de sobra para concluir que a “fatalidade” que resultou na morte de 231 jovens foi construída. Eles foram mortos pela estupidez, não pelo destino.

PS – Por mais que fique constrangido e até envergonhado de escrever isto num texto dessa natureza, é inevitável. Vamos lá. Dilma Rousseff fez bem ao interromper a sua viagem e se deslocar para Santa Maria. É a presidente de todos os brasileiros, e uma grande tragédia aconteceu por lá. Goste-se ou não disso, representa todos os brasileiros. A presidente chorou, e acho que estava sendo sincera. Dispensável, porque tem o cheiro inevitável da exploração política, é a nota de Lula e sua mulher, Marisa. Ele não exerce mais cargo público. E não se espera que cada político se manifeste a respeito. Dilma está investida do cargo mais importante da República. Ele, embora não se dê conta disso, não. É só mais uma evidência de que não tem mesmo limites.

Texto publicado originalmente às 4h42

Por Reinaldo Azevedo


A histeria anti-Serra e anti-Alckmin de setores da imprensa paulistana já beira o patético

Existe um clima anti-Serra e anti-Alckmin em setores da imprensa paulistana que beira a histeria. A gente sabe quem foi o beneficiário dessa história na eleição do ano passado. O objetivo agora é colar a pecha de “velharia” no governador de São Paulo. O curioso é que os critérios empregados para criticar os tucanos parecem não valer para os petistas. Na Folha de hoje, Ricardo Mendonça escreve um texto espantoso. Segue em vermelho. Comento em azul.

Oligopólio tucano
Desde o ano 2000, antes de Lula chegar à Presidência, portanto, os únicos dois nomes que o PSDB oferece aos paulistanos em qualquer eleição para prefeito, governador ou presidente da República são José Serra e Geraldo Alckmin.
O atual governador de São Paulo foi candidato a prefeito na capital em 2000 e 2008. Serra disputou a prefeitura em 2004 e 2012. Antes, já havia tentado em 1988 e 1996. Repare: só eleitores paulistanos com mais de 37 anos de idade tiveram a chance de votar num tucano que não fosse Serra ou Alckmin para prefeito. Foi na longínqua candidatura do hoje verde Fabio Feldmann em 1992, lembra?

***A, digamos, tese de Ricardo Mendonça não é dele, mas de Humberto Dantas, cientista político do Insper. Já desmontei essa história aqui. O professor destacava, então, que o trio Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra disputou, desde 1988, quando se formou o PSDB, 12 das 13 eleições havidas em São Paulo (considerando cidade e estado) — a exceção foi Fábio Feldman, que concorreu à Prefeitura em 1992. O partido venceu seis. E no PT? Nesse período, Eduardo Suplicy disputou duas eleições majoritárias; perdeu as duas (era a sua terceira…); Luiza Erundina disputou duas, perdeu uma. Marta disputou três; perdeu duas; Mercadante disputou duas — não conseguiu. Só aí já se contaram 9 das 13 eleições. De resto, como o critério de comparação é o PT, por honestidade metodológica, Dantas deveria ter analisado o índice de renovação do PT também desde a origem do partido. Cairia ainda mais.

É tão alto assim esse índice no petismo? As únicas exceções no repeteco, de 1988 até 2012, foram Plínio de Arruda Sampaio (1990), José Dirceu (1994) e José Genoino (2002) na disputa pelo governo do Estado. Exceção feita a este último, os outros eram quase anticandidatos. Pura falta de opção. Em 2012, o partido emplacou Fernando Haddad. Esse debate é espantoso! O pior é que alguns tucanos o levam a sério. Mais estúpido ainda: muitos deles ficam plantando essas bobagens na imprensa e ainda se acham muito sagazes…

Nas eleições para o Planalto ou para o Bandeirantes, a situação é parecida. Em 2002, Serra saiu para presidente, Alckmin para governador. Em 2006, inverteram: Alckmin para presidente, Serra para governador. Em 2010, desinverteram: Serra novamente para presidente, Alckmin novamente para governador.
Desde 1989, os “dois únicos” nomes que o PT ofereceu para a disputar a Presidência da República foram Lula e Dilma. Ele foi candidato em cinco eleições seguidas, um recorde. Ela disputará a reeleição. Assim, em 2014, apenas dois nomes petistas terão sido candidatos ao longo de… 25 anos!!!

Petistas que tinham 18 anos em 1989 chegarão aos 43, em 2014, tendo votado em Lula ou em Dilma. Atenção! Ele só não será candidato de novo daqui a dois anos porque a governanta bateu o pé. Como o PT é chegado a uma “novidade”, o Apedeuta já se autodeclarou coordenador político do governo! Reúne-se com Fernando Haddad e o secretariado na Prefeitura de São Paulo para estabelecer as diretrizes da gestão. Num seminário, chama o alto escalão de Dilma para dar algumas lições. Isso não parece preocupar Ricardo Mendonça. Não vê nada de velho nem de estranho.

Hoje acontece a abertura do congresso estadual do PSDB paulista. A expectativa é que Serra apareça e faça seu primeiro discurso após a eleição municipal de outubro. Os tucanos devem aproveitar para discutir estratégias para 2014. Qual é a grande articulação em curso?
Bingo. Dar um jeito para lançar Serra para presidente (a tática agora é falar em prévias ou primárias); e garantir as condições para a reeleição de Alckmin governador.

Duvido que haja o “lançamento” a que ele se refere. Mas ainda que aconteça, é faltar escandalosamente com a verdade afirmar que a “tática agora é falar em prévias ou primárias”. Como assim? “Agora”??? Serra já disputou prévias na eleição do ano passado. Teria havido a consulta em 2010 se Aécio não tivesse desistido.

Nem é justo dizer que o PSDB tem problemas para formar quadros competitivos. Depois do petista Fernando Haddad, o maior vencedor da eleição paulistana foi o neopeemedebista Gabriel Chalita, tucano até outro dia. O Rio de Janeiro reelegeu o prefeito com a segunda maior votação proporcional em capitais, Eduardo Paes, tucano até outro dia. Em Curitiba, a surpresa foi a vitória de Gustavo Fruet (PDT), tucano até outro dia.
Mendonça tentou ser irônico, mas só falou uma grande, uma escandalosa bobagem. O raciocínio faria algum sentido se esses políticos tivessem mudado só de partido, mas não de lado. E eles mudaram. Chalita deixou de ser tucano para ser socialista e é agora peemedebista. Paes jamais se elegeria prefeito no Rio no PSDB, ainda que tivesse conseguido tomar a máquina das mãos do grupo de Marcelo Alencar. Fruet encontrou em confronto com o governador Beto Richa, também por questões locais. O prefeito do Rio teve o apoio das máquinas estadual e federal. O de Curitiba foi eleito pela rejeição a Ratinho Jr.

Por que eles só conseguiram subir ao primeiro escalão da política após sair do PSDB? Poderia ser um tema para o congresso de hoje. Mas não é.
A resposta é simples: porque isso não tem a menor importância. O grau de renovação no PSDB não é menor do que nas duas grandes legendas: PT e PMDB — ou o analista vê um peemedebismo fervilhante com Renan Calheiros voltando à Presidência do Senado, apoiado por Michel Temer e José Sarney?

Ainda que Serra queira e eventualmente consiga ser o candidato do PSDB à Presidência, estaria disputando o cargo pela terceira vez — distante ainda das cinco de Lula, que perdeu três. Mas o petismo, nessa formulação, parece ser uma máquina de renovação. Se Aloizio Mercadante conseguir, como pretende, emplacar a sua candidatura ao governo de São Paulo em 2014, será a sua terceira jornada.

Desde já se tenta caracterizar a eventual reeleição de Alckmin como mais do mesmo, mero repeteco, buscando reproduzir, em escala estadual, a onda que elegeu Fernando Haddad. São os petistas trabalhando a massa…

A imprensa paulistana, com as exceções de praxe, vive mesmo um momento encantador. Sob seu silêncio cúmplice, Lula, que não foi eleito por ninguém, atua ora como prefeito de São Paulo, ora como chefe de estado — além de dar murro na mesa e decidir quem é e quem não é candidato. Prova de modernidade!!! Serra e Alckmin, no entanto, segundo entendi, deveriam se aposentar e não disputar mais eleições. Parece que eles não atendem ao particularíssimo senso de renovação de alguns analistas…

Por Reinaldo Azevedo

 

Drauzio Varella vai ao ponto: Contestação nos jornais da internação compulsória de viciados é “ridícula”, “ideologizada”, “vazia” e “cheia de jargões”

Escrevi já alguns textos sobre a internação compulsória de viciados em crack. Apontei a estupidez dos que criticam a medida e acusam de ferir a dignidade humana. Demonstrei que certas figuras carimbadas do pensamento “politicamente correto” — e estupidamente incorreto —, como o tal padre Júlio Lancelotti, estão é fazendo guerrinha ideológica. Mas eu, como sabem, sou apenas um jornalista. Leiam, então, trecho da entrevista concedida pelo médico Dráuzio Varella a Cláudia Collucci, na Folha:

*
Revoltado. É assim que o médico e colunista da Folha Drauzio Varella, 69, diz se sentir com a polêmica envolvendo a internação compulsória de dependentes de crack, adotada há uma semana pelo governo Alckmin. Cancerologista de formação e com profundo conhecimento em dependência química, Varella considera a discussão “ridícula”. “Que dignidade tem uma pessoa jogada na sarjeta? Pode ser que internação compulsória não seja a solução ideal, mas é um caminho que temos que percorrer. Se houver exagero, é questão de corrigir.” Ele defende que as grávidas da cracolândia também sejam internadas mesmo contra a vontade. “Eu, se tivesse uma filha grávida, jogada na sarjeta, nem que fosse com camisa de força tiraria ela de lá.”
(…)
Folha – Muito se discute sobre a ineficácia das internações compulsórias. Na opinião do sr., elas se justificam?
Drauzio Varella
- Não conhecemos bem a eficácia ou a ineficácia porque as experiências com internações compulsórias são pequenas no mundo. Mesmo as de outros países não servem para nós. O Brasil tem uma realidade diferente. Neste momento, temos uma quantidade inaceitável de usuários. E muitos chegando aos estágios finais. Estão nas ruas, nas sarjetas. O risco de morte é muito alto, e nós estamos permitindo isso.

Qual o tratamento ideal?
Depende da fase. Você tem usuários que usam dois ou três dias e param. Tem gente que usa um, dois dias, repete e nunca mais fica livre. E você tem os que chegam à fase final. A gente convive com essa realidade, e quando o Estado resolve criar um mecanismo para tirar essas pessoas da rua de qualquer maneira começa uma discussão política absurda. Começam a falar que essa medida não respeita a dignidade humana. Que dignidade tem uma pessoa na sarjeta daquela maneira? Está na hora de parar com essa discussão ridícula. Pode ser que internação compulsória não seja a solução ideal, mas é um caminho que temos que percorrer. Se houver exagero, é uma questão de corrigir. Vai haver erros, vai haver acertos. Temos que aprender nesse caminho porque ninguém tem a receita.

O debate está ideologizado?
Totalmente. É uma questão ideológica e não é hora para isso. Estamos numa epidemia, quanto mais tempo passa, mais gente morre. Sempre faço uma pergunta nessas conversas: ‘Se fosse sua filha naquela situação, você deixaria lá para não interferir no livre arbítrio dela?’ Eu, se tivesse uma filha grávida, jogada na sarjeta, nem que fosse com camisa de força tiraria ela de lá. Quando vemos essa discussão nos jornais, parece que estamos discutindo o direito do filho dos outros de continuar usando droga até morrer. É uma argumentação frágil, jargões vazios, de 50 anos atrás. Eu fico revoltado com essa discussão inútil.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Sob domínio do PMDB, Senado amplia gastos com pessoal em 57% em 10 anos

Por Daniel Bramatti, no Estadão:

José Sarney (AP), Renan Calheiros (AL) e Garibaldi Alves Filho (RN), os três peemedebistas que presidiram o Senado nos últimos dez anos, deixam como legado de suas gestões um aumento real de 57% nos gastos com pessoal e uma  ampliação de 741% no número de cargos comissionados, aqueles ocupados por servidores não concursados.

Sob o domínio do PMDB – partido que deve manter sua hegemonia no comando do Senado nos próximos dois anos, com a volta de Renan à presidência -, a instituição viveu ainda seu maior escândalo administrativo: a nomeação irregular de funcionários por meio de atos secretos, não publicados nos Boletins de Pessoal. O episódio ensejou inúmeras promessas não cumpridas de reformas administrativas.

A folha de pagamentos de pessoal consome anualmente R$ 2,88 bilhões. Há uma década, o custo era de pouco mais de R$ 1 bilhão – em valores corrigidos, a cifra chega a R$ 1,83 bilhão. Os números, publicados em boletim do Ministério do Planejamento, não incluem o pessoal terceirizado. A expansão salarial acima da inflação que ocorreu desde 2003 supera em quase 20 pontos porcentuais a verificada na Câmara dos Deputados (38%) no mesmo período. Também é maior que a do governo federal (45%).

Somados os efetivos e comissionados, o Senado tinha, no final de 2012, 6.427 pessoas em sua folha de servidores ativos – no início de 2003, eram 3.955 (aumento de 62% desde então). Os não concursados somavam apenas 379 há 10 anos, e hoje são 3.194. Segundo a assessoria de imprensa do Senado, esse crescimento se deve a dois fatores: possibilidade de desmembramento de um único cargo em vários, desde que mantido o salário total pago, e criação de novas lideranças de blocos e de partidos.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Rio: Cabral e Beltrame já pacificaram bandidos o bastante; chegou a hora de prendê-los, excelências! Ou: Imaginem o quiproquó se isto tivesse acontecido em SP…

A VEJA desta semana traz uma reportagem espantosa sobre a crime organizado no Rio. Na VEJA.com, há uma vídeo de assustar. Antes que trate dos detalhes, algumas considerações importantes.

Entre todas as opiniões que já emiti neste blog em seis anos e meio, a mais estupidamente incompreendida e distorcida é o que penso sobre as tais UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) do Rio. Não raro, respondem ao que não escrevi para que possam ignorar o que escrevi. Alguns tolos insistem em me acusar de ser contra as ditas-cujas. É uma mentira e uma vigarice. É claro que elas são necessárias. Até porque a UPP nada mais é do que o policiamento comunitário. Reagi a alguns estúpidos, inclusive do governo federal, que sustentaram que São Paulo precisava copiar o modelo do Rio. Trata-se de uma tolice e de uma fraude política. O que o governo Cabral fez foi levar um pouco de segurança a locais onde os policiais não pisavam porque não podiam. Inexistem áreas assim em São Paulo. A polícia chega aonde quiser. Então, meus caros, atenção para a primeira e relevante questão sobre as UPPs: 1) ELAS PODEM SER UMA NOVIDADE EM VÁRIAS ÁREAS DO RIO, MAS NÃO SÃO UMA INOVAÇÃO. Absurdo é haver territórios na cidade onde a polícia não entra. Fiquem agora com a segunda questão relevante: 2) a maior parte da área dominada pelos tráfico quando Cabral chegou ao poder continua… dominada pelo tráfico! A UPP é a exceção, não a regra. Ainda há extensões imensas da capital fluminense e cidades adjacentes imunes ao estado de direito. Sigamos.

Não gosto, é certo, do nome “Unidade de Polícia Pacificadora” porque revela má consciência. A “paz”, por óbvio, é um vocabulário que pertence à guerra e, pois, à noção de que existe uma contenda entre dois ou mais litigantes legítimos que decidiram abrir mão de algumas de suas exigências. Os policias que chegam ao morro foram “pacificar” quem exatamente? Por certo, não se está falando da população local. Polícia que “pacifica” bandido se torna cúmplice dele. Sim, aqui vai a minha 3) terceira questão relevante sobre as UPPs de Cabral: transformar os bandidos numa espécie de força beligerante legítima.

Notem bem: não estou acusando os policiais dessas unidades de serem, em regra, coniventes com o crime por determinação pessoal — há casos, mas prefiro pensar que sejam exceções. Estou, isto sim, afirmando que há uma política de segurança pública, comandada por José Mariano Beltrame — transformando em Demiurgo pela imprensa mistificadora —, que, sob o pretexto da “pacificação”, evita o confronto com os marginais. E aqui está a minha 4) quarta objeção relevante não precisamente às UPPs, mas a essa política: ao evitar o choque com os bandidos, a Polícia do Rio também não os prende — há um caso ou outro que servem ao espetáculo. Os bandidos mais perigosos deixaram as áreas ditas “ocupadas” e se mandaram para as zonas que continuam “liberadas” — e elas ainda são a maioria.

Ora, cabe uma pergunta óbvia a esta altura: qual é a relação de causa e efeito entre a chegada das UPPs e essa política que chamo de “espalha-bandido”? Resposta: nenhuma! Até hoje ninguém conseguiu me explicar por que o policiamento comunitário não pode chegar com a efetiva prisão dos vagabundos que estavam dando as ordens no terreiro. Cabral não tem resposta para isso. Beltrame não tem resposta para isso. A imprensa adoradora de mitos não tem resposta para isso.

Os arquivos estão aí. O que venho afirmando desde que teve início essa política é que a sua consequência óbvia seria provocar a migração da bandidagem mais barra-pesada, especialmente os chefões do tráfico. Que se note: em todas as áreas em que há UPPs, a venda de drogas opera normalmente, sem dificuldades — e agora sem risco de invasão  de facções inimigas ou das milícias. Acabou, no entanto, aquele desfile acintoso de armas. A presença da polícia força o crime a ser mais discreto. É claro que já é um ganho. Só isso já justificaria a medida — que, insisto, é a regra. São raros os territórios do país realmente dominados pelo crime, como essas áreas do Rio.

A reportagem
A VEJA desta semana traz uma reportagem espantosa de Leslie Leitão — um repórter que certamente torce pela paz no Rio, sem, no entanto, perder a objetividade. Bandidos que Beltrame não prendeu nas favelas ditas “pacificadas” foram parar, entre outros destinos, no Complexo do Lins, hoje um dos QGs do narcotráfico. Um vídeo (clique aqui) traz o desfile do exército de  Paulo César Souza dos Santos, 41 anos, o “Paulinho Muleta”. À luz do dia, exibem fuzis, pistolas e munição pesada.

Até o fim do ano, consta, uma UPP chegará também ao Complexo do Lins. Tudo será feito conforme o decoro que tanto encanta os “amigos da paz”. Cabral e Beltrame anunciarão a data da “ocupação”. Paulinho Muleta e seus seguidores terão tempo se escafeder e de se aboletar em uma das quase 1200 favelas (deve-se falar “comunidades”, na linguagem político-cariocamente correta) aonde a Polícia ainda não chegou. Digamos que essa política se universalizasse e se estendesse a todo o estado… Bem, num raciocínio puramente lógico, deve-se inferir que o Rio passaria a ser exportador de bandidos…

Não! Eu não sou contra as UPPs. UPPs nada mais são do que o velho e bom policiamento comunitário. Não! Eu não acho que uma polícia deva ser pacificadora de bandidos. Sou daqueles que acreditam que ela tem de prender bandidos. Não! O Rio não é modelo se segurança pública para ninguém — ainda que conseguisse levar essas unidades a todas as favelas, o que não vai acontecer porque não há contingente pra isso. E, convenham, se o que se viu por lá tivesse ocorrido em São Paulo, os “especialistas” inundariam os jornais e sites para denunciar uma segurança pública está fora do controle. “Isso é chute, Reinaldo! Como você sabe o que diriam?” Com base na lógica! Mata-se no Rio mais do que o dobro do que se mata em São Paulo. Mas se diz por aí que Alckmin tem muito a aprender com Sérgio Cabral. Talvez na área de marketing…

Sim, eu torço por uma UPP no Complexo do Lins. E torço ainda mais para que Beltrame, este santo, comece a prender bandidos. Segue o texto de Leslie Leitão. Volto para encerrar.
*

O Complexo do Lins, um conjunto de onze favelas encravado na banda mais pobre da Zona Norte carioca, está sob o domínio da bandidagem há quatro décadas. Até recentemente, cumpria papel apenas secundário na organização da principal facção criminosa do Rio de Janeiro, o Comando Vermelho. Mas os tempos agora são outros – e ainda mais nefastos. Um vídeo gravado no início do mês pela polícia e obtido com exclusividade por VEJA mostra que o lugar se converteu em um grande bunker do tráfico, servindo de abrigo a marginais refugiados de vários morros do Rio. Eles se bandearam para o Complexo do Lins justamente depois que o estado fincou em seus enclaves bases permanentes – as chamadas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) -, dificultando suas atividades. Preferiram assim se encastelar em um naco da cidade onde os bandidos é que dão as ordens.

As cenas trazidas a público espantam pela naturalidade com que a quadrilha perambula pelas vielas do novo QG do crime à luz do dia, promovendo um desfile de pistolas, granadas e fuzis, e espalhando o terror por onde passa. No vídeo, de cinco minutos e quarenta segundos, um dos bandidos ainda deixa entrever em um saco de lixo papelotes de cocaína, evidência inconteste de que as atividades da gangue só mudaram mesmo de endereço. Em outro trecho, o comboio armado cruza com um morador da favela, que não desgruda os olhos de uma pipa, obedecendo com disciplina à regra elementar da convivência com os criminosos: jamais encará-los. A cena, segundo a polícia, mostra a escolta de um dos chefões do tráfico na cidade, Paulo César Souza dos Santos, 41 anos, o PL, também conhecido como Paulinho Muleta, por ser manco da perna esquerda. Foragido desde 2009, esse marginal alastrou seu raio de poder por sete morros, entre a Zona Norte e a Baixada Fluminense. Mesmo longe de sua favela de origem, o Morro da Formiga (ocupado pela polícia em 2010), Muleta continua na ativa, agora reinando no Complexo do Lins, como revela de forma inequívoca o vídeo obtido por VEJA.

As imagens foram captadas a distância pelo Serviço Reservado do Batalhão de Choque da Polícia Militar e chegaram às mãos da Secretaria Estadual de Segurança, que determinou a instauração de um inquérito na delegacia da região. Nas últimas semanas, o Complexo do Lins foi palco de uma dezena de operações policiais – uma delas logo depois do Natal, quando uma menina de 10 anos foi atingida na cabeça por uma bala perdida e acabou morrendo no hospital por falta de atendimento médico. Nenhuma dessas ações recentes, no entanto, pôs um ponto final na farra da bandidagem. A geografia da área é um grande obstáculo, com seu emaranhado de becos e vielas e uma infinidade de acessos que se descortinam por matagais que só os bandidos conhecem como a palma da mão. A polícia está convicta de que muitas outras quadrilhas egressas de favelas com UPPs estão entocadas ali. “Essas imagens são apenas a ponta do iceberg. Sabemos que há um enxame de bandidos refugiado naquele complexo de favelas”, afirma um inspetor da 26ª DP, envolvido nas investigações.

O governo do estado já inaugurou trinta UPPs desde 2008. Se o cronograma for seguido à risca, as favelas do Lins também serão ocupadas pela polícia até o fim do ano. É boa notícia. A retomada de territórios do tráfico vem cumprindo o essencial papel de levar serviços básicos a cidadãos de bem que viviam à margem do poder público. Mas o atual vídeo deixa claro que essa é apenas uma de muitas etapas a ser percorridas. A estratégia oficial de não manter segredo sobre as ocupações, com o objetivo de reduzir os riscos de confrontos sangrentos, produz como efeito colateral a fuga maciça de traficantes que escapam com seus arsenais. “É preciso investir mais pesadamente na área de inteligência para rastrear os esconderijos dos traficantes, minar seu poderio bélico e capturá-los”, enfatiza o antropólogo e especialista em segurança Paulo Storani. Sem o cerco implacável à bandidagem, os cartões-postais do crime só vão mudar de cenário.

Encerro
Cabral e Beltrame já pacificaram bandidos o bastante; chegou a hora de prendê-los, ainda que também eles se deixem contaminar pelo barquinho que vai e pela tardinha que cai.

Por Reinaldo Azevedo


E continua a saga do Supercoxinha. Mais um desenho

Vocês já sabem quem é o Supercoxinha. Eu o caracterizei  aqui

Trata-se do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), mitificado — e mistificado — por setores da imprensa paulistana. Na sexta, Dilma veio a São Paulo e anunciou a liberação de recursos para projetos que já estavam em curso e que previam mesmo aporte federal. A menos que rompesse o acordo, o Planalto teria liberado a grana, pouco importando quem fosse o prefeito. Mas ficou parecendo uma conquista do Supercoxinha.

Ele também resolveu jogar no lixo o projeto de revitalização da Luz, região central da cidade, que havia contado com amplo debate e com o concurso de renomados especialistas. Tudo volta à estava zero. Outro, em seu lugar, teria apanhado. Mas ele foi elogiado por seus puxa-sacos na imprensa. Até os R$ 14,6 milhões gastos na fase de projetos e tal — não há nada de absurdo nisso, dada a dimensão da coisa — foram tratados como desperdício da gestão anterior. Não! Quem os jogou no lixo foi o Supercoxinha.

Pedi aos leitores desenhistas e caricaturistas que mandassem desenhos sobre esse novo super-herói do jornalismo paulistano. Em vinte e sete dias, já deu para saber que ele faz coisas boas e novas: as boas não são dele (como os projetos que vão receber dinheiro federal), e as novas, que são de sua lavra, não são boas, como a volta da revitalização do Centro à estaca zero.

Os desenhistas que quiserem mandar seus trabalhos devem arquivá-los em páginas como o flickr.com e o twitpic.com e me enviar os respectivos links. Já publiquei o desenho de Rubão. Abaixo, a contribuição de Renato, que é chargista do jornal “A Cidade”, de Ribeirão Preto.  Para ver outros desenhos do autor, clique aqui.

Por Reinaldo Azevedo

 

Um governo que nunca erra o caminho porque não sabe para onde vai – O caso dos aeroportos que já vão nascer fantasmas

Quem não sabe para onde vai nunca erra o caminho. É o caso do governo Dilma. Reportagem de Ana Clara Costa publicada na VEJA.com sobre o programa do governo para a construção e reforma de aeroportos regionais é impressionante. Corrijo-me: não é exatamente um “programa”. Está em curso um misto explosivo de voluntarismo, ignorância e irresponsabilidade com o dinheiro público.

Dilma decidiu sair construindo aeroportos por aí. A iniciativa envolve municípios e estados, que não foram ouvidos — um hábito na gestão da governanta. Pra quê? Nem a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) conseguiu dar um pitaco. Nos bastidores, gente do próprio governo aponta o despropósito, mas quem se atreve a contestar? Leiam a reportagem.

Em um país sério, qualquer plano de investimentos elaborado pela Presidência da República que envolva a participação de estados, municípios e empresas privadas é amplamente discutido e ajustado com as partes envolvidas, antes de ser divulgado. A sensatez nos gastos públicos dita que o dinheiro da população não pode ser despejado a rodo em obras de infraestrutura que correm o risco de se tornar inúteis. Mas não no Brasil. Exemplo de tal prática é o pacote de investimentos no setor aeroportuário anunciado pela presidente Dilma Rousseff pouco antes do Natal. O plano prevê o aporte de 7,3 bilhões de reais em recursos do Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac) para turbinar 270 aeroportos pequenos,  que servem cidades com população inferior a um milhão de habitantes. Um olhar mais detalhado sobre o projeto descortina erros e indícios de mau planejamento. Há cidades pequenas, com menos de 100 mil habitantes, que receberão recursos para reformar seus aeroportos – e que ficam separadas por distâncias inferiores a 50 quilômetros de outros municípios também beneficiados pelo pacote do governo.

A distância mínima sugerida entre dois aeroportos em áreas que possuem demanda média de passageiros é de 100 quilômetros, segundo normas da Comissão Europeia que são adotadas por grande parte dos países. Em locais de difícil acesso rodoviário, sem pavimento ou estradas, o regulamento europeu admite uma distância de 75 quilômetros. Porém, no plano elaborado pelo governo, municípios de pouca relevância econômica e próximos de metrópoles já servidas por grandes aeroportos passarão a ter aeródromos aptos à operação de voos regulares. A expectativa do Palácio do Planalto é de que a existência de um aeroporto seja suficiente para trazer desenvolvimento a regiões carentes de infraestrutura. “Efetuamos uma análise de cobertura territorial para mais de 94% da população brasileira. Fizemos consultas ao Ministério do Turismo, IBGE, governo e empresas aéreas. O objetivo é beneficiar a população”, afirmou o secretário-executivo da Secretaria de Aviação Civil (a SAC), Guilherme Ramalho.

Contudo, as coisas não ocorreram exatamente assim. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), órgão que regula o setor e dispõe de conhecimento técnico para abastecer a SAC, sequer participou da elaboração do plano. As companhias aéreas foram avisadas menos de uma semana antes da divulgação do pacote. Elas foram chamadas a Brasília para uma reunião com membros da Casa Civil, da SAC e, em alguns casos, até mesmo com a presença do secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin – que tem funcionado como uma espécie de “banqueiro” do Palácio do Planalto, financiando a maior parte dos pacotes de bondades da gestão petista. Durante a reunião, as empresas apenas ouviram dos interlocutores da presidente que haveria um pacote para estimular a aviação regional. Seus executivos não foram convidados a opinar, dar contribuições ou manifestar qualquer interesse nos destinos que seriam beneficiados pelo governo. “O governo não pré-define rotas. Vamos prover infraestrutura para que elas sejam criadas. O plano é fomentar voos para localidades ainda não atendidas”, afirmou Ramalho.

O governo sustenta a tese de que a descentralização da economia garantirá o sucesso dos aeroportos. A crença no fato de empresas migrarem dos grandes centros em direção a cidades médias em busca de mão de obra barata e menores custos é o argumento utilizado para explicar a escolha de cidades como Lages, em Santa Catarina, como destino de recursos do pacote. Com cerca de 160 mil habitantes, o município está a 32,8 quilômetros de distância de Correia Pinto – outro local que receberá dinheiro público para seu aeródromo. Correia Pinto tem 14 mil habitantes. “Essa tese do desenvolvimento regional é uma falácia. É como se o deslocamento dos investimentos para cidades de porte médio e pequeno fizesse com que os aeroportos, da noite para o dia, se tornassem estruturas essenciais”, afirma um interlocutor do governo que preferiu não ter seu nome citado.

O site de VEJA conversou com funcionários de órgãos envolvidos na elaboração do plano – e, mesmo dentro governo, poucas são as vozes que não têm restrições ao pacote. “Essas medidas ignoram aspectos técnicos. É como distribuir uma infinidade de impressoras sem a menor garantia de que haja cartuchos para que elas sejam usadas. É a ideologia que se sobrepõe à razão”, afirmou uma das fontes. O governo parece desconsiderar que, depois de prontos, tais aeroportos terão de ser geridos por prefeituras e estados – e poderão se converter em fardo, caso não sejam lucrativos. “A construção ou reforma de um aeroporto é o menor problema. O mais caro é a manutenção e a operação. Se o plano não prevê um aeroporto que se sustente, alguém tem de pagar essa conta”, afirma o consultor de aviação João Eduardo Tabalipa.

O governo de Minas Gerais, que desde 2003 executa seu próprio programa aeroportuário (o ProAero), destacou que alguns aeroportos contidos no pacote do governo federal já estão sendo ampliados ou reformados pelo estado – o que mostra o nível superficial de conversas entre as duas esferas na elaboração do plano. Há cerca de duas semanas, o governador Antonio Anastasia (PSDB-MG) anunciou mais 235 milhões de reais para o ProAero e ainda afirmou que tentará ajustar melhor a lista de aeroportos mineiros que constam no pacote. A ideia é direcionar os recursos liberados pelo Fnac para aeródromos que não estejam sendo reformados pelo programa estadual de investimentos.

O governo federal ainda não detalhou como tornará os aeroportos atrativos para as companhias aéreas nacionais. Afirmou, sem dar muitos detalhes, que subsidiará tarifas aeroportuárias e, até mesmo, assentos em voos, como forma de incentivá-las. João Eduardo Tabalipa se junta ao outros especialistas do setor que enxergam a medida como uma forma de protecionismo que poderá, em vez de beneficiar, dizimar as empresas de aviação. “Muitos acreditam que as companhias aéreas brasileiras, como a Varig, não sobreviveram justamente por causa disso. Havia a obrigatoriedade de ter rotas regionais e os subsídios prometidos nem sempre chegavam”.

Por Reinaldo Azevedo


Rosegate – Íntegra de áudios mostra intimidade de acusados na Porto Seguro com o poder

Por Fausto Macedo e Bruno Boghossian, no Estadão:

O universo de grampos da Operação Porto Seguro revela as relações de amizade e os bastidores das negociações conduzidas pela organização acusada de se infiltrar no governo federal para comprar pareceres técnicos. É uma coleção de 25.012 telefonemas capturados pela Polícia Federal em nove meses de investigação que levou 24 suspeitos à Justiça, denunciados por formação de quadrilha, corrupção, tráfico de influência e falsidade ideológica.

As escutas da PF apontam conluios e troca de favores envolvendo autoridades, inclusive nomeações de parentes e apadrinhados. Os diálogos telefônicos também deixam transparecer relações próximas entre políticos, empresários e servidores públicos. Parceiros de negócios que estão na mira da investigação.

A partir deste sábado, 26, estão disponíveis no site estadão.com.br áudios de diálogos da ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha – que chegou ao cargo pelas mãos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva –, do ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), Paulo Vieira, e do ex-senador Gilberto Miranda. As conversas que sustentam o inquérito da PF indicam os passos do grupo nas entranhas do poder.

Até o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), foi gravado. A Polícia Federal o pegou indiretamente, porque monitorava Miranda naquele 1.º de novembro de 2012. Sarney ligou para o ex-senador. Combinaram um jantar – à mesa, o vinho francês Château Haut Brion 1989, mais de 1.000 a garrafa. “Querido presidente, seja bem-vindo a São Paulo”, saúda Miranda, a quem a PF atribui o papel de principal beneficiário da trama dos laudos forjados.

Tão frequentes eram os contatos entre Rose e Paulo que a PF juntou os diálogos em pastas e formou um dossiê. Uma ligação foi a 15 de maio. Rose diz a Paulo que vai entregar um documento de interesse dele ao ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Paulo é dono de uma faculdade em Cruzeiro (SP) que buscava recredenciamento no ministério.

Os dois tratavam com frequência de assuntos do interesse da cúpula do PT. Em 29 de maio, às 12h25, a dupla conversa sobre a notícia de que Lula teria se reunido com Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), para pedir o adiamento do julgamento do mensalão.

“O presidente pode ter falado assim: ‘Olha, eu acho que se você… manter (sic) o julgamento agora em setembro, agosto… você vai prejudicar as eleições do PT’. O Lula pode falar isso”, ela diz. Paulo sugere “parar o Brasil”, que o PT faça protestos contra o julgamento, que bloqueie a Avenida Paulista e tome a Sé. “Tinha que fazer um protesto nacional pela transparência na Justiça”, insiste Paulo. “Quantos processos tem no Supremo muito anteriores a esse que está lá parado já 20 anos, há 15 anos? Por que é que esse tem que furar a fila?”. Rose diz que levará as sugestões a Lula.

Na Presidência. Os grampos confirmam que Paulo dava expediente no escritório da Presidência em São Paulo até para fazer favores ao deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP). Em 4 de junho, às 16h50, o deputado liga para Paulo e diz que um amigo precisa “de um negócio seu”. Valdemar diz que o amigo “precisa falar pessoalmente”. “Eu vou atender ele lá no escritório da Presidência onde geralmente o pessoal do governo despacha”, responde Paulo.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Gurgel apresenta denúncia contra Renan Calheiros no STF

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, apresentou denúncia contra o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) ao Supremo Tribunal Federal (STF). Calheiros é acusado de ter apresentado notas fiscais frias para justificar seu patrimônio. A acusação foi entregue na sexta-feira, mas o escritório de Gurgel não quis dar detalhes do caso, porque o inquérito está sob segredo de Justiça.

No caso de a denúncia da Procuradoria ser aceita, Calheiros se tornará réu em processo do STF. O caso tramita desde 2007, ano em que Calheiros renunciou à presidência do Senado, evitando perder o mandato. Este ano, o senador tenta novamente ser eleito presidente da Casa.

Em nota, o senador criticou o envio da denúncia ao STF. “A investigação foi aberta em agosto de 2007 e, apesar de se encontrar parada na Procuradoria desde fevereiro de 2011, a denúncia foi apresentada justamente na sexta-feira anterior à escolha para presidente do Senado Federal”, diz o texto, acrescentando que a atitude tem “natureza nitidamente política”.

Por Reinaldo Azevedo

 

O Supercoxinha no traço de Rubão

Convidei os desenhistas e caricaturistas do blog a criar a imagem do Supercoxinha. Quem é ele? É o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad,  mas não ele mesmo, entenderam?, e sim aquele visto por certos criadores de mitos que hoje pululam em setores da imprensa paulistana. O homem está no poder há 25 dias, e sua gestão já começa a ser considerada “histórica”. Não há tema para o qual não tenha uma solução, diga ou não respeito à sua área de competência. A mais recente peça da lavra de nosso super-herói foi criticar, sem nenhum fundamento, a possibilidade de internação involuntária de viciados em São Paulo — ação que está prevista em lei.

Autores de desenhos me perguntam como enviar seus respectivos trabalhos. Arquivem em páginas como o flickr.com e o twitpic.com e me enviem o link. No aniversário de São Paulo, o desenho de Rubão.

Por Reinaldo Azevedo


Os bilionários, o neoesquerdismo e a ditadura do “privilégio de consciência”

Millôr dizia, talvez as palavras não sejam exatamente estas, que o auge da contradição era um mendigo com medo do comunismo. O mundo assiste hoje em dia a uma contradição nova — que é mais aguda, como boa parte das besteiras, no Brasil: os bilionários de esquerda.

Talvez confundam alguma culpa com consciência social, sei lá eu. O fato é que aderem às teses mais estapafúrdias dos “companheiros” para demonstrar que seus bolsos estão sujos pelo vil metal, mas sua consciência está limpinha. Caso alguém aponte a incoerência, vem aquela velha desculpa: “A questão pessoal não tem importância…”.

Tem, sim, ué. Mas já vivi o bastante para saber também que mesmo as almas mais reformistas têm lá seus interesses. Não é que eu não confie nos propósitos humanitários de um George Soros, por exemplo. Acredito, sim! Mas sei que ele se tornou realmente notável na transformação de carbono em dinheiro, não é mesmo? É nessa arte que ele é um verdadeiro Rousseau…

Vou ver se algum bilionário financia uma pesquisa que tenho a intenção de fazer…  As esquerdas, ao longo da história, fizeram fama e milhões de cadáveres pregando a revolução e o socialismo. E, como se sabe, excluíram do mundo dos vivos os que não comungavam de suas prefigurações.

O ambientalismo, o combate ao consumismo, a sustentabilidade e afins oferecem aos ricos uma chance de ser progressistas sem que precisem abrir mão do patrimônio e dos privilégios que conquistaram (no mais das vezes, herdaram). Os muito ricos, assim, também ganham o direito de ter uma utopia, entenderam?

Eles podem, de resto, olhar para aqueles pobres homens da classe média com um senso de superioridade que não deriva da condição social, o que seria horrível, mas da consciência social. Se alguém lhes propusesse financiar uma ditadura para assegurar seus privilégios de classe, eles, de pronto!, diriam “Não!”. E, por óbvio, eu os aplaudo por isso. Mas, se alguém lhes propuser que financiem uma ditadura para assegurar seus “privilégios de consciência”, eles imediatamente dirão “Sim”. E eu, por óbvio, os vaio por isso.

Por Reinaldo Azevedo


Criação de empregos de 2012 é a pior dos últimos três anos

Por Naiara Infante Bertão, na VEJA.com:
A presidente Dilma Rousseff e sua equipe econômica bem que tentaram alavancar a economia brasileira e o emprego em 2012, mas não conseguiram ter sucesso em nenhum dos casos. Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) divulgados nesta sexta-feira mostram que o saldo líquido (diferença entre criação de vagas e demissão) de empregos no ano passado foi de 1,302 milhão – queda de 33,05% em relação a 2011, quando foram criados 1,944 milhão de empregos. Os números constam no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O resultado de criação de empregos é o menor desde 2009, ano de forte impacto da crise mundial, quando foram criadas 1,296 milhão de vagas líquidas.

Em dezembro, o saldo líquido ficou negativo em 496.944, o pior resultado para o mês desde 2008. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, houve recuo de 17,86%. O economista Fábio Romão, da consultoria LCA, explica que dezembro é um mês tipicamente ruim para o saldo de empregos. Trata-se do período em que os funcionários temporários deixam os postos, as pessoas se aposentam ou ainda decidem deixar o emprego em que estão. A desaceleração econômica, neste caso, também é um agravante. O economista acredita que houve maior retenção de funcionários por parte das empresas e, com isso, necessidade de menos contratações no ano. “Os empresários estão esperando que 2013 seja melhor e, portanto precisarão de mão de obra já familiarizada com o trabalho para aumentar a produtividade”, disse. Isso significa que, não fosse pela expectativa do empresariado de retomada do crescimento, o resultado poderia ter sido pior.

Discurso furado
O emprego foi usado, em muitas ocasiões, pelo governo como explicação para decisões arbitrárias – sobretudo as que envolviam o protecionismo. No decorrer de 2012, o Palácio do Planalto foi autor de diversos atos controversos, alegando que seriam bons para o mercado de trabalho, em especial para o emprego industrial: houve anúncios e prorrogações de benefícios fiscais e tributários; mudanças na regulação e na política de investimentos de setores importantes da indústria; ampliação das exigências de conteúdo nacional; e inúmeras medidas de estímulo ao crédito e ao consumo.

Tantas mudanças regulatórias e situações instáveis em alguns setores deixaram o empresariado acuado – em vez de despertar seu “espírito animal”, como diz o jargão econômico. Com isso, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), indicador que mede o volume de investimento na economia doméstica, mostrou a quinta redução trimestral consecutiva entre julho e setembro. O Banco Central prevê ainda um declínio de 3,5% nos investimentos para o quarto trimestre, segundo o Relatório Trimestral de Inflação, divulgado em dezembro. “O investimento do empresariado não vai reagir praticamente nada em 2013. Só em 2014, com a execução dos planos de concessões de infraestrutura. Mesmo assim, será de uma forma tímida, pois, da maneira como os planos foram montados, há muita interferência do governo”, afirma o economista da consultoria MB Associados, Sérgio Vale.

Como resultado de tantas políticas que ainda não se mostraram eficazes, o investidor estrangeiro também olhou com cautela para o mercado brasileiro ao longo do ano passado. Segundo dados do Banco Central divulgados na quarta-feira, o Investimento Estrangeiro Direto (IED) recuou 2% em 2012, na comparação com o ano anterior. Foi a primeira queda do IED desde 2009, período em que o capital estrangeiro foi fortemente afetado pelos efeitos da crise financeira nos Estados Unidos. Já o fluxo de dólares recuou 74,3% no ano passado, como resultado das inúmeras tentativas do governo de impedir a entrada do chamado ‘capital especulativo’ no mercado financeiro nacional.

Ainda que a taxa de desemprego esteja num patamar reduzido, de 4,9% em novembro do ano passado, a desaceleração do mercado de trabalho é implacável. Números de agosto a outubro – considerado trimestre “natalino” devido ao maior número de contratações temporárias em fábricas – mostram que foram criados 104 mil postos de trabalho na indústria ante 114 mil no mesmo período de 2011, enquanto na tabela dos anos anteriores esse saldo superava os 200 mil trabalhadores. As demissões só não foram maiores porque, em 2012, diversos segmentos estavam “amarrados” com o governo, como é o caso do setor automotivo. Em troca do recebimento de benefícios fiscais, empresas tiveram de congelar qualquer tipo de manutenção em seu quadro de funcionários.

Temor no Planalto
Assim como é pretexto para muitos desmandos, o emprego também é o principal pilar que sustenta a popularidade da presidente Dilma. Com a tendência de desaceleração e sem perspectivas de um crescimento econômico robusto no horizonte, é possível que os números do Caged balizem muitas das políticas do governo nos próximos meses. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já adiantou que novas medidas de desoneração para a indústria estão por vir. E, nesse “toma lá, dá cá” econômico, é possível que mais demissões sejam postergadas – porém, dificilmente evitadas.  “A tendência ainda é de queda no saldo (de empregos) ao longo do ano, especialmente porque a indústria e parte do setor de serviços seguem demissionários”, diz Sérgio Vale, da MB Associados.

O cenário pode piorar se a retomada do crescimento, de fato, não vier – e o PIB avançar de maneira pífia em 2013. O economista Fernando Barbosa, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), vê o aumento do risco de demissões em massa se, novamente, pelo terceiro ano consecutivo, o governo prometer um PIB que o país não terá condições de cumprir. “Se os empresários tiverem sua expectativa com a atividade frustrada ao longo do ano, deverão investir menos e há riscos de demissões significativas”, afirma.

Por Reinaldo Azevedo


O extremismo islâmico tem o lobby mais eficiente do mundo

Pois é… Se o debate político — e, com frequência, a cobertura jornalística — em terras nativas lembra, às vezes, os hospício, no cenário externo, a coisa não chega a ser o elogio da razão, especialmente nestes tempos em que o mundo está sob a égide de Barack Obama, o Demiurgo das Esferas, aquele que veio para mudar o mundo para muito melhor, ainda que as coisas, por enquanto (claro!), possam ter piorado bastante.

As agências internacionais informam que o general Carl Ham, chefe das forças americanas na África, disse que o Pentágono falhou ao treinar as tropas do Mali no combate aos terroristas islâmicos. Grupos ligados a direitos humanos — QUAIS GRUPOS??? — denunciam o uso desmedido da violência. “Nós estávamos focando o treinamento exclusivamente em questões técnicas ou táticas. Nós não usamos o tempo necessário para focar em valores, ética e caráter militar”, afirmou Ham. Nos tempos de Santo Obama, é preciso exercitar permanentemente a culpa para demonstrar que o “imperialismo tem coração”…

Num evento aparentemente sem importância, a síntese de grandes erros. Vamos ver.

Não descarto, por óbvio, que os dois lados pratiquem atrocidades, e acho que nem é preciso dizer por quê. Conflitos que juntam ódio étnico e ódio religioso não reconhecem ética de guerra. O ponto que me interessa é outro. Que “grupos” de direitos humanos são estes?

O lobby mais organizado e mais eficiente que conheço, em escala planetária, é o do extremismo islâmico. Ninguém é tão competente em pautar a imprensa ocidental quanto essa turma. Como, em regra, os jornalistas do Ocidente estão sempre se perguntando “onde foi que erramos com essa pobre gente?”, então “essa pobre gente” dita o lead e o espírito da cobertura. Pensemos um pouco.

Alguém ouviu falar em transgressão aos direitos humanos praticadas pelas forças que se opunham a Muamar Kadafi? Não! Eram os “libertadores de Benghazi”, embora as evidências de massacres, praticados com o auxílio da Otan, fossem escandalosas. A violência, diga-se, das forças que estariam promovendo a “Primavera Árabe” é ignorada pela imprensa. Parece que só os governos sob ataque praticam atrocidades.

Eu quero que os ditadores carniceiros da África ou do Oriente Médio se danem. Mas quero saber quem se apresenta para substituí-los e com que propósito. Ninguém precisava ser adivinho para saber o que se seguiria à queda de Muamar Kadafi na Líbia. Tenta-se agora, a todo custo, torcer os fatos para livrar a cara dos que fizeram a pior escolha: as armas que circulam livremente entre os terroristas seriam de forças que atuaram em favor de kadafi, dizem… Uma ova! Ainda que isso exista também, os jihadistas encontraram na Otan a aliada ideal. Obama, Sarkozy e Cameron limparam a área para que eles se instalassem, ATENÇÃO!, definitivamente no Norte da África.  De agora em diante, o ponto é o seguinte: ou o Ocidente mantém soldados permanentemente no Mali e na própria Líbia — só para começo de conversa —, ou toda aquela região vira um novo ninhal do terrorismo.

Sabem por quê? Porque um tirano como Kadafi não tinha apenas o domínio sobre Trípoli. A sua rede de influência e de troca de favores se estendia por todas aquelas vastas solidões. O Ocidente depôs ditadores — sim, sim, eles eram asquerosos! — com os quais mantinha diálogo e entronizou forças hostis ao… Ocidente! “Ah, mas, ao menos, cessou a rotina da carnificina!” Trata-se, como se sabe, de uma mentira espetacular. E o próximo país a cair nas garras do terror é a Síria. Se o açougueiro Bashar Al Assad não presta, esperem para ver o que vem depois.

É impressionante que os mesmos críticos das intervenções americanas no Afeganistão e no Iraque acreditem que Obama está desempenhando um grande papel no Oriente Médio e na África. Adoraria ler um texto demonstrando que, com ele, o mundo ficou mais seguro e humano…

Mas volto
Mas avancei um tanto nas digressões. Volto ao ponto. A notícia do mea-culpa do general Carl Ham é a cara destes tempos. Os extremistas islâmicos, mais uma vez, colocam seus opositores na defensiva e reivindicam o lugar das vítimas. 

Por Reinaldo Azevedo


Lula, o chefe, tem reunião com a presidente-adjunta em São Paulo…

Por Laryssa Borges e Gabriel Castro, na VEJA.com:
A presidente Dilma Rousseff desembarcará nesta sexta-feira em São Paulo com dois compromissos oficiais: uma solenidade com atletas paralímpicos e, em seguida, um evento de entrega de 300 casas do programa Minha Casa, Minha Vida. Não consta na agenda, mas Dilma também irá se reunir com o antecessor no cargo, Luiz Inácio Lula da Silva, em horário e local não divulgados – provavelmente, no escritório da Presidência da República na capital paulista.

Não há problema e até é desejável que um ex-presidente da República dê conselhos a aliados, seja consultado em momentos de turbulência e alerte para riscos institucionais. Foi o que fez, por exemplo, o ex-presidente democrata Bill Clinton ao então novato Barack Obama, quando recomendou mais otimismo em relação à crise financeira mundial e defendeu uma regularização da situação dos imigrantes ilegais. No cenário nacional, a participação de Lula também seria compreensível se ele não extrapolasse os limites da sua atual condição de “ex-presidente”.

Na semana passada, a intromissão de Lula foi escancarada na foto divulgada pelos jornais com o ex-presidente sentado à mesa e orientando o secretariado do seu pupilo Fernando Haddad. O local? A sede da Prefeitura de São Paulo em horário de pleno expediente. 

Embora previsível, o ativismo político de Lula tem incomodado até integrantes do PT, com a avaliação de que o ex-presidente tem utilizado sua popularidade para interferir excessivamente em gestões que não são suas. “O presidente Lula começou maior do que o partido, depois ficou maior que o governo e agora quer ser maior do que a nação. O PT que ajudei a fundar não tinha dono nem deus”, critica o deputado federal Domingos Dutra (PT-MA). Para o senador Paulo Paim (PT-RS), a postura do presidente é aceitável, mas pode causar desgastes: “Muitas vezes ele poderia se omitir para se preservar. Mas ele prefere se expor”.

O comportamento de Lula não encontra precedentes na história da República brasileira. José Sarney, por exemplo, jamais deixou de orbitar o poder, mas se contenta com seus feudos na máquina federal. Fernando Collor, que deixou o Palácio do Planalto pela portas dos fundos, nunca influenciou os sucessores. Itamar Franco, que fazia política discretamente, manteve a distância respeitosa do Planalto. Fernando Henrique Cardoso prefere não se intrometer diretamente nem mesmo nas disputas políticas de seu partido, o PSDB. Com Lula é diferente. 

A intromissão do ex-presidente em assuntos que não dizem respeito a um “ex” não é de hoje: as ofensivas do petista atingiram os três poderes. Em 2011, durante uma viagem de Dilma, ele manteve reuniões com o vice-presidente, Michel Temer, e líderes partidários para tentar emplacar a reforma política – que até agora não saiu do papel – e tentar justificar os crimes do mensalão como um mero esquema de caixa dois. Antes disso, ele já havia despachado com ministros de Dilma como se ainda fosse chefe de estado.

Atuando como uma espécie de co-presidente, Lula agora se proclamou articulador político para a consolidação da aliança com PSB e PMDB. A missão é demover pretensões do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), na corrida pelo Palácio do Planalto em 2014 e manter sob suas rédeas caciques peemedebistas. “Lula vai jogar toda sua energia para a manutenção e consolidação da aliança entre PT, PSB e PMDB”, resumiu o ex-ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, nesta segunda-feira. “Ele tem um papel político a cumprir na constituição da nossa base política e social para 2014”, completou o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Luiz Dulci. O senador Paulo Paim é mais franco: “Vamos dizer que ele queira mesmo ser candidato em 2014 ou 2018. E daí? Ele vai querer buscar o seu espaço”.

Afastado oficialmente da política desde o fim de seu mandato, Lula tem atuado sem qualquer cerimônia nas diretrizes do governo de Dilma Rousseff. Foram para seu guichê negociações políticas, nomeações de apadrinhados e até a sessão de reclamações gerais pelo estilo Dilma de governar. Ele impôs nos últimos anos a nomeação de ministros no governo da sucessora – são de sua cota as nomeações de Antonio Palocci, Wagner Rossi, Alfredo Nascimento, todos abatidos por escândalos políticos – e o aparelhamento de agências reguladoras. 

As reais pretensões políticas de Lula ainda não são claras nem mesmo para aliados. Interlocutores negam a hipótese de uma candidatura presidencial em 2014, mas, nos bastidores, quem convive com o ex-presidente há tempos, não trata essa possibilidade como assunto resolvido. No PT, não faltam simpatizantes à ideia de uma candidatura já em 2014. O próprio Lula deixou escapar suas ambições no ano passado, quando fez campanha proibida e levou o então “poste” Fernando Haddad ao”Programa do Ratinho”, no SBT. Questionado pelo amigo e apresentador de TV se pensava em voltar à cena política em 2014, Lula rebateu: “Se ela (Dilma) não quiser, eu não vou permitir que um tucano volte a ser presidente do Brasil”.

Nesta sexta, Lula e Dilma estarão novamente à mesa. Espera-se que seja apenas – mais uma – visita.

Por Reinaldo Azevedo

 

A taxa de homicídios em SP e a patrulha petralha, que nunca dorme. Vamos aos fatos

Que coisa! Nem deu tempo de uma reportagem da Folha deste sábado ir ao ar, e já há alguns malas sem alça enchendo o meu saco nos comentários. Motivo? O jornal informa, com base em dados fornecidos pela Secretaria de Segurança Pública (nesse assunto, os Estados que omitem informações acabam se dando melhor, o que é um absurdo), que os homicídios subiram 34% na capital e 15% no estado de São Paulo no ano passado. Aí vem a petralhada chata: “Está vendo?” Um boboca não economiza: “E aí? Ainda vai dizer que o seu querido São Paulo exibe os melhores índices do país?”

Pois é… Vou, sim! Mesmo com esse aumento, São Paulo teve, em 2012, uma taxa de 11,5 casos por 100 mil habitantes e, na minha conta, 12,3 mortos. Vamos ver os números das demais unidades da federação — quando e se forem divulgados…. Se não houve queda substancial, e não creio que tenha havido, o estado ainda estará em último lugar no ranking, segundo informa o Mapa da Violência, à página 24. Muito longe, em dados de 2010, dos 66,8 de Alagoas, dos 57,3 do Espírito Santo, dos 38,8 de Pernambuco ou dos 37,7 da Bahia. Vejam.

Houve, no ano passado, 1.497 vítimas na capital paulista — 13,01 mortos 100 mil. Aí tenho de remetê-los para a página 48 do Mapa: sim, com essa taxa, a cidade de São Paulo segue sendo a última no ranking das capitais, considerados os dados de 2010. Quem mais se aproximava era Campo Grande, mas com, atenção!, 21,7!

A elevação da taxa de homicídio indica que cidade e estado enfrentaram, sim, um problema, mas, como se nota e se prova, muito distante do caos que muito tentaram vender no ano passado. Parece que o propósito era mesmo derrubar o então secretário de Segurança, Antonio Ferreira Pinto. Os números estão aí. Se São Paulo fosse a terra de ninguém, como queriam alguns, o que seria, então, o resto do Brasil?

As conversas moles
Há coisas que despertam na gente aquele fascínio às avessas: a estupefação! Leiam este trecho da reportagem da Folha (em vermelho):
Para a diretora da ONG Instituto Sou da Paz, Melina Risso, a alta da criminalidade mostra que o governo estava adotando uma “política de segurança equivocada”.

“Houve um período com alta violência policial e baixo investimento na inteligência. Com a troca de secretário, isso parece estar mudando”, disse. “Violência não pode ser combatida com mais violência.”

Pois é…  A “alta criminalidade”, reitero, É APENAS A MAIS BAIXA DO PAÍS — e, obviamente, muita elevada quando cotejada com padrões civilizados de convivência. Como vocês podem constatar no mapa, houve uma queda de 67% na taxa de homicídio em São Paulo num período de 10 anos. Eu não sou do “sou da paz”, mas, ainda assim, pretendo fazer justiça aos fatos: nos 12 anos anteriores (de 2000 a 2011), a taxa só caiu; em três desses anos (2009, 2010 e 2011), o secretário era Ferreira Pinto. Também não é verdade que houve “baixo investimento em inteligência”. Lido com fatos, com dados, com números. Melina prefere o proselitismo.

A Folha Marcos Fuchs para escrever um texto que vem sob a rubrica “análise”. Ele é diretor-adjunto de uma ONG chamada Conectas Direitos Humanos.  Qual a expertise dele na área, além de ser ongueiro? Não sei. Não se informa. Sei que ele perpetra maravilhas como esta: “Precisamos de mais do que números para explicar o estado em que vivemos. Assim como precisamos muito mais do que os mesmos discursos de sempre para mudar.” Ah, bom… Como os números não endossam as teses alarmistas, então ele prefere deixá-los de lado.

No mesmo texto, afirma: “A recente troca de cargos na Secretaria da Segurança afastou os temores mais imediatos de uma política criminosa de extermínio.” É uma afirmação intelectualmente delinquente. Os dados estão aí. Existe a realidade brasileira, existe a realidade de cada estado, existe a realidade de São Paulo. Fuchs não gosta dos números porque os números não gostam do seu pensamento.

Texto publicado originalmente às 4h29

Por Reinaldo Azevedo

 

Petistas vendem como novidade projetos que já estavam em curso em SP, e Dilma ataca os pessimistas… Então sejamos realistas!

O aniversário de São Paulo serviu à pajelança dos petistas. Dilma prometeu R$ 732 milhões à cidade para, atenção!, projetos que já estavam em andamento e parcerias que já estavam em curso. Mas tudo foi feito como se uma nova era estivesse sendo inaugurada.

Em seu discurso, a presidente criticou os pessimistas, que, segundo ela, não acreditam no crescimento robusto do Brasil. Então tá. Há sete meses, Guido Mantega, o otimista, dizia que o Brasil cresceria mais de 3,5% em 2012. Os pessimistas diziam que o crescimento seria de 1,5%. Cresceu 1%.

Mas assim são as coisas, não é? Como não existe mais confronto político no país — a não ser aqueles que contam com o concurso da Polícia —, o governo vai afirmando o que lhe dá na telha e mistificando à vontade. Leiam reportagem de Carolina Freitas na VEJA.com.
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O primeiro evento a unir sobre o mesmo palco a presidente Dilma Rousseff e Fernando Haddad no cargo de prefeito de São Paulo, ambos do PT, marcou nesta sexta-feira a entrega de um pacote de bondades no valor de 732,1 milhões de reais do governo federal para a capital paulista. No dia do aniversário da cidade, desembarcaram aqui a presidente e uma comitiva de sete integrantes de seu primeiro escalão. O tom dos discursos nas quase duas horas de evento foi de homenagem à presidente e de louvação às parcerias entre União e município – mote da campanha de Haddad, no ano passado.

“O governo federal, a prefeitura e o governo do estado de São Paulo, se tiverem parceria, realizam mais do que se cada um agir sozinho”, disse Dilma. A presidente aproveitou um só evento, com público de cerca de 800 pessoas, em Itaquera, na Zona Leste de São Paulo, para anunciar tudo e mais um pouco. Foram feitas duas entregas, dois anúncios de investimentos e a assinatura de três convênios. Foram entregues um conjunto habitacional do Minha Casa Minha Vida, com 300 unidades e 84 ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Nos discursos dos ministros, mais promessas para a cidade. Aloizio Mercadante, da Educação, anunciou a construção na cidade de um campus da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), na Zona Leste, e uma unidade do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, na Zona Norte. E o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, prometeu construir em São Paulo dezesseis Unidades de Pronto-Atendimento (UPA) 24 horas, com investimento de 70 milhões de reais. Mercadante e Padilha são possíveis candidatos do PT ao governo paulista em 2014.

Foram assinados ainda três contratos no valor total de 636 milhões de reais com o Ministério das Cidades para obras de prevenção a desastres e enchentes na capital. Entre elas estão medidas como a canalização de córregos e a contenção de encostas, que já são feitas há anos por gestões anteriores a Haddad em parcerias com o governo estadual.

Dilma aproveitou a oportunidade para deixar um recado aos que chamou de “pessimistas”, em um ano que começa com perspectivas preocupantes para a economia. “Vou encerrar rapidinho porque essa chuva parece que está forte”, disse pouco antes de desabar uma tempestade sobre a lona onde ocorria o evento – metade do público já tinha ido embora com medo da água. “Acredito que o Brasil vai crescer. E vai crescer muito. Não acreditem nos pessimistas”, disse. “Nós abaixamos a conta de luz porque podíamos e isso vai ser uma coisa boa para o Brasil continuar crescendo.”

Já de olho na eleição de 2014, quando Dilma tentará a reeleição, Haddad e os ministros rasgaram elogios à presidente, especialmente à iniciativa dela de reduzir em 18% a conta de luz para consumidores residenciais. “Muita gente imaginou que fosse impossível e aconteceu o inimaginável”, disse Haddad. “A senhora não fez propriamente uma mágica, mas percebeu que o investimento nas hidroelétricas estava pago e conseguiu reduzir a conta de luz.” De acordo com o prefeito, os paulistanos vão economizar um total de 1,9 bilhão de reais com o desconto na energia elétrica.

Por Reinaldo Azevedo

Sustentabilidade e anticonsumismo são faces de um moderno autoritarismo, com tendência fascistizante. Ou: O que faria Tio Rei entre Dilma e Marina, além de lamentar?

Recebi um texto de um leitor chamado Fernando Rolim. Ele diz apreciar a minha honestidade intelectual e escreve um arrazoado sobre a Alana — aquela entidade que quer estuprar a Constituição para proibir a publicidade, no estado de São Paulo, de produtos “pobres em nutrientes e com alto teor de açúcar, gorduras saturadas ou sódio”. Também quer tornar ilegal o Kinder Ovo porque traz dentro um brinquedinho… Tudo isso incentivaria o consumismo nas crianças. Já publiquei três textos a respeito. O Rolim manda um libelo em defesa da Alana para, segundo entendi, testar a minha honestidade intelectual. Abaixo, reproduzo seu texto em vermelho e respondo em azul. E teço algumas considerações.

Vamos lá Reinaldo. Aprecio sua honestidade intelectual e a defesa que faz dela. É preciso sua coerência agora.
Vamos lá, Rolim.

Não tenho procuração da Alana, não conheço seus fomentadores e estive apenas uma única vez em sua sede para tratar de um futuro projeto dela, ligado à Síndrome de Down ( um projeto não eugênico, como a maioria que recebe as maiores verbas). Conheci alguns dos executivos e funcionários que me apresentaram por alto os demais projetos subvencionados; gostei do que vi e do que li no farto material que me forneceram.
Ótimo! Eu não gostei nem do que li nem do que vi. E gostei menos ainda quando percebi que uma ONG faz pressão para que um governador de Estado desrespeite a Constituição. Suponho que exista por lá assessoria jurídica para informar que a competência para legislar sobre publicidade é federal. Os dois projetos de lei aprovados na Assembleia Legislativa de São Paulo são inconstitucionais. Quanto à Alana, dizer o quê? Ninguém chama Frei Betto como conselheiro se tem apreço pela democracia. É uma questão de fato, não de gosto.

Feitas essas observações preliminares que candidamente expõem a inexistência de qualquer vínculo de interesses com a Alana, gostaria que você considerasse:

1. querer bem e patrocinar boas causas é  louvável e direito legítimo de qualquer um; misturar isso com outros atos, atitudes ou condições pessoais desses patronos, por mais incoerente que possa parecer, é desonestidade intelectual;
Como discordar da primeira parte da sua observação, não é, Rolim? Quanto à segunda, aí a desonestidade intelectual, lamento!, é sua. O mínimo que se pode exigir é que as pessoas vivam conforme as regras que querem IMPOR aos outros. Nesse caso, as “condições pessoais” dos patronos fazem toda diferença, sim! Tivemos, claro!, o caso notório de Engels, o milionário, que usava a sua fortuna pessoal para financiar Marx, enquanto este massacrava os furúnculos do traseiro e imaginava o sistema que resultaria no maior morticínio em massa da história da humanidade. Naquele caso, vá lá, era evidente que Engels vislumbrava mesmo o fim do capitalismo. No caso em espécie, parece que o que incomoda é o capitalismo… alheio.

2. se quiser criticar a causa patrocinada, faça-o baseado em fatos e nos seus valores, não no nome ou sobrenome de quem a defende;
Não seja intelectualmente desonesto! Para mim, pouco importa o sobrenome. Importa é o que efetivamente se pratica. Se não se pode vender biscoito de chocolate para crianças, por que elas podem ser estrelas de comerciais de bancos? Responda você! Aí pouco me importa se o sobrenome do sujeito é Rolim, Villela, Azevedo, Montecchio ou Capuleto… Aí, sr. Rolim, há que se fazer como recomendou Julieta: “Despreza o pai, despoja-te do nome…”. O que não é possível é acender uma vela para aquele que se considera o capeta e querer mandar para a fogueira os outros, que estariam sob o comando do diabo, entendeu? Eu não acho nem o capitalismo nem a liberdade de expressão um pecado. A Alana é que parece achar — ao menos aquele praticado pelos outros. Repudio o que pensava Trotsky, por exemplo, mas lhe reconheço uma honestidade necessária. Quando decidiu que era mesmo um socialista, abandonou a casa do pai latifundiário e foi morar num casebre, junto com um jardineiro.  A questão não é de sobrenome, mas de coerência.

3. como uma família pode ser o maior acionista individual? família não é indivíduo e os indivíduos mencionados, se de fato são acionistas, o seu post não o quantificou;
Você entendeu direitinho o que escrevi. Quanto aos detalhes, vá ao Google.

4. em qualquer empresa, não se confunde a pessoa física com a pessoa jurídica; propriedade e controle (controle esse que define a gestão e o poder de mando) não se misturam. Seu post também não informa se esses supostos acionistas têm algum conselheiro ou administrador eleito ou mesmo se participam do bloco de controle ou ainda se têm assinado algum acordo de acionistas que viesse torna-los responsáveis pela publicidade e pelo marketing do Banco;
Procure e verá que têm. De toda sorte, para os propósitos do meu texto, continuaria irrelevante, uma vez que a Alana, que defende as criancinhas, poderia submeter também as publicidades a que me referi a um exame, não? Ou será que o “consumo consciente” só se aplica à indústria de alimentos e brinquedos?

5. as empresas de Cubatão, responsáveis décadas atrás pelo ar mais poluído do mundo, patrocinaram o maior exemplo de recuperação ambiental já visto, sem abrir mão da produção… Desonestidade intelectual?
A desonestidade intelectual está no seu exemplo, que absolutamente não se aplica ao caso. Eu sou favorável a que todas as empresas procurem poluir o mínimo possível. O que uma coisa tem a ver com outra?

6. você consegue enxergar o liberalismo que defende sem os Bancos exercendo o exato papel atual?
Epa! Você me parecia, até aqui, um leitor um pouco mais atento. Você acha mesmo que eu critiquei os bancos ou que considerei desonestas as propagandas do Itaú? Problema de interpretação de texto, rapaz! Eu acho aquelas peças excelentes! Não vejo nada de errado com elas. Como não vejo, com uma exceção aqui e outra ali, nada de errado com a publicidade da indústria de alimentos.

Agora vamos ao mérito da causa, ou causas, patrocinadas pela Alana, mesmo com o meu raso (porém informado) conhecimento sobre algumas delas e suas práticas:
Como diria Marquês de Sade, não se faça de inocente (ele usava outra expressão…), Rolim. O vocabulário do seu texto denuncia — ou melhor, anuncia — as suas preocupações.

1. o consumismo é, por definição, o desvirtuamento do consumo; significa comprar ou utilizar mais recursos do que se pode ou se precisa e, portanto, é condenado pela sustentabilidade, pois mais cedo ou mais tarde comprometerá o futuro (a conta bancária devedora, a falta de recursos na velhice, do ponto de vista pessoal ou a falta de água, petróleo ou qualquer outro recurso natural para as gerações futuras);
Sei… E, por isso, surgiram os bons samaritanos da sustentabilidade. Como eles confiam pouco na educação, decidiram que o melhor caminho é mesmo proibir, cassar dos indivíduos o livre-arbítrio, decidir em seu lugar. Existe um mal muito mais grave do que o consumismo: o autoritarismo. Não há perigo, Rolim, de a gente se entender nesse caso. Alguns profetas da sustentabilidade, hoje em dia, são o que de mais próximo temos do fascismo.

2. combater o consumismo, portanto, é bom em si; se for o consumismo infantil, melhor ainda, pois evita o vício prematuro e de gente (crianças) com o poder de escolha limitado; esperar dos pais que lhes coloquem uma burka ou os exclua de suas tribos é pouco razoável, porque impossível;
O que faz esse “portanto” no seu texto? Você acha que provou alguma coisa? Como??? “Combater o consumismo é bom em si?” Isso quer dizer que não importam os meios? É por isso que a Alana cobra que o governador Geraldo Alckmin rasgue a Constituição? Para nos salvar do consumismo?

Entendi. Você é do exército da “sustentabilidade”. E, definitivamente, essa causa é mais autoritária do que parece. Seu texto o evidencia. Como vocês não confiam na capacidade que têm os pais de educar os seus filhos; como fica difícil excluir as crianças de sua “tribo”, então devemos apelar ao Estado que use a sua mão forte para salvar os infantes! Afinal, o “consumismo” é um mal em si… Entregaremos aos militantes dessa causa o nosso destino e o nosso futuro. Eles conhecem as coisas “boas em si”.

3. qualquer menino quer a chuteira igual do amigo que é igual a do Neymar e não interessa se original ou genérica, se comprada no shopping center mais caro ou no camelô da periferia;
E daí? O que há de errado nisso? É pecado querer a chuteira do Neymar? No seu mundo ideal, Rolim, o estado — ou um Conselho de Sábios da Alana — vai definir as necessidades das crianças? Vamos constituir o Comitê de Salvação Pública para impor o “consumo consciente”? Quem será o Robespierre? Quem será o Marat? Quem vai entrar com as cabeças?

4. combater a obesidade infantil e a alimentação saudável é garantir qualidade de vida, a longevidade e a reducão do custo da assistência médica futura;
Relevo a sua confusão. Creio que você quis escrever “combater a obesidade infantil” e “defender a alimentação saudável”. Digamos que eu concorde com a premissa. Não se pode fazer isso respeitando a Constituição e a democracia? Acho que sim! Todos os regimes de força se impuseram, rapaz, alegando bons propósitos. Quem disse que vocês  — desculpe-me: os que você defende — detêm o monopólio das soluções?

Vejam o caso de Marina Silva, a beata da sustentabilidade… Os amigos da natureza tanto pressionaram que, para preservar alguns quilômetros quadrados de mata — irrelevantes quando se considera o conjunto —, as hidrelétricas passaram a funcionar a fio d’água, sem reservatório. Para compensar essa concessão estúpida feita aos ecochatos, o Brasil precisa ligar a toda potência dezenas de usinas termelétricas, que são poluidoras, a um custo quase dez vezes maior. Tudo porque existem as causas “boas em si”…

Devagar aí, rapaz! A turma da “sustentabilidade” não é salvadora da humanidade, não! E ninguém lhes delegou poder para pôr fim à democracia.

5. combater a fome mundial através da redução do desperdício das sociedades afluentes e da consciência sobre isso é desnivelar as diferenças sem tirar dos que já têm;
Isso é um fundamento moral bacaninha, que não tem a menor importância na escala econômica. Desculpe-me: é puro delírio. A cada vez que leio que a comida que se joga fora nos restaurantes daria para alimentar não sei quantos, sinto uma enorme preguiça. E até entendo como nasce essa conversa mole. A turma da sustentabilidade quer acabar com a fome, mas também é contra o agronegócio, né?, que produz comida barata. Quando se aponta a contradição, surge a resposta mágica: “Vamos acabar com o desperdício! Os países ricos têm de consumir menos!”. Claro, claro… E têm de gerar menos empregos, consumir menos matéria-prima e… matar de fome os países pobres — uma consequência óbvia desses nobres princípios morais. De resto, nem sei o que isso tudo tem a ver com o caso original: violar a Constituição! Era esse o tema do meu texto original.

6. você consegue enxergar o liberalismo que defende sem progresso social, melhoria da qualidade de vida e a agência dos indivíduos empenhando recursos pessoais para o bem comum?
Não, Rolim, porque você e os seus não são as únicas pessoas boas no mundo. Também sou bom. E louvo que os indivíduos gastem seu dinheiro para o bem comum. Mas não precisamos tirar dos indivíduos o direito de escolha porque, afinal, estamos empenhados em protegê-los.

Espero que a sua intransigente honestidade intelectual volte a ser sua principal ferramenta de polemista.
Rolim, eu já vivi o bastante para não cair nesse tipo de truque. Pelo visto, você aprecia a minha “honestidade intelectual” quando concorda comigo e acha que sou desonesto quando discorda. Ou por outra: não é a “minha” honestidade intelectual que você aprecia, mas aquela que considera ser a sua. Você se tem, pois, como “a” referência da honestidade intelectual.

Seu texto é um bom exemplo do que tenho percebido nesses novos “amigos da humanidade”, os tais defensores da “sustentabilidade”. A exemplo dos “socialistas” do passado, eles julgam ter uma causa altruísta, uma verdadeira chave para o bem-estar permanente da humanidade.

Ocorre que o homem, vocês sabem, é dado ao egoísmo e coisa e tal. Uma crítica de Stálin, referindo-se ao bigodudo, afirmou: “Eles sabiam que não se faziam omeletes sem quebrar ovos”. Assim é a Alana. Assim são esses novos utopistas. Se é para defender a natureza, se é para combater o consumismo, se é para o bem geral da humanidade, que mal há em ser um pouquinho autoritário?

Essa gente tem uma espécie de compulsão para o que considera “pureza” que, lamento, lembra algumas práticas fascistas. Ora, querem se organizar para pregar o boicote aos biscoitos, aos sorvetes, aos refrigerantes e aos brindes? Que o façam! Por que precisam impor ao conjunto das pessoas as suas mesmas preocupações, considerações e preconceitos? Ah, porque existem as causas que são “boas em si”, a exemplo das usinas a fio d’água, que resultam na poluição das termelétricas.

Eu odeio e repudio todas as misérias humanas, viu, Rolim!? Mas aprecio a humanidade com as suas imperfeições. A história nos prova que os reformadores de homens são muito mais perigosos do que alguns homens tortos.

Encerro com uma outra provocação: se, um dia, o destino cometesse a maldade de me deixar entre Dilma Rousseff e Marina Silva, a minha primeira disposição seria anular o voto. Se, no entanto, houvesse o risco real de Marina vencer, eu taparia o nariz das minhas convicções e votaria em Dilma. Sabem por quê? Porque ao menos eu estaria combatendo um autoritarismo que é deste mundo… Prefiro enfrentar a estupidez ao irracionalismo militante.

Por Reinaldo Azevedo


A Economist e o jihadismo no Norte da África. Ou: Obra de Obama, Sarkozy e Cameron, os três trapalhões

Caro leitor,
quando, às vezes, acontece uma porcaria qualquer no mundo (ou no Brasil), e eu, aqui, escrevo algo como “eu bem que avisei”, não o faço por jactância, não, ou para demonstrar que sou espertinho… É que os meus “aviseis” quase sempre se referiam a eventos vindouros que eram… lógicos.

Apanhei muito de alguns leitores habituais do blog porque afirmei que Barack Obama, Nicolas Sarkozy e David Cameron estavam fazendo uma besteira monumental na Líbia. Não reconheço a existência de uma “Primavera Árabe”; acho que isso é uma ilusão tola da imprensa e de intelectuais ocidentais. Mesmo assim, observava à época que a questão líbia era de outra natureza. Preocupava-me, especialmente, o fluxo de jihadistas para tentar derrubar Kadafi em parceria com a… Otan!!!

Pois bem… Obama, Sarkozy e Cameron conseguiram: incendiaram o norte da África. No momento, diga-se, o Ocidente se esforça para entregar a Síria aos jihadistas. É matéria de fato, não de gosto.

A Economist desta semana chega aonde eu havia chegado desde que a crise líbia começou. Alerta para o fato de que o jihadismo se espalha pelo norte do continente africano. Diz que nem por isso o Ocidente deve deixar aqueles países à sua própria sorte — o que eu também acho. Leiam trecho do que publica a VEJA.com.
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Na semana passada, um sequestro de centenas de funcionários em uma usina de gás da cidade de In Amenas, na Argélia, chamou a atenção do mundo a evolução da ameaça terrorista na região. O atentado, atribuído ao grupo islâmico Batalhão de Sangue, foi considerado uma reação dos rebeldes ao apoio do governo argelino à intervenção francesa no Mali. No início desta semana, um representante de Mokthar Belmokthar, o terrorista que comandou o ataque à usina, fez ameaças à França, considerando o ataque ao complexo como um “sucesso” e prometeu mais ações contra os ocidentais no futuro. Análises publicadas na imprensa internacional mostram que o perigo é ascendente e que o assunto é, cada vez mais, de interesse global.

A revista inglesa The Economist lembra que os “ecos” do Afeganistão soaram no início do mês, quando as forças francesas iniciaram a intervenção contra o terrorismo islâmico no Mali, e na última semana, quando um dos grupos que atuam no país norte-africano liderou o sequestro de centenas de pessoas, muitas delas ocidentais, no campo de gás na Argélia. “Após 11 anos travando guerras contra o terror no Afeganistão e no Iraque, quase 1,5 trilhões de dólares em custos diretos e centenas de milhares de vidas perdidas, os ocidentais sentem que aprenderam uma dura lição. Estão mais convencidos do que nunca de que mesmo a intervenção estrangeira mais bem intencionada acaba mergulhando seus soldados em guerras intermináveis contra inimigos invisíveis para ajudar habitantes ingratos”, diz o texto.
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Intervenção
Porém, a reportagem ressalta que seria ingênuo pensar que a instabilidade que se estende da Somália e do Sudão, no leste, até o Chade e o Mali, no oeste, seria “mais um Iraque ou Afeganistão”. Para a revista, as lições dessas guerras não devem desencorajar os estrangeiros a ajudar a acabar com conflitos perigosos como o do Mali. “Embora qualquer intervenção sempre venha acompanhada de riscos, na África ela não precisa ser tão longa, nem tão desacreditada”, diz a Economist. Vale lembrar que na África um grande e crescente número de muçulmanos não são alinhados com o jihadismo. Mas, no longo prazo, o Saara só vai ficar mais estável quando se tornar próspero. E o Ocidente pode estar cometendo um grave erro se evocar as dificuldades da intervenção como uma desculpa para abandonar a população local.

O norte da África é um grande produtor de petróleo e gás. Fechar empresas na região seria uma grande perda para os ocidentais – uma das razões que levaram François Hollande a enviar suas tropas ao Mali, além de proteger pelo menos 6.000 franceses que moram ali. Além disso, se os jihadistas já lutam para implantar uma campanha de terror sobre a Europa e os EUA, isso pode se acentuar se um dia conseguirem controlar os recursos naturais da região inteira. “O melhor é mantê-los no deserto”, afirma a Economist.
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Ameaça global
Neste momento, destaca a Economist, a ameaça direta dos jihadistas do norte da África é predominantemente local. Mas é sabido que os terroristas espalhados pelo mundo tentam radicalizar os jovens muçulmanos, que buscam inspiração em redes como a Al Qaeda, dando às suas queixas locais uma amplitude muito maior, baseada em ideais extremistas. Uma vez criada, essa proximidade incentiva a replicação da mensagem de hostilidade ao Ocidente e seus amigos da própria África. Consequentemente, os muitos serviços de segurança mal treinados na região podem acabar alimentando a insurgência com sua brutalidade. “Ao longo de anos, uma insurgência islâmica radicalizada, armada e treinada pode trazer danos imensuráveis para uma parte frágil do mundo.”

Segundo a agência Stratfor, atualmente a Líbia é o país da região com mais riscos de sofrer atentados. “A Líbia é o estado mais fraco nas regiões do Magreb e Sahel”, diz a agência, destacando como problemas a quase total ausência de controles de fronteira e serviços de inteligência e a presença de diferentes grupos jihadistas na região, junto com grupos armados subnacionais, etnicamente alinhados, “todos competindo pela defesa do território, pela pilhagem de armas e se vendendo pelo maior lance”.
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Por Reinaldo Azevedo


CUT faz ato para anular sentenças do STF sobre mensalão. Ou: Sem vergonha de ser PT…

Na Folha:
A CUT (Central Única dos Trabalhadores) do Rio organiza um ato para pedir a anulação do julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Marcado para o próximo dia 30, o evento deve contar com a presença do ex-ministro José Dirceu, condenado no caso. Entre os condenados também estão ex-dirigentes da CUT, como o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.

José Garcia Lima, dirigente da CUT-RJ e organizador do ato, afirmou que o STF fez um “julgamento político”. Ele apontou o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, outro ex-dirigente da central, como uma das principais “vítimas” do “tribunal de exceção”. O ato consistirá num debate “sobre os graves erros do STF” na Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Lima diz que não teme ver a central vinculada com defesa da impunidade: “A CUT teme ser cúmplice de uma injustiça”.  “Conheço, do PT, todos os envolvidos. Tenho absoluta certeza de que nenhum deles colocou nenhum tostão no bolso. Justiça episódica é sacanagem. Se for para todo mundo, a gente até embarca.”
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Por Reinaldo Azevedo


Movimento que deu “Algemas de Ouro” para Lula se mobiliza contra Renan na Presidência do Senado

No Globo:
A ONG “Rio de Paz” e o “Movimento 31 de Julho Contra a Corrupção e a Impunidade” lançaram nesta quinta-feira uma campanha contra a provável eleição de Renan Calheiros (PMDB-AL) para a presidência do Senado. Ao pé do Cristo Redentor, manifestantes levaram vassouras e exigiram “ficha limpa” para o próximo ocupante do cargo. Eles também criaram uma petição on-line, que reivindica o “não à volta de Renan”.

O abaixo-assinado lembra que “graves denúncias pesam sobre a vida política de Renan e é inaceitável que ele retome um dos mais altos postos da República antes que tudo seja esclarecido”.

“A articulação para a volta de Renan Calheiros à presidência do Senado é um tapa na cara da sociedade brasileira e mais um passo das lideranças políticas que hoje controlam o Congresso Nacional para a desmoralização do Parlamento (…) O Senado não pode continuar sendo dirigido por representantes de oligarquias políticas atrasadas e cruéis, que se apropriam em benefício próprio da riqueza do país e do fruto do trabalho do povo (…) Fazemos um apelo aos Senhores Senadores para que escolham um presidente ficha-limpa, comprometido com o desenvolvimento social e que seja capaz de dirigir o Senado com independência e dignidade”, diz o texto do abaixo-assinado.

No último domingo, o “Movimento 31 de Julho” realizou a entrega do Prêmio Algemas de Ouro. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito a personalidade mais corrupta de 2012.

Por Reinaldo Azevedo


Loteamento – Caixa terá nova estrutura de comando para abrigar PSD e aliados de Kassab

Por Alana Rizzo e João Domingos, no Estadão:
O Palácio do Planalto vai aumentar o loteamento político de vagas na Caixa Econômica Federal para abrigar o PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab. Além do Ministério da Micro e Pequena Empresa, prometido ao vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, o PSD deverá receber também uma vice-presidência da Caixa que está em fase final de criação, com o mesmo nome do futuro ministério.

O novo desenho da Caixa deverá ficar pronto até o próximo mês, segundo fontes do banco. Terá duas novas vice-presidências – além da de Micro Empresa, será criada outra voltada para a habitação, que ficará sob o comando do PT – e dez novas diretorias, sendo que algumas delas também serão distribuídas a aliados de Kassab.

O PSD, oficialmente reconhecido pela Justiça Eleitoral em 27 de setembro de 2011, tem 49 deputados e dois senadores, e é tido como fundamental montagem da base aliada nos últimos dois anos do mandato da presidente Dilma Rousseff.

Palavra final
A reformulação do organograma também prevê a separação das áreas de habitação e saneamento, sendo que um setor será específico para habitação popular. A nova estrutura será submetida à presidente Dilma assim que ficar pronta. A Caixa nega que o redesenho tenha razões políticas. Por meio da assessoria de imprensa, a Caixa informou que adotará um novo modelo de gestão para adequar o banco a seu novo perfil – mais competitivo e mais agressivo no mercado.
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Por Reinaldo Azevedo


Lewandowski mantém distribuição do FPE por 150 dias

Na Veja.com:
O presidente em exercício do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, decidiu, nesta quinta-feira, manter a distribuição do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal (FPE) conforme regra em vigor desde 1989. A decisão de Lewandowski, que atua como plantonista do tribunal até fevereiro, é provisória e terá que ser referendada pelo plenário. O relator oficial do processo é o ministro Antonio Dias Toffoli. As informações são da Agência Brasil.

A decisão do ministro tem validade de 150 dias, desde que antes disso não seja aprovada nova legislação sobre o assunto. A liminar vem em resposta a uma ação ajuizada nesta semana pelos governadores da Bahia, de Pernambuco, de Minas Gerais e do Maranhão. Eles pedem que o STF reconheça a omissão do Congresso na votação de novas regras para o FPE e que mantenha a distribuição de verbas nos padrões vigentes enquanto uma nova lei não é aprovada. O valor do FPE para 2013 chega a 74 bilhões de reais.

Outros quatro estados pediram para entrar na ação como interessados: Ceará, Goiás, Paraíba e Alagoas. Os pedidos ainda não foram analisados por Lewandowski. Os oito estados estão nas regiões mais beneficiadas pelo fundo. Norte, Nordeste e Centro-Oeste recebem 85% da cota total do fundo. Sul e Sudeste dividem os outros 15%.

O Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal está previsto na Constituição de 1988 e permite o repasse de 21,5% da receita arrecada pela União com o Imposto de Renda (IR) e com o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para as 27 unidades da Federação. A distribuição dos recursos leva em conta fatores como o tamanho da população e a renda per capita.

Em 2010, o STF decidiu que os critérios, regulamentados em lei complementar de 1989, são inconstitucionais por não representarem mais a realidade do país. Na ocasião, o STF deu prazo para aprovação de nova lei para a distribuição do FPE até dezembro de 2012, o que não ocorreu.

Na quarta-feira, em resposta a um pedido de informações encaminhado por Lewandowski, o presidente do Senado e do Congresso Nacional, José Sarney, disse que não houve omissão do Legislativo na apreciação da matéria. Para Sarney, o problema é o prazo “exíguo” estipulado pelo Supremo. Para o senador, o Legislativo funciona em seu ritmo “normal”.

Em sua decisão, Lewandowski listou os projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional em regime de urgência para substituir dispositivos considerados inconstitucionais pelo STF, o que, em sua opinião, demonstra a preocupação dos congressistas com a situação e afasta a caracterização de omissão do Legislativo, apontada na ação. A liminar foi concedida parcialmente.

“O Congresso Nacional está envidando os esforços possíveis para solucionar o tema em questão, que se revela de grande complexidade conceitual e de elevada sensibilidade no tocante ao próprio pacto federativo brasileiro”, afirmou o ministro.

Por Reinaldo Azevedo


Braço direito de Gerdau fez pressão para governo contratar consultoria de que empresário já tinha sido presidente

Por Breno Costa e Felipe Coutinho, na Folha:

O braço direito de Jorge Gerdau Johannpeter na Câmara de Gestão da Presidência pressionou para que uma consultoria que foi ligada ao empresário ganhasse contratos sem licitação no governo federal, segundo e-mails aos quais a Folha teve acesso. A consultoria, chamada então INDG (Instituto de Desenvolvimento Gerencial), hoje Falconi Consultores e Associados, foi a única contratada a partir de recomendações feitas pela câmara, que tem o empresário no comando. Ganhou ao todo contratos de R$ 59,9 milhões de ministérios e estatais.

Segundo os documentos, o empresário era mantido a par das gestões a favor do INDG feitas por seu número 2 na câmara, o secretário-executivo Cláudio Gastal, assim como da rotina da empresa. O INDG ganhou esses contratos sem licitação, por notória especialização. Outras empresas de consultoria trabalham para o governo, nenhuma a partir das recomendações da Câmara de Gestão. Os contratos foram feitos com os ministérios de Saúde e Justiça, centralizados no Planejamento (R$ 14,4 milhões), e com os Correios (R$ 29,4 milhões) e a Infraero (R$ 16,1 milhões). No Planejamento, Gastal relata em e-mail enviado para a cúpula do INDG e para Gerdau ter “pressionado” Válter Silva, secretário-executivo da pasta, que segundo ele via a contratação com ressalvas pela falta de licitação. Nos Correios, o INDG foi indicado em reunião oficial entre a cúpula da estatal, Gerdau e Gastal. Já na Infraero, o empresário enviou um ofício à estatal sugerindo que fosse adotada “estratégia semelhante” à do ministério.

Gerdau integrou o conselho de administração do INDG de 2006 a 2011, chegando a presidi-lo a partir de 2009. Desligou-se após receber convite da presidente Dilma Rousseff para assumir a câmara criada por ela para melhorar a gestão pública.
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Por Reinaldo Azevedo


PSDB diz que Dilma usou pronunciamento para fazer campanha pela reeleição; PT reage

No Globo:
O PSDB atacou o pronunciamento em rede de TV e rádio feito pela presidente Dilma Rousseff na noite de quarta-feira, o que eles afirmam ser uso do poder público em favor de “uma candidatura e de um partido político”. Nesta quinta, o partido divulgou nota em que afirma que a presidente usou os oito minutos do pronunciamento para atacar a oposição. Após a divulgação da nota dos tucanos, a liderança do PT na Câmara dos Deputados reagiu e partiu ao contra-ataque. O líder do partido, deputado José Guimarães (PT-CE), afirmou que a posição do PSDB mostra falta de propostas da oposição para o país.

“O conceito de República foi abandonado. A chefe da Nação, que deveria ser a primeira a reconhecer-se como presidente de todos os brasileiros, agora os divide em dois grupos: o “nós” e o “eles”. O dos vencedores e o dos derrotados. Os do contra e os a favor. É como se estivesse fazendo um discurso numa reunião interna do PT, em meio ao agitar das bandeiras e ao som da charanga do partido”, afirmou o presidente do partido, deputado Sérgio Guerra (PE). Para os tucanos, houve o uso indevido do horário em rede de TV e rádio para “promoção pessoal e política da presidente”, o que seria uma afronta à democracia.

“No governo do PT, tudo é propaganda, tudo é partidarizado. Nada aponta para o equacionamento verdadeiro dos problemas do país ou para uma solução efetiva. Em vez de assumir suas responsabilidades de gestora, fazendo o governo produzir, o que se vê é o lançamento prematuro de uma campanha à reeleição, às custas do uso da máquina federal e das prerrogativas do cargo presidencial”, concluiu o PSDB, na nota.

Provável candidato do partido à Presidência, o senador Aécio Neves também divulgou nota na qual chamou de ‘inaceitável’ o uso feito pelo PT de estruturas do Estado para alcançar seus objetivos político-partidários. “Falou à Nação não a presidente da República, mas um partido político (…) registro meu pesar por este triste marco de quebra do princípio da impessoalidade no exercício da Presidência da República”.

PT reage e diz que tucanos não têm proposta para o país
O líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE) divulgou nota após a manifestação do PSDB. Ele destacou o lado político da não adesão de três empresas geradoras de energia ao pacote anunciado por Dilma, todas em estados governados pelo PSDB, e disse que faltam propostas aos tucanos.

“A nota do PSDB divulgada nesta quinta-feira mostra claramente que faltam à oposição propostas para o país e sobra a surrada opção de distorcer e manipular os fatos. Antidemocrático é censurar a palavra da presidenta sobre as conquistas de seu governo e querer estabelecer inclusive o cenário e quando ela deve falar à nação”, afirmou Guimarães.
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Por Reinaldo Azevedo


As falsas imputações de racismo não podem passar impunes, como o racismo

Não me impressiona que certas coisas aconteçam. O que é estupefaciente é que a antes chamada grande imprensa — cada vez menor na sua dimensão, digamos, democrática — lhes dê trela. A que me refiro?

Em dezembro, aconteceu um assalto na região do Taquaral, em Campinas. As testemunhas descreveram os bandidos. Eram pardos e negros. A PM determinou que grupos de jovens de cor parda e negra fossem alvos especiais da atenção da polícia para a apuração daquele caso em particular. O que há de errado nisso? Se os assaltantes fossem pernetas, a polícia diria: “Especial atenção com os pernetas”. Se fossem louros de olhos azuis, “Cuidado com os louros de olhos azuis”. Trata-se de mera caracterização.

Não para Frei Davi, o chefão de uma ONG chamada Educafro e notório criador de caso, chegado a ver racismo também onde não existe. 

Venham cá: então é legítimo que alguém se identifique como negro ou pardo para ter direito a cotas, por exemplo — e ninguém vê nisso racismo —, mas é um absurdo quando se diz: “Os ladrões eram negros, os ladrões eram pardos?”. A polícia deveria ter omitido esse dado?

Estão fazendo um barulho bucéfalo nas redes sociais. E, claro!, lá foi a diligente imprensa meter o gravador na boca do governador Geraldo Alckmin. Ele disse o óbvio. Lê-se no Estadão:
“O que houve foi um assalto ocorrido num bairro. Você tem um suspeito feito pelas características. É como se dizer: ‘Olha, teve um assalto aqui, e o suspeito é um loiro, uma pessoa loira, ou o suspeito é uma pessoa japonesa, asiática’. Enfim, o suspeito era uma pessoa de cor parda (…) Mas (esse foi) um caso específico, onde havia um suspeito. Não há nenhuma forma de discriminação”. Afirmou ainda que, caso se tratasse de preconceito, a punição seria “rigorosíssima”.

Quem poderia endossar uma ordem da PM para tomar especial cuidado com negros e pardos? Ora… A acusação é absurda! Chegará um momento em que será preciso responsabilizar judicialmente as acusações infundadas de preconceito. Isso demoniza as pessoas e as instituições, deixa-as marcadas. 

É evidente que a Educafro está atribuindo à polícia o que ela não fez. O caso é de tal sorte estúpido que nem deveria ser objeto de notícia — ou, então, que se evidenciasse a estupidez da coisa. O politicamente correto — e estúpido — dita a pauta. De agora em diante, quando a polícia tiver de caracterizar um eventual suspeito pardo ou negro, terá de dizer: “Suspeito não é branco, não é amarelo nem é vermelho”.

Essa é a intolerância dos tolerantes.

Por Reinaldo Azevedo

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Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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1 comentário

  • isaac comelli Aral Moreira - MS

    Sr. Reinaldo...mas o que acontece la na Amazonia, aconteceu aqui,a mesmissíma coisa... á 30 anos atrás e la estão ganhando um pouco mais!!!aqui vendia a madeira a troco de cachaça... devastaram tudo, hoje não tem um pe de árvôre, e o que ficou o fogo consumiu...agora querem mais terras porque não tem mais como se sustentar... e assim mesmo recebem cesta basica... poderia criar um gado; não todo ano aquele pasto volumoso e queimado sem proveito nem um... vendo e de nem acreditar;até onde iremos??? É lamentável, não tem palavras, que explique isso...!

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