A popularidade de Dilma, os médicos cubanos, o papo furado e o cenário eleitoral de 2014. Tudo na mesma, mas um pouco pior

Publicado em 09/09/2013 11:18 e atualizado em 19/09/2013 14:04
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

Saiu uma nova pesquisa CNT/MDA sobre a popularidade do governo Dilma, o cenário eleitoral do ano que vem e a avaliação que faz a população do programa Mais Médicos. Dizem-se favoráveis à contração de médicos estrangeiros 73,9% da população — em julho, eram 49,7%, em levantamento feito pelo mesmo instituto. Aquela gente de crânio esquisito (o meu, furado, também é estranho, mas de outro modo) já começou: “Tá vendo? A população é a favor, e você fica criticando o programa…”. Bem, não critico a vinda de médicos estrangeiros, como é óbvio, mas o fato de não fazerem o Revalida — e, no caso dos cubanos, o regime de trabalho. Isso é evidente para leitores que têm apenas os dois pés no chão — os que estão solidamente plantados com os quatro membros no solo não entendem o que leem. A popularidade de Dilma subiu na comparação com o que o MDA mediu em julho: acham seu governo ótimo ou bom 38,1% dos entrevistados, contra 31,3% no levantamento anterior. O ruim/péssimo caiu de 29,5% para 21,9%. O desempenho pessoal de Dilma conta agora com a provação de 58% — era de 49,3%. Pré-jornada de junho, esses índices positivos passavam a casa dos 70%. Despencaram e agora começa a subir, com reflexo também nas intenções de voto (já chego lá). Os sites já estão coalhados de chutes monumentais, vendidos como análise, assegurando que o programa “Mais Médicos” elevou a popularidade. Vamos com calma.

Em primeiro lugar, uma resposta à turma do crânio esquisito. Eu nunca escrevi aqui que o programa Mais Médicos seria impopular. Se eu achasse isso e se estivesse certo de que seria rejeitado pela população, nem teria me ocupado do assunto. O próprio povo se encarregaria de afastar a mistificação. Ao contrário: eu o considero especialmente perverso porque contará, sim, com a aprovação. E até já registrei a razão óbvia para ser assim: entre médico nenhum e um de fala meio estranha, o que é melhor? Muitas vezes, a pessoa precisa apenas de alguém que a acalme, não é? Esse negócio será apresentado como a redenção da saúde, os problemas seguirão no mesmo lugar, continuará a faltar leitos, a tabela do SUS seguirá na pindaíba e pronto! Dilma, não obstante, irá à TV dizer que, agora, pobre tem médico. E há, adicionalmente, a imoralidade essencial, indissociável do programa: a forma de contratação dos cubanos — é mão de obra análoga à escravidão, sim!

Em segundo lugar, atribuir a elevação da popularidade de Dilma a um programa que mal saiu do papel e que, por enquanto, exibe mais problemas do que soluções é pura mistificação. Vocês sabem como vejo esse troço. Os índices da presidente melhoram porque, de fato, caíram de forma artificial em junho. PARA COMPREENDER: digo “artificial” porque nada ocorreu, então, de essencialmente novo. Não havia, em junho, nem mais nem menos motivos para gostar ou não gostar do governo do que havia em março (quando ela estava nos píncaros da glória) ou do que há agora. Os médicos não têm nada com isso. Apenas houve um refluxo da histeria de setores da imprensa com a suposta “Primavera Brasileira”. O resto foi feito pelos idiotas do Black Bloc e afins. O que havia de povo genuinamente popular foi expulso das ruas. Dilma vai recuperando, assim, gradualmente sua popularidade. Não voltará ao patamar que já teve, mas vai subir mais. Quando começar a colher os efeitos do complexo de vira-lata que está sendo excitado com essa história da espionagem, crescerá ainda mais. Se Obama disser qualquer coisa que possa ser entendida como um pedido de desculpas, aí dispara.

Cenário eleitoral
O cenário eleitoral é compatível com a recuperação da popularidade. Dilma passou de 33,4% em junho para 36,4% agora; Marina Silva (Rede), de 20,7% para 22,4%; Aécio Neves (PSDB) segue com os 15,2%. Eduardo Campos oscilou negativamente, de 7,4% para 5,2%. Num eventual segundo turno, Dilma bateria qualquer um dos seus adversários. Marina é quem daria um pouco mais de trabalho (40,7% a 31,9%). Contra Aécio, seria tranquilo (44% a 24,5%). Numa improvável disputa final contra Campos, um passeio: 46,7% contra 16,8%. Marina, por sua vez, venceria o segundo turno contra o tucano (39% a 22%) e o pessebista (45% a 12,5%). Em números de hoje, a única hipótese de o senador mineiro vencer seria numa impossível disputa com o governador de Pernambuco (30,9% a 14,9%).

Estranha rejeição
O instituto também mede a rejeição. Os números me pareceram um pouco estranhos — não conheço a metodologia e as perguntas feitas, mas vá lá: Dilma lidera com 41,6%, seguida de Aécio (36,8%), Campos (33,5%) e Marina (30,8%). Por que estranho? Acho todos os números muito elevados. Campos é pouco conhecido para ser rejeitado por um terço do eleitorado; o mesmo vale para Aécio (mais de um terço). Tendo a duvidar que mais de 41% se neguem terminantemente a votar em Dilma. Se for isso mesmo, a oposição está definitivamente lascada: Dilma teria um saldo negativo (intenção de voto no confronto com rejeição) de 5,2 pontos; o de Marina seria de 8,4 pontos; o de Aécio saltaria para 21,4, ficando atrás apenas de Campos, com 28,1. Esses números me parecem um tantinho inexplicáveis.

É isso aí. Passado o tsunami artificial — há razões de sobra, reitero, para o brasileiro não sair da rua; mas já havia antes, quando o governo era aprovado por mais de 70% —, as coisas começam a voltar a seu leito. Em condições normais de temperatura e pressão, não havia no horizonte a perspectiva de alternância de poder. Diminuído o calor das ruas, tudo tende para mais do mesmo. Juntas, Dilma e Marina têm 58,8% do eleitorado. Fica a cada dia mais caracterizado o que chamei de “torção à esquerda” do processo político. Quando o governo, nos números ao menos, quase beijou a lona, a oposição de fato — coisa que Marina e Campos não são — conseguiu ficar no mesmo lugar.

Por Reinaldo Azevedo

 

Em terras do PT – Subscretário da Bahia contém fúria do MST a tiros; o curioso é que movimento comanda uma pasta do governo

Pois é… Coisa igual nunca se viu. Fico cá a imaginar se o episódio tivesse acontecido no governo de um partido, como é mesmo?, “reacionário”, “conservador”, “de direita”, “dazelite”… O mundo viria abaixo. A esta altura, a gritaria nas redes sociais seria ensurdecedora. A imagem correria o mundo. Memes teriam sido criados e já teriam se multiplicado aos milhões. Mas, sabem cumé, tudo se deu no governo do PT. E os adversários do partido não são exatamente ágeis. A que me refiro?

O MST, com os métodos trogloditas de sempre, decidiu invadir a Secretaria de Segurança Pública da Bahia para cobrar agilidade na investigação do assassinado de um dirigente do movimento, ocorrido em abril, na zona rural de Iguaí. Como os policiais não conseguiram conter o grupo, Ari Pereira, subsecretário da pasta, não teve dúvida: efetuou disparos com uma arma de fogo — fala-se em três; a secretaria diz que foi apenas um — para conter o ânimo dos exaltados, que estavam armados de foices, paus, machados, facões, essas coisas que o MST costuma usar para argumentar. A foto no alto é do próprio MST e registra o subsecretário com a arma na mão.

Há uma nota a respeito do site da Secretaria de Segurança Pública da Bahia, a saber (em vermelho):

Armados com foices, facões, machados, enxadas, facas e pedaços de pau, integrantes do Movimento dos Sem-terra (MST) invadiram, por volta das 8 horas de hoje (10), a sede da Secretaria da Segurança Pública (SSP), localizada no Centro Administrativo da Bahia. Eles ocuparam o térreo e, após tentarem tomar a arma de um soldado da guarda, já iam subir as escadas de acesso aos outros pavimentos, quando foram impedidos por um disparo de advertência.

Esta rápida ação fez os manifestantes – homens, mulheres, adolescentes e até crianças – recuarem, o que garantiu a integridade dos servidores, que já começavam a chegar ao trabalho, e das instalações do prédio. A Secretaria da Segurança Pública esclarece que o MST, com carro de som, suprimentos e acampado em barracas em torno da sede da instituição, não apresentou, até o final da manhã, qualquer pauta reivindicatória. A SSP também afirma estar aberta ao diálogo com o Movimento do Sem-terra, embora repudie qualquer manifestação violenta, que ameace a integridade dos funcionários e as instalações físicas de suas dependências.

Comento

A pasta também divulga fotos da invasão (acima). Se foi assim como diz a nota, com tentativa até de tomar arma de policial (e nada que venha dos bravos comandados de João Pedro Stedile me surpreende), considerando especialmente que se trata da Secretaria de Segurança Pública, e se o tiro foi mesmo só de advertência, digamos que a coisa tente ser compreensível… Mas não dá! É indesculpável a evidência, mais uma, de escandalosa incompetência. Por quê? E se, apesar do tiro, a turma tivesse avançado? Ari iria fazer o quê? Atirar para matar? Pior: o grupo poderia lhe ter tomado a arma. Dado um tiro, outros policiais presentes poderiam fazer o mesmo.

Parece-me que o correto — e sei que isso demoraria algum tempo, mas era o mais seguro — teria sido acionar a tropa de choque da Polícia Militar, não é? Ela poderia, a depender do tempo, ter coibido a invasão ou efetuado a desocupação. O que é mais curioso é que esse tipo de ação ocorre, e ninguém é preso; ninguém responde pela bagunça. Digam-me aqui: o que vocês acham que aconteceria se um baiano comum, que não pertença ao “movimento social”, decidisse invadir a Secretaria de Segurança Pública e tomar a arma de um policial?

A nota da secretaria sugere que se agiu com a devida energia e a tempo. Ao contrário: fica caracterizada, uma vez mais, a bagunça que vive essa área da administração na Bahia, o que talvez explique a escandalosa escalada de homicídios no estado sob a gestão petista.

MST é prata da casa
Vejam esta foto. 


O MST, de resto, é unha e carne com o governo da Bahia. Em 2011, os valentes invadiram a Secretaria de Agricultura do Estado. O que fez o governador Jaques Wagner? Recorreu à Justiça para obter a reintegração de posse, uma obrigação funcional sua? Não! Passou a alimentar a turma com 600 quilos de carne por dia. Era tanta comida que as sem-terra passaram a salgar a carne para que não apodrecesse (imagem acima). Vinte dias depois da desocupação, Wagner nomeou Vera Lúcia da Cruz Barbosa para a Secretaria de Políticas para as Mulheres. E quem é Vera? Dirigente do MST, membro da Via Campesina e integrante da Coordenação Nacional dos Movimentos Sociais (CMS). Ou por outra: a turma que invadiu a Secretaria de Segurança Pública da Bahia e foi contida a tiros está no… governo da Bahia.

Entenderam?

Por Reinaldo Azevedo

 

Roubalheira no Ministério do Trabalho – Dilma deveria pedir ajuda à NSA, a agência de espionagem americana. Seria uma bênção para os brasileiros!

Em vez de ficar fazendo firula com essa história da NSA, a agência de segurança dos EUA que realiza espionagem, Dilma deveria firmar com ela um convênio. Lembro, o que está sendo esquecido pelo noticiário, que governo brasileiro é, à falta de melhor palavra cliente da NSA. Como informou Thomas Shannon, ex-embaixador dos EUA no Brasil em entrevista à VEJA, a área de Inteligência (tá rindo de quê, ô incréu?) no Brasil recebe informações coletadas pelo serviço americano. Quais? Ninguém pode revelar. Pois é… Eu estou aqui a defender que Dilma amplie essa colaboração. Se a NSA passasse a atuar dentro do governo mesmo, poderia ser uma bênção. Imaginem quanto ladrão seria pego com a boa na botija, né?

Por que isso?

Uma gangue — esse é o nome — foi descoberta operando dentro do Ministério do Trabalho. A Polícia Federal estima que o conjunto das fraudes possa alcançar R$ 400 milhões. Digamos que seja a metade disso, um quarto, um décimo… E já será uma dinheirama fabulosa. Como isso é possível? Tome-se o caso de Anderson Brito, assessor do ministro do Trabalho, Manoel Dias. O sujeito já tinha sido demitido da pasta sob suspeita de corrupção na gestão de Brizola Neto. Foi readmitido quando houve a troca de guarda. Isso significa que o excesso de moralidade deu lugar ao laxismo? Não! isso está a indicar que a pasta se tornou um palco de disputa de, como poderia chamar?, “organizações criminosas” talvez…

Existe uma Abin no Brasil. Existe a Controladoria Geral da União. Existe a rede de informações da Casa Civil, em razão da capilaridade do órgão. Existe (ou deveria existir) a burocracia estável do próprio Ministério do Trabalho… Ninguém, santo Deus!, ninguém é capaz de ao menos avaliar a ficha dos indicados? Não estou querendo fazer do assessor um bode expiatório, mas ele se torna emblema da bagunça. Isso significa que o sujeito entrou na pasta, saiu dela e entrou de novo sem nenhuma verificação. Garanto que se pede atestado de bons antecedentes para ser ascensorista de qualquer órgão federal, inclusive do Ministério do Trabalho. Para transportar bandidos entre um andar e outro, o indivíduo precisa provar que é um homem de bem.

NSA neles, soberana! Como podemos perceber, não há mal nenhum que os americanos possam nos fazer que nós, com a nossa criatividade, o nosso jeito de ser, o nosso charme, o nosso veneno, não possamos fazer por conta própria, não é mesmo?

Sim, haverá alguns semoventes que tomarão a sério a minha sugestão. O que estou a fazer é a exposição da bagunça em que se transformou a alta administração no Brasil, resultado, em parte, do loteamento de cargos para manter a tal base de apoio. Essa é uma herança do lulismo. Determinados setores do governo são entregues, como se diz, de porteira fechada, e os que recebem o feudo fazem o que bem entendem. “Ah, mas olhe lá, a PF tomou as devidas precauções…”

Pois é… Esse é outro recorde de que os petistas estupidamente se orgulham: “Nunca houve tantas ações da PF como no nosso governo….” Ainda que fosse verdade que o crescimento se deva à inação de antes, motivo de orgulho seria outro: tomar as devidas providências para que os ladrões não se apoderem de estruturas do estado. Até porque é evidente que, ainda que alguns sejam punidos — daqui a uns tantos anos —, o dinheiro que roubaram não voltará aos cofres públicos. Ainda que se confiscassem todos os bens dos envolvidos, é de se supor que larápio não dê sopa. O dinheiro roubado já foi, de algum modo, lavado. Sumiu pelo ralo.

Por Reinaldo Azevedo

 

Um dia antes de STF retomar julgamento sobre embargos infringentes, Dirceu tenta intimidar tribunal ameaçando recorrer a corte internacional

O Supremo Tribunal Federal retoma nesta quarta o julgamento do mensalão, quando os ministros começam a decidir sobre a sobrevivência ou não dos embargos infringentes. Podem seguir a lei ou não. Vamos ver. Se seguirem,causa finita est. José Dirceu, como vem fazendo desde que o STF aceitou a denúncia, decidiu pressionar o tribunal, intimidá-lo mesmo. Em entrevista à Fundação Perseu Abramo, do PT, afirmou que pretende recorrer à Corte Interamericana de Direitos Humanos se não lhe for concedida a chance de um segundo julgamento.

Recorrer, ah, isso ele pode! Alguma chance de sucesso? Inferior a zero. Em primeiro lugar, ainda não se criou um governo mundial, e a tal corte não é instância revisora do STF. Em segundo lugar, trata-se de um julgamento de natureza criminal — e Dirceu teve assegurado amplo direito de defesa. Em que os seus “direitos humanos” teriam sido agredidos? Ainda, notem bem!, ainda que, por qualquer loucura, a Corte viesse a notificar o Brasil, que implicação prática isso teria? Resposta: nenhuma! Dilma que o diga! Quando o órgão resolveu cobrar explicações do Brasil sobre Belo Monte, sugerindo a interrupção da obra, a presidente brasileira deu uma solene banana ao órgão, no que fez bem. Cortes internacionais não põem fim à soberania dos países nem à autonomia (onde são autônomos) dos respectivos Poderes Judiciários. Trata-se de uma bobagem para embalar tolos.

Dirceu pode tentar o que quiser. Por que afirmo que se trata de uma “ameaça”? Porque ele está, no fim das contas, a sugerir que o PT e seus associados de esquerda latino-americanos — o Foro de São Paulo — darão início a uma campanha de difamação do Judiciário brasileiro. Ora, ora, ora… Justo eles, não? Os amantes da independência da Justiça em paraísos como Bolívia, Equador, Venezuela, Nicarágua e, claro!, Cuba! Se há no Supremo ministros covardes o bastante para cair nessa história, isso eu não sei. Espero que não.

Dirceu foi convidado para a entrevista para falar sobre assuntos gerais e coisa e tal. Sabem como é… O pensador tem muito a dizer. Aparentemente, o propósito não era intimidar o Supremo. Ficou para o último bloco, em perguntas dirigidas por internautas, assim, como se fossem ocorrência fortuita. Tsc, tsc, tsc.

Ele tem uma explicação muito original para o caso. E nada modesta. “Fui transformado no principal alvo do ódio, da inveja de setores da elite do país, que não se conformam com a eleição do Lula, do PT, com o papel que o presidente Lula tem no mundo, com a eleição da Dilma. Acabei escolhido para ser o símbolo desse ressentimento que eles procuram disseminar”.

Caramba! Então era isso? No fundo, todos gostaríamos de ser Zé Dirceu? Como não dá, a gente resolveu, então, puni-lo. Eita! Preconceito da elite? De qual elite? Não foi da elite financeira. Os bancos apoiaram Lula e o PT. Não foi da elite industrial. Os grande apoiaram Lula, o PT e a Bolsa BNDES. Não foi da elite intelectual: a academia, com raras exceções, é capacho do PT. Não foi da elite política: de Sarney a Delfim Netto, passando por Fernando Collor e Maluf (é, leitor, elite à brasileira…), todos resolveram lavar as suas respectivas reputações na lavanderia “operariamente correta” do Apedeuta. Não foi, ao contrário do que dizem, nem mesmo da “elite da mídia”, que ajudou a divulgar a falácia da herança maldita.

Que diabo de “elite”, afinal, tinha inveja de Dirceu e do PT? Só se for a elite que defende o triunfo da lei. Mas aí não é inveja; só vergonha na cara! Essa conversa já enjoou. Escrevi ontem um texto contestando uma abordagem feita pelo Globo sobre suposto lobby feito por este senhor quando ministro. Pareceu-me forçação de barra. Eu não acho que Dirceu deva pagar por aquilo que não fez. O que se espera é que a lei triunfe e que ele pague por aquilo que fez.

Dirceu reclamou até que o perseguiram como consultor de empresas, pobrezinho! Vai ver chama de consultoria a reunião à socapa, em quartos de hotel, com figuras da alta administração pública e do comando de estatais. Com que poder? Com que autoridade? Com que mandato? Perseguido? Eu acredito nas suas próprias palavras nesse particular. Lembro duas respostas que deu em entrevista concedida à revista Playboy, em 2007 (em vermelho):

PLAYBOY – O senhor não parece muito à vontade ao falar da sua atividade de consultor.
José Dirceu –
 A lei me obriga ao sigilo e à confidencialidade, tanto no escritório de advocacia como aqui. Fazem campanha para me prejudicar. A minha vida é pública, eu continuo fazendo política, então é natural que escrevam e falem de mim. A minha atividade como consultor está totalmente legal, faz dois anos que saí do governo. Eu esperei um ano e meio. Posso fazer qualquer atividade.

PLAYBOY – Ter passado pelo governo que continua no poder não ajuda?
José Dirceu -
 O Fernando Henrique pode cobrar 85 mil reais por palestra, e eu não posso fazer consultoria? No fundo, o que eu faço é isso: analiso a situação, aconselho. Se eu fizesse lobby, o presidente saberia no outro dia. Porque no governo, quando eu dou um telefonema, modéstia à parte, é um telefonema! As empresas que trabalham comigo estão satisfeitas. E eu procuro trabalhar mais com empresas privadas que com empresas que têm relação com o governo.

O perseguido, como se vê, confessava que sua rede de influências no partido e no governo o ajudava a ganhar dinheiro, o que me parece um modo de concorrência desleal no universo das consultorias. Afinal, um telefonema seu “é um telefonema”.

Atenção, ministros!
Referindo-se ao julgamento, afirmou:
“Amanhã ou quinta, teremos mais um capítulo, talvez o último… não o último, porque depois temos revisão criminal, as cortes internacionais. Vou continuar defendendo o PT e o governo”.

Entendi. Vai aí mais uma confissão de que o mensalão era, afinal de contas, uma ação do PT e do governo. É bom saber disso quando se discute se a pena que lhe deram por formação de quadrilha foi ou não exagerada. Que era chefe do esquema, está provado. Se agiu em nome do governo e do partido, como confessa, tanto pior, não é? Nesse caso, ministro Teori Zavascki, não seria nada demais se a sua pena-base fosse igual à pena máxima, não é mesmo?

Vamos ver se a entrevista vai ou não intimidar os ministros.

Por Reinaldo Azevedo

 

A violência contra jornalistas nos protestos – As omissões de uma nota de patrões e de outra de profissionais da área. Ou: Jornalistas não gostam de polícia. É um preconceito velho

Duas notas sobre a agressão a jornalistas durante as manifestações chamaram a minha atenção: uma é de uma associação de profissionais, e outra, de patrões. As duas erram feio, não por aquilo que apontam, mas por aquilo que omitem — e omitem, entendo eu, o essencial. Já chego lá. Antes, algumas considerações.

Jornalistas, no geral, não gostam de polícia. Por bons motivos quando policiais exorbitam de suas funções, apelam à violência gratuita, hostilizam a imprensa, temerosos de que o registro de um flagrante seja tomado como a história inteira — o que, infelizmente, acontece às vezes. E o nome disso é distorção e mau jornalismo. Muitos jornalistas não gostam de policiais também por maus motivos. Aqueles que cumprem a mais difícil e a mais desagradável tarefa dos regimes democráticos — que é exercer o uso legítimo da força — são tomados como agentes de uma repressão, sei lá como chamar, imaginária ou, para ficar num termo que voltou à moda, “simbólica”. De fato, há entranhada nas corporações uma cultura da violência, que precisa acabar. Mas não é menos verdade que os policiais militares são vistos, muitas vezes, como expressões de um estado autoritário, ilegítimo, cuja tarefa é reprimir movimentos sociais libertários, que seriam portadores de amanhãs sorridentes. E isso é uma grossa bobagem ditada pela ideologia.

A questão pode assumir contornos de escandaloso preconceito. Tome-se o caso da família Pesseghini. Cansei de ler tolices sugerindo que o fato de os pais do garoto serem policiais teria facilitado o contato do menino com as armas e com o universo da violência. Um laudo psicológico que circula por aí, que está mais para a baixa literatura do que para a análise técnica, contribui para o festival de boçalidades. Alimenta o preconceito o fato de que o pai pertencia à Rota, a tropa de elite que certa imprensa adora odiar.

Matemática, infelizmente, não é disciplina do curso de jornalismo. Há 100 mil PMs em São Paulo. Em todo o Brasil, são mais de 400 mil. Quantos casos como esse se conhecem? A taxa de filhos de policiais homicidas e suicidas é superior à de outras categorias profissionais? Alguém que, por qualquer razão — não vou especular — decide matar os próprios pais, duas parentes e se suicidar em seguida precisa do suposto convívio com a violência e com armas para fazê-lo? A ilação é só uma estupidez do preconceito — a mais asquerosa que vi nos últimos tempos. Mas volto ao eixo.

A Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV) divulgou a seguinte nota:
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) manifesta repúdio à violência cometida contra profissionais de imprensa, durante as manifestações no feriado de 7 de setembro.
Cinco repórteres foram hostilizados e agredidos quando cobriam as manifestações nas cidades do Rio de Janeiro, de Belo Horizonte, Brasília e Manaus.
As agressões partiram tanto de policiais como de manifestantes, com a intenção de impedir o registro dos fatos pelos profissionais de imprensa.
É inaceitável que se imponham limites, de qualquer ordem, à atividade jornalística pelo grave prejuízo que causam ao conjunto da sociedade, que tem violado seu direito fundamental de acesso à informação.
DANIEL PIMENTEL SLAVIERO
Presidente

A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) publicou o seguinte em seu site:
A Abraji contabilizou 21 casos de violação contra 20 profissionais da imprensa durante os protestos realizados no 7 de Setembro. A polícia foi a autora de 85% das agressões – dezoito casos – na maioria das vezes por uso ostensivo de spray de pimenta. Os números podem aumentar conforme mais casos forem confirmados. Os 21 casos registrados pela Abraji estão organizados em uma planilha disponível para download neste link: https://bit.ly/15R0fgi. Os dados também estão na planilha ao final desta nota.
Brasília foi a cidade mais violenta para os profissionais da imprensa: 12 jornalistas foram agredidos, todos por policiais militares. O fotógrafo Ricardo Marques, do jornal Metro, desmaiou após ser atingido no rosto por spray de pimenta. Uma de suas câmeras foi furtada. A fotorrepórter Monique Renne, do Correio Braziliense, registrou o momento em que um policial jogou spray de pimenta diretamente em sua câmera; ao fotografar a cena, André Coelho, do mesmo jornal, foi agredido por PMs.
No Rio de Janeiro, o repórter da Globo News Júlio Molica foi duplamente atingido: pelo spray de pimenta da PM e por chutes de manifestantes, que tentavam expulsá-lo do local.
Os manifestantes também se voltaram contra a imprensa em Manaus: a repórter Izinha Toscano, do Portal Amazônia, levou socos nas costas; Camila Henriques, do G1 Amazonas, foi empurrada. Elas tentavam registrar a prisão de alguns manifestantes.
Forças de segurança: tradição de violência
Os números mostram a recorrência das forças de segurança como autoras de violência contra jornalistas. No último sábado, as PMs igualaram o recorde de 13 de junho, quando agentes de segurança também agrediram 18 profissionais da mídia.
Desde o dia 13 de junho a Abraji já contabilizou 82 violações contra jornalistas durante a cobertura de manifestações. A planilha completa com os nomes de todos os profissionais agredidos, veículos para o qual cada um trabalhava, data e local da agressão está disponível para download neste link: https://bit.ly/13C5YKi.
A Abraji repudia as ações de policiais e de manifestantes contra profissionais da imprensa. Agressões são sempre injustificadas. Quando os agredidos são repórteres, todos os cidadãos terminam sendo vítimas da falta de informação.

Voltei
As duas notas pecam não por aquilo que afirmam, mas por aquilo que omitem. Nem uma nem outra revelam — e os sindicatos de jornalistas se calaram a respeito — que, desde as jornadas de junho, boa parte dos jornalistas dos grandes veículos de comunicação tem de cobrir as manifestações incógnitos, escondidos, ou correm o risco de apanhar, como aconteceu com Júlio Molica. Carros de emissoras chegaram a ser queimados — e isso se deu antes de os black blocs assumirem o comando dos protestos.

Só não há um número estupidamente maior de jornalistas agredidos por manifestantes porque estavam escondidos, fazendo um trabalho quase clandestino — era o preço para não levar umas porradas daqueles libertários. Há, sem dúvida, evidência de truculência das várias PMs, mas é preciso que se diga a verdade inteira. No sábado, chegou a haver tentativa de invasão da Globo em Brasília. A sede da emissora em São Paulo também já tinha sido atacada.

É preciso tomar cuidado nessas coisas. É evidente que se deve repudiar a agressão a jornalistas, venha de onde vier. Mas entendo que decretar o empate — ou, pior, demonizar ainda mais as polícias — corresponde a prestar um desserviço à verdade, ao jornalismo e à civilidade. Desde o início das manifestações, em junho, os celulares acabaram sendo o instrumento de trabalho de muitos jornalistas. Um simples logotipo num microfone poderia expor o profissional ao linchamento. Nem a Abert nem a Abraji podem ter medo desse fascismo das ruas. Isso já deveria ter sido denunciado há tempos. Desde os tempos, diga-se, que jornalistas ficavam se esgoelando na TV para chamar de “pacíficas” manifestações não raro incendiárias. Não pensem que tratar arruaceiros a pão de ló vai humanizá-los. Ao contrário: sentir-se-ão ainda mais à vontade — afinal, as gentilezas e as deferências dos meios de comunicação e dos jornalistas os fazem pensar que estão certos.

Por Reinaldo Azevedo

 

Dirceu e o lobby em favor de empresas privadas. Algumas considerações a respeito

Leitores estão me cobrando que trate de reportagem publicada em O Globo dando conta de que José Dirceu, como ministro-chefe da Casa Civil, teria feito lobby para empresas privadas junto ao Ministério da Fazenda, de que o titular era Antônio Palocci. Os documentos foram obtidos pelo jornal com base na lei de acesso à informação. Reproduzo um trecho do texto e volto em seguida.
*
A Casa Civil da Presidência da República foi usada pelo então ministro José Dirceu para agir a favor de interesses de empresas, segundo documentos inéditos obtidos pelo GLOBO. Em 2004, quando a compra das mineradoras Socoimex, Samitri, Ferteco e Caemi pela Vale era objeto de pauta na Secretaria de Acompanhamento Econômico e no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Dirceu encaminhou ao então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ofício com considerações do consultor-geral da Vale, que expressava a expectativa da empresa de que a “operação fosse aprovada sem restrições”.

A compra das empresas pela mineradora foi um negócio de R$ 2,2 bilhões, consumado em 2000 e 2001. As aquisições tornaram a Vale controladora de todo o mercado doméstico de pelotas no Sudeste. A empresa aumentou de 49% para 94% o controle da venda de minério de ferro granulado no país, e de 75% para 92% a venda do minério sinter feed (partículas finas), de acordo com relatório do órgão de defesa da livre concorrência.
(…)

Retomo
O link vai acima para quem quer ler a íntegra da reportagem. Tenho algumas coisas a dizer a respeito.

1: Vocês sabem o que penso sobre José Dirceu e conhecem a minha opinião sobre o mensalão — e não mudei uma vírgula a respeito. Lembro, imodestamente, que quem primeiro sustentou na imprensa que a Lei 8.038 pôs fim aos embargos infringentes fui eu.

2: Pretendo ter nessas questões o cuidado que os petistas não costumam ter com seus adversários — vejam a propaganda canalha que o partido tentou levar ao ar contra o governo de São Paulo por causa da Siemens.

3: Ocorre que minha praia é outra, e outros são os meus valores. Não sou ombudsman de ninguém, mas acho que, se é isso o que se tem, não se tem nada.

4: Quem quer fazer lobby ilegal ou suspeito não deixa isso registrado em ofício. Sei que a questão é controversa porque poderia levar a conclusões estranhas, de tal sorte que a ausência de provas é que seria a melhor prova. O debate é amplo. De resto, acho que Dirceu não deixaria uma evidência de ação suspeita justamente nas mãos de Palocci…

5: Parece fazer sentido a hipótese de que, no caso de uma ação ilegal ou estranha, Dirceu chamaria Palocci para uma conversa ao pé do ouvido, de petista para petista.

6: Sei que petista nenhum — nem aquela gente de crânio esquisito (é piadinha!) que presta serviços à turma na Internet — trataria qualquer outro com esse cuidado, mas eu não sou um deles nem opero com seus valores. Sim, eles me demonizam na rede e dizem mentiras estúpidas a meu respeito. Mas eu me impus dizer apenas a verdade sobre eles.

7: Até onde acompanhei, questões como as que chegaram a Dirceu, nesse caso, não eram necessariamente estranhas à sua atividade.

8:É isso aí. Quando acho que “sim”, digo “sim”; quando acho que “não”, digo “não”.

9: No mais, se o STF seguir a lei, embargos infringentes não existem, o processo no STF acabou, e chegou a hora de executar as penas, e Dirceu tem de começar a cumprir a sua em regime fechado. Por conta de tudo o que fez, conforme está nos autos, que não caracterizava atos próprios e adequados à sua função.

Encerro assim
Encerro lembrando que, se ofícios enviados por autoridades governamentais sugerindo providências, acompanhamento ou avaliação — ou, ainda, fazendo indagações — começarem a ser tomados como exemplos de lobby, há o risco de os administradores públicos começarem a deixar de registrar mesmo os atos de ofício obrigatórios. Será o reino da governança oral.

Por Reinaldo Azevedo

 

Lula e Donadon

No Facebook de assessor de Doadon

A turma de Natan Donadon não desiste. Dessa vez, porém, a iniciativa pró-deputado detento não partiu do Plenário da Câmara. Um funcionário do gabinete de Donadon publicou no Facebook, no sábado, Dia da Independência, uma foto do seu chefe com Lula, em frente a um avião da FAB.

Por Lauro Jardim

 

Fundação Banco do Brasil: Vida de funcionária que denunciou convênio suspeito com petistas vira um inferno mesmo sob proteção policial. Ou: E não é que Capilé conseguiu, também nessa, uma boquinha?

É do balacobaco! Acabo de ouvir da CBN. Maria Suely Fernandes, a funcionária da Fundação Banco do Brasil que denunciou, como podemos chamar?, a existência de convênios suspeitos na Fundação Banco do Brasil, mesmo estando sob proteção da Polícia do Distrito Federal, continua a receber ameaças. O alvo principal é seu filho, de seis anos. Estão, entre outras coisas, ligando para a sua casa para lembrar que sabem em que escola ele estuda. Fazem o mesmo por intermédio de torpedos.

O caso veio à luz com reportagens de Andreza Matais, publicadas no Estadão. Reproduzo trecho de uma delas. Volto depois.

“Controlada pelo PT, a Fundação Banco do Brasil firmou convênios de R$ 36 milhões com entidades ligadas ao partido e familiares de seus dirigentes. A lista de organizações não governamentais, associações e prefeituras beneficiadas está sob investigação da Polícia Civil do Distrito Federal. O banco faz auditoria nos contratos e parcerias. Como o Estado mostrou na quinta-feira, a Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Deco) do Distrito Federal apreendeu documentos e computadores na sede da fundação, em Brasília. Dois DVDs e um CD foram retirados do gabinete do atual presidente da fundação, Jorge Alfredo Streit, ligado ao PT. Ele foi candidato ao governo de Rondônia pelo partido. A posse na fundação, em junho de 2010, foi prestigiada por quadros importantes da sigla, entre eles cinco parlamentares e o então ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci.

Streit sucedeu a Jacques Pena, filiado ao PT do DF, cuja administração foi marcada por repasses a entidades ligadas aos seus parentes, agora sob investigação. Com sede numa sala sem placa de identificação em Brasília, que fica trancada em horário comercial, só a Associação de Desenvolvimento Sustentável do Brasil (Adesbra) firmou parcerias de R$ 5,2 milhões desde 2003. O diretor executivo da entidade, Joy de Oliveira Penna, é irmão de Jacques e tem ligações com outras entidades contempladas com recursos.

Filiado ao PT de Goiás, Joy também participa da Rede Terra, como registra documento da fundação, obtido pelo Estado. Desde 2007, a entidade assinou convênios de R$ 7,5 milhões com a fundação. Com sede em Cristalina (GO), é dirigida por Luiz Carlos Simion, cujo irmão, Vilmar Simion, é coordenador executivo da Programando o Futuro, outra ONG contemplada com mais R$ 4,9 milhões para projetos de inclusão digital em Valparaíso de Goiás.

Os irmãos Pena são conhecidos por levar para a fundação a República de Caratinga, sua cidade de origem. Com a Associação dos Produtores Rurais e Agricultores Familiares de Santo Antônio do Manhuaçu, sediada no município, a fundação firmou convênio de R$ 1,05 milhão. A associação é comandada por dois primos de Jacques e Joy. “Tem razão de estar desconfiando, porque é parente, né?”, admite o ex-presidente, atual tesoureiro da associação e primo da dupla, Sérgio Pena de Faria.

(…)

Capilé na cabeça
É isso aí. Assim se fazem as coisas na República Petista. O caso, evidentemente, não mobiliza, deixem-me ver, os black blocs, a Mídia Ninja ou o Fora do Eixo. O Caetano Veloso também não tem o que dizer a respeito. Ele nem deve conhecer o assunto porque está a refletir, em sua mansarda imaginária, se é ou não anticapitalista.

E não seria nos contatos com o Fora do Eixo e a Mídia Ninja que o “apenas um velho baiano” (como ele se define) iria se indignar. Um dos beneficiários do, digamos, “negócio” é justamente o grupo de Pablo Capilé, o amigo de Caetano, que firmou um convênio de R$ 370 mil com a fundação, que paga o aluguel e as despesas de manutenção de nove casas da “rede”.

Consta que a Fundação também cuida das despesas de uma criança de nove meses, filho do “Fora do Eixo”. A paternidade tem de ser assim referida porque não se revela o nome do pai biológico da criança. Capilè aboliu essa bobagem burguesa. Leãozinho deve ter achado “liiindo”. Como se define por lá, o bebê é um “projeto” da turma, entenderam?

O Globo Repórter fez diz desses um programa sobre a variedade de composições da famílias brasileira: homem solteiro e filhos; mulher solteiro e filhos; juntados, separados e rejuntados mais filhos; homem com homem, mulher com mulher (“faca sem ponta, galinha sem pé”, é uma riminha que vem lá da infância)… Mas, ao tratar da variedade (infelizmente, não sobrou tempo para homem, mulher e crianças…), o Globo Repórter se esqueceu — deve ser por preconceito e reacionanismo — da modalidade “pai coletivo” de uma, como é mesmo que eles chamam por lá?, criança “midialivrista”. Mas com dinheiro da Fundação Banco do Brasil!

Corre pra rua, “velho baiano”; vá lá protestar com um pano preto na cara!

Por Reinaldo Azevedo

 

A primeira-amiga – A milionária defesa de Rosemary Noronha, ex-chefe do escritório da Presidência em São Paulo, e seus quase 40 advogados

Por Robson Bonin, na VEJA desta semana:
Ao longo dos quase cinco anos em que comandou o escritório da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha conheceu o céu e o inferno. Ex-secretária do Sindicato dos Bancários de São Paulo, ela nunca foi uma mulher de posses. Mas mudou radicalmente nos últimos tempos. Com um salário de quase 12.000 reais, comprou dois apartamentos, trocou de carro, criou uma empresa de construção civil e rodou o mundo em incontáveis viagens, até ser apanhada surfando na crista da onda de uma quadrilha que negociava facilidades no governo. Rosemary escapou da prisão por um fio. Talvez estivesse no lugar certo, na hora errada. Talvez o contrário. Um fato, porém, é indiscutível: ela conhece e tem acesso a quem dá as ordens, conta com amigos influentes que se preocupam com seu destino. Desde que foi flagrada traficando interesses no gabinete presidencial, Rosemary vem sistematicamente conseguindo driblar os processos a que responde. Para isso, a ex-secretária dispõe do apoio de três grandes bancas de advocacia do país. Escritórios que têm em sua carteira de clientes banqueiros, corporações, figurões da República, milionários dispostos a desembolsar o que for preciso para assegurar a melhor defesa que o dinheiro pode comprar. Rosemary, apesar do perfil diferenciado, faz parte desse privilegiado rol de cidadãos.

Desde que a polícia fez uma busca em seu escritório e colheu provas contundentes de que a ex-secretária levava uma vida de majestade, ela cercou-se de um batalhão de quase quarenta advogados para defendê-la. São profissionais que, de tão requisitados, calculam seus honorários em dólares americanos, mas que, nesse caso, não informam quanto estão cobrando pela causa, muito menos quem está pagando a conta. Acostumado a cuidar dos interesses de empresários como o bilionário Eike Batista, o criminalista Celso Vilardi defende Rosemary na esfera penal. Já no processo disciplinar em andamento na Controladoria-Geral da União (CGU), atuam dois pesos-pesados do direito público, que têm entre seus clientes banqueiros e megacompanhias como a Vale. O advogado Fábio Medina Osório cuidou da formulação da defesa de Rosemary e agora atende apenas a empresa da família, a construtora New Talent. Já o advogado Sérgio Renault foi escalado para acompanhar o desfecho do caso – prestes a chegar à mesa do ministro Jorge Hage – na CGU. 

Para ler a continuação dessa reportagem compre a edição desta semana de VEJA no IBA, no tablet ou nas bancas.

Por Reinaldo Azevedo

 

Petrobras – O debate estúpido sobre suspensão de licitação. Ou: Um especialista em petróleo afirma o que escrevi aqui de manhã. Não sou especialista em nada; sou só um amante da lógica e dos fatos

Eu não entendo nada de petróleo. Mas entendo um pouco de lógica. O suficiente para não acreditar em certas tolices e não cair em mistificações. Eu não entendo nada espionagem, mas idem, idem. Eu não entendo quase nada daquela conversa ultraespecializada que cruza informatiquês com arapongagem internacional, mas idem, idem outra vez.

Na manhã de hoje, escrevi um post em que demonstrei que essa história de espionagem da Petrobras era um óbvio exagero e que a suposição de que os interesses estivessem voltados para o pré-sal não passavam de especulação. Leio agora que estão querendo suspender o leilão do campo de exploração de Libra… Pois é! É nisso que dá o exagero e a exploração nacionalisteira, tosca mesmo, da questão. É nisso que dá ir muito além dos fatos, cavando invenções nas águas profundas da especulação.

Entre outras coisas, com base apenas na lógica dos fatos, afirmei aqui:
“É chato ficar fazendo certas observações aqui, em vez de levantar, pôr a mão no peito e cantar o Virundum… Mas o fato é que, tanto no caso de Dilma como no da Petrobras, não fica claro se houve mesmo a invasão ou que tipo de informação foi buscada. A reportagem do Fantástico está aqui. Na ausência de dados sobre a espionagem propriamente, recheia-se a reportagem com os números superlativos da Petrobras e o quanto ela pode despertar a cobiça internacional. Sem dúvida! Também se especula sobre a possibilidade de empresas terem tido acesso a informações sobre o pré-sal e coisa e tal. Bem, considerando a escolha que o Brasil faz para a exploração do petróleo nessas áreas, podemos ficar tranquilos, certo? O regime é de partilha mesmo, e não há como a gente ser enganado pelos sagazes estrangeiros. Mas é certo que isso vai mexer com os brios nacionalistas.”

Eu não entendo nada de petróleo. Só de lógica. Mas Adriano Pires entende muito. Ele é diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). E o que ele afirma? Isto:

“Ninguém sabe se houve o roubo de alguma informação. A reportagem mostrou que a agência teve acesso, mas não se sabe quando e o que foi feito com isso (…) “O governo já divulgou informações importantes, como a capacidade de produção de Libra (…) Essa história começa a ganhar certa dimensão que faz saírem do túmulo os nacionalistas retrógrados. Não faz sentido querer, com isso, fazer uma política para aumentar o monopólio da Petrobras (…) Reserva não vale nada, o que vale é produção”, completa, dizendo que o leilão dos campos do pré-sal são necessários para que nosso potencial de reserva tenha relevância. Daqui a pouco inventam outra tecnologia e nós ficaremos abraçados ao pré-sal.”

Ele diz ainda que o modelo adotado no leilão, que prevê que o petróleo extraído seja propriedade do estado, dificulta que as companhias obtenham vantagem ao ter acesso a informações restritas.

Encerro
É isso aí. Quando, em matéria de petróleo, o aparato lógico conduz ao mesmo lugar a que conduz um especialista na área, é o caso de se declarar, lá vou eu provocar um pouco, que o especialista está certíssimo.

Por Reinaldo Azevedo

 

Um conselho a Dilma: Se é inevitável deixar o Brasil mais burro, governanta, ao menos tenha o bom senso de não deixá-lo mais pobre

Quando se fala em suspender a licitação do campo de Libra da Petrobras (ver post abaixo) porque haveria o risco de que os EUA tivessem espionado segredos do pré-sal, dizer o quê? Lembrar a frase célebre de Samuel Johnson:

“O patriotismo é o último refúgio de um canalha.”

Não se trata, como querem alguns tolos, de fazer de conta que a coisa, seja lá o que for, não existiu ou que o governo não tenha de cobrar explicações. Acho que tem. Mas há um limite. Quando vejo, no entanto, o petista José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, que responde por uma gestão ruinosa no comando da empresa, tirar ares de ofendido, aí é de lascar.

Estamos diante de uma Batalha de Itararé de dimensões mundiais. O Brasil pode pagar caro pelas teorias conspiratórias do senhor Glenn Greenwald. Ou bem ele exibe as provas de que Dilma e a Petrobras foram espionadas ou bem deixa claro que tem em mãos não mais do que sugestões, indícios, possibilidades. Não! Não estou cobrando que se esconda nada — nem mesmo os documentos que foram roubados por um pilantra que foi buscar abrigo no colo de Putin. Mas é preciso, também, não ir além do que se tem.

E se prospera essa conversa de Libra? Quem ganha com esse negócio? Ousaria dizer que, definitivamente, não é o Brasil. Não basta dizer, em tom grandiloquente, que a Petrobras é uma empresa que fatura bilhões e lida com riquezas monumentais e coisa e tal. É preciso que se tenha ao menos uma hipótese plausível.

Qual é a hipótese plausível? Dado o regime de partilha, de que maneira as empresas americanas poderiam prejudicar a Petrobras ou o Brasil? Não há como.

Dou um conselho à presidente Dilma: já que é inevitável que esse troço vire matéria de marketing eleitoral, mande bala, soberana; exercite mesmo o espírito verde-amarelo da tigrada. Mas tenha o bom senso de mobilizar a sua tropa para não prejudicar o país. Exercite, como nunca, o discurso de fachada. Se é inevitável deixar o Brasil mais burro, ao menos tenha o bom senso de não deixá-lo mais pobre.

Por Reinaldo Azevedo

 

Caetano black bloc saiu à rua para quebrar tudo ou não?

Procurei a informação, mas não encontrei (se acharem, me digam). Caetano Veloso, que convocou os brasileiros a sair mascarados às ruas, participou dos confrontos, partiu pro pau, ou acompanhou os distúrbios lá de sua mansarda imaginária, de onde o aiatolá das novidades expede os seus éditos morais? Benevolente, alguns textos diziam que o neoblack bloc censurava os atos violentos. Entendi. Ele quer a rua ocupada por truculentos anônimos, que se escondem da ordem democrática, mas, claro!, sem violência.

É evidente que sei que questionar as “vacas sagradas” que julgam estar pondo “seus cornos afora e acima da manada”, para citar um conhecido compositor, rende desqualificações de toda ordem. Há quem entenda que o debate no Brasil deve ser livre, desde que não se toque em certa aristocracia da opinião. Há certamente quem suponha que os que tomamos borrachada para que o Brasil se transformasse numa democracia devemos agora nos calar diante daqueles que se mostram dispostos até a apanhar, sim, mas porque lutam contra a ordem democrática. Que mérito há nisso? Quem disse que não se pode apanhar por maus motivos, estando errado?

Comigo, não! Eu quero saber se Caetano Veloso saiu à rua para quebrar banco, para invadir parada militar, para botar fogo em lixeira, para acabar com o capitalismo… Se o fez, ele continuará estupidamente errado, mas, ao menos, não se lhe poderá ser atribuída a coragem verbal de propor um levante e a covardia física de fugir dele. Essas duas coisas, somadas, definem a ação política de um irresponsável, de um oportunista.

Por Reinaldo Azevedo

 

Caetano, o “new kid on the black bloc”, tenta se explicar em artigo no “Globo”. Chega a ser deprimente!

Em artigo publicado no Globo neste domingo, o “new kid on the black bloc” Caetano Veloso tenta se explicar. Sugere que a foto para a qual posou, com um pano preto na cara, foi posta na rede à sua revelia. Parece que ele também teria sido enganado pela turma de Pablo Capilé. Acho que, nesse caso ao menos, Capilé é inocente. O texto é um daqueles primores de que ele é capaz, vazado numa linguagem caudalosa, porém ancorada no “cogito interruptus”. Volto a ele mais tarde para cobrar, como leitor, que desenvolva algumas ideias — se possível, no plano terreno. De toda sorte, noto que realizou seu intento: conseguiu ser notícia. Divirtam-se. Ah, sim: ele diz não ter ainda a certeza se é ou não anticapitalista. Pelo visto, está pensando no assunto. As alternativas existentes, como Cuba e Coreia do Norte, certamente o ajudarão a fazer uma escolha. Que bom!

Caetano precisa logo deixar claro a seus patrocinadores se acata o capitalismo (ainda que de face humana, é lógico!) ou incita os black blocs a depredar agências bancárias, por exemplo, uma vez que, segundo diz, eles “fazem parte” (não fica claro do quê…). O texto que está no site do jornal segue conforme vai abaixo, com aquele estranho começo. E a gente fica sabendo até que ele comeu sashimi. Engraçado… Black bloc, pra mim, remete mais a carne sangrando. Não adianta agora tentar tirar o corpo fora sem um pedido de desculpas. Caetano se tornou, quando menos, corresponsável moral pelo grotesco espetáculo de violência patrocinado pelos black blocs, especialmente no Rio. Na Alemanha pré-nazista (estamos longe disso; só vou ao limite para que fique bem claro do que se trata), ninguém que quisesse paz dava piscadelas aos baderneiros de Ernst Röhm. Era tão claro o que ele queria que ninguém poderia reivindicar o benefício da ignorância. O texto de Caetano Black Bloc suscita outras questões. Ficarão para outro post. Acredito que o tenha escrito para provocar o debate. Eu cumpro a sua expectativa. 

*

Um dia aventuroso

Agora vejo aqui que eles puseram a foto na rede e logo alguém tuitou que sou oportunista e incito a violência. Não. Entendo que Black Bloc faz parte. Mas nem anticapitalista convicto eu sou. E quero paz.

Nossa carta pedia a atenção do secretário para a necessidade de um protocolo de ação da polícia durante as manifestações. Na conversa com ele, reiteramos a necessidade do esclarecimento do que ocorreu com Amarildo; quisemos entender por que a polícia, que atirara gás e balas de borracha na multidão que se aproximava da casa de Cabral na Praia do Leblon, sumiu quando poucas dezenas depredavam bancos e lojas na Ataulfo de Paiva; sugerimos o abandono do uso de balas de borracha; exigimos que pessoas imobilizadas não mais fossem vistas apanhando. O secretário é mais inteligente se tem tempo para desenvolver suas ideias do que parece ser nos poucos segundos em que o vemos na TV. E ele parece sincero. Mais do que tudo, expõe as enormes dificuldades que enfrentará quem tente fazer a polícia passar para um patamar diferente daquele em que está há séculos. As UPPs, grande trunfo do governo estadual, são obra sua. Todos os que foram falar-lhe reconhecem quão importante é o que elas esboçam. Dói em todos que elas estejam com o prestígio ameaçado. Uma profunda necessidade de Waismann nos havia levado ali. Ele precisa que as manifestações sejam pacíficas: descobriu que a violência não é arma eficaz. O 7 de Setembro vinha sendo anunciado como um dia de grandes demonstrações. Muito poderá ter se definido nesse dia.

Estou escrevendo ao chegar em casa, de volta, não da secretaria, mas do apê da turma da Mídia Ninja. É que Sidney queria falar com alguém que estivesse mais perto dos manifestantes. Saímos da Central, ele, Olga Bronstein, Yvonne Maggie e eu, de metrô, rumo à Zona Sul. Paramos no Largo do Machado, elas seguiram de táxi, e nós dois fomos comer sashimi. Sidney estava certo de que havia uma reunião da Mídia Ninja na UFRJ e me arrastou com ele. Chegamos ao enorme prédio da universidade e ninguém sabia nos dizer onde se dava a tal reunião. Numa portaria indicada, o porteiro fez umas ligações para descobrir. Daí apareceu uma moça, bonita e elegante em sua simplicidade, e nos disse que Carioca estava num apartamento ali em frente. Sidney ainda perguntou se a reunião era lá. Não era “a” reunião, mas eles estavam lá e queriam falar conosco. Andamos com ela. Carioca nos encontrou na faixa de travessia de pedestre. Muito doce, ele foi conversando até entrarmos no apê. Tudo muito limpo e alegre. Contava que um membro do Black Bloc tinha ido à reunião da véspera e que os aconselhara a não sair no dia 7. Eles, blocs, iam, mas os outros não deviam ir. Perguntei se isso seria uma ameaça. Não parecia, ele disse. Contava mais para mostrar como os discursos dos manifestantes têm sido variados. Repetia sempre a palavra querida dos Fora do Eixo: “narrativa”. Mas a conversa dele era boa. Ele explicava o sentido de certos atos violentos, mas entendia os argumentos de Sidney. Um outro rapaz e uma outra moça estavam na sala quando chegamos. Já no meio do papo chegou uma terceira. Só a menina que nos levou até eles não é moradora. Nem mesmo ninja. Ela é da Maré e vive em Parada de Lucas. Diz que prefere ação a palavras. Mas fala muito bem. Desiludiu-se com as UPPs, nas quais tinha posto fé no início. Mas conta que o pai, morador da Maré, é defensor da inovação de Beltrame. Essa conversa foi muito reveladora da alma do Rio neste momento. Antes disso, os ninjas me pediram para gravar uma fala sobre a proibição do uso de máscaras. Eu sou apenas um velho baiano mas moro aqui há muitos anos e acho que proibir máscaras numa cidade como o Rio é violência simbólica. E sugeri que no dia 7 todos saíssem com máscaras, respondendo com beleza e sem violência. Daí eles me pediram para posar com uma camiseta preta atada ao rosto para eles mostrarem a Emma, que, segundo eles, gostou do meu texto sobre ela. Agora vejo aqui que eles puseram a foto na rede e logo alguém tuitou que sou oportunista e incito a violência. Não. Entendo que Black Bloc faz parte. Mas nem anticapitalista convicto eu sou. E quero paz.

Por Reinaldo Azevedo

 

Caetano, o caudaloso do “cogitus interruptus”, tem de se explicar. Quero saber como é uma “conversa boa que explica o sentido de certos atos violentos”

Caetano Veloso, o “new kid (de 71, mas achando que tem 17) on the black bloc”, tentou se explicar em artigo publicado no Globo, recorrendo àquele seu estilo em que a prosa aparentemente caudalosa vai justapondo primores do “cogito interruptus”. Não diz com clareza o que pensa ou o que pretende, e isso lhe confere certo ar de profundidade, levando o leitor a desconfiar de si mesmo: “Talvez eu não tenha entendido…”. Não havia o que entender. Os adeptos desse estilo não se obrigam a ter uma tese, apenas uma coleção de opiniões ligeiras.

Numa cidade, como o Rio, que arca com alguns milhões de prejuízo por conta da ação de truculentos e arruaceiros, de fascistoides sem causa — e, deixo claro, se tivessem uma, seria ainda pior, dada a sua prática —, é de uma estúpida irresponsabilidade que uma figura pública, ainda que vivendo um triste ocaso, envelhecendo mal, como os vinhos que avinagram, tenha feito aquela foto e dado aquelas declarações, que, obviamente, endossam os atos violentos, ainda que ele diga querer paz. Como afirmei no post deste domingo, ninguém se juntava a Ernst Röhm, na Alemanha pré-nazista, porque quisesse paz. Os black blocs não são as tropas de assalto da SA nazista, mas também eles entendem que a violência é redentora e transformadora.

Em seu artigo, Caetano, que ainda não está certo se é ou não anticapitalista — Santo Deus!!! —, afirma ser apenas um “velho baiano”. Não é, não! Nem o “ser velho” nem o “ser baiano” definem as suas escolhas. Já o “ser estúpido”, aí sim, parece compatível com as tolices que andou dizendo e fazendo nesse caso. Mas ele não é tão tolo que não consiga fazer uma pergunta óbvia, com resposta idem: “Quem ganha e quem perde com a ação dos black blocs?”. Afirmar que a proibição de máscaras — que, a rigor, nunca chegou a existir (ele sabe ler?) — é uma “violência simbólica” empresta certo ar de requinte e alcance teórico a um, com a devida vênia, ataque de frescura. No Brasil, mulheres podem andar até de vestido e homens até de calças, Caetano Veloso! Não há lei que possa proibi-los — e não foi desta vez. O que se fez foi obrigar, em certas circunstâncias, os mascarados a se identificar porque usavam o anonimato para destruir a cidade. E, nesse caso, se trata apenas de dar consequência a um artigo da Constituição Federal.

Mas devo me referir à “Constituição Federal” quando critico um artista, um poeta, um pensador, um guru, um esteta, um filósofo da “raça” brasileira, um pensador tropicaliente e sei lá quantas outras fantasias ele possa alimentar sobre si mesmo e os outros sobre ele? Acho que sim, não é?, uma vez que foi como figura pública que fez uma escolha política que ele falou. Leio o seu texto e percebo a tentativa, que me soa intelectualmente vigarista, de, uma vez mais, demonizar a polícia e livrar a cara — escondida — dos arruaceiros. Investindo em teorias conspiratórias ridículas, afirma que a polícia bate em cidadãos comuns e deixa os baderneiros agir à solta. O fato de ter havido, e houve, excessos policiais em alguns casos não o autoriza a transformar a polícia na vilã dos acontecimentos. Porque se trata, obviamente, de uma mentira.

Não que ele não tenha tido a chance de, mais uma vez, condenar explicitamente a violência. Teve e não o fez. Afirmar que quer paz é só exposição de um desejo; mera expressão de um valor subjetivo. Ocorre que as políticas públicas, meu “velho baiano”, não existem para alimentar expectativas pessoais ou meros quereres. Quando o artista diz que que os “black blocs fazem parte”, ele tem de dizer parte de quê. Fica faltando um complemento essencial à sua frase. Nesse caso, o charme do “cogito interruptus” esconde, certamente, uma não resposta, um buraco, um conjunto vazio. Desenvolva, Caetano Veloso: os black blocs fazem parte exatamente de quê?

Da política? Da vida pública? Do debate? Das alternativas de poder? Do que é, afinal, meu senhor, que os “black blocs” fazem parte?

Lendo o seu texto, constatei que seus amigos do Fora do Eixo, do Mídia Ninja, como eu suspeitava e escrevi aqui — para protesto até de alguns amigos —, andam mesmo de mãos dadas com os black blocs. Está revelado ali no texto. Eu já tinha tido essa certeza quando Bruno Torturra e Pablo Capilé concederam aquela entrevista ao Roda Viva. Também à dupla se deu ali a chance de condenar a violência dos mascarados, o que não fizeram. Ao contrário: Torturra, com um domínio certamente precário das palavras, não só se negou a repudiar a quebradeira como evocou violências outras que a justificariam e ainda aproveitou para chamar a brutalidade da turma de uma “estética”. Estética? Sou capaz de apostar que esse moço andou lendo a orelha de alguns livros de autores da Escola de Frankfurt e saiu por aí a disparar tolices mal assimiladas. Deveria fazer como Capilé, que parece se orgulhar de não ler livros, recomendando que outros também não o façam.

O que queria o autointitulado “velho baiano”? Um Brasil melhor, mais solidário, mais justo, com menos larápios, com menos safadeza, com menor corrupção? E como é que se vai conquistar isso? Com o povo sendo expulso, como foi, das manifestações por essas gangues trogloditas? Reparem neste trecho do artigo de Caetano, em que aparece um certo “Carioca”, membro do Fora do Eixo (em vermelho):

“Carioca nos encontrou na faixa de travessia de pedestre. Muito doce, ele foi conversando até entrarmos no apê. Tudo muito limpo e alegre. Contava que um membro do Black Bloc tinha ido à reunião da véspera e que os aconselhara a não sair no dia 7. Eles, blocs, iam, mas os outros não deviam ir. Perguntei se isso seria uma ameaça. Não parecia, ele disse. Contava mais para mostrar como os discursos dos manifestantes têm sido variados. Repetia sempre a palavra querida dos Fora do Eixo: “narrativa”. Mas a conversa dele era boa. Ele explicava o sentido de certos atos violentos, mas entendia os argumentos de Sidney.”

Retomo
Eis aí a proximidade com os arruaceiros. Mas o que chama a minha atenção é outra coisa. O tal Carioca “explicava o sentido de certos atos violentos”, e o “velho baiano” achou que a “conversa era boa”??? Então ficamos assim: começa a haver no Brasil gente que sabe “explicar” o sentido da violência. Posso imaginar os caminhos dessa explicação.

A propósito: se Caetano concluir, finalmente, que é anticapitalista, sugiro que se interne numa das casas Fora do Eixo e passe a dar shows gratuitos, não sem antes entregar sua fortuna às criancinhas pobres. Afinal, direito à propriedade e à herança são dois pilares desse regime maligno, que precisa ser superado — e contra o qual se batem os black blocs. Os dois filhos mais jovens de Caetano se tornaram evangélicos, convertidos pela babá.

Talvez ainda consigam salvar o pai…

Por Reinaldo Azevedo

 

Um Sete de Setembro entregue à arruaça e à estética da violência. Ou: Lamento, meus caros, ter estado, ao longo desses três meses, mais certo do que eu mesmo supunha ou gostaria

Mantive este texto no alto; abaixo dele, há atualizações.

O povo, conforme o esperado, se mandou das ruas. Ou aproveitou o feriado, mesmo num sábado, para passear um pouco ou ficou em casa, cuidando dos afazeres domésticos, arrumando o armário, esperando o jogo da Seleção — essas coisas, em suma, que as pessoas normalmente fazem nos regimes democráticos. O permanente confronto com as forças da ordem costuma caracterizar situações de insurreição contra tiranias — o que não quer dizer, é bom notar, que os que assim se organizam sejam, necessariamente, flores que se cheirem. Às vezes, não! É perfeitamente possível haver uma luta em que ninguém tem razão. Mas interrompo essa pequena digressão para notar: se paradas cívicas são só um tributo que se presta ao calendário, esvaziadas, no mais das vezes, de qualquer conteúdo patriótico, atraindo a plateia para o espetáculo, não para a expressão de um valor afirmativo, não é menos verdade, então, que o maneirismo da desordem ocupou o lugar do maneirismo da ordem. Os que costumavam ir às ruas aplaudir por preguiça foram substituídos pelos que, agora, vão às ruas depredar por preguiça.

Os protestos, é bom notar, chegaram a ter, ainda que por um tempo breve, certo caráter cívico, de resistência: contra a corrupção, os desmandos, a falta de ética dos políticos… Uma fração dos homens comuns, dos sem-partido, dos contribuintes, da classe média que Marilena Chaui odeia, chegou a ir às ruas. Não era um engajamento, mas era uma expressão de insatisfação. Esses, no entanto, logo se tornaram os intrusos, e os protestos voltaram a ser protagonizados por seus atores originais: minorias delinquentes das mais variadas extrações, que prosperaram como o subproduto indesejado de 11 anos de permanente ataque às instituições promovido pelo PT. Escrevo que é um “subproduto indesejado” porque também os petistas não têm o que fazer com essa gente. Por mais que seja o beneficiário direto do desprestígio de instituições como Parlamento, Justiça e imprensa — afinal, é a única força realmente organizada do país; a outra é formada pelos militares, ausentes, como deve ser, da política —, para existir, o petismo precisa do reconhecimento da política como arena de resolução de conflitos.

Quando um petista como José Eduardo Dutra, ex-presidente do PT, lamenta ter de concordar com Reinaldo Azevedo na crítica que fiz à estupidez dita por Caetano Veloso, isso não implica que ele esteja se rendendo ao meu charme, aos meus valores, ao meu texto ou o que quer que seja; isso não implica que, em determinados assuntos e temas, possamos ter um núcleo comum de interesses ou comungar de certas estratégias, como sugere a ligeireza desinformada e tardiamente juvenil da tucanaça Elena Landau. Nada disso! Quando eu e Dutra repudiamos a convocação feita pelo cantor convertido em político do miolo mole, é porque ambos sabemos — como sabe qualquer pessoa com os meridianos ajustados, tenha lá que ideologia for — que a depredação da ordem como um maneirismo, como um valor em si, conduz ao cenário em que não pode prosperar nem o estado liberal, que seria do meu gosto, nem o estado petista — tenha lá que viés ideológico for — de Dutra.

Com efeito, liberais não têm o que fazer com essas erupções e irrupções de irracionalidade. Cabe, então, uma aliança estratégica entre o que eu representaria (atenção para o tempo do verbo) e o que representa Dutra? Ninguém, com um mínimo de seriedade, poderia fazer essa pergunta. Em primeiro lugar, porque eu não represento nada nem ninguém, só a mim mesmo. Em segundo lugar, porque não se trata de um inimigo comum, organizado, que obedeça aos comandos de um centro de deliberação. Em terceiro lugar, porque, sendo Dutra um petista, é certo que não vemos com os mesmos olhos a arena política.

Eu a entendo como o lugar de um confronto entre iguais, e a igualdade está no direito que todos os grupos têm à singularidade. O PT, cuja origem intelectual e moral é inequivocamente bolchevista — ainda que seja piada de salão afirmar que o partido seja, hoje em dia, socialista —, pensa essa mesma arena como uma luta que tem vitoriosos, com a derrota definitiva do inimigo. Daí que eu sustente, há muito, que o PT já não é mais de esquerda; é apenas um partido com uma concepção autoritária de estado, tendente à tirania se deixado por sua conta, ainda que cumprindo a mímica da consulta democrática.

Eu e Dutra repudiamos a fala de Caetano Veloso (não porque seja de Caetano, que mal sabe do que está falando) porque, agora sim, o abismo da desordem nem serve àquele que acredita que um partido possa ser o engenheiro da sociedade, subordinando as vontades às suas utopias redentoras e totalistas, nem serve àquele (no caso, a mim) e àqueles que entendem que a função principal do estado é garantir as liberdades individuais e a igualdade de todos os homens diante da lei. Nem serve àqueles que usam a tal “justiça social“ (e não importa a sinceridade com que cada um acredite nisso) como instrumento de fortalecimento desse partido e encabrestamento do estado por um ente de razão nem serve àqueles que têm claro que a diferença entre o estado da “justiça social” e a ditadura é só uma questão de grau. A coincidência para aí. No pronunciamento desta sexta, ainda que sem muita ênfase, Dilma voltou a ser reverente ao espírito das ruas. Eu, como notam, nunca fui e nunca serei porque não faço política — eu escrevo sobre política, o que é coisa distinta.

Gostem ou não, meu compromisso é dizer aos leitores deste blog — muitos deles são, sim, petistas e esquerdistas (e não é porque eu os paparique) — o que eu penso. Nem quando se falava na presença de mais de milhão de pessoas nas ruas e da “despencada” de Dilma eu me animei. Desde sempre considerei, reiterando o que disse há pouco, que achava que o ânimo original desses distúrbios era o resultado indesejado (até pelos petistas) da depredação das instituições. Desde sempre afirmei que a balbúrdia submetia o processo político a uma torção à esquerda, obrigando até mesmo as forças políticas que não se articulam no contato direto com as massas a ser reverente a esse “ruísmo” desinformado, truculento, doidivanas e ignorante. Desde sempre lamentei que amplos setores da imprensa, submetidos a um permanente ataque das hostes organizadas pelo PT, tenham decidido, de maneira que me parece desastrada e contraproducente, ceder ao suposto apelo libertário, ser reverentes a seus comandos, acatar as suas deliberações.

Em larga medida — e lamento ter de constatar que eu estava mais certo do que eu mesmo supunha —, a generalização dos protestos foi obra da imprensa, que decidiu inventar uma “Primavera à brasileira”, sem se dar conta de que o regime, por enquanto ao menos, é democrático. E não o fez porque seja antipetista ou antigovernista, como sugerem alguns cretinos — até porque todos os políticos, de todos os partidos, foram submetidos ao corredor polonês. Essa imprensa cedeu porque buscou se conciliar com o que entendeu ser a emergência de uma opinião pública ativa, reivindicadora, cidadã. Acuada pela crítica estúpida de que existe para vocalizar não mais do que o interesse das elites, cedeu à razão dos inimigos da liberdade, fez — e vem fazendo, com as exceções de praxe — um mau trabalho e se tornou, no esforço de retratar os anseios de uma coletividade, porta-voz involuntária e aliada objetiva de extremistas truculentos. Desde sempre, ademais — e deixei isso registrado também em vídeo, num dos debates da VEJA.com —, observei que esse processo teria influência muito pequena na movimentação dos atores que podem disputar as eleições presidenciais no ano que vem. Previ, e está registrado (e era óbvio, convenham), que Marina Silva seria a única a ganhar. Seu discurso, no mais das vezes incompreensível, é a expressão supostamente culta e organizada dessa algaravia que se traduz, no fim das contas, em ódio à política. Sempre que um político se torna beneficiário do repúdio à política, eu tenho a certeza absoluta de que estamos diante de uma coisa ruim.

Começando a caminhar para a conclusão
Não há povo na rua. Há arruaceiros e policiais. Não há propriamente — sim, há quem esteja fazendo um bom trabalho — jornalismo isento nas ruas, mas moços e moças temerosos do que será dito nas redes sociais. Ainda que escreva o que vou escrever com certo horror, a verdade é que a, por assim dizer, estética de Pablo Capilé, da Mídia Ninja, é outra força vitoriosa nesses dias. Obrigados pelos truculentos a se disfarçar de manifestantes, banidos dos protestos aos tapas pelos brucutus, impossibilitados de fazer o seu trabalho, os jornalistas se transformaram em cinegrafistas do iPhone. Desenvolveu-se, assim, uma espécie de versão jornalística do Dogma, com repórteres-manifestantes resfolegantes, a dizer coisas incompreensíveis, sob o pretexto de passar uma versão mais realista e quente dos fatos.

O povo desertou. Sobraram os arruaceiros, os truculentos e os idiotas, alimentados pela certeza de que a imprensa, na sua tentativa de disputar espaço com as redes sociais, lhes entregará o protagonismo da cena. E essa imprensa, por mais que se queira dizer o contrário, ainda tem o poder de uma chancela. De fato, o PT não gosta disso; de fato, eu não gosto disso. Mas não há um empate entre esses “não-gostares”. Sempre que o povo é expulso, como foi, de uma equação, cessam também as eventuais virtudes renovadoras de qualquer movimento, e o vitorioso objetivo é o statu quo — no caso em espécie, é o PT.

O arquivo do blog está aí. Foi o que antevi desde o primeiro dia. Foi o que aconteceu. Não porque me arrogue dotes de Pitonisa, não porque os fatos políticos obedecem necessariamente a uma lógica inextrincável, mas porque a história existe. Em que momento de nossa trajetória a liberdade se beneficiou da destruição do espaço e das instâncias do exercício dessa liberdade? A resposta se resume a uma palavra e deveria ter nos orientado, e à imprensa, desde sempre: nunca!

É o que tenho escrito aqui desde o começo de junho, movido por um dever e um compromisso: a honestidade intelectual — a despeito até mesmo do meu gosto pessoal e das minhas esperanças. Quando Dilma despencou, adoraria ter anunciado aqui o prenúncio de uma nova aurora… Ocorre que o primeiro dever de um crítico, de um analista, é não confundir as suas ilusões com a realidade.

Texto publicado originalmente às 19h01 deste sábado

Por Reinaldo Azevedo

 

Petistas chapa-branca de Porto Alegre expulsam manifestantes que protestavam contra a corrupção, acusando-os de ser tucanos. Não contem para aquela tucanaça “tolerante”…

Matheus Caetano: ele protestava contra a corrupção, mas foi impedido pelo PT e pela CUT: para eles, isso é coisa de tucano e está errado

É de lascar! Em Porto Alegre, petistas e cutistas organizaram a tal “Marcha dos Excluídos”. É uma contradição nos próprios termos. Se é petista e cutista, é, então, incluído, certo? Parte considerável deles, inclusive, está na folha de pagamentos de algum ente estatal. Os valentes distribuíam um panfleto — prestem atenção! — cujo lema era este: “”Expressar e participar: direito e liberdade”. Huuummm…

Aí, um jovem estudante de engenharia chamado Matheus Caetano, de 18 anos, achou que, dada essa orientação, poderia distribuir uns cartazes contra a corrupção. Engano! O PT e a CUT — não contem para aquela tucanaça “tolerante”, que gosta de um fricote com a petezada — não aceitam que se proteste contra a corrupção. Expulsaram o rapaz, acusando-o de ser tucano e “coxinha”. Leiam a reportagem de Letícia Duarte, no Zero Hora. Lá está também o vídeo em que uns brucutus tentam explicar a Matheus por que distribuir aqueles cartazes é uma coisa errada.
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O folheto confeccionado para o 19º Grito dos Excluídos apresenta como slogan: “Expressar e participar: direito e liberdade”. Mas essa liberdade só vale para protestar por determinadas causas: um estudante de 18 anos que participava das manifestações em Porto Alegre, na manhã deste Sete de Setembro, foi expulso do movimento por estar distribuindo placas contra a corrupção.

Afirmando que se tratava de uma pauta da oposição, inserida por “infiltrados” e “coxinhas”, representantes de sindicatos como a CUT rechaçaram a distribuição dos materiais independentes, insistindo que o foco na mobilização era outro — lutar pela “democratização da comunicação” e pela “reforma política”.

A divergência começou antes mesmo da saída dos manifestantes do Largo Glênio Peres. Ao ver uma série de placas pintadas em verde e amarelo com a frase “Fim da Corrupção, + Saúde”, um representante da CUT foi ao microfone para condená-las, pedindo a seus apoiadores para ignorá-las e convidando os apoiadores das “placas” a se afastar do grupo.

No meio do caminho, a tensão aumentou quando o grupo cruzou com o estudante de engenharia Matheus Caetano, 18 anos, que estava distribuindo as peças. Pelo menos quatro pessoas o cercaram, pedindo para que se afastasse do grupo e interrompesse a entrega de seu material, acusando-o de ser “de direita” e do “PSDB” por causa das placas que carregava. O estudante se afastou dos manifestantes, mas fez questão de continuar a distribuição entre o público que assistia aos desfiles.

“É um direito. Agora eles vão vir me agredir porque eu estou distribuindo plaquinhas? Plaquinhas que não têm nenhum partido por trás… Fui expulso por tentar mudar o país… Não tem por que eu parar de fazer algo para mudar o país”, desabafou o jovem, universitário da PUC.

Perto dele estava o avô Sérgio Ribeiro, 76 anos, que é proprietário de uma empresa de plásticos em Gravataí. Ribeiro garante que foi dele a ideia de confeccionar as placas, num total de mil peças, feitas com sobras de materiais da empresa. E até a pintura das placas foi feita em família, durante horários de folgas, ao longo de dois meses. “Eu acho que cada um tem que fazer o seu pedaço, e é isso que eu quero fazer. Pra não dizer que nunca tive partido, quando tinha 18 anos me filiei ao PL, mas logo me desiludi e saí”, disse.

Presidente da CUTRS e um dos coordenadores do grito dos Excluídos, Claudir Néspolo disse que o movimento criticou as placas contra a corrupção por ter identificado “um grupo tentando pegar carona” no movimento. A atividade de ontem foi promovida por organizações como Via Campesina, CUT, CTB, Movimento dos Trabalhadores Desempregados e Pastorais Sociais da Igreja Católica.

“A gente não sabe quem está por trás, mas não eram bandeiras dos movimentos que organizaram o grupo. A gente solicitou que eles se organizassem no seu coletivo e se manifestassem, como deve ser numa democracia, mas com o grupo deles. Quem mandou fazer aquelas placas têm interesses partidários, querem disputar um outro projeto para o Brasil. Nós respeitamos, mas cada um no seu grupo”, justificou.

Para seu Ribeiro, a explicação para uma reação tão ostensiva às placas que sua família confeccionou e distribuiu é outra. “Acho que as pessoas querem continuar com a corrupção… isso é uma vergonha. Eu tenho vergonha na cara. E vou continuar participando dos protestos”, assegurou.

Por Reinaldo Azevedo

 

As imagens que fraudam a verdade. Ou: Fascistoides convertidos em heróis

O jornalismo brasileiro, especialmente as TVs, teve papel fundamental na construção da suposta “Primavera Brasileira”, sempre lembrando que a outra, a árabe, era, igualmente, uma invenção da imprensa ocidental, que parece acreditar que democracia é não mais do que um método ao qual se pode ou não aderir; como se fosse possível haver um regime democrático sem o reconhecimento da validade dos valores democráticos. É por isso que não se exporta democracia nem se a impõe pelas armas. A tentativa de ver no Brasil a emergência de uma consciência subterrânea, que teria decidido vir à luz em busca de seus direitos, é, por qualquer ângulo que se observe, ridícula. O fato de haver bons e justificados motivos para os protestos não anula o fato de que vivemos, no que concerne aos direitos políticos, uma democracia plena. Ela só não é melhor, de mais qualidade, porque a própria imprensa se deixa capturar pela ditadura de opinião — à esquerda, evidentemente. Mas, nesse caso, trata-se de uma sujeição voluntária, ainda que o governo federal tenha, sim, instrumentos para comprar e influenciar opiniões.

Se, contra tiranias, a violência acaba sendo uma consequência natural da resistência — o que não quer dizer que “libertadores” também não comentam atos abomináveis e injustificáveis —, a violência que se insurge contra as defesas do estado democrático é, necessariamente, perniciosa, maligna e tem de ser duramente combatida. Só golpistas, terroristas e vândalos, nos seus mais diversos matizes, entram em confronto com um regime garantidor de liberdades públicas e individuais.

E foi o que se viu no Brasil. Há, sim, táticas de terror em curso, mas ainda não articuladas o suficiente para merecer a denominação de terrorismo — embora métodos terroristas estejam sendo empregados. E campeia o mais escandaloso vandalismo, sob o silêncio cúmplice do governo federal, a inação dos governos estaduais e as evocações verdadeiramente épicas da imprensa, seja em textos — coisa de que tenho tratado amiúde —, seja em imagens, e passo a tratar desse segundo aspecto.

Lembro de ter redigido um texto no primeiro ano da faculdade, que despertou certo interesse do professor, justamente sobre fotojornalismo. Ainda que meu acento ideológico, aos 17 anos, fosse de esquerda, sustentei o ponto de vista de que fotos jornalísticas costumam ter um aspecto inevitavelmente falacioso. E o exemplo insuspeitado é a da garota vietnamita Kim Phuc, de autoria de Huynh Cong “Nick” Ut, que corre nua depois de sua aldeia ter sido atacada com napalm pelas forças americanas, em 1972. Phuc tem hoje 50 anos e mora no Canadá. Relembrem.

Atenção! A foto é falaciosa em que sentido? É claro que aquela brutalidade aconteceu. O instante congelado, no entanto, já não é “a coisa”, mas um discurso sobre a coisa — no caso, virou um emblema de um clamor que corria o mundo, com um grande impacto na própria sociedade americana, contra a guerra. Mais do que revelar um horror, ela ilustrava o resultado de uma outra guerra, que os americanos já haviam perdido: a de propaganda. É irrelevante saber, diante do que se vê, de que tenebrosas ações eram capazes os comunistas ou a que extremos de crueldade poderiam apelar — e eles não economizaram. O jogo estava jogado. A foto de Phuc — vítima, não se duvide, de uma estupidez — serviu como uma sentença e decretou uma superioridade moral. Deixou de ser um flagrante de guerra para ser um estandarte. É evidente que tinha de ser anunciada ao mundo, mas é certo também que concorreu para o anonimato de todas as vítimas da guerrilha comunista e do regime que depois se instaurou. Assim, a despeito até das intenções do fotógrafo, a narrativa contida mesmo numa foto tão eloquente, como a de autoria de Huynh Cong “Nick” Ut, revela, mas também falseia a realidade; expõe, mas também omite; relata, mas também discursa e acaba fazendo escolhas.

Tenho visto nos jornais, revistas e sites fotos dos confrontos de rua entre black blocs (e outros arruaceiros, ainda que de cara limpa) e as Polícias Militares Brasil afora. Com raras exceções, não mentem menos dos que os vídeos do Mídia Ninja e dos jornalistas que agora deram para mimetizar a sua vigarice — até porque estão proibidos de se identificar nas manifestações, ou acabam apanhando dos iluministas que estão protestando. Quase sem exceção, os instantes flagrados simulam um confronto entre destemidos heróis e brutamontes dispostos a espancar, a jogar bombas, a dar porrada, a atirar balas de borracha.

Sim,  policiais cometem erros e exageros. É fato que as PMs do país inteiro precisam urgentemente debater novas táticas e técnicas de atuação em distúrbios, é óbvio que a violência policial, quando desnecessária ou imotivada, precisa ser reprimida e punida; é claro que os homens fardados precisam distinguir quem representa uma real ameaça de quem, mesmo estando no protesto, comporta-se de maneira pacífica. Mas não e menos patente que tanto os vídeos que ganham as TVs e as redes sociais como as fotos que supostamente retratam os conflitos se transformaram em meras peças de proselitismo político.

Calma lá! No Vietnã, afinal, a maior potência militar do mundo lutava contra uma guerrilha camponesa, ainda que muito bem armada e muito bem treinada. Escolher um lado para demônio e outro para vítima poderia não ser o melhor tributo que se prestava à inteligência, mas ainda atendia a alguns pressupostos humanistas. Mas e agora? A estética do confronto dos heróis contra os vilões, dos mocinhos contra os bandidos, não se justifica nem mesmo pela natural solidariedade que costumamos ter com os mais fracos. As fotos — e existem às pencas — em que black blocs surgem como aqueles que constituem a barreira humana e corajosa contra o avanço das forças da repressão são, com a devida vênia, ridículas. Passam, ademais, um atestado de ignorância do que está em curso e de estupidez política.

Algumas que me enviaram chegam a ser editadas em preto e branco, o que lhes confere, assim, um aspecto verdadeiramente épico, como se trouxessem, em si, ecos de outras lutas — do eterno confronto entre oprimidos e opressores. Evocam as manifestações de rua no Brasil durante os primeiros anos do golpe, quando, com efeito, era preciso ter alguma coragem para enfrentar a ditadura. E eis que surge, então, a palavra: tratava-se de um confronto com um regime ditatorial.

Os policiais militares que estão nas ruas no Brasil não estão com o mandato de nenhum ditador. Ao contrário. Eles estão, na verdade, com o mandato dos milhões de brasileiros que participam regularmente de eleições democráticas. Seus respectivos chefes foram eleitos pelo povo. Os bandidos e os mocinhos dessa batalha estão, nas imagens capturadas, com papéis trocados. De novo: é fato que existe violência policial, e é necessário que seja contida. Mas os flagrantes, sejam em vídeo, sejam em fotos, que transformam as polícias em vilãs dos acontecimentos constituem um exercício de jornalismo-mentira. O trabalho jornalístico, assim, se perverte.

É certo que não estou aqui a sustentar que a violência policial não existe ou a defender que tais imagens sejam omitidas. O que estou a cobrar é que esses flagrantes não sirvam para omitir uma verdade escandalosamente clara: as forças que hoje enfrentam nas ruas as polícias, com raras exceções, representam, elas sim, o atraso, a violência gratuita, o autoritarismo, a depredação da ordem democrática. Por que, então, vejo aqueles brucutus convertidos em heróis?

Fotógrafos e cinegrafistas — com notáveis exceções — precisam esquecer os anos 60. O golpe militar completa 50 anos em 2014. O tempo passou. É preciso buscar uma nova estética que, nesse caso, coincide com uma nova ética: reconhecer que, numa democracia, os policiais nada mais são do que a democracia fardada. Quando deixam de cumprir a sua função e não atuam nos limites da lei, precisam ser denunciados — vale para qualquer um de nós. Chega de mistificação! Viva a profissão!

Por Reinaldo Azevedo

 

Governo americano teria espionado a Petrobras

Leiam o que vai na VEJA.com. Comento em post específico, lá no alto.
Documentos secretos da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), que em teoria não faz espionagem por razões econômicas, indicam que o órgão do governo americano espionou a Petrobras, gigante estatal brasileira com faturamento anual superior a 280 bilhões de reais. As informações foram passadas pelo ex-analista da agência Edward Snowden ao jornalista Glenn Greenwald, do jornal britânico The Guardian, coautor da segunda matéria doFantástico, da Rede Globo, a respeito da espionagem americana no Brasil. Na semana passada, o programa mostrou que a presidente Dilma foi espionada pelo governo de Barack Obama.

O nome da gigante do petróleo nacional aparece logo no início de um tópico sobre como invadir redes privadas de uma apresentação (em Powerpoint ou algo do gênero) feita para novos agentes da NSA. Além da Petrobras, aparecem como alvos da Agência de Segurança Nacional (NSA), do Departamento de Defesa dos EUA, o Google, gigante da internet que já foi apontado como colaborador com a NSA, a diplomacia francesa, com acesso à rede privada do Ministério das Relações Exteriores da França, e a rede do Swift, a cooperativa que reúne 10.000 bancos de 212 países. Qualquer remessa de dinheiro ao exterior, por qualquer país, passa pelo Swift.

Ainda segundo a matéria, o documento, classificado como “ultrassecreto”, é acessível apenas ao grupo chamado pelo governo americano de Five Eyes – os próprios EUA, Inglaterra, Austrália, Canadá e Nova Zelândia, aliados na espionagem. “Ninguém tem dúvida de que os EUA, como todos os países, têm direito de fazer espionagem para proteger a segurança nacional. Mas há informação de espionagem de inocentes ou pessoas que não têm nada a ver com terrorismo ou questões industriais”, diz Greenwald.

Sônia Bridi, repórter do Fantástico que assina a matéria junto com Greenwald, frisa que não há informação sobre a extensão da espionagem realizada pela NSA nem se sabe se ela conseguiu o que desejava obter, mas que é certo que a Petrobras foi alvo da agência americana, que tinha, entre os seus “clientes”, a diplomacia dos Estados Unidos, os serviços secretos e a Casa Branca. Nos mesmos documentos, há menção a informações diplomáticas, políticas e econômicas que provam que a NSA não teria apenas atuado contra o terrorismo, para o qual se dedicaria.

Em nota enviada ao programa da Globo, a agência americana diz que não tentou “roubar segredos comerciais”. “Nós não usamos nossa capacidade de espionagem internacional para roubar segredos comerciais de companhias estrangeiras para dar vantagens competitivas a empresas americanas”, diz o texto. Questionada sobre as razões da espionagem à Petrobras, a NSA se limitou a dizer que a nota enviada era tudo o que a agência teria a declarar no momento. A Petrobras não quis comentar o caso.

A presidente Dilma Rousseff aguarda para esta semana uma posição do governo americano sobre a denúncia feita na semana passada pela TV brasileira. Edward Snowden vazou milhares de documentos da NSA em junho passado. O ex-analista da agência americana hoje se encontra asilado na Rússia.

Por Reinaldo Azevedo

 

Petrobras e a espionagem – Algumas questões relevantes nesse imbróglio. Ou: Não há mal que os americanos possam ter feito à empresa que brasileiros não tenha feito e não façam com sobras

Ai, ai… E continua a saga de Glenn Greenwald, o jornalista americano do Guardian que mora no Rio (não é correspondente do jornal aqui), que parece mesmo determinado a fazer o Brasil declarar guerra os EUA. Espero que Dilma se controle, né? De tudo o que o pilantra Edward Snowden vazou, Greenwald está pinçando e selecionado eventos que digam respeito ao país. Na semana passada, veio a público a sugestão de que Dilma foi espionada, embora não exista a evidência de que a Agência Nacional de Segurança tenha tido acesso ao conteúdo de suas mensagens — o que se infere, revejam tudo o que foi publicado a respeito, é que haveria condições técnicas para tanto. Neste domingo, de novo no Fantástico, Greenwald revela que a Petrobras também teria sido espionada. Mais uma vez, não se tem a prova disso — ou, nas palavras de Sônia Bridi, coautora da reportagem: “Não há informações sobre a extensão da espionagem, e nem se ela conseguiu acessar o conteúdo guardado nos computadores da empresa. O que se sabe é que a Petrobras foi alvo da agência, mas não há pista nos documentos sobre que tipo de informações a NSA buscava.”

É chato ficar fazendo certas observações aqui, em vez de levantar, pôr a mão no peito e cantar o Virundum… Mas o fato é que, tanto no caso de Dilma como no da Petrobras, não fica claro se houve mesmo a invasão ou que tipo de informação foi buscada. A reportagem do Fantástico está aqui. Na ausência de dados sobre a espionagem propriamente, recheia-se a reportagem com os números superlativos da Petrobras e o quanto ela pode despertar a cobiça internacional. Sem dúvida! Também se especula sobre a possibilidade de empresas terem tido acesso a informações sobre o pré-sal e coisa e tal. Bem, considerando a escolha que o Brasil faz para a exploração do petróleo nessas áreas, podemos ficar tranquilos, certo? O regime é de partilha mesmo, e não há como a gente ser enganado pelos sagazes estrangeiros. Mas é certo que isso vai mexer com os brios nacionalistas.

Antes que volte à Petrobras, uma questão relevante. Glenn Greenwald, neste domingo, em declaração ao Fantástico, resolveu relativizar um tantinho as considerações que vinha fazendo sobre o trabalho da agência americana. Até reconheceu que ela se ocupa também de combater o terrorismo. Ah, bom! Leiam a sua declaração. Comento na sequência:

Sônia Bridi - Outros nomes de empresas e instituições da lista foram apagados para não comprometer operações que envolvam alvos ligados ao terrorismo.

Greenwald: É uma questão de jornalismo responsável. Tem informação nesses documentos, alguma informação, que é sobre a espionagem mesmo contra o terrorismo, questões de segurança nacional, que não devem ser publicadas, porque ninguém tem dúvida que os Estados Unidos, como todos os outros países, têm direito de fazer espionagem para proteger a segurança nacional. Mas tem muito mais informações sobre espionagem contra inocentes, ou contra pessoas que não têm nada a ver com terrorismo ou questões industriais, que devem ser publicadas.

Retomo A um telespectador ou leitor distraído, três questões essenciais podem passar despercebidas, e elas relativizam a afirmação de Greenwald:

1: Edward Snowden, o pilantra, certamente lhe passou uma ínfima parte de todos os documentos e de todas as operações de agência. Assim, o lote que ele tem em mãos não é uma amostra que lhe permita dizer se a maior parte das operações tem ou não vínculos com o terrorismo;

2: ninguém sabe quais documentos Greenwald tem em mãos; logo, ele pode pinçar do conjunto o que bem entender. Como não pode revelar as operações que dizem respeito ao terrorismo (o que nem a agência pode fazer), sobra-lhe, então, o estardalhaço com as que não dizem;

3: mais importante: se Snowden lhe passou o que tinha e se Dilma e a Petrobras foram espionadas, por que as provas não aparecem nos documentos, que, afinal de contas, eram secretos?

Mas como tratar com um mínimo de racionalidade e prudência um caso como esse? Certamente virão outros. Daqui a pouco, vai-se descobrir que até o Michel Temer foi espionado, interessados que estavam os americanos em saber o que ele pensa — um dos segredos mais bem guardados da República, não é mesmo? Não estou aqui posando de cético profissional, não, mas o fato é que essa história, até agora, tem muito calor e pouca luz. Esprema-se tudo, e o que sai é bem pouca coisa. Mas agora já temos uma “presidenta” para lutar contra Tio Sam em defesa das riquezas nacionais. Dados os resultados da gestão Dilma, é muito mais do que ela pediu a Deus.

Agora a Petrobras Pois é… Convenham: não há mal que espiões malvados possam fazer à Petrobras que os petistas não tenham feito por sua conta. Se houve a ação indevida, que se exija a reparação, claro! Mas me parece certo que a agência de segurança dos EUA não nos roubou uma refinaria, por exemplo, como fez o boliviano Evo Morales. Agora Dilma está falando grosso com Washington, a Casa Branca, Obama (todo mundo fala, né?), mas, à época, o governo brasileiro falou fino com a Bolívia.

Não há mal que os espiões americanos possam fazer à Petrobras e a seus acionistas que a política de preços de combustíveis do governo Dilma já não faça cotidianamente, impondo pesados prejuízos à empresa, obrigada a comprar combustível mais caro e a vendê-lo mais barato no Brasil — depois de Lula ter sujado as mãos em óleo para declarar a nossa autossuficiência.

Não há mal que os espiões americanos possam fazer à Petrobras que a direção da empresa, então sob o comando de Sérgio Grabrielli, não tenha feito por conta própria ao comprar, por exemplo, uma estrovenga em Pasadena, nos EUA, operação que impôs à empresa de economia mista um prejuízo de US$ 1,2 bilhão.

Espírito cívico Lembro essas barbaridades para tentar diminuir a importância da denúncia? Não! Lembro essas barbaridades para indagar onde estava o espírito cívico, que certamente se exacerbará agora, quando a empresa estava sendo, deixem-me ver a palavra, molestada. Nesse particular, uma pena mesmo que espiões não nos tenham advertido a tempo, não é? É uma ironia, viu, petralhas?

Certamente há mais coisas que dizem respeito ao Brasil nos arquivos roubados por Snowden e repassados para Greenwald, o herói que está ajudando a demonstrar como os malvados do Norte estão de olho no nosso país. Vamos ver. No caso da Petrobras, infiro que nem a agência americana conseguiu saber o que se passa num estado chamado “Petrobras”. Sucessivos governos já fizeram esse esforço, e ninguém, até agora conseguiu. Duvido que os americanos tenham ido muito longe.

As coisas estão realmente ficando como o diabo gosta. Dilma já tem dois pilares de campanha. Um são os médicos, escravos da ditadura cubana; o outro, a garantia de que vai nos proteger da democracia americana. Já posso respirar aliviado.

Por Reinaldo Azevedo

 

E Dilma em Moscou, dando pito em Obama, é Dilma aqui, no palanque eletrônico. O governo segue ruim, mas recuperou a iniciativa

Enquanto a tucanaça Elena Landau descobria, em São Paulo, que Reinaldo Azevedo é o inimigo a ser combatido, só dava Dilma Rousseff na TV. Era Dilma na Rússia enfrentando Barack Obama, dizendo que ele se comprometeu pessoalmente a explicar o que se deu no caso da espionagem. Lá estava ela, altiva, a afirmar que quer saber que diabo há lá sobre o Brasil. Pois é… Imaginem só a surpresa dos americanos caso tenham mesmo interceptados os e-mails da petista com seu principais auxiliares: “Pô! Mas não há nada aqui! Por que a gente espiona essa gente pitoresca?”. Mas Dilma estava com tudo. Lula reapareceu. Disse que a presidente tinha de dar um “guenta” em Obama e questionou: “Quem os EUA pensam que são?”. Sugeriu, inclusive, que o Brasil não precisa da proteção americana contra o terror coisa nenhuma! A ignorância é doce.

Era Dilma na Rússia, e era Dilma no Brasil, no pronunciamento antecipado do Sete de Setembro. Ela negou que existam rinocerontes assassinos à solta na Esplanada dos Ministérios. Recorro a um animal que se tornou simbólico na literatura do absurdo porque a governanta veio a público para dizer que falharam todas as previsões dos pessimistas de que haveria aumento do desemprego e crescimento negativo. Ocorre que, assim como ninguém afirmou que existam rinocerontes assassinos à solta, ninguém sustentou que haveria aumento de desemprego e crescimento negativo — o que se disse é que o crescimento será, e será, mixuruca. A presidente exaltou a expansão de 1,5% do PIB do segundo trimestre (na comparação com período anterior) e sustentou o tripé da economia: inflação contida (a mesma que voltou a subir), retomada gradual do crescimento (o tal, que é mixuruca) e emprego. Não, leitor! Não estou aqui a cobrar que o governo fale a verdade! Só estou a dizer como são as coisas.

Também cantou as glórias do programa “Mais Médicos”, em tom de palanque. Deu uma discreta demonizada nos médicos brasileiros: “A vinda de médicos estrangeiros, que estão ocupando apenas as vagas que não interessam e não são preenchidas por brasileiros, não é uma decisão contra os médicos nacionais. É uma decisão a favor da saúde”. Foi, uma vez mais, reverente aos protestos de rua, dizendo que compreende os seus motivos e coisa e tal, mas que nunca se avançou tanto.

Sim, tratou-se, como de hábito, de campanha eleitoral antecipada, e o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), afirmou que vai recorrer à Justiça, no que faz muito bem. A única dificuldade, no caso, vai ser explicar, no terreno da política, por que o horário político do PSDB, de que ele foi estrela única, também não constituiu campanha eleitoral antecipada.

Vamos ver. O fato é que os indicadores econômicos do país continuam ruins, mas não é menos verdade que o governo retomou a iniciativa política Edward Snowden e Glenn Greenwald deram uma ajuda e tanto. Todos vimos uma Dilma altaneira, diante de um Barack Obama constrangido, com apoio de apenas parcela do G-20 para fazer um ataque punitivo à Síria. Ela, claro!, aproveitou a deixa para declarar a ilegitimidade de qualquer ação sem uma expressa autorização do Conselho de Segurança da ONU. Mais do que o pronunciamento do Sete de Setembro, o verdadeiro discurso eleitoral de Dilma foi aquele feito em Moscou. Os petistas deveriam erguer uma estátua a Barack Obama! Ele é, hoje, o maior eleitor de Dilma.

Por Reinaldo Azevedo

 

A equação da taba: água benta, marxismo bocó e financiamento externo

Leia trecho de artigo da senadora Kátia Abreu (PSD-TO) na Folha deste sábado. O título que vai acima é meu:

É improvável que, na agenda social brasileira, haja causa mais santificada que a indígena. São mais de 100 mil ONGs, a maioria estrangeira, associadas a dois organismos ligados à Igreja Católica: o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e a CPT (Comissão Pastoral da Terra). Sua ação e objetivos não têm nada a ver com religião. Exercem notória militância política, de cunho ideológico, sob a inspiração da Teologia da Libertação, de fundo marxista. Agem associados à Funai (Fundação Nacional do Índio), por sua vez aparelhada por antropólogos que compartilham a mesma ideologia.  Há um forte paradoxo nesse cenário: com tantos e tão poderosos defensores, os índios deveriam ser os cidadãos mais bem cuidados do país. E, infelizmente, não são.

O que se vê, no noticiário propagado pelas próprias ONGs, são índios com problemas de nutrição, alcoolismo, gravidez na adolescência, sem escola ou em isolamento. Questões que são verdadeiras, mas que não dependem de terra, e sim de assistência social. Além das ONGs e de instituições como o Cimi e a CPT, há dois órgãos estatais voltados para a defesa dos índios: a já citada Funai e a Funasa, incumbida da saúde e da ação sanitária nas tribos. Nenhum cidadão dispõe de tal aparato –que, no entanto, não funciona. E é de estranhar por que Cimi, CPT e ONGs são regiamente financiados por organizações internacionais. Como esses financiamentos se destinam a melhorar a vida dos índios –e esta não melhora–, é espantoso que os financiadores não promovam auditorias para averiguar o que ocorre. A menos, claro, que as benfeitorias se meçam pelo número de hectares invadidos, pondo em risco uma das agriculturas mais competitivas do mundo, sustentáculo há décadas da economia brasileira.

Se assim for, como parece ser, o serviço está magnificamente prestado. Só nos sete primeiros meses deste ano, houve 105 invasões de propriedades produtivas, devidamente tituladas, algumas há mais de um século. Há 190 conflitos instalados, e, somente em Mato Grosso do Sul e na Bahia, há 147 propriedades já ocupadas pelos índios. Funai e Advocacia-Geral da União, segundo os jornais, recusam-se a obedecer a decisões judiciais de reintegração de posse. Os benfeitores dos índios, regiamente financiados, elegeram há anos o bode expiatório ideal para as mazelas daqueles brasileiros: os produtores rurais, a maioria de pequeno porte. Seriam as terras destinadas à agricultura a causa do sofrimento dos índios? Quem quiser que tire suas conclusões: os índios brasileiros dispõem de extensão de terra de dar inveja a muitos países.

As áreas indígenas, com pouco mais de 500 mil habitantes, ocupam 109,6 milhões de hectares (13% do país). Nos EUA, esse índice é de 5,72%; na Austrália, é de 4,72%; no Canadá, de 0,26%. O problema, portanto, não é de terras: é de gestão –e de má-fé. Nos últimos 18 anos, a média de demarcação de terras para os índios –grande parte produtiva e, na maioria, de pequenos produtores– foi de 3,2 milhões de hectares/ano. Mantido esse ritmo, a área de produção agrícola estaria fortemente comprometida em alguns anos. Para reagir ao avanço dessas invasões, apresentei ao Senado projeto de lei que suspende proces- sos demarcatórios de terras indígenas sobre propriedades invadidas pelos dois anos seguintes à sua desocupação.

O que se esconde por trás de tudo isso é algo simples: guerra comercial. Os financiadores são de países que competem com a agricultura brasileira e que cobiçam nossas riquezas minerais e vegetais. São os mesmos que, reiteradamente, defendem que essa parte do território nacional deve ser cedida, e os brasileiros índios, transformados em nações independentes na ONU.
(…) 

Por Reinaldo Azevedo

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Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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1 comentário

  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Sr. João Olivi; Lendo noticias deste calibre, penso “agropecuáriamente” (termo de um matuto), que os brasileiros que importaram o gado nelore da Índia, na época, devem ter trazido nos cascos dos animais algum “genzinho” da pirâmide social indiana. Explico, lá existem as “castas”, são indivíduos que seus ancestrais desenvolviam aquela atividade e, esta são passadas aos seus descendentes.

    Ex: existe a “casta” que limpa as latrinas na Índia. Há os que incineram os cadáveres à margem do rio, etc.

    No sistema político brasileiro há a “casta” daqueles que executam a “sujeira”.

    Ex: Dólares na cueca. De quem? Do assessor do deputado.

    Assinatura de Nota Promissória dum empréstimo (que não é empréstimo – vá entender !). Quem assina? José Genuíno (esse merece desculpas, pois disseram-lhe que era para ele treinar a assinar naquele “papelzinho”).

    Enfim ... haja exemplos ! ....” E VAMOS EM FRENTE ! ! ! “....

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