ATAQUE À LIBERDADE DE IMPRENSA – Suprema Corte da Argentina declara que Lei de Mídia é constitucional

Publicado em 25/10/2013 09:44 e atualizado em 05/03/2020 17:24
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

ATAQUE À LIBERDADE DE IMPRENSA – Suprema Corte da Argentina declara que Lei de Mídia é constitucional

Na VEJA.com. Volto no próximo post.
A Suprema Corte da Argentina declarou nesta terça-feira a constitucionalidade de quatro artigos da Lei de Mídia que eram contestados pelo grupo de comunicação Clarín, um dos principais atingidos pelas medidas que visam enfraquecer a imprensa livre do país. Agora, com a validade de todos os artigos, a lei será aplicada na totalidade. Segundo o jornal La Nación, a decisão da corte foi aprovada por seis votos a favor e um contra.

As regras da lei, que havia sido aprovada em 2009, devem obrigar 21 grupos de mídia a vender parte de suas concessões e propriedades. Oficialmente, o governo afirma que a lei vai evitar a “concentração no setor”, mas a medida, segundo a oposição e as empresas, é mais uma etapa do projeto de perpetuação de poder do kirchnerismo e um duro golpe na liberdade de imprensa, fundamental à manutenção da democracia.

O argumento dos juízes para endossar a aprovação foi, em primeiro lugar, que a lei “é constitucional porque é proveniente do Congresso, cuja conveniência e oportunidade não são matéria de análise dos juízes”. Os magistrados, ainda segundo o diário La Nación, sublinharam que a decisão “trata de fortalecer uma democracia deliberativa, em que todos possam, em igualdade de condições, expressar suas opiniões e que não se podem admitir vozes predominantes”.

Nos últimos anos, o grupo Clarín vinha travando uma guerra de recursos nos tribunais contra o governo para barrar alguns artigos da lei. A lei chegou a ter o aval da Justiça na primeira instância, mas o Clarín recorreu e, após passar por vários tribunais, conseguiu levar o caso para a Suprema Corte. A Lei de Mídia fixa para os meios de comunicação privados um máximo de 35% do mercado no mercado de televisão aberta e 35% de assinantes de televisão a cabo, 10 licenças de rádio, 24 de televisão a cabo e uma de televisão por satélite.

Com a aprovação do artigo que limita o número de licenças para serviços de televisão, de rádio e de TV a cabo, o jornal El País estima que 21 grupos deverão se desfazer de 330 concessões legalmente obtidas. Dessa forma, só o grupo Clarín terá de vender ou transferir mais de 150 licenças. Entre os outros 20 grupos, estão a espanhola Telefónica, a americana DirectTV e o também espanhol grupo Prisa.

As vozes críticas, como a deputada opositora recentemente reeleita Elisa Carrió, afirmam que a lei foi feita sob medida para punir o Clarín pelas reportagens críticas ao governo. Segundo Elisa, a Lei de Mídia tem o claro objetivo de manipular o conteúdo da imprensa. A deputada tinha enviado uma carta à Organização dos Estados Americanos (OEA) para alertar sobre supostas pressões feitas pelo governo sobre os juízes com o fim de obter uma sentença favorável à lei.

Artigos
Os artigos 41, 45, 48 e 161 haviam sido questionados pelo Grupo Clarin. Dois deles, 45 e 161, são respectivamente referentes à concentração de ativos de mídia e às concessões. O Grupo questionou a restrição à acumulação de licenças de transmissão via cabo e ar, a quebra de um direito adquirido e a obrigação de desistir de suas licenças antes do vencimento do prazo original, como estabeleciam os contratos. No caso específico do artigo 161, a votação da Suprema Corte foi apertada, com quatro votos favoráveis e três contra.

A decisão representa uma vitória do governo de Cristina Kirchner dois dias depois da derrota parcial nas eleições legislativas, na quais o governo se manteve como primeira força nacional mas perdeu mais de 20% de votos em relação ao pleito de 2011.

Por Reinaldo Azevedo

 

Dinossauros no Brasil está assanhadíssimos. Agora eles acham que vão conseguir pegar a Globo…

A liberdade de imprensa acaba de sofrer um golpe na Argentina. Ainda que houvesse motivo plausíveis pra fazer uma revisão ou outra, a questão de fundo não é essa. Cumpre indagar por que Cristina Kirchner lutou tanto para mudar a lei. A resposta é simples e objetiva: porque não suporta uma imprensa independente. No Brasil, anotem aí, vai crescer a pressão contra a Globo. Já chego lá. Antes, algumas considerações.

Kirchner, o Néstor, o marido da atual mandatária, chegou ao poder em meados de 2003, quando a Argentina beijou a lona, numa sucessão de crises que parecia não ter fim, à esteira do vazio aberto com a deposição — oficialmente, ele renunciou — de Fernando de la Rua, em dezembro de 2001. Néstor obteve apenas 22% dos votos no primeiro turno, ficando atrás de Carlos Menem, o pai da crise, com 24,3%. Disputariam o segundo, e a vitória do marido de Cristina era dada como certa. Menem renunciou à candidatura, e a Argentina, quebrada e beirando a anomia, elegeu um presidente com apenas 22% dos votos.

O país, inclusive a imprensa, se uniu. Era Kirchner ou o caos. O grupo Clarín deu apoio incondicional ao novo presidente. Não entrarei em minudências, mas o fato é que ele conseguiu tirar o país do buraco com medidas sensatas, dando sinais permanentes, no entanto, de um certo, como posso dizer?, exotismo no exercício do poder. Fez Cristina, a própria mulher, sua sucessora. Ela se reelegeu e vinha tentando manobras legais para um terceiro mandato.

Com o tempo, a relação de Cristina com a imprensa foi azedando, em especial com o grupo Clarín. A presidente se tornou íntima dos “bolivarianos” do continente — uma mala de dólares foi ilegalmente enviada por Chávez à Argentina para financiar a sua primeira eleição — e passou a tratar a imprensa como inimiga. A crítica passou a ser encarada como sabotagem.

A presidente mobilizou a máquina do Estado contra os controladores do Clarín. A maior acionista do grupo, Ernestina Herrera de Noble, tem dois filhos adotivos, Marcela e Felipe. Na Argentina, filhos de presos políticos que morreram nas masmorras foram, muitas vezes, adotados por militares ou por pessoas próximas do regime. Cristina não teve dúvida: passou a acusar Ernestina de ser uma das receptadoras das crianças. Chegou a haver uma batida policial para a coleta forçada de material para exame de DNA, o que os jovens acabaram fazendo por iniciativa própria. Não! Eles não eram filhos de militantes desaparecidos. A presidente tentou ainda estrangular a imprensa tomando o controle da única empresa fabricante de papel. Leiam a respeito.

Com maioria na Câmara e no Senado, conseguiu, finalmente, aprovar uma lei que tem um objetivo claro e definido: fragmentar o grupo Clarín, entregando o controle de fatias da empresa a amigos seus. Não que a presidente argentina não disponha de uma rede de apoio. A exemplo do que fez o petismo no Brasil, o kirchnerismo financia com dinheiro público seus aliados na “mídia”.  O “Página 12”, por exemplo, que já chegou a ser um jornal interessante, ousado, que fez impiedosa oposição a Carlos Menem, se tornou mero esbirro dos delírios de poder de Cristina.

De volta ao Brasil
Cristina realiza, assim, o sonho dourado de alguns dinossauros daqui: meter uma canga na imprensa livre. Reitero: a exemplo do que fazem os petistas, Cristina também dispõe de sua rede de difamação na Internet, organizada por pistoleiros. Se quiserem mais detalhes, leiam a resenha que escrevi do livro “Aguanten Los K”. Mas não basta apenas financiar o oficialismo. Também é preciso calar quem diverge.

As relações das Organizações Globo com o petismo são cordialíssimas. Não guardam semelhança nem remota com as existentes entre Cristina e o Clarín. Ademais, os petistas são mais hábeis do que os brucutus da presidente argentina. Preferem um acordo a uma briga, desde que fique claro quem faz pender a espada do vencedor sobre o vencido. A presidente Dilma e o ministro Paulo Bernardo (Comunicações), que tem se comportado com correção no cargo, não costumam fazer digressões delirantes sobre o “controle”, a exemplo do que fazia e faz Lula. O debate no petismo, no entanto, continua.

Agora mesmo, há uma tremenda excitação nas hordas fascitoides que babam de satisfação ao pensar no “controle da mídia”. O tema voltará com tudo. Não sei se o grupo Clarín ainda tem espaço na Justiça para resistir. Caso o grupo seja mesmo obrigado a abrir mão de concessões, o assunto vai esquentar a campanha eleitoral no Brasil, sobretudo aquela que se dá nos bastidores e corredores, que costuma ser bem mais feia do que a do horário eleitoral.

Por Reinaldo Azevedo

 

Alguns artistas da Globo e outros descolados convocam protesto para o dia 31; vídeo ataca a mídia, não censura a violência e ainda dá uma força aos black blocs

Descolados globais — e outros nem tanto — resolveram, vamos dizer assim, esquentar de novo os protestos no Rio de Janeiro. Vejam aí no arquivo quantas vezes este cão danado aqui apontou que, em Banânia, artista é tratado como pensador — e, infelizmente, muitas vezes, pensadores anseiam a fama de artistas. Os que deveriam buscar aplausos querem ser reconhecidos como filósofos, e alguns “filósofos”, por sua vez, só querem ser aplaudidos…

Abaixo, há um vídeo em que alguns rostos muito conhecidos, outros menos, convocam a população para um protesto. Assistam. Volto em seguida.

Voltei
1: Como vocês viram, um dos alvos da insatisfação é a tal “mídia”. Vocês sabem a quem pertence a agenda que, no fim das contas, criminaliza mesmo é a imprensa. Aliás, o maior “grupo de mídia” do país são as Organizações Globo, que detêm concessões de TV aberta, por assinatura e de rádio, jornal, revista etc. Assina a carteira de trabalho de boa parte do bacanas. Isso não quer dizer que não possam e não devam dizer o que pensam e discordar. Mas, então, que deem nome aos bois. Qual “mídia” trata de modo inadequado os “manifestantes”? Como sabe toda gente, ao contrário do que se anuncia acima, A IMPRENSA TEM SE NEGADO A CRIMINALIZAR ATÉ MESMO OS CRIMINOSOS.

2: Quem não faz a distinção entre manifestantes e bandidos são os atores globais e os outros dois ou três que se manifestam. Notem:
a) não há uma só palavra de censura às depredações;
b) a polícia é vista como a única responsável pelos confrontos;
c) pessoas detidas depredando a cidade são chamadas de “presos políticos”.

3: Uma jovem chamada Bianca Comparato — nunca vi, mas parece ser atriz —, aos 3min23s, defende, as palavras fazem sentido, o quebra-quebra. Transcrevo sua fala (em vermelho):
“[órgãos de imprensa] só reportam o que é que foi quebrado, o que foi destruído. E eu também acho que tem de parar para pensar o que é que está sendo destruído. São casas de pessoas, como (sic) a polícia joga uma bomba de gás dentro de um apartamento? Não! São lugares simbólicos”.

Nunca vi a PM jogando bombas de gás dentro de apartamentos, mas Bianca viu. Ok. Mas isso não é o mais importante. É evidente que ela está defendendo a ação de destruição dos black blocs, mas só a dos “lugares simbólicos”. Do quê? Que eu saiba, quebram bancos, lojas, prédios públicos, praças, estações de trem, de metrô… Lugares simbólicos da civilização?

4: Algumas estrelas do vídeo merecem breves considerações:
a) Wagner Moura, hoje, é o líder dos engajados no Brasil. Tornou-se uma espécie de garoto-propaganda do PSOL, em especial da linha freixista (de Marcelo Freixo);
b) Marcos Palmeira é genericamente a favor de coisas boas, belas e justas, especialmente as ligadas à natureza. Foi uma das estrelas daquele vídeo patético contra Belo Monte. Palmeira sabe como cuidar da questão energética brasileira e, como se vê, é um profundo pensador da democracia. Eduardo Campos o quer como candidato ao governo do Rio pelo PSB.
c) Camila Pitanga é militante petista e garota-propaganda da Caixa Econômica Federal, em especial do programa Minha Casa Minha Vida. Já está engajada na candidatura de Lindbergh Farias ao governo do Rio.

No dia 17 de junho, no Rio, aconteceu isto aqui, vejam:

Os “artistas”, evidentemente, não disseram uma só palavra de censura ao comportamento dos manifestantes. Linchar policias pode. Mas o silêncio não é o mais grave. No vídeo que convoca um novo protesto, a violência dos vândalos não só é negada como chega a ser bem-vista e estimulada por uma das participantes. Se quem editou as falas manteve a de Bianca Comparato e se todos concordam com o produto final, então é evidente que a endossam.

Eu sou, claro!, um rottweiler feroz. Mansas são as pessoas que acham que “destruir lugares simbólicos”, num protesto, é coisa de gente que só quer um país melhor.

 Por Reinaldo Azevedo

 

Carvalho, a pomba da paz, pisca para violência emprestando-lhe profundidade sociológica; Azevedo, o rottweiler feroz, acha que a barbárie atrai mais barbárie. Ou: Encontro marcado com dois ministros para logo mais

Vocês sabem… Como sou um “rottweiler feroz”, não gosto da violência promovida pelos ditos “ativistas e manifestantes”, seja lá o que isso signifique nestes dias. Entre quem quebra tudo e argumenta, prefiro quem argumenta. Entre quem põe fogo em bens públicos e privados e dialoga, prefiro quem dialoga. E acho que mascarados que promovem o caos nas cidades brasileiras são bandidos. Aqueles artistas que fizeram um vídeo convocando um protesto, que conta com um depoimento em favor dos black blocs, não pensam assim. No Brasil, cães furiosos apostam no diálogo, e as pombas da paz, no confronto. Não somos mesmo um país convencional. Ai, ai… Abaixo, vocês lerão algumas palavras estarrecedoras.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, vai se encontrar com os secretários de Segurança Pública do Rio e de São Paulo — respectivamente, José Mariano Beltrame e Fernando Grella — para discutir as manifestações violentas. Voltarei ao tema na madrugada. Vou demonstrar como Cardozo colaborou, de um modo muito especial, para que a situação chegasse a esse ponto. Pode me aguardar aí, ministro, que a memória é um dos pilares dos que prezam a história. E eu prezo. Neste post, quero chamar a atenção de vocês para a fala de uma outra autoridade: Gilberto Carvalho. Ele é nada menos do que secretário-geral da Presidência. Em trecho de texto do Globo Online, que reproduzo abaixo, de Jaílton Carvalho e Luíza Damé, vocês verão como o sociologismo chulo de Carvalho acaba, objetivamente, dando piscadelas para a violência e para o caos.

Se, ali por volta de junho, Cardozo deu sua cota pessoal de contribuição ao caos, Carvalho agora dá piscadelas à confusão porque ela, em muitos aspectos, é útil ao statu quo. E isso também demonstrarei mais tarde. Leiam o que segue. Volto em seguida.
*
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, convocou uma reunião com os secretários de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, e de São Paulo, Fernando Grella Vieira, para analisar a situação das mobilizações sociais e discutir estratégias de como lidar com atos de violência que têm acontecido durante as manifestações nos dois estados. Durante a reunião, as autoridades deverão discutir se a investigação dos atos de vandalismo, inclusive os atribuídos ao grupo Black Bloc, podem passar à competência da Polícia Federal.

Cardozo também anunciou nesta terça-feira que tropas da Polícia Rodoviária Federal (PRF) do Rio serão enviadas para reforçar a segurança em rodovias em São Paulo. O ministro não revelou o número dos policiais e nem o destino final deles por questões estratégicas. O envio der tropas foi acertado no fim da manhã de hoje, entre autoridades do governo de São Paulo com dirigentes da PRF.

Cardozo defendeu a liberdade de manifestações, mas criticou duramente a violência de alguns protestos. “A liberdade de manifestação está prevista na Constituição e deve ser respeitada por todos, inclusive pelas autoridades policiais. Essa situação não se confunde, evidentemente, com o abuso da liberdade de manifestação. Não se confunde com a depredação, com o vandalismo”, disse Cardozo. “Acho que é legitimo que as pessoas se manifestem. Mas, quando a liberdade de expressão ultrapassa o limite da lei, quando outras pessoas são feridas na sua integridade física e patrimonial, quando há um abuso disso, traduzido em prática de delitos, isso não pode ser aceito pelo Estado.”

Carvalho
Também nesta terça-feira, o ministro da Secretaria Geral, Gilberto Carvalho, disse que o governo está preocupado com a violência dos protestos, tanto do lado dos manifestantes quanto dos policiais, mas reconheceu que não há um diagnóstico da situação e do que leva aos ataques. Para o ministro, a polícia tem de agir para evitar destruição do patrimônio público e privado, mas a solução para os atos violentos não pode ser a criminalização dos movimentos nem somente a repressão.

“Ela (violência) é muito mais complexa, agora tem misturado com toda essa questão do crime organizado, a questão dos black blocs. Qualquer pessoa agora tem que ter muito cuidado em analisar essas questões para querer ter um diagnóstico perfeito. De todo modo, nós estamos preocupadíssimos com isso. Desde que as manifestações começaram a derivar para esse caminho da violência, nós ficamos preocupados. Entendemos que não basta criminalizar essa juventude, nós temos de ter um diagnóstico melhor, precisamos entender até que ponto a cultura de violência já vivida na periferia já emigrou para esse tipo de ação”, argumentou Gilberto Carvalho.

O secretário-geral da Presidência também afirmou que haverá uma cooperação entre Rio e São Paulo, com o encontro de Cardozo com os secretários de Segurança dos estados. “É importante o seguinte: trata-se de um fenômeno social que, para podermos ter uma atuação eficaz, nós temos de ter um diagnóstico mais preciso. E nos falta até agora esse diagnóstico mais preciso. Estamos acelerando isso, estamos em diálogo com a polícia, com as autoridades dos estados, estamos buscando e também com a sociedade, com movimentos juvenis. Porque a simples criminalização imediata, ela não vai resolver”, disse Gilberto Carvalho.
(…)

Voltei
Afirmar que a cultura da violência da periferia está migrando para os protestos é só a ideologia a serviço da empulhação. Perguntem aos realmente pobres se eles endossam a depredação. Enquanto as autoridades fizerem essa abordagem, o caos nas ruas vai continuar porque não haverá efetivo combate à truculência. Ocorre que também essa avaliação de Carvalho traduz uma deformação de origem e uma utopia. Cuidarei desses temas mais tarde. Nunca pensem que gente como Carvalho já chegou ao limite. Ele sempre pode ultrapassá-lo.

 Por Reinaldo Azevedo

 

Eduardo Campos tem de ser mais preciso; eu já sabia que ele só quer o nosso bem…

Marina Silva, líder da Rede, e Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente do PSB, promoveram nesta segunda um encontro das duas legendas em São Paulo. É prudente. Nas pesquisas de intenção de voto, ela ocupa o segundo lugar e pode vir a disputar o segundo turno com a presidente Dilma, do PT, caso seja o nome escolhido pelos pessebistas.

O primeiro curto-circuito gerado pela união dos dois partidos com vistas a 2014 se deu dois dias depois do anúncio. Marina atacou o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), até então um aliado de Campos em seu estado, acusando-o de “inimigo do trabalhador rural”. Não há contra Caiado uma só acusação de desrespeito à legislação trabalhista vigente no Brasil. Ele integra o que a imprensa chama “bancada ruralista” — afinada com os tais “interesses do agronegócio”. Ocorre que é preciso ver em que medida esses ditos “interesses” não são também os do Brasil. Caiado, obviamente, rompeu com uma eventual candidatura Campos — uma vez que o governador não se mobilizou em seu apoio — e recebeu a solidariedade de líderes do setor agropecuário.

No encontro desta segunda, Campos se referiu ao assunto, informa Paulo Gama na Folha:
“Não temos nenhum preconceito com os que vivem e produzem no campo, pelo contrário, vemos a necessidade dessa aproximação com o que defendemos porque há uma expectativa enorme com o Brasil no mundo afora (…). O agronegócio é responsável por 25% do PIB, 25% do emprego. Nós queremos fazer isso com sustentabilidade, porque o mundo não quer comprar nada de quem não respeite os valores que ele está em busca”.

Vamos ver
Alguns dos desatinos do Brasil decorrem do fato de os políticos saírem por aí, a dizer coisas ao léu, sem se comprometer com o seu conteúdo. De fato, o agronegócio responde por praticamente 25% do PIB, mas emprega, segundo sei, mais do que um quarto da mão de obra ativa do país. Chega perto de um terço. O setor, assim, é ainda mais importante para a economia do que diz o governador. Marina Silva pensa algumas coisas a respeito. Há pensamentos que temos que apenas contam a história do futuro. Há outros que podem ter consequências práticas, que podem ter efeitos concretos, que podem mudar a realidade no curto prazo.

O país passou por isso. Pegue-se o caso do Código Florestal. O texto que Marina defendia — e ela sabe que isto é verdade — implicaria a redução substancial da área plantada no país, o que conduziria a uma queda inevitável da produção — ao menos por um bom tempo.

Confrontada com essa evidência, a agora pré-candidata do PSB à Presidência tinha uma resposta na ponta da língua: caso se recuperem as terras degradadas, poder-se-ia compensar a diminuição da área plantada. Era uma resposta mágica. Quem conhece a área sabe que uma coisa não compensaria a outra. Marina imitava esses que se opõem ao uso de animais em pesquisas científicas, alegando haver métodos alternativos, embora a realidade evidencie que não. Ou por outra: fazem uma defesa que provocaria um grande estrago na, vamos dizer, ordem racional das coisas e apontam uma solução que só existe na imaginação.

De resto, Marina jamais considerou que toda a agropecuária brasileira — que movimenta o agronegócio, que é uma cadeia muito ampla na economia — ocupa menos de 28% do território nacional. Tento de novo: um quarto do PIB e um terço da mão de obra exigem o dobro das terras que hoje são destinadas às reservas indígenas.

Volto a Campos
Muito bem! Não basta a Eduardo Campos, postulante que é à Presidência, dizer-se a favor do “agronegócio sustentável”. Até porque é preciso perguntar quem é que defende o contrário. Isso quer dizer exatamente o quê? Voltemos ao Código Florestal: o seu compromisso com Marina implica, caso vitorioso, um esforço para rever o texto aprovado, aproximando-o do que pretende a líder da Rede? Ou, embora ele reconheça que ela tem o direito de defender o que bem entende, ele se alinha com a proposta aprovada?

É claro que isso é importante. Todos sabem que boa parte da imprensa comprou a causa ambientalista “by Marina”. O que ela diz nessa área assume o valor de uma Suma Teológica. Os ditos “ruralistas” enfrentaram um grande desgaste para defender o texto; o então deputado Aldo Rebelo (PCdoB), hoje ministro dos Esportes, foi demonizado: de comuno-nacionalista antediluviano a “vendido para o agronegócio”, foi chamado de tudo. O próprio governo Dilma enfrentou críticas ao resistir às maluquices — sim, acho maluquice — de Marina.

Não basta vir com essa conversa recheada de obviedades. Todos nós somos a favor do bem, do belo e do justo. Quem não é? É preciso que as convicções sejam submetidas a testes de realidade.

Deixo aqui duas perguntas a Eduardo Campos. Se a sua assessoria quiser responder, publico a resposta:
1) Defende o Código Florestal aprovado ou defende o texto que contava com o apoio de Marina Silva?
2) No caso de uma terceira opinião, o que precisa mudar?

Que Campos e Marina só queiram o nosso bem, disso não duvido. Também é o que dizem os demais pré-candidatos, não?, a exemplo da própria Dilma.

Por Reinaldo Azevedo

 

Ombudsman da Folha me chama de cachorro. E defende que se assegure “um bom nível de conversa” no jornal. Entendo…

Suzana Singer, ombudsman da Folha, me chama de cachorro, de rottweiler, em sua coluna deste domingo. Escreveu logo no primeiro parágrafo:
“Na semana em que o assunto foram os simpáticos beagles, a Folha anunciou a contratação de um rottweiler. O feroz Reinaldo Azevedo estreou disparando contra os que protestam nas ruas, contra PT/PSDB/PSOL, o Facebook, o ministro Luiz Fux e sobrou ainda para os defensores dos animais.”
Ela se diz preocupada com o “nível da conversa” no jornal e dá um exemplo de sua superioridade argumentativa e retórica. Quem quiser lhe mandar uma mensagem, parabenizando-a pelo requinte, segue o endereço: [email protected].

Talvez eu lhe dispense algumas linhas na coluna de sexta, não sei — num único texto por semana, talvez tenha de deixa-la pra lá. No blog, não tenho limite de espaço e posso ser generoso com ela. Responder na mesma moeda? Pra quê? Suzana decidiu, como os nazistas, meter um triângulo amarelo em mim. Se bem que, fiel ao código de cores dos campos de concentração, o triângulo deveria ser, então, vermelho, que era aquele dispensado aos inimigos ideológicos — eventualmente, o púrpura serviria.

Como sabem todas as pessoas com as quais falei sobre a coluna de estreia, antevi o texto da ombudsman, cantei a bola. Suzana é um caso de esfinge sem segredos. Em tempos em que cachorros são tratados com mais cerimônia do que pessoas, ser associado a um cão não deve ser tomado como ofensa. É bem verdade que a ombudsman deixa claro: há uma diferença entre Reinaldo Azevedo e os beagles — uma só. Estes são simpáticos; eu sou “feroz”. É… Eu, na condição de cachorro, não sou fofo.

Duvido que algum colunista, jornalista ou colaborador da Folha tenha sido antes chamado de cachorro por um ombudsman ou por qualquer outro profissional do jornal. Suzana será a heroína da Al Qaeda eletrônica. A tática é antiga: desumanize aquela que considera adversário; trate-o como coisa ou bicho feroz, e aí fica mais fácil atacá-lo ou defender a sua eliminação.

Não sou bobo. Esperava, sim, uma reação agressiva, mas não achei que Suzana chegasse a tanto. O vocabulário espanta, mas a qualidade intelectual da crítica não me surpreende. Voltem lá. Segundo a ombudsman, “o feroz Reinaldo Azevedo estreou disparando contra os que protestam nas ruas, contra PT/PSDB/PSOL, o Facebook, o ministro Luiz Fux e sobrou ainda para os defensores dos animais.”

Meu texto, para quem não leu, está aqui. E quem leu sabe:
a: não disparei contra quem protesta, mas contra quem pratica atos violentos; isso é ser feroz? Aliás, Suzana, tome mais cuidado com as metáforas: cão não dispara. Se você tivesse escrito “latiu contra”, seu texto continuaria com o mesmo grau de elegância, mas haveria coerência na cadeia alegórica. É uma dica de estilo de um rottweiler.
b:
 minha restrição ao PT foi precisa: critiquei o partido por atacar sistematicamente as instituições, inclusive a imprensa livre; isso é ser feroz?;
c: minha restrição ao PSDB foi precisa: critiquei o partido por não ter construído valores alternativos aos do petismo; isso é ser feroz?;
d: minha restrição ao PSOL foi precisa; critiquei o partido por usar os professores em favor de sua agenda supostamente revolucionária; isso é ser feroz?;
e: minha restrição a Luiz Fux foi precisa: critiquei o ministro por ter transformado o STF em alçada da Justiça Trabalhista e concedido uma absurda liminar; isso é ser feroz?;
f: nem cheguei a criticar o Facebook; apenas neguei que a revolta egípcia tenha sido determinada por ele; isso é ser feroz?;
g: não ataquei os defensores dos animais, mas aqueles que invadiram um laboratório, numa ação obscurantista;
h: também critiquei, ela esqueceu de citar, o Congresso, que tende a acabar com todas as votações secretas (não apenas a de cassação de mantados, o que apoio) e os defensores do financiamento público de campanha.

Digam-me: ainda que ela escrevesse a verdade, seria proibido, para recorrer à metáfora belicosa de Suzana, “disparar” contra o PT, o PSDB, o PSOL, o Fux, o Facebook, os defensores dos animais etc.? Critiquei, sim, Suzana, humanos e atos humanos, mas não precisei desumanizar ninguém para facilitar a minha tarefa.

Suzana adere a correntes da Internet que são politicamente orientadas, que obedecem a um comando, que têm a sua origem em sites e blogs financiados com dinheiro público, para difamar desafetos. Na Folha, no meu blog ou em qualquer lugar, escrevo o que penso. Não é o dinheiro dos pobres, que teria um fim mais nobre se aplicado em saúde e educação, que financia a minha opinião.

Nada de espuma, Suzana! Faço um convite
Suzana escreve:
“No impresso, espera-se mais argumento e menos estridência. Mais substância, menos espuma. Do contrário, a Folha estará apenas fazendo barulho e importando a selvageria que impera no ambiente conflagrado da internet.”

Eu aceito um debate público com Suzana — fica aqui não um desafio, mas um convite — sobre cada um dos temas acima. Até porque parece haver opiniões minhas sobre outros assuntos que a angustiam. Eis o segundo parágrafo de sua coluna (em vermelho):

“Eu sou mesmo um reacionário à moda antiga”, escreveu o jornalista na quarta-feira, emendando que é “humanista e cristão”, contra o aborto e contra a pena de morte. Dá para deduzir o que ele pensa dos governos Lula e Dilma pelo título do seu livro “O País dos Petralhas”, uma corruptela de petistas e irmãos Metralha.

Suzana, Suzana…
Tentarei ser didático. Quando alguém escreve “sou um reacionário à moda antiga”, está fazendo uma ironia porque, dada a origem da palavra e dado o conceito político, o “reacionário” já está voltado, de algum modo, para o passado; sua postura é, necessariamente, restauracionista. Assim, ele já é, por definição, alguém “à moda antiga”. Se um autor se diz “reacionário à moda antiga”, pode estar querendo fazer um espécie de gracejo; pode estar querendo, Suzana, apontar que os valores estão de tal sorte de ponta-cabeça que a defesa da vida humana vira coisa de “reacionários”. Não dá para desenhar. De resto, pare de imaginar o conteúdo dos livros. Havendo tempo, leia-os. Ou não comente. E “petralha” não é uma corruptela — corruptela é outra coisa.

O texto a que Suzana alude está aqui. Reproduzo o trecho de onde ela extraiu umas poucas palavras. Constatem a minha “ferocidade”.
(…)
Pois é, meus caros… Eu sou mesmo um reacionário à moda antiga. Eu ainda considero o ser humano uma espécie superior a todas as outras. Se eu fosse apenas um humanista, e acho que sou também, pensaria assim. Como me considero humanista e cristão, ainda acredito que somos também a morada do espírito de Deus. “Que nojo, Reinaldo! Eu prefiro os beagles.” Tudo bem.
Sou, assim, esse lixo que não aceita a pena de morte, mas também não aceita o aborto. Sou, assim, esse lixo que recusa que embriões humanos sejam tratados como coisa — porque se abre a vereda para a coisificação do próprio homem. Repudio de maneira absoluta certa estupidez que anda por aí, segundo a qual uma hierarquia entre espécies seria mera questão de valor. No fim das contas, dizem, somos todos formados de aglomerados muito semelhantes. Teses assim ecoam os piores totalitarismos.
(…)

Para quem sabe do que se trata, estou falando de outro Singer, o Peter. Suzana não tem tempo para essas coisas. Espero que não tente meter em mim, também, o triângulo púrpura, destinado aos cristãos. Escreve ela (em vermelho):
Sua volta à Folha, onde já havia trabalhado como editor-adjunto de política, suscitou reações fortes. O leitorado mais progressista viu a chegada do colunista como o coroamento de uma “guinada conservadora” do jornal. “Trata-se de uma pessoa que dissemina o ódio e não contribui com opiniões construtivas”, escreveu a socióloga Mariana Souza, 35.
Poucos se manifestaram a favor de Reinaldo, mas isso não significa que não exista uma parcela considerável que esteja comemorando a sua vinda, já que ao ombudsman costumam recorrer os insatisfeitos. Ana Lúcia Konarzewski, 61, funcionária aposentada do IBGE, afirma que vai voltar a assinar o jornal por causa do novo colunista. “Não aguentava mais tanta gente defendendo o governo”, disse.

Honestidade intelectual e profissional, Suzana!
Aguardo no blog um comentário de Mariana Souza para que ela aponte os textos meus que disseminam o ódio. Reproduzir o que a Internet financiada por estatais e pelo governo diz não vale. Segundo Suzana, poucos se manifestaram a meu favor, mas admite que parcela considerável também comemora, “já que ao ombudsman recorrem os insatisfeitos”.

Epa! Não informar que sites e blogs petistas, financiados por estatais, organizaram desde quarta-feira uma verdadeira corrente de linchamento é não cumprir com o mandamento básico da honestidade intelectual e profissional. O que queria Suzana? Que eu reagisse com uma contracorrente? “Escrevam e telefonem para a ombudsman; digam que a Folha acertou e que eu sou bacana.” Ora…

Mantenho o meu convite a Suzana. Proponho o debate. Vamos falar sobre argumentos e espuma. Ela adverte a Folha para que não “importe” o “barulho e a selvageria que impera no ambiente conflagrado da internet” e para que a conversa fique “à altura do que escrevem Janio de Freitas e Elio Gaspari, colunistas do mesmo espaço.”

No que me diz respeito, e estou certo que também aos outros novos, ela pode ficar tranquila. Não chamarei ninguém de cachorro, como não chamo aqui, e vocês sabem disso. Mas continuarei, se ela me der licença, a criticar o PT, o PSDB, o PSOL, o Fux, o Facebook, os arruaceiros… Continuarei, a exemplo do que fiz na minha coluna, que não dirige uma só ofensa a ninguém, a apelar a alguns interlocutores, às vezes encobertos: a Constituição dos EUA, Maquiavel, Locke, Nietzsche, Singer (o Peter, não a Suzana). “Nossa, como esse Reinaldo quer ser sabido!…” Não! Reinaldo procura quem já foi mais longe para tentar ganhar tempo.

Suzana diz  que sou um “rottweiler”, que sou “feroz” e que meu texto de estreia revela isso. Ela deve a seus leitores, ela deve aos leitores da Folha — de quem é procuradora — e ela deve a meus leitores a evidência.

A gente sempre duvida se começou ou não com o pé direito (só força de expressão, viu, Suzana?!). Tinha escrito outro texto, sobre tema diverso, e mudei na última hora (do prazo que me impus para enviar o texto, bem entendido). Chamado de cachorro pela ombudsman, já não duvido: acertei em cheio. “Acertou em quê?” No compromisso que mantenho com os leitores.

Suzana só não pode esperar de mim a fofura de um beagle.

Exigência, recomendação e alerta
Encerro com um pedido e uma declaração: leitor deste blog que se preza, eventuais admiradores do colunista e pessoas eventualmente chocadas com o destempero de Suzana não lhe dirigirão uma só palavra desairosa — nem no espaço de comentários (serão vetados) nem em eventuais mensagens à própria ombudsman. Também não aceitarei comentários que tentem vincular as opiniões da jornalista a esta pessoa ou àquela. Ela é capaz de pensar essas coisas sozinha.

Os próceres da rede suja na Internet não hesitarão em dirigir à ombudsman as piores ofensas, disfarçados de “leitores do Reinaldo”. O jogo é pesado. Não caiam no truque de vigaristas.

Suzana não escreveu nem como beagle nem como rottweiler. Esse tipo de mordida é coisa de gente.

Texto publicado originalmente às 6h34

Por Reinaldo Azevedo

 

Na Bahia, extremistas decidem escorraçar mais dois “cachorros” de uma feira de livros.

O mesmo exemplar da Folha que traz a coluna em que Suzana Singer me chama de cachorro — um rottweiler — traz a notícia de que dois colunistas do jornal foram impedidos de falar em duas mesas da Flica (Festa Literária Internacional de Cachoeira), na Bahia. Reproduzirei o texto mais abaixo. Vocês verão as boçalidades de que foram acusados Demétrio Magnoli e Luiz Felipe Pondé. Essas coisas não acontecem por acaso.

O linchamento virtual dos últimos quatro dias — desde que a Folha anunciou os “novos colunistas”—, promovido por sites e blogs financiadas por estatais e pelo governo Dilma, tem, sim, consequências. Serve como um convite a extremistas. São os black blocs da… feira de livros!

Leiam o que informa a Folha. Volto depois:
Uma manifestação de cerca de 30 estudantes interrompeu ontem duas mesas na Flica (Festa Literária Internacional de Cachoeira), na Bahia. O protesto pedia o cancelamento de debates com o sociólogo Demétrio Magnoli e o filósofo Luiz Felipe Pondé, colunistas da Folha. A organização da Flica cancelou as mesas para garantir a segurança dos convidados. A mesa “Donos da Terra? – Os Neoíndios, Velhos Bons Selvagens”, da qual participavam Magnoli e a historiadora Maria Hilda Baqueiro Paraíso, foi interrompida 20 minutos após o início do debate, que havia começado às 10h (no horário da Bahia, que não adere ao horário de verão).

Segundo Emanuel Mirdad, um dos organizadores da Flica, os alunos, que estavam sentados assistindo ao debate, gritaram palavras de ordem contra Magnoli, a quem chamaram de racista. O protesto seguiu com alunos se despindo. Outros estudantes jogaram uma cabeça de porco no palco. “Eu sou um antirracista e é por isso que sou contra as cotas. Os grupos, a fim de não discutir argumentos sobre cotas, preferem lançar impropérios. Eles não se limitam a fazer isso. Eles depredam o debate”, afirma Magnoli.

A organização do festival deslocou seguranças para proteger Magnoli, que se recusou a deixar o palco. Para encerrar a manifestação, os alunos exigiram o cancelamento da mesa em que Pondé participaria, às 20h (hora local) e a divulgação de um manifesto. Com a participação de Pondé e do sociólogo francês Jean-Claude Kaufmann, a mesa, de nome “As Imposições do Amor ao Indivíduo”, discutiria o tema do amor. A organização do festival permitiu que os estudantes lessem a nota no palco. O evento decidiu cancelar também a mesa com Pondé, que ocorreria à noite.

“[A acusação de racismo] É uma coisa idiota. Quem me lê sabe que eu nunca escrevi nada desse tipo. Isso revela a estupidez do movimento deles e o caráter totalitário e difamatório”, afirma Pondé. “Eu acho errado cota baseado em raça, seja lá qual raça for. O que devia existir é uma escola pública decente, mas dizer que é racismo é mau-caratismo.” Era o quarto dia do festival, previsto para terminar hoje. A reportagem não conseguiu localizar representantes do grupo de alunos antes da conclusão desta edição.

Voltei
Vejam aí. Bastaram 30 truculentos para impedir duas mesas-redondas, dois debates. Como negar que conseguiram seu intento? Tiveram divulgado o seu “manifesto” e silenciaram, ao menos naquele ambiente, duas vozes de que discordam.

Eis o espírito destes dias: não argumente, quebre; não tolere a divergência, dê porrada.

Quando me chama de cachorro, é a essa gente que Suzana Singer dá uma piscadela de cumplicidade. Ela diz que sou “feroz” e publica um comentário de alguém que afirma que estimulo o ódio.  O que se narra acima são cenas inequívocas de amor.

Por Reinaldo Azevedo

 

Uma ação policial desastrada em SP, uma tragédia e o desdobramento de sempre: violência, vandalismo, caos. Ou: Para quem quer queimar tudo, Amarildo e Douglas não valem mais do que vinte centavos

No domingo, a Polícia Militar foi acionada para intervir numa ocorrência de perturbação de sossego na esquina da rua Bacurizinho com a avenida Mendes da Rocha, na Vila Medeiros, Zona Norte de São Paulo. Segundo comunicado oficial da PM, a arma de um dos policiais disparou por acidente e atingiu o peito de Douglas Martins Rodrigues, de 17 anos. Levado ao hospital Jaçanã, ele não resistiu e morreu. Testemunhas dão conta de que os policiais que atendiam a ocorrência ficaram muito nervosos, o que pode indicar que o disparo foi mesmo acidental. Não dá para saber exatamente o que aconteceu antes da devida apuração. O fato é que o PM já está preso. Nas palavras de Fernando Grella, secretário de Segurança Pública de São Paulo: “Um episódio lamentável, mas as providências foram tomadas, o policial foi autuado em flagrante por homicídio. Já está preso. Nós queremos concluir rapidamente a investigação para que o inquérito seja levado à Justiça e que ela possa analisar e decidir”.

ATENÇÃO! Eu não estou aqui a dizer que a prisão encerra a questão. É evidente que os moradores do bairro onde morava Douglas, seus amigos e seus familiares têm motivos para se revoltar, para protestar, para evidenciar a sua indignação. Talvez seja exigir demais que os que estão emocionalmente abalados pela tragédia reconheçam que a Polícia Militar e a Secretaria da Segurança agiram com presteza, fazendo o que estava a seu alcance. Ninguém devolve a vida do garoto. Mas o que dizer daqueles que usaram esse caso para promover a baderna?

A morte de Douglas serviu de pretexto para atos do mais escancarado vandalismo. Leiam este relato de O Globo Online. Volto depois.

“Um novo protesto contra a morte do adolescente Douglas Martins Rodrigues (…) fechou na noite desta segunda-feira as pistas da Rodovia Fernão Dias, na região do Parque Novo Mundo, Zona Norte de São Paulo. Manifestantes atearam fogo em duas carretas paradas na pista e em pelo menos cinco ônibus. Um grupo tomou um caminhão-tanque e percorreu a rodovia em alta velocidade com o veículo. Uma pessoa foi baleada no protesto e está sendo operada em um hospital da região. As chamas atingiram a rede elétrica e causaram a explosão de um transformador. Um outro grupo de manifestantes saqueou lojas da região utilizando carrinhos de lixo para arrombar as portas. Outros manifestantes foram para o Terminal de Cargas, na região do Parque Novo Mundo, onde tentaram saquear caminhões estacionados. A PM chegou ao local e usou bombas de efeito moral para dispersar os manifestantes. (…)”

Os mascarados
Relatos dão conta de que as ações mais violentas foram promovidas por mascarados — os de sempre. Notem: se o policial que disparou a arma estivesse solto, aguardando alguma apuração, a ação dos vândalos não teria sido diferente. A morte de Douglas, para esses que promovem o caos num pedaço da cidade, não têm a menor importância. Trata-se de mero pretexto.

Como é mesmo a fala daquela senhorita que participa daquele vídeo de celebridades globais que convoca uma manifestação no Rio para o dia 31? Reproduzo: “[órgãos de imprensa] só reportam o que é que foi quebrado, o que foi destruído. E eu também acho que tem de parar para pensar o que é que está sendo destruído. São casas de pessoas, como (sic) a polícia joga uma bomba de gás dentro de um apartamento? Não! São lugares simbólicos”.

Não precisam de mortos
É um reducionismo cretino e uma mentira atribuir a violência ao fato de o jovem Douglas ter sido morto. Desde junho, os atos de depredação em São Paulo, no Rio e em toda parte se repetem. Há um conjunto de fatores que explicam o “fenômeno”: setores da imprensa passaram a flertar com o baguncismo; processo crescente de demonização da polícia — como se vê, de novo, no tal vídeo das estrelas —; decisões, para dizer pouco, polêmicas da Justiça, que tem mandado, invariavelmente, libertar vândalos presos em flagrante… Ademais, lideranças políticas as mais variadas, do governo e da oposição, se negam a condenar a violência sistemática.

As explosões de vandalismo nunca precisaram de um motivo; só precisam de um pretexto. Quando, com efeito, existe uma ocorrência grave, como a que vitimou o jovem Douglas, tudo, então, parece justificável. Ora, por que os donos dos veículos incendiados, os passageiros do ônibus ou os usuários da Fernão Dias deveriam ser punidos? Isso não tem resposta.

O caso Amarildo
Parece-me evidente que a celeridade na apuração do desaparecimento de Amarildo de Souza e que a identificação dos responsáveis se deveram a forte mobilização dos indignados. Era o certo, e a causa era e é justa, ainda que ele tivesse envolvimento com franjas do narcotráfico. Forças do estado — e já escrevi isso aqui muitas vezes — não têm o direito de dar sumiço em ninguém, nem nos culpados. Se admitirmos isso, nem os inocentes estarão a salvo.

Estou afirmando isso agora, quando as falanges do ódio decidiram se mobilizar contra mm? Não! Procurem no blog as expressões “presos sem pedigree” e “mortos sem pedigree”. Eu as emprego sempre que trato da tortura a presos comuns no país. Reproduzo trecho de um post do dia 24 de junho de 2011:

“O país já empenhou algo em torno de R$ 5 bilhões com a tal bolsa ditadura; milhões são torrados anualmente para pagar pensões. Não há, felizmente, tortura política por aqui faz tempo. Mas a agressão ilegal a presos comuns nunca deixou de existir. Ninguém dá bola porque, afirmo aqui desde que o blog existe, são presos sem pedigree.”

Mas avancemos um pouco. “Onde está Amarildo?”, num dado momento, tornou-se uma espécie de redutor de todas as insatisfações e motivo primeiro e último de todas as delinquências que se cometeram nesses dias. A boa causa — isto é, séria, justificada, justificável, relevante — passou a servir também aos maus propósitos, inclusive a reivindicações insanas, essencialmente antidemocráticas, como as que cobravam, sabe-se lá por quê, a deposição do governador Sérgio Cabral. Deposição por quê? 

Concluindo
Todos sabem que as tais “jornadas de junho” nunca me seduziram, nem quando a muitos pareceu que Dilma Rousseff também acabaria pagando o pato. Eu não tenho o que fazer — no que concerne às minhas utopias — com explosões de ódio e com agressões a direitos fundamentais da democracia. E entendo que eles são nefastos também para a sociedade.

Para quem quer quebrar tudo, Amarildo e Douglas não valem mais do que vinte centavos.

Texto publicado originalmente às 22h29 desta segunda

Por Reinaldo Azevedo

 

Inversão moral – Amigos de rapaz preso, acusado de agressão covarde a coronel da PM, transformam a vítima em algoz

Mais coronel agredido

Não fossem certas ideias mais perigosas do que algumas doenças, eu tenderia a achar que há um estranho vírus por aí. O principal efeito de sua toxina é diluir os argumentos racionais e lógicos e a coerência. Por quê? Vocês se lembram da agressão covarde ao coronel Reynaldo Simões Rossi. Há um preso em flagrante. Chama-se Paulo Henrique Santiago. Tem 22 anos e estuda Relações Internacionais na faculdade Santa Marcelina.

Muito bem. Um grupo de estudantes resolveu divulgar uma carta de apoio ao colega, leio na Folha. Sustentam que Santiago não pertence ao Movimento Passe Livre nem é adepto dos black blocs. Seus amigos afirmam ainda que “ele não é um homicida e não participa de quadrilha que objetiva matar policiais”.

O fato, reitero, é que ele foi preso no local, em flagrante. Que se apure tudo para saber se é um dos culpados. Seus amigos, no entanto, precisam tomar mais cuidado. Como advogados de defesa, podem se transformar em testemunhas da acusação. Na tal carta, resolveram fazer algumas especulações sociológicas:
“(…) é preciso questionar por que tantos jovens, provenientes de diversas experiências, lugares e estratos sociais estão cada vez mais se dispondo a enfrentar a polícia em manifestações”.

Como? Digamos que isso rendesse um bom debate… Estou enganado, ou se lê acima uma espécie de justificação da violência, tentando transformar a vítima em culpada pelo mal que a atingiu? Estou enganado, ou uma cena covarde, de tentativa de linchamento, está recebendo uma espécie de endosso ou, no mínimo, de condescendência? Não fosse a intervenção de um policial do Serviço Reservado, o coronel poderia ter sido assassinado ali.

No mesmo texto, há esta outra joia:
“Os moderados falam em negociação. Mas pergunta-se: Como se negocia quando uma das partes possui uma arma, mais ou menos letal? Como qualquer pessoa que não tenha sangue de barata ficaria diante de pessoas sendo espancadas, chutadas?”

É uma boa pergunta. O único espancado, no caso em questão, foi o coronel. O único chutado, no caso em questão, foi o coronel. Os signatários da carta discordam, então, da moderação e da negociação? Talvez o militar tenha apanhado por isto: ele é considerado um bom “negociador” e um “moderado”, um grande pecado nestes dias. 

Quanto às armas… Esses estudantes já ouviram falar que, nas democracias, a alguns se concede o uso legítimo da força? E não é aos arruaceiros… Armados, já são linchados. Imaginem se vão às ruas apenas com argumentos.

Santiago não precisa de inimigos. Ele já tem os amigos.

Por Reinaldo Azevedo

 

Quando os fatos se encarregam de jogar luzes num texto. Ou: Barbárie nas ruas de SP. É a “fúria justiceira dos bons”, incensada por covardes

Vejam esta foto, de Nelson Antoine ( Fotoarena-Folhapress)

SP 25-10 1 coronel atacado Nelson Antoine - Fotoarena-Folhapress

Nesta sexta, abri assim a coluna que publiquei na Folha: “As ruas, ente divinizado por covardes (…)”. Um leitor mandou uma carta para o jornal e escreveu: “Estreia lamentável a de Reinaldo Azevedo na Folha. Ele usou frases com palavras fortes e ofensivas para não dizer nada e propor lhufas. As ruas são para quem é covarde? Será que ele consegue desenvolver essa ideia? (…)”.

Eu não poderia desenvolver uma ideia que não é minha porque escrevi outra coisa. Não há dúvida de que é covardia o que se vê acima, mas não chamei de “covardes” os que promovem o caos — estes são bandidos, baderneiros, prototerroristas, escolham aí… “Covardes” são os que têm receio — especialmente na imprensa, na política e na Justiça — de chamar esses caras por aquilo que são.

Agora Leiam esta frase:
“Segura a tropa, não deixa a tropa perder a cabeça”.

A fala é do homem que está sendo agredido, com uma barra de ferro, por um black bloc depois de ter sido cercado e espancado por um bando. Trata-se do coronel Reynaldo Simões Rossi, comandante da região central. Ele teve a clavícula quebrada e foi internado com cortes no rosto e na cabeça. A agressão ocorreu no terminal de ônibus Dom Pedro. O Movimento Passe Livre convocou um protesto, em parceria com os black blocs, e se repetiu a cena de sempre. Vejam esta sequência de fotos.

Bandido ataca terminais de banco no terminal D. Pedro (Marlene Bergamo - Folhapress)

Bandido ataca terminais de banco no terminal D. Pedro (Marlene Bergamo – Folhapress)

Extintor de incêndio e jogado contra vidro do guichê. Seria ele um

Extintor de incêndio e jogado contra vidro do guichê. Seria ele um “ativista” (Fábio Braga – Folhapress)

ônibus é incendiado no terminal D. Pedro. Isso é manifestação política (Fábio Braga/Folhapres)

ônibus é incendiado no terminal D. Pedro. Isso é manifestação política (Fábio Braga/Folhapres)

Acima, a truculência do Passe Livre disfarçada de apelo (baixo) poético (Fábio Braga/Folhapress)

Acima, a truculência do Passe Livre disfarçada de apelo (baixo) poético (Fábio Braga/Folhapress)

Depredação no terminal Dom Pedro. Observem o delinquente da esquerda ao celular. deve estar dando ordem à emprega (Marlene Bergamo/ Folhapress)

Depredação no terminal Dom Pedro. Observem um delinquente à esquerda ao celular. Deve estar dando ordem à empregada (Marlene Bergamo/ Folhapress)

A faixa patética. Balck blocs destroem patrimônio público, mas dizem aliados dos trabalhadores (Marlene Bergamo/Folhapress)

A faixa patética. Balck blocs destroem patrimônio público, mas dizem aliados dos trabalhadores (Marlene Bergamo/Folhapress)

Retomo
Em nenhum país do mundo, democrático ou ditatorial, uma força policial, atuando dentro dos limites que lhe confere a lei, recebe esse tratamento sem graves consequências. Enquanto a barbárie se instalava em São Paulo, eu participava do “Café Filosófico”, promovido pela CPFL, em Campinas. Fechei o ciclo de debates que tinha como tema as “jornadas de junho”. Nas semanas anteriores, falaram Demétrio Magnoli, Eugênio Bucci e Roberto Romano. Fiz uma intervenção indignada, sim, porque essa é a minha natureza. Eu não sabia o que se passava por aqui. As pessoas que lá estavam e as que acompanharam o evento, ao vivo, pela Internet (mais de 2 mil acessos simultâneos), puderam constatar que esses trogloditas são argumentadores ainda mais convincentes do que eu em favor das minhas teses a respeito.

Louvem-se a coragem e a honradez do coronel Reynaldo Simões Rossi. Mesmo nas circunstâncias mais adversas, teve a energia e a serenidade de pedir que seus homens se contivessem. Ele sabia que uma reação mais dura da tropa transformaria, nas redes sociais e na imprensa, a Polícia em vilã, e os vândalos em heróis de um novo amanhecer, que é como esses bandidos têm sido tratados aqui e ali.

Movimento Passe Livre
Antes da manifestação do dia 13 de junho — duramente reprimida pela polícia — o Passe Livre já havia promovido três outras: no dias 6, 7 e 11. Todas notavelmente violentas. Nesta última, um policial foi covardemente espancado. A PM só reagiu com dureza no dia 13 — com evidência de que essa reação saiu do controle, o que o coronel Raynaldo, mesmo depois de espancado, procurou evitar com a ordem que deu. Lembrei essa sequência no debate de ontem na CPL.

A imprensa, com raras exceções, comprou não exatamente a causa do “passe livre”, mas o espírito da coisa. E o resto a gente conhece. Durante um tempo, não militantes, pessoas comuns, foram às ruas levar as suas reivindicações. O Passe Livre, um movimento de esquerda que diz ser a sua causa um primeiro passo para o socialismo (!), se distanciou dos protestos quando, por algum tempo ao menos, eles se voltaram contra o governo federal também. A extrema esquerda e os baderneiros mascarados expulsaram das ruas os não militantes. Agora, o Passe Livre volta. Sempre atuou, na prática, em parceria com os mascarados. Seus líderes se negam a repudiar a violência.

E volta para tentar, mais uma vez, promover o caos nas ruas de São Paulo. Se não houver uma firme reação da sociedade, em especial do Judiciário, essa gente não vai parar.

Quando decidi mudar o meu texto na Folha, entregue na madrugada de quinta, eu não sabia que o Passe Livre e os black blocs planejavam novas ações de vandalismo. A maioria de vocês já o leu, sei disso. Peço que o releiam a luz dos eventos de hoje, que se deram enquanto as palavras que seguem em azul estavam no jornal.

*
As ruas, ente divinizado por covardes, pediram o fim do voto secreto para a cassação de mandatos. Boa reivindicação. O Congresso está a um passo de extinguir todas as votações secretas, o que poria o Legislativo de joelhos diante do Executivo. Proposta de iniciativa “popular” cobra o financiamento público de campanha, o que elevaria o volume de dinheiro clandestino nas eleições e privilegiaria partidos ancorados em sindicatos, cujas doações não são feitas só em espécie. Cuidado! O povo está na praça. Nome do filme dessa mímica patética: “Os 178 Beagles”.

Povo não existe. É uma ficção de picaretas. “É a terceira palavra da Constituição dos EUA”, oporia alguém. É fato. Nesse caso, ele se expressa por meio de um documento que consagra a representação, única forma aceitável de governo. Se o modelo representativo segrega e não muda, a alternativa é a revolução, que é mais do que alarido de minorias radicalizadas ou de corporações influentes, tomadas como expressão da verdade ou categoria de pensamento.

A fúria justiceira dos bons pode ser tão desastrosa como a justiça seletiva dos maus. Quem estava nas ruas? A imprensa celebrou os protestos como uma “Primavera Árabe” nativa. Nem aquela rendeu flores nem o Brasil é uma ditadura islâmica. Até houve manifestações contra o governo, mas todas foram a favor do “regime petista”. O PSDB talvez tenha imaginado que aquele “povo” –sem pobres!– faria o que o partido não fez em 11 anos: construir uma alternativa. Sem valores também alternativos aos do Partido do Poder, esqueçam.

Há 11 anos o PT ataca sistematicamente as instituições, quer as públicas, quer as privadas, mas de natureza pública, como a imprensa. Dilma ter sofrido desgaste (está em recuperação) não muda a natureza dos fatos. Da interdição do direito de ir e vir à pancadaria e ao quebra-quebra como forma de expressão, passando pela reivindicação de um Estado-babá, assistiu-se nas ruas a uma explosão de intolerância e de ódio à democracia que o petismo alimentou e alimenta. O Facebook não cria um novo ator político. Pode ser apenas o velho ator com o novo Facebook –como evidenciou a Irmandade Muçulmana no Inverno Egípcio.

Em política, quando o fim justifica os meios, o que se tem é a brutalidade dos meios com um fim sempre desastroso. A opção moralmente aceitável é outra: os meios qualificam o fim. Querem igualdade e mais Justiça? É um bom horizonte. Mas será o terror um instrumento aceitável, ainda que fosse eficaz? Oposição, governo e imprensa, com raras exceções, se calaram e se calam diante da barbárie que deseduca e que traz, volte-se lá ao primeiro parágrafo, o risco do atraso institucional.

O PSOL conduziu uma greve de professores contra o excelente plano de carreira proposto pela Prefeitura do Rio. Era a racionalidade contra a agenda “revolucionária”. Luiz Fux, do STF, posando de juiz do trabalho, chamou os dois para conversar. É degradação institucional com toga de tolerância democrática.

O sequestro dos beagles, tratado com bonomia e outro-ladismo pelo jornalismo, é um emblema da ignorância dos justos e da fúria dos bons. Eles atrasaram em 10 anos o desenvolvimento de um remédio contra o câncer, mas quem há de negar que os apedeutas ilustrados têm um grande coração?

Voltei para encerrar mesmo
Esses são os fatos. Esse é o texto.

Por Reinaldo Azevedo

 

Uma associação de jornalistas e o sindicato estão deixando de contar a verdade inteira. Ou: Uma declaração absurda de um representante da categoria

Claro que eu poderia deixar de escrever o que vai abaixo, mas não vou, não. Quanto mais a patrulha a soldo se assanha, mais a verdade se torna um imperativo. Leio na Folha, em reportagem de Raul Montenegro, que, segundo levantamento da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), a maioria das agressões contra jornalistas, nas manifestações, partiu da polícia: 77 em 102 casos.

Não sei como foi feita a contabilidade, mas dou de barato que seja verdadeira. Essa é uma daquelas verdades, no entanto, que acabam ajudando, infelizmente, a consolidar uma mentira se não se cuida do contexto. E uma das tarefas dos jornalistas, muito especialmente quando falam em nome de entidades ligadas à categoria, é não induzir o leitor ao erro.

Costuma-se usar a expressão eufemística “faltar com a verdade” como sinônimo de “mentira”. Eis um exemplo a evidenciar que são coisas distintas. Ainda que a Abraji não minta, falta com a verdade. Por quê?

Porque todos os jornalistas que cobriram manifestações sabem — especialmente os profissionais de TV e, em particular, os da Globo — que tiveram de se esconder nos protestos. Muitos tiveram de trabalhar com microfones sem o logotipo da emissora. OU SERIAM LINCHADOS. Outras tantos experimentaram seu lado “ninja” e documentaram tudo com um celular ou com microcâmeras. Assim, os manifestantes só não agrediram um número maior de jornalistas porque estes estavam escondidos para se proteger. E os que foram à rua sabem disso.

Houve nesta segunda um protesto contra as agressões a jornalistas na Praça Roosevelt, em São Paulo. Reuniu, consta, uns 30 profissionais. O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, Guto Carmargo, estava lá e se negou a condenar também os manifestantes. Afirmou: “Se a maioria das agressões parte da polícia, nós temos que nos proteger primeiro da polícia”.

Não! Ele está errado. Uma agressão é uma agressão é uma agressão. Atacar repórteres é inaceitável em qualquer caso. Nas democracias, não existe um agressor pior do que o outro nem uma hierarquia dos repúdios. Não há como não deduzir que, segundo o presidente do sindicato, um ataque oriundo dos que protestam não é assim tão grave.

Alguns jornalistas relatam que foram agredidos pela polícia mesmo depois de terem se identificado. Quando isso ocorrer, nada menos do que punição para o policial. Boa parte do que se chama agressão da polícia, no entanto, decorre do fato de que jornalistas estão nas ruas entre os que estão enfrentando as forças de segurança. A honestidade obriga a admitir que não eram eles os alvos — não ao menos por serem jornalistas. De novo: houve casos? Segundo relatos, sim! Punição. Ponto!

Identificação?
Ora, a tarja ou o colete “IMPRENSA”, no caso das manifestações, não protegem ninguém. A Abraji sabe disso. O sindicato sabe disso. Ao contrário: os black blocs, por exemplo, não têm simpatias por jornalistas. Preferem o discurso engajado das “mídias ninjas” da vida. Do modo como repórteres andam a ser cassados pelas ruas, a identificação seria um risco. Que é que há? Vamos ignorar agora que rostos mais conhecidos da Globo não puderam fazer a cobertura? 

Calma lá! Carros de emissoras foram queimados até em protesto em defesa dos animais — e isso não é uma ação contra os “patrões da mídia”. Trata-se de um agressão à liberdade de expressão. Houve atos de violência, com ameça de invasão, contra empresas de comunicação. De novo: o alvo é o jornalismo.

Assim, encerro lamentando de novo a declaração do presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Segundo os dados acima — mesmo com a distorção que aponto —, pelo menos 25 profissionais foram alvos dos chamados “manifestantes”. Mas ele não quer nem saber: “Temos de nos proteger primeiro da polícia”. Não! Temos é de pedir que ela, Brasil afora, se comporte dentro das regras. E de protestar contra qualquer agressão. Essa demonização das forças policiais resulta em eventos como o desta segunda, em São Paulo.

Por Reinaldo Azevedo

 

95% repudiam black blocs; aprovação a protestos despenca; os mais pobres são os que menos gostam da bagunça

Pois é…
Recebi as reações as mais positivas sobre o meu artigo de estreia na Folha (ver post sobre crítica da ombudsman). Mas deixem que lhes diga uma coisa: a única pessoa que ambiciono agradar quando escrevo é a mim mesmo. No texto, escrevo, por exemplo, que as manifestações de junho não tinham pobre — e as que remanescem também não têm. O Datafolha fez uma pesquisa. Leiam trecho do que informa a Folha. Voltarei no blog a esses números.
*
Nada menos do que 95% dos paulistanos desaprovam a atuação dos chamados “black blocs” — manifestantes que praticam o confronto com as forças policiais e a destruição de agências bancárias, lojas e prédios públicos como forma de protesto. É o que mostra pesquisa Datafolha feita na sexta-feira com 690 pessoas. A margem de erro máxima da amostra é de quatro pontos percentuais para mais ou para menos para o total da amostra.
(…)

Apoio em queda
O resultado é que o apoio dos entrevistados às manifestações de rua em São Paulo desabou. No final de junho, 89% eram favoráveis aos protestos. Em setembro, o índice já caíra para 74%. Nesta semana, são 66% os apoiadores. Do outro lado, a taxa dos que são contrários às manifestações quase quadruplicou. Eram 8% em julho, 21% em setembro e, agora, 31%.

Apesar de focalizarem causas “dos oprimidos”, como a melhoria do transporte público, as manifestações têm conseguido taxas mais altas de apoio entre os mais ricos — 80% entre os que possuem renda familiar mensal de mais de cinco a dez salários mínimos e 80% dos paulistanos com renda maior do que 10 salários mínimos.

Contra os protestos disseram-se 18% dos mais ricos. Entre os mais pobres, com renda até dois salários mínimos, a taxa de apoio aos protestos é de 54%, 26 pontos percentuais a menos do que entre os mais ricos. Contra os protestos disseram-se 42% dos mais pobres, 24 pontos percentuais a mais do que o índice observado na parcela rica.

Por Reinaldo Azevedo

 

“Uso de animais em experimentos não é opcional”, diz pesquisadora

Por Guilherme Rosa e Juliana Santos, na VEJA.com:
Desde a invasão ao Instituto Royal, em São Roque (SP), na semana retrasada, um velho debate voltou à tona no Brasil. Ativistas, personalidades da TV e parlamentares se juntaram a uma turba de vozes das redes sociais para pedir um fim às pesquisas científicas que se utilizam de cobaias animais. Os testes foram tachados de cruéis, desnecessários e antiquados. Pesquisadores brasileiros passaram a ser vistos como monstros sádicos que utilizam procedimentos abandonados no resto do mundo em troca do lucro fácil.

Faltava nessa discussão, no entanto, uma voz importante, os próprios cientistas. Ninguém melhor do que biólogos, geneticistas, veterinários e médicos para dizer se é possível eliminar as cobaias animais nos testes. Entre os pesquisadores, a opinião é unânime: os bichos são imprescindíveis para os experimentos. Por isso, são permitidos no mundo todo; e sem eles não há como desenvolver novos remédios e tratamentos — a ciência médica poderia decretar falência no país.

“O uso de animais em experimentos não é opcional. Existem situações em que eles simplesmente não podem ser substituídos”, diz Silvana Gorniak, pesquisadora da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP que realiza pesquisas com roedores para estudar o potencial terapêutico e tóxico de diversas substâncias naturais.

Seu estudo atual é sobre a planta Solanum malacoxylon, conhecida popularmente como espichadeira. “Quando consumida naturalmente, ela é tóxica. Estamos estudando se o seu princípio ativo, usado em quantidades menores e controladas, pode funcionar como um substituto da vitamina D”, explica. Para descobrir se o potencial terapêutico da planta pode se reverter em tratamentos reais, é necessário realizar testes em modelos animais. Caso a substância seja testada diretamente em cobaias humanas, o risco para os voluntários é imenso.

Segundo a cientista, a decisão de usar bichos em suas pesquisas não é simples — nenhum pesquisador faz isso porque gosta. Ademais, esse tipo de estudo é muito caro, pois o custo das cobaias animais eleva em muito o preço dos experimentos. Por isso, há décadas, laboratórios de todo o mundo procuram por métodos alternativos. Nos últimos anos surgiram novas técnicas de cultura celular e modelos de computador, capazes de substituir os animais em algumas pesquisas, mas não todas. Não há como simular o funcionamento conjunto de sistemas complexos do corpo, como o circulatório, nervoso e imunológico. “Como replicar a depressão em uma cultura de células? Não existem métodos alternativos para testar anticancerígenos, vacinas contra aids, medicamentos anti-hipertensivos. Para saber se eles funcionam, precisamos testar em animais”, diz Silvana.

Camundongos e cães
Ao contrário do que tem sido apregoado por ativistas nos últimos dias, o uso de modelos animais — mesmo pequenos roedores — é importantíssimo para o estudo de doenças em seres humanos. “O camundongo é pequeno, fácil de reproduzir, tem um curto ciclo de vida e regeneração rápida, o que o torna uma ótima cobaia. Seu genoma é muito parecido com o humano, o que ajuda a responder muitas perguntas, principalmente da área genética”, afirma a geneticista Mariz Vainzof, coordenadora do Laboratório de Proteínas Musculares e Histopatologia Comparada do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP.

É claro que nenhuma cobaia é absolutamente fiel à fisiologia humana, mas cada linhagem de animal pode fornecer respostas para questões diferentes dos pesquisadores. Os roedores são um ótimo modelo para a pesquisa conduzida por Mariz, por exemplo, mas péssimos para a depressão. Nesse caso, os pesquisadores teriam de estudar algum outro animal. Poderia ser, inclusive, um cachorro.

Em algumas pesquisas, os cientistas precisam de mais de uma espécie — cada uma responderá a questões diferentes dos cientistas. A talidomida é um exemplo da importância desse tipo de procedimento. A droga chegou às farmácias no final da década de 1950, como uma espécie de sedativo. Anos mais tarde, descobriu-se que ela era responsável por produzir deformações em recém-nascidos, levando à morte de milhares de crianças. O problema foi que a droga só havia sido testada em ratos e camundongos — animais imunes a seus efeitos adversos. Os pesquisadores deveriam ter realizado experimentos também em outras espécies, capazes de emular outros sistemas do corpo humano. Atualmente, esse erro não se repetiria.

Cuidados com as cobaias
Durante uma pesquisa científica, os animais têm de receber todos os cuidados necessários. Cobaias que sofram maus tratos podem arruinar uma pesquisa, alterar seus resultados, impedir seu financiamento e barrar sua publicação em periódicos científicos. “Não sei de onde as pessoas tiram que os cientistas estão loucos para ficar matando os bichinhos. A maioria de nós é formada em biologia. Estamos nessa área justamente porque gostamos da natureza”, afirma Mariz.

Para alguns dos pesquisadores, começar a realizar testes em animais é um choque. Mesmo com todos os cuidados, nem sempre é fácil seguir os procedimentos necessários. “Quando isso acontece com algum dos meus estudantes, eu o coloco em contato com algumas das crianças que estamos tentando tratar, com sua família. E mostro que esse é o nosso objetivo: estamos fazendo isso em prol de uma criança doente”, diz Mariz, cuja principal pesquisa busca a cura para a distrofia de Duchenne, uma doença degenerativa que atinge um entre cada 3 000 homens.

Paula Cristina Onofre Oliveira, aluna de doutorado de Mariz, é um exemplo desse tipo de pesquisador. Antes de se envolver com as pesquisas, ela havia ingressado em movimentos pela defesa dos direitos dos animais, participado de seminários e cursos que analisavam métodos substitutivos. Hoje, ela usa cobaias em seus estudos sobre a genética das doenças neuromusculares. “Não vou dizer que é fácil. Sempre tentamos minimizar o sofrimento e o número de animais, mas às vezes é impossível escapar desse tipo de experimento. Para conseguir fazer isso, temos de estar sempre pensando nos pacientes”, diz.

Preconceito animal
Gilson Volpato especialista em bem-estar animal e professor do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da Unesp de Botucatu, realiza uma série de experimentos com peixes para provar que esses animais também são capazes de sofrer e sentir dor. “A pesquisa pretende mostrar que outros animais além dos cachorrinhos e gatinhos sofrem. Essa é uma crença humana: quanto mais próximo o animal do homem — e mais bonitinho ele for — mais acreditamos que ele é capaz de sofrer. Mas a ciência tem mostrado que isso não é verdade.”

Segundo Volpato, a decisão de utilizar animais em experimentos científicos só é justificada quando não existem alternativas e quando o objetivo é um bem maior. “A ciência é uma consequência direta da evolução humana. Uma ferramenta que surgiu para ajudar o homem na luta por sobrevivência na natureza. É aceitável o ser humano usar essa faculdade para resolver problemas de saúde e aumentar a longevidade”, afirma. “Nesse sentido, utilizar animais em pesquisas que podem curar doenças é um processo natural. Agora, causar sofrimento nos animais por motivos meramente lúdicos não é natural, é um absurdo.”

Enquanto a pesquisa científica seria eticamente permitida por ter objetivos maiores, diversas outras atividades rotineiramente praticadas pelo homem seriam, elas sim, cruéis e injustificáveis. “Veja a pesca esportiva, na qual o animal é fisgado, tirado da água e depois devolvido ao mar. É lógico que ele sofre — e em troca de pura diversão. Isso é sacanagem. O mesmo acontece com algumas raças de cachorro, criadas apenas para o prazer humano de ter um pet. São animais com deformações físicas, dificuldade para respirar, problemas de pele. O indivíduo pode até cuidar bem do animal, mas ele claramente sofre. E em troca do que? Em troca do indivíduo ter um cachorro para amar. Isso é pura incoerência”, afirma.

Cosméticos na mira
Pelo mesmo motivo, Gilson Volpato se coloca contra a o uso de cobaias animais em pesquisas para cosméticos — o que ainda é aprovado pela legislação brasileira. “São duas pesquisas diferentes. Uma visa um bem maior, a outra fazer um novo tipo de perfume.” Na sua opinião, a indústria da beleza deveria achar outro jeito de testar os produtos ou parar de lançá-los.

O Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) admite discutir a proibição de testes de cosméticos em animais. Uma série de questões legais precisa, no entanto, ser acertadas primeiramente. “Estamos caminhando para isso, mas é uma regra que precisa ser discutida com racionalidade entre cientistas, técnicos e parlamentares”, diz Marcelo Morales, coordenador do Concea.

Debate eleitoreiro
Segundo os cientistas, a invasão do Instituto Royal tornou menos saudável a atmosfera em que o debate acontece no país, e cada vez menos racional. Laboratórios de faculdades procurados pelo site de VEJA para participar da reportagem preferiram se abster, com medo da reação de ativistas, da invasão de seus laboratórios e da perda de anos de trabalho.

Não é uma questão de criticar todas as organizações de defesa dos direitos dos animais. Segundo Volpato, a ação desses ativistas tem sido, historicamente, muito importante. “É bom ter alguém olhando e fiscalizando nosso trabalho. Em função de denúncias desses grupos, já deixamos muitas práticas para trás, verdadeiras atrocidades deixaram de ser cometidas e hoje temos uma legislação sobre esse assunto”, diz. “Mas eu queria saber daqueles que querem banir totalmente as pesquisas com animais o que eles diriam para quem tem um parente internado em um hospital.”

A volta dessa discussão entre políticos foi ainda mais atribulada e irracional. Movidos pela poderosa cena do resgate dos beagles, deputados já se pronunciaram a favor da criação de um CPI para investigar o caso e, quem sabe, proibir todos os testes com animais. As maiores autoridades no assunto não podem ficar fora dessa discussão. “Quando o político entra no debate, ele vem pensando em que posição tomar para ganhar a próxima eleição, em qual discurso será melhor para ele”, diz Volpato. “Em países sérios, os políticos ouvem os cientistas envolvidos quando discutem questões técnicas. Infelizmente no Brasil, a opinião dos cientistas costuma ser ignorada.”

Por Reinaldo Azevedo

 

O homem como porco do homem. Ou: Quando a imprensa estimula a delinquência

O que é um “ativista”, além de ser o contrário de um “passivista”? Bem, o ativista é um adepto do “ativismo”. O Houaiss traz várias boas acepções para a palavra. Leiam.

ativismo houaiss

Na semana passada, os ditos “ativistas” fizeram aquela barbaridade no Instituto Royal. Nesta quarta, dia 23, li no G1, alguns outros interromperam uma aula prática de medicina na PUC de Campinas para registrar — isto é, filmar, em sinal de protesto — o uso de cinco porcos para treinar a técnica da traqueostomia, que salva vidas mundo afora todos os dias, em especial a dos alérgicos, como eu, que podem ter um choque anafilático, com edema de glote, e morrer sufocados. Os inimigos não delirem de satisfação só com o meu caso. Pensem que poderia ser um filho ou irmão de vocês. Entende-se com mais facilidade. A necessidade de eventualmente ter de recorrer a um procedimento assim talvez seja o que mais assombre os médicos se eles pensarem no assunto. Até porque, na maioria das vezes, a traqueostomia é uma emergência, realizada fora de salas cirúrgicas, sem as condições consideradas mínimas para intervenção tão drástica.

Foi invasão mesmo. Leio na reportagem que Flávio Lamas, presidente do Conselho de Defesa dos Animais de Campinas, apoia a ação. E ele afirma com aquela certeza que confere a irresponsabilidade de quem jamais terá de fazer uma traqueostomia: “O ato foi para mostrar a crueldade com o animal. Existem outros modelos, como simuladores e filmagens, que podem ser utilizados de forma didática. É uma mudança que precisa ser feita”.

Eu sempre fico muito impressionado com a arrogância dos ignorantes. Não há simulação possível que possa substituir determinadas experiências. Fosse assim, um cirurgião se tornaria um especialista sem jamais ter tocado no corpo de bicho ou de gente. Fico aqui a me perguntar: qual é a hipótese de Lamas para que a Faculdade de Medicina da PUC, então, recorra aos porcos? Maldade? Perversidade? Gosto de ver sofrer os animais? Paixão por cortar corpos? Fico aqui a me perguntar por que o sr. Lamas se considera moralmente superior ao professor que ministrava as aulas e aos alunos que estavam ali para aprender.

O mesmo vale para os beagles. Por que diabos o Instituto Royal, sob supervisão de órgãos competentes, fazia o teste de drogas nos cães se supostos modelos de computador poderiam, com eficiência, substituí-los? Com frequência, determinadas drogas, mesmo depois de amplamente testadas, saem de circulação porque, a despeito de todos os cuidados, acabam implicando riscos considerados excessivos.

Um médico que não faça a sua primeira traqueostomia num porco haverá de fazê-la pela primeira vez num humano, numa criança, numa mãe, num pai, em alguém que tem construída uma rede de afetos, que tem uma história, que tem memória ou, então, um longo futuro pela frente. Se não for num porco, então o homem será o porco do homem.

Há algo de profundamente perturbado e perturbador nessa visão moral do mundo. A PUC-Campinas diz seguir todas as determinações do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal. O professor que conduzia o trabalho registrou Boletim de Ocorrência no 11º Distrito Policial.

O erro da imprensa
O vídeo, curto, foi tornado público pelos ditos “ativistas”. O G1 o reproduz, com o seu logotipo. Cabe, entendo, um questionamento ético. Chegou a hora de a imprensa se perguntar se deve estimular — porque é inegável que a publicação provoca tal efeito — esse tipo de comportamento. O que se vê, ainda que rapidamente, não é bonito: um porco esticado, com a barriga para cima, tendo a traqueia perfurada, com o inevitável fio de sangue. Ora, qual é o propósito de tal exibição?

É claro que essa divulgação representa uma vitória para aqueles que, afrontado a lei, afrontado o regulamento da universidade, afrontando a autoridade do professor em sala de aula, afrontando o bom senso, invadiram uma sala de aula. Outros, agora, procurarão seguir o seu exemplo. Não tardará, a ciência brasileira haverá de ficar refém dos militantes da, como é mesmo?, “Frente de Libertação Animal”. Práticas e discursos irresponsáveis, como as dos deputados tucanos Ricardo Trípoli (federal-SP) e Fernando Capez (estadual-SP), estimulam a delinquência.

Volto à palavra
“Ativismo”? Em qualquer das acepções das palavras, mesmo naquela que fala em “revolução”, se os supostos “ativistas” ganhassem, o perdedor seria principalmente o homem — e também os bichos, ao menos os domésticos, já que um veterinário também estaria proibido de “aprender” tendo como modelo o próprio animal.

Não, senhores! Isso não é “ativismo”. Chamem-se essas coisas pelo nome que elas têm: crime. Se os cientistas, desde já, não se manifestarem de maneira firme e clara; se a Polícia, país afora, não for extremamente severa no cumprimento da lei; se a imprensa não sair dessa retórica “nem-nem”, esse tipo de vandalismo vai crescer.

Uma questão ao jornalismo
Digamos que um criminoso decidisse filmar o sequestro de, atenção!, uma personalidade pública, registrando detalhes que, de outro modo, ninguém teria. Pergunto: seria o caso de levar ao ar esse filme? Um espertinho poderia tentar sair do “sim” ou “não” afirmando um “depende”… Como? “Ah, se ajudasse a esclarecer o caso e fosse no interesse da vítima, sim…” Errado! O bandido sabe melhor do que você, espertinho, o que é bom para ele e para a sua causa. Divulgar as imagens seria entrar como mais um elo na cadeia do crime.

Por Reinaldo Azevedo

 

Cientista, pesquisador e professor, ele é bisneto de Vital Brazil. E alerta: “Meu bisavô, hoje, seria enforcado”

Abaixo, há um vídeo. Quem fala é Osvaldo Augusto Brazil Esteves Sant’Anna. Trabalha, como ele próprio informa, há 45 anos em pesquisa. É professor em cursos de pós-graduação desde 1976. É pesquisador do Instituto Butantan e do  CNPq. Deixa claro: “O uso de animais em laboratório é imprescindível”. Ah, sim: ele é o bisneto mais velho de Vital Brazil, o criador do Instituto Butantan, um gigante da ciência brasileira. Afirma: “Vital Brazil [hoje] seria enforcado…”. Osvaldo Augusto, no entanto, não vive do parentesco, não. Vejam o vídeo. Volto depois.

Aplaudo a sua coragem, embora devesse ser a regra entre os cientistas, boa parte deles escondida embaixo da cama. Eis o currículo de Osvaldo Augusto, que está na página da Fapesp. Não parece que ele tenha chegado aonde chegou porque seja um torturador de animais.

*
Pesquisador Científico VI do Instituto Butantan. Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo [1971], tem especialização em Imunologia pela Organização Mundial da Saúde/Organização Pan-Americana de Saúde [1971]; Mestrado [1973] e Doutorado [1979] em Microbiologia e Imunologia pela UNIFESP/Escola Paulista de Medicina; Pós-Doutorado pelo Institut Curie, Paris [1980/1981]. Tem experiência na Área de Imunologia, com ênfase em Imunogenética, e estudos com Toxinas, Venenos, Autoimunidades, Adjuvantes, Genética da Resistência a Infecções Virais e Bacterianas. Desde 1976 é Professor/Orientador em Programas de Pós-Graduação da Universidade Estadual de Campinas, Universidade de São Paulo e Universidade Federal de São Paulo. É membro do Conselho Editorial da Revista Científica EINSTEIN e do Comitê de biossegurança do Hospital Albert Einstein. De 2003 a 2007 foi Vice-Diretor e, posteriormente, Diretor Científico do Centro de Toxinologia Aplicada, Programa CEPID/FAPESP. Assessor Científico do CNPq, FAPESP, FINEP, FACEPE, FAPESC, FAPERJ. Coordenador do CA-IMUNOLOGIA do CNPq de dezembro de 2006 a novembro de 2009. Atualmente é Coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Toxinas (INCTTOX). (Fonte: Currículo Lattes)

Por Reinaldo Azevedo

 

A Revolução dos Beagles: Reinaldo Azevedo contra ativistas de direitos animais. Ou: Um inimigo do povo

Os camaradas do site “Vanguarda Popular”, sou obrigado a confessar, interpretaram a minha alma profunda. Este site marxista-leninista — o único verdadeiro — resolveu se posicionar sobre a “Revolução dos Beagles”.

Reproduzo o texto e recomendo a visita ao site. O pior — você podem não acreditar — é que alguns celerados enviaram o texto pra cá como quem faz uma denúncia. Diz um deles. “Olhe ai, seu (#*&{+§), não esqueceram o que você falou sobre os passarinhos…”. Vale dizer: há gente que não entendeu que se trata de um site muito sério, mas de humor. Às vezes, até eu sou tentado a sugerir a substituição dos beagles por certos bípedes involuntários. Mas não chego a tanto. Como sou cristão e reacionário, logo perdoo. Segue o texto da “Vanguarda”.
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inimigo do povo

Companheiros, hoje demonstrarei: 1) que a invasão do Instituto Royal, episódio que ficou conhecido no mundo progressista como “A Revolução dos Beagles”, foi uma ação revolucionária legítima do proletariado; e 2) que o jornalista Reinaldo Azevedo, expoente máximo do movimento neon liberal, não possui consciência proletária e, muito menos, autoridade moral para criticar nossos companheiros ativistas animais.

Um Partido que não possui a teoria marxista-leninista está fadado ao fracasso. Entre as principais tarefas do proletariado revolucionário podemos destacar: a) a promoção de medidas que ataquem diretamente a propriedade privada; e b) admissão e direção dos atos de vingança popular contra a burguesia exploradora da mais-valia.

Durante o conflito e imediatamente após o combate, os operários, antes de tudo e tanto quanto possível, têm de agir contra a pacificação burguesa e obrigar os democratas a executar as suas atuais frases terroristas. Têm de trabalhar então para que a imediata efervescência revolucionária não seja de novo logo reprimida após a vitória. Pelo contrário, têm de mantê-la viva por tanto tempo quanto possível. Longe de opor-se aos chamados excessos, aos exemplos de vingança popular sobre indivíduos odiados ou edifícios públicos aos quais só se ligam recordações odiosas, não só há que tolerar estes exemplos mas tomar em mão a sua própria direção. (Karl Marx/Friedrich Engels)

Ora, que é o Instituto Royal? Propriedade privada da burguesia. Qual é a principal função capital do Instituto Royal? Extrair mais-valia dos companheiros animais, que são tão humanos quanto nós. Logo, camaradas, a invasão desse instituto burguês e a libertação dos companheiros Beagles foi uma ação legítima do Povo (enquanto Povo, liderado pelo Partido, que é o Povo).

O segundo ponto é o mais fácil de demonstrar. O próprio Reinaldo Azevedo confessa abertamente (sem vergonha!) que é um homem mau, que odeia os bichos, que defende a violência e, portanto, a exploração da mais-valia dos companheiros animais!

CAMARADAS, EIS A PROVA:
Meu delírio de violência é matar passarinhos. Não sou um homem bom. Tentam mandar em mim com sua rotina anunciando auroras: ‘Vai dormir, vai dormir’. Fico destroncando seus pescocinhos em pensamento como quem conta carneiros. … Já adverti, não valho nada, não quero convencer ninguém, não sou bom e torço em pensamento pescoço de passarinhos. (Reinaldo Azevedo)

Ora, camaradas, por que os companheiros passarinhos voam? Por que os passarinhos cantam? Porque o Estado, que é o PARTIDO – isto é, o Povo -, através da ANAC e do Ministério da Cultura (MiniCult), permite! E o que deseja Reinado? A MORTE DE TODOS OS PASSARINHOS QUEM CANTAM E VOAM COM AUTORIZAÇÃO DO ESTADO!

Creio ter demonstrado cabalmente, de acordo com ciência marxista, a legitimidade do ato revolucionário dos companheiros ativistas e a absoluta falta de consciência proletária de Reinaldo Azevedo, representante da elite burguesa exploradora dos companheiros animais.

Todo apoio aos companheiros proletários ativistas! FORA REINALDO!

Por Reinaldo Azevedo

 

Eleição 2014 – Há diferenças brutais entre os números do Ibope e do Datafolha de há menos de duas semanas, especialmente no 2º turno

O Folha publicou no dia 12 deste mês uma pesquisa feita pelo Datafolha. No cenário em que os candidatos são Dilma, Aécio e Campos, os números são estes, respectivamente: 42%, 21% e 15%. No Ibope que veio à luz nesta quinta, 41%, 14% e 10%. Os índices atribuídos a Dilma coincidem. Aécio aparece com 7 pontos a menos, e Campos, com 5. A discrepância é grande, ainda que não se possam comparar pesquisas distintas (já digo por quê).

No cenário em que a presidente disputa com Marina e Aécio, os números do Datafolha são estes: 39%, 29% e 17%. No Ibope, 39%, 21% e 13%. Nesse caso, o número bastante discrepante é o que diz respeito a Marina.

Quando Dilma disputa com Serra e com Campos, aponta o Datafolha: 40%, 25% e 15%. No Ibope, 40%, 18% e 10%. Observem que a presidente tem marca idêntica nos dois institutos, mas Serra teria 7 pontos a menos; Campos, 5.

No quarto cenário, com Dilma, Marina e Serra — o único do Ibope em que pode haver segundo turno —, registra o Datafolha: 37%, 28% e 20%. No Ibope, 39%, 21% e 16%. Dilma varia pouco; Marina tem 7 a menos.

Vamos ver
Na pesquisa do Datafolha, só um cenário não levaria ao segundo turno, justamente o considerado mais provável: Dilma, Aécio, Campos. Na pesquisa do Ibope, nenhum leva ao segundo turno, exceto o considerado menos provável.

É claro que não escapa a ninguém que Dilma obtém marcas quase idênticas, não importam os adversários. O que varia muito são os números dos demais postulantes. Aécio pode ter 4 ou 7 pontos a menos, como Serra; Marina 7 ou 8 pontos; Campos, 5 nos dois casos.

Como explicar?
Cotejando pesquisas de institutos diferentes, não se pode dizer que fulano cai, sobe ou fica na mesma. Deve-se tomar cada uma como o retrato do momento em que foi feita — nesse caso, com quase duas semanas de diferença. O Brasil deve ter 130 milhões de eleitores. É aceitável que Marina, por exemplo, possa ter perdido 10,4 milhões (8 pontos) em menos de 15 dias — essa perda pode ser dois pontos menor ou dois pontos maior?

A pesquisa Datafolha, é fato, foi feita não muito tempo depois de uma forte presença de Aécio na TV e estava, digamos, em cima da filiação de Marina Silva ao PSB. Campos também apareceu bastante. Digamos que isso tenha influenciado o leitor há duas semanas. Mas como explicar, nesse caso, a variação de Serra, banido da televisão e tratado como não pré-candidato  pelos jornais e por setores do seu partido? Não sei.

Segundo turno
Se as discrepâncias no primeiro turno chamam a atenção, as do segundo impressionam.
No Datafolha
Dilma 47% X 41% Marina
Dilma 51% X 33% Serra
Dilma 54% X 31% Aécio
Dilma 54% X 28% Campos

No Ibope
Dilma 42% X 29% Marina
Dilma 44% X 23% Serra
Dilma 47% X 19% Aécio
Dilma 45% X 18% Campos

Os números de Dilma são bastante distintos no Ibope — curiosamente, substancialmente menores, apesar da safra de notícias favoráveis e da presença maciça na imprensa. Os índices de seus opositores, no entanto, parecem-me espantosamente baixos. Marina sai de uma situação em que se poderia até apostar na possibilidade de um vindouro empate técnico para uma derrota convincente. No Datafolha, a diferença entre Serra e Dilma é de 18 pontos; no Ibope, 21. Aécio tem 23 pontos a menos do que a petista no primeiro instituto; no segundo, 28! Campos, na pesquisa de há duas semanas, está 26 pontos atrás; na divulgada nesta quinta, 27. Ainda que dentro da margem de erro, o senador mineiro seria o adversário mais fácil de vencer.

A forte presença de Aécio, Marina e Campos na tal mídia quando se fez o levantamento do Datafolha pode explicar números tão distintos? Mas por que a própria Dilma aparece com muito menos no Ibope (segundo turno), embora a vitória seja mais folgada nesse instituto, dados os números magros dos outros?

Por Reinaldo Azevedo

 

Ibope – Dilma só não venceria no 1º turno se adversários fossem Marina e Serra

O Estadão Online divulgou há pouco os números de uma pesquisa eleitoral encomendada pelo jornal ao Ibope. Se a eleição fosse hoje, Dilma só não seria eleita no primeiro turno se houvesse uma combinação de duas ocorrências consideradas menos prováveis: Marina Silva ser a candidata do PSB e José Serra ser o candidato do PSDB. Qualquer outra liquidaria a disputa logo na primeira etapa: só Marina em lugar de Campos, mas com Aécio disputando pelo PSDB, nada feito. Só Serra como o nome tucano, mas com Campos sendo o nome do PSB, idem. Leiam o que informa Daniel Bramatti no Estadão. Comento os números no próximo post.
*
Pesquisa Ibope em parceria com o Estado sobre a sucessão presidencial mostra que a presidente Dilma Rousseff (PT) venceria no primeiro turno se as eleições fossem hoje e seus adversários fossem Aécio Neves, pelo PSDB, e Marina Silva ou Eduardo Campos, pelo PSB. Em três dos quatro cenários avaliados pelo instituto, Dilma tem entre 39% e 41% das intenções de voto, mais do que a soma das preferências pelos adversários. Em apenas um dos cenários, com Serra e Marina na disputa, a petista não supera a soma dos adversários.

No quadro visto hoje como mais provável para 2014 – Dilma contra Aécio e Eduardo Campos – , a presidente teria 41%, o governador de Minas Gerais, 14%, e o governador de Pernambuco, 10%. Com Marina no lugar de Campos, ela teria mais que o dobro dos votos dele, chegando a 21%. Mas Dilma praticamente não perderia eleitores: oscilaria de 41% para 39%. O mesmo aconteceria com Aécio, que passaria de 14% para 13%.

Se os concorrentes fossem Dilma, Serra e Campos, eles teriam 40%, 18% e 10%, respectivamente. A vantagem da petista sobre a soma dos adversários, neste caso, seria de 12 pontos porcentuais. A presidente aparece com 39% quando os adversários são Marina (21%) e Serra (16%) – neste caso, ela fica em situação de empate técnico com a soma das intenções de voto dos outros dois candidatos (37%).

Em um eventual segundo turno, Dilma venceria todos os adversários avaliados pela pesquisa Ibope/Estadão. Contra Marina Silva – o cenário mais apertado – , a presidente venceria por 42% a 29%. Com Eduardo Campos na disputa, a presidente teria vantagem de 27 pontos porcentuais, vencendo por 45% a 18%. A distância seria similar, de 28 pontos, se Aécio (19%) participasse hoje de uma disputa direta contra a presidente (47%). Uma repetição do segundo turno de 2010, com Dilma e Serra, terminaria com a vitória da primeira por 44% a 23%. O Ibope ouviu 2.002 eleitores em 143 municípios entre os dias 17 e 21 de outubro. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos.

Por Reinaldo Azevedo

 

The Economist: leilão do pré-sal foi “barato” e decepcionante

Falando na TV sem outro lado, expondo suas verdades sem ser confrontada com os  fatos, a presidente Dilma Rousseff vai bem. Houve um tempo em que até o resto do mundo prestava pouca atenção a números e evidências. Já há algum tempo o encanto se quebrou. Leiam o que informa a VEJA.com.
*
A revista britânica The Economist publica na edição que chega neste fim de semana às bancas reportagem sobre o primeiro leilão para exploração do pré-sal sob o regime de partilha. Com o título “Preço barato”, a reportagem afirma que a existência de apenas um lance para o Campo de Libra mostra a fragilidade da estratégia adotada pelo governo para explorar as reservas de petróleo. Para a revista, o resultado do leilão “foi uma decepção”.

A reportagem aponta que a presença da Shell e da Total no consórcio vencedor permitiu que o governo declarasse o leilão como um sucesso, do que a publicação discorda. “Enquanto o governo esperava mais de quarenta empresas interessadas, apenas onze se registraram no leilão”, lembra o texto. “E, apesar de ter esperado pelo menos a oferta de seis consórcios, só foi feita uma proposta e com o valor mínimo exigido”, diz a reportagem.

“A falta de competição foi uma decepção após a euforia de seis anos atrás quando o presidente da época, Luiz Inácio Lula da Silva, descreveu o pré-sal como um ‘bilhete de loteria premiado’”, diz o texto. Para a revista, uma das causas dessa falta de interesse foi a demora do governo em oferecer os campos. “Durante a longa espera, enquanto as regras do leilão foram reescritas e os governos discutiam como dividir os eventuais recursos, o xisto retirou do pré-sal o título de perspectiva energética mais emocionante do mundo. A maioria do interesse privado desapareceu”, completa a reportagem, que destaca a ausência das gigantes BG, BP, Chevron e Exxon.

Apesar das críticas, a reportagem reconhece que as perspectivas de extração dos campos nos próximos 35 anos “são tão vastas que os riscos de exploração acabam sendo reduzidos”.

Por Reinaldo Azevedo

 

Empresa nanica vence concorrência milionária do governo federal

Por Dimmi Amora e Paulo Peixoto, na Folha:
Uma empresa com sede num pequeno escritório em Belo Horizonte (MG) –com duas mesas, cadeira, telefone e um computador– está prestes a ganhar duas concorrências de R$ 750 milhões do governo federal. A RMC Participação, criada em fevereiro de 2012, é a primeira colocada em seis lotes de venda de trilhos para a Valec, a estatal das ferrovias. O governo tenta há dois anos comprar 240 mil toneladas de trilhos para as ferrovias Norte-Sul e Oeste-Leste. Duas concorrências já foram canceladas por suspeitas de fraude e direcionamento.

Em 31 de julho, a Valec lançou um terceiro edital para a compra do equipamento, que tem que vir do exterior. Para aumentar a disputa, dividiu a aquisição em oito lotes. A primeira concorrência, da Norte-Sul, começou em 16 de setembro e apareceram três companhias nacionais: RMC Participação, Trop Comércio Exterior e Capricórnio. A RMC ofereceu o menor preço em dois lotes (2% de desconto sobre o valor máximo). No terceiro, a Capricórnio ganhou, mas foi eliminada por causa da documentação. A Valec analisa recursos para homologar a licitação e assinar os contratos com a RMC.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

A ALGUNS VEGETARIANOS – Para que tanta paixão sanguinolenta, meu Deus!, pergunta o meu coração…

Eu, hein… Tenho amigos vegetarianos, uma gente de paz. Um deles é meio mal-humorado. “Come um bife que passa!”, costumo brincar. Ele não se zanga, não por isso. E também não nos trata, aos outros, os onívoros, como seres maus ou moralmente inferiores. Sempre que pedimos, ou sempre que ele decide, discorre sobre as vantagens do vegetarianismo, o que me parece uma escolha individual como qualquer outra, desde que as pessoas cuidem direito do equilíbrio de nutrientes. Uma dieta pobre de ferro, sem a reposição, segundo sei, pode ser devastadora para a saúde dos adultos e comprometer para sempre o desenvolvimento intelectual de crianças.

Eu não entendo muito dessas coisas, não. Na verdade, nada! Quem talvez possa discorrer com competência a respeito é meu amigo Ricardo Bonalume Neto, que sempre sabe tudo sobre assuntos complicados — das leis da evolução às armas usadas nas guerras do Fundodomundistão… O que me parece, numa aproximação meramente lógica do assunto, é que ser onívoro significa uma vantagem sobre ser exclusivamente herbívoro ou carnívoro. Será essa uma daquelas falsas evidências? “Barata é onívora é barata, Reinaldo!” Pois é. Ninguém pode acusar essa coisa nojenta de dificuldades de adaptação ou risco de extinção, né? Infelizmente. Será que se a gente tivesse se alimentado só de frutas, ervas e raízes, teríamos chegado até aqui ou estaríamos, ainda, para gáudio de alguns, disputando cipós com os nossos primos? Li em algum lugar, estou certo — mas não vou parar para pesquisar —, que a carne foi fundamental no desenvolvimento do nosso cérebro. Infiro que a carne pode ter sido importante no fornecimento dos elementos objetivos que nos permitiram desenvolver também a ciência moral, que é coisa que os outros bichos, carnívoros ou não, vamos reconhecer, não têm. Não deve ter sido só a carne, ou um leão seria Caetano Veloso, né? Mas é Caetano que é um leãozinho…

Aliás, nas conversas absurdas que andam por aí, há algumas barbaridades da lavra de Peter Singer, sobre quem Rodrigo Constantino já escreveu em seu blog. Um dos textos do livro “Esquerda Caviar”, que será lançado em São Paulo na terça próxima, trata do assunto. Reproduzo um trecho (em azul):

Peter Singer, o mais famoso defensor dos direitos dos animais, tem uma ética utilitarista bastante peculiar. Para ele, está tudo bem em se eliminar um bebê deficiente se isso estiver no melhor interesse do bebê (?) e de seus familiares. Entende que muitas pessoas considerem isso chocante, mas acha contraditório que pensem assim aqueles que aceitam o direito de aborto. Julga medieval a noção de que a vida humana é sagrada, e considera o Cristianismo seu grande inimigo.

Em seu livro Ética prática, Singer coloca a capacidade de sofrimento como o grande fator na hora de avaliar direitos. Se o rato sofre quando usado em experimentos, então isso deve ser evitado. Por outro lado, se o idoso não sofre com uma injeção letal, segundo sua ética utilitarista, tudo bem. Singer diz: “Os especistas humanos não admitem que a dor é tão má quando sentida por porcos ou ratos como quando são seres humanos que a sentem”.

Logo, ser um “especista” – alguém que prioriza a sua própria espécie – seria análogo a ser racista entre humanos. Singer coloca em pé de igualdade aquele que julga inferior um membro de outra “raça” (sic) humana e aquele que se julga acima e digno de mais direitos que um rato ou um porco.

Com base em seu único critério, o do sofrimento, alega que recém-nascidos da nossa espécie, por não terem elevado nível de consciência ainda, seriam tão passíveis de uso em experimentos quanto animais. O mesmo valeria para deficientes mentais. O filósofo coloca a seguinte questão:

“Se fizermos uma distinção entre os animais e esses seres humanos, caberá também a pergunta: de que modo poderemos fazê-la, a não ser com base numa preferência moralmente indefensável por membros de nossa própria espécie?”.

Retomo
Vejam a que grau de delinquência pode chegar o fanatismo e o relativismo moral. Também para Singer, pois, não há diferença entre um campo de concentração nazista e um matadouro. Mengele poderia ter escolhido animais para fazer seus experimentos, mas resolveu escolher pessoas. Talvez Singer faça ao outro alguma restrição de natureza ideológica, mas não moral. É um escândalo.

Por que isso tudo? Porque passei a ser alvo também da violência retórica de alguns (muitos) que se dizem “vegetarianos” — e descobri que há uma infinidade de subdivisões nessa categoria. Há coisas que francamente não consigo entender e que transformam o ato de se alimentar numa operação de tal sorte complexa que é preciso haver muito tempo livre — que só o capitalismo na sua fase de abundância pode fornecer — para poder sobreviver… Da escolha do alimento à temperatura adequada, a operação, infiro, pode levar algumas horas. Como disse Fernando Pessoa sobre Rousseau, já citei aqui, é preciso que “mordomos invisíveis administrem a casa…”

Paixões sanguinolentas
O que chama a minha atenção é a paixão sanguinolenta dos mais fanáticos. Não estou aqui, obviamente, a me referir a todos os vegetarianos. Mas uma das bobagens influentes que andam por aí  é que o consumo de carne contribui para a agressividade humana. Não deve ser assim…

Há quem sugira que eu seja estripado, empalado, vivissectado (particípio de “vivissectar”; não está no Houaiss, mas está no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa) — isto é, acham que devo ser dissecado, descarnado mesmo, ainda vivo. Um deles deixa clara a razão: “Só para você ver como é bom…”. Não é que ele defenda que eu passe por vivissecção no interesse da ciência. Para ele, isso é irrelevante. Ele só quer que eu sofra muito por ter ideias que ele considera erradas, com as quais ele não concorda. Suponho que se imagine assistindo ao espetáculo de horror. E, obviamente, se divertindo. Depois ele sai dali, de consciência leve e alma vingada, e vai comer alguns aspargos no azeite, com redução de aceto balsâmico e espuma de kiwi…

A gente deve se precaver sempre da fúria dos maus. Eles existem. Mas não devemos temer menos as obsessões dos que se candidatam a salvar a humanidade ou a corrigir todos os seus desatinos, desde que o mundo é mundo. É o que costumo chamar de “bondade concupiscente” .

Digamos que o vegetarianismo seja a escolha mais moral, mais racional, mais adequada aos desafios da humanidade que estão por aí e que estão por vir. Ainda assim, não haveria de se operar essa mudança do dia pra noite, não é? Uma coisa são as escolhas privadas; outra, distinta, impor ou desenvolver um padrão que, creio, desafia aspectos da própria evolução da espécie. De toda sorte, haverá de ser um processo longo, que passa também pelo convencimento e pelo desenvolvimento de uma ciência moral da integração e, em certa medida, da cooptação. Ou não funciona — a menos que se fuzilem comedores de carne. Nesse caso, pode haver uma reação…

Muito bem! Esses vegetarianos que escreveram pra cá — não me refiro, pois, a todos os vegetarianos —, com esse grau de estupidez e de violência retórica, vão convencer a quem? Não estão em busca de aliados, mas de inimigos; não querem divulgar a sua causa; preferem vivê-la como cultura de exceção, num pequeno grupo, como se fossem dotados de uma exclusividade moral que os coloca acima dos demais.

É um comportamento muito típico, aliás, de certos setores radicalizados daquilo que o PT chamava antes “burguesia” e da alta classe média. Como o capitalismo, que a maioria deles também odeia, lhes garante o ócio e a faculdade de fazer escolhas (podem, inclusive, optar pelo vegetarianismo, que é uma dieta cara quando exercida com responsabilidade nutricional), podem sair por aí fazendo sua pregação. Tivessem de coletar, caçar ou pescar para sobreviver — ou, modernamente, de TRABALHAR —, não estariam por aí pregando a morte de humanos porque, segundo dizem, estes não respeitam os bichos.

De todo modo, peço perdão a esses juízes severos. Tão logo a gente consiga dar carne, leite e ovos a todos os pobres anêmicos do mundo, muito especialmente às crianças, prometo integrar as hostes do aspargo.

Mas sem luta armada. O gosto por chicória não foi feito para matar ninguém.

Por Reinaldo Azevedo

 

Meu artigo na Folha: “Os 178 Beagles”

Segue trecho da minha coluna, que estreia na Folha nesta sexta.
As ruas, ente divinizado por covardes, pediram o fim do voto secreto para a cassação de mandatos. Boa reivindicação. O Congresso está a um passo de extinguir todas as votações secretas, o que poria o Legislativo de joelhos diante do Executivo. Proposta de iniciativa “popular” cobra o financiamento público de campanha, o que elevaria o volume de dinheiro clandestino nas eleições e privilegiaria partidos ancorados em sindicatos, cujas doações não são feitas só em espécie. Cuidado! O povo está na praça. Nome do filme dessa mímica patética: “Os 178 Beagles”.

Povo não existe. É uma ficção de picaretas. “É a terceira palavra da Constituição dos EUA”, oporia alguém. É fato. Nesse caso, ele se expressa por meio de um documento que consagra a representação, única forma aceitável de governo. Se o modelo representativo segrega e não muda, a alternativa é a revolução, que é mais do que alarido de minorias radicalizadas ou de corporações influentes, tomadas como expressão da verdade ou categoria de pensamento.
(…)
Íntegra aqui

Por Reinaldo Azevedo

 

Alô, VEJA; alô, Folha! “Eles” sabem o que é melhor para vocês e se candidatam a dirigir as duas redações

Que gente pitoresca!

O post em que informo que permaneço na VEJA.com, à diferença do que propagaram neopetistas financiados por estatais e por gestões petistas, e que serei colunista semanal da Folha (estreia nesta sexta) já tem 930 comentários aprovados — os babões foram mandados para o lugar de onde saíram, como sempre. Foi o segundo mais lido do blog ontem. A direção da VEJA sabia do convite há mais ou menos três semanas. O combinado é que o jornal faria uma reportagem um dia antes da estreia do primeiro novo colunista. É o que fazem habitualmente os veículos de comunicação quando vai haver alguma novidade ou mudança. Colhi, felizmente, de leitores e amigos pessoais, muito mais reações positivas do que negativas.

Mandam-me alguns links. Um diz que a VEJA.com comete um erro ao hospedar o meu blog. Outro está certo de que a Folha é que erra ao me contratar como colunista. Aquele sabe o que é melhor para a VEJA. Este outro sabe o que é melhor para a Folha. Esses ressentidos, ora, ora, não estão nem na VEJA nem na Folha — o que não quer dizer que não possa haver descontentes nos dois veículos; é certo que sim. O ponto é outro.

Os mais agressivos e sabidos ou jamais trabalhariam num veículo e noutro ou já trabalharam num e/ou noutro e estão convictos de que não tiveram reconhecido seu formidável talento. Têm a certeza de que não comandam um ou outro porque são competentes demais, inteligentes demais, capazes demais, honestos (santo Deus!!!) demais… Por que a maior revista do país e o maior jornal do país desprezariam esses potentados? Bem, eis um mistério que permanece e permanecerá sem explicação.

Os ressentidos costumam ter um leitor ou outro porque apelam… ao ressentimento! Quando asseguram que foram vítimas de conspirações terríveis, que os teriam empurrado para a marginalidade profissional, falam ao coração dos igualmente incompetentes… A heroína dessa gente, lembrem-se ou leiam o livro quanto tiverem tempo, é a criada Juliana, de “O Primo Basílio”, de Eça de Queiroz. Eles não se zangam com isso ou com aquilo por conta de uma moral reta, que veem afrontada. E ódio. É rancor. É pequenez.

De todo modo, quando a VEJA e a Folha quiserem saber, respectivamente, o que é melhor para cada uma delas, basta procurar esses gênios. Eles odeiam tanto um veículo como outro, mas têm a receita certa para o sucesso de ambos.

“E você? Não critica também os veículos?”
“E você, não critica também os veículos de comunicação e a imprensa, Reinaldo?” Critico, sim! Muito. É provável que faça isso no meu artigo de estreia no jornal, vamos ver. Mas alguém já leu algum texto meu tentando ensinar a Globo a fazer TV? Alguém já leu algum texto meu tentando ensinar a Folha a fazer jornal? Alguém já algum texto meu tentando ensinar a VEJA a fazer revista? E o mesmo se indague a respeito de quaisquer outros veículos. Quando a Globo fez o mea-culpa por causa do apoio ao golpe militar, por exemplo, eu critiquei o texto, mas não porque achei que seria “ruim pra ela”. Eu sou um sujeito aborrecido: ainda acho que os Marinhos sabem o que é melhor para a sua própria empresa. Se gosto ou não, é outro papo. Posso até achar, intimamente, que essas empresas erram, mas fico na minha. 

Alguém aqui já me viu dando conselhos financeiros aos ricos? Tenho senso de ridículo. Quando discordo do que vejo, leio ou ouço, discordo segundo um ponto de vista: o meu. Jamais paguei o mico de dizer a donos de jornais, TVs e revistas o que eles devem fazer para o próprio bem. Quem se atreve a tanto está procurando emprego, não é? Se eu sei o que é o melhor para a VEJA e saio propagandeando por aí, estou me candidatando à cadeira de Eurípedes Alcântara. Se eu sei como deve agir a Folha em seu próprio benefício e faço praça disso, estou pedindo a cadeira de Otavio Frias Filho.

“Ah, te peguei!”, assanha-se o petralha. “Você vive criticando o governo. Quer o lugar de Dilma?” O Brasil é uma República, da qual sou sócio. Tenho a mesma cota de Dilma, com o mesmo direito a voz e voto. O Brasil, embora alguns discordem, não pertence ao PT. Sou, sim, um duro crítico da presidente, mas alguém já me viu questionando a sua legitimidade para decidir? Alguém já me viu tentado a fraudar o processo eleitoral com “Fora Dilma”? Nunca!

Para encerrar
Um tolo envia sistematicamente para cá a mesma questão (depois vim a saber a origem; partiu de um desses ressentidos): se meu blog é tão visitado como digo (ele nem acredita nem desconfia que ele próprio colabora para isso…), por que os meus posts não aparecem nos mais visitados no ranking da homepage da VEJA.com?

Porque aquele ranking, bobalhão, diz respeito apenas ao site da VEJA. Não inclui os colunistas. Há uma ferramenta que faz uma contagem automática. Os blogs usam o WordPress. A VEJA.com desenvolveu seu próprio publicador. Nem sei se daria para fazer uma aferição única. Mas isso não importa. O fato é que os colunistas não integram o sistema de verificação.

Regozije-se, ávido interrogador! Você ajuda a fazer o sucesso do blog, ainda que com o seu ódio — sem contar, no momento, a turma dos aspargos assassinos, que quer me fatiar ainda vivo. Não bato na madeira. Não sou místico. Apenas rezo para que achem a iluminação e descubram o caminho do amor e dos valores afirmativos, em vez desse ódio reativo que lhes deve amargar a vida — ainda que sejam muito bem pagos para isso. Não é possível que, em algum canto de sua consciência, não lhes grite a culpa de estar tomando dinheiro dos pobres. Porque estão.

Fico cá a imaginar a que resultado chegaríamos se todo o dinheiro gasto com a imprensa a soldo fosse transformado em casa popular, em posto de saúde, em creche… É possível que Dilma e Fernando Haddad pudessem até cumprir as suas promessas. O prefeito, aliás, está prestes a enfiar a faca no bolso do morador de São Paulo, com um IPTU escorchante. Parte do dinheiro, ainda que indiretamente, vai pagar o subjornalismo que o aplaude.

Por Reinaldo Azevedo

 

Leitor deste blog desmascara discurso do tucano Fernando Capez, o que defendeu a ação terrorista contra o Instituto Royal

O deputado estadual Fernando Capez, do PSDB de São Paulo, continua a promover obscurantismo e a abusar da imunidade parlamentar para fazer acusações irresponsáveis ao Instituto Royal, contra todas as evidências técnicas em contrário, asseveradas por órgãos competentes. Abaixo, segue o vídeo em que ele faz um novo e furioso discurso, com aquele tom muito típico de certos políticos que acreditam que a gritaria substitui a verdade.

Está cuidando da sua reeleição. Se, para isso, precisar linchar o trabalho de gente honesta, dane-se. Não liga.  Ele gosta é de bicho. Continuo a achar vergonhoso que o PSDB permita, sem nenhuma reação ou esclarecimento, que parlamentares seus se metam nesse pântano. O partido não tem como impor a linha justa a seus membros. Nem seria conveniente. Mas está obrigado a emitir uma nota repudiando a violência — contra pessoas e animais. E em defesa da pesquisa científica.

Vai o vídeo com o novo e lamentável discurso de Capez. Daniel Ravena, advogado e leitor deste blog, faz picadinho da fala do político em seguida. 

Desmascara, Ravena!
Como se vê do discurso do deputado tucano na ALESP, toda sua peroração a respeito das irregularidades no instituto Royal está centrada no fato de a entidade só ter obtido seu credenciamento junto ao CONCEA há pouco mais de 30 dias, dando a entender que, antes disso, não poderia estar realizando testes científicos em animais. Trata-se de uma inverdade. O art. 22 da Lei 11.794/2008, que regulamente a matéria, assim dispõe:

“Art. 22. As instituições que criem ou utilizem animais para ensino ou pesquisa existentes no País antes da data de vigência desta Lei deverão:

I – criar a CEUA, no prazo máximo de 90 (noventa) dias, após a regulamentação referida no art. 25 desta Lei;

II – compatibilizar suas instalações físicas, no prazo máximo de 5 (cinco) anos, a partir da entrada em vigor das normas estabelecidas pelo CONCEA, com base no inciso V do caput do art. 5o desta Lei.”

Extrai-se do transcrito preceptivo legal, inserido no capítulo das disposições gerais e transitórias da mencionada lei, que as instituições já existentes antes de sua vigência poderiam continuar suas atividades, devendo cumprir as condicionantes previstas nos incisos I e II.

Evidente que mesmo essas entidades, ainda nos termos do estatuto legal de regência, deveriam providenciar o seu credenciamento junto ao CONCEA, mas nem isso lhes retirava o direito de prosseguir com os testes. Nesse sentido as resoluções 03/2011 e 14/2013 do próprio CONCEA. Esta última é clara ao estabelecer que as entidades que já tivessem solicitado o credenciamento poderiam continuar suas atividades normalmente. Veja:

“RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 14, DE 2 DE OUTUBRO DE 2013

Art. 1º. Ficam interditadas temporariamente as instituições que fazem uso de animais para fins científicos ou didáticos no País e que não solicitaram seu credenciamento no CONCEA, de conformidade com as disposições previstas na Resolução Normativa nº 3, de 2011, nos termos do art. 20 da Lei nº 11.794, de 2008, e de acordo com a letra “c” do inciso I e do parágrafo único do art. 49 c/c o art. 50 do Decreto nº 6.899, de 2009.

Parágrafo único. A listagem das instituições credenciadas no CONCEA, bem como daquelas que se encontram com processo de solicitação de credenciamento em andamento estão disponíveis no sítio eletrônico do CONCEA em https://concea.mct.gov.br.”

Capez ignorava esse conjunto normativo ao fazer seu discurso de reeleição? Penso que não. Não, não sou advogado do instituto Royal. Sim, eu também amo cãezinhos. Mas também sou um amante da verdade e tenho a péssima mania de repudiar embusteiros.

Por Reinaldo Azevedo

 

Filho e advogado de ex-assessor petista da Casa Civil são presos por subornar testemunhas em caso de abuso sexual

Por Gabriel Castro, na VEJA.com:
A Polícia Civil do Paraná prendeu nesta quarta-feira o filho e o advogado de Eduardo Gaievski, ex-assessor petista da Casa Civil que, após revelação de VEJA, foi preso sob acusação de abusar sexualmente de menores. Fernando Borges e André Gaievski foram flagrados quando conduziam duas testemunhas do caso até um cartório da cidade de Francisco Beltrão, onde elas prestariam declarações inocentando o petista. Cada uma das mulheres, que são mães de vítimas de Gaievski, havia recebido 1 000 reais em troca do depoimento.

O Ministério Público do Paraná recebeu a denúncia de que a dupla e dois irmãos dele, Francisco e Edmundo Gaievski, estavam coagindo testemunhas do caso. Na terça-feira, os policiais presenciaram o momento em que o grupo entregou o dinheiro às duas mulheres. Nesta quinta, enquanto se deslocavam para o cartório com as mães das vítimas, o filho e o advogado de Eduardo Gaievski foram presos. Eles se negaram a dar informações aos policiais. As duas mulheres, entretanto, admitiram a coação.

“As mães receberam 1 000 reais cada uma. Elas gastaram parte do dinheiro e, na quarta-feira, estavam com o restante do valor no carro”, explica o delegado Sandro Barros, responsável pelo flagrante. Ele diz que a fraude foi comprovada: “Elas iam fazer uma declaração, no cartório, em favor de Eduardo Gaievski”. Fernando Borges e André Gaievski serão indiciados pelo artigo 343 do Código Penal, que fala em “dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha” para “fazer afirmação falsa em depoimento”. A pena é de três a quatro anos de prisão.

 A notícia não surpreende: em 14 de setembro, o site de VEJA revelou como, mesmo preso, Eduardo Gaievski se comunicava com seu advogado para combinar a coação de testemunhas do caso. Ele trocava e-mails utilizando um aparelho celular. Depois disso, o petista foi transferido de presídio. Gaievski está preso em Curitiba. Já o advogado e o filho do ex-assessor estão detidos na delegacia de Realeza. Caberá à Justiça decidir se eles vão responder ao crime em liberdade. O ex-assessor da Casa Civil responde por estupro de vulnerável (dezessete vezes) e assédio sexual. Ele oferecia dinheiro e cargos na prefeitura para as adolescentes e suas famílias. Após a revelação do caso, ele foi rapidamente afastado do cargo no ministério.

Por Reinaldo Azevedo

 

De olho em 2014, Dilma anuncia R$ 13,5 bilhões para prefeitos

Por Gabriel Castro, na VEJA.com:
Cada vez mais empenhada em pavimentar sua pré-campanha à reeleição, a presidente Dilma Rousseff fez um aceno nesta quinta-feira aos prefeitos e anunciou investimentos de 13,5 bilhões de reais em saneamento básico e asfaltamento, como parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 2. O governo prometeu custear a pavimentação de 7.500 quilômetros de vias e instalar 15.000 quilômetros de calçadas, além de apoiar empreendimentos de drenagens de águas pluviais, abastecimento de água e esgotamento sanitário. As obras serão tocadas pelas prefeituras, com recursos federais. De acordo com o Radar on-line, desde ontem prefeitos e deputados já articulavam para tentar capitalizar o bônus eleitoral das obras.

Ao todo, 1.198 municípios de 26 estados foram contemplados. Todos haviam se cadastrado previamente e apresentado projetos para obter o auxílio federal. “É fundamental para nós a parceria com os pequenos municípios”, disse a presidente, durante o anúncio do programa. Nesta sexta, Dilma viajará para São Paulo para anunciar investimentos de 5,4 bilhões de reais para obras em vinte estações de trem e metrô, segundo o jornal Folha de S.Paulo.

Pré-sal
Dilma também voltou a defender o modelo de concessão do campo de Libra, o primeiro da camada pré-sal a ser explorado. De acordo com a presidente, é possível afirmar com segurança que o empreendimento é rentável – e, por isso, o regime de partilha foi o mais adequado. “Não tem risco. Não tem taxa de sucesso de 20%. O risco é desse tamanhozinho”, disse ela.

A presidente voltou a afirmar que os recursos do petróleo servirão para assegurar ao país um salto de qualidade na educação: “Nós podemos garantir ao Brasil, a partir desse campo e dos outros que virão, uma educação de alta qualidade”, afirmou.

Por Reinaldo Azevedo

 

Câmara impõe relativa derrota a Haddad. Ou: Aposto que IPTU pune áreas em que o PT perdeu a eleição

Fernando Haddad (PT), prefeito de São Paulo, este homem novo e bom, conforme se vendeu na campanha eleitoral, perdeu e ganhou na votação do IPTU. Perdeu porque não conseguiu aprovar os absurdos índices de reajuste que pretendia. Ganhou porque, ainda assim, conseguiu um aumento muito acima da inflação. Leiam o que informam Giba Bergamim Jr. e Rogério Pagnan, na Folha. Volto em seguida.

A Câmara aprovou ontem à noite, em primeira votação, uma proposta de reajuste do IPTU na cidade menor do que queria o prefeito Fernando Haddad (PT) –mas, ainda assim, muito acima da inflação. O imposto subirá até 20% para imóveis residenciais e até 35% para os demais em 2014, conforme proposta que tem de passar por nova votação. Na média, a alta deve ser de 18% no ano que vem –superior à inflação anual próxima de 6%, mas abaixo dos 24% que Haddad pretendia. Regiões com maior valorização imobiliária desde 2009 devem sofrer maior impacto.

No total, 31 vereadores votaram a favor. Outros 13, contra –e 11 vereadores não ficaram até o final da sessão. Pelo texto aprovado, imóveis com valorização acima dos tetos de reajuste pagarão novos aumentos nos anos seguintes, mas limitados a 10% e 15%, respectivamente. A aprovação aconteceu após pressão da oposição e de vereadores da base aliada para que Haddad aceitasse mudar seu plano original –que previa tetos de reajuste de 45% (comerciais) e 30% (residenciais) tanto em 2014 como nos anos seguintes.
(…)

Voltei
Haddad queria, quer, encher as burras de dinheiro porque se fala por lá em instituir o passe livre de ônibus na cidade, o que adequaria a sua agenda à dos radicais e também à de setores da classe média endinheirada que acha “liiindo” ver seus filhotes com camiseta na cara e tênis de R$ 1.500 jogando umas pedras por aí… Os mais pobres, evidentemente, não reclamariam da gratuidade. Não tardaria para o sistema ser sucateado, mas quem se importa?

O aumento abusivo de imposto traz uma soma de falsos argumentos, amarrados pela má consciência política. Os petistas dizem que nada mais fazem do que repetir Gilberto Kassab (de todo modo, hoje um aliado…). Ainda que fosse, não foram eleitos justamente contra Kassab? Para fazer diferente? Acho que sim.

Atrelar a elevação do IPTU à valorização de mercado dos imóveis é argumento razoável só na aparência. Um proprietário não transforma em dinheiro seu imóvel, valorizado ou não, enquanto mora nele. Se e quando vender, pagará o Imposto Sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI). E, pois, dará um quinhão à Prefeitura. Há mais. Se o IPTU será calculado segundo a valorização dos imóveis, caso eles se desvalorizem no ano seguinte, pergunta-se: o imposto vai cair?

Azul e vermelho
Não fiz o mapinha porque demandaria um tempo que eu e minha equipe, composta das minhas duas mãos, não temos. Mas posso apostar que as áreas “mais valorizadas”, que terão o IPTU maior, coincidirão com aquelas que, em 2012, votaram no azul — ou seja, no PSDB. Já as que arcarão com o peso menor votaram no vermelho, o PT. Quem fizer esse cruzamento vai encontrar uma quase coincidência total, aposto.

“Ué! Fazer o quê? E se as áreas que mais votaram no PT tiveram mesmo menos valorização do mercado?” Quem fizesse essa pergunta estaria ignorando que se buscou um critério que coincide com uma espécie de punição dos moradores de áreas que votaram “errado”.

“Mas o natural não seria tentar atrair essas áreas?” O PT sabe que jamais conseguira ser majoritário em determinados bairros da cidade. De resto, precisa de dinheiro. E prefere enfiar a faca naqueles que não são “aliados”.

Por Reinaldo Azevedo

 

Marina Silva, uma asceta entre ambiciosos, só quer um mundo melhor…

Ah, não, né? Aí já é um pouco demais! Marina Silva, da Rede, ora no PSB, pré-candidata à Presidência, concedeu uma entrevista à CBN de Maringá nesta quarta, informa a Folha. E aí se saiu com esta maravilha:

“Não tenho como objetivo de vida ser a presidente da República. Tenho como objetivo de vida lutar para o Brasil ser melhor, para o mundo ser melhor; se, para isso, for necessário ser presidente da República, tenho toda a disposição, como tive em 2010”.

Entendi.

Talvez os outros tenham ambições desmedidas, motivações menores… Dilma Rousseff, Aécio Neves, José Serra e, quem sabe?, até Eduardo Campos sonham com a Presidência, quem sabe?, por falta de altruísmo. Marina só pensa num Brasil melhor e num mundo melhor.

A frase, aliás, é uma delícia. Porque isso nos faz supor que, houvesse um governo mundial, ela certamente se candidataria ao cargo. Mas não pensem que seria, como ela diz, por “ambição” ou “objetivo de vida”…

Ora, ora… Vocês sabem o que eu penso do PT e da maioria dos petistas, não? Mesmo o pior deles, escolham aí, deve trazer em si uma vontade transformadora. Pode ser ruim, equivocada, dolosa. Mas anseio sempre há. O pior larápio pode ser também um idealista.

O que me incomoda em Marina é esse, com a máxima vênia, falso ascetismo. Então se fez senadora, ministra, candidata à Presidência, dona (cabe o nome) de um partido e é pré-candidata, em segundo lugar nas pesquisas, só porque pensa em nos salvar? A tudo isso a conduziu a falta de ambição???

Esse negócio de só querer um mundo melhor é coisa que político não deveria falar. Seria possível dizer o contrário?

Por Reinaldo Azevedo

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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