‘Os beijos mais íntimos’, por Carlos Brickmann

Publicado em 05/12/2013 16:32 e atualizado em 24/02/2014 17:05
no Blog de Augusto Nunes, de veja.com.br

Opinião

‘Os beijos mais íntimos’, por Carlos Brickmann

Publicado na coluna de Carlos Brickmann

Mensaleiros? Mensalão mineiro? Trens e metrôs tucanos superfaturados? Deixa pra lá: nada preocupa mais Governo e Oposição do que a prisão de Jeany Mary Corner, conhecida senhora que cuida da carreira de inúmeras moças que se dedicam ao bem-estar do pessoal de Brasília. A agenda de Jeany é explosiva: nela há endereços, telefones, contas-correntes, eventuais dívidas de pessoas não apenas bem-postas na vida, mas casadas ─ e já se viu o estrago que uma esposa ou amante insatisfeita pode causar na vida de um político. Ex-mulher é para sempre! Há quem diga que Jeany Mary tem, entre suas recordações, a foto de um parlamentar inteiramente nu, posando feliz da vida com um fumegante charuto.

Jeany Mary Corner foi presa pela Polícia Civil de Brasília, em operação comandada por uma delegada, sob acusação de rufianismo ─ exploração da prostituição. Pelo que dizem, as moças agenciadas por ela são de primeira categoria, muitas vezes contratadas em outras cidades para serviços especiais.

Este colunista não entende como Jeany Mary Corner foi abandonada por seus protetores ─ que se espalham por todo o espectro político e de poder do país. Sua prisão é perigosa para todos: Jeany Mary, calada, prestava excelentes serviços a pais da pátria das mais variadas tendências; se falar, torna-se perigosíssima. É por isso, aliás, que este colunista não acredita que ela fique presa por muito tempo.

Afinal de contas, rufianismo pode ser considerado crime de menor poder ofensivo, não é mesmo? E todos dormiriam melhor se a deixassem em paz.

Dúvida pertinente
Que haverá por trás da prisão de figura tão importante?

Todos juntos, vamos
O deputado estadual mineiro Gustavo Perrella, dono do helicóptero apreendido com meia tonelada de cocaína, pertence ao partido Solidariedade. O líder do Solidariedade na Câmara é o deputado Fernando Francischini, delegado da Polícia Federal, que se apresenta em seu perfil no twitter como coordenador “das prisões dos megatraficantes Abadia e Beira Mar”.

A coincidência pode ajudar a investigação: juntos num só partido, o dono do “helipóptero” e o delegado especializado em investigar o narcotráfico, que oportunidade para uma boa conversa preliminar! Francischini, implacável, certamente investigará o correligionário.

A festa da uva
A piada começa com uma pergunta: quanto é 2 + 2? Depende: para um matemático, quatro. Para um economista, quatro, talvez com certo desvio. Para o ministro Guido Mantega, não importa o resultado, desde que possa ser maquiado.

A festa do caqui
Dilma mandou baixar a conta de luz. OK ─ mas faltou dinheiro para cobrir as despesas. O dinheiro necessário foi então repassado pelo Tesouro à Conta de Desenvolvimento Energético. Mas a despesa aparece nas contas públicas e dificulta cumprir a meta do superávit primário ─ usado para pagar os juros da dívida do Governo.

Qual a solução? A Caixa Econômica Federal empresta, a juros baixérrimos, a subsidiárias da Eletrobrás, que ficarão menos dependentes do Tesouro. Depois o Tesouro põe dinheiro na Caixa. Sai do bolso esquerdo, entra no direito.

A festa da mexerica
As contas externas vão mal. Então, a Petrobras exportou seis plataformas de petróleo para filiais no Exterior, por US$ 6,6 bilhões, e alugou-as de volta. As plataformas não se mexeram: estão no mesmo lugar. Mas a receita da venda entra como exportação, e o aluguel não conta como importação.

A isso, chama-se “contabilidade criativa”. O dinheiro sai do bolso direito e entra no esquerdo.

A festa do morango
A propósito, esses bolsos de onde sai o dinheiro pertencem a você, caro leitor.

A festa do figo
Mas o caro leitor não deve imaginar que coisas esquisitas aconteçam apenas no Executivo. No Legislativo, menos da metade dos cargos são preenchidos por concurso; 55% são comissionados, por livre nomeação dos parlamentares (cada Excelência pode nomear 25 pessoas em seu Gabinete, fora outras possibilidades). Há mais comissionados no Congresso do que em todo o Governo Dilma.

A festa do caju
A festança não precisa envolver gastos excepcionais para dar prejuízos imensos. A primeira ação sobre o Mensalão tucano, ou Mensalão mineiro ─ que, praticamente com os mesmos personagens, serviu de base para o Mensalão propriamente dito ─ acaba de completar dez anos de imobilidade no Supremo Tribunal Federal. A ação foi distribuída em 1º de dezembro de 2003 para o relator Carlos Ayres Britto. Ele já se aposentou e a ação continua descansando.

O esquema era o mesmo do Mensalão: empresas estatais fizeram pagamentos à agência SMPB, de Marcos Valério, e o dinheiro foi privatizado, conforme a acusação, pelo governador tucano Eduardo Azeredo (que depois seria presidente nacional do PSDB). Esta é uma ação cível; há outras ações, penais, também paradas (o ministro Luís Roberto Barroso, novo relator de todas elas, promete retomá-las no início do ano que vem). Os beneficiados mudaram, o partido também (era PSDB, hoje é PT); os operadores são os mesmos condenados no processo do Mensalão.

(por Carlos Brickmann)

 

Opinião

‘A economista-presidente’, um artigo de Carlos Alberto Sardenberg

Publicado no Globo desta quinta-feira

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

Talvez fosse o caso de incluir na Constituição brasileira uma cláusula de barreira especifica: economista não pode ser presidente da República.

E acho que os economistas brasileiros, na maioria, concordarão ao menos provisoriamente com essa discriminação. Ocorre que não raro os governos precisam mudar a política econômica. É relativamente fácil: coloca-se a culpa no ministro da Fazenda, demite-se o titular e se convoca outro quadro, alinhado com uma diferente doutrina.

Guido Mantega, por exemplo, desde a primeira reunião ministerial do governo Dilma, em janeiro de 2011, vem prometendo crescimento do PIB superior a 5% ao ano, com inflação na meta de 4,5%. Dizia que a nova política garantiria esses extraordinários resultados. Bom, estamos fechando o terceiro ano do governo ─ e o melhor que ele poderá entregar será crescimento na média de 2%, com inflação de 6%.

Hora de mudar, não é mesmo?

Aí está o problema da presidente Dilma. Economista, ela tem ideias firmes, tem lado (o do nacional-desenvolvimentismo) e aplica sua doutrina.

Observem as declarações da presidente, em entrevista ao jornal Valor Econômico, em março de 2011:

“Tenho certeza que o Brasil vai crescer entre 4,5% e 5% este ano…. A meta (de inflação) é de 4,5% e nós vamos perseguir 4,5%. Tem banda para cima, banda para baixo, mas nós sempre tentamos, apesar da banda, forçar a inflação para a meta até tê-la no centro.”

Quando colocada diante da tese, ortodoxa, digamos, segundo a qual não seria possível, ao mesmo tempo, crescer 5% e trazer a inflação para a meta, a presidente retrucou:

“Tem um artigo interessante escrito pelo Delfim, a respeito de que não existe uma lei divina que diz que a taxa de crescimento será de 3% e que a inflação será de 6%. Eu acho que isso é adivinhação… Vamos mostrar que não, isso não está dado e… e que depende da gente.”

De fato, a adivinhação não estava certa. A inflação de 2011 não foi levada para a meta de 4,5%. Deu 6,5%, no limite máximo da banda. E o crescimento não foi de 3%, mas de 2,7%…

Não era mesmo possível forçar a queda dos juros, para estimular o crescimento, e derrubar a inflação. Mas o governo conseguiu fazer pior: derrubou o crescimento e elevou a inflação.

Tem mais: nos foros internacionais, a presidente deu lições de recuperação econômica, criticando todos os governos que optavam pelo ajuste das contas públicas. Em especial, deu uma bronca em Angela Merkel, que impunha a ortodoxia em toda a Europa. Justificava assim sua política de forte expansão do gasto público para turbinar o crédito e o crescimento.

Também não deu certo. As contas públicas pioraram, a dívida bruta subiu, e o crescimento de novo não veio.

Dizem os economistas que é preciso insistir em qualquer política econômica, dar tempo para que faça efeito. É o que Dilma fez. Mas, agora, com o país entrando no quarto ano de crescimento baixo e inflação alta, com deterioração das contas públicas e externas, a mudança se impõe.

A presidente até está tentando fazer isso. Por exemplo, os juros voltaram a subir, devem passar dos atuais 10%. E ela tem prometido aperto nas contas públicas.

Mas há dois problemas aí. Um, que o pessoal não acredita que a mudança é para valer. Faz sentido: uma política mais ortodoxa vai contra a vontade, as ideias e a determinação da presidente, que explicitou tudo de maneira muito clara. Segundo, como essa mudança de rumo é mesmo de má vontade, acaba sendo feita pela metade e mal executada.

Um corte de gastos aqui, um aumento ali. O Banco Central sobe os juros, mas o governo manda o BNDES, a Caixa e o Banco do Brasil emprestarem mais dinheiro a juros baratos.

Eis o problema da economista-presidente. Se a política fosse apenas do ministro Mantega, era só demiti-lo e colocar no seu lugar alguém tipo Palocci (o Palocci ministro da Fazenda do primeiro mandato de Lula) ou tipo Henrique Meirelles.

Mas se a presidente Dilma fizer isso, a dúvida vai aparecer imediatamente: será que ela mudou mesmo de opinião e admite isso? Rasgou os livros?

E falta de confiança, todos sabemos, é o veneno que mata qualquer política econômica.

Previsões?

A presidente deu uma informação errada quando, na semana passada, disse que o PIB de 2012 seria corrigido de crescimento de 0,9% para 1,5%. Na terça, o IBGE de fato corrigiu, mas para 1%, quase nada.

Comenta o jornalista João Borges, da Globonews: “O governo, que já errava as previsões sobre o futuro, agora também erra as previsões sobre o passado”.

 

Por que Dilma inventou um salto do PIB que só aconteceu na página do jornal espanhol? Confira as quatro explicações possíveis

No meio da entrevista concedida por Dilma Rousseff à edição brasileira do diário espanhol El País, o jornalista fez uma escala no terreno sempre movediço da economia: a presidente estava preocupada com o raquitismo dos índices de crescimento?, quis saber o jornalista.

Caprichando na pose de quem governa a segunda superpotência do planeta, a entrevistada disse o seguinte:

“Esta semana resolveram reavaliar o PIB. E o PIB do ano passado, que era 0,9%, passou para 1,5%. Nós sabíamos que não era 0,9%, que estava subestimado o PIB. Isso acontece com outros países também. Os Estados Unidos sempre revisam seu PIB. Agora nós neste ano vamos crescer bem mais do que 1,5% – resta saber quanto acima”.

Uma semana depois do palavrório publicado em 26 de novembro, o IBGE revelou o resultado da revisão: em 2012, o crescimento não foi de 0,9%, conforme o cálculo original, mas de 1% ─ exatamente 0,1% acima do índice que levara a presidente a desconfiar, em dilmês arcaico, que “estava subestimado o PIB”.

Que fim levou o salto de 1,5% que só deu as caras na entrevista? Onde a presidente foi buscar a maluquice reproduzida por El Pais? Há quatro explicações possíveis:

1. Dilma mentiu. Nessa hipótese, precisa pedir desculpas ao jornal e aos leitores, prometer regenerar-se e tentar criar juízo.

2. Dilma foi enganada. Se foi assim, precisa pedir desculpas ao jornal e aos leitores, demitir imediatamente o responsável pela tapeação e prometer que, de hoje em diante, vai conferir contas e números apresentados por vigaristas incuráveis.

3. Dilma ouviu o índice certo mas a memória falhou nesse trecho da entrevista. Nesse caso, precisa pedir desculpas aos jornais e aos leitores, prometer que vai anotar num papel cifras especialmente importantes e convocar algum assessor vacinado contra surtos de amnésia para vigiar o que diz em entrevistas mais longas.

4. Dilma decidiu provar que músico e escritor Lobão não exagerou ao afirmar, na entrevista ao Roda Viva, que o Brasil é presidido por alguém “incapaz de tomar sorvete pela testa porque não vai conseguir nem mirar a própria testa”. Se a quarta opção for a correta, oremos.

 

O País quer Saber

Um ano depois da descoberta do escândalo estrelado por Lula e Rose, o país continua querendo saber quem fez o quê

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JÚLIA RODRIGUES

Um ano depois do desfecho da Operação Porto Seguro, promovida pela Polícia Federal para desbaratar uma quadrilha especializada na comercialização de pareceres fraudulentos emitidos por agências reguladoras, a única mulher envolvida no escândalo é também a única integrante do bando cuja vida mudou para pior.

Chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo desde 2004, Rosemary Nóvoa de Noronha reinou no 17° andar do prédio do Banco do Brasil na Avenida Paulista até a descoberta de que o local fora reduzido a uma extensão de um grupo criminoso.

Os chefes eram os irmãos Paulo Vieira, diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), e Rubens Vieira, diretor da Agência Nacional de Águas (ANA). Além de Rose, participavam do segundo escalão figurões como José Weber de Holanda, número dois da Advocacia-Geral da União.

Escalada para agir no núcleo especializado em tráfico de influência ─ um dos três em que o bando se dividia ─ Rose valeu-se das relações íntimas que mantinha com Lula para a consumação de irregularidades suficientemente numerosas para promovê-la ao cargo informal de “Facilitadora-Geral da República”. A boa vida acabou em 23 de novembro de 2012, quando a Polícia Federal, munida de um mandado de busca e apreensão, invadiu o escritório e a casa da protegida de Lula.

Passado um ano, o acervo de reveses é de bom tamanho. A perda do salário de R$ 12 mil é a menos relevante. Uma mesada negociada com Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, tem livrado a desempregada de dificuldades financeiras. O que a transformou numa mulher amargurada foi a perda de outros privilégios que lhe garantiam a vida de segunda-dama.

Deixou, por exemplo, de viajar no Aerolula, a bordo do qual fez 28 viagens internacionais em companhia do presidente como passageira clandestina, deixou de ser convidada para hospedar-se no Palácio Pamphili, a esplêndida relíquia arquitetônica que abriga a embaixada brasileira em Roma. Perdeu até o direito aos mimos que levaram a Polícia Federal a qualificá-la de petequeira. Essa expressão, utilizada nos meios políticos e empresariais, designa quem se deixa corromper por ninharias, como ingressos para camarotes no Carnaval do Rio de Janeiro, cruzeiros no litoral paulista, financiamentos de pequenas cirurgias ou apartamentos.

Indiciada em dezembro de 2012 pela Polícia Federal, Rose foi, pouco depois, denunciada pelo Ministério Público por formação de quadrilha, corrupção passiva, tráfico de influência e falsidade ideológica. Em setembro passado, a Controladoria-Geral da União decidiu exonerar a ex-chefe do escritório da Presidência em São Paulo, que nunca mais poderá ocupar cargos públicos federais. A CGU entendeu que Rose havia incorrido no crime de improbidade administrativa.

Para a mulher que nomeava parentes e amigos com o amparo do presidente, nada foi mais penoso que a perda do prestígio. Ela nomeou, por exemplo, os irmãos Vieira. Até agora, os comparsas não foram demitidos. Embora denunciados pelo Ministério Público Federal, os demais integrantes da quadrilha continuam recebendo salários do governo, como informou a reportagem de VEJA publicada neste 23 de novembro.

Em público, Rose evita queixar-se dos problemas que enfrenta. Em troca do silêncio, ganhou um batalhão de advogados especializados em localizar brechas na Lei para adiar o andamento de processos com sucessivos recursos.  Ela mantém o direito de ir e vir. Mas evita exercê-lo para não se expor ao assédio de jornalistas. Enclausurada na casa da filha, Rose rumina as lembranças dos tempos em que exibia ostensivamente a proximidade com o ex-presidente, a quem se referia como “chefe” e “PR” (Presidente da República), deixando, eventualmente, escapar um “Luiz Inácio” para impressionar colegas de trabalho.

Agia com discrição apenas como passageira do Aerolula. Só embarcava quando Marisa Letícia não estava a bordo. Para driblar a vigilância da primeira-dama, que conferia os nomes incluídos na comitiva, Rosemary Noronha nunca aparecia na lista de passageiros publicada no Diário Oficial. É provável que se tenha transformado na viajante clandestina com a maior milhagem da história da aviação.

“Imagine uma pessoa que passou a vida pendurada no cheque especial e, de repente, recebe uma herança de um tio. Essa é a Rose”, resumiu um amigo. Motoristas, secretárias e copeiras que foram subordinados à imperatriz do escritório, revelam que gritos e humilhações públicas eram frequentes. Uma secretária alvejada por um dos chiliques, agravado pela ameaça de demissão, teve de ser hospitalizada para tratar a crise de hipertensão. Rose não só negou socorro à funcionária, como tirou-lhe o emprego.

Tantos sintomas de deslumbramento são justificados pela biografia. Na década de 90, Rosemary Noronha sequer sonhava com a chegada ao coração do poder. Bancária, participava de algumas atividades no sindicato da categoria em São Paulo, instalado num prédio ao lado da sede nacional do PT. Despertou a atenção dos chefes não por intervenções em assembleias, mas pela silenciosa exibição de outros atributos, como as volumosas coxas e os cabelos longos. Chegou ao Partido dos Trabalhadores pelas mãos de José Dirceu, que a contratou como secretária. O chefe apresentou-a a Lula. Em 1994, ainda trabalhava com Dirceu quando passou a cuidar da agenda do futuro presidente. O estreitamento das ligações animou Lula a alojar a protegida no cargo de que foi destituída só em novembro de 2012.

A mudez de 12 meses só foi interrompida pela curta entrevista concedida a VEJA. Afirmou que seu relacionamento com o ex-presidente era “totalmente profissional”, baseado em “amizade e fidelidade”. “As nossas famílias se conhecem desde que as crianças eram pequenas”, disse. Ainda no começo da conversa, irritada com uma pergunta banal ─ como e quando havia conhecido Lula? ─ deu a entrevista por encerrada.

Lula também mantém distância da história muito mal contada. Dois dias depois da explosão do escândalo, declarou-se traído. “Eu me senti apunhalado pelas costas”, lamuriou-se. “Tenho muito orgulho do escritório da Presidência, onde eram feitos encontros com empresários para projetos de interesse do país”.

Em março, numa entrevista ao jornal Valor Econômico, criticou a cobertura o noticiário da imprensa sobre o Caso Rose. “Quando as coisas são feitas de muito baixo nível, quando parecem mais um jogo rasteiro, eu não me dou nem ao luxo de ler nem de responder”, desconversou o entrevistado. “Porque tudo o que o Maquiavel quer é que ele plante uma sacanagem e você morda a sacanagem”.

Lula continuava procurando algum álibi consistente em setembro, mostrou a entrevista concedida ao Correio Braziliense. “A CGU julgou um relatório feito pela Casa Civil. E pelo que vi do relatório, ele confirma as conclusões da Casa Civil”, resumiu. “Todo servidor que comete algum ilícito tem de ser exonerado”.

Neste começo de dezembro, os brasileiros ainda continuam à espera de explicações menos rasas. O país quer saber, por exemplo, todos os detalhes da mesada que Rose recebe. Ou quem banca o batalhão milionário de 40 advogados incumbidos de defendê-la. Lula faz de conta que não há o que explicar. É desmentido por, pelo menos, 40 perguntas formuladas pelo Brasil que presta. Fala, Lula. O país continua querendo saber.

(por Augusto Nunes)

 

Direto ao Ponto

Com a carta-testamento, Getúlio Vargas saiu da vida para entrar na história. Com a carta-renúncia, José Genoino saiu da vida política para entrar no histórico da Papuda

TEXTO ATUALIZADO ÀS 9:35

Em 2002, obediente a determinações do PT, o deputado federal José Genoino trocou uma reeleição garantida para o sexto mandato parlamentar consecutivo pela candidatura sem chances ao governo de São Paulo. O tucano Geraldo Alckmin reelegeu-se sem sobressaltos. Mas a performance do adversário superou amplamente o desempenho dos companheiros que o precederam na tentativa de conquistar o mais sólido reduto do PSDB.

Genoino foi o primeiro petista a forçar a realização de um segundo turno na disputa do Palácio dos Bandeirantes. E os 8,5 milhões de votos (41% do total) abrandaram a frustração reservada aos perdedores. “Faço questão de te cumprimentar, companheiro Genoino, pela votação extraordinária”, abraçou-o o presidente eleito no comício da vitória promovido na Avenida Paulista. “Daqui a quatro anos, você vai ganhar a eleição. Pode ter certeza, você vai ser governador de São Paulo”.

Lula e o premiado com a profecia nem desconfiaram do que aconteceria depois de aparecer um mensalão no meio do caminho. Nenhum dos dois pressentiu que o eleitorado de Genoino, em permanente expansão desde a estreia nas urnas de 1982, seria progressivamente desidratado pelo escândalo descoberto em meados de 2005 — até sucumbir de vez à inanição.

Já na eleição de 2006, os 306.988 votos obtidos oito antes despencaram para 98.729. Voltou à Câmara entre os últimos da fila. Em 2010, com minguados 92.362 votos, foi rebaixado a suplente. Negociou uma vaga no balcão de compra e vendas do Congresso, e voltou pela porta dos fundos. Condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha pelo Supremo Tribunal Federal, o presidente do PT do Mensalão incorporou-se à bancada dos parlamentares presidiários. Ameaçado pela cassação, demorou a descobrir que não escaparia da degola. Nesta terça-feira, enfim renunciou ao mandato.

A morte política não ocorre antes da morte física, consola-se gente aparentemente aposentada pelas urnas, repetindo a frase que vem sempre acompanhada da evocação de ressurreições consideradas impossíveis. O exemplo mais lembrado é o de Getúlio Vargas. Derrubado em 1945, o ditador condenado ao ostracismo não se limitou a regressar ao Catete nos braços do povo, como presidente constitucional: também sobreviveu ao suicídio e seguiu decidindo eleições.

O palavrório usado para formalizar a renúncia sugere que Genoino encomendou o texto pensando no mais importante personagem do Brasil republicano. Ele se recusa a acreditar que, neste crepúsculo de 2013, foi consumada a morte política sem remédio. A dramática carta de Getúlio foi escrita por alguém que saía da vida para entrar na História. A patética carta de Genoino foi o último suspiro do mensaleiro obrigado a sair da vida pública para entrar no histórico do presídio da Papuda.

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Fonte:
Blog Augusto Nunes (veja.com.br)

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1 comentário

  • Maurício Carvalho Pinheiro São Paulo - SP

    Pô ! Sardenberg ! O pessoal da área da economia não sabe fazer contas de porcentagem !! 2 pontos a mais sobre 4,5% são 6,5 % mas representam 44,44,,, % ou quase metade

    da meta !!! Até costureira pode ser economista assim.

    Já cansei de mandar emails pra você via CBN, sobre isso e nada !!! Você é engavetador ou vai me chamar de novo de "ignorância atrevida" ??? E nas pesquisas eleitorais encomendadas esses pontos são usados para tornar mentira em verdade. Consulte o Dr. Clésio Ferraz

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