O Datafolha e os subintelectuais decepcionados com o povo: 82% dos paulistanos são contra rolezinhos, e 73%, a favor da ação da

Publicado em 22/01/2014 16:27 e atualizado em 19/03/2014 15:04
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

O Datafolha e os subintelectuais decepcionados com o povo: 82% dos paulistanos são contra rolezinhos, e 73%, a favor da ação da polícia. Larga maioria de negros e pardos não vê discriminação...

Datafolha 1 rolezinho

Pois é… Nesta quinta, muito esquerdista endinheirado encontrará motivos para se decepcionar com o povo. Eles lá, dedicando-se a um frenético exercício de antropologia criativa para ver nos rolezinhos uma espécie de grito primal dos deserdados do capitalismo, e os pobres cobrando o fim desses eventos para poder frequentar os shoppings em paz.

Os racialistas também ficarão amuados. Insistem que os negros e pardos são discriminados nesses centros comerciais, e a maioria dos negros e pobres diz que… não! A população de São Paulo — ESPECIALMENTE OS MAIS POBRES — gosta é de ordem e de polícia cumprindo a sua função. Quem gosta de bagunça é subintelectual do miolo mole, militantes de esquerda e, infelizmente, alguns coleguinhas.

Segundo pesquisa Datafolha, publicada hoje na Folha, nada menos de 82% dos paulistanos são contra os rolezinhos, impopulares até entre os jovens — Reprovam as manifestações 70% das pessoas entre 16 e 24 anos e 85% dos que estão entre 25 e 34. Alguns vigaristas sustentavam que os rolezinhos são o grito dos pobres. Será? São contra esses eventos 80% dos que ganham até 2 salários mínimos. Entre os que recebem de 2 a 5, a reprovação chega a 87%. A aceitação cresce um pouquinho entre os mais endinheirados, mas o “não” é ainda esmagador: 71% (veja quadros publicados pela Folha reproduzidos neste post).

O Datafolha quis saber ainda se a população aprova que os shoppings recorram à Justiça para impedir rolezinhos. 80% disseram que sim. Para 77%, esse tipo de coisa não passa de “tumulto”. E a polícia? Será que deve ser acionada? A esmagadora maioria dos paulistanos aprova: 73%. E nada menos de 72% disseram que não existe preconceito de cor na reação dos shoppings. Atenção, entre os negros, só 32% afirmaram ver preconceito de cor; ente os pardos, apenas 25%. Logo, os negros e pardos não endossam as tolices ditas pelos ministros Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, e Luíza Bairros, da Igualdade Racial.

Sabem, leitores, qual é a região da cidade que menos apoia os rolezinhos? A Zona Leste, justamente a que concentra o maior número de pobres. Apenas 8% disseram concordar com esses eventos. Conforme escrevi aqui muitas vezes, os shoppings que estão situados na periferia são também áreas de lazer das comunidades carentes. São elas as principais prejudicadas por aquela bagunça.

Essas manifestações contam com um pouco mais de apoio, embora pequeno, entre os mais ricos, que ganham acima de 10 mínimos. É nessa faixa que se concentra boa parte das pessoas de esquerda. Vocês leram direito: no Brasil, socialistas costumam ser os endinheirados — embora, como é sabido, eles não deem aos pobres nem um miserável pirulito.

Contra a seleção
Ah, sim: 73% dizem que os shoppings não têm o direito de discriminar quem pode e quem não pode entrar. Não sei como a pergunta do Datafolha foi feita, mas é certo que ninguém reivindicou essa licença.

Datafolha 3 rolezinho

Datafolha 4 Rolezinho

Civilização
Na segunda, escrevi o que segue em azul:
Shoppings são experiências que criam um padrão aceitável de civilização que acaba por mitigar particularismos de classe (e outros) em nome de alguns denominadores comuns de convivência. É assim que se constroem as sociedades. Os comportamentos que ficam à margem — ou porque muito requintados ou porque muito grosseiros — acabam não encontrando lugar para se expressar. Isso é um sinal de avanço das sociedades. Concorre para a elevação do padrão médio. O shopping center constrói um superego com muito mais eficiência do que um pai — se for um pai relapso, então, nem se fale… Sim, é preciso proibir que se toque e se dance funk nos corredores. Mas se deve vetar igualmente que alguém saque o seu aparelho de som para ouvir “A Flauta Mágica” no último volume. Posso achar o funk um lixo, e acho. Posso achar Mozart uma maravilha, e acho. Em locais públicos, o que conta é uma média dos “achares” e dos “quereres”.

Fui adiante e explicitei qual é a relação das comunidades pobres com os shoppings (em azul):
Nunca caí no conto (…) de considerar que os rolezinhos são, na verdade, protestos que ainda não têm plena consciência de si mesmos. Isso é restolho dos escombros do marxismo aprendido de orelhada. O Shopping Campo Limpo é frequentado pelos moradores de… Campo Limpo e adjacências. Muita gente é pobre. Heliópolis, em São Paulo, está entre as dez maiores favelas do Brasil — hoje, os próprios moradores preferem chamá-la de bairro, mas, tecnicamente, é uma favela. Segundo o Censo de 2010, contava com 41.118 moradores. Creio que esteja hoje beirando os 45 mil. Eles frequentam em massa o Central Plaza Shopping, que fica bem perto.
Falo o que sei, falo o que conheço, falo o que vi. Já fui lá várias vezes (…). Pobres, pretos, mestiços — ou que outra categoria queiram criar para brandir a bandeira da discriminação — jamais foram discriminados por ali porque isso significaria, na prática, expulsar boa parte dos… consumidores. A praça de alimentação, nos fins de semana, recebe a população pobre ou remediada que quer “jantar fora”. Os bairros contíguos abrigam moradores de classe media e classe média baixa. Atenção! É um shopping gigantesco, vive apinhado, o ambiente é asseado, e os consumidores e visitantes não se comportam de modo distinto dos que frequentam o Iguatemi, o JK, o Villa-Lobos ou o Higienópolis.

Encerro
Os subintelectuais não têm cura. Mas ponho fé no jornalismo. As redações deveriam enviar seus repórteres para fazer um treinamento intensivo com o “povo” — mas povo mesmo, de verdade, o que exclui as entidades e ONGs de militantes usurpadores, que pretendem falar em seu lugar.

A pesquisa Datafolha põe fim a uma farsa ridícula. Os subintelectuais do miolo mole terão de procurar outra causa.

Por Reinaldo Azevedo

 

E agora? Ciclistas estão sendo assaltados na USP. Como vai bater o coração de alguns jornalistas?

ladrão de bicicleta

Ai, ai… Começou uma onda de assaltos a ciclistas na USP. Não me digam! Segundo levantamento da Jovem Pan, desde o dia 1º de janeiro, já são 14 ocorrências. Uma das vítimas é o promotor de Justiça Roberto Bodini, que relata a abordagem violenta dos marginais. Dizer o quê? Os ciclistas se transformaram, no Brasil, numa espécie de categoria de pensamento, adotada e adorada pela imprensa. Quem sabe, agora, se faça a coisa certa.

A USP é uma cidade de porte médio. Circulam por lá mais de 100 mil pessoas. A Polícia Militar tem de se comportar por ali de maneira quase invisível. As lideranças de extrema esquerda que tiranizam a universidade e os traficantes e consumidores de drogas, que são muitos, não querem saber da “repressão” . Sim, é preciso chamar as coisas pelo nome, e eu chamo.

Os mesmos traficantes, diga-se, tiranizam também a favela São Remo, que fica ao lado, separada da universidade por um muro, que foi vazado, num trabalho conjunto de militantes de extrema esquerda e vendedores de droga. A justificativa politicamente correta é que isso é feito para acabar com o apartheid social, entendem? Já houve um assassinato na USP. Mesmo assim, os “amigos do povo” querem a polícia longe.

Então ficamos assim: há uma cidade de porte médio, com policiamento precário, onde circula uma boa massa de endinheirados… Em que isso vai dar quando se sabe que o tráfico fez da Cidade Universitária o seu mercado? Atenção! Há bicicletas de endinheirados que podem custar até R$ 30 mil. Os assaltantes pegam a dita-cuja e se mandam pra favela.

Pior: ficamos sabendo agora que ciclistas contrataram escolta armada… Epa! Aí as coisas começam a ficar ainda mais perigosas. Avaliem o risco! A única saída sensata é parar com essa brincadeira estúpida de que a USP — e as universidades brasileiras — são territórios livres, onde a polícia não entra. A Guarda Universitária não vai poder se comportar como segurança privada de ciclistas, não é? É preciso que se faça lá policiamento ostensivo para reprimir qualquer forma de crime — inclusive, sim, o tráfico e o consumo de drogas.

Por mais que queriam transformar a USP num bunker, onde a PM não entra, as leis de mercado chegam pelo ar. Atrair bandidos para a universidade — em razão das drogas e da falta de policiamento — imaginando que eles não vão praticar banditismo é coisa de cretinos ou de gente de má-fé.

Sem a presença ostensiva da polícia, a alternativa para os ciclistas é levar Marilena Chaui como uma espécie de batedora, de ponteiro. Quando o bandido chegar com o tradicional “Perdeu, perdeu, passa a bicicleta para cá”, ela, a mais saliente crítica da presença da PM no campus, pode tentar convencê-lo de que se trata de um ato reacionário, que acabará concorrendo para a “militarização” da universidade, adicionando que ele, ladrão, mesmo sem saber, é, na verdade, um revolucionário em potencial, que está canalizando mal as suas energias redentoras… De resto, os dois “ODEIAM” a classe média…

Por Reinaldo Azevedo

 

Fernando Haddad vira líder dos rolezinhos em São Paulo

Haddad: agora é ele o líder dos rolezinhos em São Paulo

Haddad: agora é ele o líder dos rolezinhos em São Paulo

Ai, ai… A pesquisa Datafolha já revelou o que os paulistanos pensam dos rolezinhos, e os mais críticos são justamente os mais pobres. Nem a hipótese do racismo, na qual o PT investiu, se confirmou. Assim como essa coisa toda começou, iria esmorecer.

Mas aí apareceu o prefeito Fernando Haddad no meio do caminho. Escolheu o pagodeiro Netinho de Paula, seu secretário da Igualdade Racial, para negociar com “rolezeiros”, como se fosse possível estabelecer uma representação formal em casos assim.

Depois de uma reunião com a molecada e com representantes de shoppings, ficou acordado que os rolezinhos poderão ser feitos nos… estacionamentos. É mesmo, é? Em quais? Haverá carros no local? Os rolezeiros se espalharão entre os automóveis? Mais: isso vale também para as garagens subterrâneas, sem janelas nem outra área de escape para as ruas?

Assim, a Prefeitura de São Paulo decidiu dar sobrevida a uma prática que estava em declínio e que conta com a na antipatia da esmagadora maioria dos paulistanos. Tudo porque o prefeito Haddad não resistiu à tentação de se comportar como um populista vulgar. Aliás, mais de uma vez eu já apontei as características que fazem dele um Janio Quadros de esquerda. E, como se costume, Haddad tenta ser popular enfurecendo o povo. Um gênio!

Quanto tempo vai durar essa solução que não resolve nada? Se o estacionamento de um determinado shopping passar a ser palco de rolezinhos permanentes, das duas uma: ou se impede a entrada dos carros — e, pois, se espantam clientes — ou se expõem os donos dos automóveis ao risco do prejuízo. E eles desaparecerão do meu jeito. Em qualquer dos casos, lojistas e consumidores estarão sendo punidos.

É nisso que dá emprestar uma visão política, ideológica, ao que não passava de uma manifestação mais ou menos irresponsável de quem só queria se divertir, optando por uma prática obviamente incompatível com o lugar escolhido.

O prefeito Fernando Haddad está fazendo um esforço danado para que os rolezinhos sejam mais uma das heranças malditas que ele pretende deixar em São Paulo. O pagodeiro Netinho já conversou com supostos líderes de rolezeiros da Zona Norte. Nesta sexta, é o dia dos da Zona Sul.

Depois virão os da Zona Leste, que concentra as regiões mais pobres da cidade. É lá que os rolezinhos tem o menor apoio da população: apenas 8% segundo o Datafolha.

Por Reinaldo Azevedo

 

Marina quer agora implodir a aliança PSDB-PSB em MG. Quem está surpreso?

Pois é… Marina Silva tem a sua natureza. Ela e seu grupo se comportam, dentro do PSB, da mesma maneira como se comportavam quando a então petista deixou seu partido e migrou para o PV: como os donos da bola. A turma da líder da Rede, informa Ranier Bragon na Folha, quer agora acabar com a aliança entre o PSB, de Eduardo Campos, e o PSDB de Minas, do presidenciável Aécio Neves. Os “marineiros” defendem candidatura própria no estado.

Então vamos ver: Marina já conseguiu desfazer a aliança do PSB com os tucanos em São Paulo. Há ainda quem ache que pode ser recomposta, mas a possibilidade é remota. E se esforça para inviabilizar a aliança do partido com o PSDB de Minas. É o seu preço para ser vice na chapa do peessebista Eduardo Campos.

Acontece que o PSB está no governo mineiro; pertence à base de apoio — e esse era o caso de São Paulo até anteontem. Mas Marina não quer nem saber. Num manifesto, o partido escreveu: “A Rede vem afirmar a necessidade de romper a hegemonia do PSDB em Minas Gerais” para “renovar a prática política no Estado, desgastada com o rodízio de velhos grupos no poder”.

O chefão da Rede no Estado é Cassio Martinho, porta-voz nacional do partido em formação, junto com a própria Marina. Logo, essa pressão tem inequivocamente as suas digitais.

Vejam que coisa curiosa: até agora, Marina Silva funcionou como massa negativa para Eduardo Campos. Do ponto de vista das alianças, o resultado da soma dos dois é inferior ao que ele tinha sozinho. Ela está inviabilizando alianças que já existiam. É a adição que subtrai.

Bem, o que começou torto parece que torto continuará. Um dos primeiros aliados que Campos havia conquistado fora de Pernambuco era o deputado Ronaldo Caiado, do DEM de Goiás, que tenta viabilizar sua candidatura ao governo. Logo no primeiro dia, Marina o desqualificou de maneira infundada e grosseira. Campos silenciou, e o acordo se desfez.

Se o acordo, para ele, até agora, tem se mostrado irrelevante, com ela, aconteceu justamente o contrário. Sem o seu partido, correria o risco de ficar um tempo no limbo, o que nunca é bom em política. A sua entrada, ainda que temporária, no PSB lhe deu força para articulações nacionais. Vamos ver o que sobrará do PSB depois desse trabalho explícito de parasitismo da Rede.

Para encerrar: Campos tem um único aliado nacional até agora: o pequeno PPS. Marina está se esforçando brutalmente para implodir alianças regionais. Até parece que ela age de modo deliberado para inviabilizar a candidatura do governador de Pernambuco, hipótese em que seria ela própria a candidata do PSB à Presidência.

Por Reinaldo Azevedo

 

Mais uma declaração estupefaciente de Maria do Rosário, agora sobre os presídios

Ah, Maria do Rosário!

A Human Rights Watch fez um relatório criticando duramente vários aspectos ligados à segurança pública no Brasil: presídios, atuação das polícias, investigações malfeitas, impunidade. Também fez elogios, como a criação da Comissão da Verdade e a punição de policiais envolvidos nas mortes do Carandiru e no assassinato do pedreiro Amarildo. Concordo com algumas críticas; discordo de outras. Concordo com alguns elogios; discordo de outros. Mas não vou entrar agora nesse mérito.

Quem veio a público falar em nome do governo foi Maria do Rosário, sobre quem já escrevi nesta terça. Esta impressionante ministra dos Direitos Humanos disse o seguinte, num determinado momento: “Quando o governo investe no sistema prisional, nós recebemos críticas também…”

É mesmo? Recebe críticas de quem? Quando é que vocês viram um governo, em qualquer esfera, ser criticado por investir em presídios? Epa! Esperem! É verdade. Quem costuma fazer essa crítica é justamente o petismo. Lula, o Apedeuta-chefe, disse certa feita que ele preferia construir escolas a construir cadeias. Bidu! Com esse pensamento, o Brasil tem hoje um déficit de umas 200 mil vagas mais ou menos.

Mas está tudo explicado. Em 2013, o governo federal investiu 38% menos do que em 2012 no sistema prisional. Agora entendi o motivo: os petistas fiaram com medo de receber… críticas.

Não tem jeito! O diálogo com Maria do Rosário não é nem bom nem mau. É apenas inútil.

Por Reinaldo Azevedo

 

Maria do Rosário não tem cura

Leiam o que informa a Folha:
A secretária de Justiça de São Paulo, Eloisa Arruda, criticou a ministra Maria do Rosário por ter afirmado, em nota oficial na última sexta-feira, que Kaique dos Santos foi “brutalmente assassinado” por homofobia. O texto afirmava ainda que a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência estava “acompanhando o caso junto às autoridades estaduais” para “evitar a impunidade”. O Estado é comandado pelo PSDB, que faz oposição ao governo federal petista. Eloisa Arruda defendeu a investigação da polícia e afirmou que a homofobia deve ser tratada “de forma responsável e sem considerações precipitadas”. “Lamento que uma situação tão dolorosa tenha sido encaminhada de forma sensacionalista”, disse a secretária. “São casos que devem ser tratados com serenidade e seriedade, sem fazer proselitismo com o sofrimento alheio.”

Gustavo Bernardes, coordenador-geral de Promoção dos Direitos de LGBT da pasta de Maria do Rosário diz que não houve precipitação ao tratar o caso como assassinato. Segundo ele, a pasta só descartará a tese crime de ódio quando saírem os laudos. “Sempre que a ministra e eu nos manifestamos, citamos que confiávamos que as autoridades fariam a apuração correta.” Em resposta às criticas de Eloisa Arruda, a secretaria disse que agiu em defesa da família de Kaique. “Como a ministra afirmou no caso do presídio de Pedrinhas, os direitos humanos são uma questão suprapartidária.”

Por Reinaldo Azevedo

 

Código Penal pune conduta de Maria do Rosário com pena de 1 a 6 meses de prisão

Maria do Rosário: ela atira primeiro e só pergunta depois

Maria do Rosário: ela atira primeiro e só pergunta depois

Escrevi há pouco um texto sobre a conduta lastimável da ministra Maria do Rosário, que anunciou ao Brasil a falsa ocorrência de um crime. Resgatemos dois trechos de sua nota:
ANÚNCIO DO FALSO CRIME:
“A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) vem a público manifestar solidariedade à família de Kaique Augusto Batista dos Santos, assassinado brutalmente no último sábado”
MOBILIZAÇÃO DA AUTORIDADE
“SDH/PR está acompanhando o caso junto às autoridades estaduais, no intuito de garantir a apuração rigorosa do caso e evitar a impunidade.”

O que diz o Código Penal no Artigo 340? Isto:
“Art. 340 – Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado:
Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.”

Por Reinaldo Azevedo

 

VEJAM COMO TRABALHA ESTE DELÚBIO!!!

Por Jailton Carvalho, no Globo:
No segundo dia de trabalho fora da prisão, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares teve encontros com o ex-deputado federal Luiz Eduardo Greenhalg, com o deputado distrital Roberto Policarpo (PT) e com o secretário-geral do Sindicato dos Servidores Públicos do Distrito Federal, Cícero Rola. Pelo relato dos três, Delúbio, um dos condenados no processo do mensalão, está se adaptando rapidamente à rotina de passar a noite na prisão e os dia tralhando no escritório da Central Única dos Trabalhadores (CUT). “Ele está tranquilo, está bem. Ele se sente em casa na CUT”, disse Policarpo.

O deputado diz que foi ao escritório da central sindical para tratar da próxima campanha salarial dos servidores públicos e, na saída, teve um encontro com Delúbio. O ex-deputado Greenhalg, hoje advogado da CUT, disse que foi à sede da central em Brasília para tratar de dois processos relacionados a servidores e, por acaso, encontrou o ex-tesoureiro tomando um café. Os conversaram rapidamente, mas segundo Greenhalg, Delúbio não fez qualquer comentário sobre a condenação sofrida no mensalão e nem queixas sobre a prisão. “Ele está bem se é alguém pode estar bem (na prisão). Dei um abraço nele e disse que semana que vem eu volto pra gente conversar”, disse Greenhalg.

Delúbio teria conversado um pouco mais com Cícero Rola. Segundo ele, o ex-tesoureiro discorreu sobre a importância de se trabalhar para reduzir a pena. Falou também que pensa em voltar a estudar para ocupar o tempo com o máximo de atividade possível previsto em lei para ele que em regime semiaberto. A disposição do colega surpreendeu o colega.”Fiquei impressionado com a força dele, falando da possibilidade de estudar. Não sei como ele está por dentro, mas me pareceu bem animado. Ele disse que está cumprindo o que foi determinado (pela Justiça). Disse : “estou cumprindo a minha parte”, conta Cícero.

O clima estava tão descontraído que o sindicalista quis perguntar para o colega como era o colchão na cadeia. Mas como tinha outras pessoas por perto acabou desistindo da brincadeira. Um funcionário da CUT disse que Delúbio cumpre a risca os horários estabelecidos pela Justiça, mas não perde o bom-humor nem mesmo com as agruras da prisão. ”Ele é muito divertido. Fala tudo da prisão, da situação dele”, disse um funcionário da CUT que está acompanhando de perto o cotidiano do ex-tesoureiro.

 Delúbio foi condenado a seis anos e oito meses de prisão por corrupção ativa. Mas a pena pode aumentar se o Supremo Tribunal Federal confirmar a condenação de dois anos e três meses por formação de quadrilha. Pelo segundo dia de trabalho desde que foi preso em 16 de novembro, Delúbio almoçou com marmita comprada num restaurante self-service. Ele teria comido arroz, feijão e medalhão de filé, entre outros itens.

Por Reinaldo Azevedo

 

Tarso Genro é condenado por improbidade administrativa

Por Eduardo Gonçalves, na VEJA.com:
O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), foi condenado em primeira instância por improbidade administrativa. O processo se refere aos dois períodos em que foi prefeito de Porto Alegre (1993 a 1996 e 2001 a 2002). Na decisão, assinada pela juíza da 1ª Vara da Fazenda Pública, Vera Regina Cornelius Moraes, o petista deverá pagar multa de 10.000 reais e terá os direitos políticos cassados por cinco anos. A punição será aplicada quando não houver mais a possibilidade de recursos.

O Ministério Público acusou a administração de Genro de contratação irregular de profissionais da área da saúde. Na sentença, a magistrada afirma que não foi realizado concurso público para a admissão dos servidores: “A contratação de inúmeras pessoas sem concurso público fere os princípios que regem a boa administração, ou seja, moralidade e legalidade, bem assim a disposição constitucional que prevê o concurso público como forma de ingresso no serviço público, com as exceções expressa e taxativamente previstas na Constituição Federal”.

As contratações foram feitas em caráter de urgência, para vagas temporárias, o que dispensaria a realização de concurso, segundo a legislação municipal. A juíza, no entanto, argumentou que alguns servidores permaneceram no cargo por dois anos com contrato temporário – cuja validade era de até oito meses. Além disso, a magistrada afirmou que “a demanda da população não era provisória, mas permanente, o que descaracteriza a motivação para contratações emergenciais”, e acrescentou que “alguns contratos sob forma temporária foram privilegiados em prejuízo de outros candidatos já aprovados em concursos públicos para os mesmos cargos”.

Caso
A ação civil questionava a legalidade da contratação de enfermeiros e médicos para a capital gaúcha de 1993 e 2002. A sentença foi emitida em dezembro do ano passado, mas só nesta terça-feira foi divulgada pelo Tribunal de Justiça do Estado. Além do governador Tarso Genro, foram condenados na mesma sentença os ex-prefeitos Raul Pont (1997-2000) e João Verle (2002-2004), o atual deputado Henrique Fontana (PT), que à época era secretário municipal da Saúde, e outros dois ex-secretários, Lucio Barcelos e Joaquim Kliemann.

Em nota, Genro disse que a “prefeitura não tinha médicos concursados para contratar”, e que a ação refere-se à “contratação de um médico radiologista com base na lei municipal”. O governador também afirmou que já respondeu a outros três processos, dos quais foi absolvido de todos. “Na democracia, somos obrigados a conviver com absurdos desta natureza e para revisá-las, felizmente, temos o duplo grau de jurisdição”, disse, referindo-se ao direito de recorrer para outras instâncias.

Por Reinaldo Azevedo

 

Criação de empregos formais é a pior em dez anos

Por Marcela Mattos, na VEJA.com:
O Brasil criou 1,1 milhão de empregos com carteira assinada em 2013, o pior resultado em dez anos – em 2003, foram criadas 821.704 vagas formais. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgado nesta terça-feira, o número representa queda de 14,1% em relação a 2012, quando foram criadas 1,3 milhão de vagas.

O ministro do Trabalho, Manoel Dias, creditou os resultados à conjuntura mundial: “Ao todo, foram fechados 62 milhões de postos no mundo inteiro em 2013, e a previsão é que até 2018 tenhamos 200 milhões de trabalhadores desempregados no mundo. Não estamos conseguindo, ainda, o milagre de não ser afetado pela onda de desemprego”, afirmou.

Para tentar justificar o fraco desempenho no mercado de trabalho, o ministro também culpa o baixo desempenho da economia do país. “Tivemos um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) que não foi alto. A geração de emprego não poderia contrariar a nossa realidade, mas, mesmo assim, crescemos acima do esperado.”

Mesmo com o enfraquecimento no ritmo de criação de vagas, Manoel Dias mantém o otimisto e projeta para este ano um avanço na criação de empregos. Segundo ele, o Brasil deve criar entre 1,4 milhão e 1,5 milhão de vagas formais de trabalho em 2014. A expectativa do governo é que seja mantida a tendência dos últimos cinco meses de 2013, quando foi registrado avanço em relação a igual período de 2012.

Setores
O setor de serviços, de acordo com o Ministério do Trabalho, liderou a criação de empregos formais em 2013: ao todo, foram criados 546.917 novos postos. O setor de comércio está logo abaixo no ranking, com 301.095 novos empregos, seguido pela indústria de transformação (126.359 novas vagas) e pela construção civil (107.024). O levantamento aponta ainda um aumento de 2,59% no valor dos salários médios de admissão. Quando analisados em relação ao gênero, os homens continuam em posição de vantagem: obtiveram aumento real do salário médio de admissão de 2,76%, ante 2,46% das mulheres.

O Sudeste destacou-se como a região que apresentou maior taxa na criação de empregos: 476.495. Este número, porém, é menor do que o de 2012, quando foram contabilizadas 655.282 novas vagas. Em seguida está a região Sul, com 257.275 novos trabalhadores atuando com a carteira assinada – um aumento de cerca de 23.000 novos postos em comparação ao ano anterior.

Por Reinaldo Azevedo

 

BC eleva previsão de inflação e indica: alta dos juros pode seguir

Na veja.com:
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou sua previsão de inflação para 2014 e acredita que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficará acima do centro da meta do governo não apenas neste ano, como também em 2015. É o que mostra a ata da última reunião do colegiado, divulgada nesta quinta-feira, em que os membros do Copom explicam por que optaram, por unanimidade, por elevar a taxa básica de juros do país, a Selic, em 0,5 ponto porcentual, para 10,50% ao ano. A resistência da inflação é o motivo pelo qual o BC indica no mesmo documento que seguirá com sua política de aperto monetário, ou seja, novas elevações da taxa de juros não estão descartadas. “O Copom entende ser apropriada a continuidade do ritmo de ajuste das condições monetárias ora em curso”, diz o texto.

A decisão tem por objetivo, segundo o documento, evitar “danos” que possam ser causados pela elevação dos preços, especialmente sobre o consumo e investimentos. Na visão do Copom, nos últimos doze meses a inflação está superando as expectativas, permanecendo acima do centro da meta do governo, de 4,5%, o que deve ser visto ainda em 2014 e 2015. “O Copom pondera que a elevada variação dos índices de preços ao consumidor nos últimos doze meses contribui para que a inflação ainda mostre resistência, que, a propósito, tem se mostrado ligeiramente acima daquela que se antecipava.”

Para 2015, o documento traz apenas que “em ambos os cenários, a projeção de inflação se posiciona acima da meta” e não detalha se houve um movimento de alta ou de baixa em relação à perspectiva anterior. Vale lembrar que, no Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado ao final de dezembro do ano passado, o BC havia informado que, no cenário de referência, sua expectativa era de uma inflação em 5,6% ao final de 2014 e de 5,4% no encerramento do ano que vem. Já no cenário de mercado, a projeção do Copom é de IPCA encerrando 2015 em 5,3% – a mesma taxa de 5,6% é aguardada para o acumulado deste ano.

Em 2013, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 5,91%, pressionado pelo preço dos alimentos e acima do visto em 2012 (5,84%). O colegiado destaca, porém, que os preços das commodities nos mercados internacionais devem se acomodar, “bem como de focos de tensão e de volatilidade nos mercados de moeda”. Além disso, o BC projeta estabilidade nos preços da gasolina para o acumulado de 2014, indicando que a Petrobras poderá ficar sem reajustes no período. Com isso, a inflação pode ficar um pouco mais controlada no ano.

No cenário internacional, o Copom projeta riscos ainda elevados, inclusive com mudanças na inclinação da curva de juros em importantes economias desenvolvidas. O colegiado ainda vê baixa probabilidade de ocorrência de eventos extremos nos mercados financeiros internacionais, mas lembra que o ambiente externo permanece complexo.

Diante disso, o Comitê reafirmou que a “política monetária deve se manter especialmente vigilante, de modo a minimizar riscos de que níveis elevados de inflação, como o observado nos últimos doze meses, persistam no horizonte relevante para a política monetária”. Indicou, assim, que novas elevações nos juros podem vir nas próximas reuniões. Mas, faz a ressalva de que os efeitos das ações de política monetária para a inflação ocorrem com defasagens. O Copom se reunirá novamente em 25 de fevereiro.

No comunicado após a decisão do Copom e que foi repetida na ata, a inclusão da expressão “neste momento” foi vista por analistas como um sinal de que o BC poderia reduzir o ritmo ou até mesmo encerrar o ciclo em breve, após sete altas seguidas na Selic. O atual ciclo de aperto monetário foi iniciado em abril passado, quando a Selic estava na mínima histórica de 7,25%. Pesquisa Focus do BC mostra que a projeção dos analistas é de que o IPCA encerre 2014 a 6,01%, enquanto a Selic iria a 10,75%.

Por Reinaldo Azevedo

 

Cuidado! Os amigos dos pobres e dos bichos estão em ação

Táxi no corredor da Rebouças; avenida congestionada, área de ônibus livre — inclusive dos... ônibus!

Táxi no corredor da Rebouças: avenida congestionada, área de ônibus livre — inclusive dos… ônibus!

Na sexta-feira passada, tinha uma consulta à tarde no Hospital Albert Einstein. Não dirijo, como sabem. Nunca nem liguei um carro — hoje, basta apertar um botão. Não tive essa curiosidade. Vai que aquele troço dê um solavanco… Um desafeto pode indagar: “Como pode tentar lidar com ideias um idiota como você, que não consegue, ao mesmo tempo, cuidar de dois pedais, mover o volante e olhar para a frente e para um retrovisor central e dois laterais?”. Pois é, leitor inimigo… Já bati o carro só de escrever… Não tem jeito! É uma tarefa para humanos acima da minha medíocre condição. Admiro sinceramente as pessoas que dirigem. Adicionalmente, tenho uma miopia fabulosa (vai ficando menor com a idade, mas ainda é robusta). Enfim, eu poupo os outros da minha falta de jeito e de talento. “Menos quando escreve”, insiste o petralha viciado em mim, hehe…Retomo. Tinha uma consulta às 19h30 no Einstein. Decidi sair daqui às 18h. Minha mulher, um desses humanos superiores capazes de conduzir aquela máquina, se ofereceu para me levar. “Não, vou de táxi por causa do corredor da Rebouças, ou vamos demorar mais de duas horas para chegar lá.” E assim fiz.

Fui bem-sucedido. Rampa do Pacaembu livre; a Rebouças toda parada, como sempre, mas os corredores de ônibus fluíam. O táxi deslizou por ele. Não atrapalhamos um único coletivo, nada! Cheguei a meu destino em 25 minutos. No meu próprio carro, dado o congestionamento, não teria levado menos de duas horas. “Por que não vai de metrô?” Porque ele ainda não chegou ao Morumbi. “E de ônibus?” Seriam necessários pelo menos quatro — oito com os da volta. Síntese: se e quando os táxis não puderem mais circular no corredor, haverá, em casos assim, um carro a mais na rua — o meu. Como eu, há milhares de outras pessoas.

Existem 35 mil táxis em São Paulo. O motorista que me levou ao hospital afirmou que faz, por dia, 12 corridas. Mas disse não ser dos que mais trabalham. Afirmou que há quem só pare depois de pelo menos 20. Operarei com uma média modesta: 10. Fazem-se pelo menos 350 mil corridas por dia. Segundo ele me diz, em metade das vezes, transporta dois passageiros; mais raramente, três. Nos fins de semana, por causa das baladas, é frequente conduzir até quatro. Pergunto: o táxi não é também, a seu modo, transporte coletivo? Se e quando forem proibidos de circular nos corredores, será que donos de carro migrarão para o ônibus e pronto? Não! Haverá mais carros na rua, extremando os problemas de trânsito.

Mas não tem jeito. A Prefeitura falsifica a realidade ao afirmar que se trata de uma exigência do Ministério Público. É? Sim, o órgão ameaça representar contra a Prefeitura porque os gênios de Fernando Haddad fizeram um estudo demonstrando que os táxis deixavam mais lentos os ônibus. Basta circular de táxi nos corredores para perceber que isso é falso. Digamos, no entanto, que verdadeiro fosse: mais lento quanto? A depender do percentual, melhor arcar com essa lentidão do que com o acréscimo de milhares de carros nas ruas.

Fosse uma questão apenas técnica, de conciliação das várias necessidades de São Paulo, o certo seria permitir que táxis circulassem não só nos corredores, mas também nas faixas — inclusive vazios, para que pudessem chegar com mais rapidez aos clientes. Quando puder, leitor, se ainda não o fez, vá a Nova York ou a Buenos Aires. Veja o número de táxis que há nessas cidades e depois compare com São Paulo, Rio, qualquer outra capital brasileira. Houvesse vontade de resolver problemas em vez de criar proselitismo ideológico e luta de “ricos” contra “pobres”,  Haddad daria um jeito de, primeiro, fazer com que donos de carro migrassem em maior número para os táxis. Para milhares de pessoas, o “custo tempo” é muito mais importante do que o “custo dinheiro”.

Mas não! Haddad, que hoje hostiliza os donos de automóveis, apesar de seu partido estimular a compra de carros, decidiu hostilizar também os motoristas de táxi e os usuários do serviço. Eis o PT: essa gente é especialista em promover a guerra de todos contra todos.

Os bichos
Para chegar ao Einstein, no caminho que faço, tenho de passar pelo Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo. Havia lá um grupo de uns 15, 20 militantes, com cartazes. Eles cobravam que o governador Geraldo Alckmin sancione uma lei aprovada pela Assembleia Legislativa — na esteira daquela barbaridade cometida contra o Laboratório Royal —, que proíbe o teste em animais de produtos cosméticos, de higiene pessoal e de perfumes e seus derivados. “Também os de higiene pessoal?” Também! Parece que o essa área do saber é considerada mera frescura…

Que se note: a indústria cosmética quase não usa mais bichos. Na maioria das vezes, os testes são mesmo feitos in vitro. No Royal, diga-se, os animais eram usados apenas para testar remédios. Aquela gente em frente ao Palácio só estava lá protestando, firme e saudável, em razão de alguns bichinhos que serviram à ciência. O governador tem até quinta para sancionar ou não a lei. Parece-me evidente que se trata de uma questão federal, não estadual. Até porque, a depender das restrições que se criem, empresas deixarão São Paulo, desempregando pessoas, para se instalar em outros estados.

Higiene pessoal, cosméticos, perfumes… Será isso tudo supérfluo? A depender da decisão que se tome, também nessa área, o único resultado será a punição de pessoas. Que diferença faz empregar um animal em São Paulo ou em outro estado qualquer? Mas faz toda a diferença para quem vai perder o emprego, não? Sem contar que há, obviamente, um apelo obscurantista nessa história. Mas essa gente sabe que o espírito estúpido do tempo está a seu favor. Essa militância já chegou à imprensa.

Novo encontro
Passei pela minha consulta; fiz lá as minhas negociações com o Jairo Hidal (“haja paciência”, ele deve pensar!) e desci até o andar onde param os táxis. Aquele mesmo grupo que estava no Palácio do Bandeirantes havia decidido ir até o hospital para usar o banheiro, beber água, essas coisas… A turma usava com muita destreza um espaço particular, certa do seu “direito” de impor tanto ao público — o conjunto dos paulistas — como ao privado (o hospital) as suas vontades, as suas necessidades, a sua visão de mundo. Seja para defender bichos ou para fazer xixi, comportam-se como soberanos.

“Que ironia!”, pensei (enquanto aguardava o táxi, que não chegou; peguei outro na rua). “Esse hospital deve salvar centenas de vidas por dia porque pesquisadores que aquela gente certamente acha desprezíveis souberam estabelecer uma hierarquia entre o homem e os outros animais. Não eram torturadores; não eram sádicos, não eram maus; ao contrário: queriam salvar vidas.”

Líquidos expelidos e ingeridos, lá se foram os amigos dos bichos, certos de ter cumprido a sua missão: anunciar ao mundo a sua bondade e a maldade alheia. Outros, nem tão bonzinhos, continuarão a fazer pesquisas para preservá-los de suas próprias convicções, curando-os de doenças e preservando-lhes a vida. Peguei meu táxi de volta, pelo corredor — eu, um usurpador do direito natural dos pobres, segundo o Ministério Público e Fernando Haddad. Afinal, eu sou mau. Eles são bonzinhos.

Por Reinaldo Azevedo

 

O “Porta dos Fundos”, a liberdade de expressão e o direito dos cristãos à reação

porta dos fundos

Vamos a um texto longo, longuíssimo?

Vamos às tarefas difíceis, que as fáceis são fáceis. Como afirmei num pequeno post de ontem à noite, não acho que comentaristas de política devam ficar terçando armas com humoristas, embora, em essência, o humor sempre fale a sério. No geral, interessa-me nele mais a mecânica da desconstrução de uma lógica aparente ou formal, de que são capazes os bons, do que o conteúdo propriamente. Em princípio, qualquer assunto pode ser objeto dessa desconstrução. A quem ocorreria, no entanto, fazer graça, deixem-me, ver com os sírios, submetidos ao carniceiro Bashar Al Assad e também a seus adversários, não menos asquerosos? Como arrancar um riso ou fazer uma ironia inteligente sobre a boate Kiss? “Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém. Tudo me é permitido, mas eu de nada (nem de ninguém) serei escravo”. É São Paulo na 1ª Epístola aos Coríntios, ensinando que a noção de limite também é libertadora. Para que dê sequência a este texto, é preciso que um valor esteja presente à leitura de cada linha: se, em algum momento, parecer que estou a defender a censura estatal, ou de qualquer outra natureza, ao humor do Porta dos Fundos ou de qualquer outro, ou eu não estarei a me expressar com clareza ou o defeito estará no entendimento. Vamos seguir.

Visitei regularmente esse site de humor até aquele vídeo em que um ginecologista identifica a imagem de Jesus Cristo na vagina de sua paciente, durante um exame ginecológico. Nem vi como terminava, acreditem. Leitores me contaram que o alvo final eram os evangélicos. Sou católico. Aquilo me ofendeu por causa da minha religião? Não! Achei burro, grosseiro, sem graça. Na Internet, é muito fácil “provocar reações”, não é? Mexer com religião, especialmente agredindo a fé das pessoas, é um caminho fácil para mobilizar amores e rancores. Nem sempre, como é o caso, é o mais inteligente.

Cheguei até ali com o “Porta dos Fundos” e não segui adiante. Para mim, estava bom. Vi mais uns dois ou três vídeos, em links recomendados por amigos e leitores. E só. Sim, é verdade, eu já os elogiei aqui e mantenho os termos do que escrevi. Assim, recomendo, com clareza meridiana, que os descontentes com o humor da turma façam como eu: não vejam! Não se perde tempo nem se ganha aborrecimento.

Fiquei sabendo nesta terça — e foi nesta terça mesmo — que uma entidade católica já havia recorrido ao Ministério Público contra o Porta dos Fundos. Agora, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), com faro para a polêmica, decidiu também recorrer ao MP contra um “Especial de Natal” produzido pelo grupo. Segundo Feliciano, o material traz “conteúdo altamente pejorativo, utilizando-se inclusive de palavras obscenas, e de forma infame atacou os dogmas cristãos e a fé de milhares de brasileiros que comungam deles (…)”. O deputado quer uma indenização de R$ 1 milhão. Se vitoriosa a causa, diz que doará o dinheiro para as Santas Casas de Misericórdia.

À Folha, Feliciano afirmou: “Esse vídeo ofende os cristãos. Não há necessidade de fazer humor com religião. Deixem os cristãos em paz. Esse não foi o primeiro vídeo. Agora, esperamos que eles tenham limite. Se não colocarem limites, vou convocar todos os religiosos a fazerem um boletim de ocorrência contra eles. No mínimo, vai dar muita dor de cabeça”. A turma do “Porta dos Fundos” tem seus advogados e não precisa do meu amadorismo. Mas pode, sim, dar uma dor de cabeça dos diabos. A religiosidade é um bem protegido pela Constituição, e o Código Penal também trata do assunto. Isso é lá com eles. Mas não quero me antecipar porque essa questão ainda vai aparecer mais adiante.

Calma lá!
A ação dos católicos repercutiu pouco — eu mesmo a desconhecia. A de Feliciano, por conta da notoriedade que lhe conferiram os gays na Comissão de Direitos Humanos da Câmara, já está gerando um escarcéu danado. E começou a gritaria: “O Estado é laico!”; “Isso é censura!”; “Esse pastor precisa aprender o que é democracia!”; “Feliciano quer ditadura!”. Opa, opa, opa! Calma lá. Se o direito de o “Porta dos Fundos” fazer piadas estivesse em questão, eu estaria entre os primeiros a assinar um manifesto em sua defesa — é bem possível que um ou outro membros do grupo jamais assinassem um manifesto em favor do meu direito de escrever o que me der na telha. Mas essas coisas não exigem reciprocidade.

Devagar com o andor — sem querer fazer graça: numa democracia, recorrer à Justiça é um direito. Não há nada de errado, de antidemocrático ou de autoritário na decisão dos católicos ou de Feliciano. Os que acham que seus direitos foram agravados têm três caminhos: a) silenciar; b) tentar resolver no braço; c) recorrer à Justiça. Sim, há a possibilidade de acordo, sem perturbar o estado com isso, mas não creio que funcionaria no caso em espécie: “Pô, pessoal, vamos pegar leve; acho que houve exagero…”. Não daria pé.

Feliciano enviou ainda uma carta à Fiesp, uma das patrocinadoras do grupo, pedindo que reveja o apoio: “Aproveito para, encarecidamente, pedir à V. Sa. e seus representados que reflitam sobre o patrocínio que estão proporcionando ao site chamado Porta dos Fundos que, reiteradamente, vem através desses vídeos, que alegam proporcionar humor aos seus espectadores e nada mais fazem do que achincalhar as pessoas como nós que professamos a fé cristã”.

De novo, é preciso indagar: o que há de errado nisso ou de antidemocrático? Nada! Feliciano, os católicos e os cristãos em geral têm o direito, inclusive, de propor um boicote ao site e às marcas que o patrocinam. Se ações assim funcionam, não tenho a menor ideia. Práticas dessa natureza, diga-se, foram inauguradas pelas esquerdas. Ninguém lá no “Porta dos Fundos” tem cara de ingênuo. Ou será que eles ignoram que determinadas abordagens enfurecem muitos cristãos? Posso apostar que contam com isso, inclusive, para ganhar audiência e influência na Internet. Convenham: em certos círculos militantes e ateus, arrumar uma briga com Feliciano pode até ser uma bênção. Mas sempre há o risco de passar do ponto, não é? Por definição, é sempre do topo que se começa a cair. Como é mesmo? “A gente é mais famoso que Jesus Cristo” — ou algo assim…

O “Porta dos Fundos”, outros antes deles e outros depois deles são todos herdeiros do Monty Python — um grupo verdadeiramente engraçado, culto, inteligente. A melhor cena de humor que conheço está no filme “A Vida de Brian”, num trechinho conhecido por “O que nos deram os romanos?”. Já publiquei aqui ovídeo e a tradução do diálogo. Pode ser que alguém se ofenda com aquilo? É possível. Não há ali — como em tudo o mais que o grupo fez — uma só canelada, uma só grosseria, uma só generalização estúpida, e o humor vive, em parte, da generalização, daí a necessidade de cuidado. É bem verdade que, na sua curta existência, o “Porta dos Fundos” já fez mais piadinhas do que o Monty Python em décadas. Nem sempre dá para escolher o roteiro, pelo visto. Na falta de uma ideia melhor, por que não provocar os religiosos? Sempre funciona. Perdi o interesse por eles em razão desse e de outros proselitismos — maconha, por exemplo. Humor, quando pretende doutrinar, vira política — e precisa tomar cuidado para não se tomar como uma religião.

Cristo e Maomé
No dia 3 de abril de 2013, faz tempo já, escrevi aqui um post sobre uma entrevista de Fábio Porchat a Sônia Racy. Ele sustentava que o limite do humor é não ter graça. Leiam este trecho (em vermelho):
Por quê? Acha que o limite [do humor] é não ter graça?
Acho que, no nosso caso, somos cinco cabeças pensando. Cinco sócios. Então, é difícil uma coisa passar despercebida. A gente tem batido em coisas que, na verdade, merecem apanhar. No idiota que inventou a Ku Klux Klan, no padre pedófilo. Eu, por exemplo, não faço piada com Alá e Maomé, porque não quero morrer! Não quero que explodam a minha casa só por isso (risos). Mas, de um modo geral, a gente vai fazendo, vai falando.
Não houve uma situação em que vocês falaram “isso não”?
Já. E a gente não fez.

Na conversa com a Folha, Feliciano afirmou: “Não entendo esses ataques. Eles só mexem com os cristãos porque sabem que somos pacíficos. Por que não mexem com muçulmanos?”. Bem, Porchat respondeu à pergunta de Feliciano, não é mesmo? E vou ter de discordar de ambos — no fim das contas, reparem, eles são mais iguais no pensamento do que ambos gostariam.

Por que não posso concordar com a pergunta-afirmação de Feliciano? Ora, o fato de humoristas não poderem fazer piada com Maomé e Alá não deve servir de argumento definitivo para que não se faça piada também sobre o cristianismo. Fosse assim, a interdição imposta pelos islâmicos relativa à sua religião seria de tal forma poderosa que acabaria se alastrando para as demais religiões. E eu não posso concordar com isso.

Mas a resposta de Fábio Porchat é também inaceitável. O fato de os humoristas, por uma covardia justificada, não fazerem piada sobe o Islã deveria levá-los a uma reflexão: então a violência cultivada por uma religião os empurra para o silêncio, e o reconhecido pacifismo da outra, para a falta de limites — a não ser o da graça? Não é possível! Fosse assim, a tal graça (quando não envolve islâmicos, claro!) seria um valor soberano, superior a todos os outros. Essa fala, ademais, é perigosa porque está a sugerir que, se os cristãos reagissem de forma violenta, eles parariam. Não é um bom modo de pensar.

No dia 8 de março de 2012, dei aqui uma esculhambada em Mark Thompson, que não era um humorista como Porchat e seus amigos, mas diretor-geral da BBC. Hoje, é o chefão do New York Times (já falo sobre este jornal também). E por que ataquei Thompson? Reproduzo parte daquele post (em azul):

O chefe da BBC, Mark Thompson, admitiu que a rede BBC jamais zombaria de Maomé como zomba de Jesus. Ele justificou a espantosa confissão de preconceito religioso dando a entender que zombar de Maomé teria o mesmo peso emocional da pornografia infantil. Mas tudo bem zombar de Jesus porque o cristianismo suporta tudo e tem pouca relação com questões étnicas.
Thompson diz que a BBC jamais teria levado ao ar “Jerry Springer -The Opera” — um polêmico musical que zomba de Jesus — se o alvo fosse Maomé. Eles fez essas declarações numa entrevista para um projeto de pesquisa da Universidade Oxford.
Thompson afirmou: “A questão é que, para um muçulmano, uma representação teatral, especialmente se for cômica ou humilhante, do profeta Maomé tem o peso emocional de uma grotesca peça de pornografia infantil”. O porta-voz da BBC não quis comentar as declarações.
No ano passado, o ex-âncora da BBC Peter Sissons disse que é permitido insultar os cristãos na rede, mas que os muçulmanos não podem ser ofendidos. Sissons, cujas memórias foram publicadas numa série no Daily Mail, afirmou: “O Islã não pode ser atacado sob nenhuma hipótese, mas os cristãos, sim, porque eles não reagem quando são atacados”. O ex-apresentador disse também que os profissionais têm suas respectivas carreiras prejudicadas se não seguem essa orientação da BBC.

Retomo
No dia 16 de março daquele mesmo ano, oito dias depois, registrei post a covardia do New York Times. O jornal publicou um anúncio, que custou US$ 39 mil, que convidava os católicos a abandonar a sua religião, classificando de equivocada a lealdade a uma fé marcada por “duas décadas de escândalos sexuais envolvendo padres, cumplicidade da Igreja, conluio e acobertamento, da base ao topo da hierarquia”. Eis o anúncio.

anúncio contra os católicos

Pois bem. A blogueira Pamela Geller, que comanda a página “Stop Islamization of America”, tentou pagar os mesmos US$ 39 mil para publicar no mesmo New York Times um anúncio convidando os muçulmanos a abandonar a sua religião. O texto afirma: “Junte-se àqueles que, como nós, colocam a humanidade acima dos ensinamentos vingativos, odiosos e violentos do profeta do Islã”. Assim:

anúncio contras o islã

Sabem o que aconteceu? Com a coragem do humorista Fábio Porchat e de seus amigos, o New York Times se negou a publicar o anúncio. Eileen Murphy, porta-voz do NYT, repete a resposta que teria sido enviada a Pamela quando houve a recusa: “Nós não nos negamos a publicar. Decidimos adiar a publicação em razão dos recentes acontecimentos no Afeganistão, como a queima do Corão e o assassinato de civis por um membro das Forças Armadas dos EUA. Acreditamos que a publicação desse anúncio agora poderia pôr em risco os soldados e civis dos EUA, e nós gostaríamos de evitar isso”.

E não se tocou mais no assunto.

Perseguidos
Gregório Duvivier, o melhor ator deles todos, escreveu uma coluna na Folha respondendo com ironia não muito fina ao cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Sherer, que reclamou no Twitter de um dos vídeos do Porta dos Fundos. Duvivier estava bravo mesmo. A empresa de que ele é sócio já fez muitos vídeos esculhambando a religião de que dom Odilo é sacerdote graduado. Mas o humorista não engoliu os 140 toques do bispo reclamando no Twitter. De quem é a intolerância com a crítica? Jogou nas costas do bispo a perseguição a Galileu Galilei, o fato de a Igreja não ordenar mulheres, opor-se ao aborto de fetos de anencéfalos etc. Aí o humorista falava a sério. Uma pena!

Estou certo, e acho que ele faz muito bem, que Duvivier não é do tipo que faria piada com palestinos da Faixa de Gaza, por exemplo — ou com os já citados sírios. Não hoje em dia. Com Maomé, a gente já sabe, nem pensar! Há coisas na Igreja de que, a gente percebe, ele não gosta. Tem esse direito. Como humorista e como pensador. Mas se é pra ter um “papo firmeza”, vamos lá.

Em 2012, pelo menos 105 mil pessoas foram assassinadas no mundo por um único motivo: eram cristãs. O número foi anunciado pelo sociólogo Maximo Introvigne, coordenador do Observatório de Liberdade Religiosa, da Itália. E, como é sabido, isso não gerou indignação, protestos, nada. Segundo a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), 75% dos ataques motivados por intolerância religiosa têm como alvos os… cristãos. Mundo afora, no entanto, o tema quente, o tema da hora — e não é diferente na imprensa brasileira —, é a chamada “islamofobia”, certo?

Se Duvivier quer ir além da piada ideológica, que não tem graça, terá de reconhecer que a igreja que não ordena mulheres é a maior cuidadora do mundo de crianças abandonadas e de mães que trabalham. Também mantém a maior rede de assistência social do mundo. E é a entidade privada que mais financia leitos hospitalares no mundo. Nesta hora, seus missionários estão lá pelos rincões da África, muitos deles protegendo comunidades da fúria de milícias muçulmanas. Em Darfur, mais de 400 mil pessoas foram assassinadas porque eram cristãs. Galileu Galilei? Robespierre matou em dois anos dezenas de vezes mais do que o Santo Ofício em quatro séculos. Eram crimes do Iluminismo?

Atenção!
Nada disso pode impedir, reitero, o “Porta dos Fundos” de fazer humor sobre o que bem entender. Sim, a Constituição protege a liberdade religiosa, conforme se lê no Inciso VI do Artigo 5º:
“VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”.
Não por acaso, já que são questões contíguas, é o mesmo artigo que trata da liberdade de expressão, no Inciso IX:
“IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.
A ele se junta, nas garantias, o Artigo 220:
“Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.
§ 1º – Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.
§ 2º – É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.

O Código Penal, no entanto, estabelece, no Artigo 208:
“Art. 208 – Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso:
Pena – detenção, de um mês a um ano, ou multa.”

O “Porta dos Fundos” faça o que quiser e siga na trilha que achar melhor, mas há uma penca de leis — inclusive aquelas que protegem a honra — que disciplinam aquela liberdade de expressão, que não é, a exemplo de qualquer direito, um bem absoluto. Se o escarnecimento por motivo de crença é considerado crime, é um sinal de que a liberdade de expressão não o abarca; se a calúnia, a injúria e a difamação são crimes, da mesma sorte não estão protegidas por aquele fundamento. O assunto pode, sim, render. E muito!

Começando a caminhar para a conclusão
Já escrevi aqui sobre uma igreja criada nos EUA chamada Westboro Baptist Church. É composta por um bando de malucos liderados por um tal Fred Phelps. Ele teria recebido uma mensagem divina informando que Deus estava castigando as tropas americanas no Iraque e no Afeganistão por causa da… tolerância com o homossexualismo!!! A missão de sua igreja seria anunciar isso ao país. E o que fazia Phelps e seu bando de lunáticos, boa parte gente de sua própria família? Cruzava o país de norte a sul, de costa a costa e, onde houvesse funeral de um soldado, lá estavam eles brandindo cartazes com os seguintes dizeres: “Obrigado, Deus, pelos soldados mortos”, “Obrigado, Deus, pelo 11 de Setembro” e “Você vai para o inferno”. Eles são asquerosos? Não tenho a menor dúvida. A direita americana os despreza. Os liberais (a esquerda de lá) não menos.

Albert Snyder, pai de um fuzileiro naval, processou a Westboro. Numa primeira instância, a Justiça lhe concedeu uma indenização de US$ 11 milhões, reduzida depois a U$ 5 milhões. O caso foi parar na Suprema Corte. Atenção! Por 8 votos a 1, os juízes decidiram que a Primeira Emenda garante à canalhada o direito de dizer o que diz. Se bem se lembram, a Primeira Emenda é aquela que proíbe o Congresso até de legislar sobre matéria que diga respeito à liberdade de expressão e à liberdade religiosa. Para quem se interessar, a íntegra da sentença está aqui.

Também em relação aos vídeos do “Porta dos Fundos”, que deixaram de me interessar, faço minhas as palavras o economista Walter Williams, um ultraliberal negro, em entrevista à VEJA:
“É fácil defender a liberdade de expressão quando as pessoas estão dizendo coisas que julgamos positivas e sensatas, mas nosso compromisso com a liberdade de expressão só é realmente posto à prova quando diante de pessoas que dizem coisas que consideramos absolutamente repulsivas”.

Quando fui contratado para ser colunista da Folha, enfrentei uma canalha, inclusive da imprensa e do humor, que passou a defender uma forma de linchamento moral e de censura. Eu não quero censurar ninguém, ainda que certas coisas possam ser repulsivas.

E agora vou concluir mesmo
Dei uma olhada no tal vídeo de Natal, o que mais está gerando polêmica. Há lá uma tentativa de graça com os cravos fincados nas mãos de Jesus Cristo, representado por Gregório Duvivier. É engraçado? Huuummm… Tem gente que já vem equipada de fábrica com todos os antidepressivos, certo? Processar o “Porta dos Fundos” por aquilo? Eu não o faria. Mas compreendo que os cristãos se sintam ofendidos.

Como se ofenderiam os jornalistas, acho, e qualquer pessoa decente, se fizessem uma graça com Tim Lopes, colocando-o numa pira de pneus (o micro-ondas), com alguém indagando: “E aí, está quentinho?”. Ou, sei lá, se aparecessem humoristas para fazer piadas — vou citar dois assassinos — com Carlos Lamarca ou com Carlos Marighella, ali, na hora final. Acho que seriam chamados de “fascistas”, de “direitistas”, de “reacionários”. Mais: alguém logo escreveria um artigo apontando a, como é mesmo?, “guinada à direita” do humor.

Walter Williams de novo: “A liberdade de expressão só é realmente posta à prova quando diante de pessoas que dizem coisas que consideramos absolutamente repulsivas”.

Por mim, o “Porta dos Fundos” segue fazendo o que vem fazendo, seja lá o que for. Não me interessa mais faz tempo. Quem não gostar que não veja. Eu continuo com São Paulo: “Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém. Tudo me é permitido, mas eu de nada (nem se ninguém) serei escravo”. Os rapazes do site têm o direito de ser escravos dos próprios preconceitos. Enquanto for um bom negócio, mudar por quê? Só não vale reclamar e acusar os cristãos de autoritários. Eles também têm o direito de dizer o que pensam e, se acharem que é o caso, de apresentar petições ao Poder Público. Trata-se de um dos pilares da democracia.

Por Reinaldo Azevedo

 

Religiões afros, orientalismos e cristianismo… Onde estão os oprimidos da Terra?

Leitores apontam que o chamado novo humor brasileiro, bem mais ideológico, no mau sentido, do que o de gerações anteriores também não faz piadas com religiões de origem africana ou com o budismo. É verdade. Os orientalismos estão entre hábitos de consumo de certa classe média com aspirações à ilustração, de onde vem a turma. E os africanismos são uma das expressões do politicamente correto. Transformá-los em alvos do humor seria um desrespeito com o oprimido e uma forma de fazer o jogo do poder.

Então sobra para o cristianismo, com igual virulência contra evangélicos e católicos. Estes são considerados culpados de boa parte dos males do mundo, inclusive a aids, já que “é contra a camisinha”. Sem contar a Inquisição… Bom mesmo era Marat!!! E os evangélicos são tratados como idiotas abduzidos, que não perceberiam que seu pastor não passa de um pilantra. “Ah, mas não existem padres e pastores pilantras, Reinaldo?” Claro que sim! Mas também há jornalistas pilantras, açougueiros pilantras, humoristas pilantras. E, reitero, não quero censurar ninguém. Só não dá para posar de “Soninha Toda Pura” ou de “A Censurada do Leblon” quando há uma reação.

Recorrer à Justiça é, reitero, uma reação democrática. Não pode é sair quebrando, espancando, batendo — práticas com as quais certo humor, é bom notar, tem flertado, ainda que por vias oblíquas. Isso, sim, é, nos valores que propaga, agressão à democracia. Recorrer a um Poder da República, nos marcos do Estado de Direito, é parte das regras do jogo.

Mas me desviei um pouco. No meu longo texto, demonstro que, se os humoristas preservam aqueles que julgam oprimidos, então preservem o cristianismo, ora, hoje a mais oprimida das religiões, seja na denominação católica, seja num dos muitos ramos do protestantismo. Mais de 100 mil pessoas são assassinadas por ano por causa de sua confissão religiosa. Parece pouco? Inspira o gosto de alguém pela piada?

Mas atenção! Eu sou Tocqueville: os males da liberdade se curam com mais liberdade — garantidas as premissas que permitem o exercício do direito. A piada é livre. O direito de reagir — na forma já definida aqui como sensata — também.

Há quem ache que Cristo era um banana? Que diga! O que não é possível é sair gritando “censura!” e reagir como se tivesse havido uma agressão à santidade quando alguém diz que banana é o humorista — ou jornalista, incluindo o autor deste post.

Por Reinaldo Azevedo

 

Parece que há pessoas que não se conformam com a democracia…

Sei o que escrevi sobre o “Porta dos Fundos”, e os que leem o que está escrito, confiando, como confio, no sentido das palavras, entenderam muito bem: que esse grupo — e outros quaisquer — sejam livres para pôr no ar o que lhes der na telha. Nenhuma forma de censura é aceitável. Eu, Reinaldo, me alimento da mesma liberdade que defendo para eles. É inútil tentar me atribuir o que não penso.

O meu ponto é outro — e não dá para viver a democracia pela metade: há aqueles que se sentem atingidos pelo conteúdo que nossa liberdade nos permite tornar público. E, nesse caso, o direito de reclamar e de recorrer à Justiça tem a mesma grandeza e a mesma qualidade institucional da liberdade de expressão. Nem mais nem menos. Que jurista, pensador ou filósofo se habilita a defender o contrário? 

Eu me insurgi foi contra uma gritaria cretina, ignorante, juridicamente desorientada, visceralmente antidemocrática, que procurou associar à censura o apelo ao Ministério Público. Aí não dá! Sem contar que tanto o MP como a Justiça (a depender do ponto que atinja a reclamação) podem simplesmente dizer “não” aos postulantes.

Desculpem-me os inconformados, mas eu lido com lógica. Sem ela, a gente termina no buraco. Digamos que um desses entes rejeite a pretensão dos reclamantes. Não faltará quem diga: “Ah, fez-se justiça!” — logo, o pressuposto dessa conclusão é o de que aquele órgão era legítimo para decidir com isenção. Se, no entanto, fizer o contrário, então a sua legitimidade se esvairia? Ou por outra: legítimo é tudo aquilo com o que concordo, e ilegítimo, tudo o de que discordo? Que diabo de mundo é esse?

“Ah, o único limite do humor é ter ou não ter graça…” Já discuti o mérito dessa frase naquele post quilométrico — sim, lido por muita gente; a incompatibilidade entre texto longo e Internet é um mito que este blog desmoralizou faz tempo. Fosse assim, o humor seria um valor soberano, e seríamos governados por piadistas tiranos. O fato de uma piada sem graça ser indesculpável não põe as engraçadas de tal sorte acima de quaisquer outros valores que todos os outros bens protegidos pela ordem legal sejam seus subordinados. Isso não existe. Há, sim, outros limites, e eles não são estabelecidos necessariamente em lei.

Os ética e moralmente alfabetizados entenderam o que lhes passou por óbvio: defendi que tanto o “Porta dos Fundos” como os que se sentiram atingidos por suas sátiras se manifestem — nos limites das prerrogativas que lhes confere a ordem democrática. A rigor, esse deveria ser um não assunto.

Por Reinaldo Azevedo

 

De novo, Porta dos Fundos – Um vermelho-e-azul com um leitor que discorda de mim e acusa o “fascismo envergonhado dos ofendidos”

Um leitor chamado Guto Luz me manda um texto gigantesco contestando o que escrevi sobre o Porta dos Fundos e o direito que têm os cristãos de recorrer à Justiça. Argumenta bem e perigosamente. Atenção: eu escrevi “bem” E “perigosamente”. São advérbios coordenados. Eu NÃO disse que argumenta “perigosamente” PORQUE “bem”. Segue o que ele escreve em vermelho. Respondo em azul.

*

Reinaldo, neste artigo, diferentemente de quase tudo o que v. escreve, v. me pareceu desprovido de paixão, quase envergonhado. Pareceu-me, por um lado, preso ao imperativo de ter que defender a imprescindível e inegociável liberdade de expressão, por outro tateando nas entrelinhas para passar uma mensagem que flerta com o lado oposto. Daí, a coisa toda ficou parecendo contorcionismo na corda bamba!
Bem, acho que você falhou na investigação da minha psique, mas não tenho como demovê-lo. O meu texto é claro como a luz do dia:
a: o Porta dos Fundos faça o que quiser;
b: os cristãos têm o direito de protestar e de recorrer à Justiça;
c: eu critiquei aqueles que estavam pondo em questão esse direito, protegido pela Constituição. O resto, com todo o respeito, é psicologização barata.

Dá pra perceber que você faz um esforço danado para não dar a entender que não respeita o princípio da liberdade de expressão, mas ao mesmo tempo que está buscando achar um jeito de tentar justificar essa coisa absurda e perigosa (e que é de fato uma posição essencialmente política) de que religião é uma coisa que tem (ou merece ter) esse status de coisa “sagrada”, incriticável.
Devagar com as palavras! A religião é um fenômeno social que lida com o sagrado. O “sagrado” é um domínio da vida em sociedade que pode ser compreendido também pelos não-crentes. Sim, é uma realidade igualmente política, que assume a dimensão de resistência em muitos lugares. O cristianismo, aliás, tem uma bela história no capítulo das resistências — ainda que os detratores pretendam o contrário. Aí é preciso estudar um pouco.

Ocorre que você lê coisas que não estão no texto, mas apenas em seus preconceitos. Aponte uma única linha que sugira que a religião não pode ser submetida ao humor, ao debate, o que seja. Eu apenas lembrei que existem medidas — porque há medida em tudo. Quem as ultrapassa submete-se às reações dos ofendidos. É simples.

O que você pretende? Gostaria de ver aprovada uma lei que impedisse os cristãos de reagir DENTRO DAS NORMAS DA DEMOCRACIA? “De hoje em diante, os crentes ficam proibidos de tentar processar os humoristas…” Ora, Guto, tenha paciência! Eu sou cristão, e nada daquilo me ofendeu. Quando comecei a achar o troço burro, sem graça, feito só para “causar”, parei de visitar o site. Mas eu não me coloco como exemplo de nada.

Ora, as religiões sempre tiveram muito mais respeito do que fizeram por merecer. São as únicas ideologias do planeta que ainda insistem em usar a carta marcada do “estamos ofendidos” para tentar calar as vozes críticas. Isso quando não recorrem a métodos mais explícitos e brutais de supressão da opinião divergente.
Releia a sua primeira fase desse parágrafo. É só juízo de valor, sem história. Os cristãos de Darfur merecem ainda menos respeito do que lhes dispensam as milícias muçulmanas? Como? Só as religiões dizem “estamos ofendidos”??? Você só pode estar brincando. Supostas minorias organizada, hoje, na Internet, policiam tudo. E recorrem à Justiça. Eu mesmo sou crítico desses movimentos, mas você nunca me viu aqui a dizer que eles não têm o direito de protestar. Direito tem; se a Justiça vai ceder, ai é outra coisa. No Brasil, a que outros “métodos mais explícitos e brutais de supressão da opinião divergente” recorrem os cristãos? Não conheço nenhum. Você poderia apontar, por favor? Mas eu posso lhe dizer os métodos a que recorrem, por exemplo, os muçulmanos para matar 100 mil cristãos por ano.

Sugiro a você alguns experimentos mentais: (a) Imagine um defensor do livre mercado dizendo em público: ‘o ideário socialista é imbecil, assassino’. Isso pode ser considerado desrespeito aos socialistas ou é a livre exposição de ideias?
Não com essas palavras, mas com este conteúdo, eu já escrevi muitas vezes que o ideário socialista é imbecil e assassino. Se algum socialista quiser me processar por isso, que fique à vontade. Jamais vou questionar o seu direito de fazê-lo.

(b) “Num debate acadêmico, o proponente do modelo A diz para o defensor do modelo B: ‘sua teoria é ridícula’”. Algum professor ofendido?
Certamente haverá algum professor ofendido. Direito de tentar a Justiça, ele tem. Não recomendo, no entanto, que o faça.

(c)“Na TV, o proponente do “novo paradigma na psicologia” afirma que os ‘psicanalistas são parasitas de seus pacientes’”. Um psicanalista pode tomar isso como ofensa pessoal? Se em todos os casos acima, cada uma das partes tem o direito de expressar suas ideias livremente e não imagino ninguém querendo processar ninguém por causa disso, por que os casos envolvendo religião deveriam ser tratados de forma diferente?
No campo da psicologia, isso acontece, mas, digamos, “do outro lado”. Nunca existiu , por exemplo, um projeto de cura gay no Brasil. Isso é uma fraude escandalosa. Todo o debate se deu em razão de um trecho de uma resolução do Conselho Federal de Psicologia que patrulha o trabalho do psicólogo no consultório e pode cassar o seu registro se achar que ele não age conforme. Não existe nada igual em nenhum lugar do mundo. Mas tenho a impressão de que você concorda com aquele texto…

Por que podemos aceitar tranquilamente que alguém possa dizer que socialismo – por exemplo – é uma ideologia para “idiotas” e “canalhas”, mas ninguém pode dizer o mesmo sobre o Cristianismo?
Que disse que não pode? Pode.

Para mim, seu texto falha principalmente quando pretende desviar a atenção do leitor para espantalhos, no caso, toda essa discussão sobre a suposta falta de coragem para criticar o Islã ou a postura do NY Times nesse ou naquele caso. Cortina de fumaça. Se o Cristianismo É a ideologia predominante por aqui, qual seria o sentido de fazer humor sobre o Islã no Brasil? Nada mais inócuo. Rir da burca, pra nós, não tem qualquer implicação política ou social. Portanto, que o Porta dos Fundos não se ocupe disso não é questão de covardia, mas de contexto.
Em primeiro lugar, no trecho em questão, eu comentava o conteúdo de uma entrevista concedida por um dos membros do Porta dos Fundos — e citei posturas semelhantes da BBC e do NYT. A questão ilustrava uma debate de fundo: “Qual é o limite do humor?” A gente entende daquela fala que o limite é a preservação da segurança física do humorista. Bem, reservo-me o direito de não concordar com isso. Em segundo lugar, “cristianismo” não é ideologia — embora tenha viés ideológico. No Brasil e no mundo, cristianismo, em si, não é projeto de poder. Nem o Feliciano, para citar este que foi transformado em espantalho, defende uma sociedade teocrática. Como? “Rir da burca, para nós, não tem qualquer implicação etc?” Deixe-me ver se entendi: nos países islâmicos, jamais haverá humor com a religião — ou debate de qualquer outra natureza. Não pode. Fora de lá, não faz sentido o questionamento porque, afinal, não existem as tais implicações. Logo, o Islã brilha acima de qualquer questionamento. Já o cristianismo oferece a carne barata às milícias islâmicas da África e do Oriente Médio e fica submetido, no Ocidente — já que seus partidários são pacíficos —, a ataques bucéfalos, ignorantes, dos ateus que são muito corajosos para pregar a morte de Deus onde isso é permitido. Ora… MAS ATENÇÃO! QUE CONTINUEM A FAZÊ-LO. Só não venham você e qualquer outro defender que o simples ato de recorrer à Justiça ou ao Ministério Público caracteriza fascismo. De resto, não sei se entendi direito, mas me pareceu que você considera que só valores dominantes podem ser submetidos ao humor, é isso?

Em segundo lugar, religião é hoje 100% política.
Preconceito e juízo de valor. Mas ainda que fosse… E daí?

Ou alguém por aqui vai ter a hipocrisia de dizer que a “bancada evangélica” não é uma força política ou que nunca ouviu falar da “cura gay”?
E daí? Em certa medida aristotélica, tudo é política. Acho que já falei sobre a “cura gey”, o projeto que nunca existiu.

Grande parte da canalhice deste planeta hoje, se esconde atrás de alguma religião, o último tabu.
Quanta bobagem, Guto! Aí não tenho como evitar: vá se instruir a respeito. O comunismo matou uns 150 milhões no século passado. Religião? O nazi-fascismo, guerras à parte, aos menos uns 10 milhões. Religião? Dois anos de Terror, na Revolução Francesa, mataram mais do que quatro séculos de Santa Inquisição. Religião? As mortes decorrentes de credo religioso, hoje em dia — é fato, não especulação — estão relacionadas ao Islã: muçulmanos contra cristãos e muçulmanos contra muçulmanos. É aquela religião que, segundo as suas escolhas, fica livre de qualquer abordagem crítica.

Estou enganado?
Está enganado.

Diga o contrário, me chame de imbecil se quiser, mas não dá pra tentar justificar o fascismo envergonhado dos “ofendidos”. Eles têm direito ao sentimento e o direito de manifestar suas discordâncias da forma que bem entenderem. Mas, definitivamente não têm o direito de calar quem pensa diferente.
Não o chamo de imbecil. Só de autoritário. “Fascismo envergonhado dos ofendidos”? Eis uma frase que ficaria bem na boca do Stálin, quando ele mandou passar fogo nos camponeses da URSS… Ou na boca de Mao Tse-Tung ao matar 70 milhões. Como se sabe, Deus estava morto nesses regimes. Ademais, quem está advogando o direito dos cristãos de “calar quem pensa diferente”? Você é que está chamando de fascista quem decide recorrer a prerrogativas democráticas.

Quem apoia a censura à liberdade de expressão em nome da religião, compartilha a visão de mundo dos déspotas que estão no poder na Arábia Saudita, no Irã, na Coreia do Norte.
A Coreia do Norte è um regime ateu. Mas fiquei curioso: apoiar a censura em nome de uma religião é feio, certo. E eu concordo. E em nome de algum outro valor como, digamos, a “justiça social”? Aí dirá alguém, não o Guto, um rapaz esperto: “Ah, mas quem vai ser contra a justiça social?” É verdade! Mas espere: quem define o conteúdo do que seja “justiça social”? Uma ONG? Um partido? O governo? Mais uma, Guto: o que você acha da censura em nome dos direitos humanos? Aí dirá alguém, não o Guto, um rapaz esperto: “Ah, mas quem vai ser contra os direitos humanos?” Mas esperm: quem define o conteúdo do que seja “justiça social”? Uma ONG? Um partido? O governo petista tentou, no tal Plano Nacional de Direitos Humanos, censurar a imprensa em nome desses nobres valores. Sim, estamos de acordo: tentar a censura em nome da religião é condenável — e eu condeno também. E em nome de valores ditos laicos, progressistas?

E quem se sente envergonhado de se ver do lado do Feliciano, deveria pensar melhor e decidir de que lado do muro se deseja ficar.
Formulação fascistoide: “Ou está comigo ou está contra mim. Ou sai por aí tentando linchar o Feliciano, como nós fazemos, ou, então, ficará ao lado dele”. Uma ova, meu rapaz! Uma ova! Foi assim que o Robespierre impôs o terror na França. Foi assim que o Mao Tse-Tung fez a sua “revolução cultural”. Eu nunca concordei com o Feliciano em absolutamente nada. Tenho dezenas de textos a respeito. Mas chamei de autoritária a gritaria para tentar arrancá-lo de uma comissão, aonde chegou segundo as regras da democracia. Tem mais, Guto: você jamais vai me ver a endossar uma bobagem porque dita por uma sumidade ou a censurar uma coisa certa porque dita por alguém de quem discordo.

A propósito, dar a esse artigo 208 do Código Penal a interpretação pretendida pelo Sr. Marcos Feliciano seria de um absurdo sem precedentes numa democracia moderna e num estado laico.
Ao artigo 208, então:
“Art. 208 – Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso:Pena – detenção, de um mês a um ano, ou multa.”
Argumente mais.

Uma coisa é invadir um local de culto, zombar de um indivíduo em particular em circunstâncias em que sua privacidade precisa ser defendida. Outra completamente diferente é dizer que um grupo de humoristas não pode, num canal privado disponível para o público (e que, portanto, assiste quem quer), satirizar ou criticar abertamente a religião dominante no país. De fato, citando Walter Williams novamente para que não reste dúvidas, “a liberdade de expressão só é realmente posta à prova quando diante de pessoas que dizem coisas que consideramos absolutamente repulsivas”.
Perdão! Esse argumento é meu. Num texto em que digo que não processaria ninguém. Mais: quem leu direito percebeu que entendo que existem mecanismos bem mais efetivos para que os cristãos se façam ouvir. Há muitas diferenças entre nós, Guto, mas, no caso em espécie, a fundamental é a seguinte: você acha que a religião se situa em algum lugar entre a bobagem, a manipulação e a estupidez; e eu acho que não. Porque acha que os religiosos são tolos, manipuladores e estúpidos, chama de fascistas os que recorrem a leis democráticas para se fazer ouvir; eu, obviamente, discordo. E, creio, mas não posso asseverar, você acredita que, a depender do valor que se tente preservar, a censura é até aceitável. E eu penso que ela é inaceitável em qualquer caso, desde que se assegure àqueles que se sentiram ofendidos o direito de reagir — nos limites da democracia.

É o que estão fazendo alguns cristãos. Por que a gritaria? É, Guto… Eu entendo que a minha opinião deixe muita gente irritada. Seria mais fácil me apontar: “Lá vai aquele troglodita que quer a censura”. Não! Eu não quero! O máximo que dá para dizer é: “Lá vai aquele cara que sustenta que, na democracia, existe o direito de fazer rir, de rir e de ficar zangado. Mais: ele disse também que a democracia oferece canais de expressão para todos eles”.

Ademais, para encerrar, meu caro Guto, o humor, como a religião, também é política, não? Qual é o seu problema com os embates políticos? Ele só existe com vozes ativas. Ou se deve calar um dos lados — porque “fascista”, segundo você — para que o outro exiba a sua superioridade democrática e tolerante?

Ora…

Por Reinaldo Azevedo

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Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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