Entre caras de pau e pessimistas, por Carlos Alberto Sardenberg
Janet Yellen não cai na categoria "cara de pau", mas não escapa do grupo dos "pessimistas do fim do mundo"- conforme a classificação feita pela presidente Dilma na festa do PT na última segunda. Presidente do Fed, o banco central dos EUA, Yellen colocou o Brasil entre os cinco emergentes mais frágeis neste processo de mudança do cenário global. Mas não se meteu em política interna brasileira, nem sugeriu mudanças.
A categoria "cara de pau" se aplica mais a brasileiros, diretamente a políticos e especificamente ao governador de Pernambuco e pré-candidato a presidente, Eduardo Campos. Foi ele quem disse: o velho pacto político do PT já mofou e está na hora do Brasil iniciar um novo ciclo.
Também é "cara de pau" o empresário Pedro Passos, sócio da Natura, que deu entrevista dizendo com todas as letras: "é preciso reconhecer que o modelo se esgotou e que precisamos lançar outro". Mas Passos está associado a Marina Silva e, portanto, é classificado como "eleitoreiro".
A categoria "cara de pau", portanto, tem um propósito politico, enquanto a dos "pessimistas do fim do mundo" se aplica mais a economistas em geral, nacionais e estrangeiros. Caem nela todos aqueles que apontam desequilíbrios crescentes no Brasil.
Mas "cara de pau" cabe também a muitos economistas que, embora sem anunciar fim do ciclo político, entendem que, sim, um ciclo de política econômica terminou e é preciso fazer reformas profundas para sair da armadilha do baixo crescimento.
Delfim Netto, por exemplo, embora amigo do Planalto e embora faça questão de ressalvar que o Brasil está longe do fim do mundo, acaba classificado entre "cara de pau" e "pessimista". Pode ser embaraçoso, mas é ali que o coloca a tese exposta em recente artigo para o Valor. A seguinte: estamos num fim de ciclo na economia mundial e especialmente para os emergentes, isso apanhando o Brasil com três desequilíbrios importantes e crescentes, a saber, dívida pública elevada, inflação alta e persistente e déficit nas contas externas "longe de ser saudável".
Ora, esses são justamente os três fundamentos macroeconômicos que Dilma considera "sólidos", de uma solidez tão evidente que só não vê quem é cara de pau ou quer jogar o Brasil no fim do mundo. O ataque se dirige, claro, aos economistas considerados de oposição militante, mas atinge mesmo aqueles que estão longe da hostilidade ao governo Dilma e até acreditaram que ele poderia ter êxito.
Yoshiaki Nakano, por exemplo, também escreveu no Valor que se esgotou o ciclo da bonança externa (que propiciou o salto nas exportações de primários), que essa bonança não foi bem aproveitada - muito consumo e pouco investimento - e que, logo, já está passando a hora de "vigorosas reformas".
E para não ficar apenas nos nacionais, acrescente-se aos "pessimistas do fim do mundo" o americano Dani Rodrik, que é, por assim dizer, um amigo dos emergentes. Pois ele está dizendo que os emergentes, depois de terem sido empurrados montanha russa acima, estão na iminência da descida. E o Brasil está no primeiro banco.
O chamado mercado diz a mesma coisa a seu jeito: a bolsa brasileira foi a que mais caiu entre os emergentes, o risco Brasil subiu e o real desvalorizou.
O leitor e a leitora podem encontrar muitos outros exemplos pelo noticiário local e internacional. Perceberão que o número de pessimistas e caras de pau é crescente. E que, no exterior, a má vontade em relação ao Brasil é maior do que sugerem os fatos.
Na verdade, é exagerado dizer que o Brasil é o segundo pior dos emergentes, ficando apenas atrás da Turquia. A macroeconomia e a política mostram que o Brasil está menos vulnerável que Índia e África do Sul, para ficar nos Brics, e sequer se compara aos desastres de Argentina e Venezuela.
Mais importante: graças ao consistente arcabouço de macroeconomia construído desde a introdução do Real, o governo brasileiro tem instrumentos mais eficientes para agir e corrigir os desequilíbrios. O pessoal reconhece isso. Não está aí a má vontade. Está em outro lado: caras de pau e pessimistas desconfiam que Dilma, cuja administração enfraqueceu os fundamentos, não vai reconhecer erros e fazer mudanças.
Dentro do governo, alguns dizem que a presidente sabe que seu modelo não funcionou e vai mudar. Mas não vai reconhecer isso.
Aí fica difícil, não é mesmo? Política é confiança. Sem direção clara, o pessoal não embarca. Aliás, para Dilma, os críticos embarcaram, mas foi para o fim do mundo e "isso faz tempo". Parece que só ela está no começo dos tempos. Começo de que?
(Carlos Alberto Sardenberg)
‘A patrulha dos donos da verdade’, por Carlos Brickmann
Publicado no Observatório da Imprensa
CARLOS BRICKMANN
Raquel Scheherazade, a polêmica âncora do SBT, está no alvo das patrulhas bem-pensantes por ter expressado sua opinião. Um parlamentar quer que o Ministério Público a processe, vários patrulheiros de Internet a insultam pesadamente, um deles chegou a dizer que ela não tem nada de manifestar opinião ─ basta ler as notícias e pronto.
Qual o crime de Raquel Scheherazade? O pecado original, acredita este colunista, é ter opinião própria, opinião esta que não coincide com as posições “Lula é o maior estadista da História” e “Dilma está sempre certa, mesmo que esteja errada”, obrigatórias entre os patrulheiros bem-pensantes. Depois vêm os pecados propriamente ditos: Raquel, explosiva e direta, comenta ao vivo, com os inevitáveis erros da TV ao vivo e com os exageros de quem acaba de assistir a uma notícia que a deixou indignada. No caso atual, Raquel Scheherazade, comentando a cena horrorosa do garoto preso a um poste pelo pescoço, com um cadeado de pendurar bicicletas, disse uma série de barbaridades, em apoio ao ato desumano, sugerindo até que quem fosse contrário à sua opinião aproveitasse a oportunidade e levasse para casa algum delinquente, para cuidar dele como acha que as autoridades deveriam cuidá-lo. Este colunista está do outro lado. E o próprio SBT informou que as opiniões de Raquel Scheherazade são dela, não da emissora ─ o que é um excelente sinal, de que a rede, como nos tempos de Bóris Casoy, não interfere na opinião de seus principais âncoras.
Apologia ao crime? Não, não foi: este colunista (que, como já disse, se opõe ao pensamento da âncora neste caso) acredita que houve exagero, provocado pela indignação de assistir ao incessante desfile dos que defendem os pobres coitados que cometem crimes e condenam os excessos dos que se opõem a eles.
Um deputado do PSOL, indignadíssimo, quer que o Ministério Público processe Raquel Scheherazade pelos comentários que fez. O mesmo parlamentar, entretanto, silenciou há poucas semanas, quando um cavalheiro que não concorda com as ideias da âncora do SBT propôs que ela fosse estuprada. Ele silenciou; muita gente silenciou com ele ─ inclusive uma das principais líderes femininas do PSOL, a gaúcha Luciana Genro, de quem se esperaria o protesto contra a apologia do estupro.
Há quem acredite que parte da guerra contra Raquel Scheherazade se deva a ser mulher e jovem ─ quem esta pirralha pensa que é para ter opinião? Este colunista discorda: ela é atacada por pensar diferente dos patrulheiros e ter a coragem de expor sua opinião ao vivo, de forma contundente, muitas vezes contundente a ponto de ferir os sentimentos de quem não concorda com ela.
Acontece que, nos tempos em que o comunismo era revolucionário e a esquerda radical estudava e lutava, em vez de procurar emprego em órgãos públicos, uma das brilhantes ativistas e pensadoras marxistas, Rosa Luxemburgo, deu uma definição impecável de liberdade, válida naquela época, válida hoje, válida sempre: “A Liberdade é quase sempre, exclusivamente, a liberdade de quem pensa diferente de nós.” Discordar de Raquel Scheherazade, trocar de canal quando ela aparece, enviar cartas de protesto, desde que respeitosas, em linguagem civilizada, perfeito; tentar fazer com que ela perca o emprego ou seja processada por atrever-se a discordar da opinião de um grupo é fascismo.
Como diria Mao Tsé-tung algumas dezenas de anos após a frase irretocável de Rosa Luxemburgo, “deixai crescer as cem flores”. Não sufoquemos o debate.
Tags: Carlos Brickmann, Observatório da imprensa, PSOL, Raquel Scherazade,SBT
Especialista em segurança adverte para a facilidade de acesso a armas como a que matou Santiago. Imagina na Copa
BRANCA NUNES
A lista com possíveis problemas ligados à Copa do Mundo no Brasil anexou mais um item nesta semana, depois da morte do cinegrafista Santiago Ilídio Andrade, de 49 anos, atingido por um artefato explosivo enquanto cobria as manifestações contra o aumento das tarifas de ônibus no Rio de Janeiro. Além dos já conhecidos atrasos nas obras dos estádios de futebol, da falência dos transportes públicos e da insegurança generalizada ─ fora o resto ─ a facilidade de acesso a artefatos explosivos letais tornou-se um fato dramaticamente palpável.
Ao analisar as imagens de TV que registram o momento em que Santiago foi atingido, Ricardo Chilelli, especialista em segurança, afirma que o artefato explosivo usado foi produzido de maneira ilegal ou caseira. Diretor-presidente da RCI First Security and Intelligence Advising, empresa de segurança privada sediada nos Estados Unidos que atua em 18 países, Chilelli considera pouco provável que o tipo de arma seja um fogo de artifício legalizado, embora ressalve que a palavra final só poderá ser dada depois do laudo pericial.
“Houve quem tenha levantado a hipótese de ter sido utilizado um rojão de vara, que chega a atingir 60 metros de altura, ou sua versão clandestina, o treme terra, com uma propulsão de 100 metros”, observa Chilelli. “Essa hipótese é falha por três aspectos. Primeiro, porque esse rojão, quando aceso sem a vara, muda de posição com facilidade e provavelmente teria girado em falso antes de explodir. Segundo, como foi colocado no chão, ele encontraria um obstáculo que o impulsionaria para cima num ângulo mais inclinado. Terceiro, a explosão de um rojão desse tipo é seca e gera uma fumaça branca, não cria fagulhas”.
O trajeto da ilegalidade - Segundo um mapeamento feito pela RCI First, o caminho desses artefatos explosivos começa no sul de Minas Gerais e no interior da Bahia, onde se concentra a maior parte das fábricas de fogos de artifício do país. Legalizadas, as empresas mineiras são as grandes fornecedoras de pólvora branca, clorato de potássio e perclorato de potássio que, desviados por funcionários corruptos, acabam caindo nas mãos de fabricantes clandestinos e artesanais. Já na Bahia, para cada fábrica legalizada existem três ilegais. Justamente por isso os produtos são de baixa qualidade e as exportações para o resto do Brasil limitam-se à pólvora negra, de menor poder destrutivo.
Parte desses produtos desviados vai para fabricantes clandestinos especializados em fogos para baloeiros. Outros são usados em artefatos caseiros. Segundo Chilelli, a periferia de São Paulo abriga mais de 80 dessas lojas ilegais. Em 20% das legalizadas, é possível comprar material ilícito. No Rio de Janeiro existem 55 lojas clandestinas ─ e 23% das empresas legais vendem produtos por baixo do pano. Mais de 95% desse material vêm da Bahia e do sul de Minas.
“Para fazer os artefatos encontrados com torcidas organizadas são usados, por exemplo, tubos de PVC, gomos de taquara e bolas de snooker ocas”, explica Chilelli. “É possível causar grandes estragos misturando clorato de potássio a outros ingrediente simples. A própria loja ensina a fabricar ou entrega o produto pronto. Também é fácil encontrar a receita na internet”.
Em uma página do Facebook, por exemplo, há não só a receita de uma bomba caseira, como dicas de onde conseguir os ingredientes: cano de PVC, pavio de bombinha ou de rojão, pavio cordão, pólvora explosiva, fita isolante, fita silvertape, cola e durepox ou massa de vidro estão entre os materiais.
Copa do Mundo - “Existe uma preocupação crescente das agências de inteligência internacionais com o que está acontecendo no Brasil, principalmente com a aproximação da Copa do Mundo e das Olimpíadas”, conta Chilelli. “Está cada vez mais fácil o acesso a armas, munição e explosivos”. O especialista em segurança chama a atenção para a extensão e vulnerabilidade da fronteira brasileira e para as particularidades dos países vizinhos. “Explosivos militares, como o C4, são facilmente encontrados no Paraguai, na Venezuela e no Suriname”, revela. “Nossa sorte é que a bandidagem brasileira não sabe manuseá-los”.
O explosivo mais comum usado pelos criminosos brasileiros é o nitrato de amônia ─ TNT em gel. Embora seja de uso restrito, parte do TNT utilizado por empresas de construção civil ou em pedreiras é desviado pelos próprios funcionários e acaba caindo nas mãos de bandidos. Primeiro, serviam para estourar muros de presídios e paredes de delegacias. Hoje, são bastante comuns na explosão de caixas eletrônicos ─ crime que, apesar de absurdo, passou a ser tratado como banal.
Na fabricação de artefatos clandestinos ou caseiros, o clorato de potássio é um dos preferidos. Há alguns anos, entraram nos campos de futebol empunhados por membros de torcidas organizadas. Agora, chegaram às manifestações de rua. “O que as agências de inteligência questionam é: se um zé mané qualquer consegue o material necessário para fabricar um explosivo da potência do que matou Santiago, imagina do que são capazes os bandidos? Imagina na Copa”.
Chilelli é especialmente enfático ao salientar que as manifestações são um sinônimo de democracia, mas observa que a infiltração de black blocs e de determinados grupos políticos transformou o caráter pacífico e apartidário que elas tinham no começo. “É preciso garantir o direito aos protestos, mas é uma atitude equivocada desarmar o policial ou retirar a tropa de choque da rua nessas ocasiões. A polícia passa uma sensação de segurança para o cidadão de bem e para o manifestante que está lá pacificamente”. O uso responsável de armamento não letal e a capacitação dos agentes de segurança para atuar em situações semelhantes são imprescindíveis para que não se repitam casos como os de Santiago ou do fotógrafo Sérgio Silva, que ficou cego de um olho depois de ser atingido por uma bala de borracha.
Nesta quarta-feira, o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, entregou no Senado Federal uma proposta de projeto de lei para tipificar o crime de desordem e tentar inibir a violência durante as manifestações. Entre as definições do crime está “praticar ato que possa causar desordem em lugar público ou acessível ao público, agredindo ou cometendo qualquer ato de violência física ou grave ameaça à pessoa, destruindo, danificando deteriorando ou inutilizando bem público ou particular”. De acordo com Beltrame, um dos pontos previstos no projeto é a proibição de pessoas mascaradas em protestos.
A proibição a máscaras faz todo sentido. Embora já houvesse indícios de que os chamados black blocs carregavam artefatos explosivos caseiros e clandestinos, até a morte de Santiago não havia uma prova concreta. Segundo Chilelli, no Rio de Janeiro, de cada dez pessoas flagradas com armas brancas (facas e estiletes), coquetel molotov , tacos de basebol com pregos na ponta, ou fogos de artifício legais, sete estão com rostos cobertos. Em São Paulo o número sobe para oito.
Tags: artefato explosivo, Copa do Mundo, fogos de artifício, manifestações, RCI First Security and Intelligence Advising, Ricardo Chilelli, Santiago Ilídio Andrade
1 comentário
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Estou com a jornalista Raquel, pois o que ela disse é a mais pura verdade, mas quem diz a verdade hoje no Brasil é perseguido pela DITADURA COMUNISTA DO PT. Deveria existir no Brasil mais jornalista e canais de TV, com coragem para dizer a verdade, sem exagerar,só mostrar ao povo brasileiro a realidade em que vivemos hoje. O QUE É O BRASIL DO RACISMO,TERRORISMO,CORRUPÇÃO E ATOS DE MENTIRAS DESLAVADAS DE POLÍTICOS IMORAIS!!!!!!!