Lepo Lepo e o grito contra o capitalismo, por Rodrigo Constantino

Publicado em 02/03/2014 16:53 e atualizado em 10/03/2020 17:13
por Rodrigo Constantino e Felipe Moura Brasil, blogueiros de veja.com.br

Filosofia políticaLiberdade Econômica

Lepo Lepo e o grito contra o capitalismo

Não sei o que é “Lepo Lepo”, muito menos quem é Márcio Victor. Jamais escutei falar na banda baiana Psirico. Mas reconheço que é ignorância minha. Pelo que vi, fazem um sucesso danado por aí, Brasil afora. Não dá para se manter atualizado em tudo. Há que ser seletivo. Cada um com suas preferências.

Por que, então, resolvo falar de “Lepo Lepo” aqui? Porque notei que tomou as redes sociais uma declaração feita pelo cantor, de que o “Lepo Lepo” seria um “grito contra o capitalismo”. Diz a letra: ‘Eu não tenho carro, não tenho teto e se ficar comigo é porque gosta do meu lepo lepo’.

Mas o que significa o Lepo Lepo, afinal? “É o amor. É uma forma baiana de dizer do meu amor, do meu carinho”, explica o cantor à CARAS Digital. “Acho que cada um vê de um jeito, as crianças veem de um jeito inocente, a turma mais jovem leva para a azaração e tem a turma do lelelê”, diverte-se Márcio. “É uma forma de gritar não ao capitalismo e sim ao amor. Acredito que mulher de verdade prefere o lepo lepo. Tem muita mulher que prefere o dinheiro, bens materiais. No meu caso não tenho nada disso. Comigo é amor, alegria e diversão”,garante o cantor de 34 anos, que está solteiro. “Mas pretendo ter uns 11 filhos”, conta rindo.

Por que gritar não ao capitalismo? Será que o cantor pensa que no capitalismo toda mulher deve ser… interesseira? Será que ele confunde capitalismo com materialismo vulgar? Será que considera capitalismo antagônico ao amor?

Nelson Rodrigues dizia que o dinheiro compra tudo, até o amor verdadeiro. Brincadeira (ou não) à parte, o capitalismo é apenas o modelo que permite ampla liberdade aos indivíduos, donos de suas propriedades, exercendo suas escolhas, suas preferências subjetivas em trocas voluntárias no livre mercado.

No capitalismo, há espaço para tudo, para o amor verdadeiro, e para a prostituição, pois o mercado, nesse aspecto, é amoral. Engana-se quem pensa que no socialismo isso não existe. A capital mundial da prostituição já é Havana, acima de Bangcoc. Os socialistas quiseram acabar com a ganância e o individualismo acabando com a liberdade, a propriedade e o mercado. Geraram apenas miséria e escravidão.

É o capitalismo que permite até mesmo um fenômeno como o “Lepo Lepo” (calma, capitalistas, não joguem pedras no sistema, esse é um preço a se pagar pela liberdade e prosperidade). No capitalismo, você pode comprar músicas de Beethoven, Mozart e Bach por menos de um dólar. E pode, também, comprar “Lepo Lepo”.

O cantor afirma que não tem carro, dinheiro, nada disso, e que espera conquistar a mulherada com seu “Lepo Lepo”, gritando contra o capitalismo. Mas é o capitalismo que vai lhe dar os recursos para que possa comprar carros e ter muito dinheiro com o sucesso da música.

Estivesse ele em Cuba ou na Coreia do Norte, ele nem poderia ter liberdade para produzir uma música dessas, e depois não poderia se apropriar dos benefícios dela se tivesse a permissão. Por essas e outras que Roberto Campos foi tão preciso em seu resumo:

“É divertidíssima a esquizofrenia de nossos artistas e intelectuais de esquerda: admiram o socialismo de Fidel Castro, mas adoram também três coisas que só o capitalismo sabe dar – bons cachês em moeda forte; ausência de censura e consumismo burguês. Trata-se de filhos de Marx numa transa adúltera com a Coca-Cola…” 

E agora, como prova de que o alienado sou eu (e você, leitor), veja que o vídeo do “Lepo Lepo” já teve quase 4,5 milhões de visualizações até agora:

Viva o capitalismo! Mesmo com “Lepo Lepo”…

Rodrigo Constantino

 

CorrupçãoPolítica

O PT compactua com o crime

Fonte: GLOBO

Primeiro: invasores do MST causam tumulto em Brasília, ameaçam invadir – além das propriedades particulares que habitualmente invadem – os prédios públicos onde trabalham políticos e ministros, causam ferimentos em dezenas de policiais, e o que acontece? São recebidos pela própria presidente Dilma no dia seguinte, e o ministro Gilberto Carvalho declara, abertamente, que o governo vai, sim, continuar financiando “eventos” ligados ao MST, que sequer possui CNPJ.

Parêntese: quando o ex-presidente Lula vai a Cuba tratar, além dos problemas venezuelanos e do programa Mais Médicos, dos investimentos na ilha, para alavancar a produção agrícola no país comunista, quem ele leva a tira-colo? Algum lavrador humilde, algum camponês do MST? Nada disso. Leva Blairo Maggi, empresário rico do setor rural. É o reconhecimento, na prática, de que tanto o comunismo como o MST não prestam para produzir riqueza, apenas para chegar ao poder. Fecho parêntese.

Segundo: o governo importa médicos cubanos como se fossem escravos, alguns se rebelam e fogem, outra pede asilo ao Brasil e mostra documento provando a exploração do regime castrista, e o que nosso governo faz? Negocia com o regime tirânico um aumento do salário dos escravos, ou seja, pede que o senhor feudal aceite uma leve redução em sua “mais-valia” para que os trabalhadores se rebelem menos. Age, em outras palavras, como o capitão do mato cúmplice do escravocrata, tentando apenas mitigar o risco de rebelião entre os escravos.

Terceiro: o STF, quase todo ele composto por ministros escolhidos pelo próprio PT, julga e condena vários petistas do alto escalão, que acabam presos. O que faz o PT? Na figura do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, vai fazer uma visita de cortesia, (mal) disfarçada de “vistoria do presídio” (ah, a ousadia dos canalhas!), ao criminoso José Dirceu. Um governador subserviente a um presidiário? Assim é o PT.

Foram apenas três exemplos, e poderiam ser muito mais. O leitor já entendeu o quadro: o PT é um partido que compactua com o crime, que desrespeita o estado de direito, que se julga acima das leis, que acredita que quaisquer meios servem para seus fins – a permanência no poder. O PT não tem mais simpatizantes; tem cúmplices!

Rodrigo Constantino

 

EconomiaPolítica Fiscal

Calcanhar de Aquiles: a menor taxa de poupança doméstica desde 2001

No filme “Entrando numa fria maior ainda”, Jack, o personagem de Robert DeNiro, fica espantado ao ver que os pais de seu futuro genro celebram a mediocridade. Há no quarto do filho todo tipo de “conquista” questionável, como um sétimo lugar em alguma competição qualquer, não me lembro mais. Eis o que eu queria dizer: o governo Dilma celebra a mediocridade.

Somente isso pode explicar tanta euforia com um resultado tão fraco da economia em 2013. Sim, foi um pouco acima das estimativas ajustadas dos analistas. E bem abaixo do que o próprio governo esperava no começo do ano. E bem abaixo dos principais países emergentes. E bem abaixo da média histórica brasileira.

Houve, entretanto, um dado realmente positivo: a taxa de investimento (formação bruta de capital), que aumentou 6,3% e chegou a 18,4% do PIB. Não obstante, está muito aquém do nível necessário para nossa produtividade deslanchar, que seria, segundo muitos especialistas, próxima de 25% do PIB. País que investe pouco cresce pouco à frente.

Fonte: IBGE

Fonte: IBGE

Só há um problema: para investir, como saberia Robinson Crusoé isolado na ilha, antes é preciso poupar, ou seja, deixar de consumir parte do que é produzido. Claro, no mundo globalizado, sempre se pode contar, temporariamente, com a poupança externa. Mas há limites, pois eventualmente a conta precisa ser paga, e a balança de pagamentos fica negativa.

País que investe deve poupar, portanto. E é esse o principal calcanhar de Aquiles do Brasil: poupa-se pouco. As famílias, que vinham se endividamento muito para expandir o consumo, até pisaram no freio, e aumentaram em apenas 2,3% o consumo em 2013, menor taxa desde 2004.

O verdadeiro problema está no governo, um gastador compulsivo incapaz de poupar. O governo brasileiro arrecada quase 37% do PIB, mas não poupa praticamente nada. Ora, se a taxa total de poupança é de 13,9% do PIB, e o governo, que arrecada 37% do PIB, não poupa, isso quer dizer que a poupança dos demais 63% do PIB a cargo do setor privado chega a 22% (13,9% / 63%). É um patamar bem mais razoável e perto do que precisamos para crescer mais.

O grande gargalo, como fica claro, é o governo. Como disse a professora da PUC, Mônica de Bolle: “É nosso problema eterno, quando o governo gasta muito ou não poupa, a economia precisa de juros mais altos”. Os investimentos precisam ser financiados. Se há pouca poupança interna, então será financiado pelo déficit nas contas externas. Elementar, meu caro Watson!

Ou o governo brasileiro resolve gastar menos, e de preferência arrecadar menos também, para deixar mais recursos com a iniciativa privada, sempre mais eficiente nos investimentos; ou vamos sempre experimentar voos de galinha, com baixa altitude, barulhentos e sem muito alcance. O Brasil precisa de mais poupança. E isso só é possível com menos gastos públicos.

Rodrigo Constantino

 

Mas não era tudo culpa dos banqueiros gananciosos e malvados?

Taxa de juros na estratosfera. A realidade brasileira de longa data. Narrativa da esquerda: tudo culpa dos banqueiros, esses gananciosos malvados que só querem lucrar à custa da exploração dos pobres trabalhadores.

Solução proposta: basta ter vontade política para enfrentar os poderosos banqueiros. Instrumento: bancos públicos, já que o governo é o maior banqueiro do Brasil.

Realidade: presidente Dilma chega ao poder e puxa da cartola a arma contra os banqueiros. Será a presidente que teve coragem de desafiar os ricos e poderosos para beneficiar os mais pobres com taxas de juros de primeiro mundo. Alegria de ignorante em economia dura pouco…

Em reportagem no GLOBO de hoje, vemos que as taxas de juros do Banco do Brasil e da Caixa, que nunca chegaram a ficar tão menores assim do que as da concorrência privada, voltaram a subir, e bem. Estão em patamares assustadoramente elevados:

Taxa de juros

Atentem bem para o número: 6,64%. Ao mês! Eis a taxa de juros do cheque especial no BB, e isso para quem recebe salário pelo banco. Pergunta: o estado é um banqueiro malvadão, ganancioso, cruel, insensível? Ou será que existem outras razões mais estruturais para o Brasil ter taxas de juros tão altas?

Será que elas têm ligação com as enormes barreiras à entrada de novos concorrentes? Será que estão atreladas ao alto compulsório exigido pelo Banco Central? Será que têm algo a ver com a inadimplência ou a dificuldade de arresto de bens dos inadimplentes? Será que são resultado da baixa taxa de poupança no país, por conta dos elevados gastos públicos?

O que a esquerda jamais parou para pensar é o seguinte: bancos estrangeiros, como o Citi, o Santander e o HSBC, atuam no Brasil, e cobram, aqui, taxas semelhantes àquelas do Itaú ou Bradesco. Por acaso os banqueiros internacionais ficam mais gananciosos quando atravessam a linha do Equador? Teria a ver com o clima, alguma coisa na água brasileira?

Um mínimo de reflexão já seria suficiente para convencer qualquer um (sem algum tipo de retardo mental) de que as altas taxas de juros não são o resultado da ganância de banqueiros, e sim de forças mais estruturais ligadas a nossa economia intervencionista e nosso governo gastador.

A presidente Dilma preferiu a postura demagógica de “enfrentar os banqueiros”, ou seja, atacar os sintomas em vez de as causas do problema, quebrar o termômetro no afã de acabar com a febre.

Deu nisso: as taxas de juros já estão no mesmo patamar de quando ela começou sua cruzada populista. E no meio do caminho várias decisões tomadas pela Caixa e pelo BB foram políticas em vez de econômicas, o que vai cobrar um alto preço à frente.

Resta saber se a esquerda vai continuar condenando os banqueiros gananciosos por nossos problemas econômicos…

Rodrigo Constantino

 

CulturaTerrorismo

Vamos proibir a venda de facas?

Leio no jornal sobre a tragédia ocorrida na China:

Homens armados com facas mataram neste sábado pelo menos 28 pessoas e feriram outras 113 em uma estação de trem chinesa, informou a agência de notícias oficial Xinhua. O ataque aconteceu na estação de Kunming, na província de Yunnan. Em seu site, a televisão estatal chinesa classificou o ato como “um violento ataque terrorista”.

“Foi um organizado, premeditado e violento ataque terrorista”, afirmou a Xinhua.

Segundo a estatal Yunnan News, os homens estavam usando uniformes pretos quando invadiram a estação ferroviária. A polícia matou cinco integrantes do grupo e procura outros cinco suspeitos. O presidente chinês, Xi Jinping, pediu que não sejam poupados esforços na busca pelos agressores.

A China afirmou que militantes islâmicos de Xinjiang foram resposáveis pelo ataque.

Em primeiro lugar, meus pêsames a todos os parentes e amigos das vítimas deste atentado bárbaro, mais um nas costas dos fanáticos islâmicos, ao que tudo indica. Mas peço vênia ao leitor para, invocando Adam Smith, utilizar essa desgraça chinesa para alguma reflexão proveitosa a nós mesmos, brasileiros.

Em Teoria dos Sentimentos Morais, o filósofo escocês imagina a reação de um humanitário a um terremoto que devasta a longínqua China. Ele iria expressar intensamente sua tristeza pela desgraça de todos esses infelizes. Faria “reflexões melancólicas sobre a precariedade da vida humana e a vacuidade de todos os labores humanos, que num instante puderam ser aniquilados”. Mas quando toda essa bela filosofia tivesse acabado, “continuaria seus negócios ou seu prazer, teria seu repouso ou sua diversão, com o mesmo relaxamento e tranqüilidade que teria se tal acidente não tivesse ocorrido”.

Pode ser chocante, mas é uma visão realista. Deixando o sentimentalismo de lado, gostaria de propor a seguinte questão a todos: devemos proibir a venda de facas? Não enlouqueci, nem estou brincando. Estou apenas levando a lógica dos desarmamentistas adiante.

Casos como esse acontecem na China com bastante frequência. Morte por armas brancas é algo muito comum por lá. Assassinos não deixam de matar porque armas são proibidas. Afinal, armas não matam; pessoas sim. E com as “armas” que estiverem à disposição, seja no mercado legal, seja no ilegal.

A turma do desarmamento prefere a retórica aos efeitos concretos de suas ideias, a sensação pessoal de parecer um pacifista ao resultado prático desse pacifismo. A tragédia na China parece distante de nossas realidades. Provavelmente o leitor vai continuar aproveitando o feriado do Carnaval como se nada tivesse acontecido.

É da vida, como Adam Smith sabia. Somos seres voltados aos próprios interesses, em círculos concêntricos que priorizam nossa família, nossos amigos, nossos compatriotas e por aí vai, nesta ordem.

Mas que possamos usar essa desgraça chinesa, ao menos, para refletir sobre as bandeiras desarmamentistas tão em voga por aqui, por parte de nossos “intelectuais progressistas”. Tirar armas de fogo dos cidadãos ordeiros não reduz a criminalidade. Apenas os transforma em alvos mais dóceis dos criminosos e também de estados autoritários, como vemos na Venezuela hoje.

E quando bandidos ou terroristas quiserem realmente agir, até mesmo facas poderão se transformar em instrumentos de execução coletiva.

Rodrigo Constantino

 

CulturaDemocraciaGuerrasHistória

A Rússia patrimonial não liga para a liberdade individual

Os recentes acontecimentos na Ucrânia, com Putin liderando aquilo que já pode ser caracterizado como uma invasão ao território vizinho, trouxeram à memória uma resenha que escrevi de um ótimo livro do historiador Richard Pipes sobre o país.

Conheci Moscou, onde fui três vezes, e acompanhei a Rússia em detalhes por dois anos, por questões profissionais. O autoritarismo é sua marca registrada. Há pouco valor ao indivíduo e suas liberdades. Czarismo, depois bolchevismo, e agora a autocracia de Putin: o denominador comum é a ausência de apreço pelas liberdades.

A visão predominante é a de submissão a algum líder poderoso qualquer, assim como a ideia de um estado forte, imperialista, dominador é a melhor expressão de virilidade para o povo. Talvez isso explique aquilo que Sarah Palin antecipou, sob forte ridicularização dos “intelectuais progressistas”: que a Rússia ainda iria invadir a Ucrânia!

Segue meu artigo:

A Rússia patromonial

“A história da Rússia oferece um excelente exemplo do papel que a propriedade desempenha no desenvolvimento dos direitos civis e políticos, demonstrando como a sua ausência torna possível a manutenção de um governo arbitrário e despótico.” (Richard Pipes)

Na Rússia, a noção de direitos individuais era totalmente submersa pela noção de obrigações para com o monarca. Somente em 1785 a coroa garantiu a posse de propriedades. Comparar a história da Rússia com a da Inglaterra, como fez Richard Pipes em seu livro “Propriedade e Liberdade”, é bastante elucidativo para comprovar a teoria do autor de que o direito de propriedade privada é uma condição totalmente necessária para que exista liberdade, ainda que não seja condição suficiente.

Quando a terra é escassa, a população acaba tendo que encontrar maneiras de resolver pacificamente os conflitos a respeito dela. O excesso de terras na Rússia acabou gerando um efeito perverso nesse sentido, pois a oferta parecia inesgotável. Os primeiros vikings na Rússia eram formados por uma casta militar-comercial, e não desenvolveram a agricultura nem adquiriram propriedades fundiárias – em contraste com a Inglaterra, onde os conquistadores normandos reivindicaram a posse de todo o solo. A propriedade privada era um produto da benevolência do Estado. A monarquia era tão hostil para com a propriedade privada que recusava-se a reconhecer como propriedade inviolável mesmo pertences pessoais, reconhecidos como tal pelas sociedades mais primitivas.

O desenvolvimento do poder parlamentar na Inglaterra esteve estritamente ligado à necessidade da coroa de assegurar a aprovação parlamentar dos impostos e das taxas alfandegárias por não ser independente financeiramente. Na Rússia, em contraste, os czares não precisavam da autorização de ninguém para criar impostos, regalias e tarifas. Não tinham necessidade de parlamentos. Eles podiam apropriar-se de terras e confiscar qualquer mercadoria comerciável, podendo taxar a população conforme a sua vontade. A aristocracia rural e os burgueses eram servidores do Estado na Rússia, não desfrutando de nenhuma segurança econômica. O que importava eram os favores da coroa.

Pedro, O Grande, apesar de visto como o monarca que mais tentou ocidentalizar a Rússia, acabou na prática marcando o apogeu do patrimonialismo czarista. O poder da coroa tornou-se ainda mais arbitrário. A carga tributária foi imensamente aumentada. O governo e a Igreja detiveram o direito exclusivo de imprimir livros até 1783, e depois disso exerceram o poder através da censura. O Estado controlava as empresas comerciais também, prática bem diferente do que ocorria na Inglaterra, onde desde o século XIII já havia empresas licenciadas, trabalhando para particulares. Os servos tornaram-se sujeitos ao serviço militar compulsório no exercício permanente.

Durante o governo de Catarina, a Grande, alguns direitos de propriedade foram reconhecidos, mas estavam algo como 600 anos atrasados em relação à Inglaterra. Os pequenos e tardios avanços deveram-se à necessidade de Catarina aliar-se à pequena fidalguia fundiária para fortalecer seu poder. Ela foi bastante influenciada pelos fisiocratas, que viam a propriedade privada como a mais fundamental das leis da natureza e a agricultura como principal fonte de riqueza. Entretanto, a maior liberdade favorecia apenas uma pequena minoria, enquanto que para a maioria a servidão acabou intensificada. Desde o seu começo, já bastante tardio, o direito de propriedade na Rússia ficou associado à consolidação do poder da nobreza sobre os camponeses.

Na primeira metade do século XIX, medidas adotadas por Alexandre I e Nicolau I deram passos maiores rumo à liberdade dos servos e nobres. Em 1802, Alexandre proibiu os senhores de exilarem servos para a Sibéria, e em 1807 de condená-los a trabalhos forçados. Nicolau I ampliou os direitos econômicos dos servos, permitindo-lhes em 1848 adquirir propriedades rurais e urbanas despovoadas. Em 1861 foi assinado o decreto de emancipação dos servos.

A democracia política, ainda bastante limitada, chegou à Rússia somente em 1905 como resultado das pressões sobre o regime czarista trazidas pela derrota na guerra contra o Japão. A hostilidade intensificou-se durante a Primeira Guerra Mundial. O palco para a revolução bolchevique, inspirada nos philosophes franceses, estava armado. Com a tomada do poder pelos comunistas, todas as liberdades e direitos, junto com a propriedade, desapareceram por completo. Tinham raízes muito pouco profundas, e foram reduzidas a pó. O terror e a escravidão que vieram com a revolução fizeram os anos dos czares parecerem suaves.

Richard Pipes conclui que “a experiência da Rússia indica que a liberdade não pode ser legislada; ela precisa crescer gradualmente, em forte associação com a propriedade e a lei”. Infelizmente para os russos, a propriedade privada nunca fincou suas raízes no solo da Rússia, cujo poder sempre esteve arbitrariamente concentrado no Estado. Enquanto a mentalidade inglesa, calcada na propriedade privada, pariu em 1776 a nação até então mais livre da história, a mentalidade patrimonialista russa gerou o regime mais genocida do mundo. Há um abismo intransponível entre ambos.

Rodrigo Constantino

 

Cultura

De boas intenções, Caetano Veloso também está cheio

1.
 
Lula declarou em Cuba: ”Maduro é um homem muito bem-intencionado.”
 
É duro dizer o óbvio, mas… De boas intenções, o inferno, a esquerda, o socialismo, o Foro de São Paulo, a Venezuela, o Brasil e as privadas estão mais cheios do que os cofres do Lulinha.
 
2.

Caetano

Caetano Veloso declarou ao jornal El País:
 
“Sempre olhei com desconfiança a ligação automática entre artistas e esquerdas. Mas sempre estive mais para a esquerda. Aprendi com meu pai, que temia os anticomunistas por ter visto a ação de grupos fascistas nacionais, que seguiam Mussolini e Hitler nos anos 1930. Além disso, desejo que se superem as estruturas opressivas de todo tipo. Não tenho temperamento conservador. Mas desde o final dos anos 1960 me vi obrigado a pensar com mais responsabilidade sobre essas questões. E percebi que o pensamento conservador pode abordar muitas coisas que as esquerdas recalcam. Acho perigoso e empobrecedor que esquerdistas só leiam autores de esquerda.“
 
Também acho, mas nem isso eles leem mais. Nelson Rodrigues já captava parte do fenômeno:
 
“No Brasil, o marxismo adquiriu uma forma difusa, volatizada, atmosférica. É-se marxista sem estudar, sem pensar, sem ler, sem escrever, apenas respirando.”
 
O que era verdade para os brasileiros manipulados pela esquerda virou também para os próprios intelectuais manipuladores, a ponto de hoje ser até difícil distinguir entre ambos, como comprovam diariamente na internet os detratores do autorbest seller Olavo de Carvalho.
 
Mas o problema não são apenas os esquerdistas que só leem autores de esquerda e aqueles que nada leem. São também os “mais para a esquerda”, como se confessa Caetano, que leem um par de autores conservadores para então afetar uma superior imparcialidade.
 
Como esquecer oartigo de 1 de setembro de 2013, no qual Caetano igualou o inigualável?
 
“Acho a proposta de Olavo de Carvalho de uma política (e não só uma economia) para os liberais muito presa à ideia de que o comunismo é como o diabo incansavelmente tramando contra o bem. Há boas intenções nos liberais e há boas intenções nos socialistas e comunistas. Embora ninguém duvide de que boas intenções podem levar ao inferno.”
 
Na ocasião, Olavo comentou o “artigo magistralmente oco” do compositor:
 
“Se ele tentasse alardear as boas intenções liberais num jornal de Cuba ou da Coreia do Norte, entenderia o tamanho da asneira que proferiu. Antes que ele se arrisque a tamanho desatino, seria melhor que tentasse explicar para si mesmo como pode haver igual quota de boas intenções em pemitir-lhe que escreva o que bem entenda, até remunerando-o por isso, e em enviá-lo ao pelotão de fuzilamento pelo crime de atribuir boa intenção aos malditos exploradores capitalistas em vez de reservar o monopólio dela, como se deve, aos comunistas. Ou a ‘boa intenção’ tal como a entende o sr. Veloso é pura fantasia subjetiva, desligada de todos os bens e males objetivos (e neste caso até o estuprador de uma menininha de três anos pode legitimamente alegar boas intenções), ou há uma equivalência moral objetiva entre matar um cidadão e preservar sua liberdade. ‘Tertium non datur.’ Com toda a evidência, o sr. Veloso usa o termo ‘boa intenção’ sem qualquer significado substantivo e apenas por ostentação de bom-mocismo convencional, fácil, leviano e radicalmente irrelevante. Não creio que ele compreenda este raciocínio, mas, para uso dos demais, que fique aqui registrado.”
 
Os autores conservadores, como se vê, abordam “muitas coisas que as esquerdas recalcam”, mas isto não quer dizer que os esquerdistas que reconhecem este fato assimilem e passem por uma contrarrevolução terapêutica ao “ler” essas coisas. O pavor de se ver associado ao lado demonizado pelos seus pares de vida inteira e até por seus familiares - como o pai, no caso de Caetano – costuma ser mais forte do que o próprio desejo de rebelar-se contra ou elevar-se acima deles, o que, somado a uma boa dose de vaidade, acaba resultando nessa imparcialidade destrambelhadamente afetada. Acho perigoso e empobrecedor que artistas “mais para a esquerda” posem de leitores dos dois lados, sem que sejam capazes de modificar seus comportamentos com base nos conhecimentos supostamente ganhos em um deles.
 
De boas intenções (para não dizer recalques), Caetano Veloso também está cheio.
 
Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil

 

Cultura

MORDAÇA VIRTUAL – Olavo de Carvalho conta como a militância do crime tirou do ar sua página do Facebook

Não basta assassinar reputações. A canalhada não sossega enquanto não calar de vez as vozes discordantes. Está difícil de aturar o sucesso do filósofo Olavo de Carvalho, depois que o nosso best seller O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota bateu a marca dos 60 mil exemplares vendidos. Na incapacidade de argumentar e debater, os invejosos de plantão querem é derrubar a página em que ele escreve para impedir que sua imensa “legião” de alunos, leitores e fãs tenham acesso às suas palavras. Assim como já aconteceu com outras páginas de teor conservador, como “Meu professor de História mentiu pra mim”, seu perfil do Facebook saiu do ar nesta manhã e segue indisponível. Eis a mensagem que recebi do autor por e-mail:

Olavo de Carvalho

Prezado Felipe,

Tão logo o deputado Marco Feliciano denunciou na Câmara a campanha de assassinato de reputação que eu vinha sofrendo, a militância do crime, decerto mobilizada por alguma Excelência em pânico, mudou de tática e passou a tentar bloquear a minha conta no Facebook para que, diante do assalto multitudinário à minha pessoa e à minha honra, não me restasse nem mesmo este miserável e último recurso de defesa que é espernear na internet.

O ardil consiste simplesmente em entrar na minha conta desde um IP qualquer que não seja o meu, acionando automaticamente o Facebook para que bloqueie a conta e inicie um procedimento de verificação.

Tentaram isso ontem usando um IP registrado numa cidade da Índia.

Como eu conseguisse restaurar a conta, aperfeiçoaram o sistema. Fornecem ao Facebook, não sei como, um número de telefone falso ou imaginário (hoje foi +33 7 87 16 56 82), de modo que o código para restauração da conta é enviado a esse número e não chega jamais a mim. Assim, torna-se impossível reativar o acesso à minha página.

A coisa é de uma sordidez que desafia a imaginação. Se quer saber, nem mesmo me surpreende que apelem a esse recurso, ou talvez, mais tarde, a outros mais abjetos ainda. A mentalidade dessa gente faria os porcos vomitarem, se lhes fosse servida no cocho.

Ainda não sei bem o que fazer diante desse descalabro, mas creio que solicitar um inquérito à Polícia Federal não seria má idéia. Tentarei fazer isso.

Se você puder divulgar o episódio pela sua coluna, ficarei grato. Estou pedindo o mesmo a outros articulistas.

Obrigado desde já e um abraço do

Olavo de Carvalho

Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil

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veja.com.br

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