Lula: ‘Silêncio eloquente’, por José Casado (no Globo desta terça)

Publicado em 08/04/2014 19:08 e atualizado em 12/06/2014 10:04
no blog de Augusto Nunes, de veja.com.br

Opinião

‘Silêncio eloquente’, de José Casado

Publicado no Globo desta terça-feira

JOSÉ CASADO

Lula emudeceu. Evita falar sobre os prejuízos e o tráfico de influência em alguns dos maiores negócios realizados pela Petrobras durante o seu governo.

Há inquéritos, prisões e debates no Congresso, mas o ex-presidente da República se mantém calado para o público sobre os bilionários “malfeitos” na sua administração.

Estranhável, porque se trata de um político habituado a sair da cama no meio da madrugada, andar até a cozinha e abrir a geladeira apenas para ter o prazer de fazer um breve e secreto “comício” ─ cena que ele mesmo já descreveu inúmeras vezes em praças públicas.

Esse silêncio, certamente, não é por recomendação médica: na sexta-feira Lula conversou por quase três horas com a presidente Dilma Rousseff, a sós, num hotel paulistano.

Ex-ministra de Minas e Energia, ex-chefe da Casa Civil e ex-presidente do Conselho de Administração da Petrobras, sob Lula, ela fez questão de escrever e divulgar no Palácio do Planalto seu testemunho sobre um dos negócios suspeitos da estatal ─ a aquisição de uma refinaria ferro-velho em Pasadena (Texas) ao custo de mais de US$ 1 bilhão, com base em documentos “técnica e juridicamente falhos”.

“Tiro no pé” foi o comentário mais frequente sobre o gesto de Dilma no plantel de porta-vozes de Lula. A nota foi interpretada como confirmação do “malfeito”. No Congresso houve quem fizesse leitura diferente: Dilma se preocupou em registrar publicamente os limites da sua atuação, estabelecidos nas ordens que possuía como ministra e representante de Lula no conselho da Petrobras.

A fronteira do seu poder estava bem delimitada. No Ministério de Minas e Energia, por exemplo, esboçou uma reforma na diretoria da Petrobras, com alavancagem de Maria das Graças Foster, a quem chama de “Graciosa”. Surpreendeu-se com a reação de José Dirceu, chefe da Casa Civil. Precisou esperar seis anos para conseguir nomeá-la comandante da empresa.

Lula foi o dono do tempo e da agenda de negócios da companhia, em transações com políticos aliados, em linha direta com José Sérgio Gabrielli, que fazia questão de exibir a estrela-símbolo do PT na lapela do paletó.

São do período Lula-Gabrielli iniciativas como a bilionária conta da compra e projetos de reforma da refinaria no Texas, a construção da refinaria em Pernambuco a custo dez vezes acima do orçamento inicial, e, ainda, a porteira aberta em áreas-chave às traficâncias dos associados na “maior base aliada do Ocidente”, conforme a modesta definição de Dirceu.

Foi nessa etapa que a Petrobras desidratou a auditoria interna e repassou mais de 75% do serviço de fiscalização dos seus contratos às próprias empresas contratadas, como registrou o Tribunal de Contas da União. Recebiam de um lado do balcão. E, do outro, forneciam até “as secretárias do gerente e do fiscal” ─ constatou o TCU em documento apresentado na Comissão Parlamentar de Inquérito que desvendou o mensalão.

O relatório final dessa CPI é instrutivo e está na rede do Senado, com seus três volumes e 1.800 páginas. A capa destaca um versículo bíblico (Mateus, 10:26): “Não tenhais medo dos homens, pois nada há de encoberto que não venha a ser revelado, e nada há de escondido que não venha a ser conhecido.”

Tags: CPI da PetrobrasDilma RousseffJosé CasadoLulaRefinaria de Pasadenasilêncio

 

Opinião

Reynaldo-BH: ‘Seria mais honesto se o grito de guerra fosse ‘Continua, Lula!”

REYNALDO ROCHA

O coelho fugiu da cartola. A mulher-barbada acordou sem barba. E o Mandrake voltou a dormir. A mágica acabou, mas a lona ainda existe e insiste em ser erguida, como uma casa mal assombrada. A gerente da bilheteria tem medo de ser despedida e que chamem, de novo, o dono do circo pra o centro do picadeiro.

O “Volta, Lula” já voltou. Será ele mais uma vez o candidato. O construtor de postes – visto como um gênio, mas somente um mágico chinfrim – que errou em todos. A fatura demorou a chegar, mas chegou.

O poste principal consegue perder para ela própria. Contra dois desconhecidos nacionalmente, chega ao absurdo de perder pontos nas pesquisas de intenção de votos que não são transferidos para ninguém.

A falência do circo ainda é causada somente pela incompetência do elenco. Erros na economia, volta da inflação, a Petrobrás transformada em PTbrás, corrupção, André Vargas, Papuda, mensalão, PMDB em fuga, PACs inexistentes, Copa superfaturada, aeroportos e portos em frangalhos saúde se amparando em escravos, diplomacia de bordel. Será que haverá dinheiro para continuar comprando consciências e cidadanias?

O “Volta, Lula” chega a ser patético. A volta dos que não foram. Seria mais honesto se o grito de guerra fosse “Continua, Lula!”

O momento é sério. Caso o criador consiga reeleger a criatura, qual será o limite do lulopetismo? Quem segurará a ira contra a imprensa livre? Até onde decairão a Petrobras, a Eletrobras e as agências reguladoras?

Nesses momentos, é bom ter não apenas um, mas dois adversário que consigam multiplicar a munição da oposição. Finalmente o show de horrores pode estar chegando ao fim.

Tags: circoDilma RousseffeleiçõesLulaoposiçãoposteReynaldo Rocha

 

Direto ao Ponto

A deputada venezuelana Maria Corina Machado no Roda Viva: ‘O regime de Nicolás Maduro é uma ditadura’

ATUALIZADO ÀS 15H50

A deputada venezuelana Maria Corina Machado foi a convidada do Roda Viva desta segunda-feira. Ilustrada pelo cartunista Paulo Caruso, a conversa no estúdio da TV Cultura reuniu os entrevistadores Fabiano Maisonnave (repórter da Folha), Nathalia Watkins (repórter da seção internacional de VEJA), Fernando Tibúrcio Peña (advogado especializado em Direitos Humanos), Rogério Simões (editor-executivo da revista Época) e Rodrigo Cavalheiro (subeditor do caderno internacional do Estadão).

Todas as perguntas foram feitas. Nenhuma ficou sem resposta convincente. Durante 90 minutos, Maria Corina deu uma aula de clareza, coerência, coragem e sensatez. A poucas horas da viagem de volta para o olho do furacão, a parlamentar cassada e perseguida pelos mastins do governo Nicolás Maduro exibiu a altivez dos que jamais saberão o que é uma rendição humilhante. O vídeo mostra o que é uma oposicionista de verdade.

 

Opinião

‘Os gigolôs da memória’, um artigo de Marco Antonio Villa

MARCO ANTONIO VILLA

A lembrança dos 50 anos da queda de João Goulart ocupou amplo espaço na imprensa. Nenhum outro acontecimento da história do Brasil foi tão debatido meio século depois do ocorrido. Para um otimista, isto poderia representar um bom sinal. Afinal, o nosso país tem uma estranha característica de esquecer o que ocorreu ontem. Porém, a reflexão e o debate sobre 1964 e o regime militar acabaram sendo dominados justamente por aqueles que conduziram o país à crise da república populista e que negaram os valores democráticos nos anos 1960-1970.

 

A tendência à hagiografia mais uma vez esteve presente. João Goulart foi transformado em um presidente reformista, defensor dos valores democráticos e administrador capaz. Curiosamente, quando esta narrativa é cotejada com relatos de assessores, como o ministro Celso Furtado, ou de um amigo, como o jornalista Samuel Wainer, cai por terra. Furtado, em entrevista à revista Playboy (abril, 1999) disse que Jango “era um primitivo, um pobre de caráter”. Wainer relatou que “uma vez por mês, ou a cada dois meses, eu visitava os empreiteiros e recolhia suas doações, juntando montes de cédulas que encaminhava às mãos de João Goulart. (…) Eu poderia ter ficado multimilionário entre 1962 e 1964. Não fiquei.” (Minha razão de viver, p. 238).

Não é possível ignorar o caos instalado no país em março de 1964. A quebra da hierarquia militar incentivada pelo presidente da República é sabidamente conhecida. A gravidade da crise econômica e a inépcia governamental em encontrar um caminho que retomasse o crescimento eram mais que evidentes. O desinteresse de Jango de buscar uma solução negociada para o impasse não pode ser contestado: é fato. O apego às vazias palavras de ordem como um meio de ocultar a incompetência político-administrativa era conhecido. Conta o senador Amaral Peixoto, presidente do Partido Social Democrático, que em conversa com Doutel de Andrade, um janguista de carteirinha, este, quando perguntado sobre o projeto de reforma agrária, riu e respondeu: “Mas o senhor acredita na reforma agrária do Jango? No dia em que ele fizer a reforma agrária, o que vai fazer depois?” (Artes da política, p.455)

Também causa estranheza a mea culpa de alguns órgãos de imprensa sobre a posição tomada em 1964. A queda de Jango deve ser entendida como mais um momento na história de um país com tradição (infeliz) de intervenções militares para solucionar crises políticas. Nos 40 anos anteriores, o Brasil tinha passado por diversas movimentações e golpes civis-militares. Basta recordar 1922, 1924, Coluna Prestes, 1930, 1932, 1935, 1937, 1938, 1945, 1954, 1955 ─ tivemos três presidentes da República e dois golpes no mês de novembro ─ e 1961.

Jogar a cartada militar fazia parte da política. E nunca tinha ocorrido uma intervenção militar de longa duração. Esperava-se um governo de transição que garantisse as eleições de 3 de outubro de 1965 e a posse do eleito em 31 de janeiro de 1966. Esta leitura foi feita por JK ─ e também por Carlos Lacerda. Os dois principais antagonistas da eleição que não houve imaginavam que Castello Branco cumpriria o compromisso assumido quando de sua posse: terminar o mandato presidencial iniciado a 31 de janeiro de 1961.

JK imaginou que Castello Branco era o marechal Lott e que 1964 era a repetição ─ um pouco mais agudizada ─ da crise de 1955. Errou feio. Mas não foi o único. Daí a necessidade de separar 1964 do restante do regime militar. Muitos que foram favoráveis à substituição de Jango logo se afastaram quando ficou patente a violação do acordado com a cúpula militar. Associar o apoio ao que se imaginava como um breve interregno militar com os desmandos do regime que durou duas décadas é pura hipocrisia.

Ainda no terreno das falácias, a rememoração da luta armada como instrumento de combate e vitória contra o regime foi patética. Nada mais falso. Nenhum daqueles grupos ─ alguns com duas dúzias de militantes ─ defendeu em momento algum o regime democrático. Todos ─ sem exceção ─ eram adeptos da ditadura do proletariado. A única divergência é se o Brasil seguiria o modelo cubano ou chinês. Não há qualquer referência às liberdades democráticas ─ isto, evidentemente, não justifica o terrorismo de Estado.

A ação destes grupos os aproximaram dos militares. Ambos entendiam a política como guerra ─ portanto, não era política. O convencimento, o respeito à diversidade, a alternância no governo eram considerados meras bijuterias. O poder era produto do fuzil e não das urnas. O que valia era a ação, a força, a violência, e não o discurso, o debate. Garrastazu Médici era, politicamente falando, irmão xifópago de Carlos Marighella. Os extremos tinham o mesmo desprezo pelo voto popular. Quando ouviam falar em democracia, tinham vontade de sacar os revólveres ou acionar os aparelhos de tortura.

Em mais de um mês não li ou ouvi qualquer pedido de desculpas públicas por parte de ex-militantes da luta armada. Pelo contrário, se autoproclamaram os responsáveis pelo fim do regime militar. Ou seja, foram derrotados e acabaram vencedores. Os policiais da verdade querem a todo custo apagar o papel heroico da resistência democrática. Ignoraram os valorosos parlamentares do MDB. Alguém falou em Lysâneas Maciel? Foi ao menos citado o senador Paulo Brossard? E a Igreja Católica? E os intelectuais, jornalistas e artistas? E o movimento estudantil? E os sindicatos?

Em um país com uma terrível herança autoritária, perdemos mais uma vez a oportunidade de discutir a importância dos valores democráticos.

Tags: 1964ditadura militarJoão GoulartMarco Antonio Villa

 

Direto ao Ponto

Se lhe sobrou algum juízo, Vargas deve aproveitar a licença para cuidar de álibis e roteiros que o livrem de atuar na cadeia

ANDRE VARGAS

“Tô no limite. Preciso captar”, aflige-se o doleiro Alberto Youssef na mensagem ao deputado federal André Vargas.

“Vou atuar”, informa o vice-presidente da Câmara, com a segurança de um colecionador de estatuetas do Oscar, ao amigo e parceiro de negócios escusos.

Entre tantas frases extraídas de diálogos entre a dupla de vigaristas, divulgadas por VEJA neste fim de semana, nenhuma instiga tão irresistivelmente a imaginação de quem conhece André Vargas quanto essa resposta: “Vou atuar”. Com apenas duas palavras, o canastrão do PT paranaense declara-se pronto para entrar em cena encarnando o protagonista fora-da-lei prestes a virar multimilionário na vida real.

Bastaria não tropeçar no script, bastaria caprichar na performance para que fosse materializado o sonho resumido por Youssef em outra troca de recados capturada pela Polícia Federal: “Você vai ver o quanto isso vai valer… Tua independência financeira e nossa também, é claro…” Uma causa de tamanho calibre justifica qualquer esforço. Por um jatinho para chamar de seu, o suarento pai da pátria toparia molhar não só a camisa, mas também os sapatos, as meias, a calça, as peças íntimas, a cinta, a gravata e o paletó cujo corte sufocante denuncia alguém que se acha muitos centímetros mais alto e algumas arrobas menos gordo.

A alforria econômica foi adiada por VEJA, com uma reportagem que fez mais do que transformar o sócio de Youssef em outra evidência ambulante de que sábado é o mais cruel dos dias para gente com culpa no cartório. Ao pulverizar o desfile de mentiras que promoveu na tribuna da Câmara, a reportagem também tornou inviável a permanência no cargo de um vice-presidente que tenta tapear o plenário para escapar da degola e do xilindró. E apressou o pedido de licença que Vargas apresentou nesta segunda-feira. Oficialmente, ficará distante do Congresso por 60 dias. Se o Poder Legislativo ainda não revogou o que resta de vergonha, o sumiço será perpetuado pela cassação do mandato.

Pressionado por líderes do PT e de partidos aliados, todos convencidos de que o colega louco por um jatinho não escaparia da cassação caso permanecesse exposto aos holofotes, Vargas deixou o palco alegaldo a necessidade de “cuidar de interesses particulares” e  ”preparar sua defesa diante do massacre midiático que está sofrendo, fruto de vazamento ilegal de informações”. Se o despachante de doleiro especializado em cofres do Ministério da Saúde e da Petrobras não perdeu o juízo de vez, passará os próximos meses ensaiando o que dizer no tribunal sob a direção de um advogado capaz de forjar álibis, falas e roteiros menos bisonhos.

Ou Vargas melhora o desempenho ou logo estará atuando na cadeia.

Tags: Alberto YoussefAndré VargasjatinhoMinistério da SaúdePetrobrasPT,Vejavice-presidente da Câmara

(por Augusto Nunes)

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Fonte:
Blog Augusto Nunes (VEJA)

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1 comentário

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