A DELINQUÊNCIA POLÍTICA DISFARÇADA DE MILITÂNCIA. OU: ELE É A CARA DOS BLOGS SUJOS

Publicado em 07/05/2014 08:30 e atualizado em 07/07/2014 14:10
por Reinaldo Azevedo e Augusto Nunes, de veja.com.br

A DELINQUÊNCIA POLÍTICA DISFARÇADA DE MILITÂNCIA. OU: ELE É A CARA DOS BLOGS SUJOS

Ex-assessor de deputada petista é preso no Senado por insultar Aloysio Nunes no Senado André Coelho/ O Globo

Ex-assessor de deputada petista é preso no Senado por insultar Aloysio Nunes no Senado André Coelho/ O Globo

Leiam o que informa O Globo:
Está preso na Policia do Senado o militante petista e ex-assessor da deputada Erica Kokay (PT-DF), Rodrigo Grassi, depois de quase se atracar com o líder do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira (SP), na saída do plenário. Conhecido como Pilha, o militante é o mesmo que agrediu o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, na saída de um restaurante no mês passado. Ele se identificou para Aloysio como dono do blog Botando Pilha.Com. Quando o tucano parou para conversar, ele o questionou sobre porque o PSDB não deixava instalar em São Paulo uma CPI para investigar o caso Alstom. Aloysio respondeu até então, calmo. Mas quando ele perguntou o que tinha a dizer sobre seu “envolvimento” no escândalo do cartel do metrô em São Paulo, Aloysio partiu para cima do militante para lhe bater. Rodrigo saiu correndo de costas e filmando a investida do senador, avisando que o vídeo estaria em seu blog logo em seguida. Foi alcançado pelos seguranças do Senado antes que conseguisse entrar em um carro na saída.

“Eu não tinha outra atitude que não partir para cima dele para lhe dar um pescoção. Eu fui agredido! Não tenho envolvimento em caso nenhum de metrô. É assessor da deputada Érica Kokay que agrediu o ministro Joaquim Barbosa? É um bando de vagabundos, cafajestes! Só não dei um pescoção nele porque ele correu mais do que eu!”, disse o senador.

Nas dependências da polícia legislativa, a primeira providência de Rodrigo Pilha foi ligar para a deputada Érica Kokay. Na época da agressão a Joaquim Barbosa na porta da restaurante, a deputada petista o defendeu, dizendo que não estava a serviço e tinha o direito de livre manifestação. Mas pressionada pelos líderes da oposição, acabou exonerando o funcionário. “Aconteceu uma agressão a um senador da República. Estamos investigando como ele entrou nas dependências do Senado”, disse o chefe da Polícia Legislativa do Senado, Pedro Araújo Carvalho.

Segundo Pedro, até as 21h30min a deputada não tinha ligado para interferir em defesa de Rodrigo Pilha. O senador Aloysio Nunes foi um dos líderes da oposição a pedir à Mesa da Câmara a punição do assessor da deputada petista pelas agressões a Joaquim Barbosa.

Depois da agressão a Joaquim Barbosa com um grupo de militantes na saída de um restaurante, Rodrigo Pilha postou um vídeo em seu blog onde, sem camisa e de óculos escuros, chama o ministro do Supremo de covarde, autoritário e coxinha. “Tá nervoso ministro, tá brabinho? Pega uma daquelas máscaras sua que estão encalhadas e vai pular carnaval”.

Por Reinaldo Azevedo

 

Oposição pede que Procuradoria-Geral abra inquérito para apurar improbidade administrativa de Dilma

Escrevi neste blog que o pronunciamento da presidente Dilma de 30 de abril feria a Lei Eleitoral e a Lei da Improbidade Administrativa. Sera que a oposição leu o post e resolveu recorrer ao Ministério Público?

Pode ser que tenha lido, mas não apelou à Procuradoria Geral da República por isso. Ela só o fez porque é o que diz a lei. Explico: os partidos de oposição decidiram recorrer nesta terça ao Ministério Público solicitando a abertura de inquérito para apurar se a Dilma Rousseff e Thomas Traumann, ministro da Comunicação Social, cometeram crime de improbidade administrativa em razão do pronunciamento da presidente por ocasião do Dia do Trabalho.

Entendo, e escrevi isso aqui ontem, que, além de crime eleitoral, aquela patuscada também constitui uma agressão explícita à Lei 8.429, que é justamente a da improbidade. Por quê? Lá está escrito:
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:
(…)
II – permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie.

Ora, é mais do que evidente que a rede nacional de rádio e televisão é um bem público, que foi usado em benefício de um partido e de uma candidatura. Os partidos de oposição apontam, e com correção, entendo eu, que a presidente “ultrapassou os limites” da Constituição porque “individualizou e personificou as ações de governo, que devem atentar para o principio da impessoalidade”.

Na mosca! Tanto isso é verdade que a presidente não se vexou em classificar seus críticos de defensores “do quanto pior, melhor”. Logo, entende-se, o melhor para o povo é… Dilma! Mais: deixou claro que falava de uma suposta parceria de longo prazo, que se estenderia muito além de dezembro.

Sim, a máquina pública foi usada em benefício de interesses e de anseios privados, dela própria e de seu partido. E isso constitui, diz a lei, não o Reinaldo, improbidade administrativa. Eu só tratei disso um pouquinho antes.

Por Reinaldo Azevedo

 

MARCO AURÉLIO MELLO – Lei que censura jornalistas não vale mais do que a Constituição. Hora de a Abert recorrer ao Supremo com uma ADI!

Marco Aurélio Mello: Lei Eleitoral não é maior do que a Constiotuição

Marco Aurélio Mello: Lei Eleitoral não é maior do que a Constituição

Daqui a pouco, no dia 1º de julho, o jornalismo de rádio e de televisão será submetido à censura. Sim, à censura, por força do Artigo 45 da Lei Eleitoral, a 9504. Entrevista concedida ao programa “Os Pingos nos Is”, da Jovem Pan, pelo ministro Marco Aurélio, do Supremo, dá alguma esperança de se resgatar um valor essencial garantido pela democracia: a liberdade de expressão. Vamos ver. Não custa lembrar: ele exerce, no momento, a presidência do Tribunal Superior Eleitoral e será o regente, no tribunal, das disputas de 2014.

Vamos ver o que está escrito na lei. A transcrição segue em vermelho. Volto em seguida com Marco Aurélio.

Art. 45. A partir de 1º de julho do ano da eleição, é vedado às emissoras de rádio e televisão, em sua programação normal e noticiário:

I – transmitir, ainda que sob a forma de entrevista jornalística, imagens de realização de pesquisa ou qualquer outro tipo de consulta popular de natureza eleitoral em que seja possível identificar o entrevistado ou em que haja manipulação de dados;

II – usar trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo que, de qualquer forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido ou coligação, ou produzir ou veicular programa com esse efeito;

III – veicular propaganda política ou difundir opinião favorável ou contrária a candidato, partido, coligação, a seus órgãos ou representantes;

IV – dar tratamento privilegiado a candidato, partido ou coligação;

V – veicular ou divulgar filmes, novelas, minisséries ou qualquer outro programa com alusão ou crítica a candidato ou partido político, mesmo que dissimuladamente, exceto programas jornalísticos ou debates políticos;

VI – divulgar nome de programa que se refira a candidato escolhido em convenção, ainda quando preexistente, inclusive se coincidente com o nome do candidato ou com a variação nominal por ele adotada. Sendo o nome do programa o mesmo que o do candidato, fica proibida a sua divulgação, sob pena de cancelamento do respectivo registro.

§ 1º A partir de 1º de agosto do ano da eleição, é vedado ainda às emissoras transmitir programa apresentado ou comentado por candidato escolhido em convenção.

§ 1o A partir do resultado da convenção, é vedado, ainda, às emissoras transmitir programa apresentado ou comentado por candidato escolhido em convenção. (Redação dada pela Lei nº 11.300, de 2006)

§ 2º Sem prejuízo do disposto no parágrafo único do art. 55, a inobservância do disposto neste artigo sujeita a emissora ao pagamento de multa no valor de vinte mil a cem mil UFIR, duplicada em caso de reincidência.
(…)

Voltei
Muito bem! Quem é que pode ser favorável a que se usem trucagem e montagem para depreciar candidatos? Ninguém! Seria um absurdo! Nesse caso, obviamente, a lei faz bem em ser restritiva.

Mas vejam lá o que está disposto no Inciso III. Um jornalista está impedido de emitir uma opinião, pouco importa o que pense o candidato. Se alguém propuser uma barbaridade qualquer, o jornalismo faz o quê? Deve se calar?

De resto, o que é uma “opinião contrária” e “uma opinião favorável”? A margem de subjetivismo é absurda. É o mesmo que votar uma lei que diga o seguinte: “Todos estão obrigados a ser bons, e é proibido ser mau”.

Se alguém propusesse, por exemplo, privatizar a Petrobras (ninguém fará isso, eu sei), eu tenderia a elogiar tal proposta. Então não posso dizer aos ouvintes, aos telespectadores, que essa proposta é boa? Se alguém propuser estatizar todos os bancos, estou proibido de dizer que se trata de uma coisa estúpida?

É claro que isso é censura! É claro que isso cerceia o livre debate de ideias.

Vamos ver o que disse o ministro Marco Aurélio:

OS PINGOS NOS IS – Ministro, a Lei Eleitoral criará, daqui a pouco, severas restrições para o trabalho do jornalismo em rádio e na TV. Uma simples análise poderá ser confundida com campanha. Não se trata de um resquício autoritário, que cerceia o livre debate de ideias.

MARCO AURÉLIO – Há realmente esse temor por parte da imprensa em geral. O que nós precisamos é ter presente a lei das leis, a Constituição Federal. E ela revela em bom português, em bom vernáculo, que a liberdade de informação, em um estado democrático de direito é a tônica. (…) Nós não podemos adotar uma ótica que inviabilize a atuação jornalística.

OS PINGOS NOS IS – Ministro, quer dizer que, se alguém decidir entrar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade contra a Lei Eleitoral, com base na garantia da liberdade de expressão, que está na Constituição, poderia ter sucesso?

MARCO AURÉLIO – Olhe, no mínimo, será implementada aí a decisão conforme o texto constitucional. Nós não podemos colocar a Lei Eleitoral, que é a Lei 9.504, de 1997, acima do texto maior, ou seja, da Constituição Federal.

OS PINGOS NOS IS – Eu acho que a gente está dando junto um furo aqui, ministro, nacional!

MARCO AURÉLIO – Não, imagine! Eu estou revelando o convencimento que sempre exteriorizei no plenário. Aliás, eu sou um juiz previsível.

OS PINGOS NOS IS – Aliás, como devem ser os juízes nas democracias.

MARCO AURÉLIO – Sem dúvida, é a segurança.

OS PINGOS NOS IS – É a segurança jurídica.

Retomo
Eis aí. Quem sabe ler põe os pingos nos is e nem precisa que se corte o “t”. Sem entrar no mérito, parece que Marco Aurélio deixa claro que a Lei Eleitoral não tem o direito de interditar o debate. Cumpre agora que a Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão) recorra a uma Ação Direita de Inconstitucionalidade contra parte ao menos do Artigo 45. Que fique claro: nos EUA, todo esse artigo seria considerado uma aberração porque a Primeira Emenda proíbe que se legisle sobre liberdade de expressão.

Mas nem é preciso querer tanto, embora fosse o ideal. Segundo a Constituição, entidades de classe de âmbito nacional, como é a Abert, têm poder de ajuizar uma ADI.

À luta, senhores! Que a Constituição se sobreponha a uma lei. Assim é nas democracias.

Ouça a entrevista.

Texto publicado originalmente às 21h46 desta terça

Por Reinaldo Azevedo

 

Renan combina estratégia arrasa-CPI com Planalto; Eduardo Cunha diz não abrir mão de comissão mista e afirma haver “malfeitos” na Petrobras

Renan Calheiros: ele combinou ações anti-CPI

Renan Calheiros: ele combinou ações anti-CPI

Cunha, líder do PMDB: há malfeitos na Petrobras

Cunha, líder do PMDB: há malfeitos na Petrobras

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), joga em dobradinha com o governo para criar o maior número possÍvel de empecilhos à investigação das lambanças na Petrobras pelo Congresso. Renan combinou os passos com o Palácio do Planalto e está em descompasso com o líder de seu partido na Câmara, Eduardo Cunha (RJ).  O senador marcou para esta quarta à noite uma sessão conjunta do Congresso para dar inicio à instalação da CPI Mista. Mas também já recebeu as indicações governistas para a instalação da CPI exclusiva do Senado. Trata-se de uma verdadeira tropa de choque, que não vai querer apurar nada.

A oposição, que luta pela CPI mista, já que o governo tem menos controle da Câmara, retirou os nomes que havia indicado, e Renan ameaça fazer ele mesmo a indicação, o que é possível. Os petistas vão dizer que tem prevalência a CPI que for instalada primeiro, o que é bobagem porque nada impede que as duas funcionem, ainda que isso seja absurdo. O objetivo é retardar o máximo possível o início dos trabalhos de uma ou das duas CPIs, tentando arrastar a questão até junho, quando o Congresso entra em recesso antecipado por causa da Copa do Mundo.

Renan se estranhou com o líder do partido na Câmara porque o deputado estaria disposto a indicar nomes para a CPI mista que não rezam exatamente pela cartilha do Planalto.

Cunha concedeu nesta terça-feira uma entrevista ao programa “Os Pingos nos Is”, da Jovem Pan. Indagado sobre qual seria o papel do PMDB na CPI mista, afirmou: “Não vamos fazer o papel nem de beque governista, nem vamos ser ponta de lança oposicionista; nós vamos nos ater aos fatos, que são os fatos que têm que ser apurados”. E foi adiante: “Nós não vamos aceitar que não tenha a CPI mista; ela já está criada”. E emendou: “A gente acha que tem um malfeito, sim, na Petrobras; estes estão fartamente denunciados: há um ex-diretor da Petrobras preso; há uma série de denúncias na imprensa que precisarão ter respostas, e isso tem de ser apurado. A gente quer participar de uma resposta à sociedade sobre esses malfeitos que são denunciados”.

O governo sabe que não poderá impedir a CPI Mista e pretende usar a do Senado para encurralar a oposição. Um dos participantes da reunião que definiu a estratégia do governo,  que juntou Dilma, Renan e os ministros Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) e Aloizio Mercadante (Casa civil) resumiu ao Globo: “Vai ser olho por olho, dente por dente. A Petrobras tem turbina da Alstom e deu R$ 2 bilhões para que a empresa Comgás, do governo de Pernambuco, fizesse obras no entorno da Abreu e Lima. A conexão já existe”.

Vale dizer: o governo pretende transformar as CPI da Petrobras na tal CPI X-Tudo. A ordem é impedir que se investigue a Petrobras. Eles devem saber por que tanto o medo. Em parte ao menos, nós também sabemos.

Por Reinaldo Azevedo

Tags: Eduardo CunhaPetrobras

 

A morte de Fabiane e o Brasil bárbaro

Existe um Brasil ainda bárbaro, violento, alheio à Justiça e ao estado de direito. Esse país faz, a cada ano, mais de 50 mil mortos. A esmagadora maioria desses casos fica sem solução; não chega aos autores.

É claro que o motivo deste texto é o linchamento da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, espancada até a morte no bairro de Morrinhos, no Guarujá. Por quê? Ora, havia um boato sobre uma suposta sequestradora de crianças que estaria atuando na região. Uma página no Facebook teria divulgado um retrato falado. Alguém achou que ela se parecia com Fabiane, e a tragédia se deu.

O mais impressionante: não havia nem mesmo casos de sequestro. Tudo não passava de um boato, de um diz-que-diz-que. Atenção! Ainda que Fabiane fosse uma criminosa, o linchamento seria inaceitável. Inventamos instituições justamente para evitar a guerra de todos contra todos.

As redes sociais são um instrumento fantástico da democracia. Mas é preciso ter responsabilidade. A polícia tem de investigar com toda a severidade se houve, ainda que indiretamente, um incitamento a comportamentos criminosos.

Da mesma forma, é preciso chegar aos responsáveis pelo linchamento e puni-los com todo o rigor da lei. Não há nada que justifique toda aquela brutalidade. Não me venham falar que são pessoas humildes, de baixa escolaridade, que vivem em situação difícil. Não me venham falar dos deserdados do estado, da sorte, do destino.

Tudo isso pode ser verdade. Ocorre que são muitos milhões os pobres no Brasil. Se pobreza fosse sinônimo de propensão ao crime, não conseguiríamos pôr o nariz fora da porta. É preciso deixar claro que os pobres também têm senso de moralidade, de justiça, de decência.

Não é a condição social que faz o caráter. Partir dessa premissa corresponde a exercitar o mais odioso preconceito. Os assassinos de Fabiane Maria de Jesus têm de arcar com as consequências de seu ato criminoso. Para que isso não volte mais a acontecer.

Quanto aos linchadores que hoje pululam nas redes sociais, dizer o quê? Eles existem, de vários gêneros, de várias formas. Há desde os livres-espancadores, que são sórdidos por uma inclinação do espírito, àqueles que são pagos por estatais e por páginas do governo federal para atacar a honra daqueles que têm a pretensão de ter como adversários.

Há, em suma, os linchadores por conta própria e os linchadores a soldo. São todos bandidos.

Por Reinaldo Azevedo

 

Dilma paga o pato, por DORA KRAMER

(em o Estado de S. Paulo)

O PT procura espetar na conta exclusiva da presidente Dilma Rousseff um débito que é coletivo. O que há de errado agora foi celebrado pelo partido (e por que não dizer, por boa parte dos aliados e dos setores beneficiados) como acerto, seja na política econômica à época em que ela qualificou como "rudimentar" uma proposta de ajuste de rumos do então ministro Antonio Palocci, seja no enfrentamento da base parlamentar baseada na fantasia da "faxina" ou na lenda da gestora mais espetacular da face da terra.

Enquanto tudo ia bem todos achavam que estava tudo certo. As deficiências de Dilma eram evidentes desde a época em que chefiava a Casa Civil. Basta lembrar suas maneiras desajeitadas na tentativa de enfrentar os episódios do dossiê com as despesas de Ruth Cardoso quando Fernando Henrique ocupava a Presidência e as denúncias envolvendo Erenice Guerra, seu braço direito no ministério.

Deficiências estas que ficaram inscritas em letras maiúsculas nos registros da história dos primeiros momentos da campanha eleitoral de 2010, antes de o patrono e presidente Luiz Inácio da Silva entrar em campo e falar pela candidata praticamente o tempo todo. Ela era um desacerto só, inclusive nos debates. A despeito disso, foi vista e recebida com extrema boa vontade.

A Dilma Rousseff presidente não enganou ninguém. Não mudou. Diferentemente das circunstâncias. Quando as coisas começaram a dar errado - e para infortúnio do governo e do PT, começaram todas de uma vez - aí é que os companheiros de partido, os empresários, os aliados, boa parte do eleitorado e até seu criador acharam por bem notar seus defeitos, reclamar e atribuir a eles todos os males.

Mas, nos concentremos no PT que é quem mais se queixa e quem menos moral tem para se queixar. O partido é Lula, ninguém tem dúvida, pois não? Dilma é uma invenção de Lula e, portanto, do partido, que a aprovou, festejou e apoiou enquanto ela representava a certeza de que os empregos e o domínio da máquina pública estariam garantidos.

No momento em que sua figura passou a representar a incerteza, Dilma foi posta na condição de devedora do trem pagador. Como se seus índices de insatisfações fossem resultado do desempenho da pessoa física. Não são: dizem respeito à pessoa jurídica PT S/A, que assumiu o poder com o propósito explícito (dito à época com orgulho por seus dirigentes) de construir uma hegemonia política, social e cultural no Brasil.

Ocupar todos os espaços, o que significa reduzir (para não dizer dizimar) as outras forças a papéis meramente minoritários. Em português claro, quer dizer a intenção de desconsiderar o fator alternância de poder. Para isso, o partido não poderia criar atritos nem enfrentar conflitos, ainda que resultassem em avanços para o País.

Desde o início, o governo do PT escolheu o caminho que lhe pareceu o mais fácil. Não conseguiu maioria no Parlamento? Atraia-se com dinheiro a maioria. Seria difícil prosseguir com as reformas tributária, trabalhista, sindical, política, previdenciária? Abandonem-se as reformas. É complicado imprimir um padrão mais decente de relações entre Executivo e Legislativo? Revoguem-se as disposições em contrário e locupletem-se todos. As forças do atraso criarão dificuldades? Abram-se alas e recuperem-se seus espaços dando a elas lugares de honra, merecedores de todo apreço e proteção.

Isso não começou no governo Dilma. O esgotamento que se vê hoje é consequência de todos os abusos cometidos em nome da acomodação de interesses com vista à execução de um projeto partidário.

Quando Lula defendeu que o deputado André Vargas se jogasse ao mar para que o PT não pagasse "o pato", tentou transferir a responsabilidade de uma conta que foi por ele avalizada, pelo partido foi chancelada e cuja fatura mais dia, menos dia ao País seria apresentada.

 

Opinião

‘Adeus, PT’, de Marco Antonio Villa

Publicado no Globo desta terça-feira

MARCO ANTONIO VILLA

A cinco meses da eleição presidencial é evidente o sentimento de enfado, cansaço, de esgotamento com a forma de governar do Partido dos Trabalhadores. É como se um ciclo estivesse se completando. E terminando melancolicamente.

A construção do amplo arco de alianças que sustenta politicamente o governo Dilma foi, quase todo ele, organizado por Lula no início de 2006, quando conseguiu sobreviver à crise do mensalão e à CPMI dos Correios. Naquele momento buscou apoio do PMDB — tendo em José Sarney o principal aliado — e de partidos mais à direita. Estabeleceu um condomínio no poder tendo a chave do cofre. E foi pródigo na distribuição de prebendas. Fez do Tesouro uma espécie de caixa 1 do PT. Tudo foi feito — e tudo mesmo — para garantir a sua reeleição. Parodiando um antigo ministro da ditadura, jogou às favas todo e qualquer escrúpulo. No jogo do vale-tudo não teve nenhuma condescendência com o interesse público.

A petização do Estado teve início no primeiro mandato, mas foi a partir de 2007 que se transformou no objetivo central do partido. Ter uma estrutura permanente de milhares de funcionários petistas foi uma jogada de mestre. Para isso foram necessários os concursos — que garantem a estabilidade no emprego — e a ampliação do aparelho estatal. Em todos os ministérios, sem exceção, aumentou o número de funcionários. E os admitidos — quase todos eles — eram identificados com o petismo.

Desta forma — e é uma originalidade do petismo —, a tomada do poder (o assalto ao céu, como diria Karl Marx) prescindiu de um processo revolucionário, que seria fadado ao fracasso, como aquele do final da década de 60, início da década de 70 do século XX. E, mais importante, descolou do processo eleitoral, da vontade popular. Ou seja, independentemente de quem vença a eleição, são eles, os petistas, que moverão as engrenagens do governo. E o farão, óbvio, de acordo com os interesses partidários.

Se no interior do Estado está tudo dominado, a tarefa concomitante foi a de estabelecer um amplo e fiel arco de dependência dos chamados movimentos sociais, ONGs e sindicatos aos interesses petistas. Abrindo os cofres públicos com generosidade — e que generosidade! — foi estabelecido um segundo escudo, fora do Estado, mas dependente dele. E que, no limite, não sobrevive, especialmente suas lideranças, longe dos recursos transferidos do Erário, sem qualquer controle externo.

O terceiro escudo foi formado na imprensa, na internet, entre artistas e vozes de aluguel, sempre prontas a servir a quem paga mais. Fazem muito barulho, mas não vivem sem as benesses estatais. Mas ao longo do consulado petista ganharam muito dinheiro — e sem fazer esforço. Basta recordar os generosos patrocínios dos bancos e empresas estatais ou até diretamente dos ministérios. Nunca foi tão lucrativo apoiar um governo. Tem até atriz mais conhecida como garota-propaganda de banco público do que pelo seu trabalho artístico.

Mas tudo tem um começo e um fim, como poderia dizer o Marquês de Maricá. E o fim está próximo. O cenário não tem nenhum paralelo com 2006 ou 2010. O desenho da eleição tende à polarização. E isto, infelizmente, poderá levar à ocorrência de choques e até de atos de violência. O Tribunal Superior Eleitoral deverá ser muito acionado pelos partidos. E aí mora mais um problema: quem vai presidir as eleições é o ministro Dias Toffoli – como é sabido, de origem petista, foi advogado do partido e assessor do sentenciado José Dirceu.

Se a oposição conseguir enfrentar e vencer todas estas barreiras, não vai ter tarefa fácil quando assumir o governo e encontrar uma máquina estatal sob controle do partido derrotado nas urnas. As dezenas de milhares de militantes vão — se necessário — criar todo tipo de dificuldades para a implementação do programa escolhido por milhões de brasileiros. Aí — e como o Brasil é um país dos paradoxos — será indispensável ao novo governo a utilização dos DAS (cargos em comissão). Sem eles, não conseguirá governar e frustrará os eleitores.

Teremos então uma transição diferente daquela que levou ao fim da Primeira República, em 1930; à queda de Vargas, em 1945; ou, ainda, da que conduziu ao regime militar, em 1964. Desta vez a mudança se dará pelo voto, o que não é pouco em um país com tradição autoritária. O passado petista — que imagina ser eterno presente — terá de ser enfrentado democraticamente, mas com firmeza, para que seja respeitada a vontade das urnas.

É bom não duvidar do centralismo democrático petista. Não deve ser esquecido que o petismo é o leninismo tropical. Pode aceitar sair do governo, mas dificilmente sairá do aparelho de Estado. Se a ordem de sabotar o eleito em outubro for emitida, os militantes-funcionários vão segui-la cegamente. Claro que devidamente mascarados com slogans ao estilo de “nenhum passo atrás”, de “manter as conquistas”, de impedir o “retorno ao neoliberalismo”. E com uma onda de greves.

A derrota na eleição presidencial não só vai implodir o bloco político criado no início de 2006, como poderá também levar a um racha no PT. Afinal, o papel de Lula como guia genial sempre esteve ligado às vitórias eleitorais e ao controle do aparelho de Estado. Não tendo nem um, nem outro, sua liderança vai ser questionada. As imposições de “postes”, sempre aceitas obedientemente, serão criticadas. Muitos dos preteridos irão se manifestar, assim como serão recordadas as desastrosas alianças regionais impostas contra a vontade das lideranças locais. E o adeus ao PT também poderá ser o adeus a Lula.

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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