É preciso criar uma Comissão da Verdade para as contas públicas, diz Gustavo Franco

Publicado em 30/06/2014 17:26 e atualizado em 18/07/2014 14:17
por Rodrigo Constantino, de veja.com.br

EconomiaInflação

É preciso criar uma Comissão da Verdade para as contas públicas, diz Gustavo Franco

Fonte: Folha

As contas de setor público fecharam o mês de maio com o primeiro resultado negativo para o mês desde o início da série histórica do Banco Central, em 2002. De acordo com o BC, União, Estados, municípios e empresas estatais registraram deficit primário de R$ 11,05 bilhões no mês passado. Considerando todos os meses, o resultado é o pior desde dezembro de 2008, quando o déficit foi de 20,952 bilhões de reais, no auge da crise internacional.

Em entrevista para a Folha, Gustavo Franco coloca as contas públicas como causa de inúmeros problemas atuais da economia. Para um dos “pais” do Plano Real, a Copa se tornou uma metáfora perfeita das causas da inflação. ”Alguns estádios foram construídos com um dinheiro que não existe, aumentando a dívida do governo. Se queríamos exemplos de irresponsabilidade fiscal que todos entendessem, a Copa foi um espetáculo”, disse.

Para Franco, é preciso fazer quase uma Comissão da Verdade para saber o que houve com as contas públicas. Ele defende maior transparência com o orçamento, e não poupa o governo Dilma de críticas. Todo cuidado com a inflação é pouco, pois nosso histórico é de um viciado. Como ele diz, não há cura, apenas abstinência. E cita o caso de nossos vizinhos bolivarianos como alerta:

Na Argentina, a situação degringolou quando a inflação chegou a 15%. Foi uma esbórnia de controle de preço e ocultação de informação. Na Venezuela, a inflação subiu para 60% e, retirados os controles, já se parece com hiperinflação. É uma inflação dolorida, porque gera escassez.

Esses países demonstraram que existe uma fronteira, entre 10% e 15%, que é muito perigosa. Será uma tragédia histórica se a inflação escapar e entrarmos na trajetória de Argentina e Venezuela.

Algumas receitas são apresentadas pelo economista ao próximo governo, para que o risco inflacionário seja contido:

O próximo governo precisa recompor os pilares de uma economia sadia, que foram abandonados por questões ideológicas.

Temos que falar da responsabilidade fiscal em todas as suas dimensões e não apenas em superavit primário. É preciso fazer quase uma comissão da verdade para saber o que houve com as contas públicas nos últimos tempos.

O segundo ponto é o câmbio flutuante. O que está em jogo é o relacionamento do Brasil com o mundo. Com o Plano Real, abrimos o país para a economia internacional. Recentemente houve um recuo perigoso em direção a ideias dos anos 1950.

Também existia no Brasil a percepção de que o governo gostava da liderança empresarial no crescimento. Hoje o governo tem reputação de hostilidade ao setor privado.

[...]

O próximo governo precisa de uma proposta de orçamento transparente. Nunca organizamos direito nosso orçamento, que é o centro econômico de qualquer democracia digna desse nome. 

Como todos aqueles que acompanham as notícias políticas e econômicas sabem, o PT não tem condições de seguir por esse caminho, principalmente sob o comando de Dilma, que acredita no nacional-desenvolvimentismo e não parece se importar com as contas públicas deterioradas, pois sempre há o malabarismo contábil para “enganar” os investidores.

A revista Veja desta semana estampou em sua capa um alerta de extrema importância, aproveitando o momento que celebra os 20 anos do Plano Real para mostrar como seus pilares se encontram, hoje, ameaçados. Vale a leitura na íntegra, que vai ao encontro dos alertas feitos por Gustavo Franco na entrevista.

Derrotar a hiperinflação foi uma tarefa dificílima e cheia de obstáculos. Com o benefício do retrospecto parece mais fácil, mas não havia garantia alguma de que o resultado seria esse. Os petistas do alto escalão foram, inclusive, contra o plano, e disseram que não daria certo. Pelo visto, hoje no poder, fazem de tudo para realmente boicotar o plano que domou o dragão inflacionário.

Rodrigo Constantino

 

Crise InternacionalEconomiaIntervencionismo

À beira do abismo: o excesso de intervenção estatal e suas mazelas

Companheiras de ideologia

O tema da coluna de hoje de Henrique Meirelles na Folha foi a crise argentina, que voltou às páginas dos jornais por conta de novo risco de calote. Enganam-se aqueles que ficam surpresos, ou que culpam os bodes expiatórios de sempre: capitalismo, neoliberalismo, ataque especulativo, etc. A crise era previsível e foi fabricada em casa, pelo governo Kirchner.

Infelizmente, a América Latina adora insistir em modelos equivocados, que depositam papel demasiadamente relevante ao estado na condução da economia. Há, na região, uma forte descrença em relação ao funcionamento do livre mercado, e uma contraditória e até esquizofrênica fé na capacidade do estado, visto como ente clarividente e onipotente. Diz Meirelles:

É preciso notar como certas visões de políticas econômicas não se deixam alterar pelos fatos, vistos como meros aborrecimentos no meio do caminho. Nesses casos, ideias preconcebidas de que um Estado pródigo e interventor é o melhor condutor do crescimento predominam sobre resultados concretos e a experiência histórica.

A crise argentina é clássica na medida em que o governo interveio diretamente na economia, procurando ditar o comportamento de empresas e consumidores. A experiência histórica mostra que finanças públicas desequilibradas, incerteza regulatória e distorções nos sistemas de preços criadas pelo governo são os maiores causadores de baixa produtividade, decadência econômica e crises.

O exemplo da nação vizinha deve servir como eloquente prevenção contra a tentação da excessiva intervenção do governo no funcionamento da economia. Aprofundar medidas equivocadas para resolver problemas só aumenta aqueles que se quer resolver.

O que Meirelles chama a atenção é de extrema importância. Sabemos que o governo Dilma tem flertado com vários métodos aplicados por Kirchner, e que o exemplo catastrófico dos nossos vizinhos não tem servido como alerta suficiente a este governo atual.

Meirelles, como todos sabem, foi figura essencial para garantir a credibilidade da gestão macroeconômica da era Lula, que começou a desandar de verdade a partir do segundo mandato, especialmente quando as comportas dos cofres públicos foram abertas para estimular o crescimento e ajudar a eleger Dilma.

Em suas colunas dominicais na Folha, o ex-presidente do Banco Central tem demonstrado uma visão bastante liberal de economia, oposta a tudo aquilo que a presidente Dilma representa, com seu nacional-desenvolvimentismo intervencionista.

Espanta, portanto, o fato de que Meirelles, do PSD de Kassab, tenha preferido permanecer na coalizão que defende a reeleição de Dilma, em vez de fechar acordo com o PSDB, bem menos afastado dessa visão econômica mais liberal. Nossa política é mesmo uma “suruba”, sobrando “pragmatismo” e faltando aproximação com base programática e ideológica.

Meirelles deveria considerar o ponto de Ferreira Gullar, que, em sua coluna no mesmo jornal hoje, falando sobre as vaias à Dilma e a reação de Lula, disse: “Que esperança pode representar um partido que, após doze anos de governo, levou o país à inflação e paralisou o crescimento econômico? A esperança não pode estar em reeleger quem fracassou e, sim, em mudar o que não deu certo”.

Rodrigo Constantino

 

DemocraciaPolítica

As duas cartas petistas: esquizofrenia ou partes de uma só estratégia?

Amigos do peito…

Em sua coluna de hoje, Denis Rosenfield lembra que Lula só teve sucesso eleitoral quando escreveu a famosa “Carta ao povo brasileiro”, prometendo que as tradicionais bandeiras petistas seriam colocadas de lado em prol de concessões importantes ao “sistema”. Ali, Lula prometia ser responsável e abandonar o ímpeto revolucionário do PT.

Dito e feito. Ao menos por algum tempo. Palocci e Meirelles representaram esta guinada, que poderia até mesmo ser rotulada de “neoliberal”, segundo Rosenfield. Porém, essa carta jamais se tornou um documento partidário oficial, ou seja, uma grande ala do PT continuou flertando com movimentos revolucionários de esquerda, com viés claramente anticapitalista e antidemocrático.

Enquanto o governo Lula mantinha uma política macroeconômica típica da social-democracia tucana, boa parte do próprio PT insistia em medidas revolucionárias, criando assim uma espécie de esquizofrenia partidária. Claro que é possível e até saudável haver divergências dentro de um mesmo partido, mas não em pontos tão básicos e essenciais.

O PT convive, portanto, com duas metades em permanente conflito. Com a aproximação das eleições, essas divergências se acentuam, e tanto o partido como a presidente Dilma parecem ter escolhido o lado mais sombrio e revolucionário. Rosenfield desenvolve o raciocínio:

A eleição, contudo, está levando a uma aproximação com posições partidárias que contradizem a própria prática petista de governar nesses últimos anos. Em vez de retomar e aprofundar uma “Carta ao povo brasileiro”, que deveria ser um documento partidário, a presidente e o PT estão, em sua estratégia política, formulando praticamente uma “Carta aos petistas”. A presidente afasta-se de sua própria prática de governo e o PT retoma as suas posições doutrinárias tradicionais. A esquizofrenia ganha novos contornos.

Explico-me. Há um texto implícito na atual estratégia que merece a denominação de “Carta aos petistas”. Ela está voltada principalmente para o seu público interno. Em contradição explícita com a política do governo Dilma até aqui, ela se caracteriza, entre outros quesitos: a) pela recuperação da política de “democratização dos meios de comunicação”, com o objetivo de controle destes mesmos meios, que estariam fazendo o “papel das oposições”, o jogo dos “conservadores”; b) pela retomada da interlocução com os ditos “movimentos sociais”, em particular o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), braço urbano do MST, agora voltado contra a “especulação imobiliária”; c) pela aposta na fratura social e política por intermédio do discurso que tinha sido enfraquecido dos “ricos” contra os “pobres”, em um jogo canhestro de reafirmação da “luta de classes”; d) pela racialização da política, tornando o xingamento em um estádio a manifestação de uma “elite branca”.

A radicalização pode ter como intuito atrair novamente os mais esquerdistas, inconformados com o que chamam de migração para a “direita” do PT. Seria um discurso “intramuros” para conquistar os tradicionais militantes que debandaram para novas siglas que representam o velho PT utópico, pois afastado ainda do poder.

Segundo Rosenfield, a atual estratégia parece a de um partido que se prepara para ser oposição, não de um partido que está no governo há 12 anos. O autor conclui questionando qual carta está valendo. A pergunta é legítima: qual cara o PT pretende adotar, sendo ele um partido de duas caras?

Há, porém, uma interpretação alternativa: a de que as duas caras sempre foram partes da mesma estratégia, qual seja, a permanência no poder. A carta de Lula seria, então, um ato de puro pragmatismo para chegar ao poder, assim como a escolha de Henrique Meirelles para o Banco Central. Puro estelionato eleitoral. Mas sua natureza sempre foi autoritária e antidemocrática.

Quando o PT achou que era possível mudar, abandonar a responsabilidade macroeconômica para eleger Dilma, ele não pensou duas vezes. Sua natureza autoritária veio à tona novamente. A imprensa só não foi controlada porque conseguiu resistir, não por falta de desejo do PT. A carta ao povo não passava de uma máscara temporária, por essa ótica.

Os militantes radicais nunca foram traídos, apenas tiveram que esperar mais tempo do que os vizinhos bolivarianos. A revolução leva tempo, pois segue a lógica de Gramsci, não de Lênin. Essa é a visão de boa parte da direita, que sempre enxergou o PT como um partido revolucionário, e não mudou de opinião só por causa de Palocci e Meirelles.

Minha opinião? Alguma coisa entre os dois extremos. Que o PT tem uma natureza revolucionária representada por uma ala expressiva é fato inegável. Por outro lado, muitos descobriram os encantos do poder e querem preservar suas tetas estatais, nada mais. Se o caminho para isso for fazer concessões aos “neoliberais”, escrever uma nova carta ao povo, que seja. Vale apenas não perder a boquinha. Seria o PMDB fisiológico dentro do PT.

O PT é, portanto, uma mistura de PSOL com PMDB, reunindo o que há de pior em cada um deles. Bolivarianos de um lado, corruptos pragmáticos do outro, quando não ambos em um só. Independentemente de qual seja o PT verdadeiro ou mais forte, o fato é que ele representa, no poder, uma ameaça enorme ao país e nossa democracia. O cientista político Nelson Paes Leme, em artigo publicado no mesmo jornal, escreve:

O poder corrompe, já disseram Lao Tzu e Maquiavel, mas também aliena. Quanto mais tempo no poder, mais corruptos, impunes mas, sobretudo, mais alienados seus ocupantes. Como obter lisura e isonomia em eleições adredemente corrompidas, onde o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, nomeado por uma candidata, exatamente a ocupante do Executivo, foi até ontem militante e advogado do partido político desta candidata? Como obter lisura e isonomia numa eleição onde a candidata do governo dispõe do dobro de tempo de propaganda eleitoral de todos os candidatos da oposição? Como acreditar em um governo cuja cúpula dirigente está atrás das grades, com um diretor da maior empresa estatal também preso e outro do maior banco estatal, condenado e foragido na Itália? Desde os brioches de Maria Antonieta na França da Bastilha decaída, ao Baile da Ilha Fiscal que pôs fim ao Império no Brasil que os decadentes alienados se sucedem. O poder petista desses tempos não estaria imune a essa fatalidade histórica. Nunca se viu tanta corrupção, tanto descaso e escárnio com a coisa e com a opinião públicas e tanta alienação para o que está por vir. Preveem-se tempos sombrios e confusos. Quem viver, verá. Ninguém se dispõe a enterrar essa fétida senhora: a república lulopetista. Não há coveiro que resista a tanta putrefação. E o mais incrível de tudo: a única proposta de reforma política do Estado vem pelas mãos exatamente do próprio PT.

Não importa qual lado petista seja o predominante: ambos vêm, juntos, destruindo nossas instituições republicanas, aparelhando completamente o estado, rasgando as regras do jogo, cuspindo nas leis e derrubando os pilares democráticos. O PT revolucionário, pois isso é o que sempre desejou; o PT fisiológico e corrupto, pois essa foi a maneira que encontrou de se perpetuar no poder. Só há mesmo uma solução, que não é uma nova carta ao povo brasileiro: retirar o PT do poder!

Rodrigo Constantino

 

ComunismoHistória

O “barba vermelha” e o “barba”

Estou de olho, Barba. Não vá me decepcionar...

Estou de olho, Barba. Não vá me decepcionar…

Lendo o livro A Vida Secreta de Fidel, de Juan Reinaldo Sánchez, membro da equipe de segurança pessoal do ditador cubano por vários anos e hoje exilado em Miami, eis que nosso conhecido “barba” aparece em cena, acompanhado de outro famoso “barba”. Segue o trecho (páginas 94 e 95):

Apelidado Barbarroja, justamente por causa de sua barba vermelha, esse grande espião, mais esperto que uma raposa, tinha a missão de localizar, recrutar e formar simpatizantes da Revolução Cubana, fossem eles estudantes, sindicalistas, professores universitários, políticos ou até mesmo empresários. O objetivo: criar, em todo o continente e pelas gerações futuras, agentes de influência e propaganda, inclusive infiltrados nos governos.

[...]

Um dia, vi Barbarroja chegando a passos largos à antessala de Fidel no Palacio. Vinha acompanhado do sindicalista brasileiro Lula, que concorria pela primeira vez à presidência de seu país. Estávamos em 1989. A campanha eleitoral estava no auge no Brasil, e aparentemente Lula achou útil passar por Havana para se encontrar com Fidel. As primeiras palavras de Barbarroja ainda ecoam em minha memória: “Apresento-lhe o futuro presidente do Brasil”, bradou. Sua profecia se cumpriu, mas treze anos depois. O espião principal nunca ficou sabendo: morreu num acidente de carro em 1998, no momento em que pretendia escrever suas memórias. Lula, por sua vez, que se tornou presidente do Brasil de 2003 a 2010, nunca foi ouvido expressando a menor crítica, a menor reserva ao regime castrista, que, durante seu mandato, deteve dezenas de prisioneiros políticos… Pior: em 2010, quando o dissidente cubano Orlando Zapata morreu na prisão depois de uma greve de fome, Lula, que estava em Cuba, declarou que não concordava com esse tipo de método. Ele estava falando da greve de fome!

Ninguém pode negar que os espiões comunistas de Fidel eram homens de visão. Sabiam quais “barbas” adotariam o tom vermelho e chegariam ao poder nos países latino-americanos, para espalhar o comunismo pelo continente…

Rodrigo Constantino

 

DemocraciaInstituiçõesPolítica

Um governo a serviço de um partido de aloprados

O “aloprado” Berzoini com Garotinho: chamem a polícia!

Já comentei aqui sobre a bizarra lista de prefeitos “dissidentes” do PMDB que um assessor do governo pediu ao partido. Trata-se de algo realmente absurdo, que os petistas tentaram minimizar, tratando como a coisa mais normal do mundo. Não é! É mais uma prova de que o PT confunde completamente os conceitos de estado, governo e partido, submetendo os dois primeiros aos interesses do último.

Foi esse o tema do editorial do Estadão hoje, que faz um alerta que merece toda a nossa atenção: o PT colocou toda a estrutura do estado a serviço dos interesses partidários. Isso é da maior gravidade, fere as práticas republicanas, transformando a coisa pública em “cosa nostra”. Seguem os principais trechos do editorial:

É grave a informação segundo a qual um funcionário da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República pretendia elaborar uma lista de prefeitos do PMDB do Rio de Janeiro que aderiram à candidatura presidencial de Aécio Neves (PSDB). Não se pode aceitar que um servidor público trabalhe na coleta de informações com o óbvio objetivo de municiar a campanha da presidente Dilma Rousseff (PT), ainda mais quando se trata de dados sobre dissidentes da coligação governista. O espantoso caso constitui mais um exemplo de como os petistas confundem seu partido com o governo – além de revelar as táticas pouco republicanas do PT contra aqueles que ousam desafiá-lo.

[...]

Tal articulação, do ponto de vista político, é legítima. Usar a máquina do Estado para fazer uma lista de dissidentes com propósitos obscuros não é. Lembra o modus operandi de regimes autoritários, que desqualificam, perseguem e criminalizam qualquer forma de oposição.

[...]

Práticas sorrateiras como essa, que visam a prejudicar a oposição, não são novidade na trajetória recente do PT. Na disputa pelo governo de São Paulo em 2006, dois emissários petistas foram flagrados num hotel com R$ 1,75 milhão, dinheirama que serviria para comprar um dossiê com informações que supostamente comprometeriam o então candidato tucano, José Serra. O escândalo atingiu vários petistas, inclusive alguns graúdos, como Ricardo Berzoini, à época presidente nacional do PT e coordenador da campanha à reeleição do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na ocasião, Lula qualificou esses companheiros de “aloprados”.

Berozini, não custa lembrar, foi não só “reabilitado” como se transformou em importante ministro de Dilma. O PT é assim mesmo: não considera tais práticas como condenáveis, pois julga que seus “nobres fins” justificam quaisquer meios, como todo partido “revolucionário”. Ainda que os fins, hoje, sejam apenas se perpetuar no poder.

É um partido que colocou a máquina estatal inteira a serviço de seus interesses. É um partido de “aloprados” que não demonstra respeito algum pela democracia republicana.

Rodrigo Constantino

 

CulturaGuerras

Paz de boutique: o pacifismo como uma fuga da realidade

Os europeus acreditaram que a paz seria eterna…

O mundo, sendo o que é, assusta mesmo. A história das civilizações é também a história da barbárie que os homens são capazes de cometer. Quem encara essa realidade de frente jamais pode embarcar em alguma forma de otimismo redentor e ingênuo. Os mais fracos, porém, costumam abraçar bandeiras cor-de-rosa como o pacifismo, no desejo louco de crer que o mundo é um grande parque de diversões.

Combater esta visão boboca – e muito perigosa, pois amplamente disseminada nos países ricos – tem sido um dos objetivos prioritários do filósofo Luiz Felipe Pondé. O sucesso capitalista teria criado todo tipo de luxo para as elites, e o pacifismo nada mais é do que um desses luxos. Só quem não convive com a dura realidade pode se permitir certas crenças.

Pondé lembra que antes da Primeira Grande Guerra muitos ocidentais caíram nessa falácia, acreditando que a paz era inexorável tanto quanto o progresso era linear e garantido. A Europa acordou da pior forma possível. Sua coluna de hoje foi mais um tiro certeiro para despertar esses  herdeiros dos “progressistas” da perigosa sonolência:

Uma das razões que me levam a criticar tanto as esquerdas é sua vocação para a mentira e a idealização (uma forma romântica de mentira) no trato com o mundo. Nesse universo de “mentiras chiques” da esquerda, fica difícil discutir, porque logo vem alguém e fala de “nós contra eles” e reduz o debate a uma assembleia de sindicato.

[...]

Vejo o mundo capitalista avançado como um parque temático de gente viciada em luxos, do iPhone aos direitos humanos. Dos movimentos sociais dos “sem isso ou sem aquilo” ao politicamente correto e sua canalhice institucional. O capitalismo não será destruído pelo que falta, mas pelo que sobra.

[...]

Um dos ideais modernos era a de um mundo globalizado pautado por direitos humanos (coisa cara como bolsa Prada), capitalismo “consciente” (outra coisa que leva riquinhas ao orgasmo), separação entre religião e Estado, igualdade dos sexos, das religiões e da raças diante da lei, e, claro, o que sustenta toda essa festa, enriquecimento crescente.

Mesmo quem não compartilha da visão mais pessimista dos conservadores pode fazer bom uso dela, como uma espécie de alerta constante que preserva a cautela. O mundo não é um parque de diversões. Ele está repleto de ameaças que os frequentadores do Central Park jamais saberiam lidar, pois acham que tudo se resolve com uma boa conversa, um chá das cinco, uma bela retórica de alguém como Obama, ou passeatas nas seguras ruas das cidades ocidentais com camisas brancas.

Doce ilusão! Como diz Pondé, “Antes que os bonzinhos de butique gritem, não se trata de festejar nada disso, mas de despertar dos delírios de ricos acostumados a um mundo virtual que não existe”. Quanto mais gente estiver consciente da realidade, melhor. Se os ocidentais preferirem dormir nas nuvens de algodão-doce criadas pelas fantasias esquerdistas, aí sua derrota será mesmo inevitável.

Rodrigo Constantino

 

EmpreendedorismoFilosofia políticaLiberdade EconômicaPaternalismo

O sucesso é hereditário?

Gregory Clark. Fonte: Veja

Uma entrevista publicada hoje no site da Veja com o economista escocês Gregory Clark, da Universidade da Califórnia, levanta pontos interessantes para nossa reflexão. Com base em informações genealógicas e estatísticas coletadas em nove países sobre milhares de famílias, ele afirma que a ascensão social duradoura – aquela que beneficia não apenas um indivíduo, mas também seus descendentes – é um fenômeno raro e pouco influenciado pela adoção de políticas sociais. Abaixo, alguns trechos da entrevista:

Eu não afirmo que não haja recompensa para o esforço individual. O que eu constatei é que as habilidades que levam uma pessoa a ter sucesso acadêmico ou financeiro parecem ser herdadas e passadas de geração em geração. E é muito difícil para qualquer sociedade quebrar essa dinâmica.

[...]

Veja o caso da Suécia, uma sociedade em que as pessoas têm um sistema de educação aberto e acessível por meio do Estado. Ainda assim, numa perspectiva de longo prazo – que é aquela que eu adoto, como é importante enfatizar – o nível de mobilidade social não cresce. Peguemos o Chile como contraponto e o fenômeno se repete. Os sobrenomes das famílias chilenas que eram proeminentes no período colonial continuam sendo até a mais recente geração. O governo socialista de Salvador Allende não melhorou a mobilidade social, assim como o ditador Augusto Pinochet não a reduziu. E assim foi também nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha ou em outros países da minha pesquisa.  

[...]

Eu não estou dizendo que um país não terá sucesso transferindo renda e dando serviços à população. O que digo é que é inútil usar esse argumento para tentar acelerar o processo de mobilidade, ainda mais se interpretarmos esse processo de mobilidade como algo que vai além do dinheiro. Então é preciso ter uma noção dos limites desse tipo de política. Pode levar mais de 10 gerações para que um indivíduo de classe mais baixa atinja o topo e permaneça ali juntamente com sua descendência.

[...]

Minha pesquisa sugere que não se pode descartar de antemão a hereditariedade como determinante do sucesso de um indivíduo na sociedade. Não temos evidência para excluir a genética desse processo. Pelo contrário: parece difícil exclui-la. Há uma conexão surpreendentemente forte entre passado, presente e futuro. Com base em registros de sobrenomes, podemos olhar uma família e estimar se 200 ou 300 anos à frente ela ainda vai estar bem ou não.

[...]

É uma ilusão pensar que tudo é possível. Porque, no fim, muita coisa parece estar programada. Na Grã-Bretanha, por exemplo, quando se faz um levantamento sobre a riqueza das pessoas, é possível prever, por meio da riqueza do tataravô de um indivíduo, se ele estará numa boa posição hoje e nos anos que virão. E isso não significa que o tataravô tenha que, necessariamente, deixar uma herança. 

O que penso disso tudo? Bem, ainda não li o livro, mas, para começo de conversa, penso que o debate civilizado é sempre bem-vindo, e que devemos focar nos dados e na lógica dos argumentos, mesmo que isso possa incomodar algumas crenças pré-estabelecidas.

Hoje em dia só o fato de citar a genética como um fator a ser levado em conta já é algo que desperta a fúria de muita gente, pois remete automaticamente às políticas nazistas. Mas não é porque Hitler e companhia foram monstros e desvirtuaram completamente a biologia para fins espúrios que ela deixa de ser relevante para a ciência.

Por falar em nazismo, pensemos no caso dos judeus. Segundo Niall Ferguson em Civilização, Israel registrou 7.652 patentes entre 1980 e 2000, comparadas a somente 367 de todos os países árabes combinados. Não custa lembrar que tudo isso foi conquistado sob constante ameaça terrorista dos vizinhos, o que forçaria um pesado gasto militar do governo. Ainda assim, o país despontou no campo científico e tecnológico, oferecendo enormes avanços para a humanidade.

Contando com cerca de 0,2% da população mundial e 2% da população americana, os judeus ganharam 22% de todos os Prêmios Nobel, 20% de todas as Medalhas Fields de matemática e 67% das medalhas John Clarke Bates para melhores economistas abaixo de quarenta anos. Os judeus ganharam ainda 38% de todos os Oscar de melhor diretor, 20% dos Prêmios Pulitizer de não-ficção e 13% dos Grammy Lifetime Achievement Awards. Algum fator cultural deve explicar tanto sucesso. Ou teria algum elo com a genética?

Particularmente, acredito na mobilidade social, não com base em puro “achismo”, mas sim com base em experiência própria, observação e estatísticas. Basta olharmos os setores mais dinâmicos, principalmente o de tecnologia, para verificar como o mérito individual, com boas pitadas de sorte, faz toda diferença. Ricaços bilionários de hoje eram completos pé-rapados ontem, com um punhado de dólares em uma garagem e um sonho na cabeça.

O capitalismo de livre mercado sem dúvida permite maior mobilidade, especialmente se o compararmos com as alternativas: feudalismo, socialismo, social-democracia com estado-babá e capitalismo de estado, com muitos privilégios distribuídos pelo estado aos “amigos do rei”. Em ambiente de livre concorrência, os herdeiros vão à bancarrota se não colocarem a herança para trabalhar de forma adequada a satisfazer a demanda dos consumidores.

Dito isso, claro que a própria cultura familiar faz diferença. Ser criado em um ambiente que estimula os valores do empreendedorismo já é largar de um ponto de partida desigual, algo que os utópicos que falam em igualdade de oportunidades nunca levam em conta. Fora isso, há a rede de contatos, muito valiosa, as viagens, as experiências, tudo que a riqueza pode comprar.

Por fim, há, quem sabe, o fator genético, a hereditariedade. Não sabemos ao certo até que ponto ela exerce influência, mas seria absurdo crer que é nula. Nesse sentido considero a provocação do economista interessante, mesmo que incomode minha visão liberal com grande peso depositado na meritocracia individual, independentemente da origem.

Assim como deve incomodar a esquerda paternalista, já que seus programas de transferência de riqueza não surtiriam os efeitos desejados. De onde viemos faz, então, tanta diferença assim? Fica a questão…

Rodrigo Constantino

 

Brasil

Dirceu envelhecido

Alves quer uma cabeleira assim.

Dirceu, em foto antes da prisão

Um amigo que visitou José Dirceu na terça-feira  passada na Papuda relata que o mensaleiro voltou ao seu peso normal (chegou a perder seis quilos na cadeia), mas está  “muito envelhecido”. As fotos que agora aparecerão de Dirceu indo trabalhar devem confirmar essa impressão.

Por Lauro Jardim

 

InvestimentosPrivatização

Quanto vale Abreu e Lima para a Petrobras?

Esqueçam a refinaria em Pasadena, no Texas, responsável por um rombo bilionário na Petrobras e a prisão do diretor Paulo Roberto Costa. A refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, significa um rombo muito maior para o caixa da estatal. Mas qual seria o tamanho deste buraco?

Até mesmo o ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, admitiu que o custo ficou alto demais para a empreitada. Na época, o então presidente Lula fez muito alarde com o projeto, que teria a parceria da Venezuela de seu camarada Hugo Chávez. A PDVSA, estatal venezuelana, não colocou um tostão na obra.

A refinaria acabou sendo 100% da Petrobras, e o custo inicial, orçado em pouco mais de dois bilhões, já passa dos 20 bilhões de dólares. É este o foco que a imprensa tem dado até agora e, realmente, a discrepância chama muita atenção e levanta inúmeras suspeitas legítimas.

Mas mesmo tendo custado até agora muito mais do que o esperado, o que já seria motivo de duras críticas, o investimento ainda poderia fazer sentido. Bastaria imaginar um fluxo de caixa à frente bastante expressivo. O retorno real seria menor do que o esperado inicialmente, mas ainda assim poderia ser positivo.

Com o objetivo de averiguar tal possibilidade, pedi para um dos mais respeitados analistas do setor de petróleo, de um dos maiores bancos de investimento do país, para me mandar um fluxo de caixa projetado para Abreu e Lima apenas. O resultado segue abaixo, mas antes vou esclarecer algumas possíveis dúvidas que os mais leigos em finanças possam ter.

Todo fluxo de caixa conta com diversas premissas que tornam as previsões um tanto incertas. Não estamos lidando com ciência exata aqui, mas com o futuro imprevisível, cujas inúmeras variáveis podem mudar no tempo. O fluxo projetado é muito sensível às premissas de custo de óleo, por exemplo, ou da taxa de câmbio.

Dito isso, o que mais choca é o fato de que, à época da tomada da decisão de investir, e principalmente de terminar o projeto após a debandada da PDVSA, o valor presente esperado era visivelmente horroroso, a menos que os estudos utilizassem premissas um tanto irreais e fora do mercado.

Outra coisa importante de entender, e algo constantemente ignorado por muitos políticos e até economistas (de esquerda), é que o tempo tem valor. No Brasil, valor muito alto. O que isso significa? Que um real hoje vale muito mais do que um real ano que vem.

O custo do dinheiro no tempo é a taxa de juros. No Brasil, como sabemos, ela é bem alta, por vários motivos. Isso quer dizer que os vários bilhões investidos até agora precisam ser trazidos a valor presente, pois poderiam ter sido aplicados em títulos do governo e rendido uma barbaridade (custo de oportunidade), assim como o fluxo futuro estimado precisa ser descontado, pois só irá se materializar adiante, o que tem menor valor. Todo fluxo é muito sensível a essa taxa de desconto usada.

Feito esse esclarecimento, segue o fluxo de caixa livre estimado pelo analista:

FCF Petro

Somente perto de 2019 ou 2020 o fluxo deixaria de ser negativo. Em seguida, ele permaneceria na faixa de um bilhão de reais por vários anos. A partir de 2030, podemos assumir um valor constante para calcular a perpetuidade. Qual seria o valor presente deste fluxo todo?

Usando uma taxa de desconto de 16%, que parece bastante razoável devido ao enorme grau de incerteza do fluxo, e lembrando que a taxa “livre de risco” seria a Selic, hoje em 11%, encontrei um valor presente de quase R$ 30 bilhões para o projeto todo. Trinta bilhões negativos!

Em outras palavras, essa seria a magnitude estimada do rombo de Abreu e Lima para a Petrobras, em valores atuais. Faz o rombo de um bilhão de dólares em Pasadena parecer trocado, não é mesmo? E explica também por que a presidente Dilma disse que “dois bilhões de reais não dão nem para o gasto”, ao justificar que a recente operação entre a estatal e o governo para explorar pré-sal, sem passar pelo crivo do Conselho de Administração, não teria o intuito de melhorar as contas públicas este ano.

De fato, quando se trata de governo federal e da estatal Petrobras, bilhão é troco e evapora com uma velocidade espetacular, como se fosse centavo…

Rodrigo Constantino

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Blog Rodrigo Constantino (VEJA)

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