Crise política e econômica acabará com a renúncia de Dilma. O impeachment ficou em segundo lugar

Publicado em 14/04/2015 02:26
em veja.com

Os embusteiros que ignoram o recado das ruas agonizam brincando com fogo

Luzia Lacerda

O impeachment chega ao canteiro central da Paulista (Foto: Luzia Lacerda)

Pela segunda vez em menos de um mês, centenas de milhares de manifestantes, espalhados por mais de 500 municípios de 22 Estados e do Distrito Federal, saíram às ruas neste 12 de abril para condenar a corrupção impune e a incompetência endêmica, ambas institucionalizadas pelos governos lulopetistas ─ e exigir o imediato despejo da presidente Dilma Rousseff. Em qualquer paragem do planeta, tamanha onda de atos de protesto promovidos pela oposição real (e agora majoritária) seria um fato político de alta relevância.

É muito mais que isso num Brasil em que só se vê multidão ao ar livre no Carnaval, na parada gay, no réveillon ou nas grandes celebrações evangélicas. Trinta anos depois da campanha pelas Diretas-Já, o Brasil decente redescobriu a rua ─ e vai aprendendo que esse é o caminho mais curto para o futuro. Duas mobilizações de grosso calibre bastaram para chancelar a mudança de dono dos espaços urbanos aparentemente expropriados pelo PT. As ruas agora pertencem ao país que pena e presta. Passaram ao controle dos incontáveis democratas unidos em torno de palavras de ordem: Fora Dilma! Fora PT! Fora Lula! Fora corruptos!

Unificadas as inscrições nos cartazes e faixas, integrantes dos maiores grupos envolvidos na organização do movimento Impeachment, eles vêm desmatando trilhas que contornam armadilhas e driblam tocaias com a determinação de quem só admite descansar depois de atingidos os alvos prioritários e lancetados os tumores que determinam a indignação coletiva. Há pouco, participei na TVEJA de um debate sobre o 12 de abril ao lado de Joice Hasselmann, Carlos Graieb, Marco Antonio Villa e Ricardo Setti. Não deixem de ver o vídeo. Lá está tudo o que tenho a dizer sobre mais um dia com alguns parágrafos já assegurados nos livros que tentarão decifrar estes tempos estranhos.

“Abril é o mais cruel dos meses”, avisa o poeta T. S. Elliot num verso de The Waste Land. O primeiro trimestre inteiro foi impiedoso com Dilma e seu partido, mas o quarto mês do ano tem sido exemplarmente feroz. Nesta sexta, o índice da inflação anual e a taxa de desemprego passaram a rondar a fronteira dos dois dígitos. No sábado, a constatação menos desoladora extraída da pesquisa Datafolha informou que o raquítico índice de aprovação da governante à deriva não piorou. No domingo, os acólitos de Dilma e os devotos de Lula quase sucumbiram a um surto de euforia ao saberem que as manifestações de rua foram menos portentosas que as de 15 de março.

Talvez sejam apenas cínicos. Talvez estejam homiziados num mundo imaginário. Em qualquer hipótese, os incapazes capazes de tudo não entenderam nada, não aprenderam nada. Pior: os parceiros de bando nem desconfiam que agonizam brincando com fogo.

Cinco notas de Carlos Brickmann

Publicado na coluna de Carlos Brickmann

 

Sabe de nada, o gringo


John D. Rockefeller, o lendário criador da Standard Oil, dizia que o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada; o segundo melhor, uma empresa de petróleo mal administrada. Mas nem a empresa de petróleo bem administrada se compara, como negócio, aos bancos brasileiros: aqui, quando a economia vai bem, os bancos vão bem. Quando a economia vai mal, os bancos vão ainda melhor. A rentabilidade dos grandes bancos de capital aberto do Brasil foi de 18,23% em 2014, segundo estudo da Economática para a BBC Brasil. A rentabilidade dos bancos americanos não chega à metade: 7,68%.

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NA FOLHA, JOEL PINHEIRO DA FONSECA (TENDÊNCIAS/DEBATES):

O momento liberal

A causa liberal cresce e está amadurecendo. Resta aos seus defensores encontrar a voz certa para promover essa transformação no país

A oposição ao governo definitivamente perdeu o medo das ruas e não vai descansar até que alguma coisa mude. A revolta é geral. Está muito claro quais são os alvos da indignação: Dilma e o PT. Só não está claro ainda o que gostariam de colocar em seu lugar. Por isso, às vezes, os protestos, embora cheios de gente, pareçam um pouco vazios.

Alguns exigem apenas ética. Outros veem a queda da presidente como panaceia de nossos males políticos. Só que não adianta trocar de presidente se for para ter mais do mesmo. O ódio da vez é contra o PT, mas o desencantamento é com a política em geral, que, por sua vez, dá respostas pouco animadoras.

Contra a corrupção, nossos representantes propõem o fim do financiamento empresarial de campanhas e o aumento do fundo partidário. Proposta nova que é, na verdade, velha: foi a lei vigente até 1993 e não impedia corrupção alguma. Além disso, aumentar o fundo é dar aos políticos ainda mais poder.

As mesmas caras se oferecem como a solução da vez, enquanto a população se sente alienada. O que está em jogo é o próprio ideal de sociedade que queremos e sua relação com o Estado.

Esse mesmo Estado é onipresente no peso dos impostos, das leis e das regulamentações, na burocracia e na violência contra expressiva parcela da população. Ao mesmo tempo, é ausente no que se propõe a oferecer e na capacidade de responder às demandas.

Diante disso, tem crescido a força da bandeira liberal, visível no 15 de março e ainda mais presente nos protestos deste domingo (12). A causa liberal cresce e amadurece. Primeiro com institutos, centros de pesquisa, sites e revistas. Agora com conferências, ambições políticas, partidos e movimentos organizados.

O liberalismo não é o reduto de economistas e banqueiros engravatados. Supera também as cansadas dicotomias entre direita e esquerda e situação e oposição.

Dá mostras de renovação com uma sensibilidade social mais afinada e é capaz de abraçar o bolsa-família, ao mesmo tempo que denuncia o compadrio nocivo de grandes empresas com o poder estatal. Só que em vez de pedir ainda mais Estado, aposta nas trocas voluntárias e no empreendedorismo, que já é característico do brasileiro, ainda que asfixiado pelo sistema atual.

O liberal luta pela simplificação de nossa carga tributária. Não quer só privatizar, mas, sim, criar mercados mais dinâmicos, mais variados e abertos à concorrência. Avalia políticas sociais não pelas intenções, mas pelos resultados. Prioriza a educação básica, estimulando e replicando experiências de sucesso.

O liberal defende que o Brasil se integre economicamente ao resto do mundo. Propõe mais autonomia para Estados e municípios. Almeja tomar a vanguarda de debates culturais e sociais, como pautas LGBT, bioéticas, reprodutivas, política de drogas e propriedade intelectual.

Sem se esquecer da liberdade de expressão e de consciência, legados inegociáveis do liberalismo clássico à civilização.

Os liberais propõem o que nenhum dos atuais tripulantes do Estado quer fazer: a redução do Estado para liberar as forças sociais e econômicas reprimidas. Precisamos de líderes políticos novos e corajosos para defender limites à própria política, que se façam reais servidores, e não patrões da sociedade.

Aos defensores da mensagem liberal resta encontrar a voz certa para promover essa transformação. Um Brasil mais rico, mais justo, mais livre e mais feliz é possível.

Temer, FHC e Aécio

Aécio também vai se encontrar com Temer

Aécio também vai se encontrar com Temer

Fernando Henrique e Michel Temer adiaram o encontro que teriam amanhã, em São Paulo. Vão marcar uma nova data, ainda esta semana, para que Aécio Neves possa participar.

Por Lauro Jardim

A cartilha do Edinho

Em defesa do ajuste fiscal

Em defesa do ajuste fiscal

 
Na reunião que teve hoje com os assessores de imprensa dos ministérios, Edinho Silva entregou para cada um a cartilha Ajustar para avançar, com perguntas e respostas sobre o ajuste fiscal.
O texto traz números e argumentos para que todas as áreas do governo defendam o ajuste e mostrem que ele não é incoerente com o que o governo vem fazendo desde 2003, mas sim necessário para se retomar o crescimento (leia mais aqui).

Por Lauro Jardim

 

Ricardo Noblat: ‘Deus salve a rainha!’

Publicado no Blog do Noblat

RICARDO NOBLAT

Que maneira infeliz de celebrar os primeiros 100 dias de governo! Seis em cada 10 brasileiros consideram péssima ou ruim a administração de Dilma. Quase seis em 10 acham que ela sabia da corrupção na Petrobras e nada fez. Para quase oito em 10, a inflação aumentará. Assim como o desemprego para sete em cada 10. Dois em cada três são favoráveis à abertura de um processo de impeachment contra Dilma.

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TVEJA — Debate quente: Os políticos da oposição devem ir às ruas com o povo? Ou isso parecerá oportunismo? Villa adverte: se a oposição deixar o PT respirar, ele não sai mais do poder. Eu, por minha vez, digo que temo que, uma vez mais, a crise termine em conchavo, como sempre foi no Brasil

Nossos leitores, em esmagadora maioria, criticaram, pelo Twitter e outras formas, a ausência de políticos da oposição nas manifestações de domingo.

Neste debate em TVEJA, o historiador Marco Antonio Villa, Carlos Graieb, diretor do Redação do site de VEJA, o colunista Augusto Nunes e a âncora Joice Hasselmann, em linhas gerais, concordam com os leitores.

Eu, que entrei na metade do debate, discordei: acho que os políticos de oposição precisam tomar muito cuidado para não serem vistos como oportunistas, querendo se assenhorear de um movimento de massas que não foram eles que desataram. Por outro lado, discutimos como é possível para o movimento caminhar das ruas para canais institucionais e chegar, de alguma forma ao Congresso, que é a instituição — por criticável que seja — que constitucionalmente representa o povo.

Villa acha que a oposição tem sido tímida e que não pode acovardar-se porque — advertiu — se isso ocorrer corremos o risco de o PT não deixar mais o poder.

De minha parte, expressei meu temor de que tudo isso termine em conchavo, lembrando que o Brasil não tem tradição de rupturas do status quo — foi o filho do rei de Portugal quem proclamou a Independência, foi um marechal monarquista e amigo do imperador quem marchou, em cima de um cavalo, no golpe de Estado que derrubou o Império e instaurou a República. Mais tarde, depois dos movimentos rebeldes dos anos 20 contra a República Velha, que desembocaram na Revolução de 1930, a coisa terminou com o ex-ministro da Fazenda do presidente deposto pelo movimento, Washington Luiz, instalado no poder.

Tornado presidente provisório, depois presidente eleito indiretamente pelo Congresso eleito em 1934 e posteriormente ditador, por meio do golpe de Estado de 1937, Getúlio acabaria deposto em 1945… e, nas eleições que se seguiram, quem seria eleito? Justamente seu ministro da Guerra, general Eurico Dutra, que, aliás flertara com o nazi-fascismo durante a II Guerra Mundial. Findo o mandado de Dutra, a cantilena continua: Getúlio volta como presidente eleito.

E por aí vai. Quando Jânio renunciou, em 1961, e os militares queriam impedir a posse do vice João Goulart, o Jango, um conchavo às pressas no Congresso resultou na instauração de um parlamentarismo improvisado e postiço, como forma de retirar poder a um presidente supostamente “de esquerda”. Derrubado Jango pelo golpe de 1964, ministros seus se tornaram membros do partido oficial do regime, sem o menor pudor. Lá adiante, quando o regime militar terminou, um conchavo substituiu as Diretas Já pela eleição, indireta, de Tancredo Neves — e o presidente do partido político que sustentava a ditadura tornou-se vice e assumiu com a morte do líder mineiro.

Exprimi meu temor de que a atual crise termine com um conchavão, envolvendo o vice-presidente Michel Temer e a oposição.

Vamos ver.

(por Ricardo Setti)

 

RESULTADO DA ENQUETE: para a maior parte dos leitores do blog, a crise política e econômica acabará com a renúncia de Dilma. O impeachment ficou em segundo lugar

A presidente conseguirá sair da crise, ou deixará o poder? (Foto: AP)

A presidente conseguirá sair da crise, ou deixará o poder? (Foto: AP)

Em 20 de março, perguntamos aos leitores do blog o seguinte: “Diante da crise política e econômica e do caso petrolão, qual você acha que será o destino da presidente Dilma?”

Contabilizados os 21.466 votos — número fantástico! — dos 24 dias em que a enquete ficou no ar, a opção vencedora foi a renúncia da presidente, que somou 9.385 votos (44% do total). Tão mencionado nas manifestações contra o governo, a hipótese de impeachment ficou em segundo lugar, escolhida por 8.174 leitores (38%).

As respostas restantes foram menos populares. Ficou em terceiro lugar a possibilidade de Dilma governar cedendo cada vez mais espaço e autoridade para o PMDB, com 2.447 votos (11%). Em seguida, 768 leitores (4%) acreditam na recuperação da presidente e na normalização do governo, e 374 (25) acham que algum acordo será feito com a oposição. Os 318 (1%) votos restantes acham que o desfecho da crise será outro não listado.

(por Ricardo Setti)

 

“Brasil precisa de mais indivíduo e menos estado”, diz jornalista William Waack

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O vencedor do Prêmio Liberdade de Imprensa este ano no Fórum da Liberdade em Porto Alegre foi William Waack, apresentador do Jornal da Globo e, portanto, meu “companheiro” de toda noite antes de dormir. O prêmio é muito justo, e considero Waack talvez o melhor jornalista do país na atualidade. Por isso fiquei muito honrado ao saber que ele é leitor deste blog.

Durante o almoço de abertura do evento, para convidados do Instituto de Estudos Empresariais (e organizador do Fórum), Waack fez um breve discurso que arrancou vários aplausos do público presente. Começou com uma boa tirada, lembrando que já cobriu inúmeras guerras, revoluções ou rupturas, como a queda do Muro de Berlim ou do império soviético, e que portanto estava acostumado e achando tudo muito familiar no Brasil de hoje.

Mas o ponto alto foi quando afirmou categoricamente, frisando que falava como cidadão e pessoa física, não em nome da instituição que lhe emprega, que o Brasil precisa de mais indivíduo e menos estado. Efusivos aplausos. É essa a principal mensagem, não só nas ruas, como de todos aqueles que trabalham e não aguentam mais pagar tantos impostos e ainda serem tutelados pelo estado como se fossem mentecaptos.

Waack reforçou algumas vezes que a saída da nossa crise de representação política passa pelo fortalecimento de nossas instituições democráticas, e que é fundamental ter algum tipo de canalização dessa revolta popular para a organização partidária. Ele já viu vezes o suficiente para ficar alarmado com a constante decepção entre sonhos coletivos e resultados concretos obtidos sem a devida representação política.

Essa mentalidade crescente que ataca toda a classe política, portanto, jogando todos no mesmo saco e misturando o joio e o trigo, é vista com desconfiança pelo jornalista, que lembrou do caso argentino como importante alerta. O povo brasileiro está indignado, e com razão. Mas a saída não é condenar toda a política em si, ou a democracia, e sim fortalecer as instituições e melhorar a questão da representatividade.

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“Democracia direta”, disse, não funcionou em lugar algum do mundo (talvez na Suíça, mas em condições muito peculiares, em ambiente altamente descentralizado, onde não há sequer a figura de um presidente nacional, e com um povo mais educado). O momento delicado urge, então, pelo esforço de solidificar nossas instituições republicanas. Essa deve ser a demanda de todos aqueles que valorizam a liberdade.

PS: Na plateia, na minha mesa, dois políticos que têm feito a diferença, adotando uma postura de legítima oposição ao governo petista, e que, sem dúvida, endossam o grosso da mensagem de William Waack. Falo do deputado Onyx Lorenzoni e do senador Ronaldo Caiado, ambos também leitores deste blog, com muito orgulho.

Rodrigo Constantino

 

 

 

Vídeos: PMs do Alemão falam aos irmãos Bolsonaro sobre “pacificação”, “direitos humanos”, armas, menores no tráfico, relação com moradores e morte de colegas

“Estive hoje no Complexo do Alemão, ouvindo moradores, comerciantes e um lado sempre ignorado por quem diz defender os direitos humanos: o do policial. Prepare-se para ouvir a impactante realidade, na ótica de quem está dando a vida pela nossa segurança.”

A apresentação em vídeo é do deputado estadual Flávio Bolsonaro, que, junto com seu irmão, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, visitou na sexta-feira as chamadas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) no Complexo do Alemão.

Eles publicaram no Youtube os relatos “estarrecedores” de policiais militares – que, obviamente, preferiram não se identificar – sobre a farsa da “pacificação”, a guerra contra os criminosos, o uso de menores pelo tráfico, a relação com os moradores, o descaso com a morte de PMs e outras coisas sobre as quais você também já leu por aqui.

Separei a conversa em trechos e transcrevi cada um deles.

Assista abaixo a tudo que a turma dos “direitos dos manos” ignora.

PS: Alguns vídeos saíram acinzentados, e eu os corrigirei assim que puder, mas o que importa mesmo é o áudio.

1) A farsa da pacificação

- Pacificar o Rio sem dar tiro, sem prender ninguém, sem apreender armas, sem prender meliantes? Não existe pacificação. Isso é pra inglês ver, né. Você anuncia que vai entrar no morro um mês antes. Retiram as armas e os meliantes do morro. Aí você ‘pacifica’ o território sem dar um tiro, sem prender ninguém, sem apreender arma nenhuma. Vagabundo só migra, pô. Isso é evidente, isso é claro.

Quando as tropas do Code saem, eles voltam. Isso é automático. A gente tá aqui hoje, dentro desse terreno aqui. A gente vai ficar um mês fora daqui e, quando a gente voltar pra cá, a gente não consegue chegar a esse ponto aqui não. Já vai começar a tomar tiro lá embaixo, não vai nem conseguir acessar esse ponto aqui. Isso é claro e evidente.

A realidade é que nós vivemos numa guerra e eles não querem admitir isso.

São territórios que, se você não avisar que vai entrar, você não consegue progredir 30 metros em 1 hora. Quando você avisa: ‘Em tal dia, a gente vai ocupar o morro tal, com as tropas militares, chega lá, você ocupa tudo, solta fumacinha branca, azul, oh, ‘pacificou’… Isso não existe.

Sem prender ninguém, sem prender armamento… É mágica, né.

2) Qual vai ser o próximo?

- Deputado, o senhor vem de lá pra cá, o senhor olha na cara dos policiais que trabalham na UPP, você vê o espanto. Fica um olhando para a cara do outro [como quem pergunta]: qual vai ser o próximo [a morrer]? A verdade é essa, pô. Toda semana [algum PM] é baleado, é baleado quase todo dia. Qual vai ser o próximo? Eu vou falar na cara do senhor: qual vai ser o próximo?

3) Formados na bala

- Um garoto morto lá, aí veio um recruto com um olho… “Cara, e agora? O que que vai acontecer?” Falei: “De quê?” “Ele vai ser preso, ele vai ser excluído?” “Cara, tem quanto tempo de polícia?”

“Me formei agora em dezembro”.

PM comenta: “Já jogaram ele aqui dentro. O garoto não sabe nem o que tá acontecendo, pô. Te juro, mané.”

(E repete a história.)

- Aqui o policial é forjado na bala. O garoto que se formou aí, por exemplo. Aprende na prova de fogo já. Se não morrer, ele aprende. Aqui você tem duas vertentes: ou morre, ou fica preso. Ou então fica omisso e deixa rolar, que é o que está acontecendo.

4) Vale a pena correr o risco?

- Aqui tá todo mundo orientado, tenta entrar na casa de alguém de aqui. Tem aquela que franqueou uma entrada, se não franquear você não pode entrar. Não tem mandado coletivo. Tenta entrar pra ver o que eles fazem. Eles berram: ‘não vai entrar!’, ‘não vai entrar!’… Vai fazer o quê? O cara pode falar: ‘Ó, tem um fuzil dentro da casa ali, ó’. Vai lá pegar. Bate no portão. Ou então você mete o pé na porta. Aí você vai se complicar. Se realmente achar, tudo bem, mas se não tiver…

- Fodeu.

- …tá agarrado, pô. Vale a pena correr o risco? Não vale. Pra mim, não vale.

5) Direitos humanos?

- Direitos humanos são só para outras pessoas. No momento em que você se torna policial, você não tem mais direito de nada. Você só tem o direito de morrer, de ser enterrado e de ser esquecido. Você morre, é enterrado e é esquecido. Você só é número.

6) Menores do tráfico

Tem muito menor aqui?

- Muito!

- Muito!

- Muito!

- 99% do tráfico aqui hoje é menor.

Qual é a idade deles?

- Varia de 10, 11, 12… De dez em diante. [Há também] mulheres. Até pessoas idosas, que a gente acha que não tem lógica a pessoa estar participando, mas ela tá participando. Não na venda diretamente, mas na informação. A gente escuta isso, vê colaboradores que falam pra gente: ó, a pessoa assim, assado, tem tantos anos, mas não se engane, ela está envolvida, ou porque já teve parente [no tráfico], ou porque, não sei, ela gosta dessa situação, porque foi criada assim. Tem mil motivos, mas tem a participação.

- Hoje, a política dos traficantes, eles usam muitos menores porque eles não cumprem o que têm que cumprir. Eles cumprem medida socioeducativa QUANDO cometem um crime MUITO…

- …que ganha muita repercussão aí.

- Isso aí. Mas a maioria às vezes sai na porta da delegacia primeiro que a gente que ainda tá fazendo a ocorrência quando os pais vão buscar.

- Muitas vezes.

7) O possível fim do “Auto de Resistência”

Se a Polícia Militar não tiver um resguardo da Justiça, e nesse ponto, se isso ocorrer, vai estar enfraquecendo o nosso respaldo, o policial vai ficar cada vez mais acuado. Vai chegar ao ponto de que, daqui a pouco, ele não vai poder nem andar armado na rua. E se o policial não estiver armado, quem vai estar armado? Só o tráfico. Então o tráfico vai tomar conta de tudo.

- Vira guerra de trincheira, né.

- Então, com certeza, se isso ocorrer, quem perde não é só a Polícia Militar não, é a sociedade. E muito! E muito!

8) As armas dos traficantes no Rio para enfrentar os policiais

- Agora eles estão com mania de rajada.

- Tá voltando a moda do AK, né. Eles estão com muito AK.

- Muito!

- …quando um cara botar num bico daquele de 100 tiros de AK, quem vai passar?

- Ninguém.

- Não passa ninguém.

- Segura legal.

- Não entra.

- Não passa.

- Quando inauguraram a UPP do São Carlos, o secretário falou que iam tirar as armas letais dos policiais e as pessoas iam trabalhar só de taser. (Risos) Só de taser!

- Utópico.

- Se eu não me engano, se eu não estiver errado aí, foram mais de 7 policiais mortos naquela UPP lá.

9) Policial é obrigado a trabalhar na folga para suprir falta de efetivo

- O problema é que o governo não consegue cumprir o mínimo que seja que foi combinado no início desse projeto, que seria a escala dos policiais, que era 24h [de trabalho] por [a cada] 72h e 12h por 48h. Sabe quanto o polícia tá trabalhando aqui, [policial] que mora em Magé, no pé da serra de Petrópolis? 12 por 24. Ele tá hoje de dia, vai embora, até chegar em casa, 10 horas da noite, pra 3 horas da manhã voltar de novo, entendeu?

- Não tem como dar certo.

- Pô, como é que o cara trabalha desse jeito? Gastando um absurdo de passagem, combustível… O preço que tá o combustível aí.

- E se dormir…

- Vai morrer, pô. É o que tá acontecendo. Vai morrer, pô.

10) O descaso com a morte dos policiais

- Morreu o capitão, comandante dessa UPP.

- Tá morrendo mais policial que morador.

- O Du Menor, deram 30 dias. E estão cobrando como se fosse… Mas o polícia morre e ninguém tá nem aí. Agora morre qualquer outra pessoa… Claro que a gente se preocupa porque são vidas, mas o policial também é um ser humano.

- São vidas: é a vida do policial, a vida do cidadão… Que peso é esse? O policial vale menos que um cidadão comum? A verdade é que a inversão de valores está muito grande.

11) O contêiner da UPP

- Ah, de dia, você ainda consegue rodar alguns pontos, à noite você não sai nem da base. O vagabundo fala no radinho: ‘ó, não sai não, se não vocês vão morrer, quer ver?’ Aí dão tiro na direção do contêiner, essa pouca-vergonha que o estado alugou, não tem proteção nenhuma.

- O projeto é bom, só que não tem material, não tem policial, não tem apoio, então fica difícil trabalhar.

12) Tudo é a polícia

- A verdade é que todo mundo chama a polícia. Se tiver pegando fogo, liga pro 190.

- Tudo é a polícia.

- Se alguém passa mal, em primeiro lugar é: ‘me leva na base da polícia’.

- Se alguém for parir aqui, ‘chama a polícia’. Tudo é a polícia.

- O termômetro da sociedade somos nós e nós não somos recohecidos.

13) Relação com moradores

- A mulher tá vindo lá de baixo, tá vendo que tá dando ré na viatura. Dando ré. Ela vem na direção da viatura. Linha reta. Aí o polícia teve que dar uma freada, ela olhou pra cara do polícia [e disse]: “Depois morre, não sabe por quê.” Assim, pô. Ó o ‘bom dia’ dela: “Depois vocês morrem e não sabem por quê.” Eu falei: que isso, cara!

- Um morador de bem avisou: ‘ó, meu filho, não vai, porque estão esperando vocês aparecerem ali pra encostar vocês’.

- Fomos pegos de surpresa ali no escampado. Eu ia sair de frente, porque dava um sabino ali. Aí a moradora dentro de casa, ela se escondeu, e a casa dela era no alto, visualizava a entrada do lado, ela [disse]: ‘meu filho, não vai, eles estão ali só esperando vocês passarem’. Ou seja: a gente já tava pra ir. Com essa informação, saímos pro outro local seguro e tranquilo. Mas é isso que nos dá força pra estar trabalhando aí.

- Conseguiu evitar um mal maior.

- Estar enfrentando isso aí, que é difícil.

Então a população está sendo parceira de vocês?

- É como o senhor disse: a maioria das pessoas só quer ouvir um lado. Nunca o nosso lado, entendeu? E é complicado, é um trabalho muito complicado.

- Tem o cidadão de bem, que é uma parcela grande, mas tem gente do tráfico em outras famílias, que só dela [cidadã de bem] saber que aquela pessoa, a vizinha, é do tráfico, ela já vai pensar duas vezes em cumprimentar o policial, porque ela sabe que ‘e depois?’, o policial vai sair dali de perto, pode vir o traficante e vai chegar e vai oprimir essa pessoa, infelizmente. Mas a gente taí trabalhando para tentar mudar isso, cada dia mais. Hoje, com a UPP, pelo menos as crianças menores de 2, 4 anos, já começam a enxergar a polícia militar de uma forma diferente, devido ao projeto da UPP.

Acontece de uma criança estar brincando com vocês aqui e o parente chamar pra dentro?

- Isso.

- Na hora.

- Às vezes o pai chega e dá esporro na frente da gente: ‘ó, não brinca não, é policial’. A gente acaba indagando o familiar, o pai, o avô, ‘mas por quê? A gente tá aqui pra proteger, e não para oprimir, diferente do tráfico’. O Estado está aqui justamente para dar oportunidade.

Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil

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