‘Dê alegria à mamãe. Fique em casa’, e outras sete notas de Carlos Brickmann

Publicado em 10/05/2015 18:32
Blog de Augusto Nunes, em VEJA.COM

‘Dê alegria à mamãe. Fique em casa’, e outras sete notas de Carlos Brickmann

Publicado na coluna de Carlos Brickmann

CARLOS BRICKMANN

Escolha suas companhias. Neste Dia das Mães, antes de sair de casa, lembre-se de que 15 mil presos foram legalmente libertados, só no Estado de São Paulo, para participar das comemorações. Como estavam há tempos na prisão, não têm dinheiro para passear ou comprar presentes, nem conhecem os locais onde a turma se reúne (ainda bem!) Alguns não têm sequer a mãe cujo dia festejam. Sem dinheiro, sem ter para onde ir, muitos sem local para dormir, sem agentes especializados que lhes deem assistência, que é que se espera? Que se ressocializem sozinhos? Ou que façam o que normalmente acontece, cometer novos crimes? 

Boa parte do pessoal indultado para o bom propósito de homenagear as mães não chega a ter a intenção de voltar: em média, 5% dos indultados para datas especiais não retornam para cumprir o restante da pena. A Polícia corre riscos para capturá-los, faz inquérito, a Justiça os processa e condena, o contribuinte paga sua estada na prisão, e, porque há uma data bonita, o cidadão ganha férias da cadeia. Dúvida pertinente: se o cavalheiro pode ser libertado em datas específicas, sem acompanhamento adequado, por que fica preso o resto do tempo? Se é preciso que fique preso, por questão de segurança e recuperação, por que as férias?

Convença a mamãe a ficar em casa, que as ruas estão mais perigosas nesses dias. Ficando em casa, economiza-se a conta do restaurante (e do estacionamento caríssimo), e até dá para experimentar alguma receita especial, caprichada. Não é ótimo fazer com que as panelas, às vezes, retornem à sua função precípua?

 

Retrato da paradeira 
Frase de um comerciante carioca sobre o baixo movimento das lojas, citada pelo colunista Aziz Ahmed, de O Povo: “Dia das Mães? Parece o Dia da Sogra!”

Pode piorar 1
No palanque da CUT, em 1º de Maio, Lula não tinha a seu lado sequer um líder expressivo do PT, ou de partidos aliados. Nem Aloízio Mercadante estava lá para tirar aquela foto por cima do ombro. Nenhum ministro, nem dos que subiram na política graças a Lula. Algum poste eleito por Lula? Ninguém. Nem mesmo o prefeito paulistano Fernando Haddad foi prestigiar seu inventor. Isso quando estão apenas as investigações do Petrolão em marcha. 

E depois?

Pode piorar 2
O senador Ronaldo Caiado, do DEM goiano, protocolou o pedido de CPI do BNDES. Sua frase: “É preciso descobrir por que os delatores da Lava-Jato disseram que o Petrolão seria café pequeno diante do esquema montado no BNDES”.

OK, sabe-se que Val Marchiori, que participou do programa Mulheres Ricas, usou parte de uma linha de crédito do BNDES, com juros de 4% ao ano, para comprar um carro Porsche Cayenne – uma beleza, por sinal. 

Mas isso também é café pequeno. O quente é descobrir como funciona o financiamento do BNDES a empreendimentos de firmas brasileiras em países como Guiné Equatorial e Cuba. O BNDES não dá informações. E boa parte dessas firmas está no Petrolão.

Pode piorar 3
A senadora Ana Amélia Lemos, do PP gaúcho, e o senador Aloysio Nunes Ferreira, do PSDB paulista, protocolaram o pedido de CPI dos Fundos de Pensão. Fala-se de coisas quentes – por exemplo, de fundos que aplicaram o dinheiro da poupança de seus associados em títulos da Venezuela. É muita vontade de perder dinheiro, desde que seja dos outros. E um dos fundos, o Postalis, do Correio, está cobrando dos associados um extra para cobrir seus prejuízos.

Tanto a CPI do BNDES como a dos Fundos de Pensão já haviam sido apresentadas e o Governo conseguira suspendê-las, convencendo parlamentares a retirar a assinatura. Desta vez, não deu: os esforços do Governo foram em vão. Em cinco dias os partidos deverão indicar seus representantes em ambas as CPIs.

Pode piorar 4
O presidente do partido Solidariedade, deputado federal Paulinho da Força, pediu a convocação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para ser ouvido na CPI da Petrobras. Paulinho quer que o procurador esclareça os critérios para abertura de inquéritos na Operação Lava-Jato. E disse que é preciso saber como ocorrem vazamentos seletivos de informações, que atingem alguns dos investigados. 

Segundo Paulinho, o Ministério Público contratou para isso duas grandes empresas de assessoria de imprensa, sem concorrência, por R$ 500 mil. 

Pode piorar 5
Acredite: o deputado federal Jair Bolsonaro, do PP fluminense, quer trocar de partido para ser candidato à Presidência da República em 2018. Uma das propostas que recebeu é do PRTB. Bolsonaro sairia para a Presidência com o chefe do PRTB, Levy Fidelix, de vice. 

Aerotrem e bala, já que o trem-bala não sai.

Como piorou
Informa Lauro Jardimque um dirigente do PT conseguiu explicar por que o partido e o governo não se entendem. Disse o petista: “O problema é que o PT diz que está pagando pelos erros do governo. E o governo diz que está pagando pelos erros do PT”. 

Completa Lauro Jardim, com precisão: “Parece ser um típico caso em que os dois lados têm razão”.

J. R. Guzzo: Tristeza sem fim

Publicado na edição impressa de VEJA

J. R. GUZZO

Mas que vejo eu aí…
Que quadro d’amarguras! (…)
Que tétricas figuras!
Que cena infame e vil…
Castro Alves

Eis aí o mundo, mais uma vez, repetindo a história – não como farsa, segundo está previsto nas ciências não exatas, mas como tragédia em estado puro. Em pleno século XXI, mais ou menos 150 anos depois da eliminação do tráfico de escravos pelos sete mares, descobre-se que estamos de volta ao tempo do navio negreiro e das suas infâmias, que Castro Alves denunciou para sempre num dos poemas mais emocionantes da literatura brasileira. As “tétricas figuras” são esses milhares de africanos e outros amaldiçoados da Terra que se espremem como cabeças de gado nos porões de navios em ruína, aos quais nenhum armador confiaria o transporte de sua carga; tentam cruzar o Mar Mediterrâneo na esperança de ser jogados numa praia qualquer da Itália, da Espanha ou de algum outro país da Europa, onde pretendem entrar como imigrantes clandestinos.

 

A “cena infame e vil”, cada vez mais frequente, é a crueldade dos naufrágios que os despacham regularmente para a morte no fundo do mar. No último deles, alguns dias atrás, entre o litoral da Líbia e a costa da Sicília, morreram 800. Só nos quatro primeiros meses deste ano os novos negreiros do Mediterrâneo já mataram perto de 2 000 homens, mulheres e crianças. Até o fim de 2015 o número talvez chegue a 30 000.

A situação de 2015, comparada com a de 1850, consegue ser ainda pior em certas coisas. Os operadores do tráfico de escravos cuidavam para que os seus  navios não fossem a pique durante a travessia do Atlântico. Seu negócio era entregar nos portos de chegada do Brasil, Estados Unidos e Caribe pelo menos o grosso do carregamento embarcado na África; não vendiam gente morta.

Os passageiros, do seu lado, tinham para onde ir depois do desembarque – e sabiam que seus novos donos iriam lhes dar pelo menos o suficiente para não morrerem de fome. Além disso, não precisavam pagar a passagem. Os chefes do tráfico humano de hoje, depois de receberem até 5 000 dólares por cabeça embarcada, estão pouco ligando se a mercadoria morre pelo caminho.

Os viajantes, caso cheguem vivos a algum lugar, não têm para onde ir. Acabam em campos de refugiados, onde ficam esperando, em barracas ou contêineres, que alguma autoridade decida o seu destino. São cada vez mais numerosos. Foram cerca de 50 000 em 2013. Neste ano podem passar dos 200 000.

Os náufragos do Mediterrâneo continuam vindo, na maior parte, da mesma África, acrescidos, hoje, de infelizes que tentam escapar de outros infernos do quarto mundo. Fogem, todos eles, da miséria em estágio terminal. São as vítimas diárias, também, das guerras tribais, religiosas e civis que destroem seus países, e dos choques entre as quadrilhas de gângsteres que os governam – e, além disso, roubam toda a ajuda internacional que eventualmente lhes é enviada, em dinheiro, alimentos ou remédios.

Ultimamente vêm sendo degolados, metralhados e torturados por esquadrões de assassinos que invadiram sua terra e se apresentam como “militantes muçulmanos”; as diplomacias terceiro-­mundistas acham que é preciso entender as razões desses carrascos. A população dos países europeus não gosta dos fugitivos – e por que haveria de gostar, se não é responsável por sua desgraça e não acha justo pagar por sua acolhida? Os países islâmicos, enfim, que tecnicamente são seus irmãos, acham que todos eles podem ir para o raio que os parta.

As desgraças não acabam aí; há pela frente, ainda, os defensores que têm no Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, ora chefiado pelo príncipe Zeid Ra’ad Al-­Hussein, Ph.D. por Cambridge, antigo campeão de rúgbi e flor da nobreza da Jordânia. É também um craque do pensamento politicamente correto e moralmente safado.

O doutor Zeid, por ocasião do último naufrágio, declarou que a culpa de tudo é das “políticas migratórias cínicas” dos países da Europa. Seus governos, acusou, querem transformar o Mediterrâneo num “grande cemitério”. Disse que lhes falta “coragem” e que cedem a movimentos de “direita” contra a imigração.

O navio naufragado saiu da Líbia. O comandante é cidadão da Tunísia. Seu imediato é da Síria. As vítimas estavam tentando fugir do governo criminoso de seus países. Mas o príncipe Zeid diz que os culpados são os europeus – os únicos que, bem ou mal, querendo ou não, fazem alguma coisa pelos refugiados. Com advogados assim, não há esperança possível. Fica apenas um imenso cansaço – e uma tristeza sem fim.

Oliver: Bem-vindo ao Brasil

VLADY OLIVER

Aqui e ali começam a surgir provas definitivas do embuste que é esse governo. Da confissão de Lula publicada no livro do José Mujica às gravações onde o ministro-manteiga tenta encobrir o rombo pavoroso na petroleira vigarista, passando inclusive pelos gritinhos da tal Jandira, uma coisinha horrorosa que se diz assediada no Congresso, o que temos aqui é uma ode ao cacarejo, não é mesmo? O embusteiro-chefe afirma que roubar é a única forma de governar o Brasil. O desfile de servidores bandidos que temos nas salas refrigeradas do nosso poder público me obriga a concordar com ele.

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No trilho certo

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Ferrovias no pacote do governo

No pacote de concessões que o governo lança na quinta-feira, a novidade será a inclusão de várias ferrovias.

Anteontem, Aloizio Mercadante reuniu-se com representantes da ALL, MRS e Vale, potenciais interessados. O governo também aposta muito – e como – no apetite chinês.

Bezerra de ouro

Gioconda

Gioconda: nome e preço de obra de arte

Num leilão em Minas Gerais, na semana passada, 50% da Gioconda foram vendidos por 360 000 reais.

Não se trata, claro, da Mona Lisa, de Leonardo da Vinci. A Gioconda em questão é uma bezerra da raça Nelore de apenas 85 dias de vida.

É uma cifra que impressiona: a bezerra foi arrematada pelo equivalente a 260 bois gordos. E  impressiona também o espírito apostador do novo dono, o criador Roberto Bavaresco, pois só se saberá se ela é fértil dentro de dez meses.

Mito: “austeridade fiscal resulta em fracasso nas urnas”

 

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Surpresa: quem protestou contra o corte de gastos perdeu a eleição na Inglatterra

Morando na Inglaterra entre 2013 e 2014, eu me divertia fazendo uma pequena intervenção num adesivo de protesto bem comum nas ruas de Londres. O adesivo dizia No more cuts! (“Não a mais cortes!”). Com a minha leve intervenção, o no desaparecia. More cuts!

Pelas mensagens e conversas de rua, parecia que os cortes no orçamento promovidos pelo governo de David Cameron resultariam em desastre eleitoral. O que pra mim fazia todo sentido: não é novidade a vantagem que governantes gastadores têm vantagem sobre os austeros. Alguém vai ganhar uma eleição prometendo menos dinheiro para “saúde, educação e segurança”?

Mas a reeleição do Partido Conservador derrubou esse mito. Desde 2010, governo britânico cortou o gasto público em 35 bilhões de libras. Segundo o Institute of Fiscal Studies, foi o maior corte de gastos entre 32 economias desenvolvidas. E o resultado foi uma vitória com vantagem mais larga que a da eleição anterior. O Partido Conservador pode agora governar sozinho, sem dividir o poder com os Liberais Democratas.

Além da mensagem dos votos, pesquisas mostram que o grosso do eleitorado aprova o fim da festa de pensões e benefícios a desempregados. De cada dez ingleses filiados a sindicados, oito aprovam o limite de 26 mil libras em benefícios. Na campanha que terminou ontem, Cameron tentou conquistar votos prometendo um teto ainda mais baixo, de 23 mil libras. Os eleitores também simpatizam com a criação de um limite de transferências a dois filhos por família.

A sorte do Partido Conservador foi ter tempo de colher os benefícios do ajuste fiscal. A economia inglesa é a que mais cresce na Europa, a inflação é de 0%, a criação de vagas de trabalho é a maior que a de todos os países da Europa continental somados. Com números tão bons assim, a surpresa seria David Cameron ter perdido a eleição.

@lnarloch

Bolsa Família: como uma ideia da direita se tornou a principal bandeira da esquerda brasileira

 

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Tucanos dizem que quem criou os programas de transferência de renda foi FHC; petistas insistem que nada a existia no Brasil antes de Lula. Os dois partidos escondem a verdadeira origem dos programas de renda mínima. A ideia que se tornou a grande bandeira da esquerda nasceu com Friedrich von Hayek e Milton Friedman – dois ganhadores do Nobel de Economia rejeitados pela própria esquerda como os “os pais do neoliberalismo”.

A história é desconhecida, mas não se trata de um segredo. Até Eduardo Suplicy admite a influência neoliberal. No livro Renda de Cidadania, Suplicy afirma que ele próprio se inspirou em estudos de economistas neoclássicos que conheceu na década de 60, durante o mestrado em economia na Michigan State University. Entre várias fontes de inspiração, como Karl Marx e Jesus, Suplicy menciona Hayek e Friedman. Ele inclui no final do livro até mesmo uma entrevista com Milton Friedman, realizada em 2000.

“Ser contra a renda mínima só porque Friedman a defendeu é semelhante a ser contra o imposto de renda só porque países capitalistas o aplicam”, escreveu Suplicy.

A proposta de Friedman está no livro Capitalismo e Liberdade, de 1962. Ele sugere que, em vez de impor regulações que distorcem o mercado, como leis de salário mínimo e controles de preços, o governo deveria criar um “imposto de renda negativo”.  Quem ganha menos que o piso de recolhimento do imposto de renda deveria pagar um valor negativo (ou seja, receber um subsídio) proporcional ao valor que falta para chegar ao piso.

No Brasil de hoje, a mordida do imposto começa com 7,5% sobre o que excede o salário de R$ 1900. Na proposta de Friedman, quem tivesse o salário de R$ 1200 ganharia 7,5% de R$ 700, ou R$ 52,50.

“As vantagens são claras”, escreveu Friedman. “A prática explicita o custo que impõe à sociedade. Opera fora do mercado. Como qualquer outra medida para mitigar a pobreza, reduz o incentivo para que os pobres ajudem a si próprios, mas não o elimina inteiramente.”

Os argumentos de Hayek são mais teóricos, relacionados a sua visão de liberdade humana. Hayek vê a propriedade privada e o livre mercado como as principais armas contra a coerção e a submissão. Nesse raciocínio, quem não tem propriedades ou renda fica vulnerável à coerção e ao abuso de poder. “A garantia de uma renda mínima para todos, ou uma espécie de piso abaixo do qual ninguém precisa descer, mesmo quando incapaz de se sustentar por si mesmo, parece constituir uma proteção perfeitamente legítima contra um risco comum a todos”, afirmou o austríaco.

Como uma ideia liberal se tornou bandeira da esquerda?

A história ganha coerência se voltarmos trinta anos. Nos anos 80, com o Muro de Berlim ainda em pé, os militantes da esquerda defendiam reformas estruturais – luta de classes, reforma agrária, fazendas de produção coletiva. Já os conservadores diziam que o avanço do capitalismo livre das unhas do governo era o melhor sistema para os pobres no longo prazo. O que, então, fazer com a miséria no curto prazo? Atenuá-la com programas focados em atenuar a pobreza.

Não é à toa que a maioria dos programas de transferência de renda surgiu logo depois da queda do Muro de Berlim, quando ficou bem ridículo falar em luta de classes. A expressão “redução da pobreza” ganhou as passarelas enquanto “revolução do proletariado” ficou encostada no armário. Na América Latina, dezessete países criaram programas desse tipo entre 1990 e 2010.

A ironia mais saborosa dessa história é sobre o pioneiro dos programas de transferência na América Latina. O Subsidio Único Familiar, implantado em 1981 pelo governo chileno, dava dinheiro a mães pobres que mantivessem o filho na escola.

Pois é. O ditador Augusto Pinochet foi o primeiro a implantar o programa que, décadas depois, daria origem ao Bolsa Família.

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Fonte:
Blog Augusto Nunes (VEJA)

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