No EL PAÍS: "Tive um sonho: o Brasil era um país normal", por JUAN ÁRIAS

Publicado em 01/06/2015 21:32
"...Sonhei que o país era normal, com poucas notícias políticas, todo de classe média, com sua presidenta conversando feliz com as pessoas na rua.."

Sonhar não é pecado. Além do mais, às vezes os sonhos se tornam realidade. Ontem, fora do Brasil, tive um sonho. Sonhei que, de repente, escutando as notícias nos jornais, na televisão e nas redes sociais, o Brasil parecia um país normal. Não se falava mais de escândalos. Era o país da América Latina com os menores índices de violência.

Ninguém sabia mais o que era o Bolsa Família, porque todos ganhavam com seu trabalho o suficiente para viver com dignidade e até se permitiam alguns luxos lúdicos e culturais.

Os meios de comunicação não falavam de escândalos de corrupção. A Petrobras tinha recebido um prêmio na União Europeia como empresa modelo de gestão.

O que mais me chocou no sonho foi não ver mais favelas. Nos arredores das cidades havia bairros novos e coloridos, criados por arquitetos jovens, com parques e fontes, escolas e hospitais, e até ônibus com ar-condicionado.

Fiquei surpreso ao não ver nas notícias políticas os nomes de personagens que enchiam as crônicas todos os dias (até as policiais). Não se falava mais de Dilma Rousseff nem de Lula, nem de Cardoso, nem de Renan Calheiros ou de Eduardo Cunha.

Muitos dos doze ministros eram jovens formados em universidades estrangeiras, assim como os prefeitos e governadores. Todos ganhavam como professores universitários. Viajavam com as pessoas, em metrôs modernos e em aviões comerciais. Às vezes eram vistos caminhando a pé pela rua. As pessoas cumprimentavam e paravam para discutir com eles temas de interesse nacional ou local.

Nos jornais se falava mais de cultura, de ciência, de gastronomia e até de filosofia do que de política.

As pesquisas davam porcentagens altas de índices de felicidade cidadã. As pessoas usavam algumas drogas, mas podiam comprá-las nas farmácias. Não havia traficantes.

As pessoas enchiam de noite os restaurantes e salões de festas sem medo de sofrer algum tipo de violência. O turismo havia triplicado em todo o país.

Milhares de jovens eram pequenos empresários, orgulhosos de suas conquistas e com vontade de ganhar o mundo. Os avôs contavam aos netos sobre o tempo em que no Brasil havia milhões de pessoas que não sabiam nem ler nem escrever. Contavam que no passado havia quem matava homossexuais e a polícia acreditava que todos os negros eram delinquentes em potencial.

Um negro de idade média era presidente da República e as pessoas aplaudiam e tiravam fotos com ele quando o encontravam na rua ou no cinema.

Os policiais militares eram quase todos universitários. Ganhavam bem, como profissionais qualificados. As pessoas ficavam felizes quando se encontravam com eles nas ruas, porque sentiam confiança, nunca medo.

No exterior, os empresários brasileiros tinham fama de serem criativos e só uma vez um deles apareceu implicado, junto com um político, em um caso de corrupção. Os dois foram logo processados e presos.

O Brasil era admirado no mundo por seu futebol original. Era proibido vender jogadores a outros clubes estrangeiros. Não havia torcidas violentas. Cada partida acabava em uma festa coletiva.

As mulheres tinham o direito de decidir sobre seu próprio corpo, os doentes sem esperança podiam decidir, conscientemente, se desejavam parar de sofrer.

O Brasil tinha um assento no Conselho de Segurança da ONU, relações estreitas com os irmãos latino-americanos mais democráticos e seu comércio estava aberto a todos os continentes. Seus diplomatas eram elogiados internacionalmente por sua capacidade de diálogo e sua pouco propensão a criar conflitos, e não apoiavam regimes ditatoriais.

A inflação era de 2%, a renda das famílias crescia junto com o PIB nacional e a indústria era vigorosa e conseguia exportar para todo mundo. Os produtos brasileiros eram vistos fora do país como um selo de garantia e até distinção.

O Brasil era autossuficiente em petróleo e energia, e cerca de 80% eram de fontes alternativas não contaminantes.

A Amazônia tinha um índice zero de destruição. A ministra do Meio Ambiente era uma jovem universitária. Líderes das comunidades indígenas estavam presentes em todas as instituições do Estado.

No Congresso havia apenas quatro partidos com representação, 200 deputados e 30 senadores. Todos ganhavam um salário modesto e tinham direito a apenas dois secretários. Os partidos eram financiados com as contribuições de seus afiliados. As campanhas eleitorais duravam 15 dias e cada candidato apresentava seu programa diretamente na televisão, com o mesmo espaço de tempo.

O Brasil aparecia nos índices mundiais de educação entre os 12 primeiros países do mundo e era o primeiro da América Latina. Todos os políticos e os ricos preferiam enviar seus filhos às escolas e universidades públicas porque eram consideradas as melhores. E eles e seus familiares se tratavam nos hospitais do sistema público de saúde, onde trabalhavam os melhores especialistas.

Há dez anos não havia protestos de rua.

O Brasil era um país de classe média, com poucas notícias policiais e políticas. Um país normal, pouco interessante para os correspondentes estrangeiros.

O Brasil continuava sendo o mesmo. No entanto não era um sonho impossível. Os sonhos podem também ser presságios do futuro

Quando acordei, corri para ver as notícias, como de costume. Meu sonho tinha desvanecido: a capa internacional do The New York Times lembrava que, em uma semana no Rio, oito pessoas tinham sido esfaqueadas. As matérias estavam falando de novo das prisões da nova operação Lava Jato, de um pedido de impeachment de Dilma Rousseff, Lula continuava criticando as elites do país e o Banco do Brasil teve um lucro de 126%.

A inflação chegava aos 10% e a educação aparecia perdida no posto 60 entre 75 países do mundo. E o PIB estava escondido entre números vermelhos.

Entre as famílias, 60% estavam endividadas e 70% dos brasileiros se declaravam preocupados com seu futuro.

Sim, tinha sido apenas um sonho. O Brasil continua sendo o mesmo.

No entanto, não era um sonho impossível. Os sonhos também podem ser presságios do futuro.

Hoje resta apenas a esperança de tempos melhores. E a convicção de saber que o Brasil, se quiser e deixarem, pode ser o que é capaz de sonhar: ser um país normal entre os países desenvolvidos.

 

Pessimismo no Brasil bate recorde com crise econômica e corrupção

Levantamento do Ibope mostra que 47% dos brasileiros estão pessimistas com o futuro

 

Bateu um desânimo geral entre os brasileiros diante das notícias negativas deste ano. Uma pesquisa do Instituto Ibope, realizada em 141 cidades, revela que 36% dos brasileiros estão pessimistas em relação ao futuro do país, e outros 12% estão muito pessimistas. Ou seja, 47% da população está sem esperança sobre o que virá. É o pior resultado desde 2001, ano do apagão, quando o racionamento de energia tirou o humor do país. Mais do que isso, mostra a rota descendente da confiança popular durante a gestão da presidenta Dilma Rousseff, o que explica a hostilidade persistente de alguns setores a sua pessoa. No começo do seu primeiro mandato, em 2011, 73% se declaravam otimistas com o futuro. No ano passado, esse porcentual caiu para 49%.

 

Atualmente, 20% estão confiantes, e uma parcela de 28% não se diz nem otimista e nem pessimista. O estado de ânimo atual não chega a surpreender, diante dos escândalos de corrupção, e a crise econômicaque afeta o cotidiano dos brasileiros.

Quando a avaliação leva em conta o poder de compra e a região dos entrevistados, os nordestinos e os de menor poder aquisitivo lideram o pessimismo, justamente os que compõem prioritariamente o perfil de eleitores da presidenta. No Nordeste, 51% estão pessimistas ou muito pessimistas, contra 50% dos que foram ouvidos no Sudeste, 41% do Norte e Centro-Oeste e 46% do Sul.

Mais da metade (53%) dos que ganham até um salário mínimo está pessimista em relação ao futuro, contra 49% dos que ganham mais de cinco salários.

O levantamento divulgado nesta sexta, que ouviu 2002 pessoas, mostra que as principais preocupações da população residem na saúde (o mais relevante, segundo 25% dos entrevistados), seguido pelas drogas (14%) e corrupção (13%), seguidos por segurança e educação (9% para cada um).

Num ano marcado pelo desemprego depois de mais de uma década de mercado de trabalho aquecido, muitos brasileiros manifestaram saudade dos tempos de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002). Confrontados com a frase “O desemprego hoje no país é menor do que no governo FHC”, 21% dos entrevistados pelo Ibope disseram discordar totalmente dessa afirmação, embora outros 21% concordem. Durante o Governo Fernando Henrique Cardoso a taxa de desocupação era de dois dígitos, quase o dobro da atual, mas no dia a dia as pessoas não estão preocupadas com porcentuais de comparação. A paralisia depois de anos de prosperidade gera uma frustração que está refletida na pesquisa.

Os preços em alta são uma preocupação latente dos brasileiros. Para 25% das pessoas, a inflação atual é mais alta do que nos anos de Fernando Henrique, embora a realidade seja o contrário. O mal-estar com o Governo atual acaba contagiando a memória – nos anos FHC houve um pico inflacionário de 12% em 2002 – mas a expectativa é que esse problema que o Brasil enfrentou por mais de um século já estivesse equacionado. A alta de tarifas e da gasolina deu um salto no início do ano, corroendo a renda dos brasileiros. E ainda que o índice inflacionário oficial esteja na casa dos 8%, para quase metade dos brasileiros a ‘sensação térmica’ é que ela supera esse porcentual: para 18% das pessoas ouvidas pelo instituto ela está entre 9% e 12% e para 19% ela é maior que 12%. A divulgação do PIB negativo (-0,2%) nesta sexta aumenta a sensação de desalento. Diante da certeza de que o ano seguirá recessivo, dificilmente o pessimismo será revertido no curto prazo.

 

Consumo familiar cai por primeira vez em 12 anos e PIB recua 0,2%

Inflação, queda do emprego e da renda começam a pesar no orçamento familiar

 

O aperto econômico se refletiu na divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) nesta sexta. A economia teve queda de 0,2% nos três primeiros meses deste ano, comparado ao trimestre anterior, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Quando a comparação é feita com o primeiro trimestre do ano passado, a queda fica ainda mais pronunciada: 1,6%. Os números apresentados pelo IBGE revelam ainda que pela primeira vez, desde o segundo semestre de 2003, o consumo das famílias brasileiras, que representa mais de 60% do PIB, registraram queda. Segundo o IBGE, o consumo caiu 1,5%, em relação ao período de setembro a dezembro do ano passado. No acumulado do ano, a baixa foi de 0,9%, a primeira registrada desde o último trimestre de 2003, por essa leitura.

O mix de inflação, aumento de desemprego, crédito mais apertado e queda na renda do trabalhador cobrou a fatura do orçamento familiar, que começa a ser adequado à nova realidade, confirmando o quadro recessivo pelo qual passa o Brasil.

Em abril, por exemplo, o salário médio caiu 2,9% nas seis maiores capitais do país. Enquanto isso, o acesso ao crédito ficou mais difícil. Relatório do Banco Central mostrou que as concessões de novos empréstimos caíram em praticamente todas as modalidades de financiamento no mês passado. As famílias pegaram 6,6% a menos de empréstimos em relação a março. Os números refletem, em parte, a alta dos juros consecutiva, desde o final do ano passado. A taxa Selic hoje é de 13,25%. 

Quase todos os indicadores que compõem o PIB aparecem com o sinal de menos (-) na frente. Em um contexto de ajuste das contas públicas, o consumo do Governo, por exemplo, encolheu 1,5% no primeiro trimestre deste ano, em relação ao primeiro trimestre de 2014.

Os investimentos feitos por empresas, ou taxa de investimento, por sua vez, caíram 7,8% no período, a sétima queda consecutiva. Em relação ao PIB, a taxa ficou em 19,7%, uma das baixas do continente.

A indústria também recuou em relação ao três últimos meses de 2014, 0,3%, refletindo o desempenho pífio e as vendas em queda de setores importantes, como construção civil, que vem promovendo grandes demissões e a indústria automobilística, que tem reduzido o ritmo de produção. Serviços, por outro lado, que responde por 60% do PIB, teve queda de 0,7% em comparação com o trimestre anterior. Apenas a agropecuária, entre os três setores, cresceu. O avanço foi de 4,7%, segundo o IBGE, porém o setor responde a uma parcela pequena do PIB.

Cenário incerto

A expectativa dos economistas era que a retração do PIB no primeiro trimestre fosse maior. A previsão do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), que é calculada pelo Banco Central e considerada uma prévia do PIB, era de que a economia do país recuasse 0,81%.

As perspectivas para a economia se mantêm pessimistas, como o próprio Governo já admitiu ao prever um PIB negativo de 1,2% para 2015. Se confirmado, será o pior resultado registrado nos últimos 25 anos. Com a projeção de até meio milhão de demissões para este ano, segundo consultorias, e uma inflação acima de 8%, a renda do brasileiro deve ficar ainda mais achatada.

A aposta do Governo é que só a partir de 2016 o país volte a crescer. No entanto, na opinião do economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, que projeta um avanço de 0,7% no PIB no próximo ano, esse valor ainda será pífio, "quase uma base" e muito menor que o verificado na última década. "O desemprego continuará crescendo e o consumo das famílias seguirá caindo", afirmou Goldfajn em evento na Amcham nesta semana.

Para o economista, os atuais ajustes nas contas do Governo ajudam a consertar erros e evitar a crise, mas faltam verdadeiras reformas. "Sem elas, o crescimento do país não consegue passar dos 2% ao ano nos próximos três anos", disse.

 

 

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Fonte:
EL PAÍS

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

1 comentário

  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    O lulopetismo é especialista em citar eufemismos.

    "Controle Social da Mídia" em vez de "Censura", Movimentos Sociais em vez de Exército de Stédile (semelhante aos "camisas pardas" da Alemanha de 1933) e (a cereja do bolo): LUTAMOS PELA DEMOCRACIA !!!

    Neste período que "governaram" o Brasil, criaram uma nova realidade para os seus governados... Fomos transportados para um novo país, cujo nome poderia ser: "BABILÔNIA"!!

    É um eufemismo que está em voga, com a exposição da novela na rede globo de mesmo nome.

    O vocábulo BABILÔNIA é o nome de uma antiga cidade que foi capital da Suméria, na região onde hoje é território do Iraque. O termo, em babilônico, significa "Porta de Deus", mas os judeus dizem que vem do hebraico e significa "Confusão".

    SERÁ QUE O NOME TRADUZ A REALIDADE ???

    0