A ANATOMIA DO PETISMO: COMO SE CRIOU O MONSTRO. Um texto de 11 anos, não uma ofensa de cinco minutos. Ou: A vespa e a joaninha

Publicado em 05/08/2015 10:29
por REINALDO AZEVEDO, de VEJA.COM

A ANATOMIA DO PETISMO: COMO SE CRIOU O MONSTRO. Um texto de 11 anos, não uma ofensa de cinco minutos. Ou: A vespa e a joaninha

Vespa inocula seu ovo na Joaninha, que passará a abrigar um estranho em seu vente...

Vespa inocula seu ovo na joaninha, que passará a abrigar um estranho em seu vente…

Eu escrevo para quem gosta de ler. Se preciso, textos longos. Estou nessa faz tempo. Não descobri anteontem os males do petismo. Minha crítica aos companheiros antecede a sua chegada ao poder. E, bem…, ouso dizer que eu estava certo, não é? Quando criei o termo “petralha”, os petistas nem haviam chegado ainda ao poder. Mas eu entendia a sua natureza.

Na sequência, eu vou republicar um texto que saiu, pela primeira vez, no nº 31 da revista Primeira Leitura, de que eu era diretor de redação, em setembro de 2004. Lula estava, então, no poder havia apenas um ano e nove meses. O artigo integrava um conjunto de textos em que eu criticava o comportamento tímido das oposições, que evitavam o confronto com o PT, preferindo parabenizar Antônio Palocci, então ministro da Fazenda, porque ele seguia o caminho da racionalidade econômica.

O que sinto ao reler o texto abaixo? Desagrada-me que muitos dos meus temores estejam aí, como realidade palpável. Mas também, confesso, sinto satisfação intelectual. Poucos viam o que estava em curso. Eu era um deles. À época, algumas pessoas me disseram: “Não seja apocalíptico”. Nunca sou! Considero-me apenas realista. E continuarei na batalha, com os mesmos valores que me animavam então e que me animam ainda hoje.

É fácil atacar um partido ou um grupo político rejeitados por quase 80% da população. A dificuldade é apontar as suas mazelas quando aprovados por quase 80%… Releiam o artigo de setembro de 2004, em que recorro a uma situação da natureza para expor o que estava em curso. Os eventos históricos, claro!, estão datados, mas não as ideias e a leitura que dão suporte ao artigo.

O mensalão só explodiria em junho do ano seguinte. Em setembro de 2004, Delúbio Soares já era personagem do artigo. Não é tão fácil escrever um texto que dure 11 anos. Mas é certo que qualquer bilioso cretino consegue escrever uma ofensa que dure cinco minutos. Observem: etá tudo ali, inclusive o uso abusado do dinheiro público para fazer proselitismo. Não! Não vou lhes pedir que a gente se encontre daqui a 11 anos para debater 2015. Espero estar cuidando dos meus netinhos. Não me seduz tanto assim estar certo nem me constrange o erro. O que me mobiliza, aí sim, é assegurar a eficiência de um método.

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Joaninha carrega a larva, que vai se alimentar de suas entranhas, até matá-la

Joaninha carrega a larva, que vai se alimentar de suas entranhas até matá-la

A reforma da Previdência do governo FHC era criminosa; uma ainda mais severa no governo do PT foi virtuosa. Um superávit primário de 3,75% sob o comando do “neoliberal” FHC era criminoso; o de oficiais 4,25%, chegando a quase 6%, sob o comando de um “operário”, foi virtuoso. Com FHC na Presidência, o Ministério Público era a antítese virtuosa; com Lula lá, passou a ser a antítese criminosa. CPIs contra tucanos denunciavam crimes contra o povo; CPIs contra petistas é que são crimes contra o povo. Juros altos, sob o tucanato, faziam a vontade criminosa dos banqueiros; guiados pela estrela, passaram a ser um distintivo de suas virtudes. Foro especial para autoridades, quando o poder estava com o príncipe dos sociólogos, era crime de lesa-democracia; com a entronização do Moderno Príncipe, até uma MP para beneficiar um só virou encarnação da virtude. Privatizações com regras na gestão anterior eram privataria; “parcerias” do Estado com a iniciativa privada, num mar de desregramento, provaram a adesão virtuosa do PT à economia de mercado.

Verá o leitor que há um propósito em tantas vezes se repetirem acima as palavras “criminoso” e “virtuoso” e outras de mesma raiz. À beira de completar um quarto de século, período em que cresceu encabrestando ou aparelhando todos os Poderes e instâncias da República, fossem as organizações do Estado, fossem as da sociedade civil, o PT se organiza para ficar no poder – se possível, para sempre. Fantasmagoria? Obviedade? Afinal, não será mesmo esta a vocação de qualquer partido: a permanência? Não se estaria aqui lendo como negativo o que é uma virtude? Respondo com um sonoro “depende”. Depende de quais instrumentos acatamos como legítimos na disputa política. Depende de considerarmos ou não aceitável que um partido construa, ao longo de mais de duas décadas, um patrimônio de luta política, com um conjunto claro de proposições (por mais doidivanas e irrealistas que fossem), para, por razões tão táticas quanto estratégicas, repudiá-lo uma vez eleito.

E, neste ponto, inicio uma anotação central para o entendimento do que está em curso: o PT foi tático quando aderiu ao conjunto de soluções que antes satanizara: temia, afinal, ser colhido pela voragem dos mercados. E foi também estratégico: essa “adesão” serviu para mascarar a sua essência autoritária, desarmando o espírito dos adversários, que então se deram por satisfeitos e consideraram um avanço que o partido tivesse renunciado a seu ideário esquerdista. Noto que, com efeito, procurar no petismo sinais de socialismo à cubana é tolice e perda de tempo – ainda existem brotoejas, mas irrelevantes. O que o PT conserva da herança esquerdista é o dirigismo, a vocação autoritária, o entendimento de que a sociedade deva ser conduzida por um ente de razão que é, a um só tempo, supra-histórico e encarnação da própria história.

A crítica ao estelionato eleitoral não pode e não deve se esgotar nas muitas vezes em que o partido nega seu passado. Eis uma acusação a que a cúpula partidária responde com conforto: ora evoca a sua maturidade, ora confessa as “bravatas”, ora atribui suas ações à herança maldita.

Atrevo-me a propor um ponto de vista e uma consideração que me parecem novos: para o PT, “trair” o seu ideário era parte do jogo. Até porque não havia propriamente um ideário, mas a determinação de construir o partido como ente de razão.

Nem o PT nem o Partido Comunista Chinês são incompatíveis com a economia de mercado, com a globalização ou com o capitalismo.

A aposta de ambos, cada um respondendo a necessidades particulares, é a de que a “desordem capitalista” é passível de comando. E esse comando é incompatível com as melhores conquistas da sociedade democrática e do Estado de Direito. O que é esse tal Estado de Direito senão aquele em que nenhum ente a outro se sobrepõe como absoluto? O que é o Estado de Direito senão a impossibilidade de haver uma instância que, por absoluta, possa regular-se a si mesma?

Haver hoje no Brasil um sólido apoio de boa parte do empresariado ao governo do PT é, em vez de contradição, prova inequívoca de que, bem-sucedido na tática, o partido também logra os benefícios de uma bem-urdida estratégia de convencimento e inserção. A realidade se impõe como piada explícita: depois de ter conquistado a hegemonia nos sindicatos de trabalhadores, o partido finca a sua bandeira na Fiesp. É perfeitamente possível emascular a democracia de suas defesas antiautoritárias sem, no entanto, afrontar a lógica de mercado – a rigor, dada a construção atual, o petismo se mostra tão mais tentado ao stalinismo político quanto mais se dá ao mercadismo.

GRAMSCI E DISTOPIA
Um pouco de teoria ilumina o caminho. Mais de uma vez, já aludi a uma assustadora formulação de Antonio Gramsci, teórico comunista italiano, sobre o papel que reservava ao “partido”. Ele não estava se referindo, bem entendido, a um partido (que ele chama de “Moderno Príncipe”) empenhado em promover a conquista do poder por meio da luta armada, à moda russa. A “revolução” gramsciana se dá por intermédio do poder tentacular do Moderno Príncipe, que se utiliza das fissuras do “Estado burguês” e da tolerância política para cultivar os seus valores divergentes – mais ou menos à feição de certa vespa que põe o ovo no ventre de uma joaninha: a coitada passa à condição de hospedeira de um alien, que dela se alimenta enquanto a destrói. A vinda da larva da vespa à luz coincide com a morte da joaninha.

A guerra gramsciana tem como território as consciências. Deixemos que ele mesmo fale:
“O Moderno Príncipe, desenvolvendo-se, subverte todo o sistema de relações intelectuais e morais, uma vez que seu desenvolvimento significa, de fato, que todo ato é concebido como útil ou prejudicial, como virtuoso ou criminoso, somente na medida em que tem como ponto de referência o próprio Moderno Príncipe e serve ou para aumentar o seu poder ou para opor-se a ele. O Moderno Príncipe toma o lugar, nas consciências, da divindade ou do imperativo categórico, torna-se a base de um laicismo moderno e de uma completa laicização de toda a vida e de todas as relações de costume”.

Nem George Orwell sintetizou como distopia o horror que Gramsci resume como utopia. Há ali, de fato, os prolegômenos da ditadura perfeita. Reparem que não será o conteúdo dessa ou daquela proposições a determinar clivagens políticas ou sociais. “Crime” e “virtude”, palavras que nos devolvem lá ao primeiro parágrafo, se definirão segundo a necessidade, o interesse e a construção do Moderno Príncipe.

Não estranha que os comunistas, ao longo da história, tenham feito tanta lambança (sempre em nome de causas ditas “progressistas”…), justificando, aqui e alhures, os atos os mais pusilânimes e cruéis, desde que pudessem evocar em seu favor uma causa humanista.

Tal prática, a rigor, antecede as formulações de Gramsci. Este, em verdade, é fruto dessa vivência e dessa visão de mundo e passou, depois, a ser um dos doutores dessa religião sem deus, desse “laicismo moderno”. Aos leitores recomendo a peçaAs Mãos Sujas, de Sartre, que trata de um assassinato político em nome da causa. É uma denúncia contundente desse mecanismo de pensamento. Mais tarde, o próprio autor cairia vítima do que havia denunciado, o que só serve de advertência para o poder insidioso do Moderno Príncipe.

TEORIA CONSPIRATÓRIA?
Aqui, uma outra porta importante se abre ao entendimento.A primeira (e talvez principal) tarefa do Moderno Príncipe consiste em alterar o DNA dos valores ideológicos, fazendo com que os adversários passem a duvidar das suas próprias certezas e valores, tornando-os, tanto quanto possível, hospedeiros da ideologia destinada a eliminá-los. No mês passado, num intervalo de três semanas, viu-se “O Partido”:

- 1) dar à luz o projeto dirigista da Ancinav, a agência de cultura que pretendia ser uma espécie de Conselho Inferior de Censura para artes e espetáculos;
- 2) enviar ao Congresso o projeto de lei criando o Conselho Federal de Jornalismo;
- 3) tentar instituir a Lei do Silêncio ao funcionalismo público;
- 4) ameaçar com o compartilhamento, entre todos os órgãos da administração federal, dos dados de quebra de sigilo fiscal e bancário;
- 5) cobrir o país com a sombra da ameaça em razão de mais de 1,7 mil sigilos bancários quebrados pela CPI do Banestado.

A simples sugestão de que tais ações possam estar coordenadas num propósito, de que todas elas têm, em comum, a ameaça do dirigismo e da criação de um Estado mais policial do que democrático, de que há método por trás dessa aparente bagunça, leva, inevitavelmente, o crítico a ser considerado uma pobre vítima das teorias conspiratórias.É claro que o PT, nessa hora, se aproveita do fato de que a análise política, no Brasil, é chinfrim, desinformada e carente de leitura. Soa antipático perguntar, mas eu não teria chegado até aqui se quisesse só granjear simpatias: quantos conhecem a teoria gramsciana? O que o jornalismo e boa parte da academia realmente leram sobre a trajetória da esquerda e suas estratégias de poder?

Forçar o observador a duvidar daquilo que vê, levando-o a apontar nuances de virtude numa prática obviamente autoritária, é parte do jogo, é parte da “subversão e todo o sistema de relações intelectuais”. No ponto extremo dessa atitude, ridiculariza-se o crítico, acusando-o de lunático, como se estivesse a denunciar a abdução de humanos por extraterrestres.

O DINHEIRO PÚBLICO
As cinco ações citadas como evidências recentes de arreganho autoritário podem ser implementadas sem uma afronta formal ao sistema democrático. O PT é mestre na prática de usar a democracia para solapá-la, sobressaindo o sistema de contribuição de filiados ao partido como a mais escandalosa prova de que já não se distinguem partido, governo, Estado e sociedade. A lógica é elementar: se o partido terá menos dinheiro ou mais a depender da quantidade de filiados que nomeie, está em suas mãos decidir que parcela de recursos públicos vai diretamente para ao caixa administrado por Delúbio Soares. O partido se torna o único regulador dessa relação, infenso a qualquer outra mediação, controle ou fiscalização.

O partido, sabe-se, vive do que o onipresente Delúbio consegue arrecadar lá à sua maneira e da tal contribuição de filiados. Os petistas que trabalham na iniciativa privada doam ou não uma parte de sua renda à Igreja Pentecostal do Petismo a depender dos “direitos” que pretendem ter como militantes.Ocupar um cargo público é, digamos, uma honraria na hierarquia dessa teologia. Se não contribui, não tem cargo. E isso escancara uma evidência: o PT se considera o dono natural e original dos recursos que pagam os eleitos e nomeados. Estes seriam meros intermediários dessa posse.

A presunção é a de que a bufunfa sairia do caixa do Estado com ou sem a contribuição obrigatória. É verdade. Mas é uma verdade que esconde um embuste milionário. Ser a decisão do partido de nomear mais filiados ou menos uma âncora de ajuste de seu próprio caixa já expõe, por si, a natureza do problema. “Não é ilegal”, muitos dirão. Mais ou menos, já que há uma cláusula branca de exclusão na nomeação, que pode ser entendida como chantagem (“Ou dá o dinheiro ou não é indicado”), não regulada por qualquer código. O fato de que a ilegalidade essencial jamais vai se encontrar com a prova material não muda a substância imoral do problema.

TÁ TUDO DOMINADO?
Enganam-se os que acreditam que estou aqui a concluir, a exemplo de certo refrão popular, que “tá tudo dominado”, como se a fantasmagoria gramsciana já  tivesse sido perfeitamente realizada. Eu, não! Nem pretendo superestimar o petismo nem creio, à diferença de algumas estrelas do partido que já estão por aí desenhando cenários para o Brasil de 2022!!!, que seu modelo já seja vitorioso.

Também aposto, a exemplo de muitos, nas virtudes das instituições brasileiras. Evito apenas tomar por corriqueiro, com olhos de déjà-vu, isto que já é mais do que um projeto de poder (porque em parte realizado) e que, na sua versão presente, conjuga economia de mercado com vocação dirigista, submetendo à mesma influência e ao mesmo ente de razão tanto o ultra-esquerdismo do MST como o, vá lá, liberalismo da Fiesp. Mais ainda: parte da consecução desse poder se alimenta, de forma parasitária, das gorduras e das proteínas da sociedade livre, como aquela larva da vespa incrustada no abdômen da joaninha.

A novidade desse arranjo em relação a tudo o que já se viu no país está – e seria bom que cientistas sociais e mesmo jornalistas tentassem demonstrar que assim não é, o que teria a virtude de estabelecer o debate – num partido que limita a sua própria história e a do país ao presente eterno (definindo, pois, o criminoso e o virtuoso segundo a necessidade da hora) e que se aproveita da enorme porosidade do sistema político e intelectual da democracia às investidas do discurso de esquerda para reescrever o passado, substituindo os fatos idos pela permanente mistificação do presente.

A prova escancarada viu-se quando o governo transformou, com a ajuda de parte da imprensa, em mérito seu a balança comercial de 2003, de US$ 24,8 bilhões.  Como Lula não é o midas da soja ou dos manufaturados, tampouco o cristo da multiplicação da lavoura e da produção industrial, aquele desempenho era resultado, ora vejam!, da dita “herança maldita” de FHC.

Sim, a política, e só ela, mais do que a economia, pode abalar essa construção, redefinindo estratégias. A política, em suma, não morreu. Não ainda. Nem tudo o que não é vespa é joaninha.

Por Reinaldo Azevedo

Vídeo mostra José Dirceu em atuação no Peru: o “consultor” falava como ministro oficioso

Por Felipe Frazão, na VEJA.com:
Vídeos obtidos pelo site de VEJA mostram a desenvoltura com que o ex-ministro José Dirceu circulava no alto escalão do governo peruano no segundo mandato do ex-presidente Lula,  mesmo réu no processo do mensalão e defenestrado da Casa Civil em 2005. Em encontros com autoridades do país, o petista chega a se referir a estratégias comerciais do Planalto. E afirma que o Peru era uma das prioridades de Lula.

Um dos encontros precede uma visita de Estado do ex-presidente ao país andino. Ao saber que o tema Petrobras seria tratado, Dirceu afirma: “Isso é importante”. As portas para o ex-ministro no Peru foram abertas por meio da parceria com a mulher de um ex-ministro peruano, que recebeu do petista R$ 378.785,00 outros US$ 180 mil da Galvão Engenharia, a pedido de Dirceu. Com a ajuda da brasileira Zaida Sisson de Castro, de 63 anos, o ex-ministro “expandiu sua consultoria para atuar no Peru”, segundo a Polícia Federal, e passou a circular na cúpula do governo peruano.

Elo de Dirceu no país, a consultora Zaida era mulher do arquiteto peruano Rodolfo Luis Beltrán Bravo. Ele foi ministro da Presidência (1989-1990) no primeiro governo de Alan García, titular do Ministério do Comércio Exterior e diretor do Banco Central da Reserva, além de conselheiro comercial na embaixada peruana na Venezuela. Formado nos Estados Unidos e no Brasil, Rodolfo Beltrán já foi condecorado pelo governo brasileiro com a ordem Grã-Cruz da Medalha Cruzeiro do Sul.

Em 2 de novembro de 2009, Zaida levou Dirceu a uma reunião com o então primeiro-ministro do Peru, o político do Partido Aprista Peruano Javier Velásquez Quesquén, ex-presidente do Congresso Nacional. À época, ela prestava serviços à filial peruana da Galvão Engenharia – a empreiteira disse à Justiça que Dirceu esteve em uma reunião com Zaida e autoridades do governo do Peru, em defesa de interesses da empresa. No mesmo período, o marido de Zaida ocupava a diretoria do Agrorural, programa governamental de desenvolvimento produtivo agrário e rural do Ministério da Agricultura, no segundo governo do ex-presidente Alan García. Dirceu já estava com mandato cassado, réu no mensalão e longe do Palácio do Planalto, mas parecia falar em nome do governo brasileiro.

A reunião precedeu uma visita de Estado do ex-presidente Lula, no dia 11 de dezembro daquele ano. No fim do encontro, Dirceu perguntou a Velásquez se Lula não iria ao Peru em breve. Zaida interveio e respondeu que sim, e o premiê Velásquez acrescentou que conversariam sobre a Petrobras. Dirceu fez um sinal positivo com a mão e disse: “Isso é importante”.

Na reunião, Dirceu conversou em “portunhol” com o então presidente do Conselho de Ministros sobre o desenvolvimento do Brasil, defendeu a integração tecnológica e disse que o Peru seria a saída “preferencial” que o Brasil buscava para o Pacífico. Ele também afirmou que muitas empresas brasileiras estavam interessadas em investir no país. “Tem muitos empresários brasileiros que querem vir ao Peru”, afirmou Dirceu.

“O Lula tem o Peru como prioridade na América do Sul. As relações com Paraguai e Bolívia são de outro tipo porque temos contencioso e temos que apoiar o desenvolvimento desses países. O Peru está em outro nível. E com a Argentina temos problemas e mais problemas porque é natural, são duas economias que competem”, diz Dirceu. “Estou à ordem. Basta me convocar que estou sempre à disposição do Peru”, despediu-se.

A audiência foi gravada em vídeo e publicada por Zaida em um canal de vídeos na internet. O registro da reunião foi apagado depois que o site de VEJA questionou Zaida sobre sua atuação profissional e seus elos com Dirceu. Ela não respondeu.

No mês seguinte, Lula faria mais um incentivo aos investimentos brasileiros no Peru, inclusive com crédito do BNDES. O ex-presidente palestrou a empresários peruanos e brasileiros, reuniu-se reservadamente com Alan García, e depois com o atual presidente, Ollanta Humala, do Partido Nacionalista Peruano. Lula ainda assinou onze acordos de cooperação com o país andino, na área de transporte aéreo, comércio e energia, como a construção de uma hidrelétrica na fronteira com o Acre. “Os empresários brasileiros, Alan  — e tem muitos aqui que você conhece —, sabem que desde 2003 eu tenho feito uma pressão imensa para que eles façam investimento na América do Sul, porque a similaridade que existe entre nós permite extraordinárias oportunidades de investimentos do Peru no Brasil, do Brasil no Peru. Eu poderia pegar a Petrobras, que está aqui, que ainda está investindo pouco no Peru; poderia pegar a Vale do Rio Doce, que está aqui; e as coisas que eu mais discuto com eles é fazer investimento no Peru, produzir coisas no Peru, gerar empregos no Peru e exportar o excedente para o Brasil para que a gente possa equilibrar a balança comercial entre Brasil e Peru”, disse Lula.

Buscas
Zaida Sisson foi apontada pelo delator Milton Pascowitch como parceira de negócios de Dirceu no Peru e indicada pelo petista para “atuar na obtenção de contratos para a Engevix”. Eles se conheceram durante uma viagem ao país em 2008 com Dirceu, Gerson Almada e José Antonio Sobrinho. Na ocasião, também se reuniram com ministros das Águas, de Energia e com o presidente da Petroperu.

O Ministério Público Federal (MPF) afirma que há indícios de lavagem ou ocultação de dinheiro por parte dela. Um endereço em nome de Zaida na Rua Amaral Gurgel, região central de São Paulo, foi alvo de buscas da Lava Jato na segunda-feira. O Ministério Público pediu o bloqueio de bens dela, na quantia de 364.398 reais, referentes a vinte transferências identificadas entre janeiro de 2009 a abril de 2010. “Há evidências de que os serviços contratados pelas empreiteiras da JD não foram realizados. Portanto, há elementos de prova de que Zaida tenha recebido recursos de propina dessas empreiteiras para atuar em favor das empresas no Peru”, afirma o MPF.

Zaida recebeu de Dirceu pagamentos que somam ao todo 378.785 reais entre 2008 e 2011, segundo a Receita Federal. Os repasses aparecem em relatório do Fisco na movimentação declarada da JD Assessoria e Consultoria, empresa de Dirceu usada, segundo delatores e investigadores do petrolão, para movimentar propina. Zaida recebeu por meio da Blitz Trading, empresa que abriu em 2003 no Brasil. A empresa tem como principal objeto social a representação comercial, agenciamento de comércio de máquinas, equipamentos, embarcações e aeronaves. A sede é um apartamento em Porto Alegre (RS). Também é sócia da Blitz a filha da consultora, Carol Sisson, estudante de jornalismo e blogueira de moda em São Paulo. Zaida ainda é dona da SC Consultoría, registrada em Lima, capital do Peru.

Por indicação de Dirceu, Zaida foi contratada pela filial peruana da Galvão Engenharia por 5.000 dólares mensais para “analisar aspectos sociológicos e políticos do Peru”, prestar assessoria e divulgar o nome da empreiteira em eventos no país. O contrato foi firmado com a SC Consultoría e durou de três anos, segundo a informações da empreiteira, o que daria um pagamento de 180.000 dólares. Ela ajudou a Galvão Engenharia em um contrato com a estatal de águas e esgoto de Lima, Sedapal. A Galvão declarou à Justiça que Zaida “realizou reuniões periódicas com representantes da empresa e ministros da Agricultura [setor em que o marido atuava], com o presidente regional de Tumbes, prospectou projetos de interesse nas áreas de infraestrutura, saneamento e rodovias, sendo que em ao menos uma dessas reuniões José Dirceu esteve presente”.

Dilma
A consultora mora no exterior há cerca de quinze anos. Em 2002, ela foi delegada do PT no Peru durante as eleições presidenciais e fez campanha para o ex-presidente Lula. Zaida se apresenta na imprensa local como dirigente petista e militante do Partido Aprista Peruano (APRA). O nome dela aparece em um abaixo-assinado com objetivo de “denunciar” a violação de direitos humanos à Anistia Internacional por ocasião da condenação de Dirceu no mensalão. Nas eleições de 2010, ela deu entrevistas a rádios peruanas defendendo a eleição da presidente Dilma Rousseff. “Dilma é uma economista fantástica”, diz Zaida.

Zaida e o ex-ministro Beltrán se conheceram em 1965 durante uma competição de natação no Rio Grande do Sul. Nos anos 2000 se reencontraram, reataram o romance e agora vivem em Lima. Eles se apresentam atualmente como consultores privados na América Latina com clientes na área de petróleo, gás e energia. Em um currículo online, Zaida afirma ter sido executiva de contas de consultoria governamental para a Petrobras e a PDVSA, estatal de petróleo venezuelana. Ela fez parte da diretoria da Capebras (Câmara Binacional de Comércio e Integração Peru-Brasil). A entidade tem como associadas subsidiárias peruanas de empreiteiras flagradas na Lava Jato, como Odebrecht, Queiroz Galvão, Camargo Correa, Andrade Gutierrez, Galvão Engenharia, além da Petrobras Perú, vendida pela estatal brasileira à chinesa CNPC.

Para assistir aos vídeos, clique aqui

Por Reinaldo Azevedo

DIRCEU – Conversa do Peru também revela o auto-engano e demonstra por que o PT seria um mal mesmo que não houvesse crime. Ou: O regional-subdesenvolvimentismo

Além, obviamente, do ambíguo papel que José Dirceu desempenha no Peru, onde fala como uma espécie de ministro oficioso do segundo governo Lula, embora já estivesse fora do poder e cuidasse, segundo seu próprio testemunho, de negócios privados, três coisas chamaram a minha atenção no vídeo publicado por VEJA.com.

1: É tudo normal!
Ele foi postado na Internet pela consultora Zaida Sisson não para que outros vissem e pudessem se escandalizar. Nada disso! Era como evidência de operosidade da turma, o que deixa claro que os companheiros já não distinguiam a fronteira entre o aceitável e inaceitável.

2: O regional-subdesenvolvimento
No segundo mandato de Lula, o PT vivia o auge do autoengano. Se prestarem atenção, Dirceu fala do grande crescimento do Peru — cuja economia continua em expansão — e do Brasil, que está hoje em recessão. O petista aborda, então, a dificuldade por que passa o México, que, de fato, em 2009, ano daquele encontro, sofreu uma brutal recessão: a economia encolheu 6,5%.

Segundo Dirceu, isso se devia ao fato de aquele país ter sua economia ancorada nos EUA. As virtudes do Brasil estariam na escolha do tal novo eixo… Pois é. Em 2010, o México voltou a crescer. Entre 2011 e 2014, sua economia se expandiu, respectivamente: 4%; 3,9%; 1,4% e 2,1%. Deve crescer algo em torno de 3,5% em 2015. No mesmo período, estas são as taxas brasileiras: 3,9%; 1,8%; 2,7% e 0,1%. Neste ano, a recessão brasileira está estimada em 2%. Possível média mexicana em cinco anos: 2,98%. Possível média brasileira no mesmo período: 1,3%. Viram como o nosso modelo é mesmo superior???

Observem que Dirceu está no Peru falando sobre os interesses estratégicos do Brasil, emprestando a nosso país, assim, um arzinho de superpotência. Pois é… Três anos depois daquele encontro, o Peru se juntou ao Chile, Colômbia e ao próprio México para criar a Aliança do Pacífico — a Costa Rica entrou depois. Objetivo: principalmente negociar com os EUA, que, segundo Dirceu, fazia mal aos mexicanos… Certo estaria o modelo brasileiro.

Pior de tudo: quando Dirceu canta as glórias da nossa superioridade, nem acho que ele esteja tentando enganar os peruanos, não! O pior é que ele realmente acredita naquilo — como Guido Mantega acreditava. Isso significa que, para ser um desastre para o Brasil, o PT nem precisa roubar. Mesmo com honestidade de propósitos, é uma catástrofe. Não sabe ler o que se passa no país e no mundo.

3: O MST e movimentos sociais
O terceiro elemento a ser destacado são os ditos movimentos sociais, que Dirceu trata, sim, como meras extensões do PT, embora faça uma crítica relativamente dura ao MST: em vez de cuidar das propriedades conquistadas, buscando ter força econômica, o movimento passou por um desvio político e buscou a tomada do poder. Curioso: entrevistei Dirceu em 2001, e ele fez precisamente essa crítica ao MST — e, nesse particular, claro!, ele está certo. A questão é saber se o movimento sobreviveria sem a sua mística revolucionária, mamando nas tetas do governo. Eu acho que não.

As conversas de Dirceu no Peru merecem um pouco mais do que a crônica policial. Elas também revelam, para além de lobbies e ilegalidades, os delírios de poder de forças políticas da América Latina, incluindo o PT. É tudo isso que está desmoronando.

Por Reinaldo Azevedo

Advogado de Dirceu: “O Zé realmente trabalhava em prol das empresas que o contratavam”

Enquanto escrevia o post anterior, recebi de Roberto Podval, advogado de José Dirceu, a seguinte mensagem, depois de ele ter lido no blog o texto sobre a jornada peruana de Dirceu, que reproduzi do site da VEJA.com:

“Reinaldo, transmita meus agradecimentos aos amigos da Veja.com. Podem criticar Zé Dirceu, e entendo as críticas, mas acabam de comprovar o que tenho dito: o Zé realmente trabalhava em prol das empresas que o contratavam.
Abs, Podval

Por Reinaldo Azevedo

O crime como primeira natureza do PT. Ou: Lula quer jogar Dirceu ao mar porque confia no seu silêncio

O inteligentíssimo jornalista e humorista Márvio Lúcio, o “Carioca” do programa Pânico (na rádio Jovem Pan e na Band), mandou ontem uma graça para o programa “Os Pingos nos Is”. Imitando a voz de Lula, ele canta:

“Eu/
Quem vai preso é o Zé de Dirceu/
Mesmo que seja
Eu/
Quem vai preso é o Zé do Dirceu/
mesmo que seja
Eu…”

Ridendo castigat mores… Rindo, moralizam-se os costumes. Luiz Inácio Lula da Silva — sim, ele mesmo! — agora deu para comentar com amigos, segundo informa a Folha, que, depois da prisão de José Dirceu, o PT precisa fazer uma profunda reflexão.

Convenham! É mesmo o caso de a gente ficar impressionando, não? Quando vieram à luz as primeiras falcatruas do mensalão, vocês se lembram, este senhor se disse traído. E afirmou que aqueles que erraram deveriam pagar. Pouco depois, o PT deu início àquela conversa mole de golpe, Lula passou a atribuir tudo a uma conspiração da oposição e da imprensa e anunciou, tonitruante, que um dia ainda diria muitas verdades. Alguns esperam até hoje. Sempre que esse senhor promete dizer verdades, dou de ombros e vou fazer outra coisa.

Muito bem! O petrolão chegou mais perto do chefão petista do que chegou o mensalão. Se já era absolutamente inverossímil que ignorasse aquela tramoia, menos verossímil é a afirmação segundo a qual nada sabia desta, dados os vínculos que o próprio Babalorixá mantém com empreiteiras e a dimensão do escândalo.

Mas vejam lá… O homem não se dá por achado. Propõe que o PT se dedique à reflexão como se aquilo tudo que se viu não fosse um método e, como já escrevi aqui, uma forma de tomada do estado brasileiro. Há, não custa lembrar, duas leituras em choque no próprio Ministério Público, e só uma é certa: 1 – a primeira pretende que todos os partidos são igualmente corruptos e que tudo se resolve com leis mais severas; 2 – a segunda informa que a corrupção jamais atingiu a dimensão que atingiu sob o petismo — em razão, obviamente, de características que lhe são peculiares.

Para Lula, segundo apurou a Folha, mais importante é o governo evitar uma guerra com Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara. Muito pragmático, o homem já deve estar pensando em como contornar as CPIs do BNDES e dos fundos de pensão.

Há outro troço perverso aí: petistas espalham pelos corredores que, desta feita, não sairão em defesa do Zé porque ele teria procurado obter vantagens pessoais na relação com as empreiteiras, entendem? Os petralhas, porque é de sua natureza e porque isso os define, acham que o malfeito cometido em nome do partido é, no fundo, virtude.

Lula sabe que não corre risco nenhum nesse caso. “É mais fácil matarem Dirceu do que ele fazer uma delação premiada.” A frase é do advogado Roberto Podval, que faz a sua defesa e também a do irmão do petista, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva. Eu já havia escrito aqui, como sabem, que achava absolutamente improvável que isso acontecesse.

Não em benefício de Dirceu — na verdade, é contra tudo o que ele pensa que o escrevo —, especulo se ele, mesmo formado em direito, considerava criminosas as ações pelas quais foi condenado no mensalão e aquelas de que o acusam no petrolão.

O que estou afirmando é algo mais sério do que o simples ato de delinquir. De tal maneira o crime se mostrou a segunda natureza do partido que não tardou a se tornar a primeira. Àquilo a que nós, os mortais comuns, chamamos banditismo, eles consideram uma “forma de luta”. É por isso que a legenda se tornou um mal sem cura.

Seja como for, a gente nota que Lula está disposto a jogar companheiros ao mar para ver se salva a própria pele e não vai parar, ele também, na cadeia.

“Eu/
Quem vai preso é o Zé de Dirceu/
Mesmo que seja
Eu/
Quem vai preso é o Zé do Dirceu/
mesmo que seja/
Eu…”

Texto publicado originalmente às 5h

A prisão de Dirceu, o motivo alegado por Moro e a estupidez de Luis Fernando Verissimo

A delinquência intelectual que toma conta de… sedizentes intelectuais de esquerda não tem, creio, paralelo na história do país. E quem vai apanhar aqui é Luis Fernando Verissimo. Mas, antes, preciso fazer algumas considerações.

O juiz Sergio Moro decretou a prisão preventiva de José Dirceu alegando o seguinte, prestem atenção:
“Em um contexto de criminalidade desenvolvida de forma habitual, profissional e sofisticada, não há como não reconhecer a presença de risco à ordem pública, a justificar a prisão preventiva para interromper o ciclo delitivo”.

Digo sem meias palavras: acho, por tudo o que veio à luz, que Dirceu cometeu crimes. Que ele represente risco à ordem pública, bem, aí eu gostaria que alguém, sem recorrer já ao mérito — e, pois, à sentença —, me provasse. Acho relativamente fácil demonstrar por que o petista tem de ser condenado na hora do julgamento! A prisão preventiva, nesses termos, sabe qualquer pessoa que lida com o direito, é mais uma decisão de exceção.

O juiz vai adiante:
“O fato é que, se a corrupção é sistêmica e profunda, impõe-se a prisão preventiva para debelá-la, sob pena de agravamento progressivo do quadro criminoso. Se os custos do enfrentamento hoje são grandes, certamente serão maiores no futuro.”

Se as palavras fazem sentido, estamos diante da antecipação de uma sentença condenatória, que pode ser absolutamente legítima… na hora do julgamento! Por tudo o que veio à luz, tendo a endossá-la. Mas pergunto:  é a esse propósito que serve a prisão preventiva? É o que está escrito no Artigo 312 do Código de Processo Penal?

Assim, não é difícil contestar a prisão preventiva de Dirceu. O PT, no entanto, covarde que é, resolveu ignorar o “companheiro”. A sua defesa ficou por conta desses que a imprensa costuma chamar “intelectuais”. Luis Fernando Verissimo, um cronista só às vezes engraçado, entra nessa categoria. Disse o gigante:
“Pelo que o José Dirceu significa, mesmo que sua prisão não fosse política, seria política”.

Entenderam? Verissimo não quer nem entrar no mérito se o juiz Moro está certo ou errado, se existem ou não razões para se decretar a prisão preventiva de Dirceu. Para ele, alguns homens deveriam estar acima dessas vulgaridades. Afinal, como só estados totalitários fazem presos políticos e como a prisão do Zé seria sempre política, então o Zé, segundo o escritor, jamais deveria ser preso, pouco importa o que fizesse, nem que roubasse pirulito da Dilma…

É assim que as esquerdas entendem a justiça: aos amigos tudo, menos a lei. Aos inimigos nada, nem a lei. Verissimo acredita que a aristocracia de esquerda não pode ir para a cadeia, pouco importa o crime. Vejam os amigos que sobraram ao Zé…

É de vomitar.

Para o PT, Dirceu já é carne queimada. Ou: Mais uma resolução aloprada e covarde

O PT largou José Dirceu pendurado na brocha. Mesmo na hipótese de que o chefão petista tenha haurido algum benefício para si nas relações que a JD Consultoria mantinha com empreiteiras, todos sabemos que o ex-ministro nunca atuou apenas em proveito próprio.

Se Dirceu experimentou o pecado, para ficar numa linguagem pia, é certo que o PT foi beneficiário dos mesmos prazeres mundanos. O partido, no entanto, não quis nem saber. Decretou um sonoro “vire-se”. Não acho que Dirceu seja do tipo que faz delação premiada. Fosse, esta seria a hora, dada a resposta covarde de seus companheiros. A covardia, diga-se, independentemente da causa, é uma mal em si. Os covardes e sorrateiros disputam com os ressentidos a pior mácula de caráter.

Nesta terça, a Comissão Executiva Nacional do partido divulgou aquela que talvez seja a sua resolução mais cretina — além de, reitero, covarde. Já chego a ela. Em entrevista, Rui Falcão, presidente do PT, negou que Dirceu esteja sendo deixado às cobras. Instado a comentar a situação do companheiro, ele preferiu uma fala genérica:
“Para mim, qualquer pessoa, não só o José Dirceu, qualquer pessoa acusada é inocente até que provem o contrário (…). Não estamos abandonando nenhum companheiro nosso. Independente de abandonar ou não, não se deve presumir a culpa antes que a culpa seja provada”.

Destaque-se o “Independente de abandonar ou não…”.

A resolução
Tratei aqui há poucos dias da rápida degenerescência do PT e expliquei por que é tão difícil o partido se refazer dos escombros. Um dos problemas está em não reconhecer os vícios. Na resolução desta terça, mais uma vez, a legenda se vê enfrentando forças conservadoras que estariam aliadas à “mídia monopolizada” para enfraquecer Dilma, Lula e o PT.

O texto refere-se ao suposto atentado sofrido pelo Instituto Lula, ao qual a imprensa não teria dado a devida atenção, o que é falso. O ato seria parte do clima de intolerância com as “conquistas populares” que estaria tomando a América Latina. Sim, sem citar o nome, o PT está fazendo a defesa da ditadura sanguinolenta de Nicolás Maduro na Venezuela.

O retrocesso teria uma pauta, depreende-se, também econômica. Sabem como é… Para ajudar a presidente Dilma, o PT pede a reorientação da política econômica — ou seja: quer a cabeça de Joaquim Levy. Por incrível que pareça, dado o momento, o partido pede a redução da taxa Selic e incentivo ao crédito e ao consumo. Coisa de gênios.

Os petistas largam o porrete na Operação Lava Jato, dizem que não se está respeitando a presunção de inocência e que “um estado de exceção está sendo gestado em afronta à Constituição e à democracia”. A resolução termina convidando os petistas para a Marcha das Margaridas, de 11 e 12 de agosto, para o Ato Nacional pela Educação no dia 14 de agosto e para o Ato Nacional dos Movimentos Sociais do dia 20 de agosto. Ou por outra: fica evidente, pela resolução, que tudo isso é mesmo mera atividade partidária. É assim que o PT entende o mundo: o povo é o partido, e o partido é o povo.

Sobre Dirceu, no entanto, nem uma palavra. Como os companheiros avaliam que, dali, não sai delação premiada, então ele que saiba se comportar como carne queimada.

Leiam a íntegra da Resolução:

Prossegue a escalada conservadora da oposição, da mídia monopolizada e de agentes públicos, com o nítido objetivo de enfraquecer o governo Dilma, criminalizar o PT e atingir a popularidade do ex-presidente Lula.

Fato mais grave na atual ofensiva foi o covarde atentado contra o escritório de trabalho do ex-presidente Lula. A bomba lançada no dia 30 de Julho na calada da noite contra o Instituto Lula merece o repúdio de todos os democratas e exige das autoridades a identificação dos responsáveis e sua punição exemplar.

Causa indignação a conivência silenciosa de certos meios de comunicação e partidos, que se dizem democráticos, com o atentado de caráter fascista ao Instituto Lula. O clima de intolerância e ódio que vem sendo acirrado pelas forças conservadoras derrotadas pelas últimas eleições afronta a tradição do povo brasileiro e agrava os problemas que o país vem superando.

A exemplo do que ocorre em diversos países da região latino-americana e caribenha, registram-se em nosso país tentativas de anulação de conquistas populares, de destruição de lideranças populares e partidos que exercem um papel destacado nessas conquistas. Trata-se de uma clara demonstração de que grupos reacionários preferem investir contra a democracia a defender seus pontos de vista minoritários, tentando fazer retroceder a história. Ou seja, diante da crise econômica mundial avançam contra os direitos e espaços de poder duramente conquistados pelos trabalhadores e trabalhadoras, através de uma agenda econômica e socialmente regressiva.

No contexto atual foram positivas iniciativas recentes do governo, como o plano de proteção ao emprego e a redução da meta do superávit primário. Em continuidade à essa agenda positiva, a CEN considera relevante um encontro da presidenta Dilma no palácio de governo com as principais lideranças dos movimentos sociais.

Como reafirmado no nosso 5º. Congresso, é preciso reorientar a política econômica rumo ao crescimento sustentável, com distribuição de renda, geração de empregos e inflação sob controle. Portanto, é fundamental reverter a política de juros atualmente praticada pelo Banco Central. Além da redução da Selic, é importante baixar as taxas para o crédito consignado e para o consumo. Frente à queda da arrecadação e a necessidade de continuar financiando os programas sociais e os investimentos em infraestrutura, urge taxar as grandes fortunas, os excessivos ganhos dos rentistas e as grandes heranças.

A Comissão Executiva Nacional saúda a convocação, pelo governo da presidenta Dilma, das 16 Conferências Nacionais de Políticas Públicas, como Saúde, Assistência Social, Juventude, Mulheres, entre outras. E, reafirmando nosso compromisso histórico com a participação social, convidamos toda a militância, filiados/as, simpatizantes e dirigentes para participarem e contribuírem nas etapas locais dos processos de Conferências de Políticas Públicas.

Diante das reiteradas manobras para criminalizar o PT, queremos reafirmar nossa orientação de combate implacável à corrupção. O PT é favorável a apuração de quaisquer crimes envolvendo apropriação privada de recursos públicos e eventuais malfeitos em governos, empresas públicas ou privadas, bem como a punição de corruptos e corruptores. Mas não admitimos que isso seja realizado fora dos marcos do Estado Democrático de Direito.

Se o princípio de presunção de inocência é violado, se o espetáculo jurídico-político-midiático se sobrepõe à necessária produção de provas para inculpar previamente réus e indiciados; se, para alguns indiciados, delações premiadas são consideradas provas cabais sem direito à defesa e ao contraditório e para outros são arquivadas; se as prisões preventivas sem fundamento são feitas e prolongadas para constranger psicologicamente e induzir denúncias, tudo isso que se passa às vistas da cidadania, não é a corrupção que está sendo extirpada. É um estado de exceção sendo gestado em afronta à Constituição e à democracia. Precisamos nos contrapor às ameaças de criminalizar o PT para destruí-lo.

Vamos defendê-lo como um patrimônio dos trabalhadores e da democracia brasileira e como um instrumento por justiça social e pela liberdade. Finalmente, frente às ameaças golpistas que cercam a democracia brasileira, convocamos uma Jornada em Defesa da Democracia, dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras e das conquistas do nosso povo, participando e mobilizando intensamente do calendário que estamos divulgando, com ênfase na Marcha das Margaridas, de 11 e 12 de agosto, no Ato Nacional pela Educação no dia 14 de agosto e o Ato Nacional dos Movimentos Sociais do dia 20 de agosto.

O PT exorta todos os seus militantes a construírem uma trincheira de luta pela democracia, pelos direitos dos trabalhadores/as, pelos direitos humanos, em defesa da Petrobrás e do povo brasileiro. Que ninguém se cale! Levantemo-nos juntos!

Brasília, 04 de agosto de 2005
Comissão Executiva Nacional

O que está em investigação — e em desmoronamento — é uma forma de conquista do Estado. E uma fala de Gilmar Mendes

Em tempos em que alguns tontos — e a desocupação é a morada do capeta! — se arvoram em intérpretes do que penso, nada como recorrer ao que eu mesmo escrevi, confrontando com a realidade, com as evidências que vêm à luz. Eu sei o que penso, não os 171 da vida… No dia 5 de fevereiro, publiquei aqui um post em que se lia isto:

“Desde sempre, afirmo neste blog que tratar o escândalo do petrolão como mera formação de cartel de empreiteiras corresponde a ignorar a natureza do jogo. Um ente de razão, um partido, tomou de assalto o estado brasileiro. É possível que ladrões sem ideologia tenham se imiscuído no sistema, mas que não se perca de vista o principal: a safadeza alimentava e alimenta um projeto de poder.
(…)
Por que eu tendo a resistir, senhores leitores, à tese do cartel de empreiteiras atuando na Petrobras? Porque isso embute a ideia de que a roubalheira se concentrava na estatal; porque sobra a sugestão de que meliantes morais incrustrados na empresa partiram para a delinquência. Que o tenham feito, não duvido. Mas será só ali?
As mesmas empreiteiras que trabalham para a Petrobras atuam em outras áreas do governo. São elas, afinal de contas, que prestam os serviços na área de infraestrutura. Então será diferente nos outros setores da administração pública? A moralidade vigente na Petrobras não será a regra? E noto que a empresa dispõe de mecanismos de controle mais severos do que os das demais estatais e os dos ministérios.
O Brasil está na pindaíba. Incompetência e ladroagem se juntaram contra os cofres públicos. E então cabe a pergunta: onde está Luiz Inácio Lula da Silva, aquele que recomendou que os petistas andassem, orgulhosos, de cabeça erguida?”

Natureza do crime 1Natureza do crime 2

Retomo
Será que isso alivia a situação de alguém? Não! Isso agrava! Há uma diferença para pior em recorrer ao roubo para assaltar o estado de direito e em fazê-lo com o fito de encher as burras de dinheiro. É tudo bandido. Mas são bandidagens distintas.

Nesta terça, o ministro Gilmar Mendes, do STF e também membro do TSE, afirmou o seguinte:
“Me parece que há uma mesma raiz tanto para o fenômeno do mensalão quanto este do chamado petrolão, e agora eletrolão, e quantos ‘aõs’ venham ainda. Me parece que há uma mesma matriz, é uma forma de governar, é um modelo de governança. E isso que é problemático nessa história toda. Acho algo realmente de proporções inimagináveis. A corrupção como sistema de governo, como forma de organizar a administração, realmente é algo impensável”.

O ministro afirmou, informa a Folha, que o Ministério Público Federal, “por alguma razão”, não levou à frente a recomendação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Correios, que investigou o mensalão, para apurar fraudes nos fundos de pensão.

Disse ele: “A CPI recomendou, só que, por alguma razão, na Procuradoria, isso não teve desfecho, não teve seguimento. Felizmente, esse tema andou. Então, quando a gente fala que o mensalão ficou limitado, é claro que a gente sabe que, se tivesse havido uma investigação, talvez já se tivesse detectado essas conexões”.

Em suma, meus caros: o que está em investigação, e isso tem de ficar claro, é algo muito mais grave do que formação de cartel e pagamento de comissão para larápios. O que está em investigação e em desmoronamento é uma forma de conquista do estado.

Governo continua a tomar olé de Cunha e perde até quando o deputado não tem nada com isso. Ou: Uma nova vereda para o impeachment de Dilma

Sei que alguns gostariam que o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) deixasse de fazer política, para que fosse essa uma tarefa exclusiva do Planalto. Mas não parece que será assim. Na segunda, enquanto Dilma oferecia churrasco à base aliada no Palácio da Alvorada, ele recebia em jantar a mesma base aliada em outro canto. Alguns saíam do convescote com a governanta e iam se encontrar com o presidente da Câmara. Resultado do embate: o PT ficará fora dos cargos de comando das CPIs do BNDES e dos fundos de pensão. Alguma ilegalidade nisso? Nenhuma! Até que o Planalto — com a ajuda do Ministério Público — não consiga tirar Cunha de lá, ele vence.

Segunda batalha: a Câmara votou nesta terça, contra a vontade dos governistas, regime de urgência para a análise de quatro projetos de decreto legislativo que recomendam a aprovação das contas dos governos Itamar, FHC e Lula — nesse caso, duas. Sem isso, não se podem apreciar as contas de Dilma, que chegarão do TCU — com uma possível recomendação de rejeição.

A situação do governo é tão vexaminosa que a tarefa de enfrentar Cunha coube ao já folclórico Sílvio Costa (PE), vice-líder do PSC. Aos berros, como é de seu estilo, chamou Cunha de “arrogante, ditador, petulante e burro”. Previu que o presidente da Câmara vai se dar mal e insistiu que sua questão com Dilma é pessoal. Resultado do embate: o regime de urgência foi aprovado, e a Câmara fica mais perto de votar as contas de Dilma.

Folha desta quarta informa que, na reunião de segunda, Cunha conversou com deputados sobre uma forma de fazer com que o início da tramitação de uma denúncia por crime de responsabilidade contra Dilma passe pelo plenário. Ele nega o estratagema. Em que consistiria, segundo o jornal? Ele rejeitaria o início da tramitação das denúncias que estão na Casa — são 12 —, mas algum deputado recorreria, o que é permitido pelo Regimento Interno, e a decisão sobre o envio da denúncia para a uma comissão especial seria tomada pelo plenário — nesse caso, por maioria simples. O voto, por óbvio, seria aberto. E, como se sabe, votar a favor de Dilma hoje em dia não é exatamente um ativo que os políticos busquem.

Ouvido a respeito, disse o deputado ao jornal: “Alguém pode fazer um ou outro comentário, cada um tem o direito de opinar ou falar o que quiser, mas, da minha parte, eu desminto que tive qualquer discussão acerca disso. Isso é uma coisa muito séria para ser tratada de uma forma jocosa como está sendo colocada”. Vamos ver. Que é regimental, é. Nota: se o parecer da comissão especial concluir que procede a denúncia contra a presidente e se ele for aprovado por pelo menos 342 deputados, Dilma tem de ser afastada da Presidência.

A situação do governo no Congresso é de tal sorte caótica que as derrotas se acumulam mesmo quando Cunha não tem nada com isso. A Câmara vai votar nesta quarta o primeiro item da chamada pauta-bomba: a PEC 443, que equipara salários da Advocacia-Geral da União e de delegados aos do Judiciário. Acordo fechado pelo governo com o próprio presidente da Câmara e com líderes partidários adiava a votação para o fim do mês. Na hora do vamos ver, no entanto, deputados não seguiram a orientação. Para Cunha, informa a Folha, o resultado mostra que governo e líderes partidários não têm mais controle sobre as suas bases. “A verdade é que seus liderados não estão dispostos a segui-los. Não se tem controle do plenário.”

É claro que o país enfrenta uma crise econômica das bravas e que a política se confunde com uma delegacia de polícia. Mas o que realmente espanta, hoje, é a crise de liderança por que passa o governo. Por quanto tempo mais?

Levy pressiona para que Senado vote a favor de redução de desonerações

Na VEJA.com:
Diante da sinalização do presidente do Senado, Renan Calheiros, de que pode engavetar o projeto de lei que reduz a desoneração de impostos para a indústria, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, voltou a reforçar a necessidade de revisão dessas medidas para que seja concluído o ajuste fiscal. Levy disse, nesta quarta-feira, que o projeto é um dos pontos mais importantes das medidas de ajuste. “Os diversos estudos indicam que para o trabalhador ter um emprego de 20.000 reais, o contribuinte gasta 60.000 reais”, disse o ministro, que participou do seminário Novo Ciclo do Cooperativismo de Crédito no Brasil, realizado no Banco Central (BC).

Segundo o ministro, é preciso notar que a tributação que está nesse programa de desoneração recai sobre o faturamento e cria distorções em cadeias mais longas, como a industrial. “Ou seja, é evidente que de cavalo dado não se olha os dentes, mas pode ser prejudicial para algumas empresas no longo prazo”, observou. Segundo ele, estudos da Fazenda reforçam que a desoneração da folha de pagamentos “não tem sido eficiente, nem eficaz em criar empregos”.

Levy afirmou ainda que em todas essas medidas o objetivo não é o curto prazo. Ele explicou que as mudanças propostas pelo governo têm um lado microeconômico de melhorar o funcionamento da economia. “As medidas não são sexies nem divertidas”, ponderou. “Qualquer agenda pós-ajuste tem de ser de melhorar o funcionamento da economia, nós temos de fazer medidas que reforcem o lado estrutural, a eficiência e a capacidade de produção da nossa economia”, argumentou.

Desafios
Levy disse também no evento que é preciso entender o desafio que se enfrenta, as condições existentes, para, a partir daí, ter a determinação de tomar as ações necessárias para encontrar o caminho do crescimento. “O diagnóstico econômico do Brasil parecer convergir entre economistas e governo”, enfatizou. Ele citou também o fim do boom de commodities, que teve suas consequências, a mudança nos termos de trocas e outros itens que, de acordo com ele, “mudam o ambiente em que nós trabalhamos”.

Gasto público
O ministro afirmou também que há um consenso no governo de que o gasto público voltou a crescer de forma persistente e passou a ser um risco para a estabilidade econômica. “É importante todos refletirem sobre ele”, alertou. Para ele, o superávit foi erodido a partir da virada da década.

Levy mencionou que as “significativas despesas” do programa Minha Casa Minha Vida, do crédito estudantil, da compra de ônibus e caminhão por meio do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), entre outros programas, foram ações que mantiveram vários setores ativos até 2014, mas com um impacto fiscal “pesado”.

Segundo o ministro, não obstante o esforço do governo Dilma, essa redução é um dos aspectos inevitáveis. Mesmo assim, de acordo com ele, o esforço de manter o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) tem sido notado, como a manutenção de empreendimentos, a transposição do Rio São Francisco, entre outras.

Levy ressaltou também que é importante não haver surpresas regulatórias. “Não estou contando surpresas, mas não há milagre: temos que reduzir os riscos para os juros e a taxa de retorno também poderem cair”, afirmou.

Segundo ele, há uma participação mais efetiva do setor privado por meio de concessões e outros mecanismos. “Há alguns meses temos redesenhado um reequilíbrio estrutural das contas públicas. A margem, como eu disse, vem sendo erodida e temos que considerar isso”, afirmou.

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo, veja.com

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