"Gestão Dilma está na UTI e Lula diz que é febre", por Josias de Souza (do UOL)

Publicado em 07/09/2015 07:13
Ex-presidente diz em entrevista a jornal argentino que a crise "é passageira"

A plateia pouco pode fazer contra o derretimento econômico e moral da administração pública. Isso não significa que, além de ser tapeada, tenha que ser tratada como uma plateia estúpida. A presidência de Dilma encontra-se na UTI. Deve-se a Lula boa parte da septicemia que paralisou o governo. Foi ele quem criou a fábula da gerentona. Foi nos governos dele que nasceram o mensalão e o petrolão.

A despeito de tudo isso, Lula acha que não deve nada a ninguém. Muito menos explicações. E ainda se julga autorizado a fazer o papel de clínico geral. Afirma que a roubalheira não pode afetar a “governabilidade do país.” E sustenta que a ruína econômica é banal: “É como uma febre de 39 graus. Alguém morre por causa disso? É só tomar um remédio e pronto!”

Lula fez o diagnóstico numa entrevista ao jornal argentino Pagina 12. Nela, disse que o impeachment não é remédio adequado. Até porque a crise política também lhe parece trivial: “Não é difícil encontrar uma saída. Hoje temos uma certa insegurança na base de sustentação do governo, por divergências entre a Câmara e o governo, entre os partidos políticos. Mas, se recuperarmos a harmonia política, também poderemos resolver os problemas econômicos.”

Ainda que a plateia fosse estúpida e que Dilma virasse a gestora impecável do fabulário petista, Lula ainda teria de responder às seguintes perguntas: o que madame pretende fazer? O que o governo dela tem a oferecer além de mais impostos?

Ninguém lembra o que Dilma propunha na campanha do ano passado. Ainda que lembrasse, não adiantaria. Era empulhação. Fingir que não tem nada a ver com a encrenca pode auxiliar na desconversa de Lula, mas não é uma solução. Se o criador acha que ajuda sua criatura mantendo-se desconectado da realidade, problema dele.

Como diz o vice-presidente Michel Temer, “ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo. Se a economia melhorar, acaba voltando um índice razoável. Mas, se ela continuar com 7% e 8% de popularidade, fica difícil.” Só há uma maneira infalível de um governante alcançar a popularidade: a prosperidade.

“O dia em que Dilma piscou” e outras cinco notas de Carlos Brickmann

Publicado na Coluna de Carlos Brickmann

CARLOS BRICKMANN

Uma língua curiosa, a nossa: pode-se dizer, tanto faz, que a presidente Dilma não é capaz de nada, ou que a presidente Dilma é capaz de tudo. Dizem que é brava, mandona, prepotenta, exigenta, ciosa da autoridade. Mas aceitou que o presidente do segundo banco do país, o Bradesco, lhe transmitisse as exigências de grandes empresários para que dessem apoio ao governo. Se ela não aceitasse, Joaquim Levy, indicado pelo Bradesco, pediria demissão. Era pegar ou largar.

Os empresários, entre os maiores do país, se reuniram com Joaquim Levy na noite do dia 2 e na madrugada do dia 3, em São Paulo. Logo depois da reunião, Dilma aceitou voltar aos números que tinha abandonado, como o superávit primário de 0,7% (que tinha virado um déficit de 0,34%). Para isso concordou em cortar despesas até mesmo nos seus programas sociais favoritos e adiar programas de governo que considerava intocáveis. Objetivo dos empresários: manter o Brasil como merecedor do grau de investimento das agências de classificação de risco. Sem esse grau, os empréstimos externos ficariam bem mais caros (esqueça o discurso eleitoral de que o Brasil não deve nada ao exterior. Deve, sim).

É difícil cortar despesas num governo que, numa viagem aos Estados Unidos, aluga 22 limusines para a comitiva; que abriga mais de cem mil funcionários comissionados, sem concurso; que não tem como, por exemplo, retirar os milhares de carros que parlamentares e magistrados têm à disposição. Os empresários se dispõem a ajudar, indicando cortes possíveis. 

Possíveis, talvez; mas doloridos.

Miragem e fato

Empresários com acesso à presidente garantem sustentação a Levy. E daí? Daí, por enquanto, nada: Aloizio Mercadante, espírito-santo-de-orelha de Dilma, sempre prometeu dar apoio a Levy e sempre o sabotou. Fortes grupos petistas se opõem a Levy. Lula, inventor de Dilma, sugere que a política fiscal seja afrouxada. Dilma, por ela, gostaria é de mandar nos empresários. E há o Petrolão. 

Economia bamba e governo fraco não resistem a uma delação premiada.

Lembrando o futebol

Mercadante deu entrevista dizendo que Levy está firme, o ministro Edinho Silva garantiu a permanência de Levy, Dilma disse que Levy fica. 

Em futebol, quando dizem que o técnico está prestigiado, só falta marcar a data da saída.

Treme-treme 1

A intervenção dos empresários, por mais que Dilma se ressinta da intrusão, é uma boa notícia para o governo. Mas as notícias ruins continuam fluindo. A delação premiada de Ricardo Pessoa, o chefão da empreiteira UTC, disse ao juiz Sérgio Moro que parte das propinas que pagou para ganhar contratos na Petrobras foi depositada diretamente na conta do PT. 

Há ainda trechos secretos da delação premiada ─ secretos porque, como envolvem pessoas com mandato federal, só podem ser liberados pelo Supremo. 

Mas o que já foi divulgado é explosivo.

Treme-treme 2

Um cavalheiro bem menos conhecido do que Pessoa, mas que também sabe onde está a dinamite, negocia sua delação premiada. É Leonardo Meirelles, do Laboratório Labogen (e sócio do doleiro Alberto Youssef, aquele). O Labogen chegou a assinar contrato com o Ministério da Saúde, na época do ministro Alexandre Padilha (hoje secretário da Saúde de Haddad, em São Paulo). 

Sua especialidade, segundo as acusações (o que explica a proximidade com Youssef): contratos de câmbio para entrada e saída de moeda com cinco firmas estrangeiras, tudo indicando fortes possibilidades de lavagem de dinheiro. Meirelles já abriu fogo, antes mesmo do acordo: acusou a Odebrecht de usar o Labogen para repassar R$ 7 milhões em propinas fora do país. E seu advogado afirma que o Labogen fez mais de quatro mil operações irregulares no Exterior, “envolvendo mais de um político”.

Segundo se diz, ele atinge políticos do governo e da oposição.

Tecendo a teia

Michel Temer disse que não vai mexer uma palha contra Dilma ou em favor do impeachment (nem precisa: ela e seus assessores cuidam disso sozinhos). 

1 - Mas num debate em São Paulo disse uma frase mortal, comentando os raquíticos índices de aprovação da presidente: “Ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo”. É verdade; Temer não disse nenhuma novidade. Mas ao pronunciar essa frase ele rompeu a barreira do silêncio, daquilo que todos sabem mas ninguém comenta. Não se imagine que o vice-presidente, um homem cauteloso, que pesa cuidadosamente suas palavras, tenha “deixado escapar” essa frase. Temer jamais deixou escapar frase alguma, jamais disse algo que não quisesse dizer. O que disse, em outras palavras, é que Dilma caiu. Só falta avisá-la.

2 - O PMDB trabalha em silêncio na busca de votos suficientes para aprovar o impeachment. Não tem, no momento, a maioria necessária para afastar a presidente. Mas já há votos para acolher o pedido de impeachment, discuti-lo e votá-lo. No cálculo do PMDB, o tempo joga contra Dilma: à medida que o governo se enfraquece, mais gente troca de lado. Isso já aconteceu com o presidente Collor. Faz parte do instinto de sobrevivência dos políticos. 

O conciliador Temer é, para eles, muito melhor que a intratável Dilma e seu PT dono da verdade.

(blog de Augusto Nunes, em veja.com)

 

Editorial do Estadão: Tapando o sol com a peneira

O vice-presidente Michel Temer tem razão. Será difícil o governo resistir três anos e meio com o insignificante apoio de 7% da população, índice com viés de baixa. Mas Dilma Rousseff insiste nos mesmos erros que estão na raiz de seu enorme desprestígio popular. Continua tentando obstinadamente tapar o sol com a peneira quando se trata da grave crise econômica do País.

 

Só consegue com isso agravar seu déficit de credibilidade, que despencou a partir da constatação de que ela havia mentido na campanha eleitoral, quando acusou os adversários de estarem dispostos a adotar, para o combate à crise, as medidas impopulares que ela própria passou a defender, simbolizadas pela surpreendente nomeação de um ministro da Fazenda “liberal” disposto a fazer austeros cortes de despesas para botar em ordem as contas do governo. Para sair do sufoco Dilma tem tentado de tudo, menos ser sincera.

A encenação com a qual a presidente pretendeu acabar com as especulações a respeito da permanência de Joaquim Levy foi apenas mais uma tentativa desastrada de disfarçar o conflito que existe no seio do governo – principalmente no Palácio do Planalto – envolvendo a natureza da crise econômica e o plano de ação para combatê-la. Esse conflito se tornou mais agudo nas últimas semanas por causa da proposta de Orçamento da União para 2016 que precisava ser apresentada ao Congresso até o fim de agosto.

Contra a opinião de Levy, que queria apresentar um orçamento equilibrado que exigiria cortes profundos de despesas, Dilma optou, com o apoio dos ministros com os quais tem afinidades, por uma peça deficitária em mais de R$ 30 bilhões. A clara intenção por detrás dessa iniciativa inédita de confessar que o governo não tem como pagar suas contas era forçar o Congresso a dividir com o Executivo a tarefa – e a responsabilidade – de descascar o abacaxi. Não colou, é claro, porque as velhas raposas que comandam as duas Casas do Parlamento imediatamente acusaram o golpe e Dilma se viu constrangida a declarar que não iria fugir da sua obrigação de resolver o problema.

A essa altura, depois de ter sido reiteradamente voto vencido, inclusive na infeliz ideia de ressuscitar a famigerada CPMF – quando não foi nem consultado –, a boataria corria solta e Levy já se via arrumando as malas. Assustada com a previsão de que eventual renúncia do ministro da Fazenda poderia deixar os petistas muito felizes, mas agravaria a repercussão da crise dentro e fora do País, Dilma ouviu a recomendação de cautela que lhe fez o presidente do Bradesco, que até então era o homem que maior influência exercia na formulação e na conduta da política econômica, pois não apenas recusara o cargo de ministro da Fazenda, mas para ele indicara o atual ministro. Depois de nova conversa com o presidente do Bradesco – que de pessoa mais influente passou naquele momento à condição de homem mais poderoso do País na condução da política econômica –, Dilma colocou na mesma sala Levy, Nelson Barbosa e Aloizio Mercadante. Ordenou que só saíssem de lá para anunciar que o titular da Fazenda é que estava com a razão e que o governo continua empenhadíssimo em cumprir a meta de superávit primário de 0,7% do PIB que ele propõe. Quer dizer: essa coisa de orçamento deficitário estava sendo muito mal interpretada por todo mundo.

Para fechar com chave de ouro mais esse episódio do vai e volta do orçamento e da operação “salva Levy”, Dilma designou o ministro Aloizio Mercadante para falar à imprensa. Com a arrogância e a prepotência habituais, Mercadante atirou contra quem ousasse imaginar que Levy sairia do governo: “Evidente que fica!”. E explicou, sem corar: “Há total unidade da equipe em relação a que nós precisamos continuar o esforço de cortar gastos, especialmente as despesas obrigatórias”. E destilou vitríolo: “Num momento de instabilidade, há uma aliança entre os mal informados e os mal-intencionados, gente especulando e tentando ganhar dinheiro com a turbulência”.

Enquanto isso, alheio às preocupações da presidente da República, o presidente do PT, Rui Falcão, dedica-se a convocar a militância do partido e de todas as entidades e organizações sócias “progressistas” – quer dizer, as que apoiam o PT – para debater, na próxima sexta-feira, a proposta de uma “nova política econômica”.

Assim, não há o menor risco de o Brasil sair do buraco em que o lulopetismo o meteu.

 

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Fonte:
UOL + VEJA + Estadão

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