Pacotão – O governo cortou, sim… Mas na carne alheia! (por REINALDO AZEVEDO)

Publicado em 15/09/2015 14:05
EM VEJA.COM

Pacotão – O governo cortou, sim… Mas na carne alheia!

É…

Há uma expressão que costuma frequentar o debate quando nos referimos aos gastos do governo: corte na carne. Mas o governo cortou na carne? Sim! Na dos outros. Na sua própria, muito pouco, quase nada.

Muito bem. A poeira começa a assentar, e o que é mesmo que resta do pacote para, segundo a intenção declarada, não apenas zerar o déficit como fazer superávit em 2016? A CPMF, que agora não seria mais direcionada à Saúde, e sim à Previdência. Ocorre que a contribuição provisória, que vem, como sempre, para ser permanente, depende do Congresso. Em votação aberta e nominal. Quem vai querer aumentar impostos, seja 0,38%, seja 0,2%?

É claro que é um plano de cortes feito no joelho. Não fosse, já escrevi aqui, o governo teria enviado o plano de agora para o Congresso, não aquela peça ilegal, que previa um déficit de R$ 30,5 bilhões. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) faz uma análise que tem lógica. Afirmou sobre a CPMF:
“É muito pouco provável que passe. O governo está com uma base muito frágil aqui. O tema, por si só, já é polêmico. Se o governo perdeu a CPMF numa época que estava muito forte, não é agora que governo está com a base muito mais fraca que vai conseguir passar um aumento tributário, mesmo que a alíquota seja menor do que aquela que entrou em vigor naquele momento, ainda mais sem compartilhamento com estados e municípios e por um período muito maior”.

Pois é… Qual é a aposta do Planalto? Que o medo conduza as escolhas. Como o pacotão tende a ser bem recebido por parte dos empresários e pelos bancos — que poderiam quase pôr a sua assinatura na proposta —, infere-se que esses agentes tenderão a pressionar os parlamentares. Dilma estaria empenhada em fazer um apelo pessoal. Vamos ver.

Parte do dinheiro que o governo pretende arrecadar vem de uma retenção do que hoje fica com o chamado “Sistema S”. Notem: por definição, pegam-se recursos que vão para programas produtivos, ligados à educação, esportes e qualificação do trabalho, para esterilizar — é essa a palavra — em custeio. Há até críticas sensatas ao Sistema S. Se o governo tivesse tentando ter mais controle sobre esses recursos quando não estava com a corda no pescoço, o debate teria uma qualidade. Agora, tem outra.

Cadê a tal reforma administrativa — ou que nome tivesse — a indicar um governo que, então, se dá realmente conta da situação? A máquina mastodôntica segue intocada.

No fim das contas, com o corte de agora — R$ 4,8 bilhões — mais os R$ 15 bilhões antes anunciados, o programa que mais sofreu foi o Minha Casa, Minha Vida, justamente o que tem mais impacto na chamada economia real.

Daqui a pouco, chegará a hora das escolhas. Quem, afinal de contas, vai se engajar na defesa do governo é sairá dando a cara ao tapa? O PT? O PMDB? Os demais partidos da base aliada?

Por Reinaldo Azevedo

Pacote chancela o estelionato eleitoral, pode dar alguma folga a Dilma no Congresso, mas tende a elevar repulsa da população

É incrível que o governo tenha feito só agora o que deveria ter feito antes, não é? Essa história de que a Standard & Poor’s acabou colaborando com um ajuste que, de outra sorte, não seria feito é só uma variação do “quanto pior, melhor”. Um governo que tivesse articulação política teria proposto antes essas mesmas medidas — ainda que não seja tão fácil implementá-las.

O pacote tem lá as suas durezas, mas notem que muito pouco do que se pretende economizar sai do corte efetivo do custeio da máquina: apenas R$ 200 milhões. Para um estado pantagruélico, é muito pouco.

De toda sorte, a crise tende a dar uma esfriada. E por quê? Apenas porque o governo decidiu comparecer com uma proposta, saindo daquele estado de apatetamento inercial. “Algo está sendo feito; algo está sendo tentado…” Assim, alguns agentes políticos vão tirar um pouco o pé do acelerador do “fora Dilma”. Se voltarão a pisar com mais firmeza de novo, bem, aí depende de como vão reagir os agentes econômicos e a população.

A sociedade é que vai pagar a conta, sim. A economia será feita também com cortes em programas sociais, e parte da receita que se busca saírá da recriação da CPMF — se é que o Congresso condescenderá com o imposto, que Joaquim Levy chama de “transitório”, para a crença de ninguém.

Se querem saber o quanto isso foi devidamente pensado, basta verificar que, quando lançou o balão de ensaio da recriação do imposto, o petista Arthur Chioro (ministro da Saúde) saiu a bradar que era dinheiro para a Saúde. O governo, por sua vez, dizia que era para fazer caixa mesmo, e, agora, anuncia-se, será para a Previdência.

É claro que o pacote não vai colaborar para aumentar o prestígio da presidente Dilma. Elevação de impostos é sempre desgastante, não?, especialmente porque ela vem num momento em que a população tem a sensação, que não está tão distante da realidade, de que ela se esforça para que alguns poucos espertalhões se locupletem. Mas qual alternativa?

Um pouco de honestidade intelectual e transparência talvez fosse útil ao governo. Mas Dilma não é do tipo que reconhece facilmente o erro. No nono mês de seu segundo mandato, é obrigada a admitir, na prática, que caminhou muito errado nos últimos quatro anos.

O conjunto das medidas pode até esfriar um pouco o clima anti-Dilma no Congresso e no mercado, mas certamente aumentará a animosidade das ruas com o governo.

Dilma tentará a todo custo dividir com o Congresso o peso das medidas impopulares. Até onde os senhores parlamentares estão dispostos a condescender? A petista poderia, ao menos, ter a humildade de ir a público explicar que está sendo obrigada a se desmentir e que não vai cumprir o que anunciou na campanha. Mas não creio que o fará.

Vamos ver qual será a reação, na prática, do PT e das esquerdas. O pacote não contempla algumas sugestões dos companheiros, que queriam brincar de comer o fígado dos ricos para satisfazer a suposta necessidade de sangue dos mais pobres — que não existe e é uma invenção de intelectuais de meia pataca.

Com o pacote, a presidente chancela o estelionato eleitoral e espera contar com a boa vontade dos enganados para chegar até o fim do mandato.

Por Reinaldo Azevedo

Janio de Freitas vê no pacote um presente para Lula e joga Dilma no colo da oposição. Nunca antes na história da análise política!!!

De todas as opiniões que li sobre o pacotão do governo, a mais insólita, sem dúvida, é a de Janio de Freitas, na Folha. Não sei se reais ou fingidos, há frêmitos de incontida alegria. Segundo diz, as medidas adotadas por Dilma — que, parece-me, o articulista considera impopulares — são um presentão para Lula.

Abusando da dialética, ou do que supõe entender dela, Janio escreve — e espero que a transcrição seja compreensível, leitor:
“Ganhar presente é uma das delícias, só comparável à de dar presente. Deve ser por isso que Lula se mostrou, na Argentina, tão vibrante e afirmativo como o Lula dos velhos tempos. (…) Foi lá que Lula recebeu a notícia de que Dilma se curvava aos cortes de verbas dos chamados programas sociais e do PAC, cobrados pelos neoliberais, pelos adeptos do impeachment e pela oposição vai com as outras. Sua reação imediata foi inflamada, com centro na declarada ‘incapacidade de entender esses ajustes que cortam ganhos sociais e dos trabalhadores’”.

E conclui a sua coluna prevendo um confronto entre Lula e, suponho, os “neoliberais” em 2018, com a vitória vocês adivinhem de quem…

Uau! Está inaugurando um gênero no jornalismo: o da análise criativa, que dispensa os fatos e as imposições da realidade.

Para que a análise do “companheiro” faça sentido, forçoso será, de saída, que Lula caminhe para a franca oposição e rompa com Dilma. E esse é apenas um dos requisitos. E, por óbvio, o PT terá de segui-lo nessa jornada, o que impõe a entrega dos cargos imediatamente. Pergunta: o PT de hoje sabe sobreviver sem as tetas do governo?

Mais: o que Janio imagina? Que os oposicionistas sairão correndo para aplaudir o plano de Dilma — porque, afinal, na sua fantasia, são neoliberais —, abrindo espaço para que o PT fale em nome do povo oprimido? Esse é o segundo, mas não em ordem importância, requisito. Ah, tenham a santa paciência!

Se e quando os MTSTs e MSTs da vida, meros tentáculos do PT, saírem às ruas contra o plano (e contra o povo, como sempre), o que imagina o criativo articulista? Que a conta do desgaste recairá sobre os ombros da oposição? Há dez meses, Lula estava sobre os palanques a defender que Dilma, e nunca Aécio Neves, era a garantia de um futuro glorioso. O que pretende o Babalorixá de Banânia? Dizer-se enganado?

Segundo Janio, não haverá impeachment — por alguma razão, ele acha que o pacotão de agora o afasta, parece… —, e a batalha de 2018 será entre Lula, que falará contra o arrocho que Dilma representa, e a oposição, que, nessa formulação, defenderá, então, a continuidade. Caramba!

Operou-se um genial milagre interpretativo, de sorte que Dilma, acreditem, está sendo jogada por Janio no colo da oposição. É, para usar uma palavra que costuma frequentar o meu vocabulário, estupefaciente.

Há muito tempo eu realmente não lia nada tão insólito.

CUT e assemelhados
Eu não tenho dúvida de que a CUT e assemelhados vão se mobilizar contra o pacote. E que Lula pode, sim, inspirá-los porque a ele também não restou alternativa. Mas isso só deixará Dilma, criatura inequivocamente criada pelo demiurgo, ainda mais isolada. Comecem a contar os dias para que pipoquem greves em penca no funcionalismo federal, cujo reajuste salarial foi adiado.

Janio terá de fazer com a sua coluna o que Dilma fez com o Orçamento de 2016: rever. A única forma de lhe dar alguma coerência interna é ele mudar a sua previsão. Se Dilma cair e Michel Temer assumir, a herança maldita petista continuará aí. Ainda que não participe do governo, a oposição terá necessariamente um compromisso com a estabilidade. E o chefão petista poderá voltar a fazer, então, aquele discurso que parece ser da predileção de Janio: o da irresponsabilidade. Duvido que colasse.

Se Dilma fica até 2018 — e desta vez não haverá bonança externa para salvar um governo que traz a marca da corrupção, a exemplo do que aconteceu com Lula em 2005 —, é o governo do PT que permanece no poder. Se o Apedeuta investir na desestabilização, agregará a um governo desastroso, que tem a marca do seu partido, a fama de desleal e arruaceiro.

E olhem que assim será se, em 2018, a eleição for a principal preocupação de Lula. Há um risco considerável de que seja a Justiça.

Dilma caia agora ou fique até o fim do mandato, o PT estará lascado nas urnas, com Lula vestindo a roupa de campanha ou o uniforme do Pixuleco. Mas digamos que conclua um mandato que será necessariamente ruinoso: quem continuará a ser o pai da criança? 

Texto publicado originalmente às 4h16

Por Reinaldo Azevedo

Lula não quer parlamentarismo

Lula não apoiaria parlamentarismo

Lula não apoiaria parlamentarismo

Delfim Netto procurou Lula há algumas semanas para, em nome do PIB, perguntar se o ex-presidente toparia o parlamentarismo.

Lula respondeu que não. Alegou que a população já optou pelo presidencialismo ao dizer não ao parlamentarismo em 1993.

Por Lauro Jardim

Governo

“Alô, é a Dilma, meu querido”

Ao telefone

Ao telefone

Dilma Rousseff e Aloizio Mercadante passaram o fim de semana ligando para líderes dos partidos aliados. Com o impeachment no cangote do governo, resolveram agir. Alguns líderes nunca havia recebido qualquer telefonema de Dilma, mesmo nos tempos em que ela era chefe da Casa Civil.

Por Lauro Jardim

Joaquim Levy quase pediu demissão no dia da viagem à Turquia

Quase se demitiu

Quase se demitiu

No dia em que embarcou para a Turquia, 3 de setembro, Joaquim Levy telefonou para um amigo. Disse que cancelaria embarque para a Turquia e pediria demissão.

Acabou viajando e desistindo. Ou adiando.

Por Lauro Jardim

A CPI do BNDES e os 290 milhões de reais do grupo JBS

Rotta, o presidente da CPI

Rotta, o presidente da CPI

O grupo JBS doou 290 milhões de reais aos partidos políticos e aos candidatos a presidente, governador, senador e deputado em 2014.

Só para o PMDB de Eduardo Cunha e do presidente da CPI do BNDES, Marcos Rotta, o grupo JBS doou 62,4 milhões de reais.

O PR do relator da CPI, José Rocha, da Bahia, recebeu 19,25 milhões de reais.

A oposição – PSDB, PPS e DEM – também recebeu doação do grupo dos irmãos Joesley e Wesley Batista, cuja convocação para a CPI na semana passada não foi aprovada.

O único partido político que não recebeu dinheiro foi o PSOL.

Por Lauro Jardim

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo, veja.com

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

1 comentário

  • cordelio antonio lacerda Cristais - MG

    Que vergonha de de ser brasileiro! Esse governo do PT só criou corruptos e ladroes na Petrobras... a Dilma tinha de ter vergonha de aumentar a carga de tributos em cima dos brasileiros , que já pagam muito impostos,,,

    0