"Os dias de ira” ...a PRIMAVERA PROMETE SER QUENTE"... (por CARLOS BRICKMANN)

Publicado em 04/11/2015 15:32
No Blog de Augusto Nunes, de veja.com

“Os dias de ira” e outras seis notas de Carlos Brickmann

Publicado na Coluna de Carlos Brickmann

 

Quando o governo chileno de Salvador Allende mais precisava de tranquilidade, um movimento que queria radicalizá-lo, o MIR, comandado por um sobrinho do presidente, ajudou a dificultar o diálogo com a oposição. No Brasil, cabos e sargentos favoráveis ao presidente João Goulart, liderados pelo cabo Anselmo, mais tarde identificado como agente duplo, rebelaram-se e dinamitaram as pontes entre governo e Forças Armadas (na ocasião, Luiz Carlos Prestes, aliado de Goulart e dirigente maior do Partido Comunista, proclamava: “já estamos no poder, só nos falta tomar o governo”). A história se repete com outro governo de esquerda: no momento em que Lula e Dilma procuram conciliar, seus aliados petroleiros entram em greve. Não é questão de saber o que é que pretendem; mas o que conseguem é enfraquecer, por questões outras, o governo que apoiam.

Agora, somemos: à greve dos petroleiros segue-se a greve dos caminhoneiros ─ e, sejam quais forem suas reivindicações, geram instabilidade no país. Há a manifestação Fora Dilma já marcada para o dia 15. A primavera promete ser quente. E hoje começa para valer o processo contra Eduardo Cunha na Comissão de Ética.

Há três possibilidades: a abertura do processo é rejeitada, ou é aceita e derrubada no voto, ou é aceita e aprovada. Nas duas primeiras hipóteses, a opinião pública sentirá o inequívoco cheiro de acordo mútuo, Cunha salva Dilma, Dilma salva Cunha; na terceira, Eduardo Cunha se sentirá impelido a revidar, encaminhando o impeachment, com greves na rua e manifestações. 

Prepare-se.


Bola de cristal

Há chances de Cunha ficar na Presidência da Câmara. Mas são escassas.

Guerra à pobreza

Lula, o ex-ministro Antônio Palocci, a ex-ministra Erenice Guerra e o governador mineiro Fernando Pimentel, também ex-ministro, não nasceram em berço de ouro. Mas não podem se queixar: de acordo com dados do Coaf, Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda, os quatro movimentaram perto de R$ 300 milhões em suas contas bancárias, nos últimos anos. As informações oficiais foram enviadas à CPI do BNDES. Lula, diz o Coaf, movimentou R$ 52,3 milhões em quatro anos, de abril de 2011 a maio de 2015, entre contas pessoais e de sua empresa de palestras, a LILS. Palocci movimentou muito mais: R$ 216 milhões entre 2008 e 2015, boa parte por sua empresa, a Projeto Consultoria. Fernando Pimentel foi bem mais modesto: R$ 3,1 milhões entre 2009 e 2014. E Erenice atingiu R$ 26,3 milhões de 2008 a 2015. 

Ao chegar ao poder, o PT declarou guerra à pobreza. Foi bem sucedido.

Os bons amigos

Da ótima coluna de Aziz Ahmed, de O Povo, do Rio: Pedro Bifano, irmão do deputado João Bifano Magalhães (PMDB-MG), foi designado diretor da Cemig Overseas ─ estranha subsidiária da empresa mineira de eletricidade, com sede em Barcelona.

Salário: 35 mil euros, ou seja, R$ 147 mil. Mais de cinco vezes o salário de Dilma. Bifano foi diretor dos Correios, demitido por Lula quando presidente. A Cemig está na área de influência do governador Fernando Pimentel.

Os bons partidos

Corte de despesas? É preciso cortar na carne? Sim ─ mas o corte é na carne, não na despesa pública com os partidos políticos. Neste ano, foram R$ 608 milhões gastos com o Fundo Partidário (distribuído entre todos os partidos, tenham ou não votos). No ano que vem, a quantia chegará pertinho do bilhão. Com esse dinheiro, os partidos se dispensam de buscar apoio entre os eleitores: despesas de aluguel, telefone, aviões, jantares, recepções e pessoal são pagas pelo fundo ─ quer dizer, por nós. 
E o dinheiro é farto: em 2014, quando o volume de dinheiro não chegava a um terço disso, o deputado Levy Fidelix, do PRTB, lamentava-se de ter de manter o partido com R$ 100 mil mensais, que chamava de “merreca”. 

Economizar, jamais

Corte de despesas? É preciso cortar na carne? Mas isso, naturalmente, não vale para todos. Neste ano, até setembro, a Câmara dos Deputados gastou R$ 3,6 bilhões ─ ou, fazendo o cálculo individual, sete milhões de reais por parlamentar. Cada Excelência gastou por mês algo como R$ 710 mil, para amenizar seus sacrifícios pessoais ao servir à população que o elegeu. Os cálculos são do ótimo portal Contas Abertas, que busca a transparência nas contas públicas. Economia? 

Em 2014, neste mesmo período, as despesas tinham sido de R$ 3,25 bilhões. O aumento foi de pouco mais de 10%. Mas que é um bilhão para quem tem tantos?

Bons companheiros

Dois adversários de longa data, o bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, e o apóstolo Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, fizeram as pazes, ao menos por algum tempo. Ambos concordam em apoiar o retorno da CPMF, proposta pelo governo, desde que as igrejas fiquem isentas da cobrança. A aproximação entre Macedo e Santiago está documentada: há a foto do encontro da presidente Dilma com o senador Marcelo Crivella, sobrinho do bispo Edir Macedo e dirigente do PRB, partido ligado à Universal, e o deputado Francisco Floriano, muito ligado ao apóstolo Valdemiro Santiago. 

 

José Nêumanne: O cavalo de Agamenon, às portas de Troia

Publicado no Estadão

JOSÉ NÊUMANNE

Na quinta-feira 29 de outubro, em Brasília, onde assumiu a Presidência de fato no segundo mandato de sua substituta conveniente e conivente, Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva divertiu sua claque no Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) com as metáforas de hábito e a grosseria de praxe. Nesse discurso, confessou que a afilhada praticara estelionato eleitoral na campanha vitoriosa da reeleição em 2014. “Tivemos um problema político sério, porque ganhamos a eleição com um discurso e depois das eleições tivemos que mudar o nosso discurso e fazer aquilo que a gente dizia que não ia fazer”, disse.

Na ocasião, proibiu investidas do PT contra o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tido como o maior desafeto de Dilma e do partido. “Tudo o que interessa à oposição é que a gente arrume quinhentos pretextos para discutir qualquer assunto e depois não discutir o que interessa, que é aprovar o que a Dilma mandou para o Congresso Nacional. A não ser que tenha alguém aqui que ache que isso não é importante. Primeiro, vamos tentar derrubar o Eduardo Cunha, depois derrubar o impeachment e, depois, se der certo, a gente vota nas coisas que a Dilma quer”, ironizou. E recuou das rudes críticas que antes fazia ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

Nunca antes em sua vida pública, desde que assumiu a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, em 1975, Lula foi tão claro, estratégico e cuidadoso em qualquer discurso. Fez-se muito barulho em relação ao reconhecimento do estelionato, crime definido no Código Penal. Com a agravante de ter sido um estelionato que vitimou a Nação, em especial o eleitorado que não anulou voto, votou em branco ou se absteve de votar e, em particular, os brasileiros mais pobres e menos esclarecidos que acreditaram em sua candidata. E daí? Qualquer advogadinho do PT sabe e, na certa, lhe informou que estelionato não basta para abrir processo de impeachment contra a presidente.

Além disso, Lula recebe de novo inestimável apoio de quem se apresenta à cidadania como adversário. Há um vácuo jurídico na Constituição de 1988: inexiste lei que regulamente o impedimento de presidente. O texto legal de 1950, aos 65 anos de vigência, serviu de base para levar Collor a renunciar. Mas não é suficiente para depor Dilma de forma democrática. E é nesse argumento incontestável que os dependentes da miríade de boquinhas do governo lulodilmopetista se apoiam para chamar de “golpista” quem não suporta mais a presidente (7 em 10 brasileiros).

A Constituição vige há 27 anos, o oitavo mandato presidencial está começando e nunca parlamentar algum cuidou desse detalhe. Este não é, definitivamente, um pormenor para a oposição, que não encontrou até agora base jurídica séria para fazer o que a Nação quase inteira exige: retirar a estelionatária de palanque do cargo poderoso do qual comanda esta nossa marcha da insensatez para monumentais crises moral, econômica, política e quase à beira de outra, a institucional. Lula sabia disso quando confessou o delito da preposta. Os adversários, tudo indica, não.

Em relação à reeleição, recorde-se ainda que o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), requereu recontagem dos votos para verificar se não houve fraude na vitória da presidente sobre o senador Aécio Neves (PSDB-MG) no segundo turno do pleito de 2014. Qualquer usuário de computador em jardim de infância sabe que, no sistema de coleta e contagem de votos no Brasil, recontar votos é simplesmente impossível. Um ano depois, com a vencedora enredada em outras suspeitas, Sua Excelência disse o que todos já sabiam: não dá para recontar. Não contou, porém, por que, do alto de sua sapiência legislativa, não empreendeu alguma lei que ao menos dificultasse as fraudes que qualquer hacker iniciante pode praticar no Brasil.

O pior é que, mesmo sem o haver dito explicitamente, o ex no poder avalizou o mais asqueroso pacto de conivência criminosa de nossa História. Nele, a primeira mandatária da República e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, dois degraus abaixo dela na escada sucessória, achincalham as instituições garantindo um a impunidade da outra, e vice-versa. Em sua frase aqui citada, Lula não precisou de nenhum argumento para mandar seus asseclas evitarem incômodos a Cunha, fazendo ouvidos de mercador às evidências que brotam no seu prontuário policial como capim em pasto farto. A aceitação muda e mansa dos petistas à ordem do chefe, que, tal qual um Ulysses Guimarães do século 21, passou a comandar o governo federal, o partido e a oposição, é a maior prova de que apenas emudeceu o óbvio que, apud Nelson Rodrigues, ulula.

E se havia alguma dúvida de que o ex resolveu assumir, mantendo a preposta como rainha da Inglaterra de plantão, esta foi dirimida por sua guinada de 180 graus ao apoiar os ajustes e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. O padim aceitou outro óbvio – de que a cabeça de Dilma está sob a espada de Dâmocles, suspensa pelo fio do rabo de um cavalo. O fio é dos bancos, que com a crise têm lucrado como nunca ninguém lucrou. Nisso ele é craque: há 40 anos o clã Lula da Silva morava numa vila operária e hoje se espalha em apartamentos de luxo, até na praia, mercê de sua carreira de palestrante para empresas acusadas de delinquir – o que lhe permitiu movimentar R$ 52,3 milhões em quatro anos, conforme o Coaf.

O descalabro de quatro desgovernos do PT, delatado nas Operações Lava Jato e Zelotes e com 3 mil brasileiros perdendo o emprego todo dia, mostra que o cavalo de cujo rabo pende a espada, e que Lula monta, após destruir tudo ao redor – empresas, empregos, crédito de agências de risco, honra e pudor –, não é de Átila, mas de Agamenon. Pois, às portas de Troia, abertas com a conivência de adversários néscios, ele planeja invadir-lhe as ruínas.

 

Ricardo Noblat: O que Lula é

Publicado no Globo

RICARDO NOBLAT

Choca ver Lula cobrar de Dilma e do ministro da Justiça que a Polícia Federal o deixe em paz e aos seus filhos, suspeitos de envolvimento com negócios mal explicados?

Se choca é porque você definitivamente não conhece Lula.

Quando completou 18 anos e foi alistar-se para servir ao Exército, ele declarou ser dois centímetros mais alto do que era. Por quê? Simples: porque nunca gostou de ser baixinho.

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Valentina de Botas: O jeca ameaçou: vou sobreviver. Que sobreviva morto como está, discursando para quem vê gente morta

A celebração acabrunhada do aniversário de 70 anos de Lula foi tão disfórica que Chico Buarque trocou os parabéns por um sinto muito. O verniz do mito cuja ascensão se traduziu em retrocesso para o Brasil só reluz aos olhos de quem prefere ver o brilho da chave do cofre ou dos devotos incuráveis. Ao tentar reverter o fluxo irreversível do perecimento, o jeca não se importa em tentar arruinar o que ainda resta do país exaurido.

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