Os melhores 64 segundos do ano eleitoral

Publicado em 19/10/2010 09:08 e atualizado em 19/10/2010 18:01

O vídeo é muito mais revelador que 100 debates eleitorais, 200 discurseiras de Lula, 300 falatórios de Dilma Rousseff ou 500 comícios do PT. Em 64 segundos, comprova que o padrinho furta façanhas produzidas pelo antecessor, reitera que a afilhada mente, lembra que o partido dos dois sempre apostou no quanto pior, melhor e escancara a superioridade intelectual e política de Fernando Henrique Cardoso sobre a dupla de estrelas do palanque governista.

“O PT tem uma avaliação de que esse plano econômico é um estelionato eleitoral”, diz Lula aos companheiros e repete numa entrevista em meados de 1994, quando o Plano Real foi lançado. Em seguida, aparece ao lado de FHC em junho de 1994, minutos antes do começo do debate com o candidato do PSDB, em ascensão nas pesquisas graças ao triunfo sobre a inflação.

“Quando o Collor fez o programa dele, imediatamente o povo dava 90% de aceitação do Collor”, inventa o espancador compulsivo do gramática e da verdade. Também por ter decretado o confisco da poupança, o farsante que hoje é amigo de infância de Lula foi sempre um campeão de impopularidade. “É preciso ver no longo prazo se a economia brasileira resiste”, prossegue a lengalenga.

“Estou convencido de que a economia resiste, porque esse plano foi feito com cuidado”, replica FHC. “Com muita objeção do PT e do PDT, mas vamos fazer”. Estava coberto de razão, reconhece Dilma Rousseff no fecho perfeito do vídeo: “Acho que, sem sombra de dúvida, a estabilidade do Real foi uma conquista do governo Fernando Henrique Cardoso”, ouve-se admitindo no auditório da Folha a candidata que agora jura que teve de ajudar o chefe na reconstrução do país que herdaram “em petição de miséria”.

A aparição conjunta dos presidentes explica por que o SuperLula sai em desabalada carreira quando alguém sugere um debate com sua kriptonita verde. E a sequência de cenas desenha para a oposição o mapa da vitória nas urnas. Serra deve perguntar a Dilma o que acha do Plano Real. E repetir o que  a criatura e o criador nos melhores 64 segundos do ano eleitoral.

 

A melhor amiga de Erenice insiste: não há como controlar a roubalheira na sala ao lado

“Ninguém controla o governo inteiro”, repetiu no Jornal Nacional desta segunda-feira Dilma Rousseff, ainda agarrada à versão tão convincente quanto um sorriso de Marco Aurélio Garcia: uma chefe da Casa Civil não consegue enxergar uma quadrilha em ação na sala ao lado. A roubalheira promovida pela turma da melhor amiga Erenice Guerra correu solta, mas Dilma descobriu só agora que qualificou de  “factoide” um balaio de crimes capitulados no Código Penal.

“Estou indignada”, informou com a voz de quem está ensaiando a Ave Maria. A  indignação não tem nada a ver com as patifarias do sobrinho honorário Israel Guerra, nem com as negociatas envolvendo os Correios, a Anac e a Infraero, muito menos com a transformação da Casa Civil em covil. O que a deixa irritada é nepotismo.

“A Erenice errou”, disse. “Erro”, como ensina o Mestre Lula, é um crime cometido por bandidos de estimação. E Dilma sempre fez questão de expor publicamente a especial estima devotada à figura que indicou para substituí-la no ministério mais importante da República. Ao despedir-se do cargo para dedicar-se à campanha presidencial, como mostra o vídeo, ela deixou o Planalto de braços dados com Erenice. A demonstração de afeto ficou com jeito de coisa de comparsa.

William Bonner quis saber o que produziu a mais recente conversão protagonizada por Ciro Gomes. Ainda outro dia, o companheiro do Ceará achava que José Serra está muito mais preparado que Dilma para assumir a Presidência, que o PMDB é um “ajuntamento de assaltantes” e que o candidato a vice Michel Temer é “o chefe da turma”. Como é que virou coordenador da campanha da aliança governista?

“O Ciro ficô magoado pela circunstância que levô ele a não sê candidato”, respondeu Dilma. Simples assim. Amainado o chilique, Ciro entendeu que quem não tem preparo é o outro, que o PMDB é um exército de voluntários da pátria e que Temer sempre serviu aos interesses da nação.

Ao saber que o tempo da entrevista estava no fim, fingiu que queria mais. Está na hora de ter o desejo atendido por José Serra num debate na TV.

Dilma espanca o idioma na visita ao Museu da Língua Portuguesa

Ainda me impressiono com o que esses marqueteiros obrigam os candidatos a fazer, exigindo deles o que vai de encontro às suas resistências ou dificuldades mais profundas. De Dilma, que não decorou nem o sinal da cruz, já tinham exigido fé demais.

Mas agora passaram do ponto, tentando transformá-la numa devota da língua portuguesa ─ justo ela, que há um ano carrega por palanques e microfones de todo o Brasil a mais desarticulada candidatura presidencial da história da República. Dilma cultiva tão bem as palavras da língua portuguesa quanto Duda Mendonça trata seus galos ─ que se bicam até sangrar, humilhados, zonzos.

Já conhecendo bem a dialética da campanha dilmista, eu sabia que depois da visita ao Museu da Língua Portuguesa anunciada no twitter ─ tão demagógica quanto a de Goebbels ao Museu Rainha Sofia para ver Guernica de Picasso ─  ela daria entrevista sobre o tema, à porta.

Bingo. Perdão ─ agora não é mais entrevista, é o tal “minuto propositivo” que o João Santana inventou para as pessoas acreditarem que Dilma só falará um minuto. No caso, foram penosos 11 despropositados minutos de espancamento impiedoso do pobre português, à porta de seu próprio museu.

“Meu minuto propositivo hoje diz respeito a duas coisas. Primeiro é uma questão que eu acho que é fundamental. Nós sabemos que há um problema muito sério não só aqui em São Paulo mas em vários estados da Federação, é que as crianças e os jovens passam de ano, mas quando você vai fazer os testes de matemática e de língua portuguesa, o nível de aproveitamento é baixíssimo. Então, estão passando de ano sem aprender”.

Dilma pretendeu criticar, evidentemente, o sistema de progressão continuada que vigora em São Paulo ─ esquecendo que foi algo do gênero, ou a benevolência de seus professores, que lhe permitiu concluir o curso de Economia que diz ter feito, com uma agravante: no caso dela, parece claro não ter havido progressão alguma.

“Uma das maiores preocupações que eu vô tê é garanti que as crianças passem de ano no Brasil e ao mesmo tempo aprendam, que não pode sê assim”.

Talvez fosse melhor ao contrário ─ que as crianças primeiro aprendessem e depois passassem de ano. Mas Dilma quer garantir que as crianças passem de ano no Brasil ─ e, aparentemente, pretende impedir nossos filhos de passarem o Réveillon no exterior para equilibrar a balança de pagamentos. Tem meu apoio: tenho quatro filhos, eles querem sempre ir para a Disney e sai muito caro.

“E aí uma questão deve sê enfatizada e deve sê muito considerada. A questão de duas, de dois conhecimentos. Um é a matemática. Hoje nós temos um grande incentivo à matemática, através das olimpíadas da matemática, onde participam 20 milhões de pessoas, de alunos. E é meu objetivo fazê também uma olimpíada da língua portuguesa”.

Ótimo. Um país que ainda tem 30 milhões de analfabetos latu senso, incluindo um deputado federal eleito, e milhões de analfabetos funcionais, vai produzir, no governo Dilma, gramáticos olímpicos. Ela, pessoalmente, não passaria dos 10 metros bem rasos. Fala, Dilma Houaiss:

“Nós criamos uma língua própia (sic), que é a língua brasileira, através de uma série de casamentos que ao longo do processo foram feitos com as línguas de origem indígena, o bantu e outras…”.

Epa! Bantu de origem indígena? A própria Dilma Houaiss vem em socorro de Dilma Rousseff:

“Desculpa, a tupi e outras. E com toda a descendência nossa africana também, o bantu e outras”.

Perdoe-se o lapso momentâneo, louve-se a correção quase imediata. Mas o fato é que os marqueteiros, ou os monitores do Museu, só ensinaram a ela uma língua de cada tronco – daí o salvador “e outras”, que saiu automaticamente três vezes. Uma pergunta que quer calar: a que família linguística pertence o dilmês?

“Tudo isso mostra que nós temos de valorizá a língua portuguesa. Porque não existe como uma criança ou um jovem, se ele não se apropiá (sic), não existe como se ele não se apropiá (sic) da língua portuguesa e da matemática de ele tê acesso aos outros conhecimentos. Está provado isso”.

Então está comprovado o mistério de Dilma: ela não tem nenhum conhecimento sobre rigorosamente nenhum assunto porque não se apropiou da língua portuguesa.

Amigos: parei quando o cronômetro marcava apenas 2min44s. Vocês têm pela frente ─ se a matemática não me trai ─ mais 8min16s propositivos, em que ela deixa o português de lado e, ainda maltratando cruelmente a matéria do museu, discorre com a graça e a espontaneidade habituais sobre assuntos diversos, inclusive o escândalo do dia, a tal história do banco alemão que perdeu 200 milhões de dólares para uma subsidiária da Eletrobras.

Ela culpa o banco alemão por ter caído no golpe.


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Fonte:
Blog Augusto Nunes

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