Desconstruindo Lula: um discurso que revela a sua profunda e incurável incompreensão do que é a democracia

Publicado em 07/11/2010 18:08

Lula fez um pronunciamento nesta sexta em rede nacional de rádio e TV.Redimiu-se das intervenções anteriores, em que se comportou como chefe de facção? Para quem sabe ler, a resposta é “Não!” Ele só foi mais fundo na expressão de sua formidável ignorância do que seja a democracia. E eu diria que, desta feita, há um mal adicional: a hipocrisia. Segue a intervenção do chefe do PT em vermelho. Eu vou de azul.

Minhas amigas e meus amigos,
No último domingo, o Povo Brasileiro, mais uma vez, deu uma extraordinária demonstração do vigor da nossa democracia. Mais de 106 milhões de eleitores foram às urnas. E, num ambiente de tranqüilidade e entendimento, mas também de paixão e entusiasmo, promoveram uma grandiosa festa democrática em todo o Brasil.
Estamos todos de parabéns. Como Presidente da República, quero dividir com vocês o meu sentimento: estou muito orgulhoso do nosso Povo e do nosso País.
Quero dar os parabéns também à Justiça Eleitoral, que dirigiu com equilíbrio e competência a disputa. Horas depois de encerrado o pleito, graças ao sistema eletrônico de votação e apuração, já conhecíamos os resultados.
Minhas amigas e meus amigos,
A festa democrática de domingo foi o coroamento de um processo eleitoral que mobilizou o País durante meses, no qual foram escolhidos não só a nova presidente, como também governadores, senadores, deputados federais, estaduais e distritais.
Esse processo foi realizado sob o signo da liberdade. O Povo pode escolher seus dirigentes e representantes livremente. Também livremente, partidos e candidatos puderam expressar suas opiniões, defender suas idéias e criticar as propostas dos seus adversários.
Foi assim, em meio a um amplo debate nas ruas, no trabalho, nas escolas, no rádio, na televisão e na internet, que cada cidadão e cada cidadã, sem qualquer tipo de coação, pode avaliar candidatos e projetos, firmar convicções e amadurecer seu voto.
Bem, aqui estamos entre o clichê decoroso — necessário em discursos oficiais — e a exaltação do óbvio. Sim, temos um ambiente de plena liberdade, que nos é garantido pela Constituição.

Nas urnas, falou o Povo. Falou com voz clara. Falou com convicção.
Aqui já noto uma certa tentação de responder a um questionamento que não foi feito por ninguém. Sem dúvida, há clareza! Sem dúvida, há convicção! Quem sugeriu que os eleitores de Serra são “gado” foi Lula, na entrevista concedida anteontem.

Agora cabe a todos respeitar sua vontade.
Esse é um convite que qualquer governante poderia ter feito ao tempo em que o PT era oposição. FHC exercia o seu segundo mandato havia 19 dias quando Tarso Genro, capa-preta do partido, cobrou publicamente a sua renúncia. Dias depois, o PT daria início à campanha “Fora FHC”.

Os escolhidos para governar devem ter a liberdade para organizar suas equipes e colocar em prática suas propostas, de modo a honrar os compromissos assumidos com a sociedade.
Desde que respeitada a Constituição. O governo não tem, por exemplo, o “direito” de financiar o MST, um movimento que transgride a Constituição.

Já aqueles a quem o povo colocou na oposição devem ter a liberdade de criticar e apontar os erros dos governantes, para que possam em eleições futuras se constituir como alternativa.
Aqui está o cinismo. Lula, presidente da República e enquanto tal — já que não existe “fim de expediente” para quem exerce essa função — tratou o pleito da oposição como “retrocesso”. Pior: atribuiu-lhe intenções que não tinha; despiu-se de qualquer noção de pudor e liturgia do cargo para promover a sua candidata.

Passadas as eleições, quando é compreensível que o calor da disputa gere confrontos mais duros, é importante que governo e oposição, sem abrir mão de suas opiniões, respeitem-se mutuamente e divirjam de forma madura e civilizada.
Certamente o confronto eleitoral é sempre mais duro. Mas respeito é preciso a qualquer tempo. A mentira sobre a privatização da Petrobras, por exemplo, é evidência de desrespeito. Negar as conquistas do antecessor, sobre as quais construiu as suas próprias, é evidência de desrespeito. Ao longo de oito anos, não houve dia em que Lula não tivesse tentado deslegitimar a oposição e o presidente que o antecedeu. Evidência de desrespeito! Caia nessa sua conversa quem quiser.

Como todos sabemos, o Brasil vive hoje um momento mágico, de crescimento econômico, inclusão social, forte geração de emprego, distribuição de renda e redução das desigualdades regionais.
“Mágico” uma ova! Vive um momento que foi construído com muito sacrifício. E as suas bases foram dadas pelo governo anterior, contra a vontade do PT, contra a sua militância. Não existe mágica em política e em economia.

Estou convencido de que, nos próximos anos, o Brasil poderá consolidar-se como uma terra de oportunidades e de prosperidade, transformando-se numa nação desenvolvida. Avançaremos mais rapidamente nessa direção se soubermos qualificar o debate político.
Não tentar eliminar “o outro” seria um bom caminho — justamente o que Lula não fez.

Minhas amigas e meus amigos,
Quero dar os parabéns à companheira Dilma Roussef. Para mim, primeiro trabalhador eleito Presidente da República, será motivo de grande satisfação transmitir a faixa presidencial, no próximo dia 1º de janeiro, à primeira mulher eleita Presidente da República. Tenho perfeita consciência do imenso simbolismo desse ato.

Já apontei a vigarice desse discurso. Um presidente da República não é chefe nem de facção nem representante de categoria.

Ele proclamará ao mundo inteiro - e a nós mesmos - que somos um País com instituições consolidadas, capazes de absorver mudanças e progressos. E que somos também um País que aprendeu a duras penas que não há preconceito, por mais forte que seja, que não possa ser vencido e superado pela tenacidade do povo.
Poucos perceberão que, juntando-se esse parágrafo ao anterior, tem-se um mimo do pensamento autoritário. Cria-se, quando menos, uma correlação entre a democracia e a eleição de um “trabalhador” e de uma “mulher” — se é que não se tenta estabelecer uma relação de causa e efeito mesmo. E aí está o problema! A consolidação das instituições se dá com o respeito à Constituição, tantas vezes agredidas pelo Planalto e seus esbirros no processo eleitoral, e não pela eleição de representantes de setores da sociedade. Um presidente da República representa o conjunto do país.
PERGUNTA ÓBVIA - Se Dilma tivesse sido derrotada, teria sido, então, uma vitória do preconceito? O “preconceito” só é derrotado quando vence um candidato do PT, seja ele operário, mulher ou que “categoria” se escolha depois? Que lógica torta é essa?

Simbolicamente, estaremos proclamando ainda que ninguém é melhor do que ninguém.
Errado de novo! Caso Serra tivesse vencido, estaríamos, então, proclamando o contrário? A incompreensão do PT do que é a democracia é profunda! O presidente que acabou de pregar o respeito à oposição acaba de desrespeitá-la, como se a eventual vitória de Serra não lustrasse, então, os princípios da democracia. É o fim da picada!

Não importam as diferenças de origem social, de sexo, de sotaque ou de fortuna. Somos todos brasileiros.
Sem dúvida. No caso da eleição de 2010, o filho do vendedor de frutas perdeu para a filha de um rico empresário. Não importa de fato! É a presidente eleita, entenderam?

E todos devem ter oportunidades iguais, o direito a sonhar com dias melhores e o apoio para melhorar sua vida e a de sua família.
Boa noite!

Depois de cravar os dentes na artéria da democracia, Lula resolveu dar uma assopradinha, como sempre. Uma assopradinha ruim. Lula foi o primeiro a eliminar as “oportunidades iguais” da disputa quando as tornou desiguais com o uso despudorado da máquina.

Não tem jeito! Lula pode ter 500% de popularidade. No que concerne às instituições, será sempre um chefe de facção.
Texto originalmente publicado às 22h26 desta sexta, dia 6


Por Reinaldo Azevedo

Prometi escrever mais um post sobre o Prêmio Jabuti, cujo símbolo deveria ser uma hiena — que ataca em bando —, e faço-o agora. A premiação política não foi só a de Chico Buarque, acompanhada de gritos e apupos de “Dil-má/ Dil-má”. Também a distinção de melhor livro de “Não-Ficção” obedeceu ao corte ideológico: a agraciada foi a dublê de psicanalista e militante petista Maria Rita Kehl, que protagonizou recentemente um espetáculo triste na imprensa. Ao menos nesse caso há alguma coerência: ela ficou em primeiro na categoria “Educação, Psicologia E Psicanálise”, com  ”O tempo e o cão”, da Boitempo.

Antes que prossiga, uma questãozinha. Supostos “expertos” — ou “espertos?” — em Jabuti me dizem que nem sempre o primeiro de uma subcategoria leva o Grande Prêmio da categoria. Bem, então mandem os juízes para o manicômio  — ou para o divã da Maria Rita Kehl. Se, como “Romance”, segundo os jurados, “Se eu fechar os olhos agora”, de Edney Silvestre, é melhor do que “Leite Derramado”, de Chico Buarque, e se a subcategoria “Romance” integra a grande categoria “Ficção”, Silvestre só pode perder o Grande Prêmio para o primeiro lugar de alguma outra subcategoria: “Contos”, por exemplo. Perder para o que está em segundo no seu próprio grupo é evidência de arbitrariedade; é piada! Mas sei bem… Chico Buarque ainda vai se notabilizar por ganhar prêmios antes mesmo de concorrer. O tempo dirá.

Não li o livro de Kehl, é claro! Já vi um ou outro artigos seus. Tá de boníssimo tamanho. E posso afirmar, de “olhos bem fechados”, que sua premiação também foi um desagravo político — a decisão, no fundo, foi tomada pelo mesmo coro “Dil-má/ Dil-má”. Kehl foi freneticamente aplaudida, como se ali estivesse uma resistente. Era a Rosa de Luxemburgo do Divã! Essa senhora estrelou recentemente um impressionante espetáculo de vigarice política, como há muito não se via. Há tempos, consta, havia certo descontentamento com seus artigos, porque não cumpririam o combinado.  Não seriam as crônicas que se esperavam dela.

Porque os verbos vão no futuro do pretérito, naquela forma que denota incerteza e “dizem por aí”? Porque há diferença de versões entre o que ela sustenta e o que sustentam os que a contrataram e a demitiram. Ela diz que se tratou de um veto político. O Estadão nega. Não ouvi pessoalmente nem um nem outro para me posicionar sobre esse particular. O que sei, aí sim, é que seu último texto publicado no jornal era mesmo motivo para demissão sumária. É o que eu teria feito se comandasse o jornal. Porque ela é petista? Não! Porque ela ofendeu centenas de profissionais decentes e responsáveis que fazem um dos melhores jornais do país — do qual, às vezes, discordo com severidade.

O Estadão expressara em editorial, como todos sabemos, o apoio à candidatura do tucano José Serra à Presidência. Esse particular em nada alterou o espaço dedicado às notícias. O jornal segue infiltrado pelo PT a exemplo das redações do país inteiro. Volta e meia, lá como em toda parte, os “companheiros” mandam o seu recado. Trata-se de um grande jornal, que não está livre do cerco que essa gente faz à imprensa.  Porque ninguém está. Muito bem! E o que fez Kehl?  Escreveu um artigo intitulado “Dois pesos”, pautado pelo puro proselitismo político — campanha eleitoral mesmo, sem medo de ser feliz.

Era uma peça em defesa do voto em Dilma Rousseff, atacando o jogo sujo na Internet, que seria feito, obviamente, pelos adversários da petista. Os eleitores do PSDB eram tratados como preconceituosos, incapazes de reconhecer os avanços do Brasil. Tanta estupidez já mereceria um rompimento de contrato. O Estadão, é histórico, é  um veículo de uma tolerância quase infinita. Não creio que tenha sido isso a determinar a decisão. O parágrafo realmente inaceitável é o primeiro. Leiam:
Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.”

Não vou discutir, por piedade, o que Maria Rita Kehl entende por “luta de classes”. porque duvido que ela domine a biliografia específica. Se dominar, a gente pode debater. Prestem atenção ao que vai lá em negrito. A “discussão que se faz nas páginas” do Estadão teria ficado “mais honesta” quando o jornal, em editorial, declarou o seu voto. Logo, antes disso, o que se fazia por lá era desonestidade.  Ao declarar o seu voto, o jornal então admitia a sua condição de “serrista” desde sempre. Eis a honestidade intelectual de Maria Rita Kehl, que decidiu assumir o papel de juíza da moralidade alheia. Mobilizando seus amigos no jornalismo e na Internet, saiu gritando: “Fui demitida por delito de opinião”. Uma ova! Foi demitida, quando menos, por falta de respeito com o trabalho de gente HONESTA!

Mas esquerdista sempre ganha, mesmo quando perde, não é? Os mais de R$ 4 bilhões já pagos em indenizações, a Bolsa Ditadura,  não me deixam mentir  — a compensação é justa apenas para quem, de fato, padeceu na mão do estado depois de rendido; o resto é mamata. A suposta perseguição a Maria Rita Kehl (santo Deus!) rendeu-lhe o “Bolsa Jabuti”. No próxima rodada, ela pode concorrer na categoria “Ficção” — vai ganhar se o sambista Chico Buarque não resolver derramar mais leite em ninguém até lá.

A propósito: devolve o prêmio, Chico Buarque!

Por Reinaldo Azevedo

Por Gustavo Patu, na Folha:
A receita do governo federal cresceu, ao longo do governo Lula, o equivalente a duas vezes a arrecadação da CPMF, mesmo com a derrubada, pelo Congresso, da contribuição sobre movimentação financeira. Praticamente nada desse ganho, porém, significou aumento do gasto em saúde, que, ao longo desta década, apenas oscilou em torno de uma mesma média.

Não houve alta antes nem queda depois da extinção do tributo, hoje novamente cogitado como solução para o financiamento do setor.
Segundo levantamento da Folha, o Tesouro Nacional absorvia em 2003, primeiro ano de Lula, 21% da renda nacional, por meio de impostos, taxas, contribuições e outras fontes. Em 2011, com Dilma Rousseff, a proporção deverá se aproximar de 24%.

Não fosse uma escalada de despesas públicas (sobretudo as vinculadas ao salário mínimo) em ritmo intenso, a expansão das demais receitas teria compensado com folga a extinção do antigo imposto do cheque, que rendia algo como 1,4% do Produto Interno Bruto ao ano.

A primeira gestão petista trabalhou para elevar as contribuições sociais, cujos recursos são destinados à previdência, à assistência social, ao seguro-desemprego e à saúde. Criou-se a contribuição previdenciária dos servidores inativos e elevaram-se alíquotas da Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social).

Os programas de transferência de renda absorveram a maior parte dos recursos adicionais devido ao lançamento do Bolsa Família e, principalmente, aos reajustes do salário mínimo, piso de aposentadorias, pensões, auxílios e benefícios deficientes e desempregados.

Já as verbas da saúde seguiram a regra, instituída em 2000, que fixa aumento correspondente ao crescimento da economia: com isso os recursos ficaram estáveis, com pequenas variações para cima ou para baixo, em torno de 1,7% do PIB. No início do segundo mandato de Lula, durante as negociações para prorrogar a CPMF, o governo prometeu elevar o orçamento da saúde -que, com a contribuição de Estados e municípios, fica em 3,6% do PIB, metade do padrão do Primeiro Mundo.

Com a derrota no Congresso, os planos foram abandonados, embora a arrecadação tenha continuado em alta. Elevaram-se o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e a CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), mas os maiores ganhos vieram da expansão da renda, da formalização de empregos e empresas. Aqui

Por Reinaldo Azevedo

Por Denise Madueño, no Estadão:
Grande parte dos Estados cujos governadores eleitos integram o movimento pela volta do imposto do cheque para custear a saúde pública não aplica os 12% como previsto na Constituição e nos critérios estabelecidos pela resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS). As informações constam da análise técnica das receitas e das despesas dos Estados do Ministério da Saúde. Os dados consolidados mais recentes são referentes a 2008. O balanço mostra que 13 Estados não atingiram o porcentual de 12% dos recursos com a saúde pública em 2008.

Entram nesse rol o Piauí, Ceará, Paraíba, Minas Gerais, Mato Grosso e Rio Grande do Sul, cujos governadores eleitos ou reeleitos declararam ser a favor da volta de um imposto nos moldes da Contribuição Provisória Sobre Movimentação Financeira (CPMF), como levantamento publicado ontem no Estadão. A nota técnica do Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde e do Departamento de Economia da Saúde e Desenvolvimento do ministério leva em conta os dados declarados pelos governos estaduais, relatórios de execução orçamentária, dados de receita e de despesa com saúde.

Os Estados informam ter atingido o mínimo exigido de gastos, mas incluem como despesas com saúde ações não diretamente destinadas a serviços de acesso universal, igualitário e gratuito e confundindo o setor com outras áreas de políticas públicas. Eles declaram, por exemplo, gastos em instituto de previdência e em assistência médica de servidores, em fundo de apoio habitacional de assembleia estadual, em melhorias no sistema prisional, agricultura familiar e com ações de assistência social.

A resolução do CNS (número 322 de 8 de maio de 2003) em vigor e defendida pelos parlamentares e entidades de saúde pública no projeto de regulamentação da aplicação dos recursos, apelidada de emenda 29, em tramitação no Congresso é clara e específica sobre o que pode ser ou não considerado gasto dentro desse porcentual de 12%. O Rio Grande do Sul foi o Estado que menos aplicou recursos na saúde pública em 2008 (4,47%). Nos dados enviados pelo Estado constam gastos de R$ 921,81 milhões, mas a análise do balanço de gastos concluiu que foram aplicados R$ 616,81 milhões. Entre as despesas, a análise constatou uso do dinheiro para gestão de saúde do servidor público estadual, saneamento básico urbano e programa de prevenção da violência.

Ajuda. No Ceará, foram contabilizados R$ 38,3 milhões de gastos com a saúde de servidores e R$ 5,6 milhões com residência médica. O Estado informou ter gasto R$ 1,07 bilhão com saúde pública, mas a análise constatou R$ 719 milhões. “O total de despesa com saúde declarado é superior ao analisado no balanço geral do Estado”, diz nota técnica aprovada pelo ministério. Aqui

Por Reinaldo Azevedo

Por Eduardo Reina, no Estadão:
Ao contrário do que disse o ex-governador de Minas Gerais e senador eleito Aécio Neves, o governador de São Paulo, Alberto Goldman, do grupo político de José Serra, disse ontem que o PSDB vai ser oposição ao governo Dilma Rousseff e só as matérias de interesse da população terão os votos tucanos no Congresso Nacional. “Não tem coalizão. Oposição é para fazer oposição”, disse ontem em entrevista ao Estado. “(A oposição precisa) se opor com toda combatividade. Não é fazer de conta. Não é meio termo.” Já Aécio defende a construção de uma agenda pela aprovação das reformas políticas e tributária e a participação dos governadores do PSDB num projeto de poder.

O governador paulista quer um PSDB nacional mais forte, e admite fragilidade ao lidar com o segmento mais popular da sociedade. Afirmou que o grupo paulista e o mineiro estão em pé de igualdade, pois elegeram o governador e um senador cada. Disse ainda que a legenda em São Paulo não perde espaço e nacionalmente está mais forte do que nunca.

Como será a oposição no terceiro governo seguido do PT. Será mais forte, mais fraca?
Oposição tem de fazer o papel de oposição. Quem perde a eleição fica fora do governo, analisa o governo. Nós não temos nada a ver com o passado velho, do velho PT contra tudo e contra todos. Podia ser a melhor coisa ou a pior coisa para o povo que eles iam ser contra. Vamos fazer diferente. Não pensamos assim. Fui líder e vice-líder da oposição no primeiro governo Lula na Câmara. E teve várias matérias que ajudamos o governo a aprovar. Matéria muito específica sobre legislação de florestas. Que tinha a (ex-ministra do Meio Ambiente e ex-candidata do PV) Marina, ela se empenhou muito para fazer. Eu que ajudei a aprovar. Eram matérias que a gente achava corretas. Aquilo que a gente acha que não está correto tem de se opor mesmo. Se opor com toda combatividade. Não é fazer de conta. Não é meio termo.

Essa responsabilidade da oposição pode facilitar uma coalizão com o governo federal?
Não tem nada de coalizão. Oposição é para fazer oposição. O povo determinou que você fizesse oposição, que não fosse governo. Isso não significa que o povo quer que a gente aja ao contrário dos interesses do País.

O PSDB de São Paulo sai enfraquecido desse pleito?
Não. Há um certo tempo o PSDB de São Paulo não elegia um senador. Agora elegeu um senador, elegeu o governador. Teve maioria dos votos para a Presidência da República em São Paulo. Aqui ganhamos todas. O que vamos querer mais? Em São Paulo fizemos toda a lição de casa.

Mesmo com Aécio Neves despontando como nome forte do PSDB para 2014?
O PSDB de São Paulo ganhou a eleição nos dois níveis (para o governo do Estado e para o Senado). O PSDB de Minas ganhou a eleição nos dois níveis. Como aqui, Minas ganhou o governo do Estado e fez um senador. E na coligação fez outro senador, que foi o Itamar Franco. O governo de Minas também saiu vitorioso. O PSDB do Paraná também saiu vitorioso. Se você começar a diferenciar por Estado, você não chega a lugar nenhum. Aqui é um País. Um País único. O partido é nacional.
 Aqui

Por Reinaldo Azevedo

Por Malu Delgado, no Estadão. O título é meu.
A formação do futuro ministério de Dilma Rousseff ressuscitou disputas internas no PT paulista. Setores do partido defendem que o senador Aloizio Mercadante, candidato derrotado ao governo do Estado, seja nomeado para uma pasta, de preferência Cidades ou Planejamento. A bancada federal no Congresso não apoia a escolha do senador.

Deputados federais pleiteiam a indicação de José Genoino, que não conseguiu se eleger, ou outro parlamentar eleito. A escolha de Genoino por Dilma é remota. Aliados da futura presidente consideram que se resolver contemplar o PT paulista na nova composição da Esplanada Dilma escolherá Mercadante. Dificilmente enfrentará o desgaste de nomear para o ministério um réu no processo do mensalão, como é o caso de Genoino.

O senador viajou com o presidente Lula para a Argentina, dois dias antes da eleição, para o velório do ex-presidente Néstor Kirchner. O gesto de Mercadante de abrir mão de uma reeleição relativamente tranquila no Senado para embarcar numa disputadíssima sucessão estadual com Geraldo Alckmin (PSDB) aumentou o cacife político do petista junto ao presidente, que tem aconselhado Dilma sobre a composição do ministério.

O pleito central da bancada federal petista é o Ministério do Turismo. Além das possibilidades de incremento orçamentário com a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, a pasta é cobiçada pela facilidade de recepcionar emendas orçamentárias. Os deputados apresentam as emendas e faturam politicamente em seus redutos eleitorais. Um dos que defendem a indicação de um parlamentar para o Turismo é João Paulo Cunha, também envolvido no escândalo do mensalão. Eleito deputado, Cunha busca seu fortalecimento político e sinalizou que pretende disputar a presidência da Câmara.

A indicação de Marta Suplicy, eleita ao Senado, é colocada em dúvida pelos petistas do Estado. Apesar do êxito eleitoral, ela deixou arestas na disputa. Dirigentes do partido consideram que a petista isolou-se durante a campanha, preocupada apenas com o voo solo. Ao longo da disputa eleitoral houve, por exemplo, ruídos entre a campanha de marketing de Mercadante e de Marta. Aqui

Por Reinaldo Azevedo

Por Jamil Chade, no Estadão. O título é meu.
O Itamaraty aproveitou ontem a primeira sabatina realizada pela ONU sobre a situação dos direitos humanos nos EUA para declarar que estava “preocupado” com o aumento da pobreza na sociedade americana e sugeriu ao governo de Barack Obama que amplie programas sociais.

“O Brasil nota com preocupação o aumento do número de pessoas vivendo na pobreza nos EUA e a persistente diferença racial”, afirmou a embaixadora do Brasil na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo. “A desigualdade é refletida em áreas como moradia, emprego, educação e saúde”, disse.

O Brasil, um dos países mais desiguais do mundo, ainda deu sua sugestões sobre como os EUA deveriam tratar da pobreza: “O reconhecimento das necessidades fundamentais da população como um direito humano é um passo importante para superar a pobreza”, ensinou a embaixadora, que ainda criticou a política de imigração americana.

Por Reinaldo Azevedo

Havia reproduzido um texto da Agência Efe sobre uma palestra que o tucano José Serra concedeu nesta sexta em Biarritz, sul da França, sobre as relações entre a América Latina e União Européia. Acabo de falar com a assessoria do ex-governador de São Paulo, segundo a qual o despacho da agência está errado. Em nenhum momento, afirma, o ex-candidato à Presidência pelo PSDB se referiu, em sua intervenção, ao presidente Lula.

Ao apontar um processo de desindustrialização, Serra não falava do Brasil em particular, mas da América Latina como um todo. Para ele, alguns países estão vivendo um “populismo cambial” que lhes é prejudicial. O tucano também criticou o alinhamento de vários governos da região com regimes autoritários, como o do Irã.

De fato, durante a sua intervenção, ele foi interrompido por um membro da Fundação Zapata, do México, que gritou “por que não te calas?” Abaixo, a grosseria se explica.

Esta senhora à direita de Dilma é Margarita Zapata, presidente da fundação a que pertence o esquerdopata que interrompeu a palestra de Serra. A classe petralha é internacional, hehe...

Esta senhora à direita de Dilma é Margarita Zapata, presidente da fundação a que pertence o esquerdopata que interrompeu a palestra de Serra. Ela veio ao Brasil no lançamento da candidatura do PT à Presidência. A classe petralha é internacional, hehe...

Por Reinaldo Azevedo

(leia primeiro o post abaixo)

Aécio Neves, do PSDB, presidente do Senado? Ai, ai… Vamos ver.

A bancada governista na Casa é de tal sorte acachapante, que essa possibilidade só existiria mesmo na hipótese de um acordão “governo-oposição” em nome, sei lá, de uma agenda mínima, o que certamente seria o máximo para… Dilma Rousseff.  Ou, então… Postas as coisas em números, ficamos assim.

O governismo tem uma bancada potencial, acreditem, de 60 senadores de um total de 81! A conta é esta: PMDB (20), PT (14), PDT (4), PR (4), PSB (4), PC do B (2), PRB (1), PSC (1), PMN (1), PTB (6) e PP (5). Se você contou, leitor, chegamos a 62. É que Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) é de oposição, e Pedro Simon (PMDB-RS) depende das fases da lua. Como informa a matéria do Estadão (abaixo), Aécio poderia fazer a sua pescaria no PTB (6), PP (5) e PSDB (4). Digamos que levasse todos (não haveria a menor hipótese). Somar-se-iam 15 aos… 18 senadores da oposição e 2 possíveis dissidências do PMDB: 35. Aí seria preciso avançar nos outros governistas.

Caso esse movimento se desse à revelia do Planalto, então estaríamos diante de um governo Dilma que estaria acabado antes mesmo de começar. Que Aécio se lance candidato, diga que é candidato, faça movimentos para afirmar que é candidato, vá lá, é do jogo. Ajuda a cacifá-lo como um nome importante no Senado, liderança da oposição etc. Que isso seja levado a sério sem os devidos considerandos, aí é melhor a gente deixar a política de lado e brincar de outra coisa — as moças, de boneca, e os moços, de bola, eliminando-se, claro, as ortodoxias em nome do “mundo moderno”…

Consentimento ou chantagem?
Se for na base do consentimento, muito bem. Numa ousadia e tanto, fosse eu Dilma, tentaria convencer o PMDB e o PT a apoiar o nome de Aécio como candidato de consenso. Seria bastante interessante ter uma liderança da oposição “moderada” nos dois primeiros anos de governo, certo? Nos dois outros, far-se-ia uma troca por alguém da tropa de choque. A gente já viu que o governador Antonio Anastasia é o único da oposição  — do PSDB, quero dizer — que apoiou de saída a CPMF. Acredito, no entanto, que o PT não toparia a brincadeira. Nessas horas, uma coisa é Dilma posar (Emir Sader escreveria “pousar”) de pacificadora. Outra, diferente, é o PT colaborar para alçar ao primeiro plano um possível adversário de 2014. Acho que não vai acontecer.

Caso a candidatura ganhasse corpo à revelia do Planalto, estaríamos diante de um formidável movimento de chantagem dos “aliados” de Dilma Rousseff. Nessa hipótese improvável, Aécio seria a opção dos que teriam decidido mandar um recado ao governo que começa — e também isso parece que não vai acontecer.

Por Reinaldo Azevedo

Leiam o que informa Marcelo Moraes, no Estadão. Estamos diante de um caso bem interessante mesmo. Serve de um bom exemplo, leitores, de como funciona a política. No próximo post, digo por quê.

Aécio assedia aliados de Lula e opera para conquistar presidência do Senado

Com apoio de partidos da base governista, o senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG) deflagrou articulação política para conquistar a presidência do Senado, acenando em troca com apoio para os parceiros de empreitada controlarem a Câmara. Na chamada “operação Aécio”, bancada por PSDB e DEM e com o apoio informal de setores do PSB e do PP - podendo ter a adesão de PDT e PC do B -, seria formada uma ampla aliança entre esses partidos. Isso garantiria ao grupo uma expressiva quantidade de votos na Câmara e no Senado, ameaçando a parceria entre PMDB e PT para controlar as duas Casas.

No Senado, a soma do bloco de oposição formado por PSDB, DEM e PPS garante 18 votos, total que pode subir para 21, com a adesão de senadores dissidentes do PMDB. É pouco para impor perigo à dupla PMDB-PT. Mas a costura de um acordo com PP (5 senadores), PDT (4 senadores) PSB (3 senadores) e PC do B (2 senadores) mudaria esse patamar para 32 senadores, o que garantiria uma largada forte nessa disputa contra outros 17 senadores do PMDB e 14 do PT. Assim, a decisão da questão se daria através da captura dos votos de partidos mais flutuantes, como PTB e PR, por exemplo.

Não se trata de uma equação fácil, muito menos de efeito garantido, já que o poder de fogo do governo federal é muito grande e pode fazer com que parlamentares da base governista desistam de embarcar no projeto de Aécio, sob pena de retaliação política.Dentro do Palácio do Planalto ainda não surgiu a ordem para explodir os planos tucanos. Mas apenas a existência dessa movimentação já preocupa o governo, que não deseja ver um adversário em potencial da próxima disputa presidencial comandando a pauta e a agenda do Senado e deve atuar para impedir sua vitória.

PMDB
A negociação de Aécio preocupa mais ainda ao PMDB, que sempre tem a Presidência de pelo menos uma das duas Casas e não quer abrir mão desse poder. Quando conquistou a presidência da Câmara, em 2001, Aécio se movimentou de forma semelhante, atraindo apoio de partidos adversários, e derrotou, na época, o favorito Inocêncio Oliveira, então do PFL. Na ocasião, os tucanos também não tinham a maior bancada em nenhuma das duas Casas. Em compensação, tinham o controle do governo federal, com o presidente Fernando Henrique Cardoso, o que, certamente, facilitou a tarefa.

Agora, alinhado com a oposição à presidente eleita Dilma Rousseff, Aécio terá muito mais problemas para fazer a operação avançar. A seu favor, porém, conspiram vários fatores. Primeiro, a disputa entre PT e PMDB para definir quem indicarão para presidir Câmara e Senado. Os partidos negociam um rodízio, mas a discussão está longe de apresentar um consenso. Uma má solução para esse acordo pode gerar espaço para o avanço do ex-governador mineiro.

Articulação
Outro ponto positivo é a forte capacidade de articulação de Aécio. Além de ser consensual entre a oposição, ele conta com apoio garantido dentro do PP, presidido pelo senador Francisco Dornelles (RJ), seu primo. Com o PSB, seu trânsito também é forte. A parceria política com os socialistas é antiga e já rendeu, por exemplo, uma ampla aliança em Minas Gerais, com a eleição do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), com o apoio do então governador tucano.

A mesma parceria entre PSDB e PSB também produziu frutos no Paraná, onde Luciano Ducci (PSB) assumiu a Prefeitura de Curitiba depois que o tucano Beto Richa se desincompatibilizou do cargo para concorrer e ganhar o governo estadual. O governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), defendeu publicamente dentro de seu partido a candidatura de Aécio. Apesar de dizer oficialmente ser contra esse acordo, o presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, conversou nos últimos dias com pelo menos dois governadores tucanos, Beto Richa e Teotônio Vilella Filho (AL).

Cargos
A confirmação desses apoios passa por discussões mais complicadas dentro da Câmara. Partidos governistas de porte médio deverão formar blocos parlamentares para ampliar seu tamanho. Assim, conseguiriam cargos melhores na divisão do controle de postos nas Mesas Diretoras e no comando das comissões técnicas e relatorias da Casa. O PSB estuda reeditar com PDT e PC do B o antigo bloquinho, aliança política reunindo os três partidos que garantiria uma bancada de 77 deputados na Câmara. PP, PR e PTB podem também se juntar e montar uma aliança com 103 deputados, superior ao PT, maior partido da Casa, que elegeu 88 deputados.

Aécio também poderia trazer para o Senado a imagem de renovação tão desejada, depois de um período de muitas crises, provocada pela descoberta do inchaço da estrutura da Casa e do pagamento de benefícios exagerados para parlamentares e funcionários por meio de atos secretos.

Por Reinaldo Azevedo

Por Vannildo Mendes, no Estadão Online:
Enquanto disputava o segundo turno da eleição, como marqueteiro do candidato tucano José Serra, o publicitário Luiz Gonzalez tinha a cabeça dividida. Ele mantinha um olho na campanha e outro na disputa judicial que trava há anos contra o próprio PSDB para receber uma dívida de R$ 18 milhões, em valores corrigidos, que alega ter ficado pendente da campanha presidencial de 2006, disputada por Geraldo Alckmin, derrotado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Gonzalez ganhou a causa em março deste ano, por decisão do juiz Daniel Felipe Machado, da 12.ª Vara Federal de Brasília, o que lhe permitiu fechar o contrato para tocar a campanha de Serra, a quem acompanha como marqueteiro desde 2004, quando ganhou a Prefeitura de São Paulo contra a petista Marta Suplicy. Mas o PSDB recorreu alegando cerceamento de defesa e irregularidades na comprovação dos gastos apresentada pela empresa Campanhas 2006 Comunicação Ltda, comandada por Gonzalez.

No dia 6 de outubro, no calor da definição das estratégias do segundo turno, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal acatou a apelação dos tucanos e anulou a sentença da 1.ª instância, que agora volta à estaca zero e o valor da dívida terá de ser revisto à luz da análise dos documentos que comprovam os gastos.

No total, a campanha custou R$ 40,5 milhões, no primeiro e segundo turnos. O PSDB reconhece uma pendência de apenas R$ 4 milhões e quer que os honorários advocatícios, de 10% do valor da causa, sejam cobrados do autor da ação. A guerra com o marqueteiro expõe a crise interna que caracterizou a campanha de Serra.

Neto de espanhóis, sócio das agências GW e Lua Branca, Gonzalez de fato atropelou os caciques tucanos e do aliado DEM nas principais definições. Foi sua, por exemplo, a escolha do slogan “O Brasil pode mais”, criticada por vários integrantes do PSDB e acusada de plágio.

Embargo
Numa última cartada, Gonzalez apresentou na quarta-feira um embargo de declaração, contestando erros formais na sentença que anulou a sua indenização, proferida pela 5.ª Turma do TJ-DF. O caso está concluso para decisão, sobre a mesa do relator, desembargador Romeu Gonzaga Neiva e deve ser levado a julgamento na próxima semana.

Por Reinaldo Azevedo

Desculpo-me, claro, por ser um dos poucos a desafinar o coro dos contentes e falar de coisas que não remetam à “neo-Dilma”, a “Tchutchuca do Pós-Lulismo”, como se isso existisse. Desculpo-me por lembrar que o PT continua a ser PT. Vamos ver.  Na campanha do primeiro turno, o tesoureiro do partido, José Filippi Jr., já mandava cartinhas para as empresas que tinham, digamos assim, um pé na brutalidade. E não é difícil entender por quê. À época, escrevi um post a respeito(Aqui).  Leiam um trecho daquela carta:
“Em 2006. procurei sua empresa como coordenador financeiro da campanha de reeleição do presidente Lula. Naquele momento, sua empresa não aceitou o convite para contribuir com nossa campanha. De todo modo, acredito que ela tenha se beneficiado com os avanços conquistados pelo Brasil…”

Fillippi Jr. está de volta. Agora, ele precisa cobrir o rombo deixado pela campanha. Uma nova carta está sendo enviada. Depois de listar as conquistas do governo Lula, ele pede mais dinheiro. E fala em nome da presidente eleita:“Estou contatando o senhor e sua empresa em nome da Presidente Dilma Rousseff”. O homem cria até um novo conceito sociológico: a “cidadania corporativa”, que deve ser uma coisa  meio parente do fascismo: “A participação de sua empresa nesta eleição, como estabelece a lei brasileira, será muito bem vinda. Buscamos nesta eleição ampliar o número de empresas engajadas nessa prática de cidadania corporativa.” Depois de deixar claro que o governo é excelente e que as empresas têm o dever cívico de participar, só resta apontar o caminho para a contribuição, dando-a como certa (abaixo, a imagem, que pode ser ampliada; no pé, a integra). Ainda sigo:

carta-a-empresarios-pt-achaqueImaginem isso numa república que se levasse a sério mesmo — não naquela em que Chico Buarque não pode perder um prêmio literário… Que o PT, jamais Dilma, expusesse as suas necessidades aos empresários, vá lá. Que listasse as conquistas do partido — NÃO AS DO GOVERNO — para convencer, muito bem! Mas o pedido de dinheiro “em nome da Presidente Dilma Rousseff” tem a cara indisfarçável do achaque e da chantagem. Trata-se de uma afronta ao espírito republicano. É o mesmo que advertir: “A presidente saberá quem colaborou e quem não colaborou”. Colaborou com o quê? Com a sua eleição? Não!!! Com aquele Brasil maravilhoso de que fala Filippi Jr., claro! UMA PRESIDENTE DA REPÚBLICA, AINDA QUE APENAS A ELEITA, NÃO PEDE DINHEIRO JAMAIS NEM USA CONQUISTAS DA SOCIEDADE COMO SE FOSSEM COISAS PRIVADAS, PERTENCENTES A UMA FACÇÃO OU PARTIDO.

Haverá algum protesto ou barulho? Ora, pensa-se no neojornalismo, “o que há de errado em uma autoridade pedir a empresários dinheiro para o seu partido, empresários que podem vir a ser beneficiados ou prejudicados a depender das decisões do governo? Isso é normal! Tão normal quanto roubar o Prêmio Jabuti”.

Segue a íntegra da “carta”. No pé do post, imagem da carta enviada no primeiro turno.

Brasília, 04 de Novembro de 2010.

Prezad (…)

Dilma Rousseff foi eleita Presidente da República, a primeira mulher na história do Brasil. Sua vitória representa uma opção dos eleitores pela continuidade do governo Lula, que criou 14 milhões de novos empregos formais, tirou 28 milhões de pessoas da pobreza e promoveu a ascensão de 36 milhões para a classe média. O Brasil tem hoje destacada posição de liderança internacional e enfrentou com sucesso a grave crise de 2008.
Neste momento em que nos preparamos para uma nova etapa de desenvolvimento econômico e social do Brasil, estou contatando o senhor e sua empresa em nome da Presidente Dilma Rousseff. O segundo turno da campanha eleitoral gerou novas despesas especialmente, com materiais de divulgação, que estamos buscando saldar ainda neste mês de novembro, de acordo com as normas da arrecadação eleitoral. Muitos empresários brasileiros já contribuíram, optando por exercer esse direito facultado pela lei eleitoral, que deixa o financiamento das campanhas a cargo das empresas, principalmente, e dos cidadãos.
A participação de sua empresa nesta eleição, como estabelece a lei brasileira, será muito bem vinda. Buscamos nesta eleição ampliar o número de empresas engajadas nessa prática de cidadania corporativa. Dentro deste espírito, tenho prazer de convidar sua empresa a dar uma contribuição para a campanha de Dilma Rousseff. A doação deve ser feita por meio de depósito (DOC ou TED), diretamente na conta da campanha. Mais informações e as instruções para depósito e emissão do recibo podem ser solicitadas por email ou por meio de contato com nosso Comitê Financeiro no telefone abaixo.

Obrigado e um abraço,
José de Filippi Jr., ex-prefeito de Diadema-SP, deputado federal eleito pelo PT-SP.
Coordenador financeiro da Campanha Dilma Presidente 2010.


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Por Reinaldo Azevedo

O discurso vigarista da canalha que lucra ao jogar o Brasil contra o Brasil. Ou: Os “fascistas do bem” estão assanhados!

É vergonhoso o que certos setores da imprensa vêm fazendo no caso da jovem Mayara, que postou mensagens absurdas no Twitter, contra os nordestinos. Atenção! Não estou dizendo que ela não deva RESPONDER PELO QUE FEZ (e não por aquilo que NÃO FEZ ), mas há um limite para as coisas. As penas têm de ser proporcionais aos delitos. É um princípio da civilização que não pode ser esmagado pelos “civilizados”. A imprensa politicamente correta está exibindo seu lado sensacionalista. Lembra aqueles senhores que ocupam as tardes nas TVs com programas policiais, exibindo, aos berros, as suas soluções simples e erradas para problemas difíceis. A palavra de ordem parece ser esta: “Já que ela escreveu aquelas barbaridades, então vamos linchá-la; destruí-la”. Ou ainda: “Descobrimos que ela é muito má; a Justiça é lenta; vamos resolver nós mesmos esse problema e condená-la”. O espírito que anima essa sede de punição e reparação é fascistóide. Os fascistas do bem estão na Internet e nos jornais, magnificando o que não tem importância e tentando despertar forças que, uma vez libertas, dificilmente voltam para a caixa.

Mayara, uma paulista, escreveu coisas inaceitáveis sobre “nordestinos”? Por certo! Ela é a única? Não é! Nordestinos, mineiros, sulistas etc. escrevem coisas  inaceitáveis sobre paulistas? O tempo inteiro! Uma simples pesquisa na rede vai revelá-lo. O ressentimento contra São Paulo é tão grande quanto escandalosamente injusto. Injusto, aliás, é o ressentimento contra qualquer região. Mas São Paulo está proibido de posar de vítima porque não pega bem. Afinal, o estado mais rico da federação — e fica parecendo que assim é porque roubou isso de alguém… — tem de agüentar calado as suas supostas culpas. Mas o que digo eu? “São Paulo” como ente só existe na boca dos que têm a pretensão ser seus inimigos! Uma das coisas que me agradam neste estado, ou nesta capital, é precisamente isto: ser paulista ou paulistano não quer dizer nada em especial. Não somos conhecidos por nossa esperteza silenciosa, por nosso charme adoravelmente malandro, por nossa sensualidade à flor da pele, por nosso espírito nativista, por nosso amor às lendas da floresta… Felizmente, ser paulista ou paulistano, ou morar por aqui, permite que a gente NÃO SEJA COISA NENHUMA! E aos não-paulistas informo: nem levem muito a sério esse negócio de que somos trabalhadores incansáveis. Há muitos vagabundos por aqui, como em toda parte.

Diziam-me mineiros no começo da corrida presidencial: “Esquece, Reinaldo! A esmagadora maioria deste estado não vai votar em Serra porque se consolidou a idéia de que ele tomou o lugar de um mineiro”. E cansamos de ler a respeito desse nobre sentimento na imprensa, sem que alguém se lembrasse dizer: “Epa! Que história é essa?” Agora imaginem se detectassem tal sentimento em São Paulo. Logo escreveriam um tratado sobre a arrogância dos paulistas ou sei lá o quê. O sentimento antipaulista é a versão local do recalque que degenera no antiamericanismo. Em certas áreas do país, querem tratar os paulistas como o “eles”, categoria que estaria em oposição ao “nós”. O caso Mayara trouxe esse sentimento à tona. Assim como existem antiamericanos dentro dos EUA, existem antipaulistas em São Paulo: parte da imprensa daqui não está sendo menos bucéfala do que a imprensa de acolá.

Mentiras
É simplesmente mentira que exista na maior cidade nordestina do Brasil — sim, leitor, há mais nordestinos em São Paulo do que em Salvador, a maior capital do Nordeste — um sentimento antinordestino.  O pernambucano Lula fez a sua carreira em São Paulo. A paraibana Luíza Erundina foi prefeita da capital do Estado. Uso exemplos da política porque é nessa área que esse tipo de sentimento se exacerba. Conheço algumas capitais do Nordeste. Não o suficiente para escrever tratados ou ser peremptório a respeito de algumas coisas. Mas já fui a restaurantes populares e a restaurantes chiques da Bahia, por exemplo, onde se tem, talvez (a conferir), o maior percentual de população negra do país. E, claro, já fiz isso dezenas de vezes em São Paulo, onde o percentual de negros é muito menor. A nenhum observador honesto escapará uma evidência: é muito mais freqüente a presença de negros nos ambientes refinados de São Paulo do que nos de Salvador ou do Recife.

O país tem de aprender a equacionar as suas diferenças. E vem fazendo isso, ora acertando, ora errando, não vou entrar nesse mérito agora. Mas não venham tentar dar aula de civilidade tolerância a São Paulo os que não combatem no próprio solo as escandalosas desigualdades e os preconceitos os mais evidentes. QUEM DECIDE FAZER GUERRA REGIONAL ESTÁ SENTANDO EM CIMA DO PRÓPRIO RABO PARA TENTAR DENUNCIAR O ALHEIO. Seria mesmo maior o preconceito que os “paulistas”, como se existisse essa categoria!, têm contra os  nordestinos do que o que aquele que ALGUNS NORDESTINOS ricos têm contra os nordestinos pobres no próprio Nordeste? Ora, tenham paciência!

O que leva um jornal como o “Correio”, da Bahia, a publicar na primeira página a foto da autora das mensagens infelizes com o título “A paulista”? Será esse jornal tão zeloso em combater as injustiças existentes no próprio estado como é em tentar promover uma guerra contra São Paulo em nome da… justiça? Admitir-se-ia que um jornal paulista publicasse a foto de um criminoso qualquer nascido na Bahia como o “O baiano”? É claro que não! E não creio que isso devesse ser tolerado. O Ministério Público certamente entraria em ação.  Já São Paulo pode suportar muito bem uma carga de preconceito se o objetivo nobre é… combater o preconceito!

Ciclo de violência
Coisas inacreditáveis estão em curso. É de estarrecer uma reportagem da Folha neste sábado. Ficamos sabendo que a moça é filha de um relacionamento extraconjugal do pai, Antonino Petruso. Leiam:
O empresário Antonino criticou a declaração de sua filha -fruto de um caso extraconjugal no fim dos anos 80 -, que, segundo ele, causou efeito colateral indesejado para toda a família. ‘Tenho raiva de quem faz preconceito, seja amarelo, branco, azul, pobre. Se ela [Mayara] realmente escreveu aquilo, vai ter que pagar.’”

É espantoso! É assustador. Ele próprio expõe a sua vida privada e a da garota, como se a condição de “filha fora do casamento” tornasse menores seus vínculos com a  jovem, tomada, no contexto, como agente de um desequilíbrio familiar. Ironicamente, sua empresa se chama “Supermercado do Papai”. O supermercado é do papai! O papai revela ainda que a relação com a filha não é boa; não quer que as opiniões dela sejam confundidas com as da família — talvez quisesse dizer “a verdadeira família”.

Não sei que punição a Justiça vai aplicar a essa moça — até porque será preciso muita licença jurídica para provar que ela praticou racismo, como sabe qualquer advogado medianamente informado. Mas há como ela ser punida mais do que está sendo? Se não conseguir mudar de nome, as suas mensagens no Twitter a terão destruído para sempre. Quantos milhares já fizeram a mesma coisa, não porque sejam militantes racistas, mas porque estão mal informados, pensam errado, reproduzem tolices que ouvem de outros? E os nordestinos os únicos agredidos.

A coisa agora segue no ritmo do horror, do pega-pra-capar. Já que ela foi estúpida o bastante para escrever aquilo, pode ter a imagem estampada na capa de um jornal da Bahia como “a paulista”. Já que escreveu aquilo, pode ser demonizada pelo pai, que a trata como uma bastarda, agente de dissabores familiares e ovelha desgarrada, que não reproduz os valores da família — ele, na verdade, tem “raiva” de gente assim. Já que escreveu aquilo, ela não terá direito a um julgamento justo. Afinal, os nossos irmãos nordestinos merecem um desagravo — nem que seja o linchamento.

Por isso recomendei aqui o filme a O Último Jantar (The Last Supper), de Stacy Title, cuja boa tradução em português seria “A Última Ceia”, já que o filme, por metáfora, evoca um ritual religioso. Não deixem de ver! Por acidente, um grupo de jovens bem-informados, politicamente corretos, muito sábios, acaba tendo de enfrentar a fúria de um fascistóide. Um deles mata o bandidaço. Eles se dão conta, então, de que o mundo não ficou pior com aquela morte. Como não ficaria pior se morressem o pastor homofóbico, o xenófobo, a puritana… Então decidem agir para tornar o “mundo melhor”.  Vejam as conseqüências . Trata-se de um debate formidável sobre o bem, o mal, a tolerância e os tribunais de exceção.

Não são melhores
Não são melhores do que Mayara os que promovem uma guerra entre regiões, os que a tomam como representante de alguma corrente influente em São Paulo e os que a lincham moralmente, não poupando nem mesmo detalhes de sua  vida privada, que nada têm a ver com a besteira que escreveu. Na verdade, são piores. Mayara é só uma moça que disse uma estupidez. O “Correio”, da Bahia, é um jornal que tem responsabilidades de apelo coletivo. Se a jovem viola um princípio constitucional ao escrever o que escreveu, o mesmo fez o jornal baiano. E cadê a OAB para acioná-lo? Cadê o Ministério Público Federal para propor uma investigação? E a Folha? Provem que as informações sobre a vida privada da garota servem a algum outra coisa que não à fofoca e à expiação.

Arremato
Indivíduos dizem bobagens o tempo inteiro. Há uma diferença entre dizê-las e se organizar para pôr em prática as sandices que eventualmente escrevem nas redes sociais. A punição tem de ser proporcional ao crime. E tem de ser aplicada pela Justiça, não por um pelotão de fuzilamento moral ou por aproveitadores interessados em faturar com a guerra regional, que tenta opor o Brasil ao Brasil.

Quem inventou esse país cindido tem um projeto político e dele extrai os melhores resultados para si e para o seu grupo. No dia 27 de março de 2008, durante um discurso em Pernambuco, Lula cobriu de elogios Severino Cavalcanti (PP-PE), ex-presidente da Câmara, afirmando que ele fora derrubado do posto por causa do “preconceito das elites paulistas e do Paraná”. Essa “guerra” tem servido unicamente aos propósitos daqueles que lucram politicamente com o confronto entre Nordeste e São Paulo, entre ricos e pobres, entre brancos e negros…

Poderia, e agora para encerrar mesmo, haver manifestação mais clara do uso vigarista dessas falsas clivagens do que o discurso que Lula fez na sexta-feira? Segundo ele, a sua eleição e a da “companheira Dilma” significaram a superação de preconceitos.  E ele disse isso num pronunciamento oficial! Ora, então a eventual derrota de ambos teria significado o contrário. Logo, a única maneira de a gente demonstrar que ama o Brasil unido é alinhando-se com o PT. As falas de Mayara pertencem a Mayara, o indivíduo. O rumo que tomou essa irrelevância tem de ser pensado à luz da cultura política que está sendo alimentada pelo poder. Em muitos aspectos, Mayara também é vítima de uma ação política deliberada para dividir o país. E há um monte de jornalista tonto ou mau-caráter fazendo o servicinho para o PT. Como sempre.

Por Reinaldo Azevedo
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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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