Um notável assassino da verdade e As políticas turísticas de segurança de Sérgio Cabral, por Reinaldo Azevedo

Publicado em 26/11/2010 11:08 e atualizado em 26/11/2010 21:32

Caras e caros, este é um texto bastante importante para entender o que estava e o que está em  curso. Vamos lá.
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A bagunça no Rio está nos jornais e sites noticiosos do mundo inteiro. Seria notícia a qualquer tempo e em qualquer circunstância, mas chama ainda mais a atenção porque a cidade sediará a Olimpíada de 2016, e o Brasil, a Copa do Mundo de 2014 — a capital fluminense é “o” cartão postal da disputa. E todos se fazem a pergunta óbvia: terá uma cidade com essas características condições de receber esses dois mega-eventos? Falta ainda bastante tempo. Até lá, políticas sensatas, se aplicadas, podem render frutos. Mas cumpre fazer algumas considerações.

As UPPs já eram parte de uma bem-urdida política de marketing. Com ela, o governo conseguiria duas coisas: pacificar a “comunidade”, este substantivo de sentido cada vez mais etéreo, combater o crime e evitar a violência. Uma coleção de objetivos louváveis não faz necessariamente uma política pública eficiente. Bem, a coisa deu no que deu. Em algum momento, alguém rompeu algum acordo — quando o jornalismo parar de aplaudir Sérgio Cabral, talvez se descubra o que houve —, e a situação desandou. Mas reitero: a UPP, ainda que possa trazer algum benefício para os sem-estado, era um programa mais turístico do que de segurança pública. Como? Estou exagerando? Então leiam esta reportagem do Estadão de 18 de agosto (leiam com atenção). ESCULHAMBEI ESTE TROÇO AQUI. FALEI SOZINHO!!!

Recém-incorporadas ao discurso da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) criadas pelo governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) foram adotadas pelo Ministério do Turismo. Com investimento inicial de R$ 184 mil do governo federal, será lançado dia 30, no Morro Dona Marta, com a presença confirmada do presidente Lula, o projeto-piloto Rio Top Tour. O objetivo da iniciativa, anunciada no site do ministério, é “aproveitar o potencial turístico do local a partir da inclusão dos moradores“.

O evento, em plena campanha eleitoral, estava marcado para o dia 13, como havia informado a coluna Palanque. O primeiro anúncio foi feito por Cabral, via Twitter. Ontem, no debate entre os candidatos a vice dos presidenciáveis, promovido pelo Estado, o companheiro de chapa da petista, Michel Temer (PMDB), citou o exemplo das UPPs, tema que virou quase um mantra na campanha.

O texto de divulgação do projeto - realizado em convênio com a Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer do Estado - é só elogios ao programa da Secretaria de Segurança do governo peemedebista: “Depois de um dia de praia, uma caminhada no calçadão e uma visita ao Cristo Redentor, nada mais agradável para o turista que conhecer mais de perto a cultura e tradição de um lugar tão rico como o Rio. Melhor ainda se esse contato se der em uma comunidade que hoje é símbolo de uma nova cidade, com seus serviços, produtos, segurança e hospitalidade prontos para atender todos os visitantes”.

O release diz que o morro, “até pouco tempo marginalizado pela violência e pelo crime organizado, caminha para se tornar esse ponto turístico dentro da Cidade Maravilhosa”. Por e-mail, o ministério informou que o projeto, “executado pelo Estado, é viabilizado por meio de um convênio que contempla uma UPP, embora não estejam necessariamente vinculados”. Ou seja, o Rio Top Tour não seria voltado exclusivamente para locais onde as UPPs estão consolidadas. Essa, contudo, não é a informação que aparece no release divulgado no dia 13, quando o ministro do Turismo, Luiz Barretto, visitou a favela.

“O objetivo é que o Rio Top Tour seja estendido para as demais comunidades que foram pacificadas com as UPPs. A segunda comunidade a receber o projeto será o Morro da Providência”, diz o texto. Barretto afirmou na ocasião estar “certo de que teremos um modelo a ser implementado em outras comunidades da cidade que também precisam desta valorização”.

Segundo o projeto, 50 moradores do Dona Marta - que tem mais de 5 mil moradores - receberão treinamento e haverá uma linha de crédito especial. Estão previstos estandes de informação no morro e em bairros próximos, placas e adesivos para promover pontos turísticos e a distribuição de folhetos em português e inglês. “O charme dos belos mirantes e das paisagens ganhou visibilidade em 1996, quando Michael Jackson gravou trechos de um videoclipe em uma laje no alto do morro”, destaca o ministério.

E agora?
Não é mesmo uma linguagem encantadora, sedutora? A bandidagem, por alguma razão, desarranjou a poesia turística de Cabral, Lula, Dilma e companhia. E a poesia antes oferecida aos turistas foi substituída pela exibição de força. Até havia pouco, a simples menção de contar com a colaboração das Forças Armadas, por exemplo, era considerada absurda. Quando o Exército era excepcionalmente chamado, lá iam os recrutas. Desta vez, são forças regulares.

E muitos — dos jornalistas ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, passando por Sérgio Cabral — falam em “dia histórico”, “decisão histórica” e outras hipérboles. Sem dúvida, estamos diante de uma mudança histórica da política de marketing. Em vez da paz, a guerra. Os turistas continuam de olho. Nunca antes nestepaiz uma política desastrada foi tão aplaudida.

Por Reinaldo Azevedo

Um bobinho metido a sabereta resolveu torrar o “sacrossanto”: “Quem você pensa que é afirmando que já havia advertido que as UPPs não funcionavam?” Faço uma síntese da indagação. Ele é bem mais desagradável e bocudo do que isso. Ué, mas eu havia mesmo! Tenho de esconder isso do leitor? Não é por jactância que o lembro, mas como homenagem ao óbvio. Então vai o texto inteiro, pronto! E olhem  que os bandidos, agora buliçosos, estavam quietinhos, colaborando com a mistificação que estava em curso. Peço que leiam ou releiam o que escrevi no dia 15 de outubro (em azul). Aliás, acho que os freqüentadores deste blog podem tomar este post como um exemplo de que é possível, sim, fazer previsões — desde que se respeite a lógica e que não se opere com premissas falsas. Leiam. Volto para encerrar.

Escândalo aplaudido pela imprensa: Polícia do Rio dá tempo para bandidagem fugir e implanta nova UPP sem tiros e prisões! Quando Cabral for 100% eficiente, terá exportado seus bandidos para outros estados

Aplaudam quantos quiserem, e eu continuarei a chamar de mistificação. A polícia do Rio de Janeiro ocupou ontem o chamado Morro dos Macacos, no Rio, onde um helicóptero foi derrubado por traficantes no ano passado. Marketing da polícia: instalou-se a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) sem um único tiro! Uau! A bandidagem também fica grata e pacificada!

O que terá acontecido? Assinale a alternativa correta:
a - (  ) os bandidos se converteram em trabalhadores honestos;
b - (  )  foram aterrorizar a população em outro morro;
c - (  )  fizeram um acordo de cavalheiros com a polícia.

Essa política de segurança do governador Sérgio Cabral (PMDB), que Dilma Rousseff considera modelo e que seduz tanta gente na imprensa, especialmente a carioca, é uma piada! Ontem, José Mariano Beltrame, secretário de Segurança, concedeu uma entrevista, que vi no Jornal da Globo. Segundo o valente, o objetivo principal dessa política é recuperar território, não prender malfeitores. Ah, bom! Agora está explicado!

Digamos que tenha acontecido a alternativa “b”, não a “c” (embora eu não esteja bem certo disso): há de se supor que Cabral pretenda “libertar” todas as áreas da cidade, acabando com o domínio do narcotráfico por ali, certo?. Certo! Mas sem prender ninguém! Assim, entendemos que os criminosos não estarão nos morros do Rio, mas também não estarão nas cadeias. Logo, se o governador for 100% eficiente em sua obra, os outros estados que se cuidem porque ele estará exportando seus maus rapazes para outras unidades da federação: “O Rio não dá! Vamos para outros estados”.

Cabral é esperto: ele “pacifica”, ganha manchetes positivas e não tem o trabalho de manter presos em cadeias, o que é sempre difícil de administrar e caro. Alguns números explicam certas coisas.

Em dezembro de 2009, a população carcerária no país era de 474.626 pessoas. Do total, nada menos de 34.6% estavam em São Paulo, que tem apenas 22% da população. Será que o estado tem mais pilantras do que os outros ou prende demais? Não! Tem uma polícia e uma segurança mais eficientes. O Rio vinha em quinto lugar, com menos presos do que Minas, Paraná e Rio Grande do Sul. São 399,79 os presos por 100 mil habitantes em São Paulo, contra apenas 166,56 no Rio.

Agora vejam que interessante: no Mapa da Violência, com dados de 2007, São Paulo estava em 25º lugar (antepenúltimo) nos estados com o maior número de homicídios (15 por 100 mil - já baixou para quase 10); o Rio estava em quarto: 45 por 100 mil; a média brasileira é 26 por 100 mil. Não é que mais bandidos na cadeia significa menos cadáveres nas ruas? Incrível!!!

Fico feliz pelas áreas pacificadas - na hipótese de não ter havido apenas uma pacificação com o crime, não sem ele. Mas chegou a hora de Cabral começar a prender os marginais. Ou, então, que ele nos apresente essas almas pias, convertidas ao bom-mocismo. Se não o fizer, no dia em que ele pacificar todo o Rio de Janeiro, terá passado seus malfeitores para seus colegas governadores.

Tudo bem… Eu sei que vêm Olimpíada, Copa do Mundo, o diabo a quatro, e esse papo de polícia pacificadora faz parte desse grande marketing do nosso bundalelê cordial. Mas respeitem minimamente a inteligência de quem lida com a lógica e sabe fazer conta. Quero saber onde estão os traficantes das áreas que a polícia de Cabral ocupou. Sem eles, aconteceu, na verdade, uma de duas coisas: ou acordo ou mera transferência de base de operação.

Se o governador ou o secretário Beltrame tiverem alternativas novas, cartas para o blog.

Voltei
Como viram, até os convidei a explicar a mágica. Não cederam a meu convite. Aí quem cobrou explicação foram as ruas… Como se vê, eu, de fato, havia afirmado que a história de Cabral e Beltrame era uma fábula. Ora, devo me sentir culpado porque antevi o desastre? Autoridades fazem escolhas insensatas, mistificam sobre suas opções, e devemos nos calar em nome da pátria? Uma ova! Não fui eu que antevi nada! Fui apenas um “cavalo” do espírito da lógica!

Por Reinaldo Azevedo

Tentando, só tentando, botar um pouco de ordem na barafunda. É claro que sou favorável às Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Eu sou a favor, aliás, de tudo o que pacifique e não mistifique. O que tenho escrito aqui há quase dois meses, quando a bandidagem ainda fazia o obsequioso silêncio pré-eleitoral (por que acordou depois é um mistério bem-guardado até agora), é que não existe pacificação sem prisão de marginais. Para algum lugar, eu inferia, eles tinham ido, não é mesmo? Das três uma: a polícia do Rio pode prender os bandidos, matar os bandidos ou exportar os bandidos. Decretar a sua inexistência, bem, isso não era possível.

O mesmo se diga em relação às drogas. Como as UPPs eram anunciadas com antecedência — “Olhem que nós estamos chegando” — e como o objetivo não era pôr fim ao tráfico, mas torná-lo mais decoroso, não se apreendia um grama de nada. Nadica mesmo! Tanto é assim que o preço do bagulho se manteve.  Bandido não abre mão de sua margem de lucro. Se o “material” rareia e se há dificuldades logísticas para a oferta — ou mesmo impedimentos para a procura —, a margem se mantém de que modo? Elevando o preço. A lei de mercado, leitor, é a segunda natureza dos humanos — existe na legalidade e na ilegalidade. Se a ação de Cabral desafiava essa natureza, então ela não era o que dizia ser. É uma questão óbvia.

Pois não é que a Polícia anuncia que já aprendeu duas toneladas de drogas depois que a UPP do B — a Unidade de Polícia Prendedora — entrou em ação? Não só isso: 192 pessoas foram presas. E dou de barato, até evidência em contrário, que não estavam lendo Os Lusíadas quando isso aconteceu. Pelo menos 43 teriam morrido. Bem, dada a política anterior de Sérgio Cabral, cujo fracasso é um sucesso!!!, os quase 200 bandidos estariam soltos, e as duas toneladas de drogas, inundando o mercado.

O que estou deixando evidente é que a Unidade de Polícia Pacificadora como política de segurança pública é uma falácia, ainda que, atenção!, a presença do estado nos morros possa trazer alguns benefícios, coibindo delitos no dia-a-dia numa área em que a presença do estado é quase nenhuma. Reitero: é um fracasso COMO POLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA! Bandido tem de ser preso. Drogas e armas têm de ser apreendidas. Sem prejuízo, obviamente, de se procurar ter uma base do estado nas comunidades.

As favelas do Rio precisam, sim, ser pacificadas. Mas, antes de tudo, precisam ser LIBERTADAS, essa é a questão. É preciso ser um tantinho inocente para não perceber o que estava em curso: uma política de acomodação e disciplinamento do tráfico, o que acabou resultado em  mão-de-obra criminosa ociosa. Ou bem ela vai para a cadeia ou bem vai fazer o que sabe: tomar na marra os objetos de seu desejo.

Nas entrevistas, Sérgio Cabral, agora muito pudoroso — não é aquele do palanque…— fala na dimensão histórica do que está em curso no Rio. E, nota-se, trata da bagunça como coisa já resolvida, já solucionada.  Não dá! Alguns leitores não entenderam o sentido daquele texto da madrugada em que afirmo que, até agora, está dois a zero para o óbvio. Quis chamar a atenção, ali, para o fato de que 1) há algum tempo vinha apontado a farsa que era a UPP na forma como vinha sendo vendida; 2) há muitos anos acho que as Forças Armadas têm, sim, de entrar nessa guerra — porque é uma guerra. E não é para matar, não!, mas para salvar vidas, libertar a população refém do narcotráfico.

Assim, dada a realidade, parece-me que as ações em curso procedem. E todos temos de torcer para que os bandidos sejam postos na cadeia. Mas isso não deve nos impedir de apontar que uma mistificação estava em curso. É simplesmente ridículo que Cabral tente vender as decisões de agora como uma simples continuidade do que havia. Beltrame prendeu mais bandidos ligados ao narcotráfico em três dias do que em quatro anos. E apontar esses desacertos é uma obrigação. Mais: o objetivo tem de ser, sim, eliminar o tráfico também nas áreas pacificadas; não existe um modo limpinho e higienizado de vender pó e maconha.

Todo apoio à prisão da bandidagem e às ações que buscam pôr ordem no Rio. Mas a gente não precisa parar de pensar só porque decidiu ser patriota.

Por Reinaldo Azevedo

Um notável assassino da verdade

Se você é do tipo que tem apreço pelos fatos, não faz o que fez a TV Cultura só para provar que, não tendo telespectadores, não tem também preconceitos nem se subordina ao PSDB: chamar Franklin Martins, o ministro da Supressão da Verdade, para um debate. Porque ele há de exercitar a sua especialidade, ora essa: suprimir a… verdade! Assim, independentemente da questão partidária, há um óbice de natureza ética: raposas não arbitram sobre  galinheiro. Este gigante moral deixou claro ontem o que entende por liberdade de imprensa: armou uma entrevista do presidente Lula, que é figura pública, com blogueiros. Mas havia uma exigência: eles tinham de ser “progressistas”. E o evento — bisonho, constrangedor — reuniu os blogs que fizeram campanha para Lula, alguns deles financiados, de modo oblíquo, por dinheiro público. “Queria ser convidado, né?” Não queria. Tivesse sido, não teria ido. Há outros que não têm o nariz marrom. Mas não servia.

Franklin é autor de algumas teses famosas no jornalismo. A mais ousada, sem dúvida, é aquela que assegura que o mensalão nunca existiu — e vocês verão daqui a pouco como ele continua a investir de modo determinado contra os fatos. Essa “coragem” lhe garantiu o apreço de Lula. No poder, sua mais obstinada tarefa tem sido tentar se vingar da Rede Globo, que lhe pregou um pé no traseiro. Tenta transformar a sua vendeta pessoal numa causa pública. E o faz com o caráter sem fronteiras de sempre. Franklin é aquele homem capaz, ainda hoje, de relatar, às gargalhadas, que a ordem era mesmo matar o embaixador americano Charles Elbrick se o governo não atendesse às reivindicações dos seqüestradores. O filme está aqui.  Ele era um dos chefetes da ação e foi quem redigiu o manifesto anunciando a operação e fazendo as exigências. Talvez fosse candidato a fazer com Elbrick o que faz cotidianamente com a verdade.

Quem garante?
Em sua intervenção, o ministro da Supressão da Verdade afirmou que “o governo garantiu a liberdade de imprensa, mesmo apanhando muito”. Bem, é mentira! O governo não garante coisa nenhuma! A garantia vem da Constituição Federal. Os valentes não censuram oficialmente a imprensa porque não podem, não porque não queiram. E acrescentou uma frase de efeito, que costuma repetir, acreditando certamente se tratar de um fabuloso achado: “A imprensa é livre, o que não significa que seja boa”. Franklin deu mostras ontem do que entende por imprensa boa e livre…

Ao defender o que chama de “regulação” do setor, tentou fazer um pouquinho de sociologia, esforço que, no seu caso, é sempre barateado por sua incompreensão essencial do que seja democracia e pluralidade. E, mais uma vez, espancou a verdade com incrível determinação. Leio no Estadão Online — que não se ocupou de, objetivamente, deixar claro que há uma contradição entre a afirmação do ministro e os fatos:
Martins citou ainda o episódio da bolinha de papel como exemplo. “A TV Globo coloca no ar uma reportagem de sete minutos que há anos atrás seria incontestável. No dia seguinte, outras pessoas já haviam decomposto quadro a quadro e viram que não havia a trajetória do segundo objeto. Quer dizer, a informação foi questionada”. Segundo ele, essa alteração na forma de produzir a informação gera desconforto. “Vamos ter de nos adaptar a fazer um novo jornalismo. O leitor terá mais filtros, mais questionamentos”, disse. “Teremos muito mais imprensa do que temos hoje”, acrescentou.

É uma afirmação delinqüente de vários modos:
1 - quem afirma, a não ser os blogs sujos que servem ao governo, que “não havia a trajetória” do segundo objeto?;
2 - perícia técnica demonstrou, ao contrário do que ele diz, que existiu, sim;
3 - o SBT mandou fazer outra perícia para tentar contestar aquela levada ao ar pela Globo. Os peritos chegaram à mesma conclusão. A emissora não levou o resultado ao ar, mas se desculpou publicamente pela tal reportagem da “bolinha de papel”;
4 - a contestação a que Franklin se refere era parte da campanha eleitoral, sem qualquer credibilidade técnica;
5 - assim como o mensalão é evidente, e Franklin nega,  agressão a Serra foi evidente, e Franklin também nega.

Que homem notável! Numa única consideração, ataca o PSDB e a Rede Globo, tentando sugerir uma espécie de conluio entre ambos. Notem: um ministro de Estado deslocou-se de Brasília para São Paulo para protagonizar, a exemplo do que faz seu chefe, mais um capítulo da disputa eleitoral. Os petistas, naturalmente, não seriam “ousados” a ponto de chamar um detrator do partido para um seminário promovido pela TV Brasil — lá, só entra quem conta com as bênçãos de Franklin. Mas a TV que ESTARIA sob a influência dos tucanos (nunca esteve!) convida o Supressor da Verdade para vir espancar o PSDB em São Paulo. E não que eu ache que uma e outra emissoras deveriam servir aos interesses, respectivamente, de petistas e tucanos. O que estranho é que as duas, na prática, acabem servindo ao petismo.

Observem que o próprio texto do Estadão trata, em linguagem referencial, a agressão como “episódio da bolinha de papel”. Não pensem que esse trabalho de Franklin e do subjornalismo sujo —  que não se limita aos bloguezinhos; o que conta mesmo são redes de TV, portais e alguns jornais — é irrelevante. Não é, não! Contamina mesmo um veículo que não pertence à escória a soldo.

Franklin afirmou ainda:
“Não consigo ver nenhum problema do presidente Lula criticar tal ou qual revista. A imprensa não está acima da crítica. Aliás, nem o presidente Lula nem eu nem a Dilma. É normal ser criticado. Isso não afeta em nada a liberdade de imprensa. Há pessoas que, diante da crítica, acham que a liberdade de imprensa está ameaçada. Eu não acredito nisso. A crítica ajuda a crescer”.

Quem está falando? O comandante da Conferência de Comunicação, que aprovou propostas que, na prática, instituem a censura no Brasil; o representante de um governo que já tentou sepultar a liberdade de imprensa com o Conselho Federal de Jornalismo e com uma estrovenga que, aparentemente, dedicava-se à defesa dos direitos humanos. Assim, o governo não se limita a “criticar” a imprensa; tenta amordaçá-la mesmo. Ademais, aplica de modo determinado outra forma nada sutil de controle: usa a verba publicitária do governo e das estatais para punir desafetos e premiar aliados — chegando ao extremo de financiar a pistolagem na Internet.

Mas por que não o faria o negador do mensalão, o negador da agressão a Serra, o homem que gargalha quando fala em homicídio?

Franklin deve acreditar que só escrevo isso porque ele e Lula deixam. Não! Só escrevo isso porque a Constituição me permite e porque é verdade:
- ele nega o mensalão:
- ele nega a agressão;
- ele gargalhou ao falar em homicídio. O próximo seminário da TV Cultura terá como tema: “Goebbels, um homem que revolucionou a verdade”

Por Reinaldo Azevedo

Pergunta à Folha de S. Paulo em defesa dos fatos: “Por que a mentira tem de ser mais ousada do que a verdade?”

Ai, ai…

Houve um episódio interessante no seminário promovido hoje pela TV Cultura sobre liberdade de imprensa, aquele em que Franklin Martins, o açougueiro, ensinava a preparar aspargos. O ministro da Supressão da Verdade reclamou da cobertura feita pela Folha de uma intervenção sua num seminário internacional sobre mídia.

Atenção, leitor! Reproduzo reportagem de hoje da Folha Online. Volto em seguida.

Franklin Martins reclama de enfoque da Folha sobre evento de mídia

Durante o seminário Cultura de Liberdade de Imprensa, realizado pela TV Cultura, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Franklin Martins, reclamou do enfoque que a Folha deu à sua fala no encontro internacional sobre convergência de mídias, promovido por sua pasta.
“A Folha botou na primeira página que eu tinha dito num tom quase arrogante algo como ‘vai haver controle’ –ou regulação, não lembro exatamente a palavra– ‘com consenso ou sem consenso’”, disse o ministro, que completou em seguida: “Eu falei lá exatamente o que falei aqui. Um dos grandes problemas é que temos o hábito de acreditar nos jornais, às vezes não colocamos em dúvida os jornais”.
A reportagem à qual Franklin se refere foi publicada no dia 10 deste mês. Na Primeira Página, a chamada “Governo diz que vai regular mídia mesmo sem consenso” dizia que o ministro “afirmou que o governo está disposto a levar adiante a discussão de novas regras para o setor de mídia digital mesmo sem entendimento”.
Segundo Franklin, a Folha distorceu suas palavras e deu a elas um tom ameaçador não por “ruído de comunicação”, mas por “defeito de apuração” –”com todo o respeito”, acrescentou, “antigamente os jornais tinham mais filtros e fazíamos um jornalismo melhor”.
Em seguida, o ministro afirmou ter ficado “chateadíssimo” com a cobertura: “Não foi isso que eu falei”.
O ministro releu trechos do discurso proferido no seminário internacional promovido por sua pasta, no qual afirma que o debate sobre um novo marco regulatório para mídias digitais está na agenda e que, se o ambiente de confrontação perseverar, não será bom para ninguém.
“Nenhum setor, nenhum grupo tem o poder de interditar essa discussão. A discussão está na mesa, está na agenda, ela terá que ser feita. Ela pode ser feita ou num clima de entendimento ou num clima de enfrentamento. Eu acho que é muito melhor fazer num clima de entendimento”, leu o ministro, que comentou: “Isso foi dado como agressão. Realmente, não consigo entender”.
Sérgio Dávila, editor-executivo da Folha e um dos participantes do seminário promovido pela TV Cultura, respondeu publicamente ao ministro dizendo que, “como ainda não há controle social da mídia, a imprensa é livre até para errar. Se a Folha de fato errou no episódio citado pelo senhor, convido-o a escrever no jornal ou nos dar uma entrevista, que publicaremos com igual destaque”.

Voltei
Sérgio Dávila certamente tem mais motivos para defender a Folha nesse episódio do que eu, não é? Talvez não o tenha feito por uma questão de decoro, que faltou ao outro. O convite que fez talvez possa ser caracterizado como excesso de mesura, ainda que condicionado por uma oração subordinada: “Se a Folha errou…”

Como se trata de um seminário sobre imprensa, o compromisso com a verdade deve estar acima da etiqueta de salão se esta flertar com a mentira. A Folha não errou. Reproduzo trecho de reportagem publicada no dia 10 pelo jornal:
Por Elvira Lobato e Andreza Matais, na Folha Online:
O ministro Franklin Martins (Comunicação Social) abriu hoje seminário internacional promovido pelo governo para discutir novas regras ao setor de mídia digital (rádio, TV e internet) com uma advertência aos empresários. Segundo ele, “nenhum grupo tem poder de interditar a discussão” sobre um novo marco regulatório e é melhor que o debate se dê num clima de entendimento.
“A discussão está na mesa, está na agenda, ela terá de ser feita. Pode ser feita num clima de entendimento ou de enfrentamento”, afirmou.

Agora confrontem com o discurso de Franklin feito naquele dia, segundo ele próprio confirmou hoje:
“A discussão está na mesa, está na agenda, ela terá que ser feita. Ela pode ser feita ou num clima de entendimento ou num clima de enfrentamento.”

E aí? É ou não é muito diferente? Tenham a santa paciência! Sérgio Dávila, com quem já tive um bate-papo muito cordial, é um rapaz inteligente; deve haver em sua reação alguma estratégia que me escapa — já que só dirijo este meu pequeno império de um maluco só. Mas não entendo que mal teria feito a verdade se dita ali, na hora, até em homenagem às duas profissionais que reportaram exatamente o que disse Franklin. Diga-me, Sérgio: por que a mentira tem de ser mais ousada do que a verdade?

Os petistas e o governo Lula confundem muitas vezes os interlocutores porque não são mentirosos comuns, tradicionais. Vejam o que faz Franklin Martins: ele diz, literalmente, que a regulação será feita com consenso ou com confronto — coisa que até Dilma Rousseff se negou a endossar! O jornal noticiou o que ele afirmou. Ele reitera o seu “ou… ou” e insiste que as palavras não significam o que significam.

O primeiro a identificar esse procedimento das esquerdas foi George Orwell, no muito simples, elementar e, ao mesmo tempo, genial 1984. O que era a novilíngua senão as palavras tomadas pelo seu avesso?

Por Reinaldo Azevedo

Franklin e o assassinato. Ou: eles tiram, mas eu ponho de novo!

Hoje em dia, fico esperto. Quando há um vídeo no Youtube, mesmo postado por “eles”, mas do qual podem se arrepender, faço o meu próprio arquivo. Ou eles vão lá e dão sumiço. Imaginem, então, quando é algo postado pelos “adversários”… Escrevi ontem sobre Franklin Martins, o ministro da Supressão da Verdade. Ele participou de um seminário sobre liberdade de imprensa promovido pela… TV Cultura! A emissora promete agora chamar o Lobo Mau para dizer o que pensa dos Três Porquinhos… Epa! Esperem! Hoje, são os Três Porquinhos que estão com tudo, né? A Revolução dos Bichos está em curso - será que fui muito sutil nessa? Adiante.

Na crítica que fiz a Franklin Martins, citei o fato de que, num filme, ele comenta o seqüestro do embaixador americano, de que foi um dos líderes, e explica, com frieza burocrática, que o homem seria, sim, assassinado se as exigências não fossem cumpridas. Sua fleuma de ex-funcionário do terror só é quebrada por uma sonora gargalhada. Pois bem. Publiquei o link do post que trazia o filme no Youtube e… surpresa! O filme não estava mais lá!

Mas eu tinha feito uma cópia. Por isso, botei no Youtube de novo. Nota: não editei; nada tenho a ver as legendas que aparecem. Não creio que o site tenha motivos para tirá-lo do ar outra vez. A razão é simples. Trata-se de trecho do documentário “Hércules 2456″, de Silvio Da-Rin. É uma alusão ao registro do avião que transportou ao México, no dia 7 de setembro de 1969, os seqüestradores do embaixador americano Charles Elbrik. Os diretores do filme reuniram alguns dos que participaram daquela ação para ouvir seus depoimentos, saber como viam a história - para glorificá-los, é claro!

Personagens: Participam da mesa-redonda Cláudio Torres (camisa azul e primeiro que fala), Paulo de Tarso (camisa branca), Franklin Martins (que dispensa caracterização), Manoel Cyrillo (que aparece no quadro enquanto Franklin dá seu depoimento), Silvio Da-Rin e Daniel Aarão Reis (que não aparecem nesse trecho)

Quem já viu pode refrescar a memória para lembrar como se pode ser ligeiro ao falar sobre a morte. Quem ainda não viu tem direito a mais este flagrante do homem que pretende moralizar os meios de comunicação no Brasil.

SÓ COLOCO DE NOVO ESTE VÍDEO NO AR PORQUE, SENDO UM BLOGUEIRO PROGRESSISTA, ACHO ERRADO GARGALHAR QUANDO SE FALA EM MATAR PESSOAS. ACHO ISSO COISA DE REACIONÁRIOS!

Por Reinaldo Azevedo

A fala de FHC sobre meios de comunicação. Ou: quem precisa de controle é Franklin Martins

Que tal a gente botar ordem no debate pistoleiro sobre os meios de comunicação no país? Leiam o que informa a Folha Online. Volto em seguida:
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O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou nesta sexta-feira que é “impossível” não haver regulação da mídia no que diz respeito aos meios de difusão, mas destacou que o controle do conteúdo é contrário ao espírito da democracia. Para FHC, porém, a discussão sobre o tema precisa demorar “muito tempo”. Não deve, diz ele, ser colocada “goela abaixo” do Congresso e do país.

“No debate atual, existe uma certa confusão. Estamos misturando a necessidade eventual da organização dos meios de difusão, inclusive por causa das novas tecnologias e da convergência entre plataformas, que requerem alguma regulação, com aquilo que não requer regulação, que é o conteúdo”, afirmou.  ”Por outro lado, é impossível não haver regulação no que diz respeito aos meios de difusão.”

FHC participou nesta manhã do segundo dia do seminário “Cultura de Liberdade de Imprensa”, promovido pela TV Cultura. Em sua palestra, criticou a atual situação das agências reguladoras, introduzidas no Brasil durante o seu governo. Segundo o ex-presidente, as agências estão sendo “minadas em termos de confiabilidade” por causa da “ingerência política”, com a indicação de “pessoas de partido” para cargos relevantes.

De acordo com FHC, a queda de confiabilidade das agências faz com que o debate sobre regulação de concessões seja eivado de desconfiança. Além disso, diz o ex-presidente, a proposta nasce neste governo no local errado. Para FHC, deveria vir do Ministério das Comunicações, e não da Secretaria de Comunicação Social, que é “um âmbito político”.

Comento
É claro que a fala de FHC será usada pela canalha que quer censurar a imprensa sob o pretexto de regulá-la: “Estão vendo? Até FHC é a favor!” A favor de quê? A fala do ex-presidente, diga-se, coloca as coisas em termos corretos. Já volto a ela. Antes, algumas considerações.

Esquecem-se os valentes de que a tal “mídia” já é regulada hoje em dia. Fica até parecendo que não existem um regime de concessões — que pode ser atualizado — e limites à radiodifusão impostos até pela Lei Eleitoral, eivada de bobagens, diga-se. Existem regras. Precisam ser atualizadas? Precisam, sim. Mas quem são os interlocutores?

Franklin Martins quis chamar todos os inimigos da imprensa livre, defensores de um jornalismo partidário e militante — à moda dos “blogueiros progressistas” que entrevistaram Lula, o patrão — para debater com as empresas de comunicação e partidários do regime democrático em geral um marco regulatório… Ele que vá caçar sapo na beira do brejo! Pescoço não negocia com corda, se me permitem o clichê.

FHC está certo: se a regulação que o governo pretende tem caráter essencialmente técnico, por que tem de ser Franklin o condutor do debate? Se a idéia nunca foi controlar o conteúdo, o que é mentira, a que vêm as dezenas de propostas fascistóides aprovadas na Confecom e os absurdos propostas no Programa Nacional-Socialista de Direitos Humanos?

Franklin pretendeu armar um cerco à imprensa livre com determinada e metódica desfaçatez. A gente sabe que ele é capaz de coisa pior do que isso, como ele próprio já confessou.

Quem precisa de controle democrático é Franklin Martins. Não se esqueçam de que, ontem, ele contou uma deslavada mentira ao afirmar que há evidências técnicas de que Serra não fora agredido no Rio. É justamente o contrário. Há provas de que foi. O ex-jornalista quer regular a mídia, mas sem manter um compromisso com a verdade.

Por Reinaldo Azevedo

Não se esqueçam da promessa de Dilma: levar a política de segurança pública do Rio para todo o Brasil…

Peço que vocês vejam este filme. Volto em seguida:

Voltei
O discurso de Sérgio Cabral é o que é. Já afirmei uma vez que, da safra que está aí, ele é O político que mais se parece com o presidente Lula na ligeireza e na generosidade com que sintetiza a própria biografia — sem nunca esquecer de exaltar o Babalorixá: Cabral também é bom na lisonja. O que me interessa mais é a fala de Dilma.

A agora presidente eleita ligou para o governador expressando sua solidariedade e confiança. Os dois, como vimos, marcharam juntos. Durante a campanha eleitoral, a petista largou o braço na segurança pública de São Paulo — afinal, o adversário era José Serra — e exaltou a do Rio. Há nove homicídios por 100 mil habitantes  em São Paulo; no Rio, com UPP e tudo, é quase o quádruplo. Mas a referência de Dilma era a política de Cabral.

Segundo o governo do Rio, a ordem para botar fogo no circo das UPPs partiu dos presídios federais. Na fala de Dilma, como viram, eles eram a solução. Ao fazer referência ao crime organizado nos presídios, estava aludindo ao PCC e atacando, uma vez mais,  o estado que tinha sido governado por seu adversário.

Dilma prometeu levar a política de segurança pública do Rio para todo o Brasil.

Por Reinaldo Azevedo
Violência no Rio: nem Foucault nem Capitão Nascimento, mas Aristóteles

Se você é do tipo que se propõe problemas um tanto complexos pouco antes de dormir, então, leitor, é um candidato à insônia. Para conciliar o sono, achamos, muitas vezes, uma solução eficaz, definitiva mesmo. Acordamos no outro dia, tudo tende a estar como era antes, mas não porque não tenhamos encontrado a resposta, certo? O mundo é que obtuso demais e não percebe aquele óbvio que percebemos, ali, no entorpecimento. A vida só é suportável por isto: acreditamos que a solução exista, ainda que poucos a reconheçam… É a loucura cotidiana de cada um de nós.

Como resolver o problema da violência no Rio ou em qualquer outro lugar em que a bandidagem tenha roubado nacos do estado de direito? Papinho ongueiro com bandido ou porrete? Ensinando moleque a bater lata e a viver comunitariamente, apelando às virtudes de nossa ancestralidade, como ato de resistência à dita violência do Estado? Militarizando os morros e a periferia? Vamos de Foucault ou de Capitão Nascimento (o do primeiro filme; o do segundo pensa ser Foucault…)? A resposta sensata: e a se a gente fosse de Aristóteles? Isto: o meu delírio pré-sono é começar a preparar agora um exército armado de livros para estudar lógica. Daqui, sei lá, a 15 anos, eles se espalhariam Brasil afora. Mas parece que Fernando Haddad vai continuar na educação… Vale dizer: continuaremos com as duas mãos, a exemplo dos pés, bem plantadas no chão.

Nem Foucault nem Nascimento! Aristóteles! Por que faço essa observação?

Os “especialistas” das universidades e estudiosos da violência já foram convocados pela imprensa para opinar sobre as ações da polícia no Rio — e não, eles não estudaram lógica; a gente nota que não. Não é pelo formato do crânio que se percebe; é pelas coisas que dizem. Engabelam os ouvintes, leitores e telespectadores com inferências que ou são burras ou são malandras.

Assim:
“Se as incursões nas favelas, o enfrentamento e a prisão de traficantes não resolvem definitivamente o problema, então elas não podem ser feitas”.

Pode-se ser ainda mais afirmativo:
“Como as incursões nas favelas, o enfrentamento e a prisão de traficantes não resolvem definitivamente o problema, é preciso suspender essas ações”.

O problema dessas inferências está na falsidade das asserções iniciais. Uma ação repressiva —  qualquer uma — não busca “resolver” o problema, mas responder à desordem com a lembrança da ordem, mesmo que não seja “a” solução. A Polícia não prende o  homicida a Rua X para pôr um fim a todos os homicídios.

Mas também se pode acertar na asserção inicial e chegar a uma conclusão não menos estúpida:
“Já que a resposta à violência requer educação, saúde e infra-estrutura de mais qualidade, então as ações repressivas são inúteis”.

Essa é a mais perversa das ilações porque ignora que as conseqüências das causas que não tiveram a seu tempo resposta adequada serão causas de outra conseqüências deletérias. Porque existe, sem dúvida, lógica nessas inferências, fica parecendo que são corretas, sem que se atente para a falsidade das asserções. E chegamos aonde chegamos.

Por Reinaldo Azevedo

Uma formidável coleção de bobagens!

Leio na Folha Online o que segue. Volto em seguida:

Deputado federal defende na TV agressões físicas para mudar “filho gayzinho”

O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), reeleito para a próxima legislatura, afirmou que caso os pais queiram mudar o comportamento de um filho homossexual, é necessário recorrer a agressões físicas. A “receita” do parlamentar foi dada durante um debate no programa “Participação Popular”, na TV Câmara, que discutiu a “Lei da Palmada” - projeto de lei que proíbe qualquer punição corporal - na última quinta-feira (18). “Se o filho começa a ficar assim meio gayzinho, [ele] leva um couro e muda o comportamento dele”, afirmou. Confira a declaração abaixo.

Bolsonaro é membro da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara. Ele manteve sua posição em entrevista à Folha. “O pai tem o direito de dar umas palmadas no filho dele. Se o garoto anda com maconheiro, ele vai acabar cheirando, e, se anda com gay, vai virar boiola com toda certeza. Nesse momento, umas palmadas nele coloca o garoto no rumo certo”, disse por telefone. Ele ainda afirmou que não é “um caçador de gays”, mas acha um “absurdo” não ser permitido fazer piadas sobre eles. “Não venham querer se impor, achar que são uma classe a parte, que são privilegiados”.

Comento
Antes que comente as estultices de Bolsonaro, algumas considerações.

Escrevi aqui longamente sobre a PL 122, a tal lei que criminaliza a homofobia, e seus absurdos, que violam, entendo, a Constituição e tentam criar uma casta de pessoas — em vez de integrá-las à sociedade. Há algum tempo, critiquei a tal lei da palmada, que praticamente estatiza as criaças, confundindo tapa no traseiro com espancamento. Exageros produzem absurdos. Li outro dia no Estadão que um rapaz de 18 anos foi preso porque flagrado beijando outro de 13 no saguão de um  cinema, local público. Os dois se assumem homossexuais. O maior de idade foi em cana, acusado de “estupro de incapaz”.  Nem sei se continua na cadeia, com o peso que significa a pecha de “estuprador” num ambiente como aquele. Sob o pretexto de se combater o molestamento sexual de crianças e adolescentes, beijo agora é estupro. É uma estupidez!

Nesse caso, notem que o excesso de proteção ao “incapaz” acaba esbarrando, de algum modo, no preconceito: ou um menino de 18 seria acusado de “estupro” por estar beijando no saguão de um cinema uma garota de 13, que ali estivesse, como era o caso do rapaz, por livre e espontânea vontade? Duvido! A lei da homofobia é um exagero contraproducente. A lei da palmada é um exagero contraproducente. A lei que transforma beijo em estupro é um exagero contraproducente. Todas essas “proteções” têm em comum uma direção errada: partem do princípio  de que se pode mudar a sociedade, de que se podem mudar os costumes, de que se pode fazer uma revolução de comportamento quase por decreto. Agora vamos ao deputado.

As estultices ditas por Bolsonaro colaboram com esses extremismos legiferantes, que acabam agredindo direitos individuais e universais sob o pretexto de proteger minorias. Com a mesma energia com que aponto o caráter autoritário dessas leis, repudio essa coleção de grosserias. E não o faço porque me converti ao “outro-ladismo”, que tanto repudio, ou ao juízo “nem-nem”. Naquele mesmo texto em que escancaro o caráter autoritário da PL 122, deixei claro que não considero que o sujeito é gay por opção — até fiz uma ironia, afirmando que “homossexualidade não pega”, já que não é doença. Disse-me ainda favorável à união civil e, a depender do caso, à adoção de crianças por parceiros gays. E isso nada tem a ver com uma lei que possa impedir as pessoas ou as religiões de dizer o que pensam a respeito.

As palavras deste senhor são asquerosas. Para quase não variar, lá está ele metendo os pés pelo cérebro, falando bobagem às pencas, provocando um efeito contrário ao supostamente pretendido. Os petralhas poderiam dizer: “Vocês estão do mesmo lado!” Uma ova! Nem no mérito nem nos desdobramentos. Não estamos do mesmo lado porque eu não acho que a palmada possa fazer um gay deixar de ser gay — eu, de fato, acredito que não existe um “que fazer” nesse caso. Recomendo aos pais que amem e aceitem seus filhos como são, deixando claro que há o caminho da dignidade e da indignidade na hetero e na homossexualidade. E não estamos do mesmo lado também porque eu combato a PL 122, e Bolsonaro é um desses que fazem essa lei parecer necessária, justa e democrática.

Ele deveria pedir desculpas pelas asneiras que disse. Nem precisa ser aos homossexuais. Ao homo sapiens já está de bom tamanho. Arre!!!

PS - Ah, sim: eventuais defensores das opiniões expressas pelo deputado nem precisam declarar que nunca mais visitam o meu blog. É um favor que me fazem. Quanto menos o conservadorismo se confundir com a burrice, melhor!!! Se esperavam encontrar acolhida aqui para porcarias como essas, estavam na página errada. Este é um blog que defende direitos!

Por Reinaldo Azevedo

Um tempinho para discutir a relação com os leitores e lembrar alguns princípios

Antes que faça o texto do dia sobre o Rio de Janeiro, uma observaçãozinha. Há uns tontos achando que tentei flertar com a esquerda ou com o politicamente correto ao apontar as bobagens ditas por Jair Bolsonaro (post abaixo). Uma ova! Até porque eu não escrevo para “conquistar” a simpatia de ninguém, de direita, de esquerda ou de centro. Penso o que penso — alguns gostam de tudo, outros detestam tudo, outros ainda acolhem uma parte e discordam de outra. É por aí mesmo. Não ambiciono a unanimidade. Não sou aiatolá. Sei bem o que disse Bolsonaro — ele não fez questão nenhuma de esconder. Não vou repetir argumentos.

Olhem aqui: eu tenho horror ao comportamento de manada. Essa é uma, não a única, das razões que me tornam incompatível com as teses de esquerda. Mas isso não quer dizer que qualquer opinião antiesquerdista — ou supostamente antiesquerdista — me sirva. Fosse assim, estaria eu a endossar a manada do outro lado. Não há perigo de isso acontecer. Só em estádio de futebol eu gosto de ser “galera”, eu me deixo levar por um sentimento coletivo. É expressão de paixão, não de razão: “Aqui tem um bando de louco…” É duca!!!  E, obviamente, também nesse caso, repudio a violência.

Ademais, pergunto: Bolsonaro colabora para que as coisas sejam colocadas nos seus justos termos? Se eu fosse militante de qualquer uma daquelas causas, a essa hora, estaria grato ao deputado. Ele é uma das vozes que conferem verossimilhança à necessidade de uma lei que puna a homofobia — mesmo sendo uma lei bucéfala como o PL 122. Não soubéssemos todos que ele é realmente, com posso dizer, “singelo” daquele jeito, a gente poderia desconfiar de que está fazendo um trabalho subliminar em favor da proposta. Se Bolsonaro representasse a direita, seria o direitista que todo esquerdista pediu a Deus — ou ao demônio, já que “esquerdista e Deus”, no se diz em Dois Córregos, “não ornam”…

Eu não pretendo flertar com ninguém, a não ser com um pensamento que não se preocupa em se amarrar a essa ou àquela corrente. Dado o que há no mercado das idéias, acho que me enquadro no que era chamado antigamente de “direita democrática” — hoje em dia, que eu saiba, os banqueiros que reciclam papel e que financiam ONGs contra o aquecimento global são de centro-esquerda, certo? Não tenho partido nem tenho turma. Não acredito que haja salvação para o homem fora da responsabilidade individual. No mundo laico, essa é a minha religião.

Se um deputado, com a responsabilidade da representação, afirma: “Se o filho começa a ficar assim, meio gayzinho, [ele] leva um couro e muda o comportamento dele”, esperam que eu diga o quê? Isso não é nem de esquerda nem de direita: isso é apenas estúpido. Ou melhor: os comunistas e os fascistas poderiam endossá-lo plenamente. Assim é na Cuba de hoje; assim foi na Alemanha nazista.

Eu não espero nem quero endosso da esquerda, da direita, do centro… Quando um pensamento ou um blog que seja têm o propósito de servir como mero instrumento de uma causa, então já está morto. Não serei o “outro lado” dos “blogueiros progressistas”. Eles não são meu oposto; eles são de outra espécie. Eu quero, aí sim, é romper falsos consensos, apontar o fundo falso de certas, se me permitem o plural inusual, mas possível para a palavra, “doxas”. Esse é o meu papel. Se a esquerda apanha muuuito mais, é porque é ela que detém hoje a hegemonia do debate político e cultural no Brasil e, em larga medida, no mundo ocidental. Curiosamente, ser antiestablishment, hoje em dia, é ser antiesquerdista. Mas isso pode render pano para outro texto.

Os leitores de sempre já sabem, os eventuais fiquem avisados: eu jamais deixaria de escrever o que penso sobre isso ou aquilo na suposição de que boa parte dos meus leitores, ou a totalidade deles, não concordaria comigo. Nunca!!! No dia em que me sentir compelido a fazê-lo, fecho o blog e vou procurar emprego como editorialista em algum jornal. Acho que escrevo direitinho, li alguns livrinhos e sou bastante rápido. Seria um funcionário dedicado. É um emprego digno, sim, mas os textos não são assinados. Um grupo de pessoas decide qual é a opinião sobre um determinado assunto, e o redator procura expressar aquilo com clareza, sem assinatura.

Já fiz editoriais de jornal. Já escrevi coisas com as quais não concordava. É um exercício interessante: a gente se sente mesmo um operário das palavras. E também é intelectualmente prazeroso: ao procurar tornar racionais e aceitáveis argumentos contra as nossas próprias convicções, entendemos um pouco mais a cabeça do “outro”. Quando dava aula de dissertação, recomendava aos alunos que, ao argumentar, tentassem ter clareza do argumento contrário, sem transformá-lo numa caricatura.

Quando me opus aqui às pesquisas com células-tronco embrionárias, sabia a briga que estava comprando. Apanhei muito. Até hoje, não conseguiram dar uma resposta satisfatória ao dilema moral que propus, e continuo contra. “Obscurantista”, dizem alguns. Paciência! Quando chamei de “inconstitucional” o Ficha Limpa, sabia, igualmente, que desagradaria a muitos leitores — “legalismo exagerado”, disseram outros tantos. Pois é… Nada fora da Constituição ou contra ela, é o meu lema. Ainda que alguns vigaristas possam ser beneficiados por isso, condescender com a inconstitucionalidade me parece pior. Combater a tal PL 122 vai contra a maré influente? E daí? É do jogo. Repudiar as cretinices de Bolsonaro pode parecer um flerte com quem me detesta? Até pode. Mas me sinto seguro: afinal, “eles” me detestam, hehe.

Não! Só escrevo aquilo em que acredito e não me sinto certo ou errado a depender de quantos estejam do meu lado. Nada impede que a mentira tenha muitas companhias e que a verdade seja solitária, o que também não quer dizer que a solidão seja um poço de virtudes, e as crenças coletivas, de vícios.

A minha crença é a liberdade. Na minha imaginação, os meus adversários estão sempre de pé, lutando — ainda que alguns, a exemplo de Lula, gostassem de extirpar os seus, eu inclusive. Eu os combato porque incivilizados, não porque considere a minha eventual incivilidade superior à deles. Eu acredito que é uma imposição moral controlar a besta que mora em todos nós, em vez de soltá-la. Um brinde à liberdade e às idéias que nos fazem melhores e mais donos do nosso destino! No mundo laico, essa é a minha religião. A minha ética é a do guerreiro; quem elimina ou constrange o outro na porrada é o terror.

Por Reinaldo Azevedo

VIOLÊNCIA NO RIO: DOIS A ZERO PARA O ÓBVIO

Eu não sou especialista em segurança pública, como sabem. Aliás, até me orgulho de não ser especialista em nada. Sou apenas um escrevedor dedicado. E gosto um tantinho de lógica. Vinha escrevendo havia algum tempo, e a bandidagem ainda não estava botando pra quebrar no Rio, que não existe “pacificação” de favela sem prender bandido — assim como não existe comunidade em paz onde há milícias; é um mal diferente, mas mal ainda assim. O que a política de Sérgio Cabral e José Mariano Beltrame vinha fazendo era espalhar a bandidagem, sem prender ninguém.

Afirmei que não daria em boa coisa. Bem, eu estava certo. Uns 200 correram lá pro Complexo do Alemão, que já chamei aqui de “Complexo da Ideologia Alemã”, numa homenagem irônica aos nossos marxistas de salão.  Convertidas as UPPs em votos, o “idealismo” não tardou a cobrar seu preço. Por que os traficantes foram à luta logo depois das eleições? Eis um dos mistérios a serem desvendados com mais investigação e menos “patriotismo”. Em áreas do Complexo do Alemão estão algumas obras do PAC. Se a marginália não vai em cana, torna-se a principal beneficiária da melhoria da infra-estrutura local. Isso também  é lógica. Então ficamos assim: UM A ZERO PARA O ÓBVIO: BANDIDO TEM DE SER PRESO. Não prendiam antes; estão tentando fazê-lo agora.

Todos vimos os blindados da Marinha auxiliando a Polícia. Agora, 800 homens do Exército vão entrar na operação, além de dois helicópteros da Força Aérea, mais 10 veículos blindados, óculos para visão noturna etc. Huummm… DOIS A ZERO PARA O ÓBVIO. Defendo que as Forças Armadas colaborem para recuperar áreas do território brasileiro tomadas pelo narcotráfico há pelo menos 15 anos. Lembro alguns textos neste blog:

No dia 17 de junho de 2008, num post intitulado O Brasil sob o comando do CDC. O que é CDC? Explico já“, escrevi:
Quando é que o Brasil tomará a decisão de recuperar partes do território brasileiro que foram tomadas pelo Estado Multinacional do Tráfico? Se e quando isso for feito, a tarefa caberá, sim, às Forças Armadas. Não ignoro que muitos dos comandantes são contrários a que se atribua “ação de polícia” a homens que se preparam para a guerra. Não estou falando em ação de polícia, não. Que esta continue a fazer o seu trabalho. Mas, para tanto, é preciso que ela consiga primeiro chegar ao morro. E como isso será feito? Sim, estou falando de uma guerra - uma guerra bem particular, mas guerra.

Antes disso, no dia 10 de setembro de 2007, no texto Crime opta pelo terror; inerte, o governo federal sorri“:
Há quanto tempo se espera uma ação organizada - e não paliativa - das Forças Armadas para conter o crime organizado no Rio de Janeiro? É evidente que já se tornou um assunto de segurança nacional. O tráfico rouba território, como em qualquer guerra.

Mas posso recuar ainda mais no tempo, no dia 9 de abril de 2007, no postCabral, as Forças Armadas e o lero de Tarso:
O crime recrudesceu no Rio no começo deste ano, o que o próprio governo admite oficialmente. E isso acontece apesar da presença, na cidade, da Força Nacional de Segurança, que evidencia, assim, a sua inutilidade - ao menos numa situação extrema como a que vive hoje o Rio.
Cabral promete dobrar o efetivo policial até o fim do seu mandato. Não é uma medida trivial. Isso supõe muito dinheiro, e é de se duvidar que o governador consiga os recursos. Por isso ele pediu a ajuda das Forças Armadas, e Tarso Genro, ministro da Justiça, já disse “não”. Ao pedido do governador, reagiu assim:

As Forças Armadas são treinadas para outro tipo de ação; são homens que fazem uma intervenção já no âmbito de guerra. Portanto não há adequação de seu treinamento para funções de policiamento (…) Temos uma visão de princípios sobre isso. É a visão da Constituição, não é a opinião do ministro (…) Hoje há uma situação de insegurança em todas as regiões metropolitanas muito séria. É necessário fazer um movimento em pinça, ou seja, um trabalho de policiamento de ataque às fontes que produzem a criminalidade e assim por diante“.

Vamos ver. Tarso me diga, então, onde está a guerra para que a gente possa ocupar os nossos soldados. Eu lhe respondo: está no próprio Brasil. O narcotráfico se estabelece ocupando território. No dia em que o sr. Genro puder subir algum morro do Rio e hastear lá a bandeira nacional, em vez da bandeira do crime, então a sua fala ganhará sentido. Até que um exército paralelo estiver impondo um outro Estado, que não o de Direito, a sua fala se perde no vazio. Quanto à questão constitucional, é óbvio que ele está fazendo uma leitura arrevesada da Carta. As Forças Armadas também respondem pela ordem interna. Se ela estiver ameaçada - e está: pelo crime -, convocá-las é ato absolutamente constitucional. Basta que o governador do Estado queira e declare a impossibilidade de garantir a segurança. É o que Cabral está fazendo. Não é preciso votar uma nova lei. A história do tal “movimento de pinça” é só um tarsismo a mais: não quer dizer absolutamente nada.

Voltei
A Polícia do Rio, com o auxílio das Forças Armadas, tem de ir lá buscar aqueles 200 que se acoitaram no Complexo do Alemão. Já sabemos que soluções mágicas não existem. E não custa lembrar: a Constituição reserva às Forças Armadas um papel na segurança interna. Neste blog, no dia 6 de novembro de 2009: 
AS FORÇAS ARMADAS E O PAPEL DE POLÍCIA:

E o novo texto da Lei Complementar 97, que confere poder de polícia às Forças Armadas quando a polícia propriamente dita não estiver presente ou não tiver capacidade para atuar? Contra ou a favor? Dos males, o menor: a favor. Mas é preciso detalhar a opinião.

Comecemos pelo princípio. O Artigo 142 da Constituição não deixa dúvidas sobre o papel das Forças Armadas:
“As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.”

Como se nota, as Forças Armadas podem participar ativamente da Segurança Pública. É rigorosamente isto o que quer dizer “garantia da lei e da ordem”. Um exemplo? Sabem o Complexo da Ideologia Alemã, no Rio, onde se executam as obras do PAC e a Polícia não entra? Ali, não se tem “garantia da lei e da ordem”. Adiante: o que há de ruim nesta história é que se está fazendo só um remendo. Eventualmente, as Forças Armadas vão atuar na fronteira, onde a polícia não estiver etc. É pouco. Uma decisão correta, na sua essência, já nasce sob o signo da fraqueza, da falta de determinação, da falta de vontade.

É preciso ter um plano consistente, organizado, com um comando definido - e não há nem haverá nada disso - para que as Forças Armadas passem a atuar efetivamente no combate ao tráfico internacional de drogas e de armas. E as áreas hoje dominadas pelo narcotráfico - onde o estado, por meio das polícias, não entra - têm de ser recuperadas. É uma tarefa das Forças Armadas.

Conheço os óbices a essa tese, vindos também de muita gente boa. O temor é que as próprias Forças Armadas acabem infiltradas pelo narcotráfico. No atual andar da carruagem, se quiserem saber, a infiltração acabará sendo fatal, atuem elas ou não com poder de polícia. Precisamos é de um serviço eficiente de Inteligência que combata e puna a contaminação.

Compreendo, sim, a restrição de muitos militares honestos a esse eventual papel das Forças Armadas. Afirmam que elas são treinadas para atuar em conflitos com forças estrangeiras. Sem apelar a qualquer licença poética, é preciso reconhecer que o narcotráfico é uma força estrangeira. Fernandinho Beira-Mar, que, comprovadamente, negociava com as Farc - aquela entidade que já dividiu o Foro de São Paulo com o PT - não é mais uma “força” apenas interna; o tal FB, que derruba helicóptero, é só a face nativa de uma questão de alcance mundial. Acho que é preciso uma abordagem menos convencional da questão sem deixar de lado a ortodoxia sobre qual é o papel das Forças Armadas.

Por Reinaldo Azevedo

Viva o Rio! Ou: Beltrame estava constrangido porque sabe que teve de trocar a UPP pela UPP do B!

Vamos lá. É evidente que eu me integro ao esforço patriótico contra a barbárie nas ruas e nas favelas do Rio. Sempre que os bandidos estiverem de um lado, eu estarei DE outro, mas não necessariamente DO lado de uma política oficial errada. Em 2006, em São Paulo, também foi assim. O PCC deu ordem para barbarizar, a polícia foi para as ruas, botou ordem na bagunça. O que acho positivo desta vez, na comparação com o que se deu em São Paulo, é que não há, pelo menos até onde alcanço, jornalistas tentando ouvir advogado de bandido como se fosse o “outro lado”. Naquele caso, a desordem era, claramente, uma tentativa de influir nas eleições. Desta feita, reinou a paz pré-eleitoral — tanto é assim que as UPPs foram um cabo eleitoral e tanto —, e a confusão, estranhamente, se deu depois. Se eu fosse jornalista investigativo, veria um monte de chifre na cabeça desse cavalo. Isso parece jabuti na mão do Chico Buarque: há algo de estranho aí. Fica até parecendo que há reação a algum acordo não-cumprido.

Vi ontem no Jornal Nacional uma entrevista de José Mariano Beltrame, secretário de Segurança do Rio. Ele sabe que teve de mudar a sua política, tanto que se nota certo constrangimento, ainda que isso não seja, de modo nenhum, explorado pela imprensa. O clima patriótico não deixa. QUAL ERA UMA DAS RESERVAS DESTE ESCRIBA CONTRA A TAL POLÍCIA PACIFICADORA? O governo se orgulhava, para júbilo dos “pacifistas”, de ocupar morros sem dar um tiro e sem prender ninguém. Aliás, o aviso era feito com antecedência. Quem achasse por bem deveria cair fora. E uma parte caía. O essencial ficava para negociar. Vocês leram em algum lugar que o tráfico está extinto nos morros “pacificados”?

Qual era a minha outra reserva com a política anterior? Se ninguém é preso, a bandidagem vai se alojar em outro lugar — convertida à “religião” da cidadania é que não foi. E foi o que vimos ontem nas imagens aéreas transmitidas pelo Jornal Nacional: um verdadeiro exército armado migrando da Vila Cruzeiro para o Complexo do Alemão. Um dia, eu sei, a polícia chegará lá. Mas fica a pergunta: chegará como tem feito neta semana, PRENDENDO BANDIDOS (bem poucos ainda) ou chegará como vinha fazendo, ESPALHANDO OS BANDIDOS?

O jornalismo pode ignorar a MUDANÇA DA POLÍTICA, mas Beltrame, ele próprio, não ignora. Na declaração de ontem, afirmou que “prender bandido é importante, que apreender droga é importante, mas o mais importante é recuperar o território”. A frase está errada: a recuperação do território é o objetivo. E deve ser alcançado prendendo os bandidos e apreendendo as drogas. Não há uma hierarquia nessas ações. Ocorre que ele tenta, no discurso ao menos, conciliar a política de agora com a política de antes, passando a impressão de que se trata de um conjunto de ações, de continuidade.

E não é verdade. Os fatos me dão razão. O governo do Rio acreditou certamente que poderia haver milagre; que bandido com menos emprego no mundo crime — os pés de chinelo do tráfico das áreas “pacificadas” estão desempregados — talvez procurasse trabalho honesto. A escalada dos crimes comuns na cidade já sugeria que a coisa não era bem assim. E não era mesmo!

O lugar de toda aquela gente que vimos fugindo é a cadeia. Se não deu para prender hoje, que se tente amanhã, depois, quando for possível. O QUE CABRAL E BELTRAME NÃO PODEM MAIS É “PACIFICAR” ÁREAS TOMADAS PELO NARCOTRÁFICO SEM PRENDER NINGUÉM. ESSA POLÍTICA FOI PARA A CUCUIA. ATÉ PORQUE, SE DESSE CERTO PARA O RIO, SERIA UMA TRAGÉDIA PARA OS ESTADOS VIZINHOS: O RIO SE TORNARIA EXPORTADOR DO CRIME.

Beltrame estava ontem um tanto constrangido porque sabe que teve de trocar a UPP pela UPP, a Unidade de Polícia Pacificadora pela Unidade de Polícia Prendedora — que batizei aqui de “UPP do B”. Sempre destacando que prendeu muito pouco até agora. E bandido solto, como sempre adverti aqui, é um  problemão!

Por Reinaldo Azevedo

(do Blog de Augusto Nunes): 

O exército fantasma do Planalto só sabe entrar em combate na guerra eleitoral

Ao longo da campanha eleitoral, Dilma Rousseff recitou a cada comício, debate ou entrevista que faltava pouco para que o sistema de segurança pública, a exemplo do que ocorreu na área da saúde, chegasse à perfeição. Graças ao padrinho, garantiu a afilhada, nem teria muita coisa a fazer depois de eleita. Nos últimos oito anos, a violência dos tempos de FHC foi progressivamente substituída pela paz da Era Lula. Ponto para o estadista que encarou a herança maldita.

No meio da discurseira, aparecia inevitavelmente o exemplo do Rio. Com a disseminação das Unidades de Polícia Pacificadora, as miraculosas UPPs, o companheiro Sérgio Cabral concluíra a façanha histórica iniciada pelo PAC e consolidada pela popularidade de Lula. Nem o mais insensato comandante do narcotráfico ousaria enfrentar os 80% do maior dos governantes desde Tomé de Souza.

Dado o aviso, Dilma sacava do coldre imaginário o trabuco com a bala de prata: se alguma facção do crime organizado tentasse conflagrar os morros cariocas, o Mestre não hesitaria em mobilizar a temível Força Nacional de Segurança Pública. Por que o exército medonho até hoje não foi visto em ação? “Porque o governo de São Paulo não quis”, repete Lula desde 2006, quando a capital do Estado administrado pelo PSDB foi convulsionada por sangrentos ataques simultâneos do PCC.

Em campanha pela reeleição, Lula e Tarso Genro, ministro da Justiça e marechal da Força Nacional, baixaram em São Paulo para informar que poderiam sufocar a rebelião em quatro ou cinco horas. Bastava uma solicitação formal do governador. Pena que os tucanos paulistas tenham teimado em ignorar o bom exemplo dos companheiros cariocas, suspirava Lula antes que a violência no Rio recrudescesse com dimensões apavorantes. O segredo é a aliança entre os governos federal e estadual.

Até o começo da semana, o presidente e a sucessora sustentaram que o entendimento fraternal com o governador Cabral (sem contar a guarda pessoal do prefeito Eduardo Paes) era mais que suficiente para matar no nascedouro qualquer atrevimento esboçado pelos bandidos do narcotráfico. Nesta quinta-feira, dois telefonemas reduziram a farrapos outra fantasia do Brasil do faz-de-conta.

Depois de alguns dias de silêncio, Lula e Dilma ligaram para conversar com Sérgio Cabral sobre o drama que apavora o Rio e assombra o país. Nem o atual nem a futora presidente ofereceram a ajuda da Força Nacional. Ofereceram votos de solidariedade. O país inteiro descobriu que o exército fantasma do Planalto só entra em combate na guerra eleitoral.

Uma última interrogação intriga milhões de habitantes da zona conflagrada. O presidente autopromovido a Pacificador do Universo já se ofereceu para resolver a crise do Oriente Médio e para reaproximar o Irâ atômico do resto do mundo. O que é que há com Lula que não se oferece para acabar com a batalha do Rio? (Augusto Nunes).


Mantega quer fazer feitiçaria para maquiar inflação e ver se engana taxa de juros…

Por Adriana Fernandes e Fabio Graner, no Estadão:
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, quer “desidratar” o índice de inflação na tentativa de reduzir a taxa de juros mais rapidamente no governo Dilma Rousseff. Embora o Banco Central já calcule os chamados núcleos da inflação medida pelo IPCA excluindo alguns alimentos e combustíveis, Mantega anunciou que o governo estuda criar um novo índice para expurgar os preços desses produtos.

Será o IPCA Ex-Combustíveis e Alimentação. A ideia, segundo apurou o Estado, é retirar todos os alimentos e combustíveis do novo índice, diferente do que faz o BC brasileiro hoje e como faz o Federal Reserve (Fed, o BC dos Estados Unidos).

Numa espécie de nova “contabilidade” para a inflação, seguindo estratégia que também será adotada para as contas públicas no próximo governo, Mantega justificou que a medida é necessária porque o Brasil “se acostumou a olhar a inflação cheia”. O novo índice traz naturalmente à tona a discussão em torno de uma mudança na meta de inflação, fixada em 4,5% para 2011 e 2012. Enquanto o IPCA acumulado em 12 meses está em 5,20%, cálculo de um grande banco mostra que o índice com o expurgo de alimentos e combustíveis no mesmo período é de 4,16%.

Em junho do próximo ano, o governo decidirá a meta de inflação de 2013 e confirmará o alvo para 2012.

Se o governo resolver definir a meta com base no novo índice futuramente, isso pode significar menor carga de juros para conter a inflação. Com os expurgos, segundo fontes, o ministro acredita que o BC não precisará reagir a movimentos “momentâneos e passageiros” de alta de preços, muitas vezes decorrente de problemas climáticos e de choques externos. Um ponto negativo é que o núcleo dificulta a identificação de mudanças estruturais de preços de alimentos ou de combustíveis.

Oposição. Nos últimos anos, Mantega sempre se contrapôs ao BC por elevar os juros por conta de pressões inflacionárias desse tipo, que na sua avaliação não tinham nada a ver com aquecimento da demanda da economia. Entrou para história a declaração de Mantega, em abril de 2008, de que a culpa pela alta da inflação era do “feijãozinho que todo brasileiro come”.

Fortalecido no cargo, Mantega indica agora que quer mudar o foco do BC do índice cheio para o expurgado. O BC, porém, sempre defendeu trabalhar com a meta pelo IPCA cheio por considerar mais fácil a população entender o sistema. Independentemente disso, o Copom tem olhado com muita atenção os núcleos do IPCA (o próprio BC calcula três) e muitas vezes decide o rumo da taxa de juros com base neles. Se estão muito elevados, o BC tende a subir os juros.

Em entrevista à GloboNews, o ministro avaliou que a economia precisa de ajustes para que o governo possa reduzir a meta de inflação. Para ele, uma meta mais baixa, dependendo das circunstâncias, pode significar juros mais altos e menos crescimento. Ele destacou que uma parte importante da economia brasileira permanece ainda indexada, o que dificulta a queda da meta de inflação. Entre os problemas apontados por Mantega, está a indexação dos chamados preços administrados de serviços públicos, como tarifa de energia elétrica e aluguéis, pelo IGP-M. Esse problema poderá ser resolvido com a “diluição” desse e de outros indicadores ou troca por índices melhores. Aqui

Por Reinaldo Azevedo




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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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