Adeus, Lula! Para o ano nascer feliz!

Publicado em 27/12/2010 14:09 e atualizado em 28/12/2010 09:22

Adeus, Lula! Para o ano nascer feliz!

Este post será mantido no alto da página. Leia eventuais atualizações sempre abaixo dele.

Queridos,

Não é certo que este seja o último post de 2010 — vocês sabem como acabo não cumprindo essas promessas —, mas eu o tomarei como aquele que encerra o período. Quatro anos e meio juntos! Tempo em que fomos afinando a nossa convivência, em permanente construção. Obrigado, de coração, pela generosidade de vocês! Como num poeminha de Mário Quintana, até pelos petralhas sinto certo quebranto — o seu ódio dedicado quase chega a comover…

Luiz Inácio Lula da Silva deixa a Presidência da República no dia 1º de janeiro, e eu continuo na presidência do meu blog. Ele foi, como é natural, a personagem mais comentada desta página nesse tempo. Sentiria eu certa nostalgia? Nada! Ele não nos dará tempo para isso. No papel assumido de condestável da República, já manifestou a intenção de ser o grande pólo aglutinador de uma reforma política. E, por isso mesmo, todo cuidado é pouco.

Lula anda, para não variar, com uma agenda ruim na cabeça. Segundo declarou, pretende lutar para instituir no país o financiamento público de campanha, que corresponderia a mais um assalto ao Tesouro, desta feita para realizar eleições. Já pagamos uma fábula pelo horário dos partidos na TV. O Babalorixá quer mais. Sustenta, o que é uma tolice, que o expediente inibiria o caixa dois. Alguém conseguiria explicar por que o dinheiro público impediria o financiamento ilegal? A proposta nasce de uma mentira cara ao petismo: o mensalão se resumiria a financiamento ilegal, já que os políticos e os partidos se obrigariam a buscar dinheiro na iniciativa privada para fazer frente às despesas de campanha. Tal versão só não explica por que o esquema estava em pleno funcionamento também em anos não-eleitorais. Os petistas — e não só eles — manifestaram ainda simpatia pelo sistema de lista fechada, aquele que leva o eleitor a votar em candidatos sem rosto.

O Apedeuta também tentará emplacar o chamado “controle social da mídia”. Franklin Martins, sem assento no Ministério de Dilma Rousseff, deixa pronto um texto que prevê, abertamente, controle de conteúdo. A questão passa para o Ministério das Comunicações, cujo titular será Paulo Bernardo, atual ministro do Planejamento, um dos muitos “olheiros” que Lula plantou no governo de sua sucessora. Essas são duas das muitas batalhas que temos pela frente.

E este blog? Continuará a defender os princípios que sempre defendeu e que o tornaram o que é. Farei oposição sistemática a Dilma? Ora, não fiz nem a Lula! Ele é que resolveu trombar com a lógica, com a história e com a verdade. Se a presidente eleita seguir nessa trilha batida, receberá o mesmo tratamento. Por quê? Qual a minha ambição? Nenhuma! Há um conjunto de valores — ideológicos, sim! —  nos quais acredito, expostos aqui de modo quase obsessivo, e o que faço é analisar a realidade segundo esses marcos.  Felizmente, há milhares de pessoas que se interessam por isso.

Assim, que blog teremos em 2011? Este que vocês lêem. Haverá certamente novidades formais aqui e ali, quem sabe canais adicionais de contato com os leitores, mas sem mudar uma vírgula nas convicções que balizam o nosso — meu e de vocês, leitores — pensamento. Esta é minha ambição: pensar claramente.

Desejo-lhes um ótimo Natal e um 2011 muito animado. A mediação dos comentários continuará a ser feita normalmente. No dia 10 de janeiro, tudo volta ao normal. Na próxima VEJA, escrevo um longo artigo sobre o futuro, centrado no que considero ser a tarefa das oposições numa democracia. Passem por aqui de vez em quando. É possível que eu compareça com alguns pensamentos ensolarados. No caso de “eles” fazerem alguma tolice, não terei a menor dúvida em tirar o pé da areia para lhes meter gostosamente nos fundilhos, como de hábito.

A luta continua! E seguiremos juntos! Deixo-os na companhia de Cecília Meireles

Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

Encerro
Talvez um dia eu também me liberte das paixões. Enquanto não acontecer, eu as dividirei obsessivamente com vocês.

Texto originalmente publicado às 5h59 do dia 23 de dezembro de 2010

LULA FINALMENTE CONFESSA: QUER MESMO CENSURAR A IMPRENSA

Então fica combinado: Lula não pára de falar bobagem, e eu não paro de escrever que ele fala bobagem. Ele não desiste, eu também não. Nesta segunda, em dois momentos, o Babalorixá de Banânia, já nos estertores da apoteose mental, resolveu atacar a imprensa, evidenciando, pela enésima vez, que ainda não entendeu direito o que é essa tal democracia — ou, o mais provável, já entendeu, mas não gosta.

Em café da manhã com jornalistas, voltou a defender o controle da “mídia”, negando, como sempre, que pretenda censurar a imprensa. Leia esta sua fala, publicada na Folha Online:
“Temos que fazer um debate que todos participem e aprovar uma lei que seja o caminho do meio, nem o que quer a extrema direita nem o que quer a extrema esquerda. Tem que ter bom senso”.

Como as palavras fazem sentido, o que temos acima é uma confissão: Lula pretende mesmo censurar a imprensa; esta que existe não lhe serve. Por que afirmo isso? O Apedeuta defende uma lei que seja o “caminho do meio”. O meio de qual polarização? Segundo ele, entre a “extrema direita” e a extrema esquerda”.

A extrema esquerda, no que diz respeito à comunicação, é formada por aquele bando de desocupados, financiados pelo governo ou por ONGs, que participaram da Confecom (Conferência de Comunicação) e aprovaram o “controle social da mídia”. Ela seria uma das pontas dessa luta.  E a extrema direita? Onde estaria?

Seria a imprensa que está aí, entenderam? Ao classificá-la de extremista, Lula pode reivindicar para si o “centro”. A lógica se impõe: se, para o barbudo, a “mídia” é hoje de extrema direita, é evidente, então, que ele está defendendo uma lei — OBSERVEM QUE ELE FALA EM “LEI” — que a force a caminhar para a esquerda. E como isso se faria sem policiamento de conteúdo? Não se faria! A proposta será inescapavelmente autoritária. Nos limites da Constituição e das leis democráticas, o único juiz aceitável do que a imprensa pública ou deixa de publicar é o indivíduo.

Trata-se de uma mentira grosseira a ilação de que a imprensa brasileira é de “extrema direita”. A verdade é bem outra, como sabem os leitores. Os valores dominantes hoje nas redações do país são majoritariamente de esquerda. Basta escolher o tema e fazer o teste. Mais ainda: a grande popularidade de Lula se deve à generosíssima cobertura que lhe dispensa a imprensa que ele quer controlar. Por que essa obsessão?

Ele tentou se explicar:
“Não defendo o controle da mídia, mas responsabilidade. [a mídia] Precisa parar de achar que não pode ser criticada, porque, toda a vez que é criticada, diz que é censura. Quando faz a matéria, diz que é liberdade de imprensa; quando recebe a crítica, diz que é censura”.

Nunca é tarde para Lula aprender alguma coisa, e eu ensino, embora, ex-professor, eu saiba reconhecer um esforço inútil. O problema não está na crítica que Lula e os petistas fazem à imprensa, mas na mobilização do aparato de estado contra a liberdade de expressão. O Apedeuta estabelece uma equivalência entre o Planalto e o jornalismo que é absolutamente falsa! Afinal, nós não podemos pressionar os poderosos com leis de sotaque discricionário, mas eles podem tentar nos intimidar. Mais: a sociedade tem a obrigação de vigiar o governo, mas um governo não pode tentar vigiar a sociedade além dos limites estabelecidos pela Constituição.

Quando a imprensa critica um governante — e é claro que a crítica pode ser injusta —, é razoável supor que estamos num regime democrático. Quando um governante critica a imprensa — sem apontar seus supostos erros —, estamos diante, quando menos, de uma tentação autoritária.

Não, Lula! Não passará!
Quem está passando é Lula.
Faltam apenas três dias.

PS: Era visível o ar compungido de Lula, triste mesmo, de quem está prestes a ser retirado do parquinho porque expirou o prazo do bilhete.

Por Reinaldo Azevedo

Informam José Ernesto Credendio e Andreza Matais na Folha desta terça:

Dois dos filhos do presidente Lula, Fábio Luís e Luís Cláudio, abriram em 16 de agosto deste ano duas holdings -sociedades criadas para administrar grupos de empresas-, a LLCS Participações e a LLF Participações. Ao final de oito anos de mandato do pai, Lulinha e Luís Cláudio figuram como sócios em seis empresas. AFolha constatou, porém, que apenas uma delas, a Gamecorp, tem sede própria e corpo de funcionários. Seu faturamento em 2009 foi de R$ 11,8 milhões, e seu capital registrado é de R$ 5,2 milhões. Ela tem como sócia a empresa de telefonia Oi, que controla 35%. As demais cinco empresas não funcionam nos endereços informados pelos filhos de Lula à Junta Comercial de São Paulo. São, por assim dizer, empreendimentos que ainda não saíram do papel.

As seis empresas dos filhos de Lula atuam ou se preparam para atuar nos ramos de entretenimento, tecnologia da informação e promoção de eventos esportivos. São segmentos em alta na economia, que ganharam impulso do governo federal -Lula, por exemplo, foi padrinho das candidaturas vitoriosas do Brasil para organizar a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Na maioria desses negócios, Lulinha e Luís Cláudio têm como sócios pessoas próximas de Lula. Um dos mais novos empreendimentos da dupla, a holding LLCS, por exemplo, foi registrada no endereço da empresa Bilmaker 600, na qual os dois não têm participação societária.
(…)
Comento
Pois é… A classe operária foi ao paraíso numa espantosa velocidade. Também nesse caso se percebe que FHC e Lula são muito diferentes. Quando o tucano chegou à Presidência, seus netos eram herdeiros de banco — o então Banco Nacional. Quando ele deixou o cargo, seus descendentes eram “sem-banco”. A instituição havia quebrado, e o governo não moveu uma palha para salvá-lo.

Com os Lula da Silva, a coisa é diferente. Lidam com a, digamos, “carreira” muito melhor do que o pai lidava com o torno. Lulinha era monitor de jardim zoológico quando o pai chegou ao poder. Oito anos depois, é esse potentado — certamente mais rico do que os netos de FHC!

Por Reinaldo Azevedo


Por Reinaldo Azevedo
Dilma visita José Alencar no hospital, em foto oficial de Ricardo Stuckert: a solidariedade para consumo das massas

Dilma visita José Alencar no hospital, em foto oficial de Ricardo Stuckert: a solidariedade para consumo das massas

Já que interrompi, por alguns instantes, o meu descanso (ver post acima), deixo aqui um registro: lamentável a divulgação, pela equipe da presidente eleita, Dilma Rousseff, das fotos em que ela aparece, no hospital, ao lado do vice-presidente da República, José Alencar. Na mais eloqüente delas, Dilma beija a testa de Alencar, mão esquerda na face direita do doente, a outra posta sobre a sua cabeça. Ele estava acordado — tanto é assim que somos informados que elogiou a composição do ministério (!) —, mas parece estar dormindo ou inconsciente, com os olhos cerrados.

Trata-se, obviamente, de um apelo de caráter emocional, espetacularizando nem tanto a doença dele — a sua luta é meritória —, mas a afetividade dela. Trata-se de uma óbvia desnecessidade. A solidariedade, a verdadeira (e não descarto que ela exista), dispensa esse tipo de divulgação, ainda que tenha contado, e certamente contou, com a concordância de Alencar e de sua família.

A cena expressa ternura? Sem dúvida! Só por isso foi oferecida ao consumo. Não há escapatória, meus caros: se o que importa ali é o gesto humano, fraterno, carinhoso, então isso não diz respeito a mais ninguém. Posta a imagem para circular, estamos diante de um discurso que já é político. E isso só nos diz como os políticos brasileiros são primitivos no que concerne ao decoro. Assim não, Dilma Rousseff!

Por Reinaldo Azevedo

Ainda aquela foto. Então vamos falar tudo; tudo mesmo! Ou: além do sentimento, a estética também é de segunda mão

alencar-lula-dilma

Critiquei com dureza a divulgação das fotos da visita de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff à UTI do Hospital Sírio-Libanês, onde está internado José Alencar, vice-presidente da República. A propósito: antigamente, esses ambientes eram restritos a médicos, e eu continuou a achar que aquele era o bom procedimento. A petralhada ficou furiosa: “Olhem com o Reinaldo critica até isso! Que absurdo! Então Lula e Dilma não podem ter sentimentos? Então eles não podem agir como pessoas comuns?”

E desde quando um fotógrafo oficial da Presidência da República acompanha uma pessoa comum em visita a uma UTI? Pra começo de conversa, pessoas comuns não costumam entrar em UTIs, não é mesmo?

Indecente, sim!
Indecoroso, sim!
Imoral, sim!
Aético, sim!

O afeto não requer estrutura de marketing para que possa se exercer. Se a visita era dos cidadãos Luiz Inácio e Dilma, então a população não tem nada com isso. Eles e o doente têm direito à privacidade. Se a foto é divulgada pela Secretaria de Comunicação do governo, com a assinatura do fotógrafo oficial do Palácio, então se trata de um discurso obviamente político, e o meu papel — na verdade, a minha obrigação — é acusar a patranha sentimental, ainda que, em algum lugar de suas respectivas consciências, Lula e Dilma possam estar sinceramente tocados pela doença do vice.

Não estou aqui para arbitrar sobre as verdades sentimentais de ninguém. O meu papel é analisar o discurso dos políticos. E a foto, ignoram os tolos, é um discurso político como qualquer outro. Com ela, Lula e Dilma, presidente e presidente eleita, estão nos dizendo alguma coisa. E a coisa que dizem não é boa. O episódio só serve à mitologia de ambos.

Linguagem
Há mais. Lula e Dilma talvez ignorem o que vem agora, mas Ricardo Stuckert, o fotógrafo oficial, certamente sabe: a foto que vai lá no alto, como não poderia deixar de ser, também tem um apelo estético — e nada original. O fotógrafo italiano Oliviero Toscani ficou mundialmente famoso com as campanhas publicitárias que fez para Benneton. Quem é um tantinho “alfabetizado” em imagens lembrou desta aqui.

benetton-aidsFamiliares cercam um doente — no caso, não de câncer, mas de Aids. O apelo acima, evidentemente, é mais dramático do que aquele do alto, mas estamos na mesma linguagem. Em ambos os casos, trata-se de óbvio mau gosto… moral, pouco importando se um quer vender moleton, e o outro, política menor.

A petralhada pode espernear à vontade. Como dizia Voltaire, o segredo de aborrecer é mesmo dizer tudo. E eu digo o que acho que tem de ser dito. Torço para que José Alencar tenha o bem-estar máximo. Já elogiei aqui a sua disposição para lutar contra a doença. Mas isso não vai me impedir de apontar uma exploração política vulgar, mesquinha, da doença. Ainda que o procedimento conte com o apoio do doente e de sua família.

Eu analiso discursos políticos de figuras públicas. Não sou nem bom nem mau. Procuro apenas ser preciso.

Por Reinaldo Azevedo

Tarso Genro (PT), ex-ministro da Justiça e governador eleito do Rio Grande do Sul, demonstra que é realmente um homem inconformado. Uma das coisas que frustram a sua inteligência é haver estado de direito no Brasil. O Estadão publicou ontem uma entrevista sua. Ninguém consegue, nem Lula, dizer tanta besteira por centímetro quadrado. Indagado sobre o pior momento de sua carreira, respondeu o que segue em vermelho. Faço picadinho de suas bobagens em azul:
Foi a decisão do STF que, em abril, entendeu que a Lei da Anistia se aplicava a indivíduos que torturaram.
É mentira! O STF não anistiou torturadores. Limitou-se a ler a o conteúdo da Lei da Anistia — e era ela que anistiava os dois lados. A lei que aprovou a instalação da Constituinte referenda seus termos. Mais: a tortura passa a ser crime imprescritível e inafiançável depois da Lei da Anistia. Tarso não sabe, coitado!, mas, no estado de direito, leis não retroagem.

Acho que isso foi muito grave para a democracia do Brasil porque abriu uma perspectiva também de anistia para pessoas que cometerem tortura daqui por diante.
É mentira também. Agora, sim, a tortura tem uma lei específica. Não só isso: o inciso 43 do Artigo 5º da Constituição define a tortura como crime imprescritível, inafiançável e não passível de anistia. Um ex-ministro da Justiça, governador eleito e advogado dá mostras de desconhecer a Carta. Mas eu entendo: o nosso texto maior diz o mesmo sobre o terrorismo, não é? Não custa lembrar: temos a lei que estabelece a punição para a tortura, mas o governo Lula se negou a ter uma para punir o terrorismo. Tarso foi contra. Dilma também. Segue o Inciso 43:
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

Se uma lei de anistia perdoa torturadores, uma lei de anistia pode tudo também daqui para a frente.
Mentira de novo! Explico acima por quê.

Mas felizmente a decisão da Corte Interamericana de Justiça [que, pouco depois, condenou o Brasil e afirmou que a Lei de Anistia não garante a impunidade dos que torturaram durante o regime militar, de 1964 a 1985] colocou as coisas nos eixos.
A única coisa fora do eixo é Tarso. A decisão da corte não tem qualquer poder sobre o STF.

Essa decisão deixou, na minha opinião, constrangidos os que me atacaram fortemente naquela oportunidade.
Epa! Eu ataquei fortemente, e a decisão só me deu vontade de atacar mais. Constrangedor é contar uma mentira, ignorando o texto constitucional.

Eu festejo que a decisão do Supremo foi por apenas um voto. O que demonstra que tem uma corrente dentro tribunal que já se abrigava na mesma posição da Corte Interamericana.
Tarso está inovando, entenderam? Para ele, o Supremo é uma corte de decisões transitórias. Assim como ele quer fazer retroagir as leis, também acredita que o STF pode desdizer hoje o que disse ontem para mudar de novo amanhã.

Outra coisa encantadora em Tarso é sua profundidade filosófica, que só perde para seu conhecimento da Constituição. Leiam isto:

Estadão - Partidos como o PR e o PP integram governos petistas. Ideologia não conta mais?
Tarso -
 Quando o PT dizia que esses partidos não compunham o campo democrático e popular era totalmente verdadeiro. E continua sendo. Só que hoje a capacidade de direção sobre o Estado não pode ser feita somente a partir do campo democrático e popular. Isso foi demonstrado pelo presidente Lula. O que o PT fez foi, na verdade, aquilo que fez o filósofo Hegel, maduro, em relação à sua filosofia: reconciliação com a realidade. Ou seja, a realidade do País é muito mais complexa do que aquela visão que nós tínhamos no início da nossa história, de que é “aqui está de um lado o campo democrático popular e do outro lado está a direita conservadora e a reação política”. Isso não é verdade.

Coitado de Tarso! Coitado de Hegel! Quem domina um pouquinho a área está rolando de rir. Deixo o entendimento que o homem tem da obra do filósofo alemão para mais tarde. Atenho-me agora à tese formidável de que o PP e o PR não são partidos do “campo democrático”. Bem, então são do “campo autoritário”, certo? Certo! Mas vejam: como o PT está no comando, Tarso nos convida a considerar que “a direção do Estado” tem de ser compartilhada com esses… autoritários! Sustenta tal ponto de vista para, em seguida, negá-lo!

Esse é o homem que se comportou como corte revisora da Justiça italiana e que atuou firmemente para manter no Brasil o terrorista Cesare Battisti. Não sem antes condenar a forma como a Itália, uma democracia, combateu o terrorismo.Que Deus proteja o Rio Grande do Sul!

Por Reinaldo Azevedo

Caros,

A VEJA desta semana, a do Natal, faz uma retrospectiva do governo Lula e fala sobre o futuro. Escrevo um longo artigo intitulado “A oposição se deixou massacrar”. É longo mesmo! O trecho que reproduzo abaixo corresponde a menos de um terço do texto.
*
“Em nosso país, queremos substituir o egoísmo pela moral (…); os costumes pelos princípios; as conveniências pelos deveres; a tirania da moda pelo império da razão; o desprezo à desgraça pelo desprezo ao vício; a insolência pelo orgulho; a vaidade pela grandeza d’alma; o amor ao dinheiro pelo amor à glória (…); a intriga pelo mérito (…); o tédio da volúpia pelo encanto da felicidade; a pequenez dos grandes pela grandeza do homem; um povo cordial, frívolo e miserável por um povo generoso, forte e feliz; ou seja, todos os vícios e ridicularias da Monarquia por todos os milagres da República.”

As palavras acima são parte de um discurso feito por Robespierre, um dos líderes jacobinos, a corrente mais radical da primeira safra dos revolucionários franceses, e foram pronunciadas no dia 5 de fevereiro de 1794. É grande o risco de o leitor ter ouvido de um professor, em algum momento de sua vida escolar, que ali estava um cara batuta, que queria “liberdade, igualdade e fraternidade”. Quem de nós pode ser contra o horizonte que ele propõe? No dia 28 de julho daquele mesmo ano, Robespierre perdeu a cabeça na guilhotina. Ainda retornarei à França do fim do século 18 depois de passar pelo Brasil do começo do século 21.

De volta para o futuro, pois:

Quem contesta o presidente Luiz Inácio Lula da Silva odeia o país. Quem manifesta contrariedade com a concessão de um prêmio literário a uma celebridade, em um jogo de cartas marcadas, está com inveja. Quem enfrenta a patrulha politicamente correta quer fazer a história marchar para trás. Os dias andam hostis à crítica - a qualquer uma e em qualquer área. Não é a voz do povo que expressa intolerância, mas a dos que se querem seus intérpretes privilegiados. As urnas demonstraram que a massa de eleitores é bem mais plural do que os donos do “Complexo do Alemão” mental da política, da ideologia, da cultura e até de setores da imprensa, que tentam satanizar o dissenso.

Nesse ambiente, fazer oposição ao governo liderado pelo PT, partido que atribui a si mesmo a missão de depurar a história, é tarefa das mais difíceis, especialmente quando a minoria parlamentar será minoria como nunca antes na democracia deste país. Ao longo de oito anos, é preciso convir, os adversários de Lula não conseguiram encontrar o tom e se deixaram tragar pela voragem retórica que fez tabula rasa do passado e privatizou o futuro. O PT passa a impressão de já ter visitado o porvir e estar entre nós para dar notícias do amanhã.

A pergunta óbvia é com que discurso articular o dissenso, sem o qual a democracia se transforma na ditadura do consentimento?

Não existem receitas prontas. Mas me parece óbvio que o primeiro passo consiste em libertar a história do cativeiro onde o PT a prendeu. Isso significa mostrar, e não esconder, os feitos e conquistas institucionais que se devem aos atuais oposicionistas e que se tornaram realidade apesar da mobilização contrária bruta e ignorante do PT.  Ajuda também falar a um outro Brasil profundo, que não aquele saído dos manuais da esquerda, sempre à espera de reparações e compensações promovidas pelo pai-patrão dadivoso ou a mãe severa e generosa, à espera da “grande virada”, que nunca virá!

Temos já um Brasil de adultos contribuintes, com uma classe média que trabalha e estuda, que dá duro, que pretende subir na vida, que paga impostos escorchantes, diretos e indiretos, a um estado insaciável e ineficiente. Milhões de brasileiros serão mais autônomos, mais senhores de si e menos suscetíveis a respostas simples e erradas para problemas difíceis quando souberem que são eles a pagar a conta da vanglória dos governos. É inútil às oposições disputar a paternidade do maná estatal que ceva mega-currais eleitorais. Os órfãos da política, hoje em dia, não são os que recebem os benefícios - e nem entro no mérito, não agora, se acertados ou não -, mas os que financiam a operação. Entre esses, encontram-se milhões de trabalhadores, todos pagadores de impostos, muitos deles também pobres!

Esse Brasil profundo também tem valores - e valores se transformam em política. O que pensa esse outro país? O debate sobre a descriminação do aborto, que marcou a reta final da disputa de 2010, alarmou a direção do PT e certa imprensa “progressista”. Descobriu-se, o que não deixou menos espantados setores da oposição, que amplas parcelas da sociedade brasileira, a provável maioria, cultivam valores que, mundo afora, são chamados “conservadores”, embora essas convicções, por aqui, não encontrem eco na política institucional - quando muito, oportunistas caricatos os vocalizam, prestando um desserviço ao conservadorismo.

Terão as oposições a coragem de defender seu próprio legado, de apelar ao cidadão que financia a farra do estado e de falar ao Brasil que desafia os manuais da “sociologia progressista”? Terão as oposições a clareza de deixar para seus adversários o discurso  do “redistributivismo”, enquanto elas se ocupam das virtudes do “produtivismo”? Terão as oposições a ousadia de não disputar com os seus adversários as glórias do mudancismo, preferindo falar aos que querem conservar conquistas da civilização? Lembro, a título de provocação, que o apoio maciço à ocupação do Complexo do Alemão pelas Forças Armadas demonstrou que quem tem medo de ordem é certo tipo de intelectual; povo gosta de soldado fazendo valer a lei. Ora, não pode haver equilíbrio democrático onde não há polaridade de idéias. Apontem-me uma só democracia moderna que não conte com um partido conservador forte, e eu me desminto.
(…)
Leia a íntegra na edição impressa da revista

Por Reinaldo Azevedo

Interrompo o meu descanso para deixar registrada a morte de Orestes Quércia, ex-governador de São Paulo. Estava internado no Hospital Sírio-Libanês desde o dia 18 de novembro para se tratar de um câncer na próstata, doença que teve recidiva 10 anos depois da primeira manifestação. Quércia já foi vereador, prefeito de Campinas, senador, deputado estadual, vice-governador e governador de São Paulo entre 1987 a 1991. Neste ano, chegou a lançar a sua candidatura ao Senado, despontando com um dos favoritos, mas renunciou em favor de Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) para tratar da saúde.

Os mais moços talvez o ignorem, então eu procedo aqui a um misto de história e memória. Em 1974, eu tinha 13 anos e começava, sabe-se lá por artes de que destino que se vai desenhando nas sombras de nossa vida, a me interessar por política. Um dia, fui comprar óleo de litro para a minha mãe — o produto chegava em grandes tambores, de onde era tirado por um pistão; óleo em lata era coisa de rico… —, e a parede da venda (assim chamávamos os armazéns de periferia) estava pichada: “Povo armado derruba a ditadura”. Que diabos queria dizer aquilo mesmo? Procurei saber. Menos de dois anos depois, estava metido num grupo de influência trotskista, de que um padre (!!!) era um dos chefes. Por que isso?

O ano de 1974 marca a primeira grande derrota do regime militar. —E NÃO ERA PELAS ARMAS. A crise do petróleo, de 1973, trouxe junto a inflação e o desgaste do governo. Essa patuscada nacionalista do governo Lula é repeteco daquele período; hoje, é o pré-sal; em 1970, foi a adoção das 200 milhas ao mar territorial brasileiro. Houve até uma música que marcou o período, que fez imenso sucesso da voz de Eliana Pittman. Antes de Lula culpar as pessoas “de olhos azuis” pela crise de 2009, o país já havia mandando os “pescadores de olhos verdes” pescar em outras águas. Leiam:

Esse mar é meu,
Leva seu barco pra lá desse mar.
Esse mar é meu,
Leva seu barco pra lá.
Vá jogar a sua rede das 200 para lá.
Pescador dos olhos verdes,
Vá pescar em outro lugar.

Esse mar é meu,
Leva seu barco pra lá desse mar.
Esse mar é meu,
Leva seu barco pra lá.
E o barquinho vai,
O nome de cabocleira
Vai puxando a sua rede
Da vontade de cantar.

Tem rede amarela e verde
No verde azul desse mar.
Esse mar é meu,
Leva seu barco pra lá desse mar.
Esse mar é meu,
Leva seu barco pra lá.

Obrigado seu Doutor pelo acontecimento,
Vai ter peixe, camarão,
Lagosta, que só Deus dá
Pego bem a sua idéia,
Peixe é bom pro pensamento.
E, a partir desse momento,
Meu povo vai pensar.

Esse mar é meu
Leva seu barco pra lá desse mar
Esse mar é meu
Leva seu barco pra lá

A crise do petróleo desconcertou e desconsertou a “poesia” do Brasil potência. Em 1974, disputaram-se 21 vagas para o Senado Federal. O MDB, partido oficial da oposição,  fez 16; a Arena, a legenda do regime, apenas 5. Orestes Quércia, aos 36 anos, elegia-se por São Paulo, então, o mais jovem senador do país, desbancando um nomão da política do Estado, o ex-governador Carvalho Pinto. Fazia o estilo “bonitão do interior”. Com suas grandes costeletas, muito influentes à época, ar de bom moço, era o preferido das avós, mães e tias: um oposicionista com cara de rapaz de família. Elegeram-se, naquela safra, Paulo Brossard (RS), José Richa (PR), Mauro Benevides (CE), entre outros.

Dez anos depois da deposição de João Goulart, o regime recebia um sinal. Ernesto Geisel, que estava no poder havia menos de um ano, percebeu que era hora de começar a articular uma transição lentíssima e seguríssima. Em abril de 1977, o presidente fecha o Congresso e impõe uma espécie de miniconstituinte para blindar o governo de uma derrota certa nas eleições de 1978: cria os chamados senadores biônicos. Um terço do Senado seria, como foi, na prática, indicado por Geisel. É com este Congresso sob controle que Geisel dá início à política de abertura e que se acolhe, por exemplo, a Lei da Anistia, que seria aprovada em 1979. Começava, então, a transição para a democracia.

Faço um pouco de história factual, com algum apelo à mentalidade do período, para deixar registrado que Quércia, de biografia controversa, para dizer pouco, teve papel importante na construção da democracia no Brasil. O fortalecimento do MDB em São Paulo foi fundamental para enfraquecer o regime. O partido reelege Franco Montoro senador em 1978, tendo FHC como candidato da sublegenda. Em 1982, Montoro faz-se governador em eleições diretas, tendo Quércia como vice. O apoio de São Paulo ao movimento em favor das Diretas Já, em 1984, trouxe a certeza de que a democracia era inevitável. Em 1986, Quércia era eleito governador do estado.

A outra face da moeda
No governo, Quércia se caracterizou por ser um tocador de obras, dando especial atenção ao interior do Estado. De tal sorte tomou conta do já então PMDB que uma fração do partido, em São Paulo, decidiu se desligar da legenda para fundar o PSDB. Embora estivesse sem exercer cargo público desde 1991, o ex-governador continuou como a grande liderança do PMDB do Estado.

Embora político desde a juventude, Quércia se tornou um empresário de sucesso, atuando em múltiplas áreas, inclusive comunicação. As muitas acusações de corrupção  — sem condenação nenhuma, diga-se — e a suspeita de enriquecimento ilícito dificultaram a sua carreira. Encerrado o seu mandato de governador,  tentou, sem sucesso, a Presidência da República em 1994, o governo do Estado em 1998 e 2006 e o Senado em 2002, o que fez de novo em 2010 — estava entre os favoritos quando renunciou para tratar da saúde.

O homem que teve um papel sem dúvida importante no processo de redemocratização — não se conhece um só flerte seu com teses autoritárias — deixou, no entanto, um passivo ético considerável, o que, e aqui entram a história e suas ironias, serviu de bandeira para a luta do PT de São Paulo, que tinha Lula como a sua maior expressão e José Dirceu como o seu grande operador. Enquanto Quércia deu as cartas na política paulista, os petistas foram seus algozes implacáveis. A atuação do partido contribuiu de modo definitivo para liquidar as chances eleitorais do político que surpreendeu o regime militar em 1974.

O que a história e suas ironias nos mostram? Morreu na manhã deste 24 de dezembro de 2010 um amador nas artes em que o PT se tornou especialista juramentado — e, nesse particular, nem um nem outro merecem perdão. Quércia, ao menos, nunca flertou com teses autoritárias. O mesmo não se pode dizer sobre os petistas.

Por Reinaldo Azevedo

No dia da morte de Orestes Quércia, escrevi um post lembrando a trajetória do ex-governador. Em nenhum momento eu o absolvi — até porque não tenho poder ou competência para isso — de seus desvios éticos. Observei que ele não tinha condenação nenhuma na Justiça não para protegê-lo de sua própria biografia, mas para informar um fato. Ora, será que isso não diz um tanto da própria Justiça?

Lembrei, sim, que ele fez parte da construção da democracia — é um dado da sua biografia. E também sustentei que ele era amador nas artes em que o petismo se mostrou doutor — e sem o mesmo apreço pela ordem democrática. Se todos os partidos tivessem agido como o PT em momentos cruciais para as instituições, a coisa teria ido para o brejo. Não seria difícil prová-lo.

Aí alguns petralhas vieram com a estupidez rotineira: “Está pegando leve com Quércia!!!” Eu? Nem o conhecia! Quem tem um pouco de vivência, de memória e de arquivo — tenho tudo isso — sabe muito bem: o grande porta-voz de Quércia da imprensa brasileira era Mino Carta nos tempos em que editava a revista “Senhor”, ali pelo fim dos anos 1980 até meados dos 1990. Depois ele mudou de Senhor… Em suma, se querem buscar os “amigos” de Quércia no jornalismo, perdem tempo procurando nestas praias. Enquanto ele foi poderoso, seus admiradores estavam no dito “jornalismo progressista”. Desde aquele tempo alguns batráquios buscavam “apoio” para combater a “grande mídia”, se é que me entendem…

Eu cumpri o meu papel ao pôr o homem no seu contexto. Nem generoso nem ingrato; apenas preciso. Agora há muita gente que lhe devia bem mais do que a independência para elogiar ou criticar, não é mesmo? Há quem quem lhe deva as próprias calças. Se não o admite, é apenas o velho hábito da ingratidão.

Por Reinaldo Azevedo
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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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1 comentário

  • Telmo Heinen Formosa - GO

    Memorial Lula 2014 - Entre as bobagens que Lula disse naquele dia, em café com os jornalistas chapa branca que cobrem o Planalto, é que pretende trabalhar na construção de um "memorial" que permita a todas as pessoas fazerem uma análise própria do que representaram seus oito anos de governo. "Eu pretendo fazer isso devagar. Nada apressado". Este imbecil é de uma pobreza de espírito sem precedentes. Primeiro, registra em cartório um monte de informações falsas sobre o seu governo. Agora informa que vai continuar trabalhando para alimentar o próprio mito. Lula não desiste de querer reescrever a história, naquela ânsia de tentar provar, por exemplo, que o mensalão não existiu, que a dívida pública não explodiu, que a média de investimentos do seu período foi tão pequena quanto a de FHC, entre tantas outros fatos. O que Lula entende por "memorial" é material para a campanha eleitoral de 2014, por mais que ele diga que a sua candidata será Dilma, a não ser caso "ela não querer ser". Como se o criador não fosse cobrar a fatura da criatura. No "memorial" do Lula, o olhar é para o futuro e não para o passado. Como ele mesmo disse: "Eu pretendo fazer isso devagar. Nada apressado." ... Começou a fazer no dia em que escolheu a mamulenga como sucessora. [Enviado por Alvaro Pedreira de Cerqueira]

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