Adeus, Lula! Para o ano nascer feliz!
Este post será mantido no alto da página. Leia eventuais atualizações sempre abaixo dele.
Queridos,
Não é certo que este seja o último post de 2010 — vocês sabem como acabo não cumprindo essas promessas —, mas eu o tomarei como aquele que encerra o período. Quatro anos e meio juntos! Tempo em que fomos afinando a nossa convivência, em permanente construção. Obrigado, de coração, pela generosidade de vocês! Como num poeminha de Mário Quintana, até pelos petralhas sinto certo quebranto — o seu ódio dedicado quase chega a comover…
Luiz Inácio Lula da Silva deixa a Presidência da República no dia 1º de janeiro, e eu continuo na presidência do meu blog. Ele foi, como é natural, a personagem mais comentada desta página nesse tempo. Sentiria eu certa nostalgia? Nada! Ele não nos dará tempo para isso. No papel assumido de condestável da República, já manifestou a intenção de ser o grande pólo aglutinador de uma reforma política. E, por isso mesmo, todo cuidado é pouco.
Lula anda, para não variar, com uma agenda ruim na cabeça. Segundo declarou, pretende lutar para instituir no país o financiamento público de campanha, que corresponderia a mais um assalto ao Tesouro, desta feita para realizar eleições. Já pagamos uma fábula pelo horário dos partidos na TV. O Babalorixá quer mais. Sustenta, o que é uma tolice, que o expediente inibiria o caixa dois. Alguém conseguiria explicar por que o dinheiro público impediria o financiamento ilegal? A proposta nasce de uma mentira cara ao petismo: o mensalão se resumiria a financiamento ilegal, já que os políticos e os partidos se obrigariam a buscar dinheiro na iniciativa privada para fazer frente às despesas de campanha. Tal versão só não explica por que o esquema estava em pleno funcionamento também em anos não-eleitorais. Os petistas — e não só eles — manifestaram ainda simpatia pelo sistema de lista fechada, aquele que leva o eleitor a votar em candidatos sem rosto.
O Apedeuta também tentará emplacar o chamado “controle social da mídia”. Franklin Martins, sem assento no Ministério de Dilma Rousseff, deixa pronto um texto que prevê, abertamente, controle de conteúdo. A questão passa para o Ministério das Comunicações, cujo titular será Paulo Bernardo, atual ministro do Planejamento, um dos muitos “olheiros” que Lula plantou no governo de sua sucessora. Essas são duas das muitas batalhas que temos pela frente.
E este blog? Continuará a defender os princípios que sempre defendeu e que o tornaram o que é. Farei oposição sistemática a Dilma? Ora, não fiz nem a Lula! Ele é que resolveu trombar com a lógica, com a história e com a verdade. Se a presidente eleita seguir nessa trilha batida, receberá o mesmo tratamento. Por quê? Qual a minha ambição? Nenhuma! Há um conjunto de valores — ideológicos, sim! — nos quais acredito, expostos aqui de modo quase obsessivo, e o que faço é analisar a realidade segundo esses marcos. Felizmente, há milhares de pessoas que se interessam por isso.
Assim, que blog teremos em 2011? Este que vocês lêem. Haverá certamente novidades formais aqui e ali, quem sabe canais adicionais de contato com os leitores, mas sem mudar uma vírgula nas convicções que balizam o nosso — meu e de vocês, leitores — pensamento. Esta é minha ambição: pensar claramente.
Desejo-lhes um ótimo Natal e um 2011 muito animado. A mediação dos comentários continuará a ser feita normalmente. No dia 10 de janeiro, tudo volta ao normal. Na próxima VEJA, escrevo um longo artigo sobre o futuro, centrado no que considero ser a tarefa das oposições numa democracia. Passem por aqui de vez em quando. É possível que eu compareça com alguns pensamentos ensolarados. No caso de “eles” fazerem alguma tolice, não terei a menor dúvida em tirar o pé da areia para lhes meter gostosamente nos fundilhos, como de hábito.
A luta continua! E seguiremos juntos! Deixo-os na companhia de Cecília Meireles
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
Encerro
Talvez um dia eu também me liberte das paixões. Enquanto não acontecer, eu as dividirei obsessivamente com vocês.
Texto originalmente publicado às 5h59 do dia 23 de dezembro de 2010
LULA FINALMENTE CONFESSA: QUER MESMO CENSURAR A IMPRENSA
Então fica combinado: Lula não pára de falar bobagem, e eu não paro de escrever que ele fala bobagem. Ele não desiste, eu também não. Nesta segunda, em dois momentos, o Babalorixá de Banânia, já nos estertores da apoteose mental, resolveu atacar a imprensa, evidenciando, pela enésima vez, que ainda não entendeu direito o que é essa tal democracia — ou, o mais provável, já entendeu, mas não gosta.
Em café da manhã com jornalistas, voltou a defender o controle da “mídia”, negando, como sempre, que pretenda censurar a imprensa. Leia esta sua fala, publicada na Folha Online:
“Temos que fazer um debate que todos participem e aprovar uma lei que seja o caminho do meio, nem o que quer a extrema direita nem o que quer a extrema esquerda. Tem que ter bom senso”.
Como as palavras fazem sentido, o que temos acima é uma confissão: Lula pretende mesmo censurar a imprensa; esta que existe não lhe serve. Por que afirmo isso? O Apedeuta defende uma lei que seja o “caminho do meio”. O meio de qual polarização? Segundo ele, entre a “extrema direita” e a extrema esquerda”.
A extrema esquerda, no que diz respeito à comunicação, é formada por aquele bando de desocupados, financiados pelo governo ou por ONGs, que participaram da Confecom (Conferência de Comunicação) e aprovaram o “controle social da mídia”. Ela seria uma das pontas dessa luta. E a extrema direita? Onde estaria?
Seria a imprensa que está aí, entenderam? Ao classificá-la de extremista, Lula pode reivindicar para si o “centro”. A lógica se impõe: se, para o barbudo, a “mídia” é hoje de extrema direita, é evidente, então, que ele está defendendo uma lei — OBSERVEM QUE ELE FALA EM “LEI” — que a force a caminhar para a esquerda. E como isso se faria sem policiamento de conteúdo? Não se faria! A proposta será inescapavelmente autoritária. Nos limites da Constituição e das leis democráticas, o único juiz aceitável do que a imprensa pública ou deixa de publicar é o indivíduo.
Trata-se de uma mentira grosseira a ilação de que a imprensa brasileira é de “extrema direita”. A verdade é bem outra, como sabem os leitores. Os valores dominantes hoje nas redações do país são majoritariamente de esquerda. Basta escolher o tema e fazer o teste. Mais ainda: a grande popularidade de Lula se deve à generosíssima cobertura que lhe dispensa a imprensa que ele quer controlar. Por que essa obsessão?
Ele tentou se explicar:
“Não defendo o controle da mídia, mas responsabilidade. [a mídia] Precisa parar de achar que não pode ser criticada, porque, toda a vez que é criticada, diz que é censura. Quando faz a matéria, diz que é liberdade de imprensa; quando recebe a crítica, diz que é censura”.
Nunca é tarde para Lula aprender alguma coisa, e eu ensino, embora, ex-professor, eu saiba reconhecer um esforço inútil. O problema não está na crítica que Lula e os petistas fazem à imprensa, mas na mobilização do aparato de estado contra a liberdade de expressão. O Apedeuta estabelece uma equivalência entre o Planalto e o jornalismo que é absolutamente falsa! Afinal, nós não podemos pressionar os poderosos com leis de sotaque discricionário, mas eles podem tentar nos intimidar. Mais: a sociedade tem a obrigação de vigiar o governo, mas um governo não pode tentar vigiar a sociedade além dos limites estabelecidos pela Constituição.
Quando a imprensa critica um governante — e é claro que a crítica pode ser injusta —, é razoável supor que estamos num regime democrático. Quando um governante critica a imprensa — sem apontar seus supostos erros —, estamos diante, quando menos, de uma tentação autoritária.
Não, Lula! Não passará!
Quem está passando é Lula.
Faltam apenas três dias.
PS: Era visível o ar compungido de Lula, triste mesmo, de quem está prestes a ser retirado do parquinho porque expirou o prazo do bilhete.
Informam José Ernesto Credendio e Andreza Matais na Folha desta terça:
Dois dos filhos do presidente Lula, Fábio Luís e Luís Cláudio, abriram em 16 de agosto deste ano duas holdings -sociedades criadas para administrar grupos de empresas-, a LLCS Participações e a LLF Participações. Ao final de oito anos de mandato do pai, Lulinha e Luís Cláudio figuram como sócios em seis empresas. AFolha constatou, porém, que apenas uma delas, a Gamecorp, tem sede própria e corpo de funcionários. Seu faturamento em 2009 foi de R$ 11,8 milhões, e seu capital registrado é de R$ 5,2 milhões. Ela tem como sócia a empresa de telefonia Oi, que controla 35%. As demais cinco empresas não funcionam nos endereços informados pelos filhos de Lula à Junta Comercial de São Paulo. São, por assim dizer, empreendimentos que ainda não saíram do papel.
As seis empresas dos filhos de Lula atuam ou se preparam para atuar nos ramos de entretenimento, tecnologia da informação e promoção de eventos esportivos. São segmentos em alta na economia, que ganharam impulso do governo federal -Lula, por exemplo, foi padrinho das candidaturas vitoriosas do Brasil para organizar a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Na maioria desses negócios, Lulinha e Luís Cláudio têm como sócios pessoas próximas de Lula. Um dos mais novos empreendimentos da dupla, a holding LLCS, por exemplo, foi registrada no endereço da empresa Bilmaker 600, na qual os dois não têm participação societária.
(…)
Comento
Pois é… A classe operária foi ao paraíso numa espantosa velocidade. Também nesse caso se percebe que FHC e Lula são muito diferentes. Quando o tucano chegou à Presidência, seus netos eram herdeiros de banco — o então Banco Nacional. Quando ele deixou o cargo, seus descendentes eram “sem-banco”. A instituição havia quebrado, e o governo não moveu uma palha para salvá-lo.
Com os Lula da Silva, a coisa é diferente. Lidam com a, digamos, “carreira” muito melhor do que o pai lidava com o torno. Lulinha era monitor de jardim zoológico quando o pai chegou ao poder. Oito anos depois, é esse potentado — certamente mais rico do que os netos de FHC!
Já que interrompi, por alguns instantes, o meu descanso (ver post acima), deixo aqui um registro: lamentável a divulgação, pela equipe da presidente eleita, Dilma Rousseff, das fotos em que ela aparece, no hospital, ao lado do vice-presidente da República, José Alencar. Na mais eloqüente delas, Dilma beija a testa de Alencar, mão esquerda na face direita do doente, a outra posta sobre a sua cabeça. Ele estava acordado — tanto é assim que somos informados que elogiou a composição do ministério (!) —, mas parece estar dormindo ou inconsciente, com os olhos cerrados.
Trata-se, obviamente, de um apelo de caráter emocional, espetacularizando nem tanto a doença dele — a sua luta é meritória —, mas a afetividade dela. Trata-se de uma óbvia desnecessidade. A solidariedade, a verdadeira (e não descarto que ela exista), dispensa esse tipo de divulgação, ainda que tenha contado, e certamente contou, com a concordância de Alencar e de sua família.
A cena expressa ternura? Sem dúvida! Só por isso foi oferecida ao consumo. Não há escapatória, meus caros: se o que importa ali é o gesto humano, fraterno, carinhoso, então isso não diz respeito a mais ninguém. Posta a imagem para circular, estamos diante de um discurso que já é político. E isso só nos diz como os políticos brasileiros são primitivos no que concerne ao decoro. Assim não, Dilma Rousseff!
Telmo Heinen Formosa - GO
Memorial Lula 2014 - Entre as bobagens que Lula disse naquele dia, em café com os jornalistas chapa branca que cobrem o Planalto, é que pretende trabalhar na construção de um "memorial" que permita a todas as pessoas fazerem uma análise própria do que representaram seus oito anos de governo. "Eu pretendo fazer isso devagar. Nada apressado". Este imbecil é de uma pobreza de espírito sem precedentes. Primeiro, registra em cartório um monte de informações falsas sobre o seu governo. Agora informa que vai continuar trabalhando para alimentar o próprio mito. Lula não desiste de querer reescrever a história, naquela ânsia de tentar provar, por exemplo, que o mensalão não existiu, que a dívida pública não explodiu, que a média de investimentos do seu período foi tão pequena quanto a de FHC, entre tantas outros fatos. O que Lula entende por "memorial" é material para a campanha eleitoral de 2014, por mais que ele diga que a sua candidata será Dilma, a não ser caso "ela não querer ser". Como se o criador não fosse cobrar a fatura da criatura. No "memorial" do Lula, o olhar é para o futuro e não para o passado. Como ele mesmo disse: "Eu pretendo fazer isso devagar. Nada apressado." ... Começou a fazer no dia em que escolheu a mamulenga como sucessora. [Enviado por Alvaro Pedreira de Cerqueira]