Cuidado, leitores! Já nasceu uma nova mitologia: a Dilma que não faz!

Publicado em 10/01/2011 18:08 e atualizado em 11/01/2011 07:57

Dilma Rousseff está no poder há dez dias, e já se pode dizer que há uma nova mitologia em construção, combinada, sim, com a que deu o tom das narrativas do governo anterior, mas, em boa medida, oposta àquela. Como toda mitologia política, também essa é falaciosa, destinada a substituir a realidade por uma leitura do real, cujo objetivo último é engrandecer a biografia do chefe; no caso, “da” chefe - talvez haja no Planalto quem prefira “chefa”, para adequar o vocábulo à metafísica influente. Lula era falastrão e buliçoso; Dilma, serena e discreta. Lula opinava sobre qualquer assunto, usando a tragédia ou a comédia para engrandecer a sua pantomima pessoal; Dilma prefere ser esfíngica, falando por meio de assessores. Lula sempre foi o seu próprio coordenador político; Dilma delega a Antonio Palocci as conversas incômodas  - ela nem mesmo seria do tipo que suja as mãos com a política.

Noto que a presidente já começa a ser elogiada, e isto é formidável, porque NÃO GERA NOTÍCIAS. O fastio com aquela parafernália midiática lulista está na raiz de certa sensação de alívio, de volta à normalidade, que se experimenta agora, mas convém ir com calma. Não fosse por outra razão, cumpre lembrar que Dilma está só na fase do aquecimento. A nova mitologia, no entanto, já começa a tomar corpo. E, como sempre, a imprensa tem um papel central nessa construção. Na sua coluna de ontem, Elio Gaspari chega a afirmar que há pão  (apesar de mais um programa contra a miséria…) e que as pessoas sentem mesmo é falta do circo. Elogio maior não poderia haver. Não se afirma isso de um governo, creio, desde a Roma Antiga - aliás, nem na Roma Antiga, é óbvio…

Ensaia-se até mesmo arranjar uma “mini-herança maldita” para a nova presidente, que, de fato, terá de se haver com algumas dificuldades, e o descontrole nos gastos públicos é uma delas. Tudo muito bem! Mas o governo que finda não era, como se anunciou na campanha eleitoral, fruto da parceria Lula-Dilma? A gastança não foi fundamental para consolidar a sua candidatura? Logo, a herança indubitavelmente maldita para os cofres públicos foi, em tudo, bendita para a então candidata. Pouco importa. A realidade é chata. A fantasia de uma nova era da racionalidade, em substituição à farra impressionista do lulismo, dá o tom da cobertura política. E notem: quanto menos Dilma fala, mais isso se confunde com uma estratégia política sofisticada.

O esforço para caracterizar a nova presidente como a continuidade de Lula, mas sem os defeitos daquele, é evidente. No caso, a sua suposta inexperiência (não ser uma política com trajetória eleitoral), um defeito para a então candidata, teria se tornado uma virtude para a presidente. É claro que se trata de uma rematada tolice. Destaque-se, de saída, que a inexperiência nunca ajudou ninguém. Ponto final. Se os inexperientes acabam bem-sucedidos, alcançam seus objetivos apesar dessa fragilidade, jamais por causa dela. Em segundo lugar, essa Dilma-toda-pura, virgem nos vícios da política, é outra dessas mentiras estúpidas, criadas para distrair certo jornalismo impressionista.

Estou enganado, ou esta é aquela mesma Dilma que, na crise dos cartões corporativos, mobilizou a Casa Civil para produzir o dossiê contra FHC e Ruth Cardoso? Estou enganado ou está é aquela mesma Dilma a quem Israel Guerra, filho de Erenice, chamava de tia? Estou enganado, ou esta é aquela mesma Dilma que chamou seu próprio apagão de blecaute, preferindo atacar, ora vejam…, o governo FHC? Estou enganado, ou esta é aquela mesma Dilma do programa Minha Casa, Minha Vida, talvez o maior golpe publicitário da história republicana?

Ora, senhores cronistas, respeitem um pouquinho a inteligência dos leitores - ou, então, não respeitem e fiquem com os leitores que preferem a bobagem. Ninguém chega à condição de candidata à Presidência do maior partido do país - uma máquina gigantesca que junta os bilionários fundos de pensão e poderosas máquinas sindicais - porque é a Maria Imaculada, a Toda-Pura, a Sem-Pecados. A se dar crédito a alguns textos, parece que Lula é o fauno destrambelhado que, não obstante, carregava no dorso a ninfa da pureza e da razão.

Este blog, vocês sabem, lê a política e também lê a forma como outros lêem a política. Resistimos - e, em boa parte, a desconstruímos - à mitologia do Lula criador de mundos, capaz de mudar a realidade com uma simples palavra. E resistiremos à fantasia da presidente comedida, comprometida apenas com a eficiência, que jamais dá um passo em falso porque é séria, inteligente, compenetrada, severa, austera, pontual, econômica, estudiosa, rigorosa - em suma, uma verdadeira Pascal de tailleur.

Não caiam nessa conversa. Pode até acontecer de eu vir a elogiar Dilma algum dia neste blog. Mas isso só acontecerá em face de algo que ela venha a fazer. Espanto-me com os paparicos do colunismo porque, afinal de contas, até agora, ela preferiu ficar calada.

Por Reinaldo Azevedo

Preconceito uma ova!

Há mais de mil comentários publicados naquele post sobre a presença de Edir Macedo na fila das autoridades estrangeiras, na solenidade de posse da presidente Dilma Rousseff. E deixei de publicar algumas dezenas, como vocês podem supor. A maioria deles trazia mais ou menos a seguinte questão: “Se fosse alguém da Rede Globo ou se fosse uma autoridade da Igreja Católica no lugar de Edir Macedo, gostaria de saber se o senhor (estes são os “respeitosos”) escreveria alguma coisa”…

Pois é… Vão ficar sem saber!!! Pela simples, óbvia e objetiva razão de que não havia ninguém da Rede Globo na fila, tampouco autoridade eclesiástica da Igreja de Roma. Logo, petralhinhas, a questão é absolutamente improcedente. É claro que eu entendo a ilação: na hipótese aventada, eu me calaria ou, então, acharia tudo muito normal, e minha crítica estaria embasada num preconceito - no caso, contra a Igreja Universal.

Sou vacinado contra a canalhice intelectual que consiste em defender a irregularidade, o malfeito ou o indecoroso acusando o crítico de “preconceituoso”. Trata-se de um notável refúgio da vigarice moral. A ser assim, haveremos um dia de reprimir as transgressões cometidas apenas por homens brancos, heterossexuais e católicos - gente que não poderia, em suma, chamar em sua defesa qualquer “minoria” organizada.

Li em algum lugar que a Globo teria interrompido a transmissão justamente na hora do beija-mão do Macedão para não levar o rival ao ar… Huuummm… Em primeiro lugar, chamar o homem de “rival” da Globo é licença poética, né? O ibope médio da emissora é superior à soma de todas as outras. Em segundo lugar, pergunto que interesse poderia haver na coisa. A audiência, àquela altura, já havia despencado. Fico cá a imaginar o excelente Heraldo Pereira a narrar: “E esse, na fila das autoridades estrangeiras, é Edir Macedo, o dono da Rede Record, acompanhado da cúpula da emissora…” Seria preciso explicar o que fazia aquele jabuti em cima da árvore… Se Heraldo tivesse dado uma esculhambada naquele despropósito, teria sido até divertido. E sempre apareceria alguém para acusar uma “guerra entre emissoras”.

Preconceito uma ova! Aquela fila foi organizada pelo Itamaraty, impiedosamente desmoralizado nos oito anos de governo Lula, sob o comando do megalonanico Celso Amorim. O episódio dos passaportes diplomáticos coroa a sua gestão indecente. Além dos filhos e do neto de Lula, um pastor da Igreja Universal - aquela do Macedão - também recebeu o agrado… Como se nota, estamos diante de um sistema.

Conformem-se, petralhas! Há as coisas certas, e há as coisas erradas. O dono de um emissora de TV e seu diretor de jornalismo na fila do beija-mão presidencial é uma coisa errada. E este blog chama o certo de “certo” e o errado de “errado”.

Aí grita o inconformado: “E quem é o juiz?” Eu, ora essa!!! E quem não gostar que vá procurar outro blog. São milhões!

Por Reinaldo Azevedo

Contra um brasileiro e a favor do Brasil

Contra todas as aparências, um ministério teria de ser refundado, salgando a terra dos últimos oito anos: o das Relações Exteriores. Mais do que qualquer outra pasta, o Itamaraty restou com o lixo ideológico do petismo o mais rombudo, o mais bocó, o mais ignorante. Não por acaso, a grande expressão da pasta no período, além de Celso Amorim, o Megalonanico, foi Marco Aurélio Garcia. É aquele senhor segundo quem apenas os 3% ou 4% que reprovam o governo Lula se interessam pelos passaportes diplomáticos dos parentes e apaniguados do Babalorixá.

A inserção comercial no Brasil, que não é nem maior nem menor do que no governo FHC - as commodities é que estão mais caras, e o mundo, na média, cresce muito mais -, nada têm a ver com o Itamaraty. Nada mesmo! Zero! No que era tarefa sua, específica, o  ministério só conseguiu cobrir o país de ridículo, fazendo com que amargasse insucesso atrás de insucesso. Mais um está para acontecer.

Lula, o rei posto, indicou José Graziano da Silva como o candidato do país a chefiar a FAO (Organização para a Agricultura e Alimentação da ONU). A idéia era contar com o apoio de países latinos, inclusive os europeus, como a Espanha. Pois é… Ocorre que Miguel Angel Moratinos, ex-ministro de Relações Exteriores daquele país, anunciou que postula o mesmo cargo, o que deve dividir os votos latino-americanos.

Para a FAO, certamente é uma notícia auspiciosa. Seria interessante saber por que Graziano, que responde por um mico histórico, o chamado “Programa Fome Zero”, que deu com os burros n’água, seria um bom nome para chefiar o programa da ONU. As eleições ocorrem em junho.

Se Graziano vai ou não conseguir, isso eu não sei. A situação se complicou bastante para ele, sem dúvida. Moratinos é bastante respeitado naquele universo que o PT costuma chamar de “progressista”. A Espanha é o país que mais contribui com a FAO, e seu candidato vem de uma recente e bem-sucedida negociação com a ditadura cubana para a libertação de presos políticos - enquanto Lula, o que já era, passava a mão na cabeça do facínora.

Graziano tem todos os méritos para perder a disputa, obviamente. Mas, se isso acontecer, ele não deve tomar como uma derrota pessoal. O Itamaraty quebrou a cara em todas as batalhas internacionais em que se meteu: todos os seus candidatos a postos em organismos multilaterais foram derrotados. Será que o mundo temia Celso Amorim e lhe dava um troco? Não! É que as pessoas realmente relevantes sempre lhe deram uma solene banana.

É claro que estou na torcida contra Graziano. E a favor do Brasil! Vamos lembrar os “sucesos” da política externa brasileira:

LISTA DE BESTEIRAS E DERROTAS DE CELSO AMORIM:

NOME PARA A OMC
Aamorim tentou emplacar Luís Felipe de Seixas Corrêa na Organização Mundial do Comércio em 2005. Perdeu. Sabem qual foi o único país latino-americano que votou no Brasil? O Panamá!!! Culpa do Itamaraty, não de Seixas Corrêa.

OMC DE NOVO
O Brasil indicou Ellen Gracie em 2009. Perdeu de novo. Culpa do Itamaraty, não de Gracie.

NOME PARA O BID
Também em 2005, o Brasil tentou João Sayad na presidência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Deu errado outra vez. Dos nove membros, só quatro votaram no Brasil - do Mercosul, apenas um: a Argentina. Culpa do Itamaraty, não de Sayad.

ONU
O Brasil tenta, como obsessão, a ampliação (e uma vaga permanente) do Conselho de Segurança da ONU. Quem não quer? Parte da resistência ativa à pretensão está justamente no continente: México, Argentina e, por motivos óbvios e justificados, a Colômbia.

CHINA
O Brasil concedeu à China o status de “economia de mercado”, o que é uma piada, em troca de um possível apoio daquele país à ampliação do número de vagas permanentes no Conselho de Segurança da ONU. A China topou, levou o que queria e passou a lutar… contra a ampliação do conselho. Chineses fazem negócos há uns cinco mil anos, os petistas, há apenas 30…

DITADURAS ÁRABES
Sob o reinado dos trapalhões do Itamaraty, Lula fez um périplo pelas ditaduras árabes do Oriente Médio.

CÚPULA DE ANÕES
Em maio de 2005, no extremo da ridicularia, o Brasil realizou a cúpula América do Sul-Países Árabes. Era Lula estreando como rival de George W. Bush, se é que vocês me entendem. Falando a um bando de ditadores, alguns deles financiadores do terrorismo, o Apedeuta celebrou o exercício de democracia e de tolerância… No Irã, agora, ele tentou ser rival de Barack Obama…

ISRAEL E SUDÃO
A política externa brasileira tem sido de um ridículo sem fim. Em 2006, o país votou contra Israel no Conselho de Direitos Humanos da ONU, mas, no ano anterior, negara-se a condenar o governo do Sudão por proteger uma milícia genocida, que praticou os massacres de Darfur - mais de 300 mil mortos! Por que o Brasil quer tanto uma vaga no Conselho de Segurança da ONU? Que senso tão atilado de justiça exibe para fazer tal pleito?

FARC
O Brasil, na prática, declara a sua neutralidade na luta entre o governo constitucional da Colômbia e os terroristas da Farc. Já escrevi muito a respeito.

RODADA DOHA
O Itamaraty fez o Brasil apostar tudo na Rodada Doha, que foi para o vinagre. Quando viu tudo desmoronar, Amorim não teve dúvida: atacou os Estados Unidos.

UNESCO
Amorim apoiou para o comando da Unesco o egípcio anti-semita e potencial queimador de livros Farouk Hosni. Ganhou a búlgara Irina Bukova. Para endossar o nome de Hosni, Amorim desprezou o brasileiro Márcio Barbosa, que contaria com o apoio tranqüilo dos Estados unidos e dos países europeus. Chutou um brasileiro, apoiou um egípcio, e venceu uma búlgara.

HONDURAS
O Brasil apoiou o golpista Manuel Zelaya e incentivou, na prática, uma tentativa de guerra civil no país. Perdeu! Honduras realizou eleições limpas e democráticas. Lula não reconhece o governo.

AMÉRICA DO SUL
Países sul-americanos pintam e bordam com o Brasil. Evo Morales, o índio de araque, nos tomou a Petrobras, incentivado por Hugo Chávez, que o Brasil trata como uma democrata irretocável. Como paga, promove a entrada do Beiçola de Caracas no Mercosul. Quem está segurando o ingresso, por enquanto, é o Parlamento… paraguaio!  A Argentina impõe barreiras comerciais à vontade. E o Brasil compreende. O Paraguai decidiu rasgar o contrato de Itaipu. E o Equador já chegou a seqüestrar brasileiros. Mas somos muito compreensivos. Atitudes hostis, na América Latina, até agora, só com a democracia colombiana. Chamam a isso “pragmatismo”.

CUBA, PRESOS E BANDIDOS
Lula visitou Cuba, de novo, no meio da crise provocada pela morte do dissidente Orlando Zapata. Comparou os presos políticos que fazem greve de fome a bandidos comuns do Brasil.

IRÃ, PROTESTOS E FUTEBOL
Antes do apoio explícito ao programa nuclear e do vexame de agora, já havia demonstrado suas simpatias por Ahmadinjead e comparado os protestos das oposições  contra as fraudes eleitorais à reclamação de uma torcida cujo time perde um jogo.

Por Reinaldo Azevedo

Os vigaristas deles

O Brasil pode até ser PhD em certo tipo de vigarice política, mas, é evidente, não está sozinho. Mesmo uma sólida democracia como a americana, em que - vejam que escândalo! - a oposição tem coragem de ser oposição, e isso é visto como absolutamente legítimo, a esquerda tenta silenciar o debate, colocando-se acima das disputas e apresentando-se como juiz moral da peleja. É como se ela própria não fizesse parte do embate.

A que me refiro? Alas do Partido Democrata nos EUA resolveram achar um bode expiatório para explicar o atentando de que foi vítima a deputada democrata Gabrielle Giffords, do Arizona. O responsável último pelo episódio seria o movimento Tea Party, que reúne as alas mais conservadoras do Partido Republicano. Ao exacerbar o combate político e carregar na linguagem, estaria estimulando ações radicais. Qual é a evidência de que o cretino que cometeu o atentado mantém qualquer vínculo com o Tea Party? Nenhuma! E daí? Os democratas estão tentando fazer uma limonada com o sangue de Gabrielle e dos mortos.

Como todos sabem, a ética é a marca da campanha dos democratas. Eles não demonizam ninguém. George W. Bush, por exemplo, foi tratado com extrema elegância durante a campanha, não é mesmo? Só não foi chamado de santo. Dick Cheney foi convertido na besta-fera da política, e Sarah Palin, agora uma das líderes do Tea Party, foi esmagada. Ninguém se lembrou de pedir moderação.

Agora, até mesmo um cronista ácido como Glenn Beck, que faz, sim, uma crítica de fundo ideológico ao governo Obama, aparece entre os responsáveis potenciais pela tragédia que colheu a deputada democrata. Trata-se de uma canalhice intelectual e moral. Pode-se gostar ou não do Tea Party, mas atribuir a seu discurso o gesto destrambelhado de um homicida é uma trapaça óbvia. Chamem o delinqüente Michael Moore para fazer a segunda versão de “Tiros em Columbine”. Atribuir a tragédia ao Tea Party faz tanto sentido quanto sugerir que tudo não passa de uma conspiração dos próprios democratas para atingir os adversários… Tenham paciência!

A ser assim, qual seria o corolário? O negócio é deixar Obama governar sem oposição, ou os republicanos serão responsabilizados por tudo o que vier a acontecer de ruim nos EUA.

E, como sabemos, autoritários são os republicanos, não é mesmo? Os democratas são a expressão máxima da tolerância política!

Por Reinaldo Azevedo

Juízos tortos. Ou então: vamos cair na farra!

Marco Aurélio Top Top Garcia acredita que só os 3% ou 4% que consideravam o governo do PT ruim ou péssimo se interessam pela indecorosa emissão de passaportes diplomáticos para a família Lula e seus apaniguados. Não deixa de ser um reconhecimento e uma deferência a esses verdadeiros heróis, não é mesmo?, em quem um blogueiro do Planalto já quis até botar uma tornozeleira eletrônica. Considerando que se trata de um ato indecoroso, imoral e, no limite, ilegal, até Marco Aurélio admite que essa extrema minoria corresponde àquela para a qual existe diferença ente o certo e o errado, o aceitável e o inaceitável. Sim, eu entendi o seu esforço para reduzir os protestos aos “descontentes de sempre”. Mas ele acabou dizendo, sem querer,  uma  verdade. Caso se dê conta disso, vai retirar imediatamente a fala…

O petismo e as regras do decoro vivem mesmo uma estranha relação. Hoje, foi o presidente da Câmara, Marcos Maia (RS), candidato a preservar o cargo na legislatura que vem, quem se saiu com juízo parecido. Ele reagiu às críticas feitas por Ophir Cavalcante, presidente da OAB, à concessão indiscriminada de passaportes diplomáticos a deputados e familiares em viagem de… turismo!!!

Maia disse estranhar as críticas do presidente da OAB e afirmou, à moda Marco Aurélio, que o país tem problemas mais sérios a resolver. Ora, é claro que tem! O maior deles é um desafio verdadeiramente ontológico: saber se foi o ovo ou a galinha a surgir primeiro. Todas as irresoluções da humanidade também estão presentes em Banânia. Nem por isso vamos deixar que a esbórnia coma solta, uma vez que não resolvemos alguns dos dilemas essenciais do homem.

Esse tipo de raciocínio é uma estupidez e uma pilantragem intelectual. Ademais, não cabe aos beneficiários das prebendas irregulares decidir o que é o que não é importante. Apelando ao extremo, não tenho dúvidas de que Marcola considera que o país tem problemas bem mais graves do que o PCC…

As leis e as regras têm de ser cumpridas, especialmente pelos homens públicos, que têm a força da representação. Não lhes cabe arbitrar que determinação legal vão ou não cumprir.

Há dias, foi a vez de o ministro Nelson Jobim (Defesa) tratar com menoscabo as críticas à farra da família Lula numa instalação militar no Guarujá. Também ele acha que há coisas mais sérias no país com as quais devemos nos ocupar. Certo!

A ser assim, sugiro que esses iluminados se reúnam, estabeleçam as prioridades do país, digam quais são os assuntos aos quais devemos nos dedicar, decretando, em seguida, que, fora daquela pauta, não existe mais pecado.

E vamos partir para a farra, ué!

Por Reinaldo Azevedo

A herança maldita que Dilma deixou para… Dilma!

Deveria ter tratado antes do assunto, mas não o fiz. Então que seja agora, já que a questão não morreu - muito pelo contrário. O Estadão publicou no domingo um editorial muito interessante. Peço que vocês o leiam. Volto em seguida:

Outra herança maldita

Não será fácil para a presidente Dilma Rousseff cumprir o compromisso, assumido no seu discurso de posse, de melhorar a qualidade do gasto público. A enorme conta que seu antecessor e padrinho político-eleitoral Luiz Inácio Lula da Silva deixou para ser paga em sua gestão lhe trará grandes dificuldades para administrar com um mínimo de racionalidade e planejamento os recursos de que disporá ao longo de seu primeiro ano de governo e limitará drasticamente a execução do Orçamento da União de 2011.

Os compromissos financeiros assumidos pelo governo Lula, mas não pagos e por isso transferidos para a gestão Dilma, somam R$ 137 bilhões, dos quais R$ 57,1 bilhões se referem a investimentos. São os restos a pagar - como essas despesas que passam de um ano fiscal para outro são designadas na administração financeira do setor público. São várias as situações em que uma despesa do governo precisa ser postergada para o exercício financeiro seguinte. Isso ocorre, por exemplo, com despesas autorizadas (empenhadas) nos últimos dias de um ano cujo pagamento não foi efetivado. Também obras executadas ao longo de mais de um exercício financeiro podem gerar restos a pagar.

No governo Lula, porém, o valor dos restos a pagar cresceu de maneira ininterrupta e muito depressa, numa clara indicação de que foram crescentes suas dificuldades para aplicar as verbas inscritas no Orçamento com eficácia e no período previsto. Não se trata de uma ilegalidade, mas de uma demonstração de incompetência administrativa e de má qualidade da gestão financeira.

Já em 2007 o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Ubiratan Aguiar, relator das contas do governo do ano anterior, criticara o alto volume de restos a pagar. O mesmo ministro foi relator das contas do governo de 2008 e pode, então, constatar que o volume crescera, porque o governo não estava conseguindo aplicar a tempo os recursos previstos na lei orçamentária anual. Depois, o TCU verificou que, entre 2005 e 2009, o volume de contas a pagar aumentou 195%, ou seja, praticamente triplicou em cinco anos. Caso os valores empenhados e não pagos em 2010 não sejam cancelados, o total dos restos a pagar em 2011 será 252% maior (em valores nominais) do que o de 2005.

Pelas regras em vigor, uma verba do orçamento que não tenha sido empenhada no mesmo ano terá que ser cancelada. Para não perder a verba, os gestores costumam empenhar o máximo possível dos recursos orçamentários, mesmo que não possam liquidar (autorizar o pagamento) ou efetuar o pagamento no mesmo ano. É essa prática que provoca o aumento do volume de restos a pagar.

A notória lentidão do governo Lula para tirar do papel planos e projetos de ampliação de serviços, de renovação de equipamentos e de melhoria de serviços públicos foi parcialmente disfarçada pelo uso intensivo dessa prática. Em termos de qualidade da administração pública, os resultados têm sido desastrosos.

No ano passado, incluídos os restos a pagar de exercícios anteriores, o governo conseguiu investir 58,6% do total previsto no Orçamento anual. Computados só os valores referentes a 2010, os resultados são muito piores. Levantamento da organização Contas Abertas - responsável pelo cálculo dos restos a pagar transferidos para 2011 - mostrou que, até 25 de dezembro, só 31% do total tinham sido pagos. Dos R$ 69 bilhões de investimentos autorizados para 2010, o governo pagou R$ 21,5 bilhões, mas empenhou R$ 53 bilhões, deixando uma conta de R$ 31,5 bilhões (só do Orçamento do ano passado) para o governo Dilma pagar.

Esses números mostram que, por causa do aumento excepcional dos restos a pagar, a cada ano o governo gasta mais com despesas vindas de exercícios anteriores e cada vez menos com os programas e projetos incluídos no Orçamento do respectivo exercício.

Trata-se de um grave desvirtuamento do Orçamento, que gera uma administração financeira e orçamentária obscura e torna ainda menos confiável o Orçamento Anual aprovado pelo Congresso. O novo governo terá muito trabalho para corrigir as distorções deixadas pelo anterior.

Comento
A dificuldade que o editorial do Estadão caracteriza é real. E o jornal tem razão quando aponta o aspecto vicioso de tal prática. É como jogar no lixo o Orçamento votado e governar com um outro, que ninguém conhece. Vá lá…

Só que há um probleminha aí: Dilma está recebendo uma “herança maldita” de si mesma. Ou não cansamos de ouvir que ela era o braço direito (e o esquerdo também) do chefe;  que as conquistas tinham a sua marca; que ela era “a” escolhida para continuar a obra??? Uma das idéias-força da campanha de Dilma na TV era a de que o país estava pronto para dar o grande salto para a frente, sem entraves. Bastava seguir a política do… presidente (???) Lula, que teria dado aos governantes futuros régua e compasso.

A realidade chegou depois da eleição, como costuma acontecer por estas plagas.

Por Reinaldo Azevedo

Lula precisa presidir nem que seja clube de futebol de botão

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já volta à cena no dia 10 de fevereiro, num evento que marca os 31 anos do PT. O partido lhe devolverá, simbolicamente, a presidência de honra. Todo mundo sabe quem manda lá. É o Babalorixá de Banânia. Mas o ritual é importante. Lula precisa presidir alguma coisa, nem que seja clube de futebol de botão. Na carta-convite enviada aos parlamentares, José Eduardo Dutra, presidente da legenda, diz que a presença da presidente Dilma Rousseff é apenas “provável”.

Vamos ver. Pode ser um encontro interessante, especialmente se Lula decidir jogar conversa fora, como foi hábito nos oito anos em que governou o país. As duas mitologias a que me referi num texto de ontem podem se encontrar, estreitando-se, como diria o poeta, num abraço insano: a fanfarronice dele e a dita austeridade dela.

É claro que a devolução simbólica poderia se dar sem uma solenidade pública. Mas certamente o Apedeuta exige um evento, o que evidencia o controle que ele tem do partido - e, pois, de uma fatia considerável da República. No governo Dilma, não custa lembrar, o peso dos petistas é maior do que era no governo do próprio Lula.

Por Reinaldo Azevedo

Dilma ignora pressão do PMDB e mantém formato de núcleo político

Por Vera Rosa, no Estadão:
A presidente Dilma Rousseff desistiu de ampliar a coordenação política do governo para incluir um representante do PMDB. Ao menos por enquanto, a ideia é manter fechado o núcleo da coordenação para facilitar a conversa neste período de crise entre petistas e peemedebistas por conta da partilha dos cargos do segundo escalão do governo.

Reunidos ontem com Dilma, o vice-presidente da República, Michel Temer, e os ministros da Casa Civil, Antonio Palocci, e das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, avaliaram que o tamanho do núcleo duro do governo é o ideal para resolver os problemas mais graves entre os maiores parceiros da aliança. Concluíram que o PT está bem representado e o PMDB tem o vice, que é presidente licenciado da legenda.

Por pressão do PMDB, Dilma chegou a cogitar a presença do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB), no grupo da coordenação, que se reúne semanalmente. A avaliação feita ontem, porém, é a de que incluir outro nome do PMDB, agora, seria abrir um precedente para que todos os demais partidos da base aliada - PSB, PDT, PC do B, PP, PR e PTB, entre outros - reivindicassem um assento no fórum. Neste caso, os ministros e a presidente entenderam que o núcleo político se transformaria numa assembleia dos governistas. Aqui

Por Reinaldo Azevedo
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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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