Herança maldita é a institucionalização da impunidade dos bandidos de estimação

Publicado em 21/06/2011 23:07
da coluna Direto ao Ponto, no blog de Augusto Nunes (veja.com.br)

Herança maldita é a institucionalização da impunidade dos bandidos de estimação

Se conseguisse envergonhar-se com alguma coisa, o ex-presidente Lula estaria pedindo perdão aos brasileiros em geral, por ter imposto a Dilma Rousseff a nomeação de Antonio Palocci, e aos paulistas em particular, por ter imposto ao PT a candidatura de Aloízio Mercadante ao governo estadual. Se não achasse que ética é coisa de otário, trataria de concentrar-se nas palestras encomendadas por empreiteiros amigos para livrar-se de explicar o inexplicável, como o milagre da multiplicação do patrimônio de Palocci e a comprovação do envolvimento de Mercadante nas bandalheiras dos aloprados. Se não fosse portador da síndrome de Deus, saberia que ninguém tem poderes para revogar os fatos e decretar a inexistência do escândalo do mensalão.

Como Lula é o que é, aproveitou a reunião do PT paulista, neste 17 de junho, para tratar de todos esses temas no mesmo palavrório. Com o desembaraço dos condenados à impunidade perpétua e o cinismo de quem não tem compromisso com a verdade, o sumo-sacerdote da seita serviu a salada mista no Sermão aos Companheiros Pecadores, clímax da missa negra em Sumaré. Sem união, ensinou o mestre a seus discípulos, nenhum bando sobrevive sem perdas. Palocci, por exemplo, perdeu o empregão na Casa Civil não pelo que fez, mas pelo que o rebanho governista deixou de fazer. Foi despejado não por excesso de culpa, mas por falta de braços solidários.

Para demonstrar a tese, evocou o escândalo do mensalão, sem mencionar a expressão proibida. “Eu sei, o Zé Dirceu sabe, o João Paulo sabe, o Ricardo Berzoini sabe, que um dos nossos problemas em 2005 era a desconfiança entre nós, dentro da nossa bancada”, disse o mestre a seus discípulos. “A crise de 2005 começou com uma acusação no Correio, de R$ 3 mil, o cara envolvido era do PTB, quem presidia o Correio era o PMDB e eles transformaram a CPI dos Correios, para apurar isso, numa CPI contra o PT, contra o Zé Dirceu e contra outros companheiros. Por quê? Porque a gente tava desunido”.

A sinopse esperta exige o preenchimento dos muitos buracos com informações essenciais. Foi Lula quem entregou o controle dos Correios ao condomínio formado pelo PMDB e pelo PTB. O funcionário filmado embolsando propinas era apadrinhado pelo deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, que merecera do amigo Lula “um cheque em branco”. O desconfiado da história foi Jefferson, que resolveu afundar atirando ao descobrir que o Planalto não o livraria do naufrágio. Ao contar o que sabia, desmatou a trilha que levaria ao pântano do mensalão. Ali chapinhava José Dirceu, chefe do que o procurador-geral da República qualificou de “organização criminosa sofisticada” formada por dezenas de meliantes.

Tais erros não podem repetir-se, advertiu o pregador. É preciso preservar a coesão do PT e da base alugada, contemplando com cuidados especiais os parceiros do PMDB. Para abafar focos de descontentamento, a receita é singela: “A gente se reúne, tranca a porta e se atraca lá dentro”, prescreveu. Encerrada a briga de foice, unifica-se o discurso em favor dos delinquentes em perigo. “Eu tô de saco cheio de ver companheiro acusado, humilhado, e depois não se provar nada”, caprichou na indignação de araque o padroeiro dos gatunos federais. Aos olhos dos brasileiros honestos, figuras como o mensaleiro José Dirceu, a quadrilheira Erenice Guerra ou o estuprador de sigilo bancário Antonio Palocci têm de prestar contas à Justiça. Para Lula, todos só prestaram relevantes serviços à pátria. A lealdade ao chefe purifica.

“Os adversários não brincam em serviço”, fantasiou. “Toda vez que o PT se fortalece, eles saem achincalhando o partido”. É por isso que Mercadante está na berlinda: segundo Lula, os inimigos miram não no comandante de milícias alopradas, mas no futuro prefeito da capital. “Nunca antes na história deste país tivemos condições tão favoráveis para ganhar as eleições no Estado”, festejou no fim do sermão. Se há pouco mais de seis meses o PT foi novamente surrado nas urnas paulistas, o que ampara o otimismo do palanque ambulante? Nada. É só mais um blefe. O PSDB costuma embarcar em todos.

Cumpre à oposição mostrar que o homem que brinca de xerife é o vilão do faroeste de quinta categoria. Os brasileiros precisam aprender que o  câncer que corrói o organismo político não é a corrupção, que existe em qualquer paragem, mas a certeza de que não haverá sanções legais. Ao longo de oito anos, Lula institucionalizou a impunidade dos corruptos e acelerou a decomposição moral do país. O Brasil lembra um grande clube dos cafajestes sustentado por milhões de eleitores para os quais viver é não morrer de fome. Essa sim é a herança maldita.

Promovido a hors concours, Lula vai entregar o troféu ao Maior Quadrilheiro de Junho

A esmagadora maioria obtida por Lula na escolha do Maior Quadrilheiro de Junho ─ 187 votos ─ induziu a comissão organizadora a modificar o regulamento e transformar o supercampeão em hors concours. Para dar alguma chance aos concorrentes, Lula receberá no dia 27 o título de Quadrilheiro do Século e entregará pessoalmente o troféu ao vencedor da disputa entre os quatro finalistas. Por enquanto, as vagas na enquete estão com Antonio Palocci (49 votos), José Sarney (35), José Dirceu (33) e Fernando Collor (16). A votação termina amanhã, quarta-feira, às 18 horas. Escolham seus candidatos, amigos.

O Tribunal de Contas da União não tem o direito de endossar o mais descarado assalto aos cofres públicos da história do Brasil

No dilmês, essa ramificação degenerada da língua portuguesa que a presidente inventou, a forma é sempre mais reveladora que o conteúdo. O que diz Dilma Rousseff é invariavelmente tão raso que pode ser atravessado por uma formiga com água pelas canelas. O jeito de dizer confirma a cada 10 palavras que o governo brasileiro é chefiado por uma mulher incapaz de produzir uma frase com começo, meio e fim ─ além de inteligível. Hipnotizados pela discurseira inverossímil, os jornalistas às vezes nem percebem que a oradora sem rumo está soltando uma informação que vale manchete.

O fenômeno se repetiu durante a visita a Ribeirão Preto. Nos primeiros minutos do vídeo que registra o palavrório de sexta-feira, Dilma jurou três vezes que a ladroagem sem limites, sem vigilância e protegida pelo sigilo foi abençoada pelo Tribunal de Contas da União. “Esse regime e a lei foram discutidos amplamente pelo governo e com o TCU”, começou a presidente. “Sugiro que as pessoas… os jornalistas que fizeram a matéria que investiguem junto ao TCU”, insistiu. “Não é possível chamar o governo de que está garantindo roubalheira ou qualquer coisa assim”, fingiu indignar-se em seguida. “Isso foi negociado com o TCU!”

A revelação gravíssima não mereceu sequer um canto de página de jornal. Tampouco houve espaço para a nota divulgada na mesma sexta-feira pelo presidente do tribunal, Benjamin Zymler, que transforma os ministros em cúmplices de um ato criminoso. “O Regime Diferenciado de Contratações pode aperfeiçoar o controle de recursos públicos e o andamento das licitações e contratações”, murmurou Zymler, tentando abrandar a confissão de culpa com uma ressalva: o TCU só apoiará oficialmente a malandragem bilionária depois de aprovada pelo Congresso. A Câmara dos Deputados já disse amém. Falta o Senado.

A secretaria de Comunicação do TCU fez um único reparo às declarações de Dilma: nas reuniões com parlamentares governistas encarregados de cuidar do assunto, o tribunal foi representado não pelo presidente, mas por técnicos da instituição. Pior ainda. Os nove ministros, todos nomeados pelo chefe do Poder Executivo, poderiam invocar a ignorância como atenuante. Técnicos no assunto têm o dever de saber que o RDC é só uma sigla para camuflar a vigarice longamente planejada. Não haveria motivos para pressa se os preparativos para a Copa do Mundo tivessem começado no mesmo instante em que o Brasil soube que seria o anfitrião do evento marcado para 2014. (Veja post de maio de 2010).

Uns por inépcia, outros por cretinice, quase todos por se tratar de corruptos de carteirinha, os pais-da-pátria incumbidos de tocar os trabalhos deixaram as coisas nas mãos de Deus ─ que, além de brasileiro, conversa com Lula todo dia. Passados três anos e meio, os arquitetos do conto da Copa tiraram do armário o instrumento que permite roubar sem sobressaltos. Até um bebê de colo sabe que está em curso o maior assalto aos cofres públicos desde 1500. Os ministros do TCU estão obrigados a impedi-lo. Embora nomeados pelo Planalto, todos têm como patrão a sociedade. Devem obediência aos brasileiros que pagam as contas. Todas, inclusive os salários do Tribunal de Contas.

Henrique Meirelles e a armadilha olímpica

Convidado há três meses para presidir a Autoridade Pública Olímpica (APO), autarquia concebida para aprovar e fiscalizar obras de infraestrutura vinculadas aos Jogos de 2016, Henrique Meirelles acabou nomeado na sexta-feira representante da União num certo Conselho Público Olímpíco da Autoridade Pública Olímpica. Se o nome ficou maior, Meirelles ficou menor. Em tese, vai dirigir o colegiado que inclui o governador fluminense e o prefeito do Rio. Na prática, será um dos integrantes do triunvirato completado por Sérgio Cabral e Eduardo Paes. Já é uma dupla e tanto. Mas terá de lidar também com o ministro do Esporte, Orlando Silva, e o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman.

No primeiro número do Pasquim, Millôr Fernandes fez a advertência famosa: “Se este jornal for independente, não dura três meses. Se durar três meses, não é independente”. A profecia só se cumpriu alguns anos mais tarde. Sem medo de errar, tomo emprestada a previsão de Millôr para aplicá-la a Henrique Meirelles, que pode ter caído numa armadilha olímpica. Até prova em contrário, o ex-presidente do Banco Central é um homem honesto. Se continuar a sê-lo, não dura três meses no cargo.

Tomara que saia antes.

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Fonte:
Blog Augusto Nunes (Veja)

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