Vocês se lembram daquelas mortes de “líderes camponeses” do Pará? Lembram-se do escarcéu feito por boa parte da imprensa brasileira? Repórteres foram despachados para a “área de conflito”, atendendo ao chamamento de Gilberto Carvalho, que resolveu inventar uma guerra contra os movimentos sociais no Norte do país. Torrentes de lágrimas ideologicamente orientadas corriam, em tumulto, no jornalismo engajado, que, no entanto, se fazia de isento defensor dos direitos humanos…
Petistas, verdes e imprensa brasileira pautaram, como o esperado, seus congêneres internacionais. Jon Lee Anderson, o famoso biógrafo de Che Guevara, perpetrou um longo texto na revista New Yorker sobre a onda de mortes do Pará. Escrevi um post a respeito intitulado “Biógrafo do Porco Fedorento agora decidiu mudar o objeto de sua mistificação”. Pois bem. Qual era o meu ponto?
Seria eu favorável à morte de “líderes extrativistas” e de “líderes camponeses”? Seria eu tão cruel a ponto de não me comover com a “escalada de violência contra os movimentos sociais”? Bem, a resposta, obviamente, é “não”. Ocorre que não havia indícios de escalada nenhuma. Escrevi em um dos muitos textos:
“Gilberto Carvalho saiu boquejando um fato inexistente para fazer baixa política e agora colhe os frutos ruins também para o governo. Anderson diz que Dilma é uma “tecnocrata pró-desenvolvimento”, que não dá bola para o meio ambiente. O grande humanista acha que essa conversa de “desenvolvimento” não é pra nós. O nosso dever e cuidar do mato. Desenvolvimento é para quem deu cabo de suas florestas até meados do século passado.”
Certo, certo…
Agora leiam o que informa a Folha Online. Volto em seguida:
Por Felipe Luchete:
O inquérito da Polícia Civil do Pará sobre o assassinato do casal de extrativistas José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, mortos em 24 de maio, aponta como mandante do crime José Rodrigues Moreira, dono de terras no assentamento onde eles viviam. A Folha apurou que ele é suspeito de ter encomendado a morte a dois homens, cujos retratos falados já haviam sido divulgados no mês passado. O resultado das investigações, protocolado na segunda-feira (18) na Justiça, deve ser divulgado oficialmente na quarta-feira (20). O crime ocorreu em Nova Ipixuna, no sudeste do Estado, e os três devem ser indiciados sob suspeita de duplo homicídio triplamente qualificado. José Rodrigues, como é conhecido na região, chegou no ano passado ao assentamento Praialta Piranheira, vindo de Novo Repartimento (sudoeste do Pará). Ele comprou duas áreas (uma em nome da sogra), de 13 e 16 alqueires –equivalente no total a cerca de 79 hectares, ou 790 mil metros quadrados.
Em dezembro de 2010, José Claudio havia declarado à CPT (Comissão Pastoral da Terra) que Rodrigues comprou as terras da dona de um cartório em Marabá. No documento, o extrativista diz que ela tomara as áreas irregularmente. Ele ainda acusou Rodrigues de ter incendiado casas de dois agricultores em novembro, com o pretexto de que ele era dono das terras. Em maio, os mesmos agricultores foram retirados do local com a família por homens da Força Nacional de Segurança. Eles estão temporariamente sob os cuidados do programa de direitos humanos vinculado à Defensoria Pública do Pará, mesmo não tendo se encaixado nos critérios para receber proteção. O Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) diz que investiga se há irregularidades em propriedades do assentamento. Rodrigues é considerado foragido. Pessoas ligadas ao casal disseram que ele tem cerca de 55 anos e deixou o assentamento uma semana após o assassinato. A Folha não conseguiu localizá-lo. A polícia chegou a pedir duas vezes a prisão preventiva dos suspeitos, mas não foi atendida pela Justiça.
Emboscada
No dia 24 de maio, o casal caiu numa emboscada ao passar de moto por uma ponte precária do assentamento. Eles andavam com pelo menos R$ 700, que foram levados pelos assassinos. A polícia descartou, contudo, que o crime tenha sido motivado por um assalto. No local onde os dois foram mortos, um monumento hoje relembra fala de José Claudio durante uma palestra em Manaus (AM). Ele havia dito que vivia ameaçado de morte e poderia ter o mesmo destino do seringueiro Chico Mendes e da missionária Dorothy Stang, outros líderes assassinados na Amazônia.
A Polícia Federal, que também investiga o duplo homicídio, prevê encerrar o inquérito no fim do mês. Outros três assassinatos no campo foram registrados no Pará após a morte dos extrativistas. Ninguém foi preso. A polícia diz que não encerrou os inquéritos, mas nega relação com conflitos agrários.
Voltei
Sim, vocês entenderam tudo direito. Os dois ditos “líderes extrativistas” foram mortos por um morador do assentamento — que não era exatamente um plutocrata da terra… Não custa lembrar que o próprio José Cláudio estava armado, em companhia do irmão, quando este matou um outro assentado. Como também escrevi aqui, esses ditos “movimentos sociais” costumam fazer as suas próprias leis e organizar a sua própria polícia. Quem conhece a rotina das invasões de terra patrocinadas pelo MST, por exemplo, sabe muito bem disso. E os demais “mortos”? As investigações apontam para crime comum.
Como e por que acertei? É simples! Em vez de visitar o Pará, decidi visitar a lógica.
Post publicado originalmente às 22h12 desta terça