CNC: Brasil e Colômbia buscam solução para crise de preços do café

Publicado em 31/08/2018 18:19
Representantes do setor de produção dos dois países se reuniram em Brasília para iniciar planejamento que gere sustentabilidade e renda na atividade

O Conselho Nacional do Café (CNC) coordenou, na segunda-feira, 27 de agosto, reunião entre representantes da cadeia produtiva, incluindo a Comissão Nacional da CNA, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e da Federación Nacional de Cafeteros (FNC) da Colômbia (saiba mais). "O encontro teve como objetivo debater a crise de preços mundiais do café e o desequilíbrio econômico dentro da cadeia produtiva, que arruína os produtores, bem como as ações a serem adotadas para enfrentar esse cenário", explica o presidente da entidade, Silas Brasileiro.

Segundo ele, os preços internacionais do café, atualmente, estão abaixo dos custos de produção, comprometendo a sustentabilidade econômica e a sobrevivência de 25 milhões de famílias no mundo. “Diante disso, os dois maiores países produtores de arábica do mundo pretendem se juntar às demais nações cafeeiras para pensar em propostas que possibilitem uma cafeicultura sustentável e rentável”, revela.

Como ponto de partida, brasileiros e colombianos acordaram sobre quatro cenários que precisam ser combatidos de imediato, conforme exposto na sequência.

1) Programas de ampliação do consumo mundial: a introdução e a ampliação do uso de tecnologias mais eficientes na produção de café ao redor do planeta geram respostas rápidas de aumento de oferta, com grande potencial para existir excedentes no curto prazo, pois não necessariamente o ritmo de crescimento do consumo acompanhará os picos de produção, havendo risco de agravamento do período de baixa do ciclo plurianual de preços do café, desencadeando grandes prejuízos aos cafeicultores e eliminando a sustentabilidade.

Assim, é fundamental que sejam centralizados esforços para o desenvolvimento e o fortalecimento de programas de ampliação do consumo nos países produtores (para absorção dos excedentes) e também nos países consumidores, de forma que sejam concretizadas as previsões de aumento do consumo mundial.

Nas últimas reuniões da Organização Internacional do Café (OIC), foram apresentadas diversas iniciativas independentes (Global Coffee Platform, World Coffee Research e Global Arabica Plan) que buscam fomentar a sustentabilidade e, consequentemente, a elevação da produtividade nos países produtores. É fundamental que essas iniciativas também assumam a responsabilidade de apoiar a absorção pelo mercado dos excedentes que tendem a ser produzidos, pois sem preços remuneradores não existe sustentabilidade. E preços remuneradores somente existem quando há equilíbrio entre oferta e demanda.

2) Reduzir estoques nos importadores: os detentores dos estoques de café possuem maior influência na formação dos preços internacionais. Por isso é fundamental reequilibrar a balança atual, deslocando os estoques dos países consumidores para os países produtores. É importante ilustrar o caso do Brasil, que, apesar da maior safra produzida este ano, está com seus estoques no nível histórico mais baixo e, em 2019, colherá uma safra menor devido à bienalidade negativa. Em contrapartida, os estoques nos países consumidores estão em nível elevado.

É importante que a formação de estoques nos países produtores seja administrada pelo setor privado, em coerência com ferramentas de gestão de risco de mercado. Por isso, nossa sugestão é o desenvolvimento de políticas públicas nas nações cafeeiras para apoiar o ordenamento da oferta, a exemplo do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) do Brasil, que financia a formação de estoques para evitar a venda em momento de preços aviltados.

A esse respeito, Silas Brasileiro recorda que, como antecipação ao cenário de uma maior safra no Brasil e apesar das profundas dificuldades fiscais do País, o CNC conseguiu aprovar orçamento recorde para as linhas de Estocagem e Custeio do Funcafé, com o objetivo de dar condições para o setor produtivo ordenar a oferta. “Foram quase R$ 3 bilhões aprovados para apoiar o carregamento de estoques, o que permite não colocar no mercado cerca de 9 milhões de sacas de café, ou 15% da safra brasileira”, comenta.

O presidente do Conselho orienta que o setor produtivo faça uso do Funcafé para evitar a venda da safra “neste momento impróprio de preços aviltados”, conseguindo fôlego para aguardar a recuperação do mercado e negociar as produções atual e futura em condições mais vantajosas. “Também apoiam o ordenamento da oferta os R$ 1,5 bilhão para as linhas de FAC e Capital de Giro às Cooperativas de Produção. Com isso, são R$ 4,5 bilhões do Funcafé, aprovados em 2018, para amparar diretamente os produtores e cooperativas”, calcula. Brasileiro completa informando que, desse total, estão disponíveis nos agentes financeiros R$ 1,2 bilhão até o momento.

3) Combater a concentração da indústria e do varejo: embora os mercados consumidores tenham preocupação crescente com a sustentabilidade da produção cafeeira, impondo inúmeras exigências aos produtores, principalmente para comprovar o cumprimento das dimensões social e ambiental, nada se fala sobre a crescente concentração da indústria torrefadora internacional e do varejo e de seu impacto na dimensão econômica da sustentabilidade.

Atualmente, duas torrefadoras internacionais detêm mais de 50% do mercado de café, causando grandes assimetrias e impondo condições de venda cada vez mais apertadas aos produtores. Por exemplo, citamos o alongamento dos prazos de pagamento que começaram em 100 dias e agora superam os 200 dias. Isso sufoca o produtor, eliminando qualquer sustentabilidade que possa existir no mercado de café. Por isso consideramos fundamental que a OIC construa e passe a divulgar regularmente um índice de concentração da indústria e do varejo, bem como os prazos de pagamento praticados, para dar publicidade e criar consciência sobre a real situação da sustentabilidade econômica.

Lembramos que, no âmbito da OIC, recentemente foi aprovado o Projeto Delta, que visa a medir indicadores de sustentabilidade nos países produtores de café. Consideramos que esse projeto deve ser ampliado para incluir indicadores de sustentabilidade também dos países importadores, a exemplo de sua demanda por cafés sustentáveis, concentração da indústria e varejo, condições de acesso a mercado e prazos de pagamento praticados. Todos esses que afetam a geração de renda e, consequentemente, estão ligados de forma intrínseca à dimensão econômica da sustentabilidade.

4) Combater especulações de mercado: é fundamental que os países produtores se unam para rebater notícias especulativas sobre os tamanhos das safras, frequentemente divulgadas por traders e indústrias internacionais. Assim, devem ser respeitados e defendidos os números oficiais gerados em cada país produtor e acabar com especulações como as que ocorrem no Brasil, onde produziremos entre 56 e 58 milhões de sacas este ano, consumiremos 22 milhões e exportaremos por volta de 35 milhões, absorvendo toda a produção, não havendo, portanto, cenário de excesso para que se avilte os preços como atualmente.

Sugerimos o estabelecimento de cooperação, com o apoio da OIC, para o desenvolvimento de competência de estatísticas e informação, com o uso de tecnologias, em todas as nações produtoras. E, ainda, as trades, as indústrias e demais consultorias devem ser convidadas a expor publicamente as metodologias de suas estimativas, de maneira que o mercado possa avaliar se foram realmente embasadas em pesquisas concretas e críveis no campo ou se são meras projeções especulativas.

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CNC

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