Problemas na Colômbia podem fortalecer imagem da cafeicultura brasileira, mas oferta global preocupa setor

Publicado em 09/06/2021 15:34 e atualizado em 09/06/2021 16:17

 

LOGO nalogo

O setor cafeeiro está de olho nos problemas que levantam incertezas quanto ao abastecimento global do grão. Se o produtor brasileiro enfrenta obstáculos climáticos, na Colômbia os impasses logísticos comprometem toda a cadeia produtiva do país. 

A Colômbia corresponde por, pelo menos, 10% do abastecimento mundial de café e cerca de 800 mil sacas do produto deixaram de chegar ao mercado externo desde o dia 28 de abril, data em que se iniciou a onda de protestos e violência no país. Se no maior segundo produtor de café tipo arábica do mundo a condição pode afetar sua reputação diante do mercado internacional, por aqui os impasses podem aumentar a competividade do café brasileiro no exterior. 

Segundo Eduardo Carvalhaes, analista do Escritório Carvalhaes, a situação colombiana é de fato muito preocupante e está demorando mais do que o esperado pelo setor para voltar à normalidade. Por outro lado, o especialista destaca que de certa forma, o problema fortalece a imagem brasileira de confiabilidade. "Nós temos uma fama muito antiga de bons embarcadores de café. Ainda precisamos melhorar muito a logística, mas aqui é muito melhor que nos outros produtores de café", comenta. 

O analista destaca ainda que o produtor brasileiro vem buscando a cada dia melhorar a qualidade da bebida, o que abre novas portas e conquista novos mercados a cada ano. "É impressionante como eles (produtores) estão indo atrás para melhorar essa qualidade. Nós já avançamos muito", acrescenta. 

A preocupação com a imagem da Colômbia já é uma realidade para a Federação Nacional dos Cafeicultores (FNC). "O mais complexo é a reputação da Colômbia. Esse café que não se pode exportar não chega às indústrias, que precisam desse produto e devem comprar de outras origens para atender o consumidor final", afirmou Roberto Velez Vallejo, porta-voz da FNC. 

+ Com protestos longe do fim, mercado global começa a suspender compras de café da Colômbia

Outra informação importante confirmada por Vellez é que a Colômbia já começou a ser notificada pela falta de entrega da mercadoria. "Na semana passada, fomos oficialmente notificados por alguns clientes no exterior que nos informam que suspenderão o uso do café colombiano devido a atrasos e não conformidades. Avisamos desde o primeiro dia dos bloqueios: “eles estão destruindo o que levou anos para ser construído”, publicou em sua conta oficial no Twitter. 

Carvalhaes comenta, no entanto, que a preocupação com a Colômbia não deixa de existir, mesmo quando se coloca o Brasil em pauta. "Eles não têm fôlego para ficar sem enviar esse café. Estamos falando de produtores de pequenos lotes e que precisam muito desse dinheiro. Não sabemos como, mas o problema vai ser resolvido hora ou outra", comenta. 

É importante ressaltar que de acordo com as informações da própria FNC, a partir do momento em que as estradas forem liberadas e os embarques retomados, o setor cafeeiro colombiano deve levar pelo menos mais quatro meses para retomar o ritmo ideal de embarques. 

O analista destaca, no entanto, que a redução na oferta global de café é um problema que precisa ser acompanhado de perto e que deve se manter como um termômetro para o mercado no longo prazo. Caso o problema se estenda na Colômbia, com a quebra de safra brasileira, a tendência é de estoques cada vez mais apertados. 

Também é importante destacar que os problemas climáticos não afetam apenas a produção de café no Brasil. Na Colômbia, por exemplo, o excesso de chuvas prejudicou o desenvolvimento da safra e produtores afirmam que a quebra também será expressiva. Fato que comprova os problemas colombianos, é o aumento na importação de café brasileiro nos últimos meses registrados pelo país. 

+ Exclusivo ao NA: "Praticamente não temos café", relata produtor colombiano

"Nós temos um problema climático sério que afeta os maiores produtores de café; temos grandes nomes no mercado falando disso", acrescenta Eduardo. Em Honduras, no ano passado, dois furacões atingiram o parque cafeeiro e o país perdeu parte dos estoques certificados na ICE, antes representados boa parte pelo café hondurenho e que agora contam com o café brasileiro. 

O mercado aguarda os números das exportações brasileiras - que devem ser divulgados nos próximos dias - já com a expectativa de redução nos embarques. "Agora começamos a mostrar para o mundo o que estamos falando, da falta de café. A procura pelo café brasileiro é grande e no mercado interno já tem dificuldade para comprar", comenta. 

Alerta ainda que apesar do mercado prever condição de chuvas no parque cafeeiro do Brasil, a situação do cafezal segue crítica nas principais áreas produtoras do país. "O que nós temos que pensar que é o problema na Colômbia vai se resolver, mais devagar do que seria no Brasil, mas problemas com a seca não se resolvem. Se os embarques de maio caírem forte no ano de uma safra grande, como será que deve ficar os embarques em maio do ano que vem?", finaliza. 


+ Colômbia segue vivendo onda de protestos e violência; cafeicultores têm carga roubada e pedem socorro

+ Mercado do café deve seguir apresentando volatilidade, no aguardo do relatório global do USDA

+ Junho mais chuvoso pode ajudar algumas áreas de café e cana do Brasil, diz Somar

+ Onda de protesto e violência: Colômbia em alerta para colapso na segurança alimentar

 

 

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Por:
Virgínia Alves
Fonte:
Notícias Agrícolas

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário