Brasil deve faturar US$ 6 bi com exportação de carne bovina em 2013
Até agora foram 1,084 milhão de toneladas embarcadas e US$ 4,79 bilhões arrecadados pela cadeia produtiva da carne bovina brasileira - aumento de 13% e 19%, respectivamente, quando os números são comparados com 2012. O ano de 2013 tem sido espetacular para a pecuária brasileira, tanto que o país deverá alcance o recorde de US$ 6 bi em faturamento com os embarques.
As exportações brasileiras de carne bovina começaram a crescer de forma mais acelerada entre os anos de 2002 e 2008, quando o país passou de um embarque 637,49 mil toneladas, faturando US$ 1,15 bilhão de dólares, para 1,38 milhão de toneladas e faturamento de US$ 5,4 bilhões, o que representa um incremento de 116,6% no volume e 369,5% na receita. O crescimento das vendas não foi acompanhado, no entanto, por melhorias estruturais que pudessem atender o novo perfil das indústrias. “Essa necessidade da indústria fazer o ‘caminho do gol’ fez com que a gente tivesse um crescimento não muito organizado no país dos pontos de vista produtivo e industrial. Por um bom tempo, trabalhamos em uma condição de abater o animal, desossar e só depois procurar mercado para a carne desossada. O que a gente tem que buscar é a reorientação do processo, uma inversão da cadeia produtiva”, recomenda o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Antônio Jorge Camardelli.
Camardelli participa na próxima sexta-feira, 8, do painel de debates “Construindo uma agenda única para a pecuária sustentável no Estado do Pará” durante a etapa de Paragominas/PA do Circuito Feicorte 2013. Leia abaixo na íntegra a entrevista concedida por Camardelli à Rural Centro.
Rural Centro: Por que 2013 tem sido um ano tão bom para as indústrias exportadoras de carne bovina?
Antônio Jorge Camardelli: Principalmente pela versatilidade das indústrias frente ao cenário internacional. Apesar de o Brasil hoje não conseguir exportar carne in natura para mercados mais importantes, como Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Indonésia, EUA, México e Canadá, a determinação do conselho da Abiec é que seja feita frequentemente uma avaliação também econômica dos mercados e dos blocos. Isso nos faz entender especificamente cada país e trabalhar com variáveis que vão desde dificuldades econômicas até a compreensão do que o mercado está comprando mais e os países que a gente pode trabalhar que estão com mercados abertos.
RC: Como são feitas essas análises de mercado?
AJC: Por exemplo, se um país atravessa dificuldade financeira, supondo que ainda não passou completamente pela crise internacional de 2008, o nosso pacote de oferta considera alguns cortes de bovinos. Se o mercado não está comprando filé mignon, nós oferecemos entrecote, um produto de padrão qualitativo de área gourmet, mas em outro patamar. Essa versatilidade de ofertar diferentes tipos de produtos mantém a nossa presença no mercado.
RC: Há também uma reorganização política?
AJC: Já é menor a distância dos termos técnicos entre os ministérios. Há dez anos, nós tínhamos dificuldade para conseguir padronizá-los. Hoje o domínio desses termos por parte de todas as entidades governamentais envolvidas tem facilitado a tomada de decisão mais rápida.
RC: A indústria e o produtor têm vencido a barreira da comunicação para facilitar as vendas?
AJC: Esse ainda é um dos gargalos. De 2002 até 2008/09, as vendas foram muito significativas. Essa necessidade da indústria fazer o ‘caminho do gol’ fez com que a gente tivesse um crescimento não muito organizado no país dos pontos de vista produtivo e industrial. Por um bom tempo, trabalhamos em uma condição de abater o animal, desossar e só depois procurar mercado para a carne desossada. O que a gente tem que buscar é a reorientação do processo, uma inversão da cadeia produtiva.
RC: Como as indústrias têm que trabalhar para vencer essa dificuldade?
AJC: Como os mercados significativos são muito típicos em relação à especificação do produtor, hoje as indústrias da Abiec trabalham com um conceito diferente de inversão da cadeia, ou seja, nós analisamos o mercado a depois vamos atrás do boi específico para ele. Isso tem facilitado muito essa reorientação sobre a produção. Essa fidelidade – um tipo de boi para um tipo de mercado - tem melhorado muito a relação da indústria com produtor,dá condições para o pecuarista identificar, dentro de sua estrutura e localização, qual tipo de boi ele vai oferecer de acordo com a demanda do frigorifico. A inversão é o principal objetivo até a gente consolidar a produção.
RC: Isso ajuda o setor como um todo, não somente as exportações de forma específica?
AJC: Reorientando o nosso processo de gestão, a gente vai poder fazer frente ao markup do varejo, que é quem ficar com a parte maior. Essa distorção é que tem que ser corrigida. Acontece em outras cadeias também.
RC: Quais são os passos dessa reorientação da produção e da gestão industrial?
AJC: Através de uma pesquisa de mercado, constatamos que os nichos predominantes da carne brasileira são culinária e restaurantes. Tem um espaço muito grande para crescimento na área gourmet. Aumentando essa demanda, nós passamos uma mensagem ao produtor, que haverá intensidade de compra daquele tipo de animal que a gente tinha combinado anteriormente. Essa é a única maneira de criar um ambiente salutar para a cadeia produtiva.
RC: O painel de debates do qual o senhor participará na etapa de Paragominas/PA do Circuito Feicorte 2013 tratará justamente de uma agenda para a pecuária sustentável. Quais são os temas a serem discutidos?
AJC: Essa interiorização da pecuária promovida pelo Circuito Feicorte é fantástica. A verdade é que primeiro priorizamos a manutenção do status sanitário para ter a opção de, depois de abater o boi, escolhermos mercados através de processos distintos. Antes nós tínhamos um limite, que foi estendido porque o Brasil cumpriu as exigências do governo relacionadas à cadeia internacional da OIE (Organização Mundial da Saúde Animal). Temos que verificar e buscar outro patamar sanitário para qualificar ainda mais nossos produtos no mercado internacional.
RC: O mercado internacional releva projetos pontuais, como o desenvolvido pelo município de Paragominas (Pecuária Verde)?
AJC: O projeto concedeu uma condição diferenciada para propriedades sustentáveis ambientalmente, que também levam em consideração normas trabalhistas. Isso transformou Paragominas no Município Verde e o boi entrou nesse processo. O reflexo é significativo. O estado do Pará, depois de cumprir parte mais dura dessa transição do desmatamento para a preservação, vai colher frutos do trabalho mais a frente. Vai ser reconhecido com aumento do preço médio de compra da carne em relação a outros estados. Ressaltando, claro, a manutenção do status sanitário. Os estado que atenderem a plenitude de todas essas condições, atingirão os mercados mais exigentes do mundo.
RC: Quais são as cobranças do setor para que aumente ainda mais volume e faturamento com as exportações?
AJC: Uma delas é a parte de medicamentos. Temos uma condição ímpar com a pulverização de vermífugos vendidos sem habilitação, o que traz problemas seríssimos por conta dos padrões internacionais. A política de resíduos de países que representam a primeira linha do mercado consumidor de carne é exigente e não podemos perder esse mercado conquistado a duras penas. Isso é um tiro no pé. Além disso, temos hoje uma logística deficitária e portos em condições precárias. O crescimento rápido das exportações não nos permitiu organizar e processo de maneira fácil.
RC: Qual a expectativa do setor sobre o ano de 2014?
AJC: Se o Brasil, representado tanto pelo Governo quanto pela iniciativa privada, conseguir a manutenção do status sanitário, os anos serão sequencialmente melhores. Note que não é uma obrigação única de governo, mas tarefa de todos. Nós já temos as dádivas do maior rebanho comercial do mundo, milhões de hectares disponíveis, podemos reduzir o espaço ocupado pelo boi dentro da propriedade, índices pluviométricos melhores que os dos concorrentes e luminosidade. Isso nos dá potencial para sermos um dos maiores provedores daquilo que falta em muitos lugares do mundo: comida.
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