Gripe suína provoca paralisia no setor de carne de porco no Brasil, diz associação
A indústria brasileira de carne suína está "paralisada" ante as notícias da gripe originada no México e que se espalha pelo mundo. Apesar de organizações de saúde descartarem o contágio humano por meio da carne, o setor está "receoso" quanto aos efeitos da associação da gripe ao animal, segundo o presidente executivo da Abipecs (Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína), Pedro de Camargo Neto.
Segundo ele, nenhum país cancelou pedidos já feitos a indústrias brasileiras, mas o setor está preocupado e já reduz o ritmo das compras.
"Os exportadores estão receosos de fazer compras e quanto às vendas. Até agora, não há nenhuma perda concreta de negócios. Mas saímos da normalidade. Houve uma paralisia", disse Camargo Neto.
"Estamos convivendo por 48 horas com a notícia. Há uma certa perplexidade pela gravidade da doença, muita confusão e desinformação", acrescentou.
A Abipecs enviou na manhã desta terça-feira ofício à diretora geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Margaret Chan, pedindo mudança no nome da gripe. O documento da Abipecs também argumenta que a associação da doença com a carne do animal pode trazer prejuízos ao setor.
"A denominação usada pela OMS para o surto da gripe A/H1N1 está prejudicando produtores de suínos de todo o mundo e pode causar sérias perdas aos mesmos", diz a mensagem, enviada à diretora geral da organização com sede em Genebra.
Camargo Neto acrescentou que o vírus, em circulação em alguns países e envolvendo a transmissão entre pessoas, não é passado pela comida.
"Este vírus não foi isolado em suíno ou qualquer outro animal até a presente data. Nós entendemos que se trata de um vírus que inclui em suas características componentes suínos, de aves e humanos. Não se justifica a denominação gripe suína", reclama Camargo Neto, sugerindo que a chame de "gripe mexicana" --a OIE (Organização Mundial para a Saúde Animal) propõe "gripe da América do Norte".
Aviária versus suína
Ainda que o governo mexicano e a OMS tenham descartado qualquer risco de infecção por ingestão de carne de porco, Camargo Neto diz que a desinformação e a gravidade da doença geram confusão.
"A gripe de agora em nada tem a ver com a aviária [que aves infectavam pessoas]. Mas as pessoas fazem a correlação. Hoje é muito mais grave, porque o contágio ocorre rapidamente entre humanos, mas não tem há propagação pelo animal", argumentou.
Conforme o presidente da Abipecs, o Brasil é um país essencialmente exportador (não importa carne suína) e os negócios estão começando a "ser atrasados". Os preços ainda não acusaram nenhum golpe, ainda que tenham recuado desde o agravamento da crise financeira mundial no último trimestre do ano passado, após a explosão de preços das commodities.
"De outubro de 2008 a março de 2009, as exportações caíram 14% ante o mesmo período do ano passado, principalmente pelo resultado negativo no fim do ano. No primeiro trimestre deste ano, houve alta de 20%", disse Camargo Neto.
Ele evitou, no entanto, fazer projeções para os próximos meses diante do atual cenário. "Todo mundo está preocupado e aguardando. É muito cedo para fazer uma avaliação. É difícil prever. Esperamos que se esclareça que a carne suína não têm relação com a doença, para que não se tenha prejuízo desnecessário", afirmou.
Mercado
O frigorífico JBS procurou tranquilizar os investidores e enviou nota à CVM (Comissão de Valores Mobiliários). "A JBS, à luz do recente surto de gripe, confirma que sua meta de crescimento de receita e rentabilidade permanece". A companhia também disse acreditar que o consumo de carne suína não oferece riscos a saúde.
A operação de carne suína da JBS representa 14% da sua receita líquida, segundo a empresa. "Menos que um sexto disso é vendido para outros países e uma eventual restrição nas exportações afetaria menos de 2,5% da receita consolidada. A JBS não cria porcos e não é verticalmente integrada".
A JBS ponderou que uma eventual redução na demanda poderia refletir imediatamente nos preços dos suínos (equilibrando as margens) e elevar o consumo de carne bovina, principal produto da companhia.
A Marfrig, empresa de alimentos e carnes, também divulgou comunicado ao mercado afirmando que "tem baixa exposição à venda de suínos em sua receita total (4,2% no quatro trimestre de 2008), com produção exclusivamente no Brasil, dos quais 2,8% são de em carne suína "in natura" e 1,4% em industrializado".
As vendas de carne suína "in natura" no último trimestre do ano passado foram de R$ 66,5 milhões, dividia entre os mercados doméstico (42%) e de exportação (58%).
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Fonte: Folha Online
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