JBS começou com um açougue em Goiás
A empresa que se tornou ontem a maior companhia do mundo em proteína animal nasceu na década de 50, pelas mãos de José Batista Sobrinho, na cidade goiana de Anápolis. Seu Zé Mineiro, como era conhecido, deixou a terra natal para fundar a Casa de Carne Mineira, um açougue que se expandiu e passou a abastecer refeitórios de grandes empreiteiras na vizinha Brasília.
O negócio pegou carona no boom de crescimento da era JK e na construção da nova capital federal.
A segunda geração foi responsável por liderar o segundo ciclo da Friboi, que colocou-a como um dos maiores frigoríficos do País. Quando o primogênito dos seis filhos, José Batista Júnior, assumiu, a primeira providência foi trazer a empresa para São Paulo, na década de 80. Outra de suas estratégias acertadas foi não reduzir o negócio à simples venda de carnes, que tem margens pequenas. Ele aproveitou o subproduto do abate para criar a empresa de higiene e limpeza Flora, dona das marcas Minuano e Albany.
Júnior também iniciou um processo rápido de aquisições de unidades no País, que deu-lhe o porte de empresa nacional. Em seguida, veio o grande salto da companhia, com as exportações. Jeremiah OCallaghan, diretor de relações com investidores da companhia, disse recentemente ao Estado que uma das grandes visões da empresa, na época, foi vender no exterior os cortes que tinham baixa aceitação no mercado doméstico. Assim, agregava valor à produção e tornava-se mais competitiva em seu mercado de origem. As primeiras exportações de carne in natura vieram em 1997.
Mas foi a atuação dos dois filhos mais novos do fundador que colocou a Friboi na rota da internacionalização e, consequentemente, na liderança do mercado mundial de carne bovina. Após receberem o bastão do irmão Júnior, Joesley e Wesley estiveram por trás da abertura de capital e da aquisição da Swift Argentina, passo inicial da estratégia de aquisições no exterior, favorecida por um longo período de real valorizado.
Desde 2005, a Friboi, rebatizada de JBS (iniciais do fundador José Batista Sobrinho), comprou frigoríficos nos Estados Unidos, Austrália e Itália. A compra das unidades da Swift Foods Company na Austrália e EUA, seu país de origem, a colocaram como a maior empresa de carne brasileira em capacidade de abate. Com o fusão com o Bertin e a compra da Pilgrims Pride, a capacidade de abate chega a mais de 90 mil cabeças por dia. A receita combinada do novo grupo é de US$ 28,7 bilhões.
Com os dois irmãos mais novos à frente dos negócios, o primogênito Júnior ainda faz o papel de "ouvidor" dentro da companhia. Um ex-executivo da companhia diz que o trio da família Batista é dinâmico, simples e unido. "São muito agressivos quando enveredam por um projeto", disse a fonte.
Para o diretor OCallaghan, outro aspecto da estratégia que colocou a companhia na liderança mundial é a preocupação com os detalhes. "Do boi que abatemos, aproveitamos hoje 100%. Pode ser que ainda exista algo a ser comercializado, talvez o berro", brincou. Ele contou, por exemplo, que é possível ganhar US$ 1 por boi com a venda da tripa do animal, usada na produção de embutidos. Até o pelo do rabo e da orelha é vendido para fábricas de pincéis.
Virada
Guiada pelo aumento de eficiência e pelo ganho de produtividade, a operação do Friboi durante muito tempo se confundiu com a trajetória da pecuária de corte nacional. Segundo Marcus Vinicius Pratini de Moraes, que ocupou a pasta da Agricultura no governo Fernando Henrique Cardoso e presidiu a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), o avanço da carne brasileira ocorreu com investimento em tecnologia, aprimoramento das raças, avanços genéticos, cujo objetivo foi estimular a precocidade, a rusticidade e a produtividade do gado. "Abatíamos o boi com quatro anos e meio, depois reduzimos para três anos. Hoje, o prazo é menos de dois anos, ou 22 meses."
Além dos ganhos de eficiência que abriram a possibilidade de ter carne de sobra, produção equilibrada o ano inteiro e a chance de vender o produto no mercado internacional, a ocorrência da doença da vaca louca na Europa ampliou o papel estratégico do Brasil no abastecimento mundial a partir desta década, observou OCallaghan. "Em 2001 começamos a exportar carne para a Rússia, que tradicionalmente era abastecida pela Europa."
Mas a partir do momento que a companhia começou a se internacionalizar, comprando frigoríficos fora do Brasil, houve um descolamento entre a empresa e o setor. "Hoje barreira sanitária não é um problema para nós como é para a pecuária de uma forma geral. No estágio atual de globalização da empresa, a barreira é uma oportunidade", afirmou o executivo.
Esse mecanismo é colocado em prática pela empresa a todo instante, driblando principalmente as barreiras não tarifárias e vendendo carne para os mercados onde a entrada da carne brasileira é vetada. Quando o Brasil ficou impedido de vender carne para a União Europeia por causa do foco de febre aftosa, a empresa não vacilou. Com o euro forte, começou a exportar carne da Austrália para a Europa. A Coreia, por sua vez, temendo falta de produto, fez um acordo para comprar carne dos Estados Unidos. Resultado: a empresa levou vantagem em dois mercados, na Austrália e nos EUA, e teve desvantagem no Brasil. (Com informações da Ag. Estado)
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