Embarque de carnes desacelera com câmbio e embargo russo

Publicado em 03/08/2011 17:38
As exportações de carnes do Brasil recuaram em julho, cedendo ao peso do câmbio valorizado e diante do embargo russo a alguns frigoríficos do Brasil, que começa a afetar as vendas da indústria após quase dois meses de seu início. Analistas ressaltam que ainda é difícil isolar o "efeito Rússia" na queda dos embarques, e esperam pelo próximo relatório do Ministério da Agricultura com dados sobre volume embarcado por destino.

As exportações do setor haviam crescido em junho, com importadores antecipando compras para a primeira quinzena, antes que a suspensão russa às processadoras brasileiras entrasse em vigor, no dia 15 de junho.

"Em julho, já se viu um pouco mais de efeito (do embargo). A queda foi muito significativa para a carne suína, mas o recuo da carne bovina não é desprezível", afirmou o diretor técnico da consultoria Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz.

Em julho, a maior queda foi apurada nos embarques de carne suína, cujo volume embarcado despencou para 30 mil t, versus 46 mil t do mês anterior. "Esta queda, no nosso caso, é muito Rússia. É nosso maior destino", confirmou Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs).

"Neste mês (de julho), perdemos no mínimo umas 12 mil t", acrescentou. Atualmente, a indústria de suínos conta com apenas um frigorífico habilitado para exportar ao mercado russo. Segundo a Abipecs, o Brasil tradicionalmente enviava para a Rússia - que detém uma fatia superior a 40% das exportações da indústria - cerca de 14 mil t a 15 mil t.

Camargo Neto disse esperar que o embargo seja levantado em breve. "Continuo otimista e espero uma abertura do mercado russo na próxima semana, porque o Brasil atendeu as demandas (do órgão regulador)", justificou.

Câmbios e mercados
O presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Francisco Turra, disse que o recuo em julho não surpreendeu. "No período em que o dólar esteve derretido, a indústria perdeu mercado europeu e japonês, por causa do câmbio. E teve o problema com o mercado russo", explicou.
Os embarques de carne de frango em julho recuaram para 276,9 mil t, uma queda de 12% na comparação com o mês anterior. Já as vendas de carne bovina recuaram quase 24% em relação a junho, para 62,8 mil t.

No caso da carne bovina, são vários os fatores que vêm afetando a indústria este ano, além do câmbio, observa Antonio Jorge Camardelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).

Camardelli ressaltou que sofreu perdas com a crise no mundo árabe que afeta demanda desta região e as restrições europeias, que mantêm um número limitado de propriedades habilitadas a exportar. Somado a estes pontos, Camardelli observou que muitas compras foram feitas em junho no período de preparação para o Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos, o que acabou contribuindo para o declínio no mês passado.

Estoques
O diretor técnico da Informa Economics FNP, Ferraz, ponderou que existe uma expectativa de que a Rússia poderá rever sua posição em breve se quiser reforçar as reservas antes do inverno do hemisfério norte, período em que os navios não conseguem navegar na região. "Se precisarem formar estoque, a carne tem que chegar até o início de novembro", observou Ferraz.

Levantamento da Scot Consultoria mostra que as compras ganham força neste período, já em preparação para o período de inverno. O consultor da Scot Hyberville Paulo d'Athayde Neto observa que, nos últimos cinco anos, o volume embarcado em outubro ficou em cerca de 10%, contra uma média entre 5,5% e 6,9% entre dezembro e janeiro.

Ele observou que o problema logístico no período pode levar o País a buscar rota ou fornecedores alternativos, o que implicaria custo maior. "A expectativa é saber como a questão (do embargo) ficará nos próoximos meses", acrescentou.
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Fonte:
Reuters

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