Em 2016, mais de 4% das granjas leiteiras fecharam por inundações e falta de rentabilidade na Argentina

Publicado em 06/01/2017 13:47

A tendência ao fechamento de granjas leiteiras se aprofundou durante o ano de 2016 na Argentina por impacto das inundações e das dificuldades financeiras que enfrentam esses estabelecimentos. Um informe do Observatório da Cadeia Láctea (OCLA) estima que desapareceram 460 unidades produtivas na Argentina; ou seja, 4% das granjas leiteiras (sobre um total de 11.500, no início do ano passado).

A porcentagem de 2016 duplica o ritmo médio dos últimos anos, que oscilava em torno dos 2%. A maioria dos estabelecimentos que desapareceram são de pequena escala e não superavam os 2.700 litros diários, uma situação que os deixava com menos margem econômica para lidar com situações adversas, como as sequelas das inundações do outono que castigaram aos produtores da região leiteura central, que atravessa o centro de Santa Fe e Córdoba.

No leste de Córdoba, próximo a Las Varillas, Paola Paravarosco teve que encerrar uma granja leiteira por conta das constantes inundações. "Produzíamos 2.500 litros diários, mas nos últimos anos o campo sempre estava alagado e, assim, não era possível produzir. O mesmo acontece agora com outras granjas conhecidas em Las Varilla e Alicia, que estão avaliando fechar seus estabelecimentos", contou Paola ao jornal Clarín.

Ela não se arrepende de sua decisão porque, ao menos, deixou de perder dinheiro. "Nesta zona de Córdoba há problemas muito graves no manejo de água. O Río Segundo e o Río Tercero estão secos e os campos estão inundados. Até que a questão hídrica não receba uma boa gestão, vai ser muito difícil produzir leite, carne e até mesmo realizar outros trabalhos em agricultura", acrescentou.

Nesta mesma zona, o produtor Lucas Marenchino, que passou de ordenhar 7.000 litros para 2.000 litros, reconhece que estão quebrados e que tentam não vender as vacas porque, neste contexto, "não valem nada".

Em Santa Fe há uma zona na qual os produtores chamam "o quadrilátero da morte", por já ter ocorrido quatro inundações seguidas. O "quadrilátero" inclui localidades como San Jerónimo Norte, Santa María Norte, Franck, Pilar, Las Tunas e Humboldt, entre outras.

"As pessoas estão cansadas e muito endividadas. Vínhamos trabalhando contra as perdas de 2015 quando as inundações do outono vieram e deixaram água nos campos até agosto. E, agora, volta a chover", se desespera Liliana Meynet, que gestiona uma granja leiteira em San Jerónimo Norte, 40km ao oeste de Santa Fe.

O estabelecimento de Liliana chegou a produzir mais de 2.500 litros diários e agora não pode passar de 1.300 litros. "Está tudo debaixo d'água, até mesmo o milho que iríamos colher dentro de 15 dias. Em uma semana, caíram 200mm", contou.

Se as previsões se mantiverem e seguir chovendo durante os próximos dias, é provável que as pastagens voltem a sofrer perdas (a alfafa não aguenta mais de uma semana com lotes encharcados) e não há reservas disponíveis de milho e sorgo para alimentar os animais.

Os números não ajudam. Os produtores de leite recebem 4,50 pesos (R$0,91) por cada litro de leite que ordenham, sendo que o necessário para cobrir os custos de produção e fazer com que o estabelecimento seja economicamente viável seria, ao menos, 6 pesos (R$1,21).

A produção de leite caiu 10% durante o ano de 2016. Em 2015, foram ordenhados 11.313 milhões de litros de leite, segundo as estatísticas do Ministério da Agroindústria do país. Em 2016, este número ficou em 10.182 milhões de litros, de acordo com as estimativas.

A tendência ao fechamento de granjas leiteiras é algo que já dura há mais de 30 anos. Na década de 80, o país possuía mais de 30.000 estabelecimentos leiteiros. Atualmente, são apenas 11.000.

Tradução: Izadora Pimenta

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Fonte:
Clarín Rural

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