Rabobank vê até 200 milhões de porcos mortos por surto de peste na China (REUTERS)

Publicado em 12/04/2019 20:07

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PEQUIM (Reuters) - Até 200 milhões de porcos podem ser abatidos ou mortos por infecção à medida que a peste suína africana se espalha pela China, segundo o Rabobank, cuja previsão foi, de longe, a maior já divulgada para o surto, ressaltando a gravidade da epidemia na principal produtora mundial de suínos.

Um número desse tamanho representaria uma grande fatia do rebanho de porcos da nação, que o Rabobank fixou em 360 milhões de animais no final do ano passado. A projeção vem em momento em que muitos membros da indústria afirmam que o avanço da peste suína no país é muito pior que o divulgado pelas autoridades.

A queda reduziria a produção chinesa de carne suína em 30 por cento em 2019 ante o ano passado, afirmou o Rabobank em comunicado divulgado na noite de quinta-feira, alavancando importações de carne e reduzindo a demanda por rações animais produzidas com commodities como a soja.

"Isso não tem precedentes, e há muitas dimensões da situação que ainda não foram totalmente compreendidas", disse à Reuters o estrategista global para proteína animal do Rabobank, Justin Sherrard.

Segundo analistas do banco, um total de 150 milhões a 200 milhões de porcos morrerão pela infecção com o vírus da peste suína africana ou abatidos na esteira dos surtos.

A China, que produz cerca de metade da carne suína mundial, afirmou nesta semana que havia abatido 1,01 milhão de porcos para controlar a doença. Já foram reportados 124 surtos desde agosto do ano passado.

(Reportagem de Dominique Patton)

A epidemia chinesa de peste suína e o Brasil (por Marcos Jank)

Essa terrível crise vai gerar oportunidades de comércio e cooperação para o Brasil

Família e fortuna são valores fundamentais da cultura chinesa. Na história milenar do país, um dos símbolos desses valores é o porco. O ideograma chinês para a palavra “lar” é um suíno embaixo de um teto, simbolizando que família, prosperidade e suínos vivem juntos, simbioticamente.

Estamos no ano zodiacal do porco na China. O país responde por metade da produção mundial de carne suína, ao consumir incríveis 54 milhões de toneladas.

Porém, desde agosto a China enfrenta uma terrível epidemia de peste suína africana, que já dizimou 17% do seu plantel de quase 700 milhões de cabeças, chegando a 20% no abate de matrizes. A epidemia avança no Vietnã e começa a chegar a outros países do sudeste da Ásia.

Trata-se da doença suína mais temida no planeta, cuja contaminação se espalha rapidamente por meio do trânsito de animais vivos (incluindo porcos selvagens), pessoas, carnes, rações e subprodutos da indústria. Não há risco para seres humanos, mas o vírus é letal e incurável no rebanho suíno.

Estima-se que a oferta doméstica chinesa deva cair cerca de 8,5 milhões de toneladas em 2019 (15% da produção), o equivalente ao volume total de exportações do mundo nesse momento e a mais do que o dobro da produção total brasileira. No relatório alarmista que o Rabobank divulgou essa semana, a produção chinesa pode cair de 25% a 35% até 2020.

Certamente veremos uma alta importante dos preços chineses no segundo semestre e em 2020, não apenas na carne suína mas também em aves, bovinos e pescados.

Essa alta só não aconteceu ainda porque os produtores estão abatendo seus rebanhos, com medo de serem atingidos pela doença. E também porque as empresas estatais chinesas saíram “varrendo” a América do Sul, a Oceania e a Europa para formar estoques estratégicos e evitar o desabastecimento.

A crise atingiu principalmente o rebanho suíno de “fundo de quintal” das pequenas propriedades (20% do total), segmento que tende a desaparecer em razão dos recorrentes problemas de controle sanitário e, agora, da falta de crédito que impedirá que pequenas e médias renovem o seu plantel. Mas ela já atinge também as grandes propriedades verticalizadas, que respondem por 60% da oferta chinesa.

África e Rússia também foram vítimas da peste suína na última década. A situação no Leste Europeu e na Bélgica é dramática. Portanto, a solução para a crise chinesa nas três proteínas está nas Américas, principalmente nos EUA e no Mercosul.

O Brasil é o país com maior potencial de expansão sustentável da oferta, graças aos s excedentes de soja e milho. Para tanto, é preciso entender o contexto como um todo e jogar direito nesse tabuleiro. Precisamos mapear e acompanhar o que está acontecendo no campo chinês, conversar com os envolvidos e analisar os impactos da crise na oferta, demanda e preços de principais commodities envolvidas na equação —soja, milho, rações, suínos, aves, bovinos, pescados, etc.

É hora de fortalecer a parceria Brasil-China nas áreas técnica e comercial, apoiando nosso maior cliente e investidor neste momento difícil.

Além disso, é imprescindível reforçar os controles de fronteira, de forma a impedir a entrada desse terrível vírus no Brasil.

O Brasil vinha perdendo mercado em todas as carnes nos últimos anos e ainda corria o risco de ser impactado pelo acordo EUA-China, que sairá nas próximas semanas. Mas de repente essa crise pode virar o jogo em nosso favor, a exemplo do que aconteceu há alguns anos com a epidemia de grive aviária, que poupou o Brasil.

Um momento crucial dessa partida será jogado em maio, quando a ministra Tereza Cristina e o vice-presidente Hamilton Mourão estarão em Pequim.

(*) Marcos Sawaya Jank é especialista em questões globais do agronegócio. 

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Fonte:
Reuters

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1 comentário

  • Liones Severo Porto Alegre - RS

    O RaboBank é o único agente que está alardeando sacrifício de 30 % do rebanho de suínos chinês. Importantes instituições chineses, como o JCI, divulgou estimativas de 10 %. Começa que o número do estoque vivo de suínos chinês passa de 500 milhões de cabeças. Não sabem a diferença entre o plantel e a matança para alimentação. Até agora foram 126 casos de peste suína com sacrifício de 1,1 milhões de cabeças... Ou 0,1% do rebanho... Ademais dizem o que recomposição do plantel levará 3 a 5 anos, quando o governo divulga que será de 3 a 9 meses... Segundo ainda o governo, o consumo deste ficará em 53,5 milhões de toneladas quando nos anteriores chegou a 57 milhões de cabeças, e a importação está estimada em 2,2 milhões de tons... A estimativa do RaboBank não tem similar em nenhuma instituição de estatística global. Difícil entender que um banco especializado em financiar o agronegócio esteja sempre produzindo notícias baixistas..., e não é apenas esse caso.., mas são useiros e vezeiros em divulgar noticias baixistas para soja, café, etc. ? Tanto é que sempre se referem aos grandes estoques de soja que inexistem....

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    • Liones Severo Porto Alegre - RS

      As estimativas do RaboBank não se sustentam porque em 2018, a produção de ração da China aumentou 2,8% no ano para 227,88 milhões de toneladas . A produção de ração para suínos caiu apenas 0,9% para 97,2 milhões de toneladas. A produção de rações para poedeiras aumentou 1,8% para 29,84 milhões de toneladas, a produção de ração frangos de corte subiu 8,2% para 65,09 milhões de toneladas, a produção de ração para pesados subiu 6,3% para 22,11 milhões de toneladas e a produção de ruminantes cresceu 8,9% para 10,04 milhões de toneladas e outra produção animais caiu 10,7% para 3,6 milhões de toneladas. Mas vamos aceitar que os números do Rabobank esteja certo. Então, os estoque de animais vivos no mundo irá desaparecer porque os chineses não reduzirão sua dieta, até porque o governo esta estimulando o consumo com aumento do poder aquisitivo do povo com taxas d

      acima do crescimento do PIB. O resultado, seria um movimento super altista para os alimentos, inclusive commodities agrícolas, já que o consumo irá permanecer, apenas haverá o deslocamento da produção da China para o resto do mundo.

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    • Liones Severo Porto Alegre - RS

      Importante notar que a China tem 23% da população global e seu consumo de carnes é quase 10% da produção mundial de carnes. É o segundo maior consumidor global de alimentos com 2,1 kg per capita/day, ficando atrás apenas dos EUA com 2,9 kg per capita/day. Seu rebanho de gado é o segundo maior rebanho comercial do mundo com 142 milhões de cabeças, ficando atrás apenas da Índia (não comercial) e do Brasil. A produção de frangos de corte está disparando, o que é melhor para os países produtores de soja, porque para produzir 1 kg de carne de frango é necessário 575 gramas de soja, e para 1 kg de ovos precisa de 307 kg gramas de soja e para produzir 1 kg de carne suína é necessário 263 gramas de soja, ... soja em grão na conversão para farelo de soja. O melhor de tudo é que tem capital para comprar os alimentos que precisarem de qualquer lugar do mundo.

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    • Adalberto José Munhoz Campo Mourão - PR

      Bom dia, como sempre claro correto baseado em fundamentos, não em papéis com interesses contra quem produz muita saúde e paz Sr. Liones quem sabe o que fala nesse caso tem base na realidade pois conhece o fundamento da coisa... abraços

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