O milho mais caro do mundo está devorando as margens do frango brasileiro

Publicado em 30/10/2020 14:38

Safras abundantes de milho normalmente sinalizam ração barata e margens gordas para os produtores de frango no Brasil. Mas não neste ano, já que as fortes exportações e a crescente demanda da indústria de biocombustíveis fizeram os preços dos grãos dispararem.

Apesar de safras recordes consecutivas de milho, os preços domésticos do grão amarelo saltaram 68% este ano, para o maior nível histórico, segundo o braço de pesquisa da Universidade de São Paulo, Cepea. Com a ração sendo responsável pela maioria dos custos das aves, os produtores viram suas margens evaporarem, pois não conseguiram repassar as despesas adicionais aos consumidores.

Neste mês, o spread entre os preços de exportação do frango e os custos de produção atingiu o menor desde 2016, segundo Cesar de Castro Alves, do Itaú BBA. A situação levou o Credit Suisse a reduzir sua recomendação para a gigante do frango BRF SA nesta semana para o equivalente a segurar.

“O setor de frango enfrenta dificuldades para repassar custos mais altos”, disse Ricardo Santin, chefe do grupo exportador de carne de frango e suíno ABPA, em entrevista por telefone. Alguns produtores irão descartar galinhas reprodutoras mais velhas para economizar nos gastos com ração, levando a um declínio na produção de aves de 5% para 10% no quarto trimestre deste ano, disse ele.

Por trás do aumento do milho estão as fortes exportações do grão - à medida que a fraqueza da moeda local aumenta a competitividade do Brasil - e a crescente demanda da indústria de etanol.

Com a entrada em operação da nova capacidade de biocombustíveis, a indústria agora responde por quase 10% da demanda doméstica total de milho. Na temporada que começa em fevereiro, os fabricantes brasileiros de etanol podem aumentar o consumo de milho em até 25% , disse Ana Luiza Lodi , analista da StoneX.

O milho responde por cerca de 9% do etanol produzido no Brasil, sendo a maior parte do biocombustível feito a partir da cana-de-açúcar. Os preços do etanol, que despencaram nos primeiros meses da pandemia, estão começando a se recuperar.

“Esta nova dinâmica está afetando as indústrias de frango e suína, que foram obrigadas a planejar suas compras de milho com mais cuidado”, disse Lodi.

Além dos preços recordes do milho, os produtores de frango no Brasil, principal país exportador, estão enfrentando inflação em outro ingrediente da ração. Os preços da farinha de soja quase dobraram neste ano com a baixa oferta, segundo o Cepea.

Ao mesmo tempo, os preços de exportação do frango caíram com a menor demanda de compradores tradicionais, como os países árabes, apesar do aumento nos embarques para a China. Embora os preços locais tenham subido na esteira dos ganhos nos preços da carne bovina e suína, isso não foi suficiente para compensar os crescentes custos de ração. As fortes exportações de carne suína e bovina estão elevando os preços internos dessas proteínas.

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Fonte:
Bloomberg

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