TO: modelagem auxilia na avaliação de sistemas agrícolas

Publicado em 30/09/2014 09:01

Qual sistema de integração lavoura-pecuária é o mais eficiente para conservar carbono no solo? Como eles se comportam nos diferentes cenários climáticos prováveis? Uma área agrícola pode reter mais carbono no solo em relação à vegetação natural? Essas são algumas perguntas que dois projetos de pesquisa procuram responder para a região do Cerrado tocantinense, com o auxílio de uma ferramenta moderna: a modelagem computacional.

Um dos trabalhos traz como novidade a adaptação de um modelo computacional norte-americano às condições locais do Cerrado brasileiro. Por meio desse software, batizado de Century, será possível estimar a quantidade de carbono estocada no solo ao longo do tempo, simulando diversas condições de manejo, podendo inclusive considerar os impactos de diferentes cenários climáticos.

O software será alimentado com dados locais como precipitação, temperatura máxima e mínima do ar, informações sobre o solo, como granulometria, pH e densidade, e as quantidades iniciais de carbono encontradas nos diferentes compartimentos da matéria orgânica do solo e nos resíduos adicionados. Também servirão para a base de dados as relações carbono-nitrogênio desses materiais. "Esses dados, quando associados às informações sobre o histórico de uso e manejo do solo, possibilitarão que o modelo estime qual será o impacto dessas ações na dinâmica do carbono e do nitrogênio do solo ao longo do tempo. Por exemplo, o sistema de plantio aumentou, reduziu ou manteve o estoque desses elementos no solo?", detalha a coordenadora dos dois projetos, a pesquisadora Elisandra Bortolon do Núcleo Temático de Sistemas Agrícolas da Embrapa Pesca e Aquicultura (TO).

No momento, Bortolon está levantando esses dados em propriedades rurais no estado para alimentar o modelo computacional. Um dos projetos, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), tem como parceiro a Fazenda Brejinho, no município de Pedro Afonso, a 200 km de Palmas, que mantém sistemas de integração lavoura-pecuária e lavoura-floresta. Um dos motivos da escolha dessa propriedade foi o registro histórico de dados de cada uma de suas glebas.

O Century simula a dinâmica de carbono e dos nutrientes nitrogênio, fósforo e enxofre para diferentes tipos de ecossistemas, incluindo pastagens, culturas anuais e perenes e mesmo vegetação natural como florestas e savanas. O trabalho da Embrapa foca em sistemas integrados de produção agropecuária conduzidos sob condições do Cerrado tocantinense e abrange desde o início do uso agrícola até os dias atuais, acompanhando o histórico de uso e de manejo do solo.

"Com base nos dados observados e nas estimativas do Century, vamos avaliar os cenários de manejo adotados na Fazenda e, caso seja identificado algum com potencial de perda de carbono do solo para a atmosfera, iremos propor cenários de manejo alternativos que possibilitem não só reduzir essas perdas, mas também aumentar os estoques de carbono do solo," comenta a pesquisadora. Esses dados são especialmente importantes para nortear estimativas de impacto da atividade agropecuária brasileira nos esforços de mitigação dos efeitos provocados pelos gases de efeito estufa, bem como para subsidiar o mercado de créditos de carbono.

Vegetação natural X plantação

O segundo projeto de pesquisa vai investigar a qualidade do solo buscando também avaliar o impacto das mudanças no uso e manejo do solo sobre os estoques de carbono e identificar possíveis limitações em sua capacidade de armazenar o elemento. Por exemplo, até que quantidade de carbono um determinado sistema é capaz de reter nas condições apresentadas?

"Realizaremos análises de atributos químicos, físicos e biológicos do solo e poderemos também apontar indicadores de qualidade e de armazenamento de carbono que poderão ser úteis em trabalhos futuros", informa Bortolon, explicando que serão analisadas amostras de solos cobertos por vegetação natural e também lavouras, os chamados solos antropizados. Desse modo, diferentes sistemas de produção agropecuária, dentre os quais está o de integração lavoura-pecuária, poderão ser comparados entre si quanto à capacidade de armazenar carbono e de melhorar a qualidade do solo. Além disso, os sistemas de produção também serão comparados à vegetação natural. 

"Assim, pode-se averiguar quais sistemas de produção agropecuária são mais, menos ou igualmente eficientes, em comparação à vegetação natural, em manter a qualidade do solo e em retirar o carbono da atmosfera e acumular no solo", explica a especialista. 

Os dois projetos são complementares. As análises de solo realizadas no segundo trabalho contam com o financiamento da Fundação Agrisus - Agricultura Sustentável e alimentarão a base de dados do Century. Desse modo, os resultados das simulações do software serão fundamentais para determinar os melhores procedimentos buscando a sustentabilidade ambiental focada no ciclo de carbono.

"Poderemos estabelecer os cenários de manejo de solo mais eficazes e recomendar procedimentos a partir desses resultados, como, por exemplo, o que é mais eficiente na retenção do carbono, rotação soja-milheto ou soja-milho?", argumenta a pesquisadora, segundo a qual os dados poderão ser extrapolados para validação em outras áreas similares.

Bortolon acredita que os projetos aumentarão o conhecimento a respeito da eficiência de cada tecnologia de sistemas agrícolas na manutenção e armazenamento de carbono e gerarão dados importantes que poderão balizar estudos quanto ao papel da agricultura brasileira e seus impactos, positivos ou não, no ciclo de carbono, gerar dados para o mercado de carbono e ainda preconizar métodos mais eficientes no sentido de mitigar gases de efeito estufa, entre os quais o carbono é usado como padrão, e até pautar políticas públicas de incentivo à utilização de sistemas produtivos mais eficientes e sustentáveis.

"Ao atestar a eficiência ambiental de um sistema, esse trabalho dará subsídios para introduzir novos produtores ao mercado de carbono bem como aumentar a participação dos que já atuam nesse mercado", enfatiza Bortolon.

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Fonte:
Embrapa

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