DATAFOLHA: Jovens podem ser os mais prejudicados por queda na economia

Publicado em 20/04/2015 07:51
por MAURO PAULINO, DIRETOR-GERAL DO DATAFOLHA e ALESSANDRO JANONI, DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA (+ ANALISES PUBLICADAS NA EDIÇÃO DESTA 2A.-FEIRA NA FOLHA DE S. PAULO)

ANÁLISE do datafolha:

Jovens podem ser os mais prejudicados por queda na economia

 

Muito se fala nos reflexos da inflação e da queda do poder de compra no perfil do mercado de trabalho, especialmente para os jovens que passariam a buscar mais inclusão por conta de perdas na renda familiar. O fenômeno geraria, segundo alguns, aumento da taxa de desemprego na população economicamente ativa, já que boa parte desse segmento que só estuda passaria a buscar emprego em cenário desfavorável.

Mas limitar a análise ao universo dos que exclusivamente são estudantes é subestimar o potencial de impacto da economia e, principalmente, de eventuais mudanças na lei de terceirização sobre a maioria do segmento --o conjunto dos jovens que já trabalham.

Segundo a última pesquisa nacional do Datafolha, a grande maioria dos brasileiros que têm de 16 a 24 anos faz parte da população economicamente ativa e a maior parcela (31%) é de assalariados com registro em carteira. O mercado informal (sem registro ou free-lance), que há 19 anos caracterizava o estrato, totaliza hoje 21% e a taxa dos que só estudam é de 25%. Estão buscando um emprego 8%.

Entre os jovens de 1996, pela base de dados do Datafolha, a situação era inversa: 22% tinham registro em carteira e 32% estavam no mercado informal. Nos anos seguintes, a situação piorou e a informalidade, somada à busca por um emprego, atormentou a realidade da maior parte dos jovens de 2003. Na ocasião, o desemprego cresceu acima da média no estrato e chegou a bater 14%.

O grau de escolaridade do segmento aumentou significativamente a partir do final da década de 1990. Há 19 anos, a maioria tinha apenas o ensino fundamental e a taxa de nível superior era de somente 5%. Hoje, 65% têm o nível médio e 22% cursam ou cursaram uma faculdade.

Nos últimos 12 anos, os jovens apresentaram taxas de inclusão na população economicamente ativa acima da média, especialmente no mercado formal. De 2002 em diante, o crescimento de participação de assalariados registrados na composição total da população subiu 9 pontos percentuais, enquanto entre os mais jovens, essa taxa foi de 14 pontos.

Por talvez ter conhecido apenas essa realidade, o estrato se apresenta um pouco menos pessimista do que as outras faixas etárias quanto ao aumento do desemprego e à queda no poder de compra.

Por outro lado, predominante nas jornadas de junho de 2013, esse é hoje o segmento mais apartidário, mais favorável aos protestos contra o governo e o que mais pede abertura do processo de impeachment de Dilma, apesar de quase 1/3 não ter votado na última eleição e de 35% avaliá-la como regular no cargo. Mesmo que crianças e adolescentes na maior parte das gestões petistas, é o grupo que mais cita Lula como o melhor presidente da história e o que mais aponta a educação como principal problema do país.

Cortes em políticas da educação, mudanças na lei de terceirização e a diminuição da maioridade penal, a depender dos formatos adotados, têm um potencial muito maior de frustrar esse segmento do que qualquer outro estrato da população.

Se a meta é, de fato, gerar maior inclusão e diminuir a violência, deve-se atentar também para a ameaça de se armar uma bomba relógio demográfica, capaz de recrudescer o que se comunica combater, agravando ainda mais a crise de representação.

 

VINICIUS MOTA

Má hora para estacionar

SÃO PAULO - Para cada 100 pessoas em idade de trabalhar no Brasil de hoje, há 12 na faixa coincidente com a aposentadoria (65 anos ou mais de idade) e 33 crianças e adolescentes que não completaram 15 anos. Tudo somado e grosso modo, a atividade de cada centena de brasileiros sustenta, além de a eles próprios, outros 45 ainda ou já inativos.

Trata-se de excelente proporção, bastante favorável ao crescimento da produção e da riqueza. No Japão, cada grupo de 100 trabalhadores tem de sustentar 65 inativos. Mesmo nos pujantes Estados Unidos, há 52 fora do mercado para cada centena na faixa etária mais propícia à labuta.

No Brasil de 1970, a taxa de dependência era elevadíssima (85 dependentes para cada 100 trabalhadores), explicada pelo volume da população infantil. No Brasil de 2050, o peso relativo dos inativos voltará a aumentar, aproximando-se da cifra japonesa de hoje, desta feita impulsionado pelo crescimento da fatia idosa.

Seja na comparação com o seu passado, seja no cotejo com a trajetória de outros países, a demografia do Brasil encara agora uma batalha decisiva sob a perspectiva do desenvolvimento. Seria o momento de crescer, enriquecer e elevar a produtividade dos trabalhadores, para viabilizar o bem-estar de uma sociedade prestes a precipitar-se na ladeira do envelhecimento.

A estagnação da economia brasileira, portanto, chega em péssima hora. O ajuste financeiro politicamente possível piora a situação ao interromper, e em parte destruir, um ciclo de investimentos em infraestrutura que apenas começava.

A ineficiência acarretada pela escassez e pela má qualidade de ferrovias, estradas, portos, aeroportos, geração de energia e transporte urbano vai se propagar por todos os compartimentos da economia durante anos. A força de trabalho do Brasil, justo quando tem mais energia para decolar, ganha asas de chumbo.

 

Levy diz que ajuste fiscal é acomodação necessária

No FMI, ministro diz que governo precisa explicar medidas com 'coragem'

Lei de Responsabilidade Fiscal ajudou a transpor a crise financeira global e a segurar dívida bruta brasileira, afirmou ele

RAUL JUSTE LORESDE WASHINGTON

Em debate no Fundo Monetário Internacional (FMI), o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse que os brasileiros "entenderam" que o ajuste fiscal --corte de gastos e aumento de tributos-- é necessário para retomar o crescimento, e que os governos precisam ser "corajosos" para explicar as medidas.

"O Brasil está adotando decisões difíceis", afirmou.

O governo precisa economizar mais dinheiro para frear o crescimento da dívida pública (veja quadro) e tranquilizar os credores a respeito da capacidade do Brasil de pagá-la.

Levy disse que os líderes do Congresso assinaram uma declaração dizendo que não aprovarão leis que aumentem as despesas do governo. "É bom numa democracia quando as pessoas chegam a esse tipo de comprometimento."

ENDIVIDAMENTO

Em um dos últimos eventos do encontro que reúne ministros econômicos e presidentes de bancos centrais do mundo, Levy participou da mesa-redonda sobre os riscos do alto endividamento, com a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, a ex-primeira-ministra da Nova Zelândia Helen Clark e a ministra das Finanças de Portugal, Maria Luis Albuquerque.

Depois da exibição de um vídeo com citações de Alexander Hamilton e até da escritora Margaret Atwood sobre o peso de uma dívida, o moderador perguntou aos participantes sobre o aspecto positivo delas. Levy disse que "uma dívida pode ser útil se for administrada e sustentável". Lagarde concordou.

Levy indicou que a dívida bruta brasileira não é tão alta quando comparada a de países ricos --segundo dados do FMI, ela foi de 65% em 2014, menor que a da Alemanha (73%), França (95%) e EUA (105%), mas maior que a de seus pares nos Brics, Rússia (18%) e China (41%) e igual à da Índia.

Ele elogiou a Lei da Responsabilidade Fiscal como "arcabouço fiscal sólido", dizendo que na última década foi possível manter a dívida bruta brasileira "abaixo dos 60% do PIB" --segundo dados do BC, com metodologia diferente da do FMI, ela foi de 64% em 2014.

"Essa lei é muito clara e transparente, e endereçou a continuidade. Quando tivemos o boom dos anos 2000 até 2010, pudemos poupar e deixar reservas intocáveis. Quando a crise [financeira] veio, estávamos em uma posição confortável", disse.

Depois da crise, ele disse que foram adotadas políticas anticíclicas e, quando houve a exaustão delas, "passamos a políticas de acomodação".

Em um debate onde tanto as perguntas do moderador quanto as do público variaram de sustentabilidade a refugiados na África e crise no Oriente Médio, Levy defendeu o uso de "métricas" para calcular o impacto dos gastos do governo, inclusive sociais.

Afirmou que "o mais importante programa social" do país podia ser medido pela ajuda à mãe, a exigência de manter os filhos na escola, as consultas médicas regulares.

Citou o "exame nacional de avaliação" para medir a educação pública. "Nada é de graça. Mas quando você luta contra a pobreza, não são apenas números", afirmou.

 

VALDO CRUZ

As finanças de Dilma

BRASÍLIA - No início de 2014, ouvi o seguinte relato, reconfirmado na semana passada. Grandes empresários estavam sendo procurados pelo tesoureiro petista João Vaccari Neto para tratar de doações para a campanha de Dilma Rousseff.

Desconfiados, já que ainda não havia um nome oficial escolhido, os doadores entraram em contato com assessores da presidente para checar se Vaccari estava realmente habilitado para tratar de tal tarefa.

Receberam de Dilma um sonoro não, com o recado de que ele cuidava das finanças do seu partido, não das de sua campanha --para a qual ainda seria escolhido um tesoureiro, missão delegada depois ao atual ministro Edinho Silva.

Bem, Vaccari hoje está preso, Dilma de fato buscou mantê-lo distante da estrutura de seu comitê eleitoral, só que R$ 31 milhões saíram das doações arrecadadas pelo PT e foram parar nos cofres da campanha presidencial da petista no ano passado.

Ou seja, mesmo não querendo Vaccari por perto, por quais motivos exatamente não sei, ele acabou contribuindo de uma forma ou de outra com a saúde financeira de sua eleição. Dizem que isso ocorreu porque estava faltando grana nos cofres da campanha dilmista.

O fato é que o hoje ex-tesoureiro petista voltou a assombrar o Palácio do Planalto, num momento em que acreditava ganhar fôlego para reagir, depois que os protestos de 12 de abril tiveram adesão menor.

Para azedar ainda mais o ambiente, o Tribunal de Contas da União acusou o governo de descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal, dando motivos para a oposição encorpar o coro a favor da abertura de um processo de impeachment.

Enfim, numa semana que parecia boa e ficou ruim, ao menos algo parece entrar nos eixos. O vice Michel Temer está com todo o gás e, se tiver o instrumental necessário, pode arrumar a casa na política. Essencial para recuperar a economia e tirar Dilma do fundo do poço. A conferir.

na coluna PAINEL, por VERA MAGALHÃES (folha.com/painel): 

Novo furo no casco

Ministros do Tribunal de Contas da União consideram que falhas da Previdência terão impacto maior no julgamento das contas de 2014 de Dilma Rousseff que a chamada "pedalada fiscal". Para integrantes da corte, os R$ 2,3 trilhões não contabilizados em passivos da Previdência no ano passado são "graves", serão levados em conta pelo relator Augusto Nardes e, somados à maquiagem fiscal feita com recursos de bancos públicos, ampliam o risco de rejeição das contas da presidente.

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Maré 1 O TCU também começa a rever sua posição sobre os atos do Conselho de Administração da Petrobras.

Maré 2 Ministros acreditam que há possibilidade real de que Dilma, que presidiu o órgão, seja responsabilizada em ao menos um dos 40 processos. Em 2014, ela escapou de ser implicada na compra da refinaria de Pasadena.

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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