Entrevista: Executivo chinês Lin Tan afirma que Brasil será principal fornecedor de soja em 2014

Publicado em 19/11/2013 15:01 e atualizado em 20/11/2013 15:59
Em exclusividade para o Notícias Agrícolas, Lin Tan afirma que China está investindo em tecnologia para aumentar sua produção agrícola, mas as importações de soja e milho do gigante asiático devem continuar crescendo

A China é hoje o principal importador de commodities agrícolas, como milho e soja. Com a segunda maior população do mundo e uma classe média ascendente, o gigante asiático aumenta exponencialmente suas importações de alimentos, por isso, está sempre no foco de produtores e traders de todo o mundo. A demanda chinesa movimenta o mercado, tem forte influência sobre as cotações dos grãos e começa a guiar os produtores, que passam a destinar suas lavouras às culturas mais procuradas pelos chineses.

Diante disso, qualquer mudança política, social ou estrutural que seja realizada naquele país pode causar um forte impacto no mercado mundial. Nas últimas semanas, duas notícias chamaram a atenção de todo o mundo: o governo chinês está preparando algumas reformas sociais no país, que poderão estimular uma nova onda de urbanização, levando mais de 300 milhões de pessoas para as cidades, aumentando, assim, a demanda por alimentos. Por outro lado, o governo chinês pretende investir em agricultura de larga escala, para aumentar sua produção de alimentos. A flexibilização da política do filho único também poderá aumentar a demanda por alimentos, especialmente por laticínios.

Sobre esses assuntos, conversamos com o trader chinês Lin Tan, presidente executivo do Hopefull Group, maior empresa privada de beneficiamento de soja na China e professor afiliado da Universidade Agrícola da China (CAU).  


- A China irá investir em tecnologia para desenvolver agricultura em larga escala e aumentar sua produção de grãos?

Sim, a China já está investindo bastante em agricultura, inclusive em biotecnologia e estudos com sementes geneticamente modificadas. O impacto desse investimento deverá vir a longo prazo, mas isso não quer dizer que a China irá reduzir suas importações. Os esforços são para que o país consiga estabilizar sua produção.

- A China pretende produzir mais nos próximos anos? Quais serão as culturas que receberão investimento?   

Não existe exatamente uma meta para produzir mais nos próximos anos. O governo chinês pretende produzir mais de 95% do milho, trigo e arroz que consome, para que as importações não ultrapassem os 5%. Porém, não há limites para a importação de soja. O país pretende plantar mais milho, mas menos soja. A produção de trigo e arroz deverá ficar estável. Na China, não temos terra para expandir a produção, ao contrário do Brasil. Toda nossa área é usada pela indústria e pela urbanização, que continua consumindo mais e mais terra.          

- O governo chinês realmente pretende promover uma nova onda de urbanização, deslocando mais pessoas dos campos para as cidades? 

Sim. Existe um sistema chamado “Hukou”, que requer que as pessoas se registrem em seu escritório local de segurança social. Para se mudar, é preciso ter um registro. O grande problema é que o sistema divide as pessoas entre “residentes rurais” e “residentes não-rurais”. Atualmente, um residente rural não pode se mudar oficialmente para as cidades. 

Mas, com o desenvolvimento econômico, mais e mais pessoas de áreas rurais se mudam para as cidades em busca de empregos, por isso precisamos mudar o sistema. Estima-se que 300 milhões de pessoas serão deslocadas para as cidades, dessas, algumas já moram na área urbana, mas precisam mudar seu registro para “residente não-rural”. Com a mudança, essas pessoas terão todos os benefícios de um cidadão urbano, como autorização para que suas crianças frequentem escolas urbanas. O consumo de alimentos também deverá aumentar, principalmente de carne e óleo. 

- Qual é a previsão de importações chinesas de soja e milho em 2014? O Brasil será um fornecedor importante para a China? 

A China deverá importar por volta de 68 milhões de toneladas de soja e 7 milhões de toneladas de milho, em 2014. O Brasil provavelmente será o principal exportador de soja, mas a maior parte do milho virá dos Estados Unidos. A China importou 5 milhões de toneladas este ano e deverá importar 7 milhões toneladas em 2014, respeitando a cota anual de importações. A demanda pelos grãos no país continua crescendo.

- As mudanças na política do filho único irão aumentar o aumento na demanda por alimentos? Há estimativas de quanto a demanda poderá aumentar?

Sim, nós estamos esperando um aumento populacional de 9 milhões de pessoas como consequência dessa mudança. Mas, a longo prazo, o aumento deverá maior que o esperado. Porém, não é fácil calcular com exatidão qual será o aumento na demanda por alimentos.  
 

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Por:
Fernanda Bellei
Fonte:
Notícias Agrícolas

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1 comentário

  • Liones Severo Porto Alegre - RS

    O Brasil já foi o maior fornecedor de soja para a China neste de 2013, com exportações de 33 milhões de toneladas ou 75% do total exportado pelo Brasil, contra apenas 22 milhões de tons dos Estados Unidos que consolidou seu merecido 2o. lugar para sempre. Sempre lembrando que o a safra mundial de soja inicia em 1o. de outubro.

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