Mercado reage à reeleição de Dilma com queda da Bovespa e alta forte do dólar

Publicado em 27/10/2014 08:12 e atualizado em 27/10/2014 10:30

No G1: Bovespa reage à reeleição de Dilma com queda

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) opera em queda nesta segunda-feira (27), reagindo ao resultado das eleições presidenciais da véspera, que mostraram a reeleição da presidente Dilma Rousseff, por uma margem apertada.

Às 10h21, o Ibovespa, principal indicador da bolsa paulista, caía 6%, a 48.823  pontos.
A cotação do dólar também reage ao resultado das eleições. A moeda opera em alta nesta segunda, passando dos R$ 2,50.

O movimento reflete a decisão do mercado de não dar o benefício da dúvida ao governo em um primeiro momento, no aguardo de sinais claros sobre como serão enfrentados os difíceis desafios no campo econômico e, particularmente, quem será o novo ministro da Fazenda, conforme profissionais do mercado ouvidos pela Reuters.

Leia a notícia na íntegra no site do G1.

Dólar sobe 3% ante o real e renova máximas desde 2008, com reeleição de Dilma

LOGO REUTERS

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar chegou a disparar mais de 4 por cento logo após a abertura dos negócios nesta segunda-feira, indo ao patamar de 2,56 reais e voltando às máximas desde 2008, após a presidente Dilma Rousseff (PT) vencer a disputa contra Aécio Neves (PSDB) e conquistar a reeleição.

Às 9h08, a moeda norte-americana subia 3,09 por cento, a 2,5318 reais na venda. Na máxima, chegou a subir 4,21 por cento, a 2,5605 reais, maior nível intradia desde 5 de dezembro de 2008, quando atingiu 2,6190 reais.

Na sexta-feira, a divisa havia caído 2,26 por cento em meio a rumores de que o desempenho de Aécio nas urnas seria melhor.

Nesta manhã, o Banco Central dará continuidade às intervenções diárias no mercado de câmbio, com oferta de até 4 mil swaps com vencimentos em 1º de junho e 1º de setembro de 2015. A operação ocorrerá entre 9h30 e 9h40 e o resultado será conhecido a partir das 9h50.

O BC também fará nesta sessão mais um leilão de rolagem dos swaps que vencem em 3 de novembro, que equivalem a 8,84 bilhões de dólares, com oferta de até 8 mil contratos. Até agora, a autoridade monetária já rolou cerca de 80 por cento do lote total.

(Por Bruno Federowski)

Cenário economico de VEJA:

De Dilma para Dilma: uma herança que pode se tornar uma bomba

Inflação alta, crescimento baixo e fragilidade fiscal são apenas algumas das distorções que a presidente provocou na economia e que agora terá que corrigir

Luís Lima
No segundo mandato, Dilma terá que enfrentar os mesmos fantasmas que cultivou em sua primeira gestão

No segundo mandato, Dilma terá que enfrentar os mesmos fantasmas que cultivou em sua primeira gestão (Cadu Gomes/VEJA)

Reeleita, com 51,64% da preferência do eleitorado, a presidente Dilma Rousseff (PT) terá que encarar, diante do espelho, uma autoimagem nada alentadora: a da deterioração econômica resultante de quatro anos de políticas equivocadas. Terá uma chance de mais quatro anos para transformar sua herança, marcada por atividade fraca, inflação alta e artimanhas fiscais, numa agenda de retomada do crescimento. Os desafios são muitos, e vão desde o reestabelecimento de um equilíbrio das contas públicas, passando pela inversão do déficit nas transações correntes até chegar no alinhamento entre política monetária e fiscal. A estagnação dos indicadores de desigualdade social torna ainda mais urgente a correção dos deslizes.

O problema é que a presidente, até agora, não sinalizou que mudará sua conduta e, mais uma vez vitoriosa, pode entender que teve a chancela do povo brasileiro para seguir adiante com sua estratégia de priorizar a demanda, ou seja, o consumo, em detrimento da oferta. Ainda que ela defenda a bandeira do "governo novo, ideias novas", não há solução mágica: trocar o comando do Ministério da Fazenda não a absolve dos erros cometidos anteriormente, tampouco implica em mudanças automáticas. "Dilma não acredita que a economia parou de crescer em razão de suas políticas mal concebidas, do discurso intervencionista, da visão que de que o Estado é quem deve ser o principal condutor do crescimento. A presidente também não acha que temos um problema fiscal em gestação com o uso desgovernado do crédito público", diz a economista Mônica de Bolle, sócia-diretora da Galanto Consultoria.

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O Brasil de 2015 será um país bem diferente do que Dilma recebeu em 2011 – mais fragilizado economicamente e rachado no campo político. Com Dilma, o Brasil deve crescer, em média, menos de 2%, metade do que avançou no período Lula. "A economia cresce perto de zero neste início de 2014, em um cenário de recessão técnica (dois resultados negativos trimestrais de PIB). Em termos comparativos, a média de avanço do governo Dilma representa um terço da taxa de crescimento de seus pares emergentes", destaca Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria. Além do mais, desta vez, pode não haver crise hídrica ou externa para atribuir a culpa da desaceleração da atividade. Na verdade, quem dita o atraso é a estratégia até o momento mal-ajambrada da presidente. Como reflexo do baixo nível da atividade, Dilma deixa de presente grande parte das obras prioritárias do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) atrasadas, como a transposição do rio São Francisco e a refinaria de Abreu e Lima - esta última, inclusive, investigada como objeto de superfaturamento, conforme aponta o Tribunal de Contas da União (TCU).

Diante deste cenário nada animador, não resta dúvida de que 2015 será um período de ajustes. O que está em aberto é seu grau e velocidade. "Fazer ajustes fiscais vai ajudar o Brasil a crescer, e não o contrário. É por meio desse processo que o próximo governante vai desfazer distorções provocadas por políticas equivocadas, a fim de retomar o caminho do equilíbrio econômico", diz Zeina Latif, sócia da Gibraltar Consulting. Para afastar o fantasma do rebaixamento, imposto pelas agências de classificação de risco, a economista ainda sugere uma avaliação minuciosa de todas as benesses fiscais concedidas durante o governo, como desonerações de impostos apenas para alguns setores. "Questiono-me se o avanço da agenda de desonerações foi positivo e melhor do que se adotássemos medidas horizontais e cautelosas", diz Zeina. Tal ajuste terá  de passar por uma maior contenção de gastos de custeio, como despesas e terceirizações. "O mais triste é que esse tipo de medida afeta, diretamente, a parcela mais pobre da população", lembra Evaldo Alves, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

​Na pauta do próximo governo, também está a liberação de preços administrados, como gasolina, transporte e energia, que foram segurados este ano para não arranhar ainda mais a já tão debilitada credibilidade da presidente. Economistas consultados pelo site de VEJA não descartam a possibilidade de que o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPCA), que já ultrapassa o teto da meta do Banco Central (BC), de 6,5%, encoste na casa dos 7%, mesmo que isso venha acompanhado de uma queda do preços de commodities no mercado externo. Também será tarefa do próximo governante solucionar a crise energética que impôs novamente à população o risco de racionamento, com reservatórios em níveis mínimos, distribuidoras desabastecidas e térmicas a pleno vapor. A lista não para por aí. O site de VEJA preparou uma relação de alguns dos principais pontos do legado que Dilma deixou para ninguém mais do que si mesma. 

 

A herança maldita de Dilma Rousseff em três tópicos

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Inflação

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Além de contrariar o discurso cego da presidente, de que a inflação está sob controle, os números do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) expõem a gravidade do problema. De acordo com os últimos dados disponíveis, referentes a prévia de outubro, o resultado acumulado em doze meses acumula valorização de 6,62%, acima do teto da meta do Banco Central (BC), de 6,5%. De janeiro a setembro, o avanço é ainda maior: 6,75%. "Nos quatro anos de Dilma não chegamos nem perto do centro da meta, de 4,5%", aponta a economista Mônica de Bolle, da Galanto Consultoria. As razões apontadas pelo governo para o desprezo inflacionário vão desde a crise internacional até o choques esporádicos que afetam os preços de alimentos. "Ora, se outros países da nossa região sofreram os efeitos da mesma crise, além de choques semelhantes, como conseguem manter a inflação baixa?", questiona a economista. As exceções óbvias são Venezuela e Argentina, que registram inflação na casa dos 60% e 40%, respectivamente. O resultado inflacionário do Brasil poderia ser pior, se o governo tivesse liberado os preços administrados, como energia, gasolina e transporte. Eles foram represados nos últimos dois anos para não prejudicar a campanha eleitoral da presidente. Os efeitos da explosão da bomba da alta de preços devem ser sentidos a partir do ano que vem. "Foi plantado o ovo da serpente: assim que esses preços forem liberados, o impacto será sentido diretamente no bolso do consumidor", afirma Evaldo Alves, professor de economia da FGV. O aumento dos combustíveis, por exemplo, encarecerá a cotação de alimentos e de bens de consumo duráveis, pois a cadeia produtiva de todos esses itens dependa de logística, que por sua vez, é movida a gasolina e diesel. Por outro lado, neste caso, o alinhamento das cotações deve favorecer o setor o sucroalcooleiro, atualmente composto por 70% de usinas endividadas e descapitalizadas por conta de fatores como a defasagem da gasolina. A estimativa da União da Indústria de Cana-de-Açúcar é de que as empresas do setor terminem a safra atual (de abril de 2014 a março de 2015) com uma dívida de 77 bilhões de reais.

 

Dilma 2.0: o que esperar (sentado?)

Para uma campanha na qual o medo venceu a esperança, o discurso de vitória da Presidente Dilma Rousseff veio num tom melhor que o esperado.Dilma Rousseff

Onde se antecipava o triunfalismo partidário, prevaleceu o chamamento pela unidade nacional, o básico nas democracias maduras. Onde poderia haver uma boa dose de autocongratulação, houve o reconhecimento explícito de que se espera um governo melhor no próximo mandato. Não foi um discurso petista. Foi um discurso dilmista.

A humildade na vitória foi proporcional ao tamanho dos problemas que aguardam o novo velho Governo.

Os dados econômicos que devem sair a partir de agora muito provavelmente vão garantir uma lenta, gradual e segura erosão do capital político recém confirmado nas urnas, e o culminar desta sequência de manchetes infelizes será o aumento do desemprego, encomendado para o primeiro semestre de 2015.

Como se a economia já não prometesse fortes emoções, o novo Governo terá que gastar muita energia, tempo (e, de novo, capital político) apagando as chamas do escândalo do petrolão, na medida em que as investigações continuarem e o novelo da corrupção for desenrolado. Parece improvável que a Presidente consiga se distanciar o suficiente desta pauta sem comprometer sua capacidade de negociar com o Congresso as reformas que pretende fazer.

E como a política é brutal não só com derrotados mas também com os vitoriosos, Dilma terá que lidar agora com uma oposição reenergizada, sem motivos para colaborar — a menos, claro, que a agenda de reformas interesse à sociedade em geral e o setor privado sinalize querer ver cooperação com os neoleitos. Está no dicionário: “cooperação”, aquela palavra que o PT sempre negou à situação.

A presença simultânea no Senado de José Serra, Antonio Anastasia, Tasso Jereissati, Álvaro Dias e Aécio Neves deve produzir uma oposição mais afiada, estridente e vigilante do que o PSDB jamais conseguiu erigir desde que a Era Lula se instalou no País.

E sempre que os votos de sua valorosa (e valiosa) bancada se fizerem necessários, o PMDB, que não trai sua genética, continuará mandando suas faturas para o Planalto, nesse ‘House of Cards’ da vida real.

(Como alguém pode querer se eleger para mais quatro anos disto?)

Em suma, sairá muito caro fazer qualquer coisa no Brasil nos próximos anos. Proibitivamente caro.

Todas essas variáveis — a vulnerabilidade da economia, as circunstâncias do xadrez político e o risco crescente de um impasse institucional — entram no preço dos ativos hoje, agora, já, numa espécie de reação reflexo dos agentes financeiros.

Mas a pergunta básica que definirá a direção da Bolsa, do dólar e do emprego nos próximos meses é: a política econômica se tornará mais racional, ou Dilma vai dobrar a aposta?

Na ausência de sinais de uma ‘glasnost’ no complexo ideológico ‘Fazenda-Tesouro-BNDES’, o roteiro do caos pode se instalar rápido.

Técnicos do Governo diziam na semana passada não haver nenhum plano de contingência preparado para o evento de uma deterioração aguda nos mercados — o evento mais provável, diga-se.

O voto em Dilma foi, em grande parte, o voto de quem agradece e pede a manutenção de benefícios materiais que mudaram para melhor a vida das pessoas: a doméstica que hoje faz faculdade com o FIES, o adolescente sem aspirações acadêmicas e que preferiu seguir carreira técnica, e a família que se financiou com o Minha Casa Minha Vida.

Não se pode tirar destas pessoas o que lhes foi dado.

Ao mesmo tempo, o orçamento da União não é suficiente para manter os benefícios, investir em infraestrutura, e ainda assim fazer a dívida pública retomar sua trajetória declinante.

Qual será a variével de ajuste?

Se a Presidente insistir na contabilidade criativa, ou fizer o ajuste em cima do capital, o desânimo do setor privado aumentará (como se isso parecesse impossível) e o investidor externo passará a enquadrar o Brasil naquele grupo de países que convém evitar.

Nos anos 80, o então Ministro da Fazenda, Delfim Netto, foi execrado ao dizer que era preciso esperar o bolo crescer para depois dividi-lo. Hoje, o problema do Governo Dilma é que o fermento foge do bolo.

Mas como estamos todos no mesmo PIBinho, a partir de hoje o mercado financeiro torce para Dilma Rousseff. Mais precisamente, para a conversão de Dilma Rousseff. Torce para que a presidente demonstre ter o instinto de sobrevivência que lhe serviu durante a ditadura. Para que a presidente encontre um caminho ao centro, ouça as vozes ponderadas de sua equipe e reconheça as insuficiências do modelo atual.

Um sinal nesta direção, ainda vago e genérico, foi dado ontem à noite, mas não está claro se o “espaço de diálogo” se estenderá à gestão da economia. Nos próximos dias, a mensagem terá que ser afinada, e rápido.

Os nomes do novo Ministro da Fazenda e substituições no Tesouro e no Banco Central podem enviar uma mensagem poderosa aos mercados e transformar o vinagre em vinho, pelo menos no curto przao.

Até lá, para os empresários cujo espírito animal foi abatido nos últimos quatro anos e hoje de manhã se sentem desolados, o único conforto talvez seja aquele conselho do velho Churchill, um homem forjado na adversidade: “Se você estiver atravessando o Inferno, continue caminhando.”

Por Geraldo Samor

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Fonte:
Reuters + Veja + G1

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