No 1º dia pós-eleições, Bolsa cai 2,77% e dólar alcança marcas históricas

Publicado em 27/10/2014 19:05
Reuters

SÃO PAULO (Reuters) - A Bovespa fechou nesta segunda-feira no menor patamar desde abril deste ano e com forte giro financeiro, um dia após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, em meio a ajustes de posições e expectativa sobre como a petista vai lidar com os desafios no campo econômico em seu segundo mandato.

A queda, contudo, foi bem mais amena do que previa a parcela mais pessimista do mercado, que esperava o acionamento do circuit breaker, mecanismo que interrompe os negócios quando a queda supera os 10 por cento. Nem na mínima da sessão, o Ibovespa chegou perto disso.

No entanto, as ações da Petrobras afundaram, encerrando com a maior queda desde 12 de novembro de 2008, de 12 por cento os papéis preferenciais e de 11 por cento as ações ordinárias, com os preços retomando os níveis de março deste ano.

O UBS colocou em revisão a sua recomendação de "compra" para Petrobras e o preço-alvo de 20 reais, citando que a volatilidade global dos preços do petróleo e combustíveis e altas incertezas políticas podem exercer pressão sobre a estatal, na esteira da reeleição da presidente Dilma.

Os papéis da Eletrobras também esti veram entre as maiores quedas do índice, enquanto o papel do Banco do Brasil terminou em baixa de 5 por cento.

Muitas outras ações também sofreram com a visão mais pessimista traçada por economistas para o país no curto prazo, como as dos bancos privados Itaú Unibanco e Bradesco e de empresas do setor imobiliário.

Profissionais do mercado ouvidos pela Reuters explicaram a queda mais branda citando que o Ibovespa ficou barato em dólar, o que atrai fluxo externo, assim como houve busca por pechinchas diante da queda mais forte na abertura e também alguma antecipação nos últimos pregões com apostas na reeleição.

O Bank of America Merrill Lynch também notou que investidores que buscam assumir posição de longo prazo ("long only") não estavam vendendo agressivamente, enquanto os fundos de hedge estavam cobrindo posições. Também citou que a maioria dos retornos que recebeu de agentes do mercado indicam que investidores estão olhando mais a lista de compras, do que a de vendas.

O Ibovespa fechou em baixa de 2,77 por cento, a 50.503 pontos, após marcar 48.722 pontos no pior momento pela manhã, em queda de 6,2 por cento. O volume do pregão somou 17,8 bilhões de reais.

"O Ibovespa deve ficar nesse intervalo de 48 mil a 52 mil pontos até que Dilma consiga identificar para o mercado quem estará na Fazenda, se é capaz de dar mais credibilidade (para a política econômica), particularmente na parte fiscal", avalia o sócio e fundador da Humaitá Investimentos, Frederico Mesnik.

Pesquisa Reuters publicada no final de setembro colocava o Ibovespa em 50 mil pontos no final do ano no caso de reeleição de Dilma.

"Se Dilma optar por um caminho diferente, pode conseguir acalmar o mercado. Caso insista em nomes que não são bem aceitos pelo mercado, teremos mais quatro anos extremamente ruins na economia", disse à Reuters o gestor de um fundo no Rio de Janeiro, que pediu para não ter o nome citado.

"No primeiro momento, o mercado não irá dar o benefício da dúvida a ela", avaliou.

Dilma venceu com 51,6 por cento dos votos válidos, contra 48,4 por cento do candidato do PSDB, Aécio Neves. O placar foi mais apertado até do que o da eleição de 1989, quando Fernando Collor de Mello (PRN) derrotou Lula por 53,03 a 46,97 por cento.

A presidente reeleita está estudando a nova composição do governo e deve priorizar as escolhas para a área econômica, mas não deve divulgar nomes do ministério nesta semana.

A alta do dólar, também reflexo da reação ao resultado das eleições, amparou ganhos de empresas como Fibra, Suzando Embraer e Braskem, que têm as receitas influenciadas por exportações.

Estrategistas do BTG Pactual recomendaram ações de setores "mais defensivos", como de serviços financeiros, ou beneficiados pela desvalorização do real, após a reeleição de Dilma, entre elas Braskem e Suzano, além de Estácio, também entre as poucas altas do índice nesta sessão.

Setor privado cobra urgência em reformas contra pessimismo após eleições

SÃO PAULO (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff precisa promover rapidamente uma agenda de reformas para tentar recuperar a confiança do empresariado e dos consumidores do país, revertendo um clima de pessimismo que tem represado investimentos, afirmaram nesta segunda-feira representantes do setor privado.

Medidas que resgatem a competitividade da indústria brasileira em relação aos concorrentes estrangeiros também são cobradas para evitar mais um ano de baixa atividade industrial afetando o Produto Interno Bruto.

Veja abaixo o posicionamento de representantes de diversos setores da indústria sobre o tema:

 

ROBERTO SETÚBAL, PRESIDENTE-EXECUTIVO, ITAÚ UNIBANCO:

"O pronunciamento da presidenta foi muito positivo e a proposta de dialogar na busca de alinhamento para aprovação das reformas necessárias é extremamente importante para o futuro do país. O compromisso com o combate à corrupção e à impunidade reenfatizado por ela é muito bem recebido por todos os brasileiros."

"A importância da parceria com o setor produtivo e financeiro declarada pela presidenta também traz confiança e tranquilidade aos agentes econômicos, empresários e investidores."

 

LÁZARO DE MELLO BRANDÃO, PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO, BRADESCO:

"A maturidade e solidez da democracia brasileira foram confirmadas nas eleições presidenciais que acabam de ser encerradas. Temos a convicção de que a presidenta reeleita Dilma Rousseff renovou pelo melhor caminho --o do voto da maioria dos brasileiros-- todas as condições necessárias para avançar sobre os grandes desafios que o país tem pela frente."

 

LUIZ CARLOS TRABUCO CAPPI, PRESIDENTE-EXECUTIVO, BRADESCO:

"Acreditamos no Brasil e confiamos que o governo reeleito enfrente os desafios do presente, mantendo a esperança do futuro das próximas gerações. O discurso da vitória da presidenta Dilma Rousseff, ontem, sinalizou diálogo, união e reformas. Foi um momento de pacificação e pleno entendimento das responsabilidades à nossa frente."

 

WALTER COVER, PRESIDENTE, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DOS MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO (ABRAMAT):

"A mudança de política econômica tem que ser anunciada muito agora no início para poder reverter esse clima de pessimismo na economia, tanto por parte do empresariado, quanto por parte das famílias que querem comprar casa própria."

"A presidente já mencionou que vai mudar o ministro da Fazenda, nós achamos que isso é importante, mas é importante também que mude a política econômica. Um dólar mais realista ajuda muito nas exportações e isso ajuda a economia. Juros baixos ajudam no investimento, isso ajuda a economia. Acho que governo tem que sinalizar maior participação do setor privado nos investimentos públicos."

 

HUMBERTO BARBATO, PRESIDENTE, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INÚSTRIA ELÉTRICA E ELETRÔNICA (ABINEE):

"Esperamos que reformas aconteçam, principalmente a reforma tributária é a nossa grande expectativa. Precisa haver uma facilitação no pagamento de impostos, colocar o câmbio num patamar adequado, para que a gente volte a ter mais competitividade. Enfim, eu acho que o desafio é enorme, principalmente com o país saindo dividido como saiu dessas eleições."

 

JOSÉ ROMEU FERRAZ NETO, PRESIDENTE, SINDUSCON-SP:

"Nós temos um cenário na área de construção que vai depender exclusivamente das mudanças na área econômica. É fundamental que elas sejam feitas o mais rápido possível e que a equipe econômica seja definida, para dar uma tranquilidade para o empresário. Ele precisa sentir confiante para poder investir."

"O cenário pode se estabilizar, pode ficar num nível confortável se estas reformas forem feitas rapidamente e ela anunciar rapidamente esta equipe econômica."

 

EDUARDO LEVY, PRESIDENTE-EXECUTIVO, SINDICATO DAS EMPRESAS DE TELECOMUNICAÇÕES, SINDITELEBRASIL:

"A perspectiva de novo governo é sempre de novo ânimo. Estamos em ritmo acelerado de ativação de serviços... A questão tributária é uma pauta permanente do setor. O setor sempre tem se pautado por luta para convencer todos os governos, principalmente os estaduais, que se há prioridade para o serviço de telecom essa prioridade tem que ser demonstrada nos tributos."

"A regulamentação do Marco Civil deve ser debatida no novo Congresso. Acreditamos que isso seja colocado na pauta no ano que vem."

 

MILTON REGO, PRESIDENTE-EXECUTIVO, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO ALUMÍNIO (ABAL):

"A grande questão é o custo de energia. Eu estive com o grupo econômico dos dois candidatos e ambos concordavam que da maneira que está não podia ficar. Essa é uma questão vital para o setor de eletrointensivos. Então, eu acho que o final dessa corrida eleitoral abre caminho para repensar essa questão."

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Fonte:
Reuters

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