Preços do petróleo devem seguir baixos, reduzindo produção, dizem analistas

Publicado em 01/12/2014 10:36
Analistas já falam em petróleo a US$ 40 por barril, diz Rodrigo Constantino, de veja.com

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Por Jarrett Renshaw

NOVA YORK (Reuters) - Os preços globais do petróleo deverão se manter em torno de 70 dólares o barril em 2015, potencialmente reduzindo a produção de óleo não convencional (xisto) dos Estados Unidos e disparando aquisições por parte de empresas que têm condições de lutar com cotações mais baixas, de acordo com oito relatórios dos analistas compilados pela Reuters.

A nova rodada de avaliações veio depois que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), liderada pela Arábia Saudita, concordou na quinta-feira passada em manter a sua cota de produção de 30 milhões de barris por dia, apesar do declínio dos preços do petróleo.

A decisão da Opep não foi inesperada, ressaltaram analistas, sinalizando que o grupo de países produtores de petróleo está disposto a deixar o mercado ditar os níveis de produção e de preços.

"Provavelmente é hora de admitir que estamos agora em um mundo de petróleo de 70 dólares", escreveu Jason Wangler, da Wunderlich Securities.

Os preços mais baixos serão um teste para os produtores dos EUA, particularmente do petróleo não convencional, cujo boom ajudou a elevar a produção norte-americana e a pressionar as cotações globais.

Um consenso de analistas indica que a produção nos EUA provavelmente vai continuar a crescer como esperado no primeiro semestre de 2015, mas a taxa de crescimento vai desacelerar no segundo semestre do ano, sob o peso de preços mais baixos do petróleo.

"Achamos que a desaceleração do rolo compressor da oferta dos Estados Unidos poderia levar de três a nove meses após reduções de investimentos, antes que haja desaceleração verificável no crescimento da oferta dos EUA", escreveu a First Energy Capital.

Os cortes de produção causados por preços mais baixos acabarão por ajudar a apertar a oferta e a elevar os preços em 2016, disseram os analistas.

As cotações mais baixas do petróleo também vão testar a capacidade das empresas que dependem fortemente dos preços do petróleo mais elevados, deixando alguns expostos a aquisições.

"O mercado difícil provavelmente vai levar muitas empresas a mudar a sua estratégia de forma mais drástica do que assumir uma postura defensiva", disse Wangler, da Wunderlich Securities.

"Achamos que as empresas mais fortes vão usar essa oportunidade para fazer aquisições inteligentes no futuro."

Os analistas preveem que a Opep provavelmente vai decidir cortar as cotas de produção no próximo ano --especialmente se os preços mergulharem para 60 dólares por barril --talvez até mesmo antes de sua próxima reunião, prevista para junho.

 

Analistas já falam em petróleo a US$ 40 por barril

O petróleo continua em queda livre, a maior perda desde a crise de 2008. Especialistas já consideram a possibilidade de seu preço cair até US$ 40 por barril, com profundos impactos globais, análogos ao que aconteceu há três décadas, quando tivemos a crise mexicana e o fim da União Soviética.

Petróleo: US$ por barril. Fonte: Bloomberg

Petróleo: US$ por barril. Fonte: Bloomberg

A Rússia, maior produtor, não consegue mais contar com o “ouro negro” para resgatar sua economia em crise, que sofre com as sanções impostas pela União Europeia devido ao avanço sobre a Ucrânia. O Irã, outro grande produtor, que também vem sofrendo com sanções, terá de se adaptar ao novo preço mais baixo do petróleo em um ambiente de crescimento acelerado populacional, o que pode gerar fortes pressões sociais.

A Nigéria tem lutado contra protestos islâmicos cada vez mais fortes, e também perde muito com a queda do preço do petróleo. A Venezuela, com a economia em frangalhos, é outro país que depende bastante das receitas de petróleo, e terá um grande impacto com a queda de seu preço. É outro grande perdedor com a decisão da Opep semana passada de não cortar a produção e deixar o mercado determinar livremente o preço da commodity.

O que está em jogo é um grande choque para esses países, todos com situações complicadas tanto do ponto de vista econômico como social. “Há uma mudança de psicologia. Haverá um grau cada vez maior de incertezas”, disse Daniel Yergin, autor de um excelente livro sobre a história do petróleo, vencedor do Prêmio Pulitzer. Um mundo já mergulhado nas incertezas do confronto entre Rússia e Ucrânia e nas insurreições islâmicas no Oriente Médio terá de lidar com tensões ainda maiores por conta da queda acelerada do petróleo.

Poucos esperavam o crescimento acelerado da produção americana, possível graças ao “shale gas” e à tecnologia de “fracking”. Os países dependentes da commodity falharam ao não investirem em outros setores para diversificar suas economias. Com o petróleo em torno de US$ 100 por barril há anos, esses governos agiram de forma complacente, contando com a bonança para sempre. Muitos, sob comando populista, usaram os altos preços para subsidiar o consumo da população de baixa renda e se perpetuar no poder. Agora correm sérios riscos de ver o pior acontecer.

Os protestos devem eclodir com mais força e violência, resultado de uma população insatisfeita e de uma crise severa da economia. O clima será muito tenso e poderemos observar até mesmo rupturas políticas. A queda do petróleo chega a quase 40% apenas este ano, e já se encontra abaixo do custo marginal de produção de muitos poços. Paul Stevens, especialista em energia e membro da Chatham House in London, acredita que o preço pode desabar até US$ 40 por barril ou menos, o que seria catastrófico para esses países citados.

O futuro é incerto e as previsões podem errar feio, claro. Mas se a tendência atual continuar, uma coisa é certa: o mundo viverá fortes emoções geopolíticas à frente. Não muito à frente…

Rodrigo Constantino

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Fonte:
Reuters + VEJA

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