No ESTADÃO: Lava Jato prevê em dois meses denúncia à Justiça contra Lula por corrupção

Publicado em 08/08/2016 23:47
Acusação deverá apontar supostas vantagens ao ex-presidente na compra do sítio de Atibaia e do tríplex no Guarujá

A força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba pretende concluir em dois meses as investigações sobre o pagamento, por empreiteiras beneficiadas por desvios na Petrobrás, de supostas vantagens ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em de obras no sítio de Atibaia e no tríplex do Guarujá,.

A previsão dos investigadores é de que esses dois casos embasem a primeira denúncia por corrupção oferecida contra Lula no âmbito da Lava Jato. No fim de julho, a 10ª Vara Federal em Brasília aceitou acusação da Procuradoria da República no DF contra o petista por “obstrução” de Justiça ao, supostamente, tentar evitar a delação premiada do ex-diretor Internacional da estatal Nestor Cerveró.

“O sítio e o tríplex são os fatos mais adiantados. Com certeza, isso vai se resolver nos próximos dois meses. Uma boa parte disso, porque existem diversas investigações contra Lula”, afirmou um dos investigadores ao Estado, sem detalhar os casos.

A Lava Jato também apura suposto tráfico de influência praticado pelo ex-presidente para que grandes empreiteiras obtivessem obras no exterior. A tese dos procuradores é de que, em troca, elas fizeram pagamentos vultosos à empresa de palestras do petista, a LILS, e ao Instituto Lula.

Lula nega que os pagamentos das empreiteiras estejam relacionados a contratos obtidos por elas tanto no governo federal quanto no exterior. O ex-presidente, por meio de sua defesa, também nega ser o proprietário do sítio de Atibaia e do tríplex no Guarujá.

Olimpíada

A força-tarefa pretende dedicar as próximas três semanas para as análises sobre as reformas nos imóveis pagas pelas empresas. “O período olímpico não é um período de grandes movimentações. Nem operações nem novidades mais ‘dramáticas’. Temos uma agenda interna”, disse o investigador.

Lula e a mulher, dona Marisa, são suspeitos de ganhar da OAS uma reforma avaliada em mais de R$ 700 mil num tríplex reservado para a família do ex-presidente no Guarujá. A empreiteira também pagou, por vários anos, o aluguel de contêineres para armazenar os pertences do ex-presidente quando deixou o Palácio do Planalto, em 2010.

Conforme as investigações, a OAS e a Odebrecht também bancaram melhorias no sítio de Atibaia usado pela família de Lula e registrado em nome de amigos do ex-presidente. A suspeita dos investigadores é de que o ex-presidente tenha ocultado a propriedade do imóvel.

Num relatório recente, a Polícia Federal sustenta que só a “cozinha gourmet” do sítio, cujos equipamentos foram instalados em 2014, custou R$ 252 mil. A execução da obra teria sido orientada pelo petista e a esposa.

 

Bons sinais, por enquanto (editorial do ESTADÃO)

País precisa de investimentos muito maiores. O primeiro passo será vencer a crise política

É cedo para falar em recuperação da economia, apesar de alguns sinais animadores observados principalmente na atividade industrial. A advertência, tão oportuna quanto sensata, foi feita pelo chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Tulio Maciel, ao apresentar em Curitiba, na sexta-feira passada, o Boletim Regional produzido pela instituição a cada três meses. Não há como desprezar, é claro, os indícios positivos trazidos pelo relatório. Em três das cinco regiões o indicador de atividade no período de março a maio foi mais alto que no trimestre imediatamente anterior. Houve aumentos de 1,1% nos Estados do Norte, de 0,4% no Sudeste e de 1,6% no Sul. Nos outros dois, Centro-Oeste e Nordeste, os dados mostraram recuo de 1,2% e de 0,4%. Mas o balanço geral ainda aponta uma economia muito fraca e em condições bem piores que as do ano anterior, quando o País já afundava numa severa recessão.

O quadro mais amplo, resumido no Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), ainda mostrou uma queda de 1,86% de abril para maio, na série livre de fatores sazonais. Com isso, os negócios ainda ficaram 5,32% abaixo dos de maio de 2015, na mesma série. O desempenho acumulado no ano foi 6,26% inferior ao dos primeiros cinco meses do ano passado. Em 12 meses, a baixa ficou em 5,51%. Na série sem desconto de elementos sazonais, a queda em 12 meses ficou em 5,43%.

O IBC-Br é usado como prévia dos números do Produto Interno Bruto (PIB), divulgados a cada trimestre. O PIB do período abril-junho deverá ser publicado no fim de agosto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar de alguns sinais favoráveis no fim do semestre, o cenário geral ainda será muito ruim. Considere-se, por exemplo, o caminho necessário, a partir do IBC-Br de maio, só para alcançar o nível médio de 2015, isto é, para estabelecer um zero a zero na comparação entre os dois anos. Mas, para anular as perdas da recessão, ainda seria necessário compensar na contração de 2015, quando o PIB diminuiu 3,8%.

Com isso, a economia estaria de volta ao nível de produção de 2014, mas numa situação ainda insatisfatória. Afinal, naquele ano o PIB cresceu apenas 0,1%, número insuficiente para disfarçar o início da recessão dominante em 2015 e 2016.

Por enquanto, os sinais mais positivos indicam, como têm observado alguns empresários e analistas, uma tendência à estabilização, mas num nível de atividade muito baixo. A queda parece estar chegando ao fim. Se essa avaliação for confirmada, ainda serão necessárias novas indicações de melhora para se poder falar de uma retomada do crescimento. Mas poderá haver, ainda por algum tempo, um descompasso entre os indicadores de produção industrial, de emprego e de consumo.

Em São Paulo e em Minas Gerais, segundo o Boletim Regional, “a persistência de resultados negativos no comércio e no setor de serviços se contrapôs a sinais de recuperação da indústria”, no trimestre encerrado em maio. Não há mistério: a atividade industrial foi em boa parte alimentada, nesse período, pela recomposição de estoques, depois da liquidação de excedentes, e por alguma recuperação das exportações, facilitada pela valorização do dólar – um processo recentemente invertido.

O desemprego provavelmente continuará elevado por muitos meses, limitando o consumo. A produção industrial poderá aumentar, mas em ritmo prejudicado pelas dificuldades e pela insegurança das famílias. Se as condições políticas forem favoráveis – e isto pressupõe a conversão do governo interino em efetivo –, a confiança de empresários e consumidores tenderá a ser fortalecida e a recuperação será mais firme e mais segura. Mas isso dependerá também do avanço no reparo das contas públicas, destroçadas durante anos de irresponsabilidade, e do sucesso da política anti-inflacionária. Ainda será preciso aumentar o potencial de crescimento, com investimentos muito maiores. O primeiro passo será vencer a crise política e consolidar a nova orientação econômica.

 

O FMI e os planos de Temer

Pelas novas estimativas, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve diminuir 3,3% neste ano e crescer 0,5% no próximo

Além de melhorar suas projeções para a economia brasileira, o Fundo Monetário Internacional (FMI) passou a acompanhar a execução dos planos de ajuste anunciados pelo presidente interino Michel Temer. Pelas novas estimativas, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve diminuir 3,3% neste ano e crescer 0,5% no próximo. No relatório distribuído em abril, na reunião de primavera, o cenário incluía uma contração de 3,8% em 2016 e expansão zero em 2017. A mudança foi explicada, em parte, pelo desempenho menos mau que o esperado no primeiro trimestre e pelo aumento de confiança indicado recentemente por empresários e consumidores. Incertezas políticas permanecem e afetam as perspectivas, segundo o texto do Panorama Econômico Mundial divulgado na quarta-feira, uma atualização dos números e da análise de três meses antes. Mas os comentários feitos no dia seguinte pelo diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental, Alejandro Werner, ao detalhar o quadro regional, indicam uma nova percepção do governo e de sua orientação econômica.

Segundo Werner, as projeções divulgadas um dia antes foram elaboradas sem consideração do impacto de “fenômenos políticos”. Mas os dados mais importantes para a avaliação das perspectivas brasileiras, acrescentou, são os anúncios de ajuste econômico, sobretudo fiscais, e a implementação das medidas. Ele destacou, dentre as novas iniciativas, o projeto de fixação de um teto para o aumento dos gastos públicos. Agora, continuou, é preciso ver como Executivo e Legislativo se entenderão para tocar os planos.

Num documento divulgado ainda na quarta-feira, ele havia sugerido ao governo uma concentração de esforços para levar adiante o ajuste das contas públicas, uma estratégia, segundo ele, vista com “muito bons olhos” pelos mercados.

Um ponto parece claro. As novas projeções podem ter sido elaboradas sem consideração do impacto de fatores políticos, mas a avaliação geral do cenário brasileiro parte dos planos anunciados pelo governo provisório. Mais que isso: ao falar sobre as condições políticas de implementação desses planos, o diretor parece descartar a hipótese de retorno da presidente afastada. O impeachment, portanto, deve ser dado como certo, assim como a conversão do governo provisório em efetivo.

Nada disso é dito com todas as palavras, e seria estranho se um dirigente de uma entidade multilateral entrasse em detalhes desse tipo. Mas os comentários sobre o plano de ajuste fiscal e sobre medidas como a limitação do gasto público só têm sentido se o pressuposto for a confirmação do presidente Michel Temer no cargo. De forma implícita, portanto, o afastamento definitivo da presidente Dilma Rousseff, no fim do processo de impeachment, é dado como certo. A avaliação mais otimista – ou menos pessimista – das perspectivas brasileiras foi encampada por técnicos e diretores do Fundo. Não é um fenômeno circunscrito aos mercados.

Mesmo com a melhora das projeções, o desempenho do Brasil, em 2016 e 2017, ainda será um dos piores da região. A América Latina e o Caribe devem recuar 0,4% neste ano e crescer 1,6% no próximo. A média regional é obviamente prejudicada pelos números do Brasil e de uns poucos países em recessão. O PIB argentino deve diminuir 1,5% em 2016, mas por causa das medidas de ajuste do novo governo, empenhado em cuidar dos danos causados pela gestão da presidente Cristina Kirchner. O quadro regional poderia ser pior, se os países latino-americanos fossem mais ligados comercialmente ao Reino Unido e, portanto, mais vulneráveis aos efeitos do Brexit.

Os efeitos devem ser mais sentidos no mundo rico, especialmente na Europa. Ainda assim, a economia da zona do euro deve crescer 1,6% em 2016 e 1,4% em 2017. Os Estados Unidos continuarão liderando a recuperação dos países avançados, com crescimento de 2,2% e 2,5% nestes dois anos. Mesmo com perspectiva melhor, o Brasil precisará de alguns anos para acertar o passo.

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Fonte:
Estadão

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