No ESTADÃO: Corrêa diz que ‘Lula sabia’, defesa ‘tumultua’ e Moro interrompe audiência

Publicado em 25/11/2016 14:31
Juiz da Lava Jato registra que 'inúmeros incidentes levantados por defesa' do ex-presidente, que bateu-boca com magistrado, levaram a adiamento de um dos quatro testemunhos de delatores em processo do tríplex do Guarujá (por Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, Fausto Macedo, Mateus Coutinho e Julia Affonso, de O Esado de S. Paulo)

O ex-deputado federal Pedro Corrêa confirmou ao juiz federal Sérgio Moro, nesta quarta-feira, 23, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva “sabia” do esquema de arrecadação de recursos na Petrobrás por partidos da base aliada, em especial o PT, PMDB e o PP. Ele foi ouvido em audiência tomada por discussões entre a defesa do petista e o magistrado, no processo em que o petista é réu pelo recebimento de R$ 3,7 milhões em propinas da OAS, no caso do apartamento tríplex do Guarujá (SP).

“Em 2006 eu fui procurar o presidente Lula para tratar de assunto financeiro, de dinheiro, de ajuda de campanha. E ele disse que nós não precisávamos de dinheiro porque estávamos muito bem atendidos financeiramente pelo senhor Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás), que ele sabia, porque o Paulinho dizia isso a ele. Ele foi muito claro, nessa posição”, afirmou Corrêa.

A audiência não pode ser concluída integralmente em decorrência de “inúmeros incidentes levantados pela defesa”, conforme registrou o juiz federal Sérgio Moro, no depoimento do ex-deputados federal Pedro Corrêa (ex-presidente do PP). Das quatro testemunhas de acusação elencados pela força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba, contra Lula, para serem ouvidos nesta quarta-feira, foram ouvidos ainda o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa e o ex-gerente de Engenharia Pedro Barusco – ambos, delatores. O quarto interrogado, será ouvido amanhã, às 11h.

“Em vista dos inúmeros incidentes levantados pela Defesa de Luiz Inácio Marisa Letícia que impediram normal colheita do depoimento da testemunha Pedro Corrêa, não foi possível encerrar as oitivas na presente data”, registrou Moto, no termo de audiência.

Alta tensão. Na mesma linha da primeira audiência do processo contra Lula, em Curitiba, marcada por 29 embates entre defesa, juiz e procuradores, as oitivas de ontem foram tomadas por interrupções dos depoimentos. Em pelo menos dois momentos, Moro determinou a interrupção da audiência.

“É inapropriado esse comportamento processual da defesa, é inadequado. Eu peço que voltem às questões a serem colocadas à testemunha, e parem de tumultuar a audiência”, afirmou Moro.

De forma alguma estamos tumultuando a audiência”, respondeu Martins. Ele pediu suspeição do juiz, que já foi feita no processo e negada.

“Parem de tumultuar a audiência”, pediu Moro, em um dos embates com a defesa de Lula.

O depoimento de Corrêa foi o primeiro, mais longo e mais tumultuado do dia. Em processo de delação premiada, o ex-deputado – preso desde 10 de abril de 2015, em Curitiba – acusa Lula de envolvimento no esquema de divisão de cargos na Petrobrás entre partidos da base aliada para arrecadação de propinas.

Os advogados de Lula, Cristiano Zanin Martins, José Roberto Batochio e José Cirino dos Santos, interromperam o interrogatório da testemunha e bateram-boca com o juiz. A audiência de Corrêa chegou a ser interrompida por duas vezes por Moro, na mais tensa oitiva de testemunhas da Lava Jato – nesses 2 anos e 8 meses de investigações.

Eles questionaram a validade das declarações de Pedro Corrêa, que foi chamado de “meia testemunha” pela defesa de Lula.

O ex-deputado está preso em Curitiba, desde que foi capturado na 11ª etapa da Lava Jato denominada “A Origem”. Ele foi condenado por Moro em outro processo pelo recebimento de propina de R$ 11,7 milhões, 72 crimes de corrupção passiva, e 328 operações de lavagem de dinheiro.

“Eu sou bi preso, fui preso no mensalão e na Lava Jato”, afirmou Corrêa.

Desde o final de 2015, ele negocia um acordo de delação premiada com a força-tarefa da Lava Jato, que ainda não foi homologado pelo ministro Teori Zavascki, dos processos no Supremo Tribunal Federal (STF).

Marcelo Odebrecht recusa ser responsável por omissões de diretores (por SONIA RACY)

Depois do entrave com as autoridades americanas em torno do valor da multa (US$ 2,5 bilhões) que lhes cabe, a delação gigante da Odebrecht deu uma recuada ontem, segundo fonte próxima às negociações. Marcelo Odebrecht se recusa a atender à exigência dos procuradores para que seja responsável por eventuais omissões dos demais diretores.

O executivo tampouco quis assumir questões relacionadas a seu pai. O filho de Emílio não assinou ainda a delação – e os outros presos do Grupo também não.

Sozinho

O estado de Marcelo preocupa. Um dos advogados do numeroso time que atende aos 77 delatores chegou a confessar a um amigo que, por ele, deixaria o executivo… em Curitiba.

Bate-volta

Ex-diretores da Odebrecht que fizeram a delação premiada voltaram ontem a São Paulo e ficam de stand-by. A previsão é que retornem a Brasília na terça-feira.

Editorial do Estadão: A defesa de Lula

Lula já tentou ser o herói maior no Panteão brasileiro. Agora quer se tornar um mártir das causas populares. Terá, na história, o lugar que merece

Luiz Inácio Lula da Silva está envolvido, como réu, denunciado ou investigado, em tantos processos sobre corrupção, nos quais se acumulam evidências tão sólidas da materialidade das acusações, que a equipe de advogados contratada para defendê-lo parece ter mudado de prioridade tática: em vez de questionar juridicamente as provas apresentadas nos autos, dedica-se a tumultuar as audiências com manobras diversionistas e argumentos políticos, com o claro objetivo de criar em torno dos julgamentos um clima emocional que ajude a comprovar a tese de que o ex-presidente, que se intitula “o homem mais honesto do Brasil”, é vítima de perseguição política movida por interesses escusos.

A mesma tática vem sendo desenvolvida há algum tempo pelos petistas no plano internacional, no âmbito de organizações mundiais e também com governos, partidos e veículos de comunicação de esquerda, visando a obter apoio político e – quem sabe – condições favoráveis para a solicitação de asilo político.

Na segunda-feira passada, em Curitiba, numa sessão de oitiva de testemunhas do processo, presidido pelo juiz Sérgio Moro, em que Lula é acusado de ter recebido vantagens indevidas da empreiteira OAS relativas ao famoso apartamento triplex no Guarujá, os defensores do ex-presidente tentaram tumultuar os trabalhos, interrompendo ruidosamente as inquirições. Não conseguiram levar o juiz Moro a aceitar as provocações e se afastar dos autos do processo. Ou seja, Moro não forneceu justificativas ou pretextos que alimentassem a tese de que seu objetivo é perseguir Lula.

Depois, um dos advogados de Lula afirmou que “o Ministério Público Federal estaria trabalhando com autoridades americanas”, ao arrepio de tratado firmado entre Brasília e Washington em 2001 “que coloca o Ministério da Justiça como autoridade central para tratar esse tipo de questão”.

A teoria conspirativa por trás dessa afirmação é a de que a Lava Jato de modo geral e Moro em particular estão a serviço dos interesses dos EUA, que querem se apropriar do pré-sal. Isso explicaria, segundo a teoria conspiratória que Lula e seus asseclas tentam vender no País e no Exterior, a intenção de “destruir a Petrobras” que move os policiais, procuradores e magistrados envolvidos no combate à corrupção nos últimos dois anos e meio. Ou seja, quem jogou a estatal na lona não foi a tigrada que roubou a Petrobras; foram os agentes da lei que levaram para o xilindró os políticos, empresários e empregados que saquearam a empresa.

Em julho, o mesmo advogado procurou em Genebra, na Suíça, o advogado Geoffrey Robertson, que representa Lula no recurso apresentado ao Comitê de Direitos Humanos da ONU contra a ação da Lava Jato, a quem municiou com informações sobre a “perseguição” que está sendo movida contra o ex-presidente pela Justiça brasileira. Na ocasião, Robertson – apresentado pelos petistas como “um dos mais respeitados especialistas do mundo em direitos humanos” – gravou declarações, no mínimo, injuriosas à Justiça brasileira. Condenou o instituto da delação premiada, que no caso da Lava Jato tem contribuído decisivamente para o desenvolvimento das investigações de corrupção, com o argumento deliberadamente enganoso de que elas são “suspeitas”, porque “o delator tem interesse em dizer tudo o que a polícia quer ouvir, para obter a liberdade”. O tal especialista escamoteou o fato de que não basta ao delator fazer acusações para ser recompensado com a diminuição da pena a que está sujeito ou a que já foi condenado. É indispensável que ele comprove o que está afirmando.

No desespero da causa perdida, parece que qualquer argumento é válido. Se estão convencidos de que não conseguirão impedir que, mais cedo ou mais tarde, Lula vá parar na cadeia, seus aliados e advogados apelam para o velho recurso da vitimização do “homem mais honesto do Brasil”. Lula já tentou ser o herói maior no Panteão brasileiro. Agora quer se tornar um mártir das causas populares. Terá, na história, o lugar que merece.

 

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Fonte:
O Estado de S. Paulo

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2 comentários

  • Ismael Tavares Richa Goiânia - GO

    Tumultuando, vão irritando todo mundo... mas logo vem o troco, com mais força ainda.

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  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Está aí, Pedro Côrrea declara com todas as letras que Lula sabia de tudo e que o esquema petista de distribuição de patrimônio brasileiro entre os politicos foi diferente dos outros governos. O Editorial do Estadão está muito bom, explica toda a tentativa dos esquerdistas de denegrir a justiça brasileira, inventando todo tipo de conspirações.

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Analisando-se os fatos, arrisco-me a escrever uma frase que vai de encontro à realidade atual: A humanidade do ser humano é inversamente proporcional aos seus interesses. ... Veja o modus operandi do Estado Islâmico, o seu interesse é chocar a sociedade e arregimentar mentes atrofiadas para o seu exército. As atrocidades estão à mostra. ... Quanto as mentes dos políticos brasileiros... Ah! Essas vão ser motivo de estudo por muitas gerações, pois seus roubos matam muito mais que muitos exércitos do Estado Islâmico e, continuam afirmando que os culpados são os que morrem. ... Veja que a mentalidade do povo brasileiro segue o raciocínio da "autoridade da ignorância". Aceitam incondicionalmente a mentira porque "a autoridade", da maioria, a aprova. ...

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