Aprosoja vê quebra superior a 16 mi t na safra de soja do Brasil por seca

Publicado em 01/02/2019 17:30

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Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) - A estimativa da safra de soja de 12 Estados do Brasil que respondem por quase a totalidade da produção nacional foi reduzida para 101 milhões de toneladas, ante 117,3 milhões de toneladas antes dos efeitos da severa seca que atinge as principais regiões produtoras desde dezembro.

A avaliação é da Aprosoja Brasil, que representa produtores no país, o maior exportador global da oleaginosa.

"Caso não volte a chover nos próximos dias, intensificam-se essas perdas. A situação é um pouco mais grave do que as consultorias estão passando", afirmou à Reuters Bartolomeu Braz, presidente da Aprosoja, ao comentar números fechados nesta sexta-feira.

Nesta sexta-feira, por exemplo, a consultoria FCStone reduziu a projeção de safra do Brasil para 112,2 milhões de toneladas, ante 116,3 milhões de toneladas na previsão de janeiro.

Segundo dados do Refinitiv Eikon, áreas do Centro-Oeste, Sudeste e Sul continuarão a receber chuvas abaixo da média histórica no início de fevereiro.

Braz afirmou que a previsão da associação engloba a safra de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí, Tocantins, Bahia, Maranhão, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que produziram quase 98 por cento da safra brasileira na temporada passada.

Na pesquisa da Aprosoja não aparecem Estados como Rondônia e Pará, que produziram juntos 2,6 milhões de toneladas na temporada passada. A produção em Rondônia, por exemplo, não foi atingida pela estiagem, explicou Braz.

As maiores perdas registradas pela Aprosoja estão no Paraná, onde a produção cairá 30 por cento ante a projeção inicial, para 13,7 milhões de toneladas. Na Bahia, o recuo projetado é de 20 por cento, assim como no Piauí. Em Goiás, a redução na safra será de 17 por cento ante o que se esperava no começo da temporada.

Mesmo o Mato Grosso, maior produtor brasileiro de soja, verá perdas de 8 por cento, para 29,5 milhões de toneladas.

Segundo Braz, a pesquisa sobre as perdas de safra foi feita por técnicos da associação nos Estados, assim como por produtores, que já estão colhendo a produção.

Sementeiras de soja em MT veem eventual ampliação de plantio como "tiro no pé"

RONDONÓPOLIS, Mato Grosso (Reuters) - Produtores de sementes de soja no sudeste de Mato Grosso, líder nacional no cultivo da oleaginosa, são contrários à eventual ampliação no período de plantio e avaliam que isso traria produtividades mais baixas, ao facilitar a disseminação de doenças nas lavouras.

A posição vai na direção oposta da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), que reivindica o plantio da oleaginosa até fevereiro, permitindo aos produtores semear pequenos lotes para se fazer sementes.

O debate se dá em meio a condições climáticas irregulares nesta safra do Brasil, adversidade esta que pode reduzir a oferta de determinadas variedades de sementes. Com um plantio mais alongado, haveria chance de recuperar alguma perda.

Uma normativa do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT), em vigor desde 2015, regulamenta o calendário de plantio de soja no Estado até 31 de dezembro, com colheita até 5 de maio, e mantendo-se o vazio sanitário de junho a setembro.

A medida, que visa principalmente combater a propagação do devastador fungo da ferrugem asiática na lavoura, evita jogar a colheita para dentro do período em que não é permitida nenhuma planta de soja viva.

Para sementeiras no sudeste de Mato Grosso, uma das principais áreas para a produção de sementes no Estado, ampliar o prazo de semeadura traria problemas.

"Do jeito que está, está bom. Tem o risco da ferrugem, e a gente sabe que nem todos os produtores fazem um trato adequado", comentou Rômulo Lemos, gerente de produção do grupo Girassol Agrícola, um dos mais tradicionais produtores de sementes de soja em Mato Grosso, tendo sua base na região da Serra da Petrovina.

Lemos explicou que, ao se permitir maior tempo com plantas de soja nos campos, aumenta-se o risco de disseminação do fungo da ferrugem, a pior doença da cultura. Até a véspera, havia o registro de 245 focos do problema Brasil afora, dos quais 27 em Mato Grosso, conforme dados do Consórcio Antiferrugem.

Na atual safra 2018/19, o Girassol Agrícola deve produzir cerca de 800 mil sacas de sementes de soja.

Para Claudinei José Costa, gerente de produção de sementes do grupo Bom Jesus, que tem atuação em Mato Grosso, Bahia e Piauí e deve produzir 1 milhão de sacas de sementes nesta temporada, outro risco com um eventual maior período de plantio seria para a própria sobrevivência do setor.

"É um tiro no pé. Acaba com o ramo de sementes", afirmou ele durante visita de técnicos do Rally da Safra, expedição organizada pela Agroconsult, que na véspera passou na unidade da empresa em Pedra Preta, no sudeste de Mato Grosso.

A avaliação no setor como um todo é de que poderia haver "concorrência" com os produtores, já que estes passariam a produzir as próprias sementes.

"Não tem lógica técnica e científica... Haveria pressão por estar fora da janela e se produziria menos", disse Fabiano Ferreira, gestor de produção de sementes do grupo Petrovina, também em Pedra Preta e que produzirá cerca de 1 milhão de sacas de sementes neste ciclo.

OUTRO LADO

Em sua carta técnica em que expõe argumentos a favor do plantio até fevereiro, a Aprosoja-MT diz que a "oportunidade de se fazer semente é inclusive estratégica, isto para se produzir aqueles materiais que não se conseguiu colher com qualidade de semente durante a safra, via de regra por problemas de chuva na colheita".

"Sabemos que, sob o ponto de vista de menor necessidade de uso dos fungicidas, a época ideal para a produção de sementes comerciais e de uso próprio seria as resultantes dos campos semeados na safra normal, mas esta não tem sido a melhor opção pelos produtores, ainda há muita dificuldade técnica, econômica e estrutural para conservar as sementes até a próxima safra", acrescenta a entidade.

"A produção de sementes próprias, mesmo que em pequenas quantidades, serve como balizador de preços e, certamente, como fator de melhoria da qualidade de alguns materiais, além de se evitar os problemas dos atrasos da entrega de sementes por algumas sementeiras", conclui a entidade no documento.

Procurada para comentar o assunto e dar declarações adicionais, a Aprosoja-MT não respondeu de imediato.

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Fonte:
Reuters

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